Depois de algum tempo tomando banho e se arrumando, a Fernanda sai do quarto e vem até a sala onde eu a esperava remoendo ainda o que fazer, sem saber bem como encarar isso tudo.
- E ai amor, como você acha que estou? Gostou? - e ela fala isso dando uma volta e posando para mim. Que droga, como ela está linda e gostosa. Ela usa uma calça social bege que só realça mais a bunda carnuda, empinada por estar de saltinho, e com a marca da calcinha cavada atrás. E veste uma blusa florida decotada curta, de tecido transparente, que deixa antever seu sutiã meia taça de renda, revelando uma boa parte dos seios cheios dela.
- Você não acha que essa roupa está mostrando um pouco demais, não?
- Ah, deixa de ser chato. Lá só tem amigos nossos. E depois do final de ano na praia acho que todo mundo já viu muito mais do que isso lá na areia, concorda?
É, isso é verdade. Passamos uma semana com quase todos juntos entre o Natal e Ano Novo, rachando o aluguel de 2 apartamentos. E foi um desfilar de maiôs e biquínis entre as mulheres, parecendo que uma queria provocar e se mostrar mais gostosa do que a outra.
- Sabe a que horas o Júnior e a Duda chegam?
- Eles não vão dormir em casa hoje. O Júnior emendou para acampar com a namorada e os amigos. E a Dudinha vai dormir no apto da Melissa, aqui no prédio mesmo.
Nessa altura do campeonato nem sei se é uma boa ficar sozinho com ela. Não sei se vou conseguir me controlar, ou se vou acabar jogando na cara dela o que vi. O duro é que vai ser minha palavra contra a dela, e pode virar um bate-boca sem fim. Queria ter provas para ela ficar sem ter como negar. Descobrir, afinal, quem que está comendo minha mulher. Mas nem sei por onde começar… colegas de trabalho, os malhados da academia, algum vizinho sedutor, um ex-colega de faculdade, algum conhecido ou amigo nosso, um aleatório que ela conheceu por ai… que porra! Tantas chances para traição... agora percebo o que muitos já sentiram ou que nem sabem que acontece bem debaixo de seu nariz.
Vamos para a festa, a Fernanda tagarelando e animada com tudo. Respondo a tudo de forma curta, sem grosseria, mas não esticando muito o papo. Isso parece não a incomodar, e ela diz que devo estar cansado, mas que vai ser bom mesmo assim, vermos novamente os amigos reunidos. Fica enumerando quem vai e quem não pôde ir. Conta fofocas que em outros momentos até me interessariam, mas estou com a cabeça em outro mundo. Quando o carro para no semáforo e a vejo falando e falando, não escuto nada, só imagino essa boca chupando uma pica grossa e cheia de veias (acho que todo traído acaba só vendo machos dotados fodendo suas mulheres…), sentindo o gosto, lambendo e engolindo a porra do outro. Meu estômago revira e tento pensar em outra coisa, olhando para o trânsito.
- Só espero que aquela convencida da Laís não esteja lá. Não suporto o jeitinho e o narizinho empinado daquela japinha magrela. Bem que você me avisou que ela não era flor que se cheire.
De repente sou tragado do paralelo "mundo zumbi" em que estava ao ouvir ela dizendo isso. Uma luz se acende nesse túnel sem fim. Ok que é um tiro no escuro, mas pode ser um começo: quem sabe a Laís possa saber de algo sobre a Fernanda, e me dar alguma pista. Pois até alguns meses atrás, ela, a Fernanda e a Cristina não se desgrudavam. Não gostava muito disso por causa da fama da Laís. Longe do Ricardo, marido dela, se falava que ela era uma verdadeira putinha, que vivia traindo o coitado, que saia com garotões, que teve caso com o médico dela, com o professor do filho, e por ai vai. Tentei convencer a Fernanda a ficar longe dela, mas não teve como, ela sempre negava, dizia que era preconceito meu, e etc… E, do nada, elas romperam e não mais se falaram. Só o essencial, cumprimentos formais, mas nada de ficarem de papo, saírem juntas ou outra coisa. Perderam a amizade, algo aconteceu entre as duas, apesar da Cristina continuar amiga das duas. Achei no final que a Fernanda havia aberto os olhos e aceitado meu discurso.
