ZEDU
— Sim. — respondi, mas demorei para absorver tal palavra. — Nós... nós... aceitamos.
Entregamos todos os nossos documentos para serem anexados ao documento de custódia. Eu não tinha certeza se era a decisão correta, mas como já disse, a Isabela lembrava muito do papai. E apesar dos traumas do passado, eu quero ajudá-la, porque a pequena não tem culpa de nada.
Leva horas até o juiz decidir, mas graças aos deuses, o parecer é positivo para o JL. A juíza viu que ele estava trilhando um bom caminho para a sua ressocialização. Graças aos meus familiares e a família do Yuri, que o ajudaram. Eu não sei se vou conseguir amar o meu irmão, porém, eu vou amar a Isabella e serei o melhor tio do universo. Desculpa, Fred, mas só existe um tio favorito e serei eu.
A assistente social levaria a Isabela para a casa da mamãe, o endereço atual do JL. Dei permissão de transformar o meu antigo quarto no da Isabela. Tivemos um tempo curto para preparar tudo, mas conseguimos e a minha sobrinha ganhou um lindo quarto do Toy Story.
— Yuri e Zedu, muito obrigado por tudo. — agradeceu JL, que estava diferente, um pouco mais arrumado, talvez, para receber a filha.
— Tudo bem, JL. Fizemos com carinho. Seremos bons padrinhos para a Isabela. — disse Yuri, que pegou no meu joelho e apertou.
— Ah, tudo bem. Se tú morrer ela vai ser minha. — brinquei, mas todos na sala me olharam de maneira estranha.
— Ele está brincando. — garantiu Yuri, que captou o meu senso de humor, ou não, porque apertou meu joelho mais forte.
— Foi brincadeira. — murmurei passando a mão no meu joelho.
Fizemos uma pequena celebração para receber a Isabella. Compramos bolo, doces e balões do Toy Story. A recepção perfeita para a princesinha do titio. No início da tarde, a assistente social trouxe Isabela. Ela correu para os braços do pai e deu um forte abraço. A moça nos entregou alguns documentos e pertences da Isabela.
A mamãe garantiu para os avós maternos que a Isabela não perderia contato. Em todas as férias, a mandaríamos para o interior. Afinal, não queremos que ela esqueça da mãe. Com tudo resolvido, decidimos curtir a pequena. Eu sentia falta da minha família. Desde a morte do meu pai, a gente não se reunia daquela maneira. Todos juntos, leves e felizes.
— É tão gostoso, né? — a mamãe questionou se aproximando de mim.
— O bolo? Tá mesmo. — respondi, mas ela bateu na minha cabeça.
— A casa está cheia de gente. É o que mais sinto falta. Vocês cresceram e precisam viver a própria vida, mas eu sinto saudades. — ela disse me fazendo chorar.
— Desculpa. — eu a abracei.
— Filho. — a mamãe me apertou e acariciou meus cabelos.
— Eu vou aparecer mais. Vou aparecer todos os dias. Vou aparecer até a senhora cansar de mim. — prometi, ainda abraçado com a Dona Tereza.
YURI
As semanas foram passando. Na realidade, as semanas correram. Eu já estava perdido sobre a data do casamento. Toda a equipe estava mobilizada para realizar um belo evento. Finalmente, a prova das roupas chegou e pude tirar da lista algo que me tirava o sono. Eu não queria parecer um noivo desleixado, já que o Zedu ficaria bom com qualquer roupa.
Nós teríamos 12 padrinhos, que vestiriam algo parecido, mas o Zedu e eu usaríamos o mesmo terno, um verde musgo. Só que o do Zedu teria um colete na cor do terno e uma camisa social branca por baixo. Eu, por outro lado, usaria o terno com a camisa social branca e uma gravata borboleta verde. Na lapela, a Giovanna sugeriu que colocássemos um enfeite de flor.
— Com quem está a lista dos padrinhos? — perguntei, já querendo acabar com a confusão.
— Comigo. — Giovanna tirou o papel da bolsa e fez uma chamada.
