Parte 10 - CLAUDIO
Eu ainda não conseguia acreditar que estava vivendo mais aquele pesadelo, porém parado atrás do Marcelo enquanto Fernando apontava uma arma para gente, eu só conseguia pensar no que poderia ter acontecido com minha filha, meu irmão e todos da casa.
- Cadê minha família? - Marcelo pergunta, lendo meu pensando.
- Cala a boca, quem manda nessa porra aqui sou eu. Meu papo não é contigo, é com esse ai, tu achou que ia tirar meu garoto de mim?
- Você nunca cuidou dele - Eu digo tentando passar na frente do Marcelo, mas ele me impede colocando seu corpo entre a gente.
- PORRA... TIRA ESSE OUTRO DAQUI. - Fernando grita apontando a arma para o Marcelo. Ver aquela arma apontada para ele estava acabando comigo.
Um homem armado aparece atrás de mim, me dando um susto, ele tenta tirar o Marcelo do quarto, mas meu amigo não quer me deixar sozinho.
No meio de todo esse sufoco, apesar do sangue desconhecido que vimos na sala, Marcelo ainda estava pensando em me proteger. Eu nunca consegui entender o que foi que eu fiz para merecer alguém como ele na minha vida.
Mas a culpa disso tudo era minha, Fernando tinha ameaçado minha família, eu nunca deveria ter voltado para essa casa, tinha que ter me mantido distante, mas fui fraco e deixei a saudade que eu sentia de Marcelo e todos falar mais alto.
Agora era minha vez de proteger Marcelo, eu tinha que tirar ele do quarto, por mais que meu amigo ainda fosse ficar na mira de um cara armado, era certo que quem mandava nessa invasão era o Fernando.
- vai com ele. - eu digo para o Marcelo, o fazendo parar qualquer tentativa de luta.
- Eu não vou te deixar com esse louco.
É claro que ele diria isso, mas eu o conhecia, então digo a única coisa que o faria sair do quarto.
- Malu - Eu respondo, sabendo que ele entenderia.
Saber se nossa filha estava bem era a única coisa que importava no momento. Eu não teria como saber disso, era a mim que o Fernando queria, mas o Marcelo podia encontrar e proteger nossa filha, enquanto eu tentaria proteger nossa família.
Marcelo não diz nada, apenas aceita ser levado pelo homem. Vê-lo sair do quarto na mira da arma era uma tortura, no entanto tinha que confiar nos seus instintos.
- Enfim só nós dois, - Fernando diz com mais calma, a arma agora apontada para mim - Entra e fecha a porta, por favor.
- O que você quer? - Eu pergunto virando para fechar a porta, fingindo uma coragem maior do que eu realmente tinha ao dar as costas para aquele louco.
- Senta Claudio - Ele aponta para cama - fica a vontade, afinal a casa é sua.
Eu faço o que ele diz e Fernando logo vem sentar ao meu lado.
- Sabe cara, eu não tenho nada contra sua família, mas vocês tinham que foder comigo? - Ele coloca uma mão na minha perna.
Se alguém que não soubesse de nada abrisse a porta do quarto agora, poderia ate imaginar que somos dois amigos conversando calmamente, mas a verdade é que apesar de Fernando fingir tranquilidade depois que ficamos sozinhos, sua arma estava encostada na minha coluna o tempo todo.
- Eu falei contigo daquela vez, que eu resolvo meu problema sozinho. Eu avisei, não avisei? Era só você viver a porra da sua vida e deixar meu sobrinho em paz, mas não, tu tinha que acreditar nessa historia doida de irmão, você tinha que tentar tirar o que é meu...
- O que é seu? O Fabio não é uma mercadoria, ele não é seu. Você não se importa com o garoto, só quer explorar o garoto para ter dinheiro.
- E eu estou errado? - Ele pergunta com o rosto próximo do meu - O Bocão não tem família, eu cuido desse moleque desde novo, ele tinha mais é que me agradecer.
- Ele é meu irmão, eu sou a família dele - Digo o encarando, sem afastar meu rosto.
- Porra nenhuma - Ele diz calmamente e afasta o resto, apesar da arma estar no mesmo lugar.
Isso já estava me deixando nervoso. As poucas vezes que falei com Fernando, ele agia com gritaria, violência e ameaças. Agora, sua voz calma, estava me deixando com receio de que ele fosse mais maluco do que eu pensava.
- Quando isso acabar, você vai ter perdido todos que você diz amar, você vai olhar para o garoto e saber que a culpa disso é sua e dele.
- Não. Se você continuar com essa loucura, quando isso acabar, minha família vai estar segura e você preso. - eu o encaro - Ainda da tempo de voltar atrás. Pega seu amigo e vão embora, nós não faremos nada, vamos esquecer essa besteira.
