Pessoal, esse é o último capítulo de "Amor em Tempos de Apocalipse". Em primeiro lugar, quero agradecer a todos os seguidores deste site. Sem vocês escrever seria impossível. Espero contar com o apoio de todos nas próximas obras que eu publicar aqui na Casa dos Contos. Um abraço e segue o final:
NARRAÇÃO: ARTHUR
Eu sou um herói. Consegui estabelecer as comunicações de parte do país. Descobrimos diversas comunidades vivendo isoladas em outras regiões do país. Porém, o mais importante dorme em meus braços. Como um carinha magricela conseguiu domar o meu coração de uma maneira tão forte.
Nas últimas semanas, a gente transou de todas as maneiras que você pode imaginar. A melhor parte? Eu não me canso. Sou insaciável. E o único capaz de me satisfazer é o Cristian. Posso dizer que estamos em lua de mel e nos recuperando da aventura até a Torre Hoff, assim que ela passou a ser conhecida. O IBDT tomou de conta das operações e busca novos recrutas para novas missões.
— Amor, o café está na mesa. — Cristian chama por mim da porta do quarto.
O meu namorado está usando um moletom de tricô e uma calça jeans. Levanto da cama e vou na direção do homem mais lindo do universo. Seguimos para a cozinha e o Coronel Afonso já está à mesa. Ele recebeu um convite da Beatriz para auxiliar na nova formação do IBDT. Por isso, vamos recepcionar o Arcádia, que conseguiu despistar a horda de zumbi, com a nossa ajuda, claro.
Fomos em uma grande comitiva. Graças a Deus, que nenhum perigo apareceu na estrada. A IBDT disponibilizou os carros para duas equipes da Vila de São Jorge. Através da comunicação, o capitão do navio explicou que atracariam em uma cidade portuária próxima.
— Estou nervoso. — disse Cris, olhando para a paisagem através da janela.
— Você não precisa se preocupar, Cris. Eu não deixar ninguém te machucar. — garanti, prestando atenção na estrada e no comboio que seguíamos. — Fora que estamos armados até os dentes. E sabe qual é a minha sorte?
— Esses braços enormes e fôlego infinito? — ele responde com outra pergunta e me faz rir.
— Não, bobão. A minha sorte é que meu namorado é o cara mais foda que existe neste universo pós apocalíptico. — respondi, o fazendo corar. — Sério, Cristian. Se não fosse você, talvez eu não tivesse saído vivo desta merda toda.
— Quem diria que eu encontraria o amor em tempos de apocalipse. — o meu namorado brincou e olhou para mim. — O que vem a seguir?
— Não sei. O que você quiser que aconteça. Eu estou sem emprego. — afirmei, piscando para ele.
***
NARRAÇÃO: CRISTIAN
Nem nos meus sonhos mais loucos imaginei que seria respeitado na vila. Todos enlouqueceram quando souberam que obtive sucesso na missão de religar a comunicação. Nós fomos de dois páreas para heróis. E se isso for um sonho? Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer comigo. Era tudo o que eu queria. Apenas o respeito.
Estamos há algumas horas na estrada. Eu não canso de conversar com o Arthur. Ele relembrou várias histórias de sua infância e adolescência. Em algumas, eu apenas queria abraçá-lo. A vida de um cara gay não é fácil. Existem lutas internas e externas para você assumir quem é.
Finalmente, chegamos ao local onde o navio chegaria. Precisamos fazer uma varredura para evitar qualquer emboscada ou perigo. Exterminamos alguns zumbis. Um inchado nos surpreendeu, mas acabei com o maldito com uma flecha explosiva.
— Maldito. — reclamo do odor, após a explosão do zumbi.
— Você é muito fodão. Eu acho que gosto dos badboys. — o Arthur cochicha, colocando sua arma no coldre.
— Cala boca. Vou ficar todo vermelho. — digo, ajustando o boné na minha cabeça.
— Rapazes, — o papai nos chama. — o navio está chegando. — acenando e vamos ao seu encontro.
C-A-C-E-T-E! O Arcádia é enorme. É um navio cargueiro de uns 300 metros. Tão imponente quanto nos contaram. Eles demoram um tempo para ancorar. Alguns dos nossos homens estão pelos prédios da redondeza para assegurar que nenhum ataque acontecesse.
