Após ouvir o que Chloé disse, minha ideia era tirar Eder dali, o problema é que além de encher o bucho de carne, ele não parava em canto algum, toda hora estava em uma mesa ou indo pegar mais comida. Procurei-o, mas nada, de repente, dou de cara com Alexandre que estava em pé conversando com um casal, sem pensar duas vezes, dou-lhe um forte abraço, fingindo cumprimenta-lo, apertando-o contra o meu corpo e minha mão desliza por sua cintura e também pelas costas, além de cutucar seu blazer, como se fosse um policial revistando-o discretamente. Ele estranha tudo aquilo, mas também me cumprimenta e eu digo baixo:
-Vamos até perto dos banheiros. –Sem lhe soltar do meu abraço cada vez mais apertado.
-O que você está querendo com essa cena? –Alexandre perguntou.
-Nada! Só quero que me dê sua arma ou avisarei a todos e você vai tomar uma camaçada tão grande que não vai se lembrar nem em que ano estamos.
-Você tá maluco!? Acha que sou doido de trazer uma arma a uma festa? Tenho sim a minha, devidamente legalizada, mas está embaixo do banco no carro, quer ver?
-Só quero que tire o blazer, porque num calor de quase 40 graus, só religioso ou cantor cafona para ser tão sem noção.
Alexandre, que apesar de não estar bêbado, já tinha tomado umas, resolveu dar um show, mas poucos notaram, pois estávamos afastados. Tirou o blazer e me entregou, começou a bater forte na própria cintura, depois nos calcanhares, se virou de costa:
-Pode revistar tudo, policial!
Um lado meu ficou aliviado, pois Alexandre não estava armado, mas não nego, que foi vexatório, fazer aquela cena e dar com os burros na água.
-Peço desculpas, Alexandre, achei que tivesse te visto com uma arma na cintura.
-Desculpas, uma porra, saiba que tô seco para ferrar você e o Eder, mas não a ponto de mata-los e ainda mais na frente de todo mundo, mas vocês não perdem por esperar, minha vida está desabando por causa da Chloé e agora tô pouco me fodendo para aquele videozinho seu, eu tô fodido de todo jeito, e tá na hora de foder com a alegria de alguns também. Posso vestir meu blazer ou vai mandar um esquadrão antibombas para ver se está tudo ok com ele?
Fiquei preocupado com as palavras de Alexandre, talvez estivesse armando outra coisa e a festa era o lugar ideal, ele vestiu seu grosso blazer marrom e voltou para o meio das pessoas com a imponência de um lorde. Procurei Chloé com os olhos e balancei a cabeça, sinalizando que não tinha arma nenhuma. Pouco depois, finalmente, vejo Eder com mais um prato de carne, deveria ser o quarto.
-Eder, o Alexandre está aprontando alguma e deve ser para nós, melhor irmos embora.
-Como assim, aprontando? Eu nunca fiz nada para ele. Será que o Alexandre descobriu que você mandou ver na Choin? –Indagou com a boca toda lambuzada de gordura de carne.
-Pode ser, mas também pode ter a ver com o flagra daquela festa que ele deu em mim e na Karina. Vamos embora para evitar um vexame.
-Agora é que eu quero ficar, se ele falar algo de mim ou da minha esposa irá se arrepender amargamente, além disso, essa picanha está desmanchando na boca, já perdi as contas de quantos pedações comi.
Insisti ainda por alguns minutos, mas de repente, vejo Alexandre chamando as pessoas no local em que o DJ estava tocando. Não era exatamente um palco, mas ficava meio metro acima da parte em que os convidados estavam, todos se aproximaram achando que ele iria dizer uma palavras sobre nosso tempo de universidade.
-Pessoal, desculpem-me por atrapalhá-los, mas quero falar algumas palavras, prometo que serei breve. É com muita alegria que revejo tanta gente boa que marcou minha vida. Muitos já casaram, separaram, casaram de novo, tem os que não casaram, mas adoram sair com a mulher dos outros. Tem até aqui um casal homoafetivo, o Evandro e que tá bem com o companheiro dele, me desculpe esqueci o nome, Caio? Cuecão de couro, manoooooooooos! Brincadeira, hein, pessoal, sou totalmente a favor. (ninguém achou graça de sua tirada preconceituosa, mas ele seguiu).
-Mas o que eu queria perguntar mesmo é se vocês sabem a origem da palavra cuckold? Muitos aqui acham que é corno e realmente há bom tempo serve para descrever os homens que são traídos, mas bem lá atrás, o significado dessa palavra que vem de cuckoo era referente ao pássaro que engana outras aves, depositando ovos em seus ninhos para que elas criem seus filhotes. Agora, vejam que coisa engraçada, o termo cuckold serve em suas duas explicações para alguém aqui presente.
