No dia seguinte ao da minha transa com Paula, fui para um encontro com Ori. Confesso que temi que ele já estivesse sabendo de algo, porém seu comportamento foi arrogante como sempre, mas nada de diferente. Ele me contou mais algumas de suas canalhices com casais e o dia seguiu normal. Creio que mais de 70% do material já tinha sido coletado, logo seríamos só o meu PC e eu criando a ordinária biografia para qual fui contratado a peso de ouro.
No sábado seguinte, logo cedo, sou acordado por uma ligação de Paula. A adorável doidivanas queria que fôssemos para o Guarujá, mas eu não queria dar esse mole, pois temia que Ori ficasse sabendo e não estava disposto a me envolver em rolo com ele em virtude de um casinho com sua filha que eu nem sabia se daria pé. Paula então mudou o programa e me convidou para irmos a um restaurante à noite, nada dessas coisas de luxo, onde não se tapa nem o espaço entre os dentes, mas se paga uma fortuna no final, fomos a um local bacana, mas sem ostentação extrema.
Paula parecia querer saber mais sobre minha vida, contei superficialmente que após o término de um noivado, tinha ficado seriamente abalado tanto na minha vida pessoal quanto profissional. Também relatei o meu ceticismo em termos de amigos:
-Já tive muitas pessoas que acreditei que fossem amigos, talvez por ser filho único, me apegava a um pseudoamigo com facilidade e a decepção ora vinha cedo, ora vinha anos depois, a verdade é que hoje tenho centenas de colegas para conversar, tomar um chope, mas aquela coisa de amigo mesmo, isso eu não tenho, e não sou cético ou dramático, apenas realista, alguns possuem dois ou três grandes amigos, outros um só, e alguns como eu, nenhum, idiota é quem acha que tem dezenas ou centenas.
Apesar de seu jeito meio serelepe, Paula parece ter entendido que o que falei ainda que brevemente, respondia muito sobre o meu modo, às vezes, frio de ser.
Tivemos mais uma sessão insana de sexo em meu apartamento e dormimos abraçados.
Nas semanas seguintes, voltamos a sair algumas vezes, fazíamos um passeio qualquer e depois íamos para o meu apartamento ou mais raramente a um motel. Foram encontros sempre muito quentes, adorava quando Paula gozava em minha boca ou me desafiava a foder seu cuzinho com mais força. Tinha que ter pique para dar conta da patricinha. Apesar do entrosamento, deixamos claro que estávamos só ficando, nos curtindo, tanto que apesar de ter diminuído a frequência de minhas saídas com as outras duas ficantes, ainda seguia com elas.
Creio que perto de um mês desde que começamos, Ori descobriu e quando cheguei para dar sequência ao trabalho que felizmente estava prestes a acabar, ele estava fulo e foi direto:
-Pelo jeito a biografia que está escrevendo sobre mim, além de te render uma boa grana também está servindo para você traçar a minha filha, não é mesmo, jornalistazinho freelancer?
Ori fez questão de carregar no freelancer como forma de me diminuir, porém, pego de calças curtas como dizia meu avô nem tive como negar, apenas deixei-o continuar.
-Achou que eu não saberia mais cedo ou mais tarde? Agora me conta, já está imaginando a vida boa que terá às minhas custas? Seduz a menina, diz que está apaixonado, se casam e pronto, vai encostar o burro na sombra, quem sabe até conseguir tocar uma parte dos meus negócios e em troca vai me dar uns netos que terão essa sua cara de fuinha. Deus me livre! Só de pensar no quanto essas crianças seriam feias se puxassem o pai.
-Posso falar?
-Vamos, fale! Só não diga que é mentira que está se encontrando com a Paula.
-Com todo respeito, sua filha tem 22 anos, saímos juntos algumas vezes no último mês, mas nem ela nem eu estamos pensando em um compromisso, o senhor sabe que isso é muito comum hoje, entendo que como pai fique chateado, mas, provavelmente, a Paula, daqui mais uma semana ou duas, não vai mais estar comigo, pois quer curtir a vida, conhecer gente nova, viajar.