Recordo, então, que por volta dessa época ou um pouco antes, não sei direito, houve um jantar num restaurante por conta do aniversário da Cristina, quando o assunto chegou como sempre no sexo e começaram as provocações e gozações. E, em determinado momento, a Laís se virou para mim e deu a entender que eu devia ser mesmo muito devagar, que não daria conta do recado, que não tinha pegada com esse meu jeito todo romântico. Pessoal rindo, e a conversa com mais zoação no geral, mas fiquei meio puto com ela me olhando fixamente, enigmática, séria, e meio que me desafiando. A conversa mudou e não dirigi mais a palavra a ela. Contudo algo que me doeu um pouco na época foi que a Fernanda não falou nada naquela hora, ficando caladinha e não fazendo nada para contrariar e defender o maridinho aqui. Acabei colocando aquilo tudo na conta da cerveja, e segui a tratando com respeito, mas nada de intimidade ou muito papo, por mais que às vezes ela parecesse querer puxar assunto comigo em outras ocasiões. Mas a pulga-elefante agora está atrás da minha orelha e tenho que dar um jeito de abordar ela essa noite.
A casa da Cris e do Tiago, é bem confortável e ampla. Mas o que mais atrai a todos ali para os encontros é a parte dos fundos, onde tem uma área coberta com espaço para mesas, preparar comidas, churrascos e tudo mais. E fatalmente terminamos ali até altas horas bebendo, rindo e falando muita besteira. Essa noite pelo jeito vai ser legal, com a casa cheia e geladeira abastecida. Tem até um DJ encarregado das músicas, como a Fernanda já havia adiantado no carro. Ao todo estamos ali em umas 20 pessoas, na faixa dos 30 aos 50, quase todos casais casados e uns enrolados, e umas amigas divorciadas e sozinhas: em resumo, elas estão em maioria nessa noite.
Entramos e a Fernanda some com a Cristina, indo ajudar em algo e conversar na rodinha das mulheres. Procuro um canto para sentar, e esfriar a cabeça bebendo uma cerveja e prestando atenção no papo dos amigos. Meio calado, fico procurando o Ricardo ou a Laís, mas não consigo ver os dois em lugar nenhum. Merda, nem isso para ajudar. Sou cagado mesmo...
Logo o DJ começa a agitar as músicas, pedindo para o povo ir para a pista improvisada, onde algumas mulheres e uns caras mais corajosos já estavam dançando. Nisso a Cris resolve animar a coisa toda, pegando o microfone:
- Gente, hoje a noite aqui vai ser diferente. Todo mundo, pegue seu par e vá para a pista, sem desculpa! Proibido ficar parado!
Putz, ainda mais isso agora. Nesse humor que estou, a última coisa que queria era ter ficar dançando com a Fernanda a noite toda. Ela me puxa e me leva para a pista, e quando a estou pegando pela cintura, a Cris ataca novamente:
- Só tem mais uma coisa, para ficar mais animado: hoje... mas só hoje... não vale dançar com seu marido! Só vale bater as coxas com outro! Solta a música DJ! Uhuuuu
E a coisa vira uma gritaria e correria só. A Fernanda olha para mim sorrindo, me dá um selinho e diz meu ouvido:
- Divirta-se amorzinho!
E sai pela pista soltando minha mão. Os casais vão se formando e quando vejo estou do lado da Verônica, que brincamos ser a "mulher-troféu" do Felipe. Loira, corpo trabalhado na academia, peitos siliconados, e mesmo depois de 2 filhas, ela aparenta ainda ter menos de 30. Ela até é bacana, mas claramente se sente mais a vontade quando cercada do luxo que o marido lhe proporciona.
- Bom, acho que sobramos né? Vamos dançar? - eu arrisco mais para ser educado, do que esperando alguma resposta positiva.
Entretanto, ela sorri e aceita que a pegue na pista quando começar a tocar uma salsa ou coisa assim. Com a mão na sua cintura, eu e ela tentamos manter o mínimo de distância, mas que não impede de sentir, em alguns movimentos, aquelas coxas grossas batendo nas minhas, ela de saia curta e justa. Minha mão toca a pele nua nas costas dela, eu sentindo seu perfume suave, mas também um certo desconforto por parte dela. Não tem o mínimo que combinar ali, apesar disso não me impedir de aproveitar um pouco desse momento ao longo de algumas músicas.
