Capítulo 40
Vanessa respirava fundo com as narinas dilatadas. Os belos olhos cor do céu irradiavam ódio. Ser flagrada por Leandro e ter o plano mal sucedido a despertava a pior das frustrações. O sorriso de Abner despertava nela a vontade de lhe apertar o pescoço até que não restasse nenhum sopro de vida.
Leandro se sentia como se lhe faltasse o chão. Estava envergonhado e ao mesmo tempo decepcionado.
_ Abner, você poderia me dar licença para eu poder falar a sós com a Vanessa?
_ Claro._ Abner respondeu em tom respeitoso, já não sorria mais em respeito a Leandro, mesmo estando louco para soltar uma gargalhada. Saiu do estoque se sentindo vitorioso.
_ O que foi isso, Vanessa? O que deu na sua cabeça para descer o nível tão baixo?!
Vanessa o lançou um olhar de ódio. Suspendeu o nariz e respondeu com arrogância:
_ O que você queria? Alguém tinha que limpar a sujeira que você e o Júlio fizeram.
_ Não diga bobagens!_ gritou Leandro._ Garota, isso foi golpe baixo! Baixaria das feias! Você se machucou só para acusar uma pessoa de agressão! Você tem noção do caos que ia causar?
_ Quem causou o caos foi você!_ Vanessa gritou ainda mais alto que Leandro._ Você se deitou com ele enquanto morava com o meu pai! Abandonou a sua família por causa de um qualquer! E mesmo descobrindo que ele era o amante do meu pai e que mentiu pra você, continuou mantendo esse verme na nossa vida! Por sua causa a nossa família foi exposta na mídia! Depois de tudo isso, você não teve vergonha na cara e fica trabalhando com esse sujeito como se nada tivesse acontecido!
"Pai, você já se esqueceu de todas as noites que passou chorando em desespero, e me pondo em desespero porque o meu pai estava te traindo com ele?! Você se esqueceu que esse sujeitinho infiltrou a Lorena na nossa casa e isso destruiu o casamento dos seus pais?"
_ Eu não me esqueci de nada disso. E tudo isso ainda me dói muito. Eu não tenho nada com o Abner e nem pretendo ter.
_ Ah, será mesmo?! Eu não sou idiota, Leandro. Eu vejo muito bem como vocês dois ficam de papinho como se nada tivesse acontecido.
_ Eu preciso trabalhar! Eu não sei se você sabe, mas nem todo mundo consegue dinheiro apenas abrindo a boca e pedindo para o papai.
_ Você tinha outras maneiras de conseguir dinheiro! Precisava ser com esse homem abjeto?! Você tem um marido rico, tá né merda porque quer!
_ Ah, por que eu quero?!
_ Sim. Porque quer! Na verdade você quer mesmo é uma desculpa para ficar perto do prostituto. Tanto que abriu uma livraria perto da confeitaria dele.
_ Eu não sabia que ele tinha uma confeitaria aqui!
_ Mentira sua! Eu não duvido nada que você fica se esfregando com ele na calada da noite. Você deveria se dar o respeito! É um homem casado, porra! Deveria fazer o correto que é voltar para a sua casa com o seu marido e a sua filha!
_ Já chega! Eu não vou mais suportar ser injustiçado dessa maneira inescrupulosa por você! Isso não é justo! Eu faço tudo por você! Mereço mais respeito!
_ Nenhum adúltero merece respeito! Nem você e nem o Júlio. Os dois erraram!
_ Não! Aí que você se engana! Eu não errei!
_ Errou sim. Você também traiu!
_ Quer saber? Você se acha muito adulta, é muito arrogante! Já passou da hora de saber a verdade sobre o seu amado paizinho! Eu não me separei do Júlio só por causa do Abner! O motivo foi que eu vivi durante anos um relacionamento abusivo com o seu pai!
_ Isso é mentira! Eu não vou ouvir isso._ Vanessa cobriu as orelhas com as mãos. Mas Leandro as retirou, e segurou com força nos seus pulsos.
_ Você vai ouvir sim! Eu errei muito em pintar o mundo de cor de rosa para a princesinha, mas isso acabou. Júlio não é essa flor de pessoa que você imagina. Ele é um homem cruel, manipulador, mentiroso e que sente prazer em me torturar psicologicamente!
_ Paraaaa!
_ Não vou parar! Você vai ouvir tudo. Júlio é um sádico. Ele me fazia sentir culpa pelo mal que me causava. Você sabia que tive que tomar calmantes e antidepressivos por causa dele?! Júlio sente prazer em me fazer mal.
_ Para, por favor.
