Capítulo 30
Voltemos há alguns meses atrás. Para ser mais preciso na semana em que Lorena foi demitida.
O batom vermelho deslizava pelos lábios carnudos da jovem mulher, realçando a sua maquiagem. Os belos cabelos estavam soltos e sedosos. Usava uma saia preta justa, medindo no meio das coxas e um cropped de couro de mesma cor.
Caminhava elegante em cima dos saltos altos, movendo o bumbum, despertando os olhares sedentos dos homens do bar. Trazia em mãos uma bolsinha prateada.
Deu um sorriso largo de felicidade ao ver que Luciano a aguardava, sentado numa das mesas. O jovem vestia uma calça preta social e uma camisa de botões com listras brancas, rosas e pretas.
Luciano envolveu os braços no pescoço da mulher mais baixa que ele e beijou o seu rosto, recebendo o mesmo gesto de volta.
_ Mulher do céu! Hoje você se superou no espetáculo... está de parabéns!_ Luciano elogiou, girando Lorena com a ponta dos dedos.
Sentaram á mesa e pediram uma torre de chopp. Como petiscos, Lorena pediu uma porção de iscas de picanha, servidas na pedra aquecedora.
_ Eu gostei do ambiente, amiga. Bem que você disse que este bar era incrível! Só achei os preços um pouco salgados.
_ Não se preocupe. É tudo na conta da mamãe aqui._ Lorena disse com sorriso faceiro, seguida de uma tragada no cigarro.
_ Mas, mulher, você não foi demitida?
_ Sim. Mas ganhei muito dinheiro as custas de otários.
Luciano ouvia rindo Lorena narrando como conseguiu dinheiro de Genaro, Angela e Valéria. Ao fim da narrativa, ele estava com a mão na boca aberta.
_ Bicha, mas você é destruidora mesmo, hein!
"E o tal de Abner? Como está?"
_ Tá lá em casa. Mesmo a praga estando na merda, vive com a nariz empinado. Se recusa a trocar qualquer palavra comigo.
Luciano percebeu o tom de rancor na voz da amiga.
_ Você gosta dele, né?
_ Gostava.
_ Lorena...
_ Tudo bem...eu gosto. Mas eu não vou perder o meu tempo com aquele paspalho. Ele botou tudo a perder quando se envolveu com aquela songa monga. Vou te contar viu. Oh, bichinha sem graça esse tal de Leandro...burra que só...cansativa.
_ Amiga, eu gostaria de te pedir uma coisa. Você sabe que estou desempregado e que...
_ Não se preocupe com isso, não. Eu já falei com o Genaro. Mostrei a sua foto e currículo para ele. O velho me garantiu que vai te encaixar na minha vaga.
_ Ah, obrigado. Você não sabe o quanto está me ajudando.
Eram altas horas da madrugada quando Lorena chegou em casa. Estava tão embriagada, que tentava se equilibrar nos saltos. A casa estava imersa no silêncio. Todos adormeciam, o que fez se sentir aliviada por não precisar ter que encarar os olhares críticos da família.
Jogou-se no sofá. Sentiu uma sensação de liberdade ao arrancar os saltos e o sutiã sem alças, jogando-os para o lado.
Ficou ali, jogada, com a cabeça erguida, pensando por alguns minutos.
Não era só Abner que a ignorava naquela casa.
No dia em que ele recebeu alta do hospital, os dois se encontraram, uma bomba devastadora caiu sobre a família. Os dois deram início a uma briga como nunca fizeram antes.
Os segredos vergonhosos foram revelados, chocando e decepcionando os pais.
Martins não sabia o que sentir diante de tanta decepção. Era a primeira vez que chorou diante da família. A sua única e jovem filha estava tendo um caso com um homem muito mais velho e casado, ignorando todos os preceitos morais que ele a ensinou. O homem que ele criou com todo carinho, era um garoto de programa mentiroso e manipulador, que se envolveu com um casal, pondo a própria vida em risco.
Tanto Martins quanto Lurdes não reconheciam os filhos. Vinha neles dois mares estranhos, que tinha medo de explorar.
O casal demonstrava a insatisfação com ambos, passando a tratá-los com frieza.
Já não havia mais as conversas á mesa, as risadas, a divisão do sofá para assistir algo em família. A casa estava fria.
