AINDA DÁ TEMPO PARA AMAR - CAPÍTULO 05: O EX

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Homossexual
Contém 1694 palavras
Data: 04/07/2022 17:15:13

De onde surgiu esse tal de Luan? O Henrique conversa um pouco mais com o seu ex-namorado e seguimos para a frente da passarela. As luzes são quentinhas e dificultam a visão. Espero que não atrapalhe as fotos. Na noite passada, a Alessandra encheu o saco para que tirássemos fotos bonitas da sua participação no desfile.

Sentamos nas cadeiras marcadas e esperamos pelo início da apresentação. Uma mulher muito bonita senta ao meu lado e seu perfume invade todo o ambiente. Ela se chama Gladys e começa a conversar comigo, mesmo eu quase não respondendo seus questionamentos.

A Gladys tem 49 anos, é viúva e sua sobrinha vai desfilar na campanha. Ela é uma mulher sofisticada e usa óculos escuros, presumo que já esteja acostumada em acompanhar o universo da moda. A conversa flui de maneira fácil, apesar de eu apenas ouvir. De repente, o Henrique começa a tossir e chama a nossa atenção.

— Boa noite, — estendendo o braço para cumprimentar a Gladys. — me chamo Henrique.

— Oi, Henrique. Vocês estão juntos? — ela pergunta.

— Sim. — respondo, cortando o Henrique. — Ele é amigo da minha sobrinha que vai desfilar.

O Henrique fica emburrado, mas não posso contar para uma pessoa que eu acabei de conhecer que estou pegando o meu ex-aluno. Volto a minha atenção para Gladys, que não para de falar sobre suas viagens e romances. Em um momento, ela pegou no meu braço e pude ouvir o Henrique bufando do outro lado.

— Mulher enxerida. — ele balbuciou, mas eu consegui ouvir.

— E você, Jaime. É um homem misterioso. Adoro pessoas calmas, afinal, eu vivo ligada no 220V. Preciso de um Yang para o meu Yin. — soltou Gladys, entrelaçando os nossos braços e me deixando desconfortável.

O auge foi quando ela sacou o celular e tirou uma selfie. O resultado ficou uma obra de arte. Eu com cara de confuso, a Gladys com um lindo sorriso e o Henrique fulo da vida no plano de fundo. Graças a Deus, que eu não uso nenhum tipo de rede social, ou seja, não tenho um arroba para ser marcado. É nítida a decepção no rosto dela.

— Vai começar o desfile! — o Henrique gritou quando viu a mestre de cerimônia entrar na passarela. Ele levantou do assento, apontando para frente e chamou a atenção de todos.

— Acho melhor prestarmos atenção. — pedi para Gladys, que continuou falando sobre a beleza da apresentadora.

— Boa noite, hoje é um dia muito importante para a marca Purangy. Todas as nossas peças foram produzidas no Norte do Brasil em uma comunidade indígena do Amapá. — enquanto a mulher explicava, imagens da tal comunidade apareciam nos telões.

Fiquei fascinado, porque nunca viajei para outros lugares do Brasil. Temos uma cultura tão vasta e rica em detalhes, uma pena que o próprio brasileiro não a valorize. Alguns indígenas entram na passarela e mostram mais dos seus artesanatos. Eu fico mais emocionado do que o normal, mas me controlo para não chorar.

Após o espetáculo, o desfile de fato iniciou e os modelos entraram na passarela. A todo momento a Gladys fazia algum comentário sobre as peças da Purangy. Finalmente, a minha afilhada apareceu e usava um belo vestido vermelho. Eu peguei o celular e fiz algo que não estou acostumado, uma foto. Tirei milhares de fotos da Alessandra, que parecia flutuar na passarela.

Os cabelos dela estavam presos em uma trança lateral e o vestido destacava as suas curvas. O Henrique aproveitou para filmar e gritou o nome da Alessandra, que não perdeu a compostura e continuou o desfile sem problemas. Foram dois minutos na passarela, porém, tenho certeza que marcou a Alessandra.

É incrível como o sucesso de alguém que você ama é bom. Assim como a Lúcia acompanhou a minha luta com o papai, eu acompanhei a transição da Alessandra. Sempre a apoiando e defendendo dos comentários maldosos, ainda mais depois que o seu pai faleceu.

A Alessandra ainda apareceu duas vezes no desfile, trajando um biquíni e uma roupa muito bizarra. De acordo com Gladys, a última parte do desfile mostra a assinatura dos estilistas, ou seja, não são peças comerciais. Eu não entendi nada, só sabia uma coisa: a minha afilhada arrasou demais.

No fim, a Alessandra nos convidou para uma pós festa na casa de um de seus colegas. Por algum motivo, o Henrique ficou caladão e não interagiu no caminho para o local do evento. Ele apenas ligou o som do carro e uma música que nunca ouvi na vida passou a tocar nos alto-falantes.

***

All night, I'll riot with you

I know you got my back, and you know I got you

So come on (come on)

Come on (come on)

Come on (come on)

Let's get physical

***

A Lúcia não parava de falar sobre o desfile e de como se sentiu orgulhosa de Alessandra. Eu a entendia perfeitamente, afinal, uma mulher nordestina venceu todos os seus preconceitos por causa do amor. E a minha família não me deu nem a chance de ser quem eu queria ser.

Chegamos ao local da festa, uma casa chique no Jardins. A Alessandra conversou com o carinha da guarita que liberou a entrada do carro do Henrique. Ele estacionou e saímos do carro. A temperatura havia caído um pouco mais, graças a Deus que comprei roupas quentinhas.

