*Olá leitores! Voltei com o capítulo 2, espero que gostem como gostaram do primeiro! Obrigado pelos elogios, eles me incentivam a escrever, talvez eu possa escrever mais que o previsto, se o engajamento de vocês for grande. Queria ter postado mais cedo, porém não consegui, vou tentar agilizar nos próximos capítulos. Chega de enrolar, leiam e divirtam-se! *
Trabalhar como aprendiz de feiticeiro não é uma tarefa fácil. Delvin provara na pele. Vindo de uma família abastada, da capital de um reino vizinho, ele fora enviado para estudar com o Feiticeiro mais instruído da região. Ainda criança, Delvin se mostrara capaz de pequenos feitos mágicos, como criar pequenos símbolos ilusórios, apagar e ascender velas e até tochas com um movimento de mão, entre outros truques pequenos. Agora, com quase 19 anos e 1,67m de altura, ele já tinha capacidades mágicas mais poderosas, porém nada comparado com o que seu Mestre sabia. Ao contrário do que muitos possam pensar, o corpo de Delvin, apesar de um pouco magro, era atlético. Seu mestre o instruíra a manter uma rotina de exercícios, pois, segundo seus ensinamentos, "a mente e o corpo caminham juntos, não adianta exercitar um e negligenciar o outro". Dessa forma, Delvin mantinha uma rotina saudável, exercitando-se sempre que possível.
Delvin morava na torre de seu mestre, num cômodo próprio para aprendizes e não era o único aprendiz da torre. Junto dele, haviam outros 3 jovens, mais ou menos da mesma idade. Cada qual tinha suas origens e suas diferenças, físicas e mágicas. Delvin era um meio-elfo, e mesmo com os cabelos um pouco longos, não tinha medo de exibir as orelhas pontudas nas ruas. Ele sempre fora um rapaz agitado, nunca mantendo a sua concentração por muito tempo na mesma coisa. Talvez por isso ele era um dos piores aprendizes que o feiticeiro já tivera. Não é que Delvin não fosse esperto, o problema dele era ir a bibliotecas gigantescas, procurar por livros enormes e empoeirados, escritos por Sábios que morreram muito antes da mãe elfa dele ter nascido (elfos vivem por séculos), e lê-los por horas que se arrastavam interminavelmente, para, no fim das contas, realizar a magia da mesma forma. Delvin era bom na prática, era ótimo em observar seu mestre e copiá-lo, era bom em perceber as nuances dos movimentos com as mãos e os pequenos detalhes das palavras mágicas. As aulas teóricas eram a tortura dele e, sempre que possível, ele as cabulava.
Por conta disso, ele sempre era colocado para fazer os serviços medíocres que o feiticeiro e os outros aprendizes não gostavam de fazer. Entretanto, em alguns casos, ele até preferia isso, como quando era ordenado a ir ao mercado, comprar ou coletar as encomendas de seu mestre. Nesses momentos, ele se sentia o melhor, ele andava pelas ruas da cidade observando a tudo e a todos, conversava com os mercadores, barganhava e, quando tinha tempo de sobra, dava um pulinho numa ou noutra taverna. Lá sim ele se sentia em casa, bebendo e se divertindo com todos os presentes. Ele já tinha feito amizade com alguns dos taverneiros da cidade, já tinha sido expulso de algumas tavernas e já tinha se envolvido amorosamente com mais garçons, atendentes e até clientes de taverna do que era capaz de lembrar. Entretanto, nenhum destes tinha sido capaz de fisgar o seu coração.
Naquele dia, Delvin estava novamente nas ruas. Ele tinha faltado a uma aula considerada importante, e por conta disso, o feiticeiro o proíbira de participar da aula do dia. Além disso, havia ordenado que Delvin fosse à cidade encomendar uma peça metálica, forjada com um tipo específico de metal e técnica, que apenas o ferreiro anão da cidade saberia fazer. Porém, como não tinha horas para retornar e ainda era cedo, Delvin decidiu visitar uma das mais movimentadas tavernas da cidade.
A taverna Javali Feliz, famosa por ter um javali de estimação que os clientes alimentavam com as sobras de comida, era o destino de Delvin no momento. Por ser cedo, apenas duas mesas estavam ocupadas, uma por um único bêbado, que provavelmente virara a noite ali mesmo, e, agora, dormia com a cabeça apoiada no tampo da mesa, e a outra por um grupo de 3 gnomos que bebiam e discutiam animadamente algum assunto. Delvin os ignorou e foi direto para o balcão, falar com o taverneiro:
- Que bom vê-lo em bom estado, querido Fergus! Como andam os negócios?