Ori se levantou furioso de sua mesa, foi até a janela e depois se virou para mim:
-Não vai estar uma porra! Não vai estar uma porra! Sei bem que minha filha não é flor que se cheire, mas não me importo com isso, só que eu escutei sem querer, ela falando com alguma das amigas que está maluca pelo jornalista trintão que conheceu e ficou rasgando elogios pelo homem meio triste, mas bom de cama e carinhoso, falava como uma adolescente bobinha apaixonada, iludida! Agora, pensa no meu dilema, as duas únicas pessoas que me importo são meus dois filhos, não quero que a Paulinha sofra por um jornalistazinho durango, mas também não quero que esse romance absurdo siga em frente, pois você não tem porte para ser meu genro, para mim, ela pode dar e até já deu para os tipos mais exóticos, quando ela estava em Orlando fiquei sabendo de coisas de arrepiar peruca de defunto, relevei porque ainda assim era melhor do que estar envolvida com drogas. Agora, casar é outro departamento, né? Quero alguém com berço ou ao menos com grana.
-O senhor está criando um fantasma onde não existe. Casar?! Essa é uma palavra que não existe no meu vocabulário e como disse, a Paula tem um espírito livre, já, já, está com outro ou vai querer viajar, ela me contou que tem planos para passar um ano na Europa...
Ori se exaltou:
-Ah, mas foi bom você tocar nesse assunto, porque me lembrou de uma parte que eu tinha esquecido. A tal amiga com quem ela falava sobre você, tinha ligado para acertar detalhes de uma viagem que fariam agora para o Caribe, um festival de não sei o quê, com muita gente bonita e rica, principalmente americanos, a Paula estava há meses falando dessa viagem, mas sabe o que ela fez? Cancelou tudo! Assim do nada! E claro que o motivo é você, seu cara de fuinha sebosa.
Era a primeira vez que via Ori sem sua soberba ou ar sádico, mais do que irritado, parecia perdido. Caminhou pela sala, ameaçava falar algo, parava, até que depois de ficar meditando sentado em sua poltrona de couro, com a mão no queixo como se eu nem estivesse ali, parece ter tido uma grande ideia, arregalou os olhos e disse:
-Já sei! Você vai continuar saindo com ela, pois se a Paulinha descobrir que eu tive dedo para acabar com o romancezinho dela com você, seu seboso, aí é capaz da menina sumir pelo mundo como vingança. Vamos torcer para que com o tempo, de fato, ela enjoe de você, aliás, francamente, eu já a vi com cada cara boa pinta, tinha um espanhol milionário, em San Marino, no ano passado que arreou os quatro pneus por ela, e a minha filha nem tchum para o cara, não entendo o que ela viu num borocoxô como você, que usa camisas provavelmente compradas em uma liquidação de loja popular, ou talvez até usadas de um desses brechós. É inacreditável uma coisa dessas.
Tive vontade de contar em detalhes o que poderia ter feito Paula gostar de mim, mas me contive. Ori encerrou nossa conversa com uma grave ameaça:
-Vamos terminar o livro como se nada tivesse ocorrido, mas não se esqueça, se você acha que vai levar esse romance para o altar, esqueça! Porque não medirei esforços para impedir, e quando digo isso, sabe a que me refiro, não sabe? Continue com Paula mais um tempo, mas não banque mais o legalzinho, o culto, o romântico ou o fodedor, faça com que ela se canse de você, que o veja como eu vejo, um fu-i-nha se-bo-sa e quem sabe, como gesto de gratidão, te darei um empurrão em sua decadente carreira. Agora vá.
Sinceramente, quando deixei sua sala, minha vontade foi de fazer exatamente o contrário e engatar uma romance com Paula, porém seria sacanagem, já que apesar dela ser uma boa companhia e me dar um ótimo sexo, não estava apaixonado. Além disso, Ori não era um bravateiro e poderia mandar me prejudicar de alguma maneira, inclusive me fazendo “sumir”. Eu não era um cara extremamente vaidoso, mas chegar ao ponto de me chamar de fuinha sebosa e dizer eu que usava camisas de 5ª até que foi uma zoeira legal, ri sozinho depois.
Em meu primeiro encontro com Paula depois das revelações de seu pai, fiquei atento a pistas que demonstrassem que ela estava de fato sentindo algo a mais por mim, porém seu jeito meio brincalhão e meio sedutor era o mesmo de antes, apenas notava que ela carinhosa, mas isso também tinha sido desde a primeira vez. Nós tínhamos ido ver um filme, porém eu estava inquieto, não me sentia mais confortável como antes, quando achava que era só um PA (pau amigo) para ela. Mais tarde e com jeito decidi entrar no assunto:
-Além dessa química nossa na cama e da sintonia legal que temos, você diria que estamos tendo algo a mais?
-Você está querendo dizer que está gostando de mim?
-Quero saber o que você pensa, não mude o rumo do assunto. –respondi sorrindo.
