- Você já viu?
Sheila não entendeu:
- Viu o que?
Andrea teve a certeza de que ela ainda não sabia de nada. Se não foi o vídeo, o que a deixou dessa forma? Ela, curiosa, perguntou:
- Por que essa cara? Você estava melhor ontem.
Sheila, sem ninguém para desabafar, disse:
- Acho que estou grávida.
Andréa sentiu um alento de esperança. Ela não conhecia a história da primeira gravidez de Sheila e todo o trauma que ela gerou. Talvez, aquela fosse uma ótima notícia. Com certeza, Augusto não poderia mais ignorar a esposa, estando ela grávida.
Continuando…
Parte 10: Linchamento moral, confronto e redenção.
Andréa abraçou Sheila e com ela em seus braços, veio trazendo a amiga para dentro da casa. Sheila chorava ainda mais forte:
- Essa é uma notícia boa. Augusto não poderá continuar longe.
Sheila não respondia, só chorava. Andréa não entendia o porquê, se ela ainda não sabia sobre o vídeo que circulava na cidade, o que haveria de tão ruim naquela suspeita de gravidez? Andréa insistiu:
- Fala comigo! Deixa eu te ajudar. Não posso fazer nada se você não se abrir. Quer que eu vá à farmácia e compre um teste? Se você quiser, até atrás do Augusto eu vou. Ele deve estar enfurnado na fazenda da família.
Sheila não tinha muitas opções. Estava sozinha e desamparada no momento. Andréa tomou as rédeas da situação:
- Venha! Enquanto você toma um banho para aliviar o corpo, eu vou à farmácia comprar o teste.
Andréa levou Sheila até o banheiro e começou a tirar a sua roupa. Sheila se retraiu, protegendo a nudez com as mãos. Andréa não tinha segundas intenções:
- Relaxa! Essa não é a hora de pensar em intimidades. Entra lá e deixa a água morna relaxar o seu corpo. Eu volto daqui a pouco.
Andréa saiu, deixando Sheila chorosa e pensativa debaixo do chuveiro.
Andréa era uma pessoa prática, independente, e aprendera a ser forte com o período de sua formação em medicina. Convivera com toda a sorte de dramas, doenças, traumas, acidentes, urgências e desesperos. Isso fizera com que se tornasse uma mulher muito forte emocionalmente e centrada. Na cabeça da Andréa, ela tentava organizar um plano de prioridades. E ao seu ver, a pessoa que precisava de cuidados imediatos era a Sheila. Depois que ela estivesse melhor, pensaria numa forma de colocá-la ao par dos últimos acontecimentos que envolviam a vida das duas.
A caminhada até a farmácia foi cercada por olhares de reprovação, mas Andréa era dona de si. Não se importava com a falácia de gente preconceituosa e achava que ajudando Sheila a reaver o marido, sua redenção lhe faria ser perdoada. Uma gravidez nesse momento era uma ótima notícia.
Sua ficha já havia caído: Sheila amava Augusto. E pela reação de Augusto, o ódio que ele estava sentindo, a surra que dera em Renato, indicavam que ele também amava a esposa. "Tudo pode ser consertado." Pensava Andréa.
Chegou à farmácia e aguardou no balcão. Enquanto esperava ouvia as vozes ao seu redor:
- É ela. Sem vergonha.
- Imagina o que o pai e a mãe devem estar pensando agora. Deve ter passado esses dez anos na safadeza no Rio.
- Safada. Não está nem com vergonha. Devia sumir daqui. Vagabunda.
Andréa sabia que responder seria pior. Mas o que mais a deixou chateada, foi ouvir o rádio com uma entrevista do pastor da congregação local:
"Se não cuidarmos da nossa cidade, é isso que teremos por aqui. Promiscuidade, devassidão, esse tipo de gente não respeita os nossos filhos. Uma delas, inclusive, é a professora de muitas de nossas crianças. É com esse tipo de gente que nossos filhos estão em contato diariamente. A outra é médica. Já deve estar pensando em distribuir camisinhas e aulas de educação sexual para as crianças. Você, cidadão que me ouve, saiba que eu jamais deixarei isso acontecer em nossa cidade. É por isso que eu venho pedir o seu voto. Para que esses demônios não afetem o nosso estilo de vida. Não façam a cabeça das nossas crianças com suas imoralidades."
