Minha esposa havia sido transportada , através da Tecnomagia, até a ilha grega de Kythera, onde foi recebida por uma bela mulher, que trajava uma veste branca.
Adeline acompanhou a mulher, que disse ser uma Sacerdotisa do Templo Oculto de Afrodite. Elas seguiram por uma trilha até chegar à base de um morro, que foram contornando. Passaram por algumas frestas largas entre as rochas, e de repente sumiram! E eu estava bem próximo a elas! Procurei por vários minutos, refiz o caminho, mas não havia nenhuma porta ou entrada. Parecia que haviam evaporado...ou se teletransportado, como havia acontecido com minha esposa.
Não tive alternativa a não ser retornar à mansão, bastou apenas pensar em voltar e já estava de novo sentado na cadeira, no Salão da Tecnomagia.
- O que houve, Agente Möbius? Parece muito preocupado.
- Ela simplesmente desapareceu junto com a Sacerdotisa!
- Como foi que aconteceu? E como apareceu essa Sacerdotisa?
Contei a eles tudo o que havia visto durante a Projeção Astral. Mestre Bernard tomou a palavra:
- Por isso é chamado de Templo Oculto. Pelo que sei, há uma passagem muito bem escondida, através de rochas que defletem a luz , tornando-a praticamente invisível.
- Então será melhor que você vá pessoalmente até lá, Möbius – disse o Diretor.
- Se for possível, Senhor...embora eu confie plenamente na Agente Djinn, ela está lá completamente nua, sem nenhum dos equipamentos ou acessórios que costuma utilizar em suas missões.
- É verdade. Mas não dá para dizer que ela esteja indefesa, pois foi muito bem treinada. Entretanto, pode ser que haja necessidade de apoio logístico. Ela já está sabendo que deve colher informações a respeito do envolvimento de Artemios Odysséas com essa Ordem, e qual o envolvimento dessa sociedade secreta com os negócios escusos internacionais em que o grego está metido.
Então, foram iniciados os preparativos para minha viagem à Grécia. Eu seria um empresário internacional com planos de investir na ilha de Antikythera ( ilha que fica bem em frente), aproveitando para fazer turismo em Kythera. Dei uma pesquisada, e havia uma “Caverna de Vênus” em um local chamado Galani. Não sei se ficava perto do lugar que eu havia visto, teria que chegar até lá para descobrir.
Peguei todas as coisas que ela havia trazido em suas malas. Para todos os fins, eu iria me encontrar com Adeline quando estivesse lá. Se alguém perguntasse, eu diria que ela chegaria depois. A reserva de Hotel era para nós dois, eu estava certo de que a encontraria e depois poderíamos ficar mais alguns dias na ilha.
O avião da Agência me levou até o Aeroporto Nacional da Ilha Kythera, e de lá uma van do Hotel já estava aguardando.
A Ilha realmente é linda, mas minha única preocupação era localizar o Templo de Afrodite, onde certamente Adeline estaria.
Mestre Bernard me havia dado a localização aproximada do Templo, desenhando por cima de um mapa obtido pela Internet. Para não atrair muito a atenção, no primeiro dia participei de alguns passeios turísticos com outros hóspedes do Hotel. Para meu azar, uma jornalista grega, uma bela mulher, que ( segundo me disse) já havia passado alguns meses no Brasil e falava português, sentou ao meu lado e começou a puxar conversa.
- O que levou um empresário brasileiro a querer investir na ilha vizinha?
- Eu soube, há algum tempo, que está havendo uma diminuição da população local, os jovens querem ir para centros maiores. Minha intenção é investir em centros culturais e preservar a História de nossa civilização.
- Mas por que Antikythera?
- Devo admitir que o mistério que cerca o Mecanismo de Antikythera, o computador mais antigo do mundo, foi a centelha que iniciou todo o meu projeto.
- Espero que o Senhor não esteja pensando em começar a escavar e destruir a natureza, buscando evidências de “deuses astronautas” e coisas similares.
- De forma alguma. A ideia é preservar, não depredar. E tenho certeza que Afrodite nunca me perdoaria se eu destruísse parte desta região.
- Afrodite?
- Eu sei que Kythera é considerado o berço da Deusa, e o local onde havia o Templo mais antigo dedicado a Ela. Certamente ela deve ter um carinho especial por estas Ilhas.
- O Senhor fala como se fosse um Devoto d´Ela. Acaso é descendente de Júpiter?
Lembrei da conversa do grego com Adeline. Respondi:
- Não, por certo não sou ... Júpiter ou seu descendente. Mas tenho o maior respeito pela História da Grécia Antiga e toda a sua assim chamada Mitologia.
- E por que disse “assim chamada?”
- Porque pode ter sido a História Verídica, e não apenas Mitologia.
- Ah...o Senhor crê que realmente existiram os Deuses e Semideuses Gregos.
- Posso dizer que já vi algumas coisas que vão além da imaginação da maioria das pessoas.