Paula desviou o olhar, depois me encarou e disse:
-A gente está se curtindo e está bom assim, não vamos pensar em compromisso porque é assim que as coisas começam a brochar. Você não disse que tem uma ou duas ficantes? Então, pode ser que eu também tenha outro, mas é fato que o que temos agora está bom e vamos seguir desse jeito.
Se fosse verdade, aquela resposta era tranquilizadora para mim. Talvez, Paula tivesse exagerado meus predicados para fazer inveja na amiga e a tal história de ter desistido da viagem ao Caribe tinha ocorrido por outras razões.
No mês seguinte, passamos a sair mais juntos, viajamos duas vezes para a praia e o sexo continuava alucinante, luxurioso, adorava lhe dar umas dedadas em público discretamente e depois cheirar meu dedo, Paula também gostava de provocar em diversas ocasiões saía sem calcinha e além de abrir as pernas rapidamente para eu ver, muitas vezes, se tocava com vontade em um barzinho, restaurante, num banco na orla, com pessoas passando. Perdi as contas de quantas vezes fodi aquela loirinha, a mais louca das transas foi na Praia das Pitangueiras, dentro da água num final de tarde.
Acabei terminando com uma das minhas ficantes, a que tinha um comércio e com a outra eram encontros cada vez mais esporádicos. Porém, uma noite, estava transando exatamente com essa outra ficante, quando Paula decidiu me fazer uma surpresa e apareceu no meu apartamento sem parar na portaria antes. Quando eu a vi pelo olho mágico, tentei não atender, mas a loirinha ficou plantada na porta e pelo jeito não arredaria o pé dali.
Coloquei minha roupa e pedi para a minha ficante fazer o mesmo, em seguida, abri a porta e quando Paula notou que eu estava acompanhado, se assustou e segundos depois, fechou a cara:
-Melhor eu voltar outra hora.
Fui atrás dela no corredor, mas Paula foi bem firme:
-Eu que errei de vir sem avisar, não precisa explicar nada, volta para a tua ficante ou ela vai achar que temos algo a mais que sexo.
-Deixe eu te ligar mais tarde ou amanhã depois, ok?
Paula não disse nada.
No outro dia, tentei ligar para Paula, mandei mensagem, mas fiquei no vácuo, ela visualizava, porém não respondia. Tentei nos outros dias, mas depois cessei. Comecei a achar que Ori tivesse razão e aquele papinho dela de só curtir sem compromisso fosse apenas uma forma de não se abrir para revelar que sentia algo a mais. Não nego que gostava da companhia dela, mais do que as outras ficantes que tive desde o fim do meu noivado, entretanto, seria mentir que estava voltando a me apaixonar.
Felizmente, era meu último dia ouvindo as barbaridades de Ori, depois disso, seria fazer o longo trabalho de reouvir tudo novamente e começar a dar corpo ao livro. Ele não comentou nada sobre a filha, talvez ainda não soubesse ou estivesse esperando eu falar. Quando finalizamos, recebi dois pedidos:
-Vá me enviando capítulo por capítulo, assim eu vejo se está como imaginei e dou um ok ou sugiro mudanças. Outra coisa, você citou que levará um bom tempo escrevendo, porém quero que deixe o último capítulo em aberto, pois há uma história que poderá entrar ainda.
-Mas por que o senhor já não a conta agora e quando eu chegar ao final, decide se quer que a história entre ou não?
-Não, fuinha, preciso pensar direito, mas no momento certo me decidirei será um fechamento com chave de ouro.
Achei aquele receio bem estranho, pois Ori contou sem nenhum pudor dezenas de canalhices, a que fez com o irmão era uma das piores. A que fez com um deputado, comprando a jovem esposa do mesmo em troca de financiar toda a campanha, foi outra. Porém, além do que fez com a caboclinha lá em 1994, a que mais me chocou, foi ele ter seduzido a esposa do melhor amigo, apenas porque esse o repreendeu discretamente em uma festa por estar sendo inconveniente com piadas de cunho sexual e racista. Ori não só fez com que a mulher do amigo se apaixonasse por ele, como ainda a convenceu a participar de uma suruba com cinco caras que foi devidamente gravada e o filme enviado ao amigo. Mais um casamento destruído, mais vidas arruinadas.
Passei a trabalhar na elaboração do livro. Era o mês de julho. Conforme os capítulos ficavam prontos, mandava-os para Ori que tirando uma ou outra observação, vibrava com a maneira com que eu estava passando os fatos.