Não era o ódio e o desprezo que Abner nutria por ela que a mais entristecia, e sim vê-lo sofrer e chorar por dias pela perda de Leandro.
Como pode outro conquistar o que era dela por direito?! Era ela a única merecedora do amor de Abner.
Já estava farta da pobreza que a cercava. Aquele bairro xexelento, aquela casa pequena e desconfortável, a pobreza fedia em seu narizinho delicado, que já estava se acostumando aos perfumes caros que recebia de Genaro.
Os presentes já não alimentavam a sua ganância. Ela queria mais, muito mais.
Aquele quarto de motel exalava luxúria. Nua Lorena pousava a cabeça no peito do amante, deslizando o dedo indicador sobre a pele peluda de Genaro.
No momento pós prazer, que pela primeira vez, Lorena reclamou sobre a residência que vivia. No ápice da intimidade e acostumada a conseguir tudo o que desejava, a mulher pediu um apartamento como presente.
A princípio, Genaro negou, alegando que no momento não poderia fazer uma compra tão grande, prometendo para o futuro.
Lorena controlou o temperamento, fingindo ser uma mulher compreensiva.
No entanto, ela não estava disposta a desistir tão fácil. Lorena é do tipo da mulher que não chupa limão azedo, ela transforma em limonada.
No dia em que escorregou no chão do box do seu banheiro, Lorena se viu revoltada ao ver a mancha arroxeada que se formou na pele delicada do seu belo rosto.
_ Caralho!_ exclamou enquanto olhava-se no espelho.
No mesmo instante sorriu, demonstrando a iluminação de uma grande ideia que se formava em sua mente maliciosa.
Enrolou o corpo numa toalha rosa e foi para o quarto sorrindo. Pegou o celular, e sentou na cama com as pernas cruzadas.
_ Bom dia, amor da minha vida.
Assim que ouviu a voz de Genaro, Lorena simulou uma voz de choro e desespero, contando que não aguentava mais ser agredida por Abner.
Essa revelação caiu como uma pancada em Genaro. Ele não gostava nada de Abner por ter ajudado a destruir o casamento do seu filho, mas até poderia tolerar esse fato. Mas daí agredir uma mulher! Isso para ele era um dos piores absurdos que um homem poderia cometer.
Revoltado, Genaro garantiu para ela que iria até lá acertar as contas com o agressor da sua amante.
Lorena implorou para que não fizesse. Suplicou alegando que estava muito nervosa e tinha medo.
Marcaram um encontro num motel. A mulher mostrou o hematoma e mentiu que há anos era vítima da violência de Abner.
Chorava em seus braços, dizendo que temia voltar para casa.
Genaro a assegurou que isso não aconteceria. Mesmo sendo obrigado a prometer que não confrontaria Abner naquele momento, Genaro jurou vingança ao rival.
Para consola-la garantiu que a presentearia com o novo apartamento.
_ Ah, meu amor, você é tão bom pra mim.
Lorena se atirou em seus braços, sorrindo sem que ele percebesse.
....
A raiva que um pai sente de uma filha não tem prazo de validade muito longo.
Mesmo insatisfeito com o caso de Lorena, Martins não conseguiu negar a ela ajuda para organizar o seu novo apartamento.
O imóvel ficava localizado num bairro de classe média do Rio de Janeiro. Estava longe de ter os luxos exuberantes da cobertura de Júlio, mas diante da antiga casa de Lorena, o lugar poderia ser classificado como um palácio.
Continha uma larga varanda, uma suíte com banheira, três quartos de hóspedes (um deles Lorena reservou para ser sala de estudos), uma cozinha com dispensa integrada e uma sala espaçosa.
A mobília foi escolhida a dedo, seguindo os modelos das revistas que ela adorava esfolear, sonhando em obtê-los.
Os custos de tudo isso pesaram no bolso de Genaro. Foi uma guerra convencer a Angela que teve que sacar aquela quantia para quitar uma dívida, deixando a mulher ainda mais desconfiada.
Contudo, Genaro já não se importava com as desconfianças da esposa. Arrastava com a barriga, por puro comodismo, aquele casamento fracassado.
O casal já não se estimava há anos. Dormiam em quartos separados há dez anos. Não conseguiam sustentar uma conversa sem que essa terminasse em brigas.
Genaro preferia a rua a sua casa, a companhia dos amigos e das amantes eram mais agradáveis para ele do que da esposa. E de Angela se podia dizer o mesmo.