- Desculpa Verônica, mas agora é a minha vez de pegar esse gostosão aqui!
Surpreso de ouvir isso, eu me viro e encaro a Bia me olhando e sorrindo.
- Uia menina, pode usar e abusar dele! Fui! - e a Verônica sai rapidinho, provavelmente aliviada e atrás de alguém bem mais interessante para ela. A Bia deixa o copo de caipirinha numa mesinha ali perto, passa os braços em volta do meu pescoço e diz sorrindo para mim:
- Pode me agradecer agora por ter te salvado daquele loirinha aguada!
Eu dou risada:
- Olha, acho que ela foi a que ficou mais agradecida aqui, não via a hora de dispensar o coroa aqui.
- Ah, discordo totalmente. Ela que não sabe apreciar o que realmente é bom! - penso logo que essa caipirinha deve estar muito boa, pois nunca vi a Bia agindo dessa forma.
Resolvo relaxar e dar uma descontraída na situação. A Bia é uma grande amiga mesmo, daqueles que gostamos de ficar conversando sobre tudo. Nos conhecemos há uns 10 anos, ela trabalhando na mesma empresa que a Fernanda durante um tempo antes de sair de lá. Nesse meio tempo ela se casou, mas foi um casamento dolorido cheio de sofrimento para os dois. Acabaram se divorciando depois de 5 anos, e foi nítido como a separação fez bem para ela. Morena e baixinha, ela é o tipo da mulher cheinha, mas com as curvinhas nos lugares certos. Coxas grossas, uma bunda grande e gostosa, seios médios... sim, mesmo amigo dela, nunca deixei de reparar em como ela é gostosa. E muito bonita também, um olhar doce, sorriso fácil, ela é encantadora. Ainda mais agora com os cabelos aloirados, imagino como deve ser assediada por aí, e como deve estar aproveitando a vida de solteira novamente.
- Acho que nunca dançamos juntos, né Beto? Mas hoje vou tirar o atraso e essa vontade toda!
Estava visível que ela estava meio alegrinha pelo álcool, o que não me impedia de notar como ela se agarrava a mim, me fazendo sentir seu corpo gostoso roçando no meu. Pela blusinha semiaberta eu via o tecido do sutiã e parte dos seios médios dela, que volta e meia tocavam meu peito e meus braços no agito da música. O DJ troca para uma música disco, o pessoal aplaude e se agita, e a Bia se vira de costas para mim, puxando minhas mãos para abraçá-la juntinho do corpo. A calça justa dela não impede de sentir a bunda dela rebolando e se empinando contra o meu corpo, e a ereção vem forte. Nem tento me afastar, e ela sente:
- Hum... alguém está bem animadinho hoje, hein? Que gostoso...
Minha moral conservadora aparece e respondo para ela:
- Desculpa Bia, mas está difícil resistir...
- Deixa de ser bobo Beto, hoje está tudo liberado, e chumbo-trocado não dói. Olha lá como a Fernanda está se divertindo também...
Por todo aquele tempo havia me esquecido da Fernanda, mas então olho para o canto da pista e vejo ela nos braços do troglodita do Marcelo. Casado com a Dorinha, é o tipo do sujeito oposto a mim. Safado mesmo, não escondendo isso de ninguém, além de malhado, bruto e meio arrogante. E nesse exato momento está com as mãos bobas já quase tocando a bunda da minha mulher, a acariciando e puxando para ele com a desculpa da música. Ela toda entregue, um botão a mais aberto da blusa mostrando parcialmente os seios cobertos pelo sutiã. Ela não esconde no sorriso a satisfação pelo momento, quando ele sussurra algo no ouvido dela, que ri e concorda com carinha de safada... Meu sangue ferve de raiva, e a vontade é de ir lá, dar um esculacho nela e acabar com tudo isso.
- Ei, olha para mim! Estou aqui e essa dança é minha, viu?