Fergus, um pequenino (hobbit ou halfling) de costeletas proeminentes, barriga larga e pés grandes e peludos, como os de todos os membros de sua raça, já olhou desconfiado para Delvin e respondeu:
- Ora, ora, se não é o famoso Delvin. Os negócios é? Até agora estava tudo bem, mas com você aqui eu já não sei mais. Você é um imã para encrencas.
- Nossa, Fergus, até parece que eu já lhe causei problemas! - Falou Delvin, com falsa indignação, colocando algumas moedas na mesa. - Me diga, alguma novidade, alguma fofoca quentinha pra mim?
Fergus, já menos carrancudo com a presença de Delvin em sua taverna, recolheu as moedas e serviu uma cerveja para o cliente. Enquanto conversavam sobre os últimos acontecimentos da cidade, Fergus pegou um pedaço de pão e jogou para o javali, que ficava em um cercadinho perto do balcão. Depois de duas canecas de cerveja e muita conversa, a porta da taverna se abriu e uma corpulenta meia-orc entrou olhando para os lados, como se procurasse alguém. Quando os seus olhos pousaram sobre Delvin, que se virara para ver quem entrava, eles se ascenderam com uma fúria sobre humana, e ela gritou:
- ACHEI VOCÊ, SEU MESTIÇO LADRÃO DE NAMORADOS! Agora tu não me escapa! - e saiu correndo na direção de onde Delvin estava.
Se levantando do banco em que estava e correndo para trás de uma mesa para tentar fugir da agressora, Delvin retrucou:
- Mestiço? Olha quem fala, você também é mestiça!
- MALDITO! Volta aqui! Você fez meu amor me trair e ir embora, vou esfolar isso que você chama de CARA! - Nessa altura os dois já estavam correndo de um lado para outro, derrubando cadeiras e mesas no processo. O bêbado acordara e olhava para os lados, procurando a origem da barulheira. Os Gnomos correram para trás do balcão, junto de Fergus, e observavam a contenda animados, como se estivessem assistindo a um show. O javali grunhia, só criando uma cacofonia ainda maior no ambiente.
Temendo que o estrago ficasse ainda maior e acabasse sobrando para si, Delvin girou nos calcanhares, encarou a meio-orc de frente e começou um encantamento. Falou as palavras mágicas necessárias, fez os gestos com as mãos e lançou uma magia. Por um instante, nada parecia ter mudado, a meio-orc falou:
- O QUE VOCÊ PEN – mas antes de concluir sua fala, a magia surtiu efeito. No mesmo instante, a mestiça parou de correr, pegou uma das cadeiras derrubadas, sentou-se e pôs-se a chorar. Todos os presentes, olharam para a cena incrédulos, uma meio-orc, gigante de forte, chorando no meio da taverna. Delvin, que havia usado uma magia específica para modificar o humor das pessoas e compreendendo que a mulher sofria pela perda do namorado, foi até ela consolá-la:
- Ei, não fique triste. Se ele te traiu, se ele te abandonou, é porque ele não te merecia.
- Mas eu...eu amava aquele homem. E...ele ... ele me completava... - respondeu ela, triste e enxugando as lágrimas.
- Eu sei, eu sei. - Delvin estava um pouco perdido, olhando para Fergus em busca de ajuda, mas o pequenino, fez sinal para que ele se virasse sozinho. - Venha aqui, vamos tomar alguma coisa, e você aproveita e bote tudo pra fora.
Delvin ajudou a brutamontes a levantar e a ir ao balcão. Pagou duas canecas de cerveja para a meio-orc, e sentou-se ao seu lado para ouvir a história dela. A magia que ele usara funcionara melhor que o esperado, pois agora que a raiva passara, ela desabou na tristeza. Delvin aproveitou um momento, no qual ela falava com o bêbado da taverna, para sussurrar pro taverneiro:
- Então, daqui a pouco a magia vai parar de fazer efeito. É melhor eu vazar, porque se a raiva voltar....
- Vai, vai embora logo, eu sabia que você era problema. Ai, Delvin, no que você se meteu hein?