Lorena foi um delicioso fogo que ardeu em sua vida, trazendo de volta a vitalidade e um aumento para autoestima de um homem velho por poder se deliciar num belo corpo jovem.
Os sentimentos por ela ultrapassaram a cama, chegando ao coração. Estava encantado com aqueles belos olhos verdes, que apelidou de malaquitas, amava o som da sua voz, a sua gargalhada contagiante e a sua alegria de viver. Diferente de Angela, que estava sempre amarga na sua presença, resultado de anos de mágoas provocadas por ele, mas que Genaro fazia questão de ignorar a sua parcela de culpa. Ele não se importava que, com decorrer dos anos, os sofrimentos da esposa tenham se convertido em amargura.
Comprou com gosto o apartamento, ver a felicidade brilhando nas malaquitas de Lorena fazia valer a pena qualquer sacrifício.
Mas Genaro não era tolo, comprou o imóvel para a amada sim, mas na escritura do imóvel, ele também assinava como proprietário.
Lorena não se conteve em guardar para si a sua vitória. Ofereceu um almoço no domingo para mostrar o apartamento aos familiares e poucos amigos. Como cardápio salada de bacalhau e arroz branco feitos pelas mãos do seu pai. Para a sobremesa torta de morango, doce favorito do seu amante.
Lurdes se recusou a comparecer. Ainda não conseguia perdoar a enteada por ter a posto a vida do seu filho em risco, quando revelou a verdade a Júlio.
Lorena fez questão da presença do amante. Quis mostrar para todos quem era o homem "rico" , que ela havia conquistado.
Apesar das linhas do tempo estarem presentes no rosto de Genaro, ainda era possível ver em sua face que fora um homem ainda mais bonito na juventude. Não que nos dias atuais fosse feio. Porém a sua beleza era amadurecida.
Quando Genaro e Leandro estavam um diante do outro, era como se ambos tivessem diante do espelho do tempo. Genaro se via como foi na juventude e Leandro tinha diante de si um presságio de como seria a sua aparência no anoitecer da vida, o que foi vantajoso para Angela, que pode calar a boca de todos que botavam em dúvida sobre a verdadeira paternidade de Leandro.
Genaro preservava a elegancia no andar e nos modos, os mesmos que o filho herdou. Para Lorena isso era com um troféu. Ela mostrava os cômodos da sua conquista com muito orgulho, estufando o peito e sorrindo.
Luciano foi um dos convidados. Levou consigo a sua mãe, que se deslumbrou com o apartamento. Saiu do almoço ainda mais amargurada. Pensou que se não fosse Júlio, poderia ser ela a ter uma vida como a da amiga do filho.
A noite, Luciano foi solicitado por Júlio para comparecer ao mesmo apartamento em que ele de encontrava com Abner.
Após o sexo, Luciano permaneceu deitado de bruços na cama, ofegante. Júlio saiu de cima dele, indo para o banheiro.
Quando retornou, encontrou o amante ainda deitado, mas desta vez de barriga para cima.
_ Eu quis te ver ontem. Passei o dia todo sozinho. Agora Vanessa passa os fins de semana com o outro pai. Aquela casa fica uma merda sem aqueles dois.
Júlio se jogou de costa na cama, apoiando as mãos na cabeça.
_ Eu só quero a minha família de volta.
_ Não há nenhuma chance de o Leandro voltar atrás?
_ Ao que parece não. Ele está irredutível. Eu sinto a sua falta. Sabe... não vou medir esforços para ter o meu marido de volta. É injusto que não seja comigo que ele esteja transando. Eu tenho direitos sobre o corpo dele. Nós somos casados, porra! Nessas horas eu gostaria que o diabo existisse, assim eu poderia vender a minha alma em troca de ter o Leandro de volta.
_ Credo, Júlio! Com essas coisas não se brinca._ Luciano exclamou, batendo na madeira da cama.
_ Eu estive no apartamento da Lorena ontem. Por isso não pude ir a sua casa. Ela deu um almoço.
_ O outro esteva lá?
_ "O outro" seria o Abner?
_ Quem mais seria? Eu não consigo mais pensar nele sem sentir ódio.
_ Não. Nem ele e nem a mãe, ambos estão brigados com a Lo.