De acordo com o papai, na sociedade antiga, a chegada de navios significava festa para as cidades portuárias. Só que, apesar do tamanho, o Arcádia faz uma aproximação silenciosa. Não queremos chamar a atenção de zumbis, ainda mais os mesclados. Se é que sobrou algum para contar história.
Continuo olhando com atenção para cada detalhe da embarcação. A base do Arcádia é azul com o seu nome escrito em letras garrafais do lado direito. Na parte de cima, vários contêineres formavam as cabines, acho que onde a tripulação habita. Uma espécie de ponte é içada e nos reunimos bem perto para recepcionar os novos amigos.
Dentre todos, os únicos que conversaram com o capitão do navio foram a Beatriz, que é uma espécie de líder do IBDT, e também o meu pai que a ajudará nesta missão. Algumas pessoas começam a descer pela ponta. Na frente, está uma mulher negra com os cabelos raspados.
— Capitã Helena. — Beatriz a cumprimenta e a minha cara vai ao chão.
— Olá, Beatriz. É tão bom dar um nome a um rosto. — admite a capitã, abraçando Beatriz. Em seguida, ela volta a atenção ao meu pai. — Você deve ser o Coronel Afonso, certo?
— Sim, — papai responde estendendo a mão e cumprimentando a capitã. — isso mesmo. Seja bem-vinda.
— Bem. Temos bastante a conversar. Acho que é mais conveniente vocês entrarem no navio. Afinal, não queremos zumbis no meio de nós.
Se do lado de fora o navio era impressionante, cara, a parte interna é maravilhosa. Eles fizeram um belo trabalho para equipar a embarcação. A pessoa que criou o Arcádia pensou em todos os detalhes para deixá-lo sustentável. Uma equipe da vila fica responsável de anotar todos os pontos positivos da estrutura.
Porém, uma festa está acontecendo em uma parte do navio. A capitã explica que é o casamento de uma de suas filhas. Puxa, chegamos em um momento bom. As pessoas estão bebendo, comendo e celebrando o enlace da moça. A confraternização é simples, só que o cheiro da comida é delicioso.
— Pessoal, — a capitã chama a atenção dos moradores do Arcádia. — hoje é um dia especial. Em primeiro lugar, a minha filha querida está casando. Não é todo dia que algo do tipo acontece neste mundo. Em segundo lugar, vamos recepcionar bem os nossos novos amigos. Estamos aqui para fazer um intercâmbio de conhecimento e, claro, estreitar os laços com todas as regiões do mundo que estão lutando para se manter em pé. — declara a capitã, que é ovacionada por todos.
***
NARRAÇÃO: ARTHUR
Eu não sou a pessoa adequada para interações sociais. Levou dias para eu me abrir para os moradores da Vila de São Jorge. Neste momento, sou mais um observador que participante das conversas com os novos amigos que fizemos. Ando atrás do Cristian como um cachorro de guarda.
Um casamento está acontecendo dentro do navio. Eu nunca estive em um casamento, então, não sei como agir. A Beatriz pede para eu segurar a barra. Diferente de mim, a minha amiga conseguiu adquirir uma boa experiência com socialização nos seus tempos de agente da IBDT.
Do nada, uma moça negra anuncia que vai jogar o buquê. Um alvoroço acontece e todos correm para perto dela. Os olhos do Cristian começam a brilhar. Ele me diz que isso era um ritual feito na sociedade antiga, onde a noiva compartilhava o buquê para a próxima pessoa que iria casar.
— As pessoas que não pegam ficam sem casar? — questiono, tirando um sorriso sincero de Cristian.
— Não, bebê. É só uma tradição. Eu só vi nos livros. — explica.
A moça estava muito sorridente e brincava com o buquê de flores. Ela era a filha da capitã do navio. Realmente, o Arcádia era um bom lugar para se viver. De repente, uma outra mulher aparece e beija a noiva. Olho para o Cristian, que não esconde a surpresa de ver outro casal gay.
— Sua filha é lésbica? — o Coronel Afonso questiona da capitã.
— Sim, existe algum problema? — a capitã responde com outra pergunta.
— Não, inclusive, Arthur! — ele me chama. — Venha cá um segundo.
— Opa. — digo me aproximando de uma maneira militar, pois não sabia agir com naturalidade em outro ambiente.
— Capitã, esse é o Arthur, a pessoa que religou as comunicações e, também, o meu genro. Quer dizer, ele ainda não pediu a mão do meu filho, mas eles estão namorando. — explica o capitão pegando no meu ombro e apertando forte. Será que isso é uma indireta?