A equipe da loja separou todas as roupas e tons desejados. O Hélder bateu o pé e queria experimentar um vestido e ficou perfeito, ou seja, a Luciana teria que rebolar para superar o seu par. O Zedu e eu ficamos lindos de terno. A Giovanna registrou o momento no celular e enviou para o grupo que dividíamos.
— Ei, Kleber. — gritou Sérgio, chamando a atenção de todos. — A sessão das crianças é no andar de baixo.
— Valeu, Sérgio. — respondeu Kleber em tom irônico. — Ah, verifica se a tua calça social vai vir com um fraldão. Pode rolar outro acidente, né? — questionou Kleber, relembrando o dia em que o meu cunhado quase fez coco nas calças, após comer um salgado estragado.
— Ei, vocês dois. Hoje é o dia do Yuri e Zedu. — Giovanna os repreendeu e voltou a atenção para nós. — Gostei do terno, mas esse caimento pode ficar melhor. — apontando para a calça do Zedu. — Você perdeu uns centímetros, cunhado?
— É porque estou sem sapato. — apontando para os pés descalços.
— Enfim, meninos, meninas e menines, nós usaremos os tons de verde pastéis e os noivos um tom mais forte. Não saiam da proposta. — orientou a Giovanna, deixando as atendentes da loja impressionadas. Ela inclusive ganhou uma oferta de emprego.
— Ei. — soltei me aproximando do Zedu, que lutava para fechar o seu colete. — A gente vai se arrumar na frente um do outro?
— Acho que sim. Não somos noivos tradicionais, né? Fora que a Giovanna nos mata de inventar isso a essa altura do campeonato. — afirmou Zedu, finalmente, vencendo a batalha e fechando o colete.
— Tá, gatão. — o abracei. — Na lua de mel quero você só com o colete. — cochichei em seu ouvido.
— E eu quero você só de gravatinha. — Zedu retrucou me deixando com tesão.
ZEDU
Aproveitamos a distração de todos e seguimos para um dos provadores. Eu beijo o Yuri como se a minha vida dependesse da boca dele. A gente tenta ser silencioso, mas é impossível. O tesão entre nós é muito grande. Eu o beijo no pescoço e orelha. Então, libero o seu pênis e o masturbo. O Yuri aperta forte no meu ombro. Eu não paro. Eu quero vê-lo chegar ao êxtase do prazer.
— Eu te amo. — eu falo, olhando diretamente para ele, enquanto faço o movimento com minha mão esquerda.
— Eu... eu...
Voltamos como se nada tivesse acontecido. O Yuri fica com uma carinha muito boba quando apronta alguma coisa. Voltamos a nossa atenção para uma discussão sobre meia-calça. Confesso que fico perdido no assunto, mas a Giovanna acaba com o debate e extermina a peça do casamento.
Essa prova de roupa foi muito gostosa, em todos os sentidos. Infelizmente, voltamos para a realidade. A empresa está crescendo e novos parceiros não param de chegar. Tivemos que expandir os escritórios devido às contratações de última hora. O seu Hernando mandou um e-mail todo satisfeito com as conquistas da sede Amazonas.
— Bom dia, chefe. — Edgar entrou trazendo algumas correspondências.
— Bom dia, Edgar. O que são essas cartas? — questionei, fazendo uma careta engraçada.
— Ah, são os convites de algumas empresas para as festas de fim de ano. — revelou o meu assistente colocando todos os envelopes sobre a mesa.
— Em setembro?
— Zedu, faltam três meses para o Natal. Às vezes, as cartas acabam se perdendo. Enfim, o meu antigo chefe perdeu várias oportunidades no ano passado. — comentou o Edgar, antes de sair da sala.
— Interessante. — pensei, olhando carta por carta, até que achei uma que pertencia à Vara do Juizado Cível da Infância e da Juventude.
De repente, o meu celular começou a tocar. Era o JL todo emocionado falando que o documento da Isabela havia chegado, inclusive, uma carta endereçada ao Yuri. Eu fiquei sem entender, mas combinamos de nos encontrar no almoço para fazer uma surpresa para o meu noivo.