Delvin sorriu, deu uma última olhada pra meio-orc, que conversava agora com os gnomos, pôs uma moeda de prata na mesa, pelos prejuízos, e saiu de fininho. Respirando aliviado o ar do exterior da taverna, ele decidiu que deveria resolver o objetivo original de sua saída da torre. Andando pelas ruas, ele tentou se lembrar quem poderia ser o namorado da meio-orc. Normalmente, ele não se envolvia com homens comprometidos, mas, se ele estivesse bêbado e o outro não tivesse revelado nada, ele dificilmente saberia. Toda a situação o fez ficar um pouco preocupado, pois ele sabia que o feiticeiro desaprovava práticas libidinosas. E, se uma meio-orc brutamontes daquela o conhecia e sabia que ele se envolvia com outros homens, para um feiticeiro descobrir uma situação dessas seria ainda mais fácil. Ele não sabia, e nem se importava, com o que o mestre dele pensava sobre o homossexualismo, era o que ele era e pronto. Mas o dinheiro que ele recebia dos pais, dependia de ele manter os estudos com o feiticeiro, e ele sabia que, pela sua conduta de faltar às aulas teóricas, sua "bolsa de estudos" estava por um fio. Por sorte, a torre ficava nos arredores da cidade, e o Feiticeiro raramente vinha até ela. Quando vinha, geralmente ia direto ao palácio do duque, que governava toda a região. Então, essas histórias de taverna, dificilmente chegariam aos seus ouvidos, mas era algo a se pensar e tomar mais cuidado, caso ele quisesse manter seu dinheiro e seus estudos.
Isso era outro problema que Delvin enfrentava. Além das aulas teóricas serem uma chatice sem fim, nas práticas ele ficava um pouco atrás dos seus companheiros. O feiticeiro e os seus colegas de estudo falavam que a causa eram suas constantes faltas, porém Delvin sentia que tinha algo a mais ali. Antes de se aprofundar ainda mais em seus pensamentos, ele percebeu que chegara à forja. Segundo se falava por aí, esse era o melhor ferreiro da cidade, talvez, do ducado inteiro. Era a primeira vez que ele ia a esta forja, sabia que se tratava de um anão, mas não o conhecia nem sabia seu nome. Como as portas da ferraria estavam abertas resolveu adentrar. O som inconfundível de martelo batendo em metal, o calor abafado do ambiente e o cheiro de fumaça e óleo quentes o acolheram, mas ele não achou nem um pouco ruim. O lugar não era muito grande, havia um mostruário montado à esquerda da entrada com diversos objetos, como espadas, machados, etc. Haviam também alguns manequins montados com diversas armaduras metálicas como cotas de malha, armaduras de escamas e, as mais imponentes, de placas. A direita ficava a forja, uma enorme construção de pedra com um fole acoplado ao lado e uma bigorna em frente. De costas para o calor da fornalha, um jovem alto e corpulento, martelava em uma placa de metal. Parecia concentrado, e Delvin imaginou se tratar de um aprendiz, pois anões geralmente eram menores que ele próprio.
Para não quebrar a concentração do rapaz, Delvin resolveu observá-lo. O Jovem tinha um rosto forte e bonito, a barba era mantida aparada, e os cabelos escuros, bem curtos. O corpo dele era bem musculoso, Delvin imaginou que era assim por conta do trabalho pesado. O suor escorria pelos braços lisos e sem pelos do rapaz, e provavelmente pelo corpo inteiro dele, pois a camisa, atrás de um grosso avental de couro, estava molhada. Delvin se impressionou com a beleza do rapaz e se perguntou se ele estava em algum relacionamento. No momento que pensava isso, o rapaz ergueu o corpo, e iria fazer algo com a peça que estava martelando, porém os olhos dos dois se cruzaram, e só então que Delvin notou que se aproximara muito do outro jovem, o que acabou sobressaltando-o e fazendo com que deixasse a peça cair no chão. Delvin saiu de seu devaneio e estava prestes a se apresentar, quando ouviu o outro pedindo:
- Quem é você?
- Eu so- antes que pudesse continuar, uma voz potente e grossa, cortou sua fala.
- BRAN, o que diabos você pensa que tá fazendo? Ia molhar o metal na água? Tu anda muito desligado nesses último dias. - Um anão careca, com barba trançada, apareceu de trás de um amontoado de metal, nem parecia ter notado a presença de Delvin.
- Eu... eu, me desculpe Grin. - respondeu o jovem ferreiro, abaixando a cabeça envergonhado
- Eu sei o motivo, você está assim desde que voltamos “daquele” lugar. Por que não voltou lá ainda? - Perguntou o anão, suavizando a carranca e parando em frente ao jovem.
Delvin estava se sentindo desconfortável, os dois pareciam ignorar sua presença, e estavam discutindo algo que parecia ser pessoal. Apesar de ser um pouco intrometido, e gostar de todo tipo de fofoca, ele optou por interromper o diálogo dos dois, antes que ficasse estranho de mais:
- Com licença, - desta vez, foi Nolgrin que se sobressaltou, pois ainda não tinha notado o outro jovem, e Bran olhou para Delvin com uma cara de “obrigado, não quero levar essa bronca”, o cliente continuou: - desculpe incomodar, mas eu tenho um pedido do Grande Feiticeiro Salazar. - E Delvin estendeu o desenho da peça que precisava ser montada.