Júlio deu uma inesperada gargalhada, assustando Luciano.
_ É...a puta conseguiu mesmo depenar o velho otário.
_ E você não sabe da maior.
Luciano arrastou o corpo nu, se aproximando de Júlio, pôs uma das pernas em volta dos quadris do amante e o beijou.
Júlio aproveitou e desceu a mão passeando pela bunda de Luciano, penetrando os dedos no cuzinho do jovem.
_ A Angela está pagando para que a Lo descubra quem é a amante do seu Genaro.
Júlio interrompeu o movimento do dedo, ficando parado dentro de Luciano. Desta vez a gargalhada foi mais alta.
_ Gente, que bando de otários...e essa vagabunda, hein. Esperta a pilantra.
...
Dias atuais...
Desde que Leandro saiu transtornado de seu escritório, Genaro não conseguiu mais dar continuidade ao trabalho.
Passou um longo tempo sentado á mesa, pensativo, com os óculos na mão, apoiando a pontinha da perna do objeto em sua boca.
Olhava em volta e não via mais sentido permanecer ali. O salário era bom. Um valor tão alto que era para ele um paradoxo: ao mesmo tempo que lhe proporcionava uma vida confortável, também o acorrentava ao homem que mais detestava.
Ao longos dos anos se deixou aprisionar na teia de Júlio, que o alimentava com vantagens, enquanto sugava as suas energias e o manipulava para ser um aliado em manter Leandro por perto.
Genaro nunca se conformou com a demissão de Lorena. Julgou o ato como injusto, já que acreditou nas palavras da amante de que Abner a obrigou a mentir, que tinha medo da violência do "irmão". Ele usou desse argumento para convencer Júlio a voltar atrás.
_ Você é mesmo um idiota, Genaro. Se perdeu no meio das pernas daquela vagabunda e se deixou manipular.
Com ódio, Genaro socou a mesa de madeira e gritou:
_ Não admito que fale assim dela! Mais respeito, Júlio!
Júlio deu aquele sorriso de lado, enrrugando todo o rosto...sorriso que Genaro quería destruir a base de socos.
_ Olha só como ele ficou nervosinho, porque falei da putinha dele...oh! Tome vergonha na cara! Se você é um velho nojento, que se acha porque está metendo o pau cansado numa puta novinha o problema é seu. Eu não sou idiota!
_ Ah, então eu sou o idiota? Quem aqui foi traído pelo próprio amante?
O sorriso de Júlio se converteu numa cara de fúria e Genaro sorriu, debochado.
_ Foraaaa daquiiii! Foraaaaa!
Além de Lorena, se preocupava com o rumo que a doentia obssessão de Júlio por Leandro poderia tomar. Temia que o filho fosse vítima de alguma tragédia.
Não suportou ficar nem mais um segundo naquele lugar. Estava sufocado com a energia ruim da sua raiva pelo genro.
Entrou em casa cabisbaixo, com a gravata afrouxada.
Ao ver o marido entrar em casa mais cedo, Angela revirou os olhos para cima. Detestava ter que suporta-lo.
Ele a ignorou, indo direto para o bar, onde se serviu um copo de whisky.
Angela permaneceu olhando para a TV, eram como dois estranhos dividindo o mesmo ambiente.
Genaro jogou a maleta ao lado, sentando no sofá em frente, onde esposa estava sentada.
Reparou que ela vestia um vestido curto florido, deixando as belas coxas brancas a amostra.
Pensou que há muito tempo não beijava aquelas pernas e não colocava a boca nos pequenos seios de bicos rosados de Angela. O pau endureceu no mesmo instante. Tudo que precisava era de uma boa foda para relaxar.
Contudo, nem quis investir. Conhecia a esposa e sabia que ela não se conformaria em dar um não sem começar uma briga. Ele estava exausto demais para brigar.
_ Por que chegou a esta hora? A vagabunda não quis abrir as pernas para você?_ perguntou Angela em tom de ironia.
_ Não me amole com as suas loucuras. E eu lá tenho tempo para ter amantes?
_ Me poupe das suas mentiras.
_ Me poupe do seu cinismo, ele te deixa vulgar.
_ De mulheres vulgares você entende.
_ Leandro esteve no escritório hoje.
Angela arregalou os olhos, descruzando as pernas.
_ Como o meu filho está?_ perguntou preocupada.
