No episódio anterior, tentei questionar minha esposa sobre os dois crimes, mas ela desconversou.
Eu sabia que não adiantaria discutir, e talvez pudesse até comprometer meu relacionamento com Adeline se ficasse insistindo muito. Mas talvez não fosse o caso. Aquela foto antiga, tirada em outro país , onde eu e ela estávamos abraçados, significava algo muito importante.
Lembrei de um recurso que existe na Internet, que é a “Busca Reversa de Imagens”. Enquanto ela ainda estava se bronzeando, nua, eu disse que precisava ir ao banheiro do nosso chalé. Aproveitei e tirei uma foto daquela Polaroid com meu celular. Ao fazer isso, notei uma pessoa ao fundo, que parecia muito ser o Ademir, o mesmo Negão que agora era o segurança da praia nudista!
Mal guardei o envelope de volta na mala, vi que minha esposa já estava retornando da praia.
-Amor, acho que já podemos ir arrumando tudo, pode ser que haja algum congestionamento no trajeto até o aeroporto.
- Tudo bem... minha maleta já está praticamente pronta.
Terminamos de fazer as malas, e logo estávamos indo para o aeroporto. A viagem transcorreu de forma tranquila. Chegamos em casa, eu resolvi pedir uma pizza para o jantar, e fui pegando duas taças e uma garrafa de vinho chileno. Comentei:
- Foi uma viagem legal. Precisamos fazer isso mais vezes.
- Que bom que você está pensando assim. Antes você pensava mais no seu trabalho.
- Não, querida, eu sempre pensei mais em você. Eu trabalhava bastante para que não faltasse nada, você sabe.
- Claro que sei, meu amor. Mas os últimos anos foram pesados para você. Parecia até que estava tentando trabalhar para não pensar em...deixa pra lá.
- Pensar no que, querida?
- Nada, amor.
- Nada? O que eu poderia... ah, sim, você está falando do acidente.
- É, eu achei que você arrumou tanto trabalho para superar o estresse pós-traumático.
- Não, eu acho que ...nossa, será que teve a ver com aquilo?
Alguns anos atrás, eu havia sofrido um acidente de carro. Pelo menos foi o que me contaram, porque não me lembrava de nada do que havia acontecido. Acordei em uma cama de hospital. Eu lembrava quem era, reconhecia minha esposa, mas muitas coisas ela teve que me ajudar a lembrar, me mostrando fotos e vídeos. Continuamos a conversa:
- Bom, querida, de agora em diante quero passar o máximo de tempo que poder junto com você.
- Mesmo quando eu tiver que viajar para fora do país?
- Vou dar um jeito. A não ser que você não queira.
- Claro que quero!
Ela me abraçou e me beijou.
Logo em seguida chegou a pizza. Jantamos, depois tomamos um banho e fomos deitar. Ela dormiu em seguida. Aproveitei isso e fui para a sala, peguei o meu tablet e fui fazer a tal busca reversa de imagens. Nos mecanismos mais comuns, como o Google, não houve nenhuma correspondência. Mas em um site japonês e um russo, achei duas fotos muito parecidas, eram de um evento em Mônaco. E, a partir dessas, pude encontrar outras, que fui salvando no meu aparelho. Nisso, ouvi minha esposa me chamando:
- Amor, o que você está fazendo? Vem dormir!
Fechei o tablet e fui para a cama. Consegui dormir, mas com aquelas imagens na minha cabeça. Eu e Adelina já nos conhecíamos antes. Será que eu havia perdido parte da minha memória naquele acidente? Mas não batia com nada do que eu me lembrava, nós havíamos nos conhecido muito depois da data daquela foto!
Procurei dormir , afinal eu não conseguiria resolver nada em um domingo à noite. Aliás, isso foi algo que aprendi no decorrer dos anos. Não adianta ficar remoendo pensamentos durante a noite. O certo é descansar e retomar o raciocínio depois que estiver com a mente descansada.
Adormeci, e tive um sonho, certamente influenciado por tudo o que havia ocorrido. Eu e Adeline estávamos em uma festa luxuosa, num grande salão, eu estava com um traje estilo “black tie”, com paletó preto, ela com um vestido longo, prateado, lindíssima. Não éramos o centro das atenções, visto que havia dezenas de personalidades do “jet-set”internacional.
Em determinado momento, percebi três homens entrando de maneira suspeita, e pela posição das mãos, parecia que estavam prontos para sacar armas escondidas sob os paletós. Adeline olhou para mim, fez um sinal com a mão, e então caminhamos rapidamente, cada um por um lado do salão, em direção aos assaltantes. Ela, com movimentos rápidos e com golpes de artes marciais, desarmou o primeiro, enquanto eu fiz o mesmo com o segundo. O terceiro chegou a empunhar a arma, mas foi nocauteado imediatamente por minha esposa. O que fizemos no sonho parecia impossível, era como se fosse um desses filmes de ação. Assim que os seguranças do local se aproximaram dos bandidos, eu e ela saímos apressados, nos ocultando entre os arbustos dos jardins da mansão. Ela tirou o vestido e virou do avesso, agora era um longo vermelho. Fiz o mesmo, virei meu paletó, que também era dupla face, agora era azul.
Saímos do jardim, e fomos caminhando até nosso carro de luxo.
Nesse momento, senti uma mão batendo no meu ombro e acordei.
- Amor! Você está tendo um pesadelo!
- Hã? O que?
- Você parecia agitado. Com o que estava sonhando?