Nesse momento, vi que várias pessoas se sentiram desconfortáveis, ainda que achando que fosse uma piada. Eder estava branco parecendo que teria um ataque e notei que Chloé já estava perto do palco e mexia em seu celular rapidamente, talvez se adiantando e chamando a polícia. Alexandre continuou:
Não estou brincando, não. É uma história triste, mas que precisa ser contada, pois aqui somos amigos, passamos por muita coisa juntos. O Eder que está ali, ó (apontou para o Eder), sua esposa já, já, ganhará um bebê, o que era para ser um momento lindo, mas sabem a verdade? Ele nem desconfia que está fazendo o papel de cuckold duas vezes, primeiro porque o Geovani que está ali ao lado dele vem transando gostoso com a Karina há muito tempo e o filho que ela está esperando é do amante, mas o trouxa do marido é quem vai criar.
Houve um burburinho intenso de espanto, mas também de repúdio, pessoas balançando a cabeça, não acreditando na baixeza de Alexandre, porém muitos me olharam chocados, enquanto eu tentava segurar Eder com força, pois ele se debatia vermelho e gritava:
-Eu vou matar esse filho da puta! Me solta, pelo amor de Deus! Não posso ser humilhado por esse canalha!
Alexandre ria como um sádico vendo o desespero de Eder e no meio dessa agitação e de olhares chocados, Chloé subiu no espaço em que seu marido estava e começou a falar alto.
-Pessoal, prestem atenção! Silêncio um instante aqui, s'il vous plaît!
A turma se calou para ouvir, certa de que mais baixarias viriam.
-O que esse idiot acabou de dizer é tudo mentirra. Ele sempre foi apaixonado por Karina e ela nunca o quis, e agora está fou de inveja porque Eder e ela terão mais um lindo filhinho e se amam. O Geovani é amante sim, mas é meu amante, há meses temos um caso trop chaud (muito quente) e esse connard (imbecil) nunca desconfiou das muitas tardes e viagens românticas que fiz com Geovani, portanto, o único cuckold aqui é ele.
Tentando manter a pose, mas já bem constrangido, Alexandre interrompeu:
-Amigos! Não acreditem nisso! Minha esposa é muito generosa e não queria que esse escândalo viesse à tona, pois ela própria estava comigo quando vimos Karina e Geovani transando praticamente no meio do mato em um casamento em Cesário Lange.
Chloé o cortou e disse:
-Para tirarmos a dúvida de quem está dizendo a verdade, há poucos minutos, mandei uma mensagem para vários de vocês que estão entre meus contatos, mas quem não estiver entre meus contatos, peça para alguém mostrar, são duas fotos que provam o que acabei de dizer.
Todos começaram a mexer em seus celulares e aí a bomba maior veio, para realmente evitar que Karina e Eder fossem expostos, Chloé não só confessou nosso caso como ainda mandou duas fotos nossas, uma abraçados em Campos de Jordão que tinha sido tirada por uma mulher, e outra em que estamos na cama, ela descabelada sorrindo após uma maratona de sexo e eu simplesmente com a cabeça tombada em seu ombro cochilando. Claro que não aparecíamos nus, pois ela estava com um lençol e eu apenas sem camisa, mas as fotos não deixavam margem de que a francesa estava falando a verdade. Ao “apreciar” as fotos por alguns segundos e ainda ouvindo murmurinhos e leves risos de espanto, Alexandre tentou agredir a esposa:
-Sua vagabundaaaaaa! Eu vou te matar!!!!
O próprio DJ tratou de agarrar Alexandre e logo outras pessoas foram imobilizá-lo, usando de muita força. O safado se debateu, gritou, urrou numa cena patética. O blazer chique dele ficou um pouco sujo após ficar tanto tempos sendo esfregado no chão. Avisei que ele tinha uma arma no carro e alguns amigos, não só lhe tomaram a arma, como o fizeram ir embora meio que a força e acho que rolaram até alguns empurrões e chutes por ele ter estragado a festa.
Claro que não havia clima para mais nada. Alguns me olhavam com espanto e nada diziam, outros ainda se despediram. Chloé ficou sentada em uma mesa sozinha demonstrando uma frieza chocante, uma ou outra amiga tentaram falar com ela, mas a francesa apenas acenava a mão dizendo que estava tudo bem.
Eder, após se acalmar e perceber que a tentativa de Alexandre de ridicularizá-lo, tinha sido um tiro de 12 na própria cara do canalha, começou a dar pulinhos de alegria:
-Essa Gore foi mais que uma irmã, tirou meu nome e do Karina do escândalo para botar o dela, quem diria que a francesa esnobe seria capaz de algo tão nobre?
-É mas agora, ela e eu temos que tomar muito cuidado com o Alexandre, acho bom você avisá-la para sumir do pedaço e nem sonhar em ir para a casa dela.
-Mas por que você mesmo não fala, ela está indo lá para o carro dela.
-De jeito nenhum! É capaz dela achar que estou querendo algo com ela e me humilhar ainda mais. Vai você, acho justo avisar que ela tome cuidado e agradecer pelo que Chloé fez, mas fala o nome dela direito pelo menos uma vez.