Chegou a vez de Andréa ser atendida:
- Eu quero um teste de gravidez e um calmante natural da marca X.
Novamente, os cochichos começaram:
- Como ela pode estar grávida? Gosta de homem também?
- Essas são as piores. Sapatões enrustidos. Se não fosse o vídeo, não saberíamos com quem estamos lidando…
Andréa pegou o seu pedido, pagou e já foi saindo sem olhar para ninguém. Logo que saiu, já na calçada uma moça novinha, por volta dos seus vinte anos, a encarava. Ela explodiu:
- O que foi? Nunca viu um sapatão enrustido?
A moça sentiu o impacto da raiva nas palavras dela:
- Na… na… não! Me desculpe! Eu sou igual a você.
Andréa, confusa, não conseguiu segurar a gargalhada. Após se acalmar, ela disse:
- Igual a mim, como? Uma safada? Um demônio que veio para roubar a mente das crianças?
Criando coragem sem saber de onde, a moça confessou:
- Eu também gosto de mulheres. O que eu devo fazer?
Completamente surpresa, Andréa não conseguiu deixar de sentir empatia pela garota. Mas o que ela poderia fazer para ajudar? Meio abalada pelos fatos recentes ela disse:
- Vá embora daqui! Vá ser feliz longe dessa gente que parou no tempo. Vá estudar, vá viver, se mande…
A moça sorriu para ela e Andréa se sentiu até um pouco melhor. Se ela, adulta, madura e casca grossa, tinha dificuldades de compreender todo aquele preconceito, imagina para uma jovem que vive em conflito desde que se entende por gente e não tem ninguém com quem contar? Enquanto caminhava de volta à casa de Sheila, pensava no quanto aquele pensamento inconsequente de vingança norteou a sua vida nos últimos dez anos. Precisava desesperadamente corrigir as coisas. Já havia feito mal demais. Se sentia solitária e vazia com as consequências do que fizera com Sheila.
Nem chamou, entrou direto na casa e encontrou Sheila deitada na cama, em posição fetal, ainda chorando. Andréa lhe deu um calmante e entregou o teste. Levantou Sheila da cama e a levou até ao banheiro. Lhe deu privacidade e ficou sentada na cama esperando que ela voltasse. Dez minutos depois, com o teste positivo, Sheila se entregou de vez ao desespero. Andréa estava ainda mais confusa:
- Precisamos contar para o Augusto. É a sua chance de se acertar com ele. Com ele de volta, aos poucos você vai mostrando o quanto se arrependeu. Eu também vou fazer a minha parte e contar a verdade a ele.
Andréa pegou o celular e enquanto buscava Augusto nos contatos, Sheila, histérica, gritou:
- Não! Augusto só vai saber dessa criança depois que ela nascer. Ele não vai sofrer outra vez. Eu já lhe causei dor demais.
Andréa ficava cada vez mais confusa:
- Ele é o pai. Ele tem todo o direito de saber. Para de ser cabeça dura. Isso pode salvar o seu casamento.
Sheila estava irredutível:
- Eu já disse que não! Se eu perder este filho também, perco Augusto para sempre.
- Perder “este filho também”? O que você quer dizer com isso?
Sheila sabia que se não contasse a verdade, Andréa poderia não respeitar sua vontade e ir atrás do Augusto por culpa. Sheila então se decidiu. Com muita dificuldade e uma dor imensa no peito, contou para Andréa a trágica primeira gravidez.
Andréa, ouvia aquela narrativa com lágrimas nos olhos e se sentindo mais culpada a cada segundo. Saber tudo o que eles já haviam passado, o tempo que levaram para se reerguer e ter tentado destruir o casamento deles, começava a criar dentro dela um remorso avassalador. Andréa pensou: "Como eu pude ser tão mesquinha? Essas informações nunca chegaram a mim. Renato desgraçado. Era ele que vivia falando que os dois viviam uma relação perfeita, um mar de rosas." Andréa se ajoelhou aos pés de Sheila:
- Por favor, me perdoe! Eu não sabia de nada disso. Sei que não é desculpa, mas eu farei de tudo para reparar os meus erros.