- Ah... sonhei que eu e você éramos agentes secretos, e estávamos em uma festa, aí vieram dois assaltantes armados e nós os derrubamos.
- Sério? Você sonhou isso?
- Deve ser por causa desses dois casos.
- Mas continue. O que mais aconteceu?
- Nada. Depois que os caras foram derrubados, fomos para fora e saímos pelo jardim.
- E depois?
- Depois você me acordou.
Ela fez uma cara de desapontada.
- Parecia ser uma aventura interessante. Da próxima vez eu deixo você sonhar mais.
- Era um sonho bem vívido. Depois vou escrever, tentar descrever todos os detalhes.
Ela olhou para mim fixamente. Parecia estar penetrando na minha alma com seus olhos.
- O que foi?
- Nada. Vem cá.
Ela me abraçou e beijou. Logo em seguida, estávamos tirando a roupa, fazendo amor gostoso. Chupei o clitóris dela até ela gozar, depois ela chupou meu cacete.
Penetrei a bucetinha, depois o cuzinho dela. Como de costume, ela teve vários orgasmos.
Acordamos tarde no dia seguinte.
Em alguns intervalos do trabalho, fui analisando as fotos que havia conseguido pelos mecanismos de busca. Aparentemente, a data do evento era pelo menos uns três anos antes do que eu me lembrava, de tê-la conhecido em uma exposição de quadros.
Comecei a pensar em algo aparentemente absurdo:
E se o sonho não tivesse sido apenas imaginação, mas uma lembrança real de algo que meu cérebro havia apagado? E se as lembranças que eu tinha de minha vida não fossem o que realmente aconteceu?
Claro que isso era praticamente impossível. Mas eu já havia lido a respeito de “memórias implantadas”, de agentes que eram programados mentalmente, que poderiam ser “ativados” remotamente após anos vivendo vidas comuns. E soube de um caso onde um homem teve todo um arquivo secreto implantado em seu cérebro, que só poderia ser aberto através de um complexo sistema de computador ativado por seus reflexos visuais, da mesma forma que uma luz estroboscópica pode desencadear crises convulsivas em pessoas sensíveis.
Achei que devia estar delirando. Adeline simplesmente não poderia ser uma “superespiã”. Muito menos eu. Mas o jeito com que ela fazia facilmente seus jogos sexuais me dava a impressão que isso seria como uma “arma” para distrair ou mesmo debilitar algum inimigo. E eu me surpreendia como conseguia encarar aquilo sem ter acessos incontroláveis de ciúme.
Os dias passaram, e uma noite, após chegarmos do trabalho, ela me confrontou:
- Amor, o que você está aprontando?
- Eu??? Nada, querida!! Eu só estou trabalhando normalmente! E venho para casa direto, todo santo dia!
- Não estou suspeitando que você esteja tendo algum caso! O que você anda pesquisando no seu computador?
- Ah tá, agora eu não posso pesquisar nada na Internet? Aliás...você andou xeretando no que eu andei pesquisando?
- Bom...vou ter que admitir que sim, ou vou estar mentindo. Você andava meio esquisito, principalmente depois da nossa viagem à praia nudista.
- E achou que eu estava vendo fotos de gente pelada?
- Não. Mas você deletou o histórico de pesquisa. E estranhei isso.
- Só que...
- Só que eu fui entrar em um dos mecanismos de busca diferentes que você usou, e o programa “sugeriu” a busca reversa de fotos.
- Ah, querida...
- E você achou aquelas fotos tiradas em Mônaco.
- Foi isso mesmo. Você é uma boa detetive, ou, melhor dizendo...superespiã ?
- Credo! Nada disso! Eu sou só sua esposa, uma mulher comum!
- Adeline, deixe de enrolação! Naquela foto estava até o Ademir!
- Que nada, era só um Negão parecido!
- Adeline...
Olhei para ela fazendo uma expressão de reprimenda.
- Amor, o que você quer que eu diga?
- Quero que você me explique tudo! Por que é que eu não me lembro daquelas fotos? Como e por que estávamos lá em Mônaco? O que estávamos fazendo lá?
Ela ficou quieta, apenas olhando para mim.
- Querida, tem a ver com o sonho que eu tive?
- Não sei. E não sei se posso falar alguma coisa.
- Isso não é justo! Você é minha esposa!
- Amor...vamos fazer o seguinte: Você escreve com detalhes esse sonho que você teve. Mas descreva tudo mesmo, tudo o que lembrar, e também alguma coisa que lhe venha à mente enquanto estiver escrevendo. Mesmo que não faça muito sentido. Isso vai ser muito importante.
- Importante como?
- Não posso dizer. Mas dependerá disso o que vai acontecer daqui para a frente.
- Não dá para me contar tudo, apenas?
- Não.
- Adeline, você nunca foi assim! De repente, a gente faz uma viagem e o mudo inteiro vira de cabeça para baixo!
- Olha... descreva aquele sonho nos mínimos detalhes. Depois a gente conversa. Ou melhor, depois da nossa nova viagem.
- Outra viagem?
- Ué, você disse que iria em todas as viagens comigo daqui por diante. Pois temos outra viagem.
- Posso saber para onde?
- Uma ilha no Caribe.
- No Caribe? Vamos passear lá?
- Podemos passear, mas tenho uma outra conferência para ir.
- Conferência. Sei. Como a daquele Hotel de luxo.
- Não é um Hotel, é um Resort. All Inclusive.
- Lá vem encrenca.
CONTINUA