Eder começou a gritar:
- Ô Droneeeee! Groieeeee! Um minutinho, por favor!
Eu apenas abaixei e balancei a cabeça.
Chloé olhou e o esperou. Conversaram por alguns minutos e depois Eder voltou e contou que a agradeceu muito e que ela disse que já tinha levado suas coisas para um apart-hotel antes de vir para a festa.
Pegamos a estrada, no caminho vim pensando que Alexandre estava desmoralizado perante os amigos, e imprensado por Chloé que tinha provas graves contra ele e ainda vendo que seu desejo obsessivo por Karina estava cada vez mais impossível, era pouco provável que não fosse querer se vingar de maneira mais dura e seus alvos quer eram sua esposa e eu.
Meus pensamentos foram interrompidos após um tempo por Eder:
-Rapazzzzzz, acho que aquela carne mal passada e a maionese não me caíram bem. Tô passando mal.
-Mas também você comeu por um time de futebol, o que foi? Pesou a barriga, está com ânsia?
-Pior! Tá dando uma caganeira alucinante, que eu tô até suando frio e tremendo. Carne mal passada bateu na minha barriga, certeza que não desce legal. Quando vou à churrascaria sempre me dá isso, já perdi algumas cuecas nessa brincadeira! Vê se tem um posto aí porque eu tô me segurando aqui.
-Ah, puta que pariu, Eder! Acabamos de passar por um há cinco minutos, por que não avisou antes?
-Porque agora que apertou, acho melhor parar no acostamento, porque a próxima balançada mais forte e pode dar adeus pelo menos ao banco do seu carro, eu me conheço, Geovani, estou avisando.
- Não, não, não, eu não acredito, depois tanta confusão, ainda mais essa! –Encostei o carro.
-Você não tem papel ou jornal aí não, né?
-Não! Se vira, com folha, capim, se esfrega no chão, mas vai logo.
Eder subiu o barranco e desapareceu por um bom tempo. Depois voltou suado como quem correu uma maratona. Tratei de me adiantar ao show de horrores que certamente ele relataria.
-Não me conte nada, por favor, vamos ver se dá para seguir em paz agora.
Já no meu apartamento, comecei a pensar em Chloé. Impressionante, como aquela insuportável e cruel conseguia mexer comigo, mas também pensava em que como sua atitude na festa foi contraditória, pois para uma pessoa que sempre pareceu se importar só com o que queria, ela fez algo que não só ajudou Karina e Eder, como ainda revelou a todos que era minha amante, mesmo que correndo riscos, pois Alexandre já estava fulo com ela.
Acabei entornando duas garrafas de vinho, dor de cotovelo é foda. Tive vontade de ligar para Chloé mais uma vez, mas consegui me controlar. No domingo, apesar da ressaca, decidi pegar a estrada e fui para o Guarujá.
No outro dia seria feriado, então decidi me esquecer um pouco de tantos problemas. Fiquei em um hotel, curti a praia e à noite acabei conhecendo Suzana, em um barzinho. Uma morena clara de apenas 21 anos que se destacava pelo grande bumbum. Ela estava com uma amiga e disse que tinha terminado com o namorado há pouco tempo. Sem muita cerimônia, convidei-a para esticarmos a noite pela orla, e acabamos em meu quarto numa transa feroz. Dessa vez, eu caprichei em todas as partes, pois estava com sede de sexo e querendo recomeçar minha vida de pegador. Ficamos até de madrugada transando e ela dormiu comigo, após gozar muito.
No dia seguinte, antes de nos despedirmos, Suzana ainda me fez um belo boquete. Fui à praia sozinho, aproveitei por umas horas e depois peguei a estrada de volta, chegando em meu apartamento no começo da noite.
Na terça-feira, na parte da tarde, de volta ao batente, minha secretária anuncia que o Eder estava na recepção. Imaginei: “Qual será a bucha da vez?”
Eder entrou pálido e gritou:
-Já está sabendo?
-Não, mas pode se acalmar e me contar?
-Me acalmar uma porra! Encontraram o corpo do Alexandre hoje cedo. Mataram ele entre domingo e ontem a polícia está dizendo.
Claro que tomei um tremendo susto e demorei a acreditar:
-Você tem certeza? Senta aí e explica com calma.
-Ainda não sei todos os detalhes, porque o corpo dele foi encontrado numa praça perto de onde ele mora e pelo jeito não foi bala, deram uma facada só e o deixaram sangrando até a morte. Ouvi no rádio e depois fui conferir na internet, já tem umas duas notinhas falando do assassinato. Procura aí.
Entre na internet e digitei o nome completo de Alexandre e realmente era verdade, porém ainda não havia mais informações detalhadas, apenas que a polícia tinha descartado a hipótese de latrocínio, pois não levaram nem carteira, celular ou o carro dele.
Nos dias seguintes, Chloé, Eder, eu e até Karina seríamos interrogados como prováveis suspeitos.
Agradeço aos que gostaram e puderem deixar um comentário.