Cheguei em casa tarde da noite, lembrei-me de verificar se havia alguma conversa dos dois, pois o amante misterioso de minha mulher, ligaria para ver estava tudo certo para o encontro do dia seguinte.
Ouvi uma ligação dela para uma amiga e depois, ele ligou para Fernanda com o mesmo código:
-É da padaria?
-Pode falar, tá tranquilo.
-Tudo certo para amanhã, né?
-Ai, fazer o que, né? Esse escritor está me levando à perdição.
Ele riu e disse:
-Você não sabe o tesão que estou, Fernanda. Passei o fim de semana pensando em você, amanhã você não me escapa.
-Oba! Tá prometendo quero só ver na hora.
-Vou te comer do jeito que você merece e que esse corno não é capaz. Babaca broxa.
-Olha! Isso eu não gosto que você fale, primeiro que é meu marido, já é foda ter que fazer isso com ele, agora xingar não, sem contar que de broxa ele não tem nada, manda muito bem na cama.
-Pode até ser, mas você não resistiu à minha pegada.
-Você é bonito, charmoso e inteligente, admito que gosto de você, mas não se ache a última bolacha do pacote também, sexo aqui em casa sempre foi bom, mas não vamos falar dele porque não me sinto bem.
-Tudo bem, na verdade, eu acho que xingo ele porque queria ter a sorte de estar sob o mesmo teto que você.
-Hum! Isso é algum pedido? Que eu saiba o senhor também é casado.
-Sim, com o trubufu e está cada vez mais insuportável de aguentar. Bem, eu te pego as duas em ponto na porta do metrô Belém é só descer a escada rolante que estarei do outro lado da rua encostado.
-Sim, eu sei, como das outras vezes e na volta você me deixa lá também.
Despediram-se e eu fiquei com mais ódio dos dois. No dia seguinte, saí mais cedo da universidade e consegui que um amigo me cobrisse naquele dia, por sorte o delegado Veron era compreensivo e prometi que em outro dia, ficaria até mais tarde. Quando me viu saindo, Lao brincou:
-Tô achando essa saída sua muito misteriosa, foi falar com a gostosona da atriz pornô e devem ter acertado uma ponta para hoje.
Eu não podia dizer a ele que iria seguir Fernanda, pois como bom amigo que era, certamente não me deixaria ir temendo que eu fizesse uma besteira, por isso, disfarcei.
-Ela não, mas tô de olho em outra, coisa fina.
Lao se surpreendeu e disse rindo:
-Ouviu isso, Veron? O santo da delegacia vai cair na gandaia em pleno expediente.
-Para de encher o saco do cara, China! Ele tá com problema de saúde na família, não fode. – Respondeu o delegado.
Cheguei por voltas da 13h ao local e dei uma rápida estudada. Para o que eu queria fazer, não dava para dar um flagrante na porta do metrô. No motel, seria algo mais dramático, porém não me interessava, pois logo chegariam seguranças, polícia e o caralho a quatro. Decidi que pegaria um por vez, primeiro o amante, assim que ele se despedisse de Fernanda e mais tarde, acertaria as contas com ela.
Dei umas voltas pelo bairro, como eles combinaram de que na volta, Fernanda também desceria ali, comecei a procurar um local onde eu abordaria o amante. Rodei um pouco e encontrei algo melhor do que esperava, só restava saber como pará-lo. Deduzi que após deixar minha esposa, o safado pegaria a Radial Leste e para isso, tinha que fazer um determinado percurso e vi que num quarteirão, todos os carros tinham que parar por causa de um semáforo que ficava aberto por pouco tempo em uma rua estreita, era ali a chance de abordá-lo. Resolvida a logística restava esperar.
Eu estava com uma viatura descaracterizada e fiquei de olho na escada rolante, até que finalmente vi Fernanda surgindo. Estava um dia um pouco frio, por isso, ela estava de blusa branca de gola rolê e uma calça jeans bem apertada. A safada sabia se arrumar sem chamar muita atenção. Atravessou a rua e entrou em um Escort vermelho, todo equipado e com teto conversível. Vale lembrar que era o ano de 1989 e carros dessa marca faziam muito sucesso. Notei que os dois se beijaram rapidamente e o cara já arrancou. Fui atrás e eles foram para um motel discreto no bairro da Mooca, a menos de cinco minutos de onde estavam.