Quem diria, hein? Agora estou fazendo planos com o JL. O Zedu de alguns meses não aprovaria essa reaproximação. Consigo ver os reflexos das minhas sessões com a terapeuta. Eu descobri muitas coisas positivas sobre mim, principalmente, o meu lado compreensivo.
O JL apareceu no escritório e me entregou a carta do Yuri. Peguei o carro no estacionamento e seguimos para uma das obras que o meu bebê estava trabalhando. No caminho, expliquei para o JL o trabalho do Yuri, que basicamente é escolher os melhores prédios para a sua empresa bilionária.
Encontrei a caminhonete do meu noivo logo na entrada do prédio. Deixei o meu carro próximo e saímos para procurá-lo. O sol de Manaus estava aquela delícia de sempre, então, corremos para procurar uma sombra. Liguei para o Yuri, mas o seu celular estava fora da área de serviço.
— Talvez ele esteja no prédio da frente. —JL apontou para a estrutura de um prédio antigo.
O local parecia ser de um filme de zumbis, sabe, quando se passam anos e a mata toma conta da cidade. As paredes do prédio estavam cobertas de trepadeiras, quase formando um jardim vertical. Os nossos passos ecoavam nos corredores e não achamos ninguém.
YURI
Mais um prédio condenado. Em Manaus, existem muitas estruturas que foram abandonadas. Esse, infelizmente, era um deles. O prédio prometia ser um dos maiores hotéis da cidade. Hoje, só tem mato e sujeira. A construtora resolveu demolir o local e encheu de explosivos nos andares superiores. A ideia era aproveitar apenas o térreo e o subsolo.
Depois que a equipe implantou os explosivos seguimos para uma área mais afastada. Eu notei que não havia tocado no celular o dia todo. Peguei o aparelho e percebi algumas ligações do Zedu. Apertei no botão de ligar e depois de alguns toques, ele atendeu.
— Amor, tenho uma surpresa. Onde você está? — ele questionou.
— Aqui na área externa do prédio. — respondi.
— JL, consegui falar com o Yuri. — disse Zedu, voltando a sua atenção para mim. — Bebê, estamos aqui no prédio coberto de plantas e...
O telefone, simplesmente, despencou da minha mão. Perguntei ao mestre de obras se tinha como cancelar a demolição, mas ele explicou que o sistema era automatizado, ou seja, uma vez iniciado iria até o fim. Eu não sei o que deu em mim, mas eu corri na direção do prédio. Alguns colegas tentaram me segurar, sem sucesso. Eu apenas corri. Não havia muito tempo.
O meu coração palpitava forte. O meu pulmão procurava ar. As pernas tremiam de medo. Só que eu segui. Entrei no prédio e encontrei Zedu e JL.
— Amor, o que houve? — Zedu perguntou ao ver meu estado.
— Bomba... prédio...demolição. — expliquei entre uma respiração e outra.
— Tem uma bomba aqui? — os dois irmãos perguntaram juntos.
Segurei no braço dos dois e corri em direção à porta, mas um grande impacto nos levou ao chão. A primeira dinamite foi acionada no último andar. Em desespero, o JL perguntou se havia algum andar abaixo de nós. Eu balancei a cabeça e eles me ajudaram a levantar. Nós corremos para as escadas em busca do porão, que seria utilizado como o SPA do local.
As paredes estavam rachando. Tudo aconteceu muito rápido. Eu era o único que utilizava um daqueles chapéus de segurança. Os meus pulmões continuavam em busca de ar. Só que os meus pés queriam urgência e desceram as escadas em uma velocidade ímpar. Não demorou muito quando os outros explosivos foram acionados.
Uma viga se quebrou e três vergalhões de ferro voaram na minha direção. Em uma ação rápida, o Zedu me abraçou e trocou de lugar comigo. Fiquei de olhos fechados, agarrado no José Eduardo. Quando o prédio desmoronou de vez e somos cobertos por uma poeira branca e espessa.