_ Abner não foi o único e nem o primeiro. Júlio me traiu diversas vezes e não fazia questão nenhuma de disfarçar. Sabe pra quê? Para que eu me desestabilizasse e ele me acusava de histeria! Em diversas vezes, Júlio me manipulou de um jeito tão baixo, que eu cheguei a duvidar da minha sanidade mental. E tá pensando que ele é assim só comigo? Não! Júlio manipula todo mundo, inclusive você. Ah, ele não é desonesto só na vida privada não. Júlio subiu na vida com base de muitas falcatruas.
Vanessa soluçava de tanto chorar. Debatia-se querendo se libertar das mãos de Leandro.
_ Sabe por que eu hoje eu sou um João ninguém e estou na merda, como você gosta de dizer?! Foi por causa do Júlio que nunca pudi trabalhar.
_Ele fez isso porque que queria te dar uma boa vida.
_ Isso é uma mentira que ele me fez acreditar por muitos anos! A verdade é que Júlio sempre me pos pra baixo, ridicularizava tudo que eu me interessava. Eu me sentia um inútil ridículo. Ele me tirava o gosto pela vida. E não fez isso só no passado. Lembra da última vez que ele esteve aqui e brigou com o Abner? Lembra que fiquei dias arrasado e não conseguia sair do quarto? Fiquei naquele estado porque o Júlio me disse coisas horríveis! Ele me humilhou!
Leandro se afastou de Vanessa chorando.
_ O que mais me dói em tudo isso é ver no que você está se transformando. Vanessa, eu entendo todo o seu ódio pelo Abner. Você tem até razão de odia-lo, mas isso não te dar o direito de fazer o que fez! Eu não aceito que o Júlio te influencie dessa forma. Eu não vou admitir que você se torne como ele.
_ Eu não vou pedir desculpas para o Abner. Pode me ameaçar com o que for, mas eu não vou me rebaixar pra ele. E mais, se você se envolver com ele, pode esquecer que tem filha.
_ Vá no banheiro lavar esse rosto, que eu vou te levar pra casa. Eu não tenho condições emocionais de continuar essa conversa. Só digo que eu nunca fiquei tão decepcionado contigo como estou agora. Você acabou comigo assim como o Júlio fez durante todos esses anos.
_ Por que você nunca me contou tudo isso antes?
_ Porque eu queria te proteger. Vá logo, Vanessa. Eu não quero olhar na sua cara, não quero ouvir a sua voz. Só vou te levar em casa para garantir que chegue em segurança. Mas, por ora, só quero ficar longe de você.
_ Eu sou a sua filha! Não pode falar assim comigo.
_ Minha filha? Do jeito que se comporta com tanta crueldade, parece que é só filha do Júlio. Agora vá, quero me livrar o quanto antes da sua presença, ela está me fazendo mal.
Em Leandro doeu tanto dizer aquelas palavras o quanto em Vanessa por ouvi-las.
Pai e filha não trocaram uma palavra durante o percurso até a casa de Júlio. Vanessa, que se debruçava em lágrimas, Leandro tentava se controlar para não desabar.
Não houve beijos, abraços e palavras de despedidas, apenas um silêncio doloroso e um afastamento melancólico.
Assim que a jovem saiu do carro, Leandro se permitiu chorar, mantendo as mãos apoiadas no volante. Era como se uma tempestade desabasse dentro dele.
Abner percebeu que Leandro estava cabisbaixo, assim que esse chegou na livraria, se desculpando com todos pela sua breve ausência.
Retomou ao trabalho em silêncio, dali a poucas horas o evento literário começaria e os clientes chegariam, tinha que agilizar o máximo que pudesse. Abner se aproximou. Pousou a mão no seu ombro, num gesto solidário.
_ Eu sinto muito.
_ Podemos conversar no escritório?
_ Claro.
Patrícia estava confusa. Sabia que estava acontecendo algo, mas não sabia o que era. Seguiu os dois amigos com os olhos, até que esses subissem as escadas.
Desta vez, Leandro trancou a porta para que tivessem mais privacidade.
_ Abner, eu gostaria de me desculpar pela Vanessa. Eu gostaria de pedir que não fique com raiva dela. É só uma criança manipulada pelo Júlio. Eu sei que o que ela fez foi terrível e vergonhoso. Mas pra ela não está sendo nada fácil lidar com essa situação. Vanessa já presenciou muitas brigas minhas com o Júlio, ainda teve aquele episódio de você e ele brigarem aqui, o caso ir pra mídia. Isso tudo é muito complicado.
Por mais que Leandro tentasse reprimir o choro, não teve forças para isso. Sentiu muita vergonha por não conseguir controlar as lágrimas na frente de Abner.
_ Eu entendo tudo isso... Me dói muito te ver sofrendo desse jeito. Eu sei que eu tenho culpa nisso. Desde que entrei na sua vida só te fiz mal...eu não quero mais te ver sofrer. Eu daria a minha vida por você. Eu te amo muito
_ Abner, por favor isso não é hora de...