_ Péssimo. Júlio está o infernizando.
Angela ouvia tudo aflita. Sentia a angústia esmagar o seu coração materno. A preocupação por Leandro era maior que tudo.
_ O que você tem na cabeça, Genaro? Onde já se viu deixar o menino ir embora sozinho naquele estado?! E se tiver acontecido alguma coisa? A culpa será toda sua!_ Angela gritava com o celular na orelha, ligando para Leandro.
_ O que você queria que eu fizesse? Ele não quis aceitar a minha carona.
_ Droga! Ele não atende! Merda! Escute aqui, se acontecer alguma coisa com o meu filho eu mato a ti e o desgraçado do Júlio.
Cada vez que Leandro não atendia as chamadas, mas os seus corações batiam aflitos. Genaro pegou o próprio celular e também ligava sem sucesso.
_ Tudo é isso é culpa sua! Eu sempre soube que o Júlio não era pra ele, mas você o deixou sair de casa com apenas 17.
_ O que você queria que eu fizesse? Leandro já estava decidido e faltava poucos dias para completar 18. Isso faz tantos anos! Você não tem moral nenhuma para falar de mim. Sempre o induziu a permanecer nesse maldito casamento.
_ Você também. E se fiz foi culpa sua! Por sua culpa estou presa ao Júlio!
_ Do que você está falando? O que você fez para que o Júlio te tivesse nas mãos?
Angela se arrependeu de ter dito aquelas palavras. Desviou o assunto e ambos trocaram acusações por serem responsáveis pela situação que Leandro se encontrava.
Genaro teve uma daquelas insônias que não tinha há anos. Ter conseguido falar com Leandro antes de dormir não foi o suficiente para que se acalmasse.
Pensava no filho, das inúmeras oportunidades que teria na vida se Júlio não tivesse cruzado o seu caminho. Acreditava que Leandro teria sido um homem brilhante, teria cursado Direito como os antepassados, seria um ótimo advogado, seria feliz.
O arrependimento bateu com tudo. Júlio era praga que contaminou a vida da sua família e destruiu tudo em volta. Enquanto assoprava, ele não mordia, ele devorava.
Levantou para ir ao escritório sem a mínima vontade. Estava farto de tudo aquilo.
Desviou o caminho, batendo na porta de Lorena naquela manhã.
_ O que aconteceu, leãozinho? Você está tão abatido?
Genaro sentou na cama, pondo a amante no colo. Narrava exausto tudo o que sucedeu.
Imaginar Leandro sendo morto pelo marido a deixava feliz, era deliciosa a sensação de se livrar do rival de um jeito tão trágico.
Para poder sorrir sem correr o risco de levantar suspeitas, Lorena o abraçou, apoiando o queixo em seu ombro.
_ Oh, meu amor, você não merece nada disso. É um homem de valor. Não deve mais se curvar as humilhações de Júlio e Angela. Desiste deles e venha viver comigo.
Genaro a puxou pela cabeça delicadamente, segurando o seu rosto com as mãos.
_ Podemos ficar juntos neste apartamento. Nos casarmos! Eu te amo e você me ama! Esqueça aquela jararaca amarga, que só te faz infeliz e venha viver comigo. E você não precisa mais do Júlio. Já é aposentado! Podemos pegar as suas economias e investir num escritório de advocacia seu, como você teve há muitos anos. Daqui a alguns anos vou me formar em administração, mas já entendo um pouco do assunto, posso cuidar da parte administrativa e você juridica. Nós seremos tão felizes!
Genaro recebeu um beijo em seguida. Saboreava aqueles lábios macios sentindo o gosto da esperança de uma vida melhor.
Se livrar de Angela e Júlio era uma proposta tentadora. No entanto, ele não a respondeu. Prometeu que pensaria no caso, o que não desanimou Lorena. Ela tinha certeza que se tornaria a nova senhora Toledo, estava se dedicando para isso.
Assim que pôs os pés no escritório, foi solicitado para comparecer a sala de Júlio. Foi com pura má vontade. Olhar para a cara do genro era o que não queria.
Ao entrar na sala do chefe, o encontrou furioso, roendo as unhas e andando de um lado para o outro. O desespero de Júlio era visível na sua aparência desleixada. O seu terno não estava impecável como antes, os cabelos desgrenhados e a barba não havia sido feita.