Certo dia, em já em agosto, recebo um telefonema de um Carlos, professor universitário que trabalhou comigo na mesma universidade em que lecionei pouco depois de concluir o meu mestrado. Atuei como professor por três anos e apesar de gostar de estar em sala de aula, na época, não tinha muitas aulas semanais, por isso, decidi focar apenas no Jornalismo, pois estava me saindo bem no começo. Marcamos uma conversa. Carlos tinha se tornado coordenador do curso de Comunicação em uma importante universidade e para o ano seguinte, queria que eu fizesse parte do corpo docente. Mas a boa notícia não parava por aí, além de me passar várias aulas, Carlos disse que já tinha me indicado para o reitor para lecionar algumas matérias como Comunicação e Expressão, Produção e Interpretação Textual e Laboratório de Redação em outros cursos, resumindo, eu teria a grade cheia no noturno e quase cheia no diurno. Claro que aceitei, pois era algo estável e vinha em um momento em que o Jornalismo de verdade agonizava em praça pública.
Passei a me preparar para montar todos os planos de cursos e demais materiais, por sorte tinha tempo e dava para tocar a biografia de Ori paralelamente.
Uma semana depois, fui convidado ao casamento de um colega dos tempos de escola. Moramos por anos no mesmo bairro. Fui sozinho, mas lá comecei a reencontrar diversas pessoas conhecidas e não faltou assunto e gargalhadas. Em um determinado momento da festa, olho para o meu lado direito e não acredito, era Raquel conversando com outras mulheres. Ela usava um vestido vermelho longo ombro a ombro. Minha ex-noiva tinha os cabelos castanhos, mas usava luzes, então seu cabelo era mais claro, tinha o rosto fino, muito delicado olhos verdes, nariz e boca pequenas e um sorriso que aparentava timidez, mas não era o caso. No tempo em que estivemos juntos, ela era o tipo falsa magra, com deliciosos seios médios e pontudos, um bumbum médio e arrebitado e pernas longas. Porém agora estava com braços e pernas um pouco mais torneados, o que dava a crer que estivesse fazendo academia. Senti uma dor aguda no peito e uma tristeza dilacerante como se tivesse voltado três anos no tempo. Pensei comigo “Preciso sair daqui, não quero que essa praga nem me veja. Se ela estiver casada ou com namorado, não quero nem ver”. Fui ao banheiro lavar o rosto, pois o choque foi grande. Decidi ir embora, mas quando me encaminhava para a porta do salão, sou parado por ela que sorridentemente me estende a mão e diz delicadamente:
-Rodrigo, que surpresa agradável após tanto tempo.
Exibindo um sorriso tão forçado que faria Monalisa sentir inveja, estendi-lhe a mão e a beijei no rosto:
-Como vai, Raquel?
-Raquel? Tá certo que todo mundo acha que somos irmãs gêmeas, mas até você que foi noivo dela não saber a diferença, hein? Sou a Camila.
Na hora levei um choque, pois Camila era a irmã três anos mais nova que Raquel, porém enquanto namorei e fui noivo, ela parecia fazer de tudo para esconder sua beleza. Usava roupas largas, capuz e vivia com um skate. Os maldosos diziam que minha ex-futura cunhada era lésbica, mas eu nunca a julguei, porém também nunca vi com nenhum namorado. Agora, ali, ela estava exatamente igual a Raquel, e realmente se passariam por gêmeas, exceto, claro se minha ex-noiva tivesse mudado desde que terminamos.
Senti um alívio tão grande por ser Camila e não Raquel, que cheguei até a abraça-la. Começamos a conversar, ela estava agora com 23 anos. Senti uma energia muito boa nela e até uma alegria durante os minutos que conversávamos, até porque, quando estava com sua irmã, Camila era educada, mas bem caladona.
Contei um pouco do que estava fazendo, das aulas que assumiria no ano seguinte na universidade. Camila tinha concluído o curso de Direito e acabara de passar na prova da OAB. Após tanta conversa, criei coragem e perguntei fazendo de conta que era um só por uma questão de educação.
-E sua irmã? Está bem?
Camila olhou por cima dos meus ombros, demonstrou um leve desconforto e disse:
-Olha ela vindo ali.
Só tive tempo de me virar e vi Raquel me fitando como uma onça caminhando lentamente em direção à sua presa. Ela também aparentava estar fazendo academia, pois seus braços e pernas estavam mais torneados, a semelhança das duas era chocante, a única diferença é que uma estava de vermelho e a outra de azul. Não daria tempo para sair dali, também não queria fazer uma cena, restou-me esperar pelo encontro para o qual eu não estava definitivamente preparado.
Aos que estão curtindo, peço, se possível que deixem um comentário.