Enquanto ali na casa de Sheila Andréa pedia a chance para se redimir, na mesma hora em um bairro mais isolado da cidade, um jovem recém-habilitado, curtia em alta velocidade o seu carro novo. Escolheu aquele lado mais calmo da cidade, para testar as suas habilidades ao volante e fazia manobras bruscas. Inexperiente e despreocupado, ao ouvir a notificação de mensagem se descuidou da direção e foi responder à mensagem. Nem viu quando um pré-adolescente desatento atravessou a rua para buscar sua bola. Quando voltou a atenção para a rua à sua frente, já era tarde demais, nem a freada brusca que deu conseguiu evitar a colisão daqueles mais de mil quilos de aço contra o corpo humano frágil em formação. O corpo do menino atropelado foi atirado para o lado perto do meio-fio. Tombou inerte.
A comoção dos que viram a cena foi imediata. Vizinhos gritando corriam para o carro, e tentavam linchar o jovem que, sem saída, apavorado, arrancou com o carro sem prestar o devido socorro. Estava tão desesperado quanto o jovem atropelado que sofria imóvel estendido no chão com dores terríveis. O jovem condutor que atropelou não era um marginal ou um assassino, mal tinha também acabado de sair da adolescência.
O socorro por sorte chegou rápido, e graças a isso conseguiu dar alguma chance de sobrevivência à vítima. Mas não acabavam ali os problemas. Agora, os pais, que eram professores da escola estadual da cidade, assim como Sheila, se encontravam no mesmo dilema de milhões de brasileiros, o filho acidentado não podia ser removido para outra cidade, a gravidade do caso não permitia esse risco, e o cirurgião geral daquela cidade estava viajando, em cirurgia na cidade vizinha.
O garoto corria o risco de vir a óbito. Um grande desespero tomou conta de todos no hospital. Todos os profissionais de saúde foram chamados à Santa Casa.
Ainda sem saber do acidente e tentando minimizar o sofrimento da Sheila, Andréa também recebeu o chamado para comparecer com urgência ao local de trabalho. Já começava a pensar no pior: Imaginou que o vídeo chegou à direção do hospital e eles iam preferir uma demissão amigável, tentando não manchar o nome do pequeno estabelecimento de medicina. Ela também achava melhor assim, se conseguisse se redimir com Sheila, o melhor a fazer era pegar suas coisas e voltar ao Rio de Janeiro.
Mas ela tinha que atender ao chamado. Se despediu de Sheila dizendo que voltaria assim que possível e que a conversa entre as duas ainda não havia acabado. Chegou à Santa Casa em dez minutos e, de cara, já estranhou a movimentação diferente na entrada. Muitas pessoas em oração, outras bravas falando alto, seu pressentimento de uma demissão, ficava cada vez mais forte.
Um dos seguranças veio imediatamente ao seu encontro e a conduziu até a sala do diretor geral. Agora ela tinha mesmo certeza de que iria ser demitida, mas tinha contrato e pensava que iria brigar com unhas e dentes contra essa demissão preconceituosa. Talvez naquela pequena cidade uma demissão como aquela fosse normal, mas se entrasse em contato com algum jornal da capital, o estrago poderia ser bem grande.
Entrou decidida na sala do diretor, e já se preparava para partir para o ataque. Mas, pega de surpresa, a conversa era completamente diferente. O diretor pediu que ela sentasse e pelo tom sério e urgente dele, ela preferiu ouvir, antes de falar alguma bobagem:
- Dra. Andréa, a senhora antes de mudar para clínica geral chegou a terminar a residência em cirurgia e é uma cirurgiã geral habilitada. Procede?
Andréa, muito surpresa, não sabia o que esperar:
- Sim! Mas já não opero há mais de dois anos. Estou sem prática.
O diretor suplicou:
- Temos um jovem de apenas onze anos que está muito mal, vítima de atropelamento. Se ele não for operado nos próximos minutos, ele poderá não resistir. Por favor, precisamos urgentemente da sua ajuda. Vai ter que tentar. Honre o seu juramento e faça o seu melhor.
Antes que ela pudesse falar qualquer coisa, o segurança, muito amigo da família do acidentado, já pegou em seu braço e foi de forma intimidadora levando Andréa para o centro cirúrgico. Ciente de que naquela cidade ou nas próximas, um cirurgião demoraria horas para ser encontrado, Andréa lembrou que Sheila estava grávida e a vida de uma criança estava em risco. Precisava mesmo dar o seu melhor.
Rapidamente examinou o garoto e constatou que a janela de tempo disponível para salvar o menino era ainda menor do que lhe informaram. Os hematomas na região lombar e os sintomas do ferido eram uma forte evidência de hemorragia interna.