A Bia se vira para mim novamente, me faz rodar e não ver mais aqueles dois na pista. Ela me acaricia o rosto, e sussurra no meu ouvido:
- Pode se aproveitar de mim também... eu deixo! Na verdade, eu quero muito! - e falando isso ela puxa minhas mãos também para os quadris dela.
Aquilo me pega de jeito, e eu a agarro com gosto, sentindo e acariciando a bunda gostosa da Bia por inteiro, escondidos que estamos na penumbra de um canto do salão. Os dedos passeiam, exploram, sentindo a calça socada no reguinho dela, imaginando como o bumbum dela está mordendo e engolindo a calcinha pequena. Ela com as pernas afastadas, sente o volume do meu pau, que dói dentro da calça, encaixado bem na porta de sua bocetinha. A música já nem faz diferença, só o tesão naquela meia-luz que esconde esse momento.
- Hum Beto... que gostoso... o Betinho está deixando a Biazinha toda molhada sabia?
- Bia, cuidado com o que você diz...
- Relaxa Beto, aproveita. Amanhã vai todo mundo rir e esquecer dessa noite!
As músicas se sucedem e perco um pouco a noção do tempo. Mas com certeza uma boa meia-hora se passa nessa provocação toda com ela, ora nós dois rindo, ora mais sérios, no que foi, até aquela hora, o único momento bom desse dia terrível na minha vida.
- Bia querida! Hora de você ir ciscar em outro galinheiro. Minha vez de ver se esse cinquentão ainda tem algo para dar.
Nesse momento saio do transe em que estava com a Bia, e sou puxado de volta para a Terra.
- Ah Laís, não brinca, vai? Deixa eu curtir mais um pouco....
Tomo um susto ao me virar e dar de cara com a Laís, me olhando fixamente e determinada, como é o jeito dela. Sem parar de me encarar ela faz um sinal de desprezo com a mão, indicando para a Bia sair dali:
- Vamos, vamos! Regras são regras, e já passou do seu tempo, hora de ir embora!
A Bia se volta para mim, me dando um selinho rápido e sussurrando para mim:
- Adorei cada dança Roberto, de verdade, viu? - e sai sem olhar para trás.
Jogando os braços em volta do meu pescoço, a Laís me sorri e diz:
- Hummm, que garanhão! Acho que te subestimei, Betinho!
Fico vermelho com certeza, e desconverso:
- Deixa disso Laís, a Bia é só amizade, você sabe disso. E depois que passar o efeito das caipirinhas que bebeu, ela nem vai se lembrar do que rolou aqui.
- Sei, sei... Ah Beto, como você é tonto mesmo, não muda nunca!
Se não fosse por nosso passado, e os muros que minha moral construiu contra a Laís, adoraria ter o prazer de estar aqui com ela. É uma mulher linda, descendentes de japoneses, com traços mestiços, olhos castanhos, pele morena sempre bronzeada, e um corpo de modelo: alta, quase da minha altura, magra, pernas longas e finas, uma bundinha pequena, mas perfeita de tão redondinha que é. Atrai muito por seus seios siliconados, durinhos e sem exageros, do tamanho perfeito e empinados para dar aquele porte de rainha nela. E isso tudo completado por cabelos longos e ondulados, num castanho claro com algumas mechas loiras e cuidados semanalmente no cabeleireiro. Hoje o vestido comprido e com fendas enormes não deixa de valorizar tudo isso. E... bom, posso estar enganado, mas não vi nenhum sutiã... Meu Deus isso não vai prestar!
- Estava mesmo te procurando Laís, queria conversar algo com você - já vou direto ao ponto.
- Depois de um bom tempo me ignorando? A que devo essa honra?
- Desculpa Laís, mas quando você e a Fernanda se afastaram, ficou uma situação meio chata...
- É, eu sei. Não gostei como as coisas aconteceram, mas enfim, cada um é dono do seu nariz, não é mesmo, Roberto?
È meio constrangedor ouvir isso dela, meias palavras, e algum segundo sentido em tudo, o que só me deixa mais determinado ainda.
- Então Laís... era exatamente sobre esse desentendimento que queria conversar com vc. Saber o que aconteceu, pois vocês eram tão amigas, as coisas mudaram em todos os sentidos e...