Não foi fácil ver primeiro minha esposa entrando no carro de outro e o beijando, depois a entrada no motel até o carro sumir do meu campo de visão. Muita raiva, mas também tristeza me dominaram ali. Entraram por volta de 14:15 e saíram as 17h em ponto. Foi uma espera angustiante, mas a ação iria começar.
Para que meu plano desse certo, eu teria que chegar ao ponto onde o abordaria antes dele, acelerei e consegui chegar, deixei meu carro na primeira vaga que vi e fui a pé. Fiquei postado no meio do quarteirão, esperando o scort vermelho aparecer. Não deu outra, pouco depois da metade do quarteirão, ele, já sem minha mulher, teve que parar por causa do trânsito, nesse momento, dei uma leve corrida, rapidamente abri a porta do lado do motorista, me sentei e encostei minha arma um pouco abaixo das costelas do comedor, que levou um susto tão grande, que levantou as mãos e disse:
-Pode levar o carro, dinheiro tem um pouco na carteira, além do meu talão de cheques.
-Abaixa as mãos, imbecil! Não vou te assaltar, você não vai virar na próxima à esquerda, vai em frente e na outra vira à direita. Se tentar alguma gracinha, vai perder a vida de bobeira aqui.
-Tudo bem, mas o que você quer?
-Dirige.
-Eu não sou rico se estiver pensando em sequestro.
-Cala a boca, você já vai saber, vira à direita e vai em frente são uns quatro quarteirões.
O cara tremia, mas o trajeto foi rápido. Quando chegamos, já era um ponto mais morto e havia um terreno tapado só por tapumes, mandei-o encostar. Ele não chegava ser um galã, mas tinha panca, uns 40 anos, cabelinho jogador para trás, em forma, moreno claro da mesma altura que a minha e se vestia bem.
-Vou acabar com o suspense logo. Eu sou o marido da mulher que você tava comendo agora há pouco e a gente vai conversar.
O cara se soltou no banco como se estivesse derretendo, ele imaginou que iria morrer e começou a implorar já de cara:
-Amigo, foi mal, desculpa aê, ela me falou que estava em processo de separação, achei que vocês nem morassem mais juntos, só por isso me envolvi com a Fernanda.
-Quanto mais você mentir, pior será o seu castigo, prefere continuar nesse jogo ou falar a verdade e sair vivo. Qual seu nome?
-Diogo.
-Há quanto meses você tá comendo a Fernanda?
-Há uns três, quatro.
-E hoje, a trepada foi boa?
-Por favor, cara...
Coloquei a arma na cabeça dele.
-Fala!
-Foi...Foi!
-Ela deu a bundinha para você? Gozou na boca dela?
-Para que isso, cara?
-Responde porra!
-Tá bom, eu não gozei na boca dela, mas sim, no final fizemos anal.
-Ela gozou bastante.
-Gostou...Mas eu nunca mais vou...
Para muitos pode parecer absurdo, mas estar com uma arma te cutucando e quem a segura é o marido da mulher que você comeu, deixa qualquer um desesperado, e o “comedor” começou literalmente a chorar como um bebê:
-Amigo, eu tenho uma casal de filhos, sou casado, por favor, não me mata. Eu juro pela vida dos meus filhos que nunca mais chego perto da sua mulher.
-Legal, você falar que é casado, me passa o telefone da sua mulher. Tem papel e caneta aí?
-Tenho mas para quê? – Ele perguntou em meio a lágrimas.
-Vou ligar para sua mulher, se não for o número da sua casa, eu vou atrás de você e te mato, por isso, pense bem, antes de tentar me dar qualquer número.
Diogo pediu licença para pegar a caneta e o papel no porta-luvas e anotou. Mandei que ele dissesse o número em voz alta sem olhar no papel e bateu.
-Vou te dizer agora o que vou fazer, talvez você morra ou não.
O cara começou a chorar igual a um bebê. Mas eu sabia bem o quão debochado ele era.
-Cala boca, porra! Tá vendo esse terreno com tapumes aí na frente? A gente vai entrar lá e vou te moer de pancadas, não vou te matar, mas vou te quebrar de um jeito que terão que vir te socorrer. Se você sair do carro numa boa e aceitar o que estou propondo, te dou minha palavra que não te apagarei, mas se gritar ou tentar correr na rua, te queimo aqui e vão achar que foi um assalto que deu errado. Entendeu até aqui?