— Ah, então, ele pode pegar o buquê. Vá lá, rapaz. — pede a capitã, pegando no meu braço e me levando até onde estava contratado o grupo de pessoas. A maioria era mulher. — Fique aqui e faça valer a pena o seu treinamento de soldado.
Olho para o Cristian que está gargalhando. As mulheres me encaram com um semblante raivoso. Cara, eu prefiro mil vezes enfrentar os zumbis e canibais das florestas. As pessoas ficam loucas quando a noiva inicia a contagem para o lançamento do buquê. Respiro fundo e presto atenção aos movimentos dela.
Nas primeiras duas vezes, a noiva blefa e deixa todo mundo nervoso, quer dizer, eu estou. Então, ela lança o buquê no ar. Eu corro e pulo em cima de uma cadeira. Em seguida, alcanço o buquê e caio graciosamente no chão. As mulheres ficam revoltadas, mas não comentam nada. Alguns acham divertido, inclusive, a capitã e sua filha.
— Ei, Cris! — o chamo e balanço o buquê. — Eu peguei! Eu ganhei! — o Cristian me olha de maneira tímida e seu rosto está todo vermelho.
Uma música lenta sai dos altos falantes. Os casais, incluindo as noivas, começam a dançar agarradinhos. Eu fico parado no meio do salão, sem qualquer tipo de reação. Até que a Beatriz pega nas mãos de Cristian e o leva na minha direção.
— Ei, vocês precisam dançar. Essa é a regra para quem pega o buquê. — explica Beatriz, tomando o buquê da minha mão e saindo da pista de dança.
— Eu, eu nunca dancei antes. — soltou Cristian, que estava mais vermelho que um tomate.
— Claro, e eu sou o mega experiente em dança. — comento, antes de rir. — Nós não existimos.
Eu não sou o tipo de pessoa musical, mas a melodia desta canção é muito bonita. Eu observo os outros casais e tomo a iniciativa de puxar o Cristian para perto de mim. No início, ele fica super desconfortável, mas o lembro que as noivas são mulheres e que estão dançando sem se importar com a opinião alheia.
Coloco as minhas mãos na cintura do Cristian, enquanto ele coloca as mãos no meu ombro. Balançamos de um lado para o outro. Meu Deus, como eu amo esse homem. Tive que cair do céu para encontrá-lo, mas no fim valeu a pena. Dançamos por quase 30 minutos, porém, passaram a tocar funk e eu não sou muito de remexer o esqueleto.
O dia passou de maneira tranquila. Nós comemos bem e bebemos, também, e bebemos pra caramba. Foi a primeira vez que eu vi o Cristian alcoolizado. A capitã nos chamou para uma reunião. Ela nos parabenizou pelo sucesso da missão na Torre Hoff. O reconhecimento é bom, mas o principal é saber que vidas foram salvas pelo nosso desempenho.
— Arthur, — a capitã chamou a minha atenção. — o engenheiro responsável pelas placas solares do Arcádia está muito idoso. Será que você toparia vir trabalhar conosco? Pagamos bem e você terá a oportunidade de viajar pelo mundo.
— Isso é... — viro e o Cristian dorme tranquilamente em um sofá.
— Calma, você pode pensar se vai aceitar ou não, mas seria uma honra ter alguém com suas habilidades no navio. É uma oportunidade única.
— Obrigado, capitã. — agradeci, então, levantei e a cumprimentei com uma saudação militar. Em seguida, vou até o sofá e carrego o Cristian para o dormitório.
Ele é perfeito. Eu queria tê-lo encontrado antes. Eu não o deixaria passar por toda humilhação na vila. Eu faria o Cristian ser respeitado do jeito que ele merece. O deito na única cama disponível no quarto. Tiro a sua jaqueta e a bota. Volto para o deck principal, onde as duas noivas dançam ao som de uma canção romântica.
****
NARRAÇÃO: CRISTIAN
Deus. Nunca mais vou beber. A minha cabeça parece que vai explodir. O Arthur dorme ao meu lado. Tão sereno que não quero acordá-lo. Faço um esforço sobrenatural para sair da cama sem chamar a atenção dele. Do lado de fora, a vida segue normalmente. Os tripulantes olham um quadro localizado na área central da embarcação. É uma espécie de agenda onde estão anotadas as funções e os horários de cada um.
Vou para uma área mais afastada e aprecio a vista. A cidade está completamente fodida. Acho que aqui virou um posto da IBDT, porque existem várias barracas médicas destruídas. Sinto uma respiração nas minhas costas, é o Arthur.