Ela nem me deixa concluir e já interrompe:
- Ok Beto, podemos conversar sim, se você quiser. Mas não vai ser agora e nem aqui. Não sou toda certinha como você e estou aqui para curtir muito essa noite. Só deixa rolar e aproveita... como você estava aproveitando com sua amiguinha querida!
- Ok Lais, você que manda. Se quer curtir um quase cinquentão, sou seu pelas próximas danças!
- Assim que gosto, Betinho! Quem sabe você ainda tenha conserto? - e rimos juntos.
Aos poucos as danças vão ficando mais lentas, o DJ meio criando o clima de final de balada, rolando uns anos 80. Já não vejo mais a Fernanda direito. Dançou com mais 2 ou 3 e agora estava sozinha e indo puxar o Serginho para dançar. De relance vejo os dois juntos, ele mais comportado com a mão na cintura dela enquanto ela pousa o rosto nos ombros dele. Concentro minhas atenções na Laís, minhas mãos descendo também para a cinturinha fina dela, uma sensação gostosa de controle, imaginando como seria sentir isso mesmo com ela na cama, ela sobre mim com esse corpo esguio, controlando, mas sendo comida com gosto.
Enquanto viajo na fantasia, ela sente como me excito, está escrito no meu rosto. O olhar dela parece que penetra minha alma, me lendo por dentro. Esses últimos momentos são estranhos, sentindo o suave rebolado do corpo dela contra o meu no ritmo da música, os bicos dos seios pronunciados furando claramente o tecido do vestido. Com poucos casais ainda na pista, concordamos em parar também. Mas antes disso, ela diz para mim que amanhã não pode falar comigo, mas para eu passar no domingo pela manhã na casa deles, que o Ricardo vai estar ocupado limpando a piscina e assim podemos conversar tranquilos na sala. Concordo, trocamos beijinhos carinhosos no rosto e vamos cada um para um lado. Bom, não posso reclamar da noite nesse aspecto, que ergueram um pouco a minha autoestima que estava enterrada no chão.
Desse momento em diante, o pessoal vai aos poucos sentando espalhados nas cadeiras e sofás da casa, em pequenos grupos para conversar, comentar e rir das situações. No fundo acho que todos ali vão levar alguma lembrança mais quente para casa, talvez até uma faísca a mais para o final da noite, depois de tantas provocações. Alguns transarão pensando em outros com quem se divertiram, sendo inevitável isso, de cultivar uma quase fantasia. Mas que é muito diferente de dar o passo adiante e a tornar realidade. Tem um limite, uma fronteira perigosa que não podemos ultrapassar. E eu agora via a minha esposa do outro lado dessa linha.
Por volta de 1h00 da manhã a Fernanda me procura pedindo para ir embora. E pergunta se podemos dar carona para a Katia e o Lucas, que moram perto de nós, já que eles vieram sem carro. Sem problemas, nos despedimos dos muitos que ainda iam esticar mais a festinha, e vamos embora. No carro, todos cansados, mas relaxados conversamos amenidades, enquanto manobro e saio com o carro.
Depois de andar apenas uns 200m, sinto um choque me gelando por dentro: estou vendo a mesma SUV preta parada entre outros carros na rua. Devo ter ficado branco, e até meio zonzo ao encarar aquilo. Controlo os instintos ao lembrar dos amigos no carro, mas depois de ver pela segunda vez aquele maldito carro no mesmo dia, fica difícil pensar claramente. Os fantasmas voltam a povoar minha cabeça, a galhada pesando na testa.
Passo devagar e reparo num adesivo colado na traseira, o mesmo que vi de manhã e que me dá a certeza de pelo menos uma coisa: a puta da minha mulher está tendo um caso com algum amigo nosso, se é que posso considerá-lo assim. PQP, respiro fundo, apertando as mãos no volante quase a ponto de doer, evitando olhar para ela que descansa encostada no vidro do carro, mexendo no cabelo, leve sorriso no rosto, e o olhar perdido na noite da cidade. Um olhar que esconde uma plenitude e satisfação, de controle e realização. Ela está feliz, ela é feliz... como pode ser? Quem é realmente essa mulher com quem vivi esses anos todos?