Eu poderia dizer que minha esposa seria considerada uma semideusa após o seu teletransporte, e o que dizer da minha capacidade de acessar praticamente toda a informação do mundo através do meu nanochip, mas... e se ela fosse uma espiã de algum grupo rival?
- Não sei o que isso possa significar.
- O que eu quis dizer é que muitas pessoas acreditam em Santos e Anjos. Por que não Deusas e Deuses Antigos?
- Tem razão.
Fizemos um dos passeios turísticos, aproveitei para comprar alguns “souvenirs” para Adeline. De maneira curiosa, ocorreram algumas discussões e discórdia entre alguns passageiros, o que fez com quatro deles saíssem no meio da viagem, gesticulando bastante e proferindo impropérios. Ninguém soube explicar direito a causa da confusão. Ouvi umas pessoas comentando:
- O que será que aconteceu entre eles?
- Sei lá, estavam conversando normalmente, e de repente passaram a discutir e se ofender mutuamente.
Coisa mais estranha. Continuamos o passeio, o clima entre os passageiros estava meio tenso, mas não entre mim e a jornalista. Descemos um pouco antes , caminhamos um pouco na calçada em frente ao mar, e depois voltamos ao Hotel.
- Sua esposa não veio com você? – ela perguntou.
- Ela virá depois, teve compromissos de trabalho. Deve chegar em um ou dois dias.
-Bom... poderíamos ir a algum lugar para conversar e beber alguma coisa, mais tarde.
A mulher não perdeu tempo, pelo jeito. Hesitei um pouco, mas tenho a certeza de que a Agente Djinn, vendo a oportunidade de obter informações relevantes, não pensaria duas vezes em concordar. E mesmo fazer sexo, se considerasse importante para a missão. Eu só tinha que tomar cuidado porque a jornalista poderia estar fazendo o mesmo.
- Tudo bem. Podemos sim.
- Vou descansar um pouco, tomar um banho e depois eu ligo para sua suite.
Ela se despediu me dando um beijo no rosto, perto da boca.
Cheguei ao quarto, tomei uma ducha, e depois sentei em uma poltrona confortável, ativando o nanochip. Com as informações dadas por Bernard, fui checando imagens de satélite e consegui visualizar a praia onde Adeline havia surgido, ficava em uma área um pouco afastada. Claro, o Templo Oculto não podia ficar na região mais movimentada da Ilha. Na manhã seguinte eu iria até lá para tentar localizar pessoalmente a tal entrada secreta.
Havia um problema: Como eu iria me explicar se chegasse de repente ao tal Templo? Eu não fazia a mínima ideia de como seria a hierarquia dessa Ordem, como seriam os cumprimentos e coisas assim. Sabia que haviam apertos de mão especiais, posturas diferentes, senhas e contra-senhas. Talvez eu pudesse apenas dizer que era um turista perdido, e ver no que iria dar.
E o grego? Seria algum Grande Adepto ou Hierofante dessa Sociedade Secreta?
Enquanto eu pensava essas coisas, a campainha da porta tocou. Fui atender, era ela, Éris, a jornalista. O nome dela me lembrava alguma coisa, acho que era uma Deusa grega, mas eu não conseguia lembrar exatamente qual era sua função no panteão dos Deuses.
Ela estava com três garrafas nas mãos, e já foi explicando:
- Ouzo, Retsina e Tsipouro. Espero que tenha bastante gelo em seu frigobar.
- Não conheço essas bebidas. Mas vou pedir que tragam um balde de gelo.
- São típicas daqui. Achei melhor conversarmos aqui, em vez de irmos a algum bar.
- Algum motivo especial? Por favor, sente-se.
Ela se sentou no sofá da salinha da suíte, e colocou as garrafas na mesinha em frente. Cruzou suas belas pernas. Ela estava com um vestido curtinho, bem leve, adequado ao clima ameno. Parecia uma daquelas estátuas gregas. Logo um garçom trouxe o balde de gelo, e copos adequados às bebidas.
- Então, vamos começar por este aqui.
A bebida era forte, porém agradável, principalmente gelada.
- O Senhor ...
- Pode me chamar de você, não sou nenhum figurão.
- Então...você perguntou se havia algum motivo especial para eu querer conversar aqui e não em um bar. Na verdade, há um motivo.
- E qual seria?
- Geralmente quando vou a algum local público, acontecem coisas estranhas, como brigas e confusões.
- Você costuma brigar com as pessoas?
- Não é bem isso. Talvez seja algum tipo de energia que eu tenho. Viu o que aconteceu no passeio turístico?
- É difícil de entender. Mas como você consegue desempenhar seu trabalho como jornalista, então?
- Meu trabalho é essencialmente online, felizmente.
- Eu não estou com nenhuma vontade de brigar.
- Esse foi outro motivo. Talvez o fato de você acreditar nos antigos Deuses e Deusas tenha a ver com isso, então conseguimos conversar todo este tempo.
- Continuo achando curioso. Desculpe parecer politicamente incorreto, mas você é uma mulher muito bonita, como os homens não conseguiriam manter uma conversa com você?