— Porque você não me acordou? — ele questiona, se posicionando ao meu lado.
— Você estava com um sono tão pesado, que decidi te deixar aproveitar. — disse, sem olhar para o meu namorado.
— A capitã Helena pediu para eu ficar. Eles estão precisando de pessoas na engenharia e...
— Tudo bem, Arthur. Você pode ficar. — tento disfarçar a dor que estou sentindo, mas não vou egoísta, afinal, o navio sempre foi o objetivo do Arthur.
— Eu vou ficar, Cristian. E você também vai. — ele anuncia, tocando no meu rosto. — Eu não consigo viver sem você, Cristian. E, de verdade, você merece muito mais do que a Vila de São Jorge. Eu tenho certeza que acharemos uma função para você aqui.
— Você quer que eu fique? Você tem certeza?
— Claro, — ele diz me virando e meus olhos encontraram os dele. — eu não sei mais viver sem você. Eu conversei com o Capitão Afonso e pedi para casar com você. Eu preciso de você.
— Você quer casar comigo? — pergunto surpreso e com os olhos cheios de lágrimas.
— Claro, eu peguei o buquê. Agora você é obrigado a casar comigo. Fora que no navio teremos uma liberdade maior para ser quem somos. Ah, e o teu pai disse sim. Sim para o nosso casamento. — ele conta, enquanto acaricia o meu rosto e beija minha testa.
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NARRAÇÃO: ARTHUR
Dois meses no mar. Dois meses que estou noivo do Cristian. Dois meses que tomei a melhor decisão da minha vida. Já passamos por diversas comunidades e o alcance da comunicação quadruplicou de tamanho. Algumas pessoas foram hostis, enquanto outras nos ajudaram em momentos de dificuldade.
O Cristian virou professor de arco e flecha. Ele é muito querido por todos da comunidade, afinal, quem não ia gostar desse cara fofinho. Toda semana, ele se comunica com o pai, que está ajudando Beatriz a reerguer o IBDT. É uma tarefa complicada, porém, os dois formam uma boa dupla. Até surgiu um rumor acerca do relacionamento deles.
O meu casamento com o Cristian está marcado para o ano que vem. Queremos celebrar com as pessoas que amamos, por isso, vamos esperar retornar ao Brasil para oficializar a nossa união. No momento, somos apenas nós dois e um mar sem fim. Temos o nosso próprio quarto e uma liberdade que não teríamos na Vila de São Jorge.
Em uma tarde quente de agosto, a missão que daria a minha liberdade falhou miseravelmente. Hoje, estou em um navio e sou noivo de um homem lindo. Acordo e não vejo o Cristian no quarto. Como ele sempre acorda antes de mim? Eu vou ao banheiro e faço a higiene. Graças a Deus estamos de folga e podemos aproveitar uns momentos juntos.
Saio da cabine e o encontro escorado apreciando a vista, enquanto toma um chá. O sol bate nos cabelos de Cristian. Meu Deus, ele é maravilhoso demais. Me aproximo e o abraço.
— Dorminhoco? — o Cristian pergunta sem olhar para mim.
— Sim, você me deixou mal acostumado. — explico.
— O que quer fazer hoje? — Cristian vira para mim e sorri, algo que faz o meu coração bater mais forte.
— Bem, o Mauro da comunicação me deu uns DVD's. Acho que podemos assistir. Que tal?
— Parece promissor, bebê. — ele diz me beijando. — Ah, eu combinei com a Diana e a Soraya que íamos jogar cartas.
— Olha só. Tá cheio de amigos no barco. Todo mundo tem medo de mim. Eu até tô treinando meu sorriso. — mostro o meu melhor sorriso para o Cristian.
— Tá explicado. — Cristian deixou a xícara no chão e me beijou. — Eu te amo tanto. E estou feliz mesmo. As pessoas aqui entendem a gente. A Diana e a Soraya passaram pelas mesmas merdas que eu. É bom ter com quem conversar. — ele aproxima a boca do meu ouvido e cochicha. — E tudo começou quando você caiu do céu.
— Eu já tinha tudo planejado, Cristian. Até a parte da falta de memória. — brinco rindo e o beijo. Um beijo quente, vagaroso e apaixonado. Eu gosto assim. E não vou cansar. Não importa os próximos desafios, Cristian, eu vou sempre te proteger.
FIM