Conferiu todos os dados e deu todas as ordens necessárias para a equipe cirúrgica. Mas viu que a sorte não estava ao seu lado. Das quatro bolsas de sangue necessárias para uma cirurgia de emergência, o hospital só contava com duas e o tipo de sangue necessário era o tipo O. Era o tipo de sangue mais compatível para ser doador, mas em contrapartida só poderia receber de um doador de sangue do mesmo tipo e compatível. Pensou primeiro nos pais do menino, mas justamente eles não poderiam doar sangue por terem histórico de hepatite no passado. O tempo necessário para a chegada de um suprimento de emergência, não seria suficiente. Pediu à enfermeira para verificar com urgência entre os pacientes cadastrados no hospital, se teria alguém com o tipo de sangue compatível para uma doação. Na lista de doadores cadastrados uma pessoa foi apontada pelos registros: Sheila.
O dilema de Andréa era ainda maior. Grávidas não devem doar sangue. As alterações provocadas pela gravidez, fariam com que seu corpo perdesse uma quantidade enorme de nutrientes necessários para o feto em formação.
Pensou rápido e como ótima profissional que era, mandou que fizessem o pedido do suprimento de sangue para uma unidade de uma cidade próxima. E ligou, ela mesmo, para a Sheila. Até estranhou quando esta atendeu rapidamente:
- O que você quer? Está pior do que a minha vó.
Andréa não tinha tempo para muitas explicações e foi incisiva:
- Um segurança do hospital está indo até você. Preciso urgentemente de uma doação de sangue. Vi que você é compatível. Não dá para procurar mais. Uma criança está entre a vida e a morte e tenho que operar imediatamente, disponho de pouco tempo.
Após Andréa explicar quem era a criança, Sheila não pensou duas vezes. A mãe do menino, professora, era uma de suas colegas mais próximas na escola e assim que o carro buzinou em frente à sua casa, ela já estava pronta e entrou rapidamente. Reconheceu Marcos, o segurança, eram conhecidos desde a adolescência, mas estranhou o jeito que ele a olhava, com desdém. Ele nunca havia olhado para ela daquela forma, acintosa e até desrespeitosa. Mas preferiu não criar caso, pois o foco era outro e precisava ajudar de qualquer forma.
Em minutos estavam no hospital e entraram pela área reservada das ambulâncias. Sheila foi rapidamente levada ao encontro de Andréa. Enquanto ela era preparada para retirada do sangue, o garoto estava sendo anestesiado e Andréa instruía Sheila:
- Presta bastante atenção. Após o sangue ser coletado, não se levante e nem tente sair daqui. Você receberá uma transfusão, assim que o suprimento pedido ao banco de sangue for entregue. Estando grávida, você está em risco também. Terá que permanecer em repouso aqui no hospital.
Sheila tentou protestar:
- Você está de brincadeira, né? Por que não me falou dos riscos antes?
Andréa não tinha tempo a perder:
- Confia em mim! Eu sei o que estou fazendo e eu vou cuidar de você. Esse filho que você carrega irá nascer saudável. Nem que eu tenha que passar vinte e quatro horas por dia cuidando de você.
O tom autoritário de Andréa e a firmeza com que ela falou, acalmaram Sheila. De qualquer forma, se ela pudesse ajudar, ela jamais deixaria uma criança morrer. Ainda mais um filho de uma amiga e que em breve seria seu aluno.
Andréa entrou no centro cirúrgico decidida e se superar, sabia que não poderia errar e nem deixar aquela criança se perder. Após quase quatro horas de uma cirurgia bastante complicada e cheia de dificuldades, tendo que orientar instrumentadoras pouco preparadas, e situações difíceis que iam se sucedendo, Andréa finalmente viu que obtivera êxito.
A cirurgia foi bem-sucedida, tudo indicava que o pior havia passado e o garoto já poderia depois de algumas horas ser encaminhado para o pós-operatório em condições vitais estáveis. Andréa sabia que o organismo do garoto era forte e reagia bem. Com os antibióticos recebidos por via intravenosa, sedado e em repouso, protegido em um quarto isolado do hospital, diminuía os riscos de uma infecção. E tudo indicava que ele estava a caminho da recuperação. Ela tinha consciência de que salvou a vida daquele garoto.
Foi uma noite de muita tensão. Andréa obrigara Sheila a ficar em repouso no hospital e dera um calmante para que tivesse uma noite de sono. Mas nas primeiras horas da manhã do dia seguinte já se sabia que Andréa fizera o melhor e que o garoto estava fora de perigo.
Ao receber a notícia, os pais, aliviados, só faltaram beijar os seus pés. A mãe, sabendo da participação de Sheila, foi até ela e abraçou a amiga muito emocionada. Sheila sorria muito feliz. Apesar do furacão que havia varrido a sua vida e devastado o seu casamento, naquele momento, ela se sentia muito bem. Andréa, visivelmente esgotada, veio até ela e lhe deu um sorriso cúmplice. Sheila apenas sorriu de volta. Como era bom aquele sentimento de fazer o bem.
O segurança, espectador de tudo o que havia acontecido, pegou o celular e começou a espalhar a boa nova, sem esquecer de mencionar as duas almas abençoadas, uma competente e a outra caridosa. Andréa pensava: Será que a boa ação seria o suficiente para trazer um pouco de paz à vida das duas?
Após se recompor de toda aquela turbulência, Andréa calmamente abriu o celular e mostrou a Sheila o que estava acontecendo, lhe informou sobre o vídeo das duas e como elas estavam sendo vistas na cidade. O choque foi grande. Sheila só conseguia pensar na reação de Augusto. Se a coisa já estava complicada, a provação estava apenas começando. Mas, naquele momento Andréa teve uma ideia.
Naquele mesmo dia e após uma noite muito mal dormida, Augusto não queria sair do quarto. Ouvia o barulho na cozinha e sabia que Fátima o esperava. Não estava mais preocupado se iria ou não resistir aos encantos dela. Sua consciência o massacrava. Ele pensava: "hipócrita. Fez todo aquele show com Sheila e se rendeu ao primeiro rabo de saia que se ofereceu. Que moral eu tenho agora para me sentir traído ou humilhado? Por que aquela desgraçada foi fazer isso comigo? Eu sei que estava em falta em algumas partes, mas eu estava me esforçando para melhorar." Os pensamentos martelavam a cabeça de Augusto. Enquanto estava protegido dentro daquele quarto e isolado do mundo, não sabia que a provação a caminho seria ainda mais devastadora.
Esperou até que os barulhos na cozinha parassem. Pela hora, Fátima já deveria ter saído dali. Ela era uma empregada da fazenda e tinha suas obrigações a cumprir. Provavelmente ela estaria no galpão da produção de queijos. Era só evitar aquele lugar durante o dia. Até a noite, teria muito tempo para pensar em uma forma de conversar com ela sem ofendê-la. Estava na hora de voltar para casa e decidir o que fazer. Mesmo achando que não conhecia mais sua esposa, alguns hábitos são mantidos. Ela daria aula de manhã e na hora do almoço já estaria em casa.
Pensou em arrumar suas coisas, mas primeiro, os dois precisavam ter uma conversa. Se voltaria para casa ainda não sabia. Perdoar Sheila? Também não sabia. Terminar de vez o casamento? Talvez… muitas perguntas e nenhuma resposta.
Se levantou da cama e o gosto amargo na boca, nenhuma pasta de dente seria capaz de disfarçar. O gosto amargo era moral. Um homem que exigia o melhor de todos ao seu redor, não era nada mais do que um traidor vingativo também. Pensou no pai. Um grande homem que após cometer apenas um pequeno deslize, fora massacrado por ele. Sua moralidade hipócrita havia transformado o companheirismo dos pais em um relacionamento ruim. Depois que obrigou o pai a confessar a traição, os dois passaram a ser dois estranhos vivendo sobre o mesmo teto. Ficou imaginando como teria sido os últimos anos da mãe se ele não tivesse feito aquilo. Ela sempre era alegre e divertida, contava boas histórias… mas nos últimos nove anos, era uma mulher triste e amarga. Implicava com tudo, via defeito em todos. Se apegou à religião com afinco. Criticava e repudiava qualquer tipo de pecado. Havia se tornado uma beata ranzinza.
Augusto voltou a se lembrar de Sheila e do tempo em que eram melhores amigos e inseparáveis:
"Quatro anos atrás, cinco após a tragédia da perda do filho. Noite de formatura de Sheila. A primeira vez que Augusto viu a esposa voltar a sorrir verdadeiramente, alegre e orgulhosa de si mesma. Augusto havia planejado tudo: jantar romântico na cidade vizinha com reserva e pela primeira vez, levaria a esposa ao motel. Escolheu a suíte mais cara, com teto retrátil para ver as estrelas, hidromassagem e até mesmo uma piscina. A cerimônia foi linda e Sheila já parecia totalmente recuperada. Jantaram em um clima muito romântico. Ele estava muito feliz por vê-la tão bem depois daqueles anos difíceis de luta intensa contra a depressão. Nem lembrava mais quando foi a última vez que fizeram amor de verdade. A última vez em que Sheila gozou duas ou três vezes em sua boca. Ela adorava quando ele a chupava demoradamente. Com a esposa satisfeita, a penetração geralmente era rápida e somente para a satisfação dele.
Mas naquela noite no motel, a primeira vez que levava a esposa em um ambiente novo e tão sedutor, Augusto queria dar a ela o melhor orgasmo da vida. Beijava o pescoço e acariciava o corpo da esposa. Augusto a virou de repente, agarrando-a pela cintura e dando-lhe um beijo delicioso, que ela correspondeu beijando ainda mais intensamente. Depois de vários beijos demorados, ele a deitou na cama e sem perder tempo, levantou um pouquinho a camisa dela e começou a beijar sua barriga, descendo cada vez mais. Sheila sorria feliz, também estava com uma imensa saudade de fazer amor com o marido.
Ele tirou toda a roupa dela e admirou o corpo lindo, um pouco mais magro ainda, mas já se recuperando da forte depressão. Sheila voltava aos poucos a sua beleza exuberante. Os seios pequenos e pontudos, a bocetinha de lábios carnudos e o clitóris protuberante, ainda mais inchado pela excitação. Voltou a beijá-la com ardor e desejo. Com a boca, começou a explorar o corpo dela. Ombros, seios, demorou-se nos lindo peitinhos bicudos dela, saboreando os bicos e arrancados leves gemidos:
- Aaahhhh… isso, meu amor… me ame, eu preciso que você me ame…. Você me perdoa?
Augusto não queria que ela voltasse a ter pensamentos ruins. Não parou de explorar o corpo dela em nenhum momento. Tentou trazê-la de volta:
- Eu não tenho que perdoar. Você é o amor da minha vida e a culpa não foi sua. Eu amo você e sempre estarei aqui.
Sheila se sentia segura nos braços de seu homem. Augusto aumentou ainda mais as carícias com a boca em seu corpo. Beijava sua barriga, dava leves mordidinhas em suas coxas, beijos delicados no seu grelinho. Sheila sempre gozava fácil na língua dele. Entrelaçou suas mãos na dele e deu uma linguada mais profunda em sua xoxota:
- Aaahhhhh…. Delícia…. Te amo…. Aaaahhhh…. Meu gostoso…. Isso, amor…. Eu preciso tanto…. Aaaaahhhhhhhhh….
O primeiro gozo veio em poucos minutos, mas Augusto não parou, passou a língua por toda a extensão da boceta e depois deu uma chupada mais carinhosa no grelo. Continuou a chupá-la e mais alguns poucos minutos depois, o segundo orgasmo veio forte:
- Cacete! Aaaahhhhh…. Assim você acaba comigo…. Aaahhhhh…. Gostoso demais, amor…. Amo essa língua…. Aaaahhhhhh
As mãos de Sheila agora estavam na cabeça de Augusto, apertando forte sua boca naquela boceta deliciosa e lambuzada. O mel era farto, misturava-se à saliva dela e escorria para a cama. Ele chupava e a beijava seguindo seus sinais de prazer, a fazendo gemer cada vez mais alto:
- Aaahhhhh…. Ssshhhh…. Isso, cacete…. Não para, não para…. Vou gozar de novo, amor….. aaahhhh..
Ele continuava beijando e estimulando o seu clitóris até que sentiu seu ápice novamente, e aproveitou para penetrá-la e sentir suas contrações involuntárias e espasmos ritmados com seus gemidos:
- Puta que pariu…. Aaaaahhhhhhh…. Que delícia…. Eu te amo…. Ah, como eu te amo…. Goza dentro de mim, por favor! Promete que dessa vez vai dar certo…. Aaaahhhhhhh….. tô gozando…. De novo, amor! Tô gozando de novo…. Aaaahhhhh.