- Acredite, com outras pessoas já estaríamos discordando em muitos pontos .
Ela serviu um copo da outra garrafa, e continuou:
- Mas eu tenho minhas dúvidas a respeito do seu projeto nesta região. Algo me diz que há outras coisas além disso.
- Você pode ter a certeza de que não há nenhuma coisa ruim envolvida nisso.
- Então existem outros objetivos.
Ela me encarou firme, e notei que seus olhos tinham um brilho estranho, eu diria que era quase sobrenatural.
- Se não há nada de mal, você pode me contar?
Tentei dizer a ela algo plausível, com um fundo de verdade. A verdade misturada com alguma fantasia pode dar alguma credibilidade ao que dizemos.
- Bem... você pode ver as malas de minha esposa ali ao lado da cama. Eu realmente estou esperando por ela. E... pode parecer algo estranho... mas é coisa minha. Eu gostaria de saber a localização exata do Templo de Afrodite. Não quero fazer nenhum projeto que seja perto do local.
- Mas o Templo fica aqui em Kythera, não na Ilha em frente.
- Como pode ter certeza? E se Ela teve um Templo especial em Antikythera, talvez para ficar em paz de vez em quando?
- Não teve não. O Templo fica aqui, logo atrás daquele...
Ela apontou para um morro ao Leste do Hotel.
- Continue.
Éris pareceu hesitar.
- Falei demais, desculpe.
- Como falou demais? Isso faz parte da História. A não ser que seja algum local secreto.
- Se continuarmos, vamos discutir. Não posso dizer mais nada.
Então, lembrei quem era Eris. A Deusa da Discórdia na Mitologia grega! Seria ela em pessoa? Eu fiquei pasmo. Inacreditável.
- Você está esquisito. O que aconteceu?
- Anh... essa bebida é forte, não?
Ambos rimos. Pelo menos eu sabia agora em que direção ficava o Templo. Continuamos conversando e bebendo. Mas, se ela era mesmo a Deusa da Discórdia, não estava me fazendo mal, não consegui saber o motivo.
Passamos para a terceira bebida. Ela me olhava com curiosidade, e eu receava que se a conversa continuasse, poderia acabar revelando algo sobre minha verdadeira identidade. Então, ela falou algo que me deixou sem fôlego:
- Ela está lá, não?
- Ela quem?
- Sua esposa. Está no Templo.
- Eu... que ideia...como...
- Eu sou quem eu sou. Não escondi meu nome de você. Por que tentou esconder isso de mim?
- Eu não fazia ideia...
- Você descobriu já há algum tempo. Mas eu só me revelei porque você acredita em nós. Mas quero que me diga como ela veio parar aqui? Você veio de avião, ela não. E ela não é nenhuma Deusa, pelo que eu sei.
- Eu não deveria falar sobre isso, mas não é algo tão secreto assim...Tecnomagia.
- Por todo o Olimpo! Humanos fazendo como Prometeu!
- Não, não estamos querendo nos tornar Deuses! De maneira alguma! E eu não tenho a mínima intenção de ficar amarrado em uma rocha, com uma águia comendo meu fígado.
- Então explique.
- A ideia era coletar, acumular e utilizar a nossa própria Energia Sexual para fins altruístas.
- Como pode ter certeza disso? As consequências do uso inadvertido de uma Energia tão poderosa podem ser catastróficas para o seu povo.
Fiquei sem ter o que dizer. Ela continuou:
- Sua esposa. Ela foi transportada até aqui por algum motivo.
- Artemios Odysséas.
- Aquele verme.
Ela fez uma expressão entre raiva e nojo.
- Conhece o homem?
- Ele e seu grupo deturparam as Antigas Tradições, criando uma Seita que se aproveita das mulheres, com a promessa de torná-las Sacerdotisas de Afrodite.
- Bom... Eris...Senhora...
- Nada de “Senhora”. Pode me chamar de você, mesmo.
- Bom... Eris... A missão de Adeline seria encontrar Odysséas e descobrir o seu envolvimento com a Seita Secreta e suas conexões com o crime internacional. Durante o processo da coleta de Energia, ela foi transportada até aqui. Talvez por sua própria força de vontade.
- Duvido. O Templo deve tê-la chamado, ela tem uma tarefa a cumprir para as Deusas.
- É difícil acreditar nisso. Havia um plano...
- Ela podia ter morrido naquela embarcação, mas não morreu. Acha que vocês teriam conseguido sozinhos?
- Então houve interferência dos Deuses?
- Deusas.
- É muito difícil acreditar nisso.
- Eu não preciso que acredite. Aliás, nem sei por que estou perdendo tempo conversando.
Ela me abraçou e me beijou de forma intensa, sua língua enroscando na minha sem que eu tivesse tempo de argumentar. Senti um tesão imenso, incontrolável, meu cacete endureceu imediatamente. Ela o segurou entre as mãos.
- Quero sentir sua espada de carne!
CONTINUA