- Salazar é? Aquele salafrário - comentou o anão, já recuperado do susto. - Da última vez que eu fiz um serviço pra ele, ele prometeu me pagar com metal de meteorito, mas o safado me deu metal comum. Ele acha que pode enganar um ferreiro com metal barato, ha, nem Bran cairia naquela. Mas qual o seu nome garoto?
- Muito prazer, eu me chamo Delvin.
- Delvin? Onde foi que eu já ouvi esse nome? - O anão perguntou retoricamente para si. - Não importa, eu sou Nolgrin e esse é meu ajudante Bran. Vamos fazer a peça, mas dessa vez, avise seu mestre, que ele vai ter que pagar em ouro. Deixa eu ver, tem o prejuízo da outra vez, mais esse serviço. Olhe o projeto Bran, você acha consegue fazer, sem errar dessa vez?
O jovem olhou nos olhos de Delvin, por milésimos de segundos, e, na hora que Bran pegou o projeto, suas mãos se tocaram levemente, Delvin sentiu como se eletricidade percorresse o seu corpo. Havia algo de diferente e especial naquele rapaz, e Delvin estava louco pra descobrir o que era. O jovem estendeu o papel em cima da bigorna e os três olharam para o desenho. Os ferreiros começaram a conversar sobre como fazer a peça, e Delvin percebeu que nessas horas o jovem humano se soltava mais. A voz desse tal de Bran era grave e forte, combinava com seu porte físico. Delvin estava cada vez mais ansioso pra conhecer melhor o rapaz, e já estava pensando em como fazer isso. Os pensamentos dele foram cortados quando Bran falou:
- Acho que amanhã mesmo, no final da tarde, eu termino a peça. Deve dar umas 6 ou 7 horas de trabalho.
- Mais o metal e o prejuízo da outra vez, vai ficar 500 moedas de ouro. - Completou Nolgrin. - E eu não vou aceitar outra forma de pagamento!
- Tudo bem, avisarei o meu mestre e acredito que eu mesmo devo vir buscar. - Respondeu Delvin, torcendo que fosse realmente enviado para coletar a peça. Delvin resolveu arriscar - E, Bran, certo? - o outro confirmou com a cabeça. - O que você acha de irmos numa taverna amanhã, depois do teu trabalho, beber um pouco e conversar?
Pego de surpresa pelo convite, Bran ficou estático. Ele não sabia o que responder. Nolgrin, vendo que seu ajudante ficara travado, suspirou e respondeu:
- Ahh, ele vai sim, ele é um pouco tímido, mas ele tá precisando se soltar e conversar com pessoas, então ele vai nem que eu tenha que obrigá-lo!
Bran tentou recuperar a compostura e respondeu:
- Eeeu vou sim, não por que to sendo obrigado, vou por que eu quero!
- Ótimo! Então estamos combinados, nos vemos amanhã! - Falou Delvin, se despedindo.
Ele saiu da forja, e depois de alguns passos começou a se perguntar: "O que diabos estou fazendo? Nem conheço o rapaz e já estou chamando-o para sair? Bom, não é a primeira vez que faço isso, mas esse aí, esse tal de Bran, não é o tipo de cara que normalmente eu convido, nem gay ele parece ser! E parece ser tímido de mais. Ah que se foda! Se não der em nada, não vai ser a primeira vez também."
Delvin queria continuar andando pela cidade e talvez visitar alguma taverna ou bordel, mas já havia gasto muito tempo. O feiticeiro poderia questioná-lo pela demora e ele não estava afim disso no momento. Então ele apressou o passo e, depois de alguns minutos de caminhada, passando ao largo do bosque que ficava fora dos muros da cidade, ele avistou a torre de Salazar, o feiticeiro. Em frente a ela, havia alguém que ele estava menos afim de ver que o próprio feiticeiro. Seu ex-namorado e colega da classe de feitiçaria Geldwin, um elfo e o melhor aluno de Salazar.
*Por hoje é isso pessoal, não tem nada muito erótico neste capítulo, pois os personagens ainda estão se conhecendo, e eu não gosto de correr com a história. Também não queria fazer uma cena muito parecida com a do primeiro capítulo com o Delvin indo ao bordel ou algo assim. Enfim, eu pretendo intercalar os capítulos, então no próximo provavelmente voltaremos com o Bran. Comentem à vontade e até o próximo!