_ Só peço que me escute. Eu te amo demais e te ter ao meu lado seria a maior realização da minha vida. Mas eu prefiro sofrer do que te ver sofrer. Eu não quero mais te trazer problemas, por isso, estou desistindo de te reconquistar.
Leandro o olhou em silêncio, deixando as lágrimas caírem.
_ Eu vou te respeitar na sua decisão da nossa relação ser extremamente profissional. E assim que o meu contrato do aluguel da confeitaria terminar, eu vou abrir as portas do meu comércio em outro lugar. Isso vai me doer muito, mas eu não tenho mais o direito de estragar a sua vida.
_Tudo teria sido tão mais fácil se você não tivesse mentido pra mim. As coisas não precisariam chegar a esse ponto.
Abner já sentia as lágrimas se formarem e o coração pesando. Apesar de dizer tudo aquilo, o que desejava era abraçar Leandro tão forte para que nunca mais saísse de perto dele. No entanto, o sofrimento do amado o feria profundamente. Desejou muito ter o poder de tomar para si todas as dores de Leandro, para que esse pudesse sorrir em paz.
_ Com licença. Eu preciso retomar o trabalho.
_ Claro._ Leandro concordou, enxugando as lágrimas.
Abner foi até o banheiro, onde trancou a porta, sentou no chão abraçando os joelhos. Com a cabeça entre eles e o peito se permitiu chorar até soluçar, respirando com dificuldade. Perguntava-se se um dia aquela dor aguda se dissolveria.
_ O aconteceu?_ perguntou Patrícia assim que Leandro desceu as escadas.
_Depois eu te conto.
Alberto foi um dos primeiros a chegar, junto com a sua equipe para fiscalizar que estava tudo ok. Elogiou a ornamentação dos pequenos estandes temáticos de cada livro divulgado. Percorreu a parte gastronómica, que ficava na confeitaria, e se maravilhou com os mesas temáticas.
Ao ver Leandro o abraçou com o brilho nos olhos.
_ Está tudo tão perfeito! Agora só falta os clientes chegarem.
_ Eles não demorarão. A minha filha..._ Leandro sentiu o coração doer ao dizer a última palavra._ ficou responsável pela divulgação. Ela anunciou em vários perfis literários e com os amiguinhos do antigo colégio.
Leandro estava muito triste por Vanessa não está ali.
_ E cadê o Abner?
_ Eu não sei. Deve estar agitando alguma coisa por aí.
_ Vocês dois formam uma ótima dupla...eu até arriscaria a dizer um ótimo casal.
_ Nós não somos um casal, Alberto.
_ Nenhuma chance de isso acontecer?
_ Nenhuma._ Leandro respondeu tentando conter a tristeza.
_ Que bom! Quem sabe posso ter esperanças? Seria um prazer te dar prazer.
Leandro o olhou com espanto. Jamais cogitou que Alberto também fosse gay e que estaria interessado nele. Sorriu para Alberto incrédulo do que ouvia.
_ Pelo menos posso ter um pouquinho de esperança? Sei que não sou tão jovem e bonito quanto o Abner, mas sei fazer um homem feliz.
_ É...quem sabe?
Alberto sorriu.
Leandro sentiu um alívio imenso ao ver Valéria chegando com os ex colegas de trabalho. Era uma desculpa perfeita para sair daquela situação.
_ Com licença, Alberto. Chegaram os nossos primeiros clientes.
Ele se afastou. Cumprimentou a todos com abraços e beijos. Recebeu diversos elogios.
_ Amiga, vem aqui._ disse a Valéria, dando o braço a ela e se afastando do grupo.
_ Você não vai acreditar de quem eu levei uma cantada.
Valéria o perguntou com o olhar.
_ Do Alberto.
_ O dono da editora?!
_ Esse mesmo! Ele é gay!
_ Isso eu já sabia. Vi muito bem o jeito que ele olhava pra você e o pro Abner....acho que tem fetiche em vocês dois...o que eu não julgo._ Valéria disse mordendo o lábio inferior.
_ Ele me cantou na cara dura! Em plena luz do dia!
_ Eu ouvi dizer que o Alberto tem uma lancha.
_ Só não podemos chamá-lo de cabeça branca, porque cabelo ele tem._ Leandro disse rindo.
_ O importante é a cabeça de baixo.
_ Será?! Ele tem jeito de passivona.
_ E é. Eu conheço um cara que trabalha com ele e eles já foderam. Experimenta, Bijuzinho. Varía um pouco o cardápio.
_ Ah não dá não, amiga. O meu negócio é pau...e de preferência beeem grande.
_ Huuum, gulosa ela!
_ Sempre._ Leandro disse piscando um dos olhos.
A composição estava completa quando Leandro viu o evento literário criar vida. Muitas pessoas circulavam pela livraria e confeitaria empolgados com os estandes. Os livros que