-Entendi. –Disse o comedor chorão.
-Outra coisa muito importante. Pode estar certo que se tivesse “apenas” comendo a Fernanda, eu não agiria com violência, pois a safada é ela, só que você é um falastrão e além de comer minha mulher ficou debochando da minha cara. Um papo idiota que sou malufista, tô me cagando para político, mas é lógico que nunca votei ou votaria num cara desses por tudo que já fez. Porém isso foi o de menos, zoar com a minha cara me chamando de corno, babaca, broxa e que iria comer minha mulher na minha cama. Isso você vai pagar e vai ser agora. Desce devagar e vai em direção ao terreno, uma gracinha e a bala vai comer. Uma última coisa, se contar quem te bateu, vou atrás de você para acabar o serviço. Inventa que tentaram te assaltar.
Diogo caminhou com calma, medindo seus passos. Eu já tinha olhando o terreno antes das 14h, ali era uma antiga fábrica dos anos 1940 que tinha sido demolida e em breve seriam erguidas dois ou três prédios. Por ora, não tinha ninguém, apenas um monte de entulho. Puxei um dos tapumes e mandei Diogo entrar, eu entrei atrás e fechei o tapume com força.
Em minha carreira, eu já tive que trocar porrada com bandido que reagia à prisão, sem contar os maridos violentos que já comentei no outro capítulo. Muitas vezes, os colegas de trabalho me chamavam de o santo da mão pesada, pois apesar de educado e certinho, quando precisa bater, era para valer.
Avisei Diogo que ele poderia tentar me acertar, mas o covardão ficou implorando a um ponto de eu até hesitar, mas aí veio a minha cabeça que com a minha separação ficaria longe do meu filho, perderia a minha casa que ainda estava pagando e que pouco antes, até o cu d aminha mulher ele comeu, isso bastou para o sangue subir e eu lhe desferi o primeiro murro na boca, depois outro, outro, outro e não sei mais quantos, não tenho ideia de quantos minutos foram até que parei um pouco, enquanto ele já estava caído no meio da terra e do entulho, todo sujo. Ele gemia. Seu rosto sangrava na boca, nariz, sobrancelha e seu olho esquerdo, inchou numa rapidez que mesmo fora de mim, confesso que me assustei, pois parecia que um ovo cozido estava prestes a saltar de sua cara.
Em seguida, o levantei e passei a lhe esmurrar o estômago, Diogo caiu novamente e comecei a chutá-lo sem mirar um local específico. Finalmente, o joguei contra os tapumes e ele socou a cabeça, caindo e gemendo sem forças para se levantar.
Arranquei um dos tapumes e coloquei-o sentado de frente para a calçada, talvez assim alguém o visse e o ajudasse. De toda forma, fui a um orelhão e liguei pedindo socorro, dizendo que um homem tinha acabado de ser assaltado e espancado e passei o endereço.
Ainda tive tempo para fazer mais uma ligação, essa para a mulher de Diogo.
-A senhora é esposa do Diogo?
-Sim, quem fala?
-Minha senhora, o seu marido está tendo um caso com a minha esposa, até o cu dela, ele comeu hoje, mas acabei de lhe dar um corretivo, por isso estou dizendo que hoje ele vai chegar um pouco mais tarde em casa e não se assuste com a aparência dele. Só espero que a senhora tenha vergonha na cara e se separe desse cafajeste que há meses estava saindo com a minha mulher e sabe-se lá mais quantas.
De lá fui para a casa. Apesar de querer resolver logo a situação, tinha que pensar em meu filho, por isso, assim que cheguei, o levei até à vizinha e pedi se poderia ficar com ele por uma hora, mesmo já sendo 19h30.
Voltei para casa, olhei para Fernanda que a essa altura já estava ressabeada e perguntei:
-Trepou bastante hoje com o seu escritor, não foi? Três horas curtindo no motel, espero que tenha sido bom, mas a casa já caiu para ele e agora vai cair para você também.
Fernanda já era branca, mas ali se tornou um fantasma e engoliu seco.
Aos amigos que gostaram, peço que deixem uma mensagem, pois é o que motiva a seguir escrevendo. Quanto ao sexo, podem estar certos de que em breve entrará na história.