- O que é besteira para você? Esperar os filhos e o marido da velha sair de casa para eu invadir é besteira? Já sei, amarrar a velha e a puta que estava na casa, talvez isso seja besteira? Dar mais uma surra no Bocão e naquela criança chata que estava com ele.
- VOCÊ NÃO ENCOSTOU NA MINHA FILHA - Eu grito e o empurro.
Fernando estava preparado para minha reação, ele ri de mim e aponta arma, me lembrando que ele ainda estava no controle de tudo aquilo, ele vai se aproximando até a arma tocar na minha testa.
- Fica tranquilo, eu não toquei nela, mas o seu amiguinho que chegou de surpresa, não teve tanta sorte. Aquele sangue na sala era dele - Fernando ri - Ele nem viu o que o atingiu, já caiu no chão morto.
Amiguinho? Então na minha mente vem a lembrança do Guga dizendo que iria voltar para casa, enquanto eu e Marcelo íamos ver a Clara.
Fernando matou o Gustavo? Não era possível, o Guga não podia estar morto, Fernando só podia estar mentindo de novo, mas todo aquele sangue...
- Você esta mentindo, não esta? Esta querendo me provocar.
- Não foi de propósito, ele que chegou na hora errada e quase estraga meus planos.
Não sinto mais o cabo frio da arma na minha testa, apesar dela continuar lá, Fernando não estava mentindo, sinto lagrimas escorrendo pelo meu rosto.
Na minha mente vem a lembrança do dia em que eu conheci o Guga, como eu o escolhi para ser o primeiro cara que o Marcelo iria foder, de como aos poucos ele foi entrando na nossa vida e na nossa família.
Quando o Marcelo saiu do quarto eu tinha pensando que faria tudo para proteger nossa família, mas isso nunca foi possível, não se o Guga já tinha sido morto, eu tinha perdido antes mesmo de entrar no jogo.
- Não gaste toda a sua lagrima, você ainda vai perder muitos antes disso acabar...
- Você tem razão - Eu passo a mão no meu rosto, limpando as lagrimas. - Não é hora para chorar. - Eu levanto a mão direita e seguro o cabo da arma, Fernando fica tenso, mas eu não tiro a arma do lugar - Atira - Ele ri achando que eu to blefando.
E eu estava, mas essa distração era o que eu precisava para usar minha mão livre e bater no pulso dele.
A arma sai do meu rosto, percebo a cara de surpresa e dor do Fernando, não esperando a batida. Ainda assim ele atira, mas a bala bate na parede.
Eu o ataco, tentando pegar a arma, mas o susto que tinha dado no Fernando já tinha acabado. Ele era mais forte do que eu, e era questão de segundos para ele recuperar o controle da situação, eu tinha que pensar em algo.
- CLAUDIO... - Escuto Marcelo gritar entrando no quarto, agora quem ficou surpreso foi eu.
Fernando aproveita para me dar uma cabeçada, o que me deixa um pouco tonto, ele então me empurrar e ficar com a arma para si.
Eu me preparo para atacar de novo e vejo a mira da arma sair de mim em direção para o Marcelo. E nessa hora que eu corro, não mais em direção ao Fernando e sua arma, mas sim para Marcelo.
Sinto meu corpo o empurrar no mesmo segundo que a bala me atinge.
- NÃÃÃÃOOOO... - Marcelo e Fernando gritam ao mesmo tempo por motivos diferentes.
-... Você tinha que ser o ultimo - escuto Fernando ainda dizer.
Minha vista logo vai ficando escura, eu tinha que falar para o Marcelo se proteger, Fernando ainda estava com a arma, ele iria matar o Marcelo, assim como fez co m o Guga.
Sinto dor, mas não muita, eu tinha que levantar, minha família estava em perigo, minhas pernas ficam fracas e meus olhos se fecham, mas escuto gritaria e gente entrando no quarto.
Eu volto abrir os olhos, escuto alguém dizer que já tinham chamado a ambulância. Eu tinha desmaiado? Volto a fechar os olhos, também escuto choro, a voz do Marcelo pedindo para eu não ir.
Ir para onde? Por que ele estava chorando? A gente estava sempre junto, se eu fosse para algum lugar, ele iria comigo, certo?
A gente falou que sempre estaríamos todos juntos... Mas isso não era mais possível, o Guga tinha morrido...
Eu tinha que avisar para o Marcelo. Eu volto a abrir os olhos, tinha que ter forças para avisar sobre o Guga, então eu vejo.
Gustavo ao lado do Marcelo, sua roupa cheia de sangue, enquanto ele chorava me olhando.
Porra... Eu morri?
- Guga – eu acho que falo e Fecho os olhos, não abrindo mais.
CONTINUA...
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