_ É incrível como você e a sua mulher são dois inúteis! Eu sempre cumpri com a minha parte, até mesmo quando não deveria! Mesmo Leandro me deixando eu o mantive aqui. E olha que você não é um dos meus melhores advogados. É um merda! Um estorvo! E mesmo assim eu te mantive aqui, Genaro!_ Júlio gritava._ E você? O que fez como gratidão? Nada! Não fez absolutamente nada! Não moveu um dedo para arrastar o Leandro de volta para mim! O lugar dele é a na nossa casa, ao meu lado! Ou você faz alguma coisa, ou Caia fora daquiiiii!
_ Quer saber? Faça o que quiser. Quer me demitir? Me demita! Foda-se, Júlio! Foda-se!
_ O quê?!
_ É isso mesmo que você ouviu. Eu não vou fazer nada para que o meu filho volte para você! Está louco! A sua presença representa um perigo para o Leandro. Acabou, Júlio! Aceite que você perdeu. Leandro não te quer mais e a culpa é toda sua! Não se pode ganhar todas, doutor Júlio Medeiros.
_ Eu não perco! Eu ganho! Eu sou um advogado! É isso que sempre faço, ganho!
_ Leandro não é uma de suas causas que você ganha com fraucatuas. Acabou! Agora me demita de uma vez. Não quero mais ficar um minuto diante da sua presença detestável! Eu nunca te suportei! Te odeio ainda mais!
Júlio ficou desesperado. Leandro o odiava, Vanessa já não era mais possível de manipular a seu favor e agora Genaro se rebela? Viu-se só, sem aliados.
Respirou fundo e jogou a sua última cartada.
_ Ou você me ajuda a ter o Leandro de volta, ou todos vão saber do nosso trato.
Genaro arqueou a sobrancelha e sorriu, o que causou um novo espanto em Júlio, que esperava ver o sogro assustado.
_Então ligue para a Vanessa e para o Leandro e marque uma reunião de família. Diga a eles que você comprou a menina da mãe. Garanto que ela vai te odiar ainda mais por isso.
_ Ela vai odiar a ti, já que não assumiu a paternidade dela e me pediu que fizesse isso.
_ Pode até ser... é...ela vai me odiar sim, e talvez Leandro também. Mas e você? Imagine a decepção da menina ao saber que foi enganada durante todo esse tempo pelo paizinho que ela tanto ama? _ Genaro sorriu, vendo o desespero nos olhos de Júlio._ Júlio, do jeito que ela está brava contigo vai ficar ainda mais. E o Leandro? Essa vai ser mais uma mágoa a mais que ele era de você. Mais uma para a coleção.
"Agora, deixe-me ir. Já não aguento mais olhar para a sua cara."
Genaro já estava na porta, quando ouviu:
_ Você vai me pagar, Genaro.
O velho advogado sorriu, saindo em seguida.
....
Genaro foi do escritório direto para a casa de Lorena. Tinha a intenção de se manter por lá por alguns dias. Desligou o Celular para que Angela não o perturbasse.
Disse a ela sobre a sua demissão.
_ Lamento que a minha renda vai diminuir, mas não precisarei olhar mais na cara daquele sacripanta.
_ Oh, meu amor, agora é hora de investir no que eu te disse, no seu escritório! Você pode ser o seu próprio patrão e eu sua funcionária. Imagina que excitante seria você me comendo na sala do chefe.
Lorena se atirou em seus braços, encaixando as pernas nos seus quadris. Beijou-o, enquanto ele a acariciava por baixo do vestido.
Há dois dias Genaro desfrutava da paz ao lado de Lorena. Esbaldava-se em luxúria e descansos.
O casal se devorava na banheira de hidromassagem quando ouviram a porta da sala sendo aberta. Assustada, Lorena o abraçou buscando proteção.
Os passos se aproximavam do banheiro. Como alguém entrou ali? Era um apartamento!
A porta foi aberta com violência e o olhar raivoso de Angela pesava sobre eles, fazendo-os gelar. Júlio estava atrás da sogra, com o seu irritante sorriso de cinismo.
_ Então é você a vaca que está dependendo o meu dinheiro? Vagabunda!
Notas do autor.
Antes que alguém pergunte como Angela foi parar no apartamento de Lorena e Genaro, já deixo de aviso que essa pergunta será respondida no próximo capítulo.