Augusto sentiu as pernas travarem e tremerem em conjunto com seu gozo, inundando sua xoxota e um último gemido intenso:
- Aaaaahhhhhhhhhhhhhhhh….."
Aos poucos ele voltava à realidade. Augusto, de volta ao presente, comparava os fatos: "será que foi esse costume errado de fazer amor que foi deixando Sheila insatisfeita com o tempo e acabou por ser o fiel da balança dessa traição? Mas o sexo entre as mulheres não é feito só com línguas e dedos? Se for assim, não tem nada que Andréa possa fazer por Sheila que eu também não possa." Mais uma dúvida martelando a cabeça de Augusto. Ele voltou a pensar: "Aquilo que aconteceu entre as duas, não pode ser amor. O tempo é muito curto. Ninguém deixa de amar alguém do dia para a noite e já se apaixona outra vez."
Augusto ficou até o fim da tarde preso dentro do quarto. Oscar, cansado de esperar, bateu na porta do quarto:
- Primo? Não vai sair daí?
Augusto abriu a porta. Ele percebeu que pela cara de Oscar, as notícias não eram boas:
- Desembucha de uma vez. O que aconteceu agora?
Oscar sabia conduzir Augusto:
- Vem! Vamos tomar um café primeiro. Precisamos conversar.
Augusto seguiu o primo até a cozinha e Oscar lhe serviu uma xícara de café. Ele disse:
- Lembra da história que a Fátima contou?
Augusto, assustado, estranhou. Será que o primo já sabia que ele e Fátima transaram na noite anterior? Ele tentou se manter neutro:
- Sim, lembro! O que isso tem a ver?
Oscar queria saber se Augusto conseguiu fazer a ligação:
- Você chegou a alguma conclusão? Consegue imaginar quem são os personagens da história?
A verdade é que Augusto nem achava que era uma história real. Poderia chutar que Fátima falava dela mesmo e de Oscar e Maria. Mas não, achava que conhecia o primo e Maria jamais aceitaria tal situação:
- Eu não sei. Sinceramente, não sei.
Oscar continuou o seu questionamento:
- Você acha que é possível amar alguém e mesmo assim se relacionar com outra pessoa?
Jamais! Na cabeça de Augusto, esse era um conceito impossível, uma situação absurda. Oscar sabia ler os sentimentos do primo e achou que era hora de parar de pressionar e revelar o verdadeiro motivo de estar ali:
- Antes de mostrar o que eu tenho aqui, preciso que você me prometa que não fará nenhuma loucura.
Nesse momento, Maria chegou e sentou ao lado do marido. Augusto começou a perceber a gravidade da situação. Oscar disse:
- Você me confessou que Renato tinha um vídeo gravado das duas, não é?
Augusto concordou. Oscar puxou o celular do bolso, mostrou o vídeo e explicou o que estava acontecendo na cidade. A intenção de Oscar era controlar a fúria de Augusto contra Sheila, mas ele também ficou surpreso com a reação. Augusto, mais uma vez, acusou o golpe. Depois de alguns minutos de uma tristeza sem fim, ele perguntou à Maria:
- Você falou com ela? Sabe se ela já está ciente do que aconteceu.
Maria tinha mais uma informação a dar. Agora foi ela que mostrou a Augusto o que aconteceu durante o dia e como uma boa parcela da pequena população do município, já enxergavam Sheila e Andréa como heroínas. Augusto sorriu um sorriso amarelo e pegando os dois de surpresa se levantou em um pulo:
- Eu vou matar aquele desgraçado. Dessa vez, eu vou machucá-lo seriamente. Eu vou arrancar esse vídeo dele e fazer ele apagar essa merda.
Antes que Oscar pudesse fazer qualquer coisa, Augusto pegou a chave da velha pick-up e saiu. Oscar rapidamente foi até a sua casa e também pegou a chave do seu carro. Tinha que ir atrás de Augusto e evitar mais uma tragédia. Sabia que após ceder a raiva, Augusto parava de racionar.
Em pouco mais de meia hora, Augusto estacionava sua pick-up em frente a casa que pensava ser de Renato e Andréa. Ele já foi invadindo a casa com uma raiva absurda, estava transtornado. Quando ele pensava em arrombar a porta e entrar com tudo, tentando surpreender Renato, Andréa saía com duas malas na mão. Não era quem ele esperava, mas também tinha contas a acertar com ela.
Continua…
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