A casa do estilista era maravilhosa. Entramos e haviam várias pessoas, algumas reconheci do desfile. A Alessandra nos apresentou para vários colegas de trabalho. Eu nunca interagi tanto na minha vida, até fiquei com dor na garganta. Por outro lado, o Henrique estava calado.

— Ei, tá tudo bem? — questionei.

— Sim. — ele respondeu de maneira seca.

— Ah, qual é. — peguei o Henrique pela mão e o levei para o jardim do local. — Tá, o que está acontecendo?

— Não sei, pergunta para a Gleice. — ele soltou, me fazendo rir. — Isso, acha engraçado. — cruzando os braços.

— Tudo bem, você ficou com ciúmes da Gladys? — eu quis saber.

— Não, claro que não.

— Henrique? — uma voz familiar chamou a atenção do Henrique.

— Olha, Henrique, — comentei levantando a sobrancelha. — é o Luan, o teu ex.

Se eu pudesse definir o Luan em uma palavra seria: participante de reality padrão. O cara estava usando uma regata em um frio de 16º graus. Nem preciso dizer que o Luan é uma daquelas pessoas que é ciente sobre a própria beleza. Como estou de bom humor e quero provocar o Henrique.

— Então, — peguei no ombro de Luan e apertei. — você e o Henrique namoraram? — perguntei, algo que deixou o Henrique nervoso.

— Sim. Foram três anos maravilhosos. — afirmou Luan, que afirmou não ter sido o responsável pelo termino.

— Não foi bem assim, né? Acho que eu peguei alguém me traindo. — Henrique se defendeu e logo eu percebi que fiz uma besteira.

— Foi só um beijo, garoto. — Luan afirmou como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— Vai se foder. — entrando na casa e me deixando sozinho com o Luan.

Eu não acredito que fiz essa merda. Eu procurei o Henrique por todos os cantos, mas essa casa é enorme. Para que as pessoas precisam de tantos cômodos? Encontrei a Lúcia e Alessandra na área da piscina, mãe e filha saboreavam alguma sobremesa chique.

Piscina? Não. Banheiros? Não. Quartos? Entrei só em dois e não. Fui para o jardim e vi o Luan se agarrando com outro cara. Revirei os olhos e achei o Henrique, que fumava um cigarro na varanda de um dos quartos, provavelmente, um que eu não invadi.

Respirei fundo e decidi fazer um pouco de controle de dano. Pela posição da varanda, faço um cálculo para saber qual seria a porta certa. Abro a porta e, finalmente, encontrei o Henrique. Eu me aproximo e descanso os braços na bancada.

— Desculpa, eu não queria ter sido um babaca. — lamentei, sem olhar para o Henrique.

— Você não tinha como saber, Jaime. — comentou Henrique, tragando o cigarro e soltando a fumaça pela boca.

— Eu fiz de propósito. Você estava com ciúmes de alguém que eu nunca conheci. Queria te provocar com o Luan, uma vez que ele é um 10 e eu sou um 3. — afirmei soltando uma risada nervosa.

— Não. — Henrique disse, jogando o cigarro no chão e apagando com o pé. — Não faça isso com você. Eu te acho lindo, Jaime. Te acho lindo desde sempre. Você sempre foi o meu parâmetro para homem. Para a minha decepção, o Luan foi um erro no sistema. — Henrique começou a chorar e eu não soube como reagir.

— Ei. — o abracei e ele se agarrou em mim. — Tá tudo bem, Henry.

— Eu ganhei um apelido carinhoso? É isso mesmo. — Henrique perguntou no meu ouvido.

— Você tem mais cara de Henry do que Henrique. — afirmei o fazendo rir.

— Todos me chamam de Henry. Às vezes, até esqueço que o meu nome é Henrique. — ele contou se afastando, então, limpei suas lágrimas.

— Definitivamente eu não gosto de te ver chorar. — confessei, pois fiquei com um sentimento de impotência quando ele chorou.

— Porque fez aquela pergunta? — o Henrique quis saber.

— Eu, eu, — eu não sabia o que responder. Porque fiz aquela pergunta? O meu coração começa a bater mais forte e a resposta sai de maneira espontânea. — eu fiquei com ciúmes. Me desculpa. Eu vi ele te abraçando no desfile. Primeiro, eu pensei que era bobagem da minha parte, mascarei o sentimento. É isso que eu faço, Henry. Eu mascaro os meus sentimentos. Assim que eu estou acostumado a ser. Você escolheu uma bagunça ambulante para ser o seu paquera.

— Somos tão otários. Eu fiquei com ciúmes da Gleidi. — Henrique começou a rir.

— Gladys. O nome dela é Gladys.

— Tanto faz.

— Pelo menos, eu não tenho chance de ficar com a Gladys, mas e o Luan?

— Nem começa.

— Sério que você o pegou com outro? — perguntei me escorando na bancada.

— Sim. Só que o culpado fui eu. A gente não transava com frequência. Eu era um péssimo namorado, mas, tipo, se você não está feliz é bom avisar e não trair. — contou Henrique que me abraçou. — Você promete que vai me avisar?

— A gente nem namora, Henrique. — soltei.

— O que aconteceu com o Henry? — ele perguntou fazendo beicinho.

— Estou criando um monstro. — brinquei, antes de o beijar.

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Comentários

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Esse romance está com uma suavidade muito gostosa...

Isso já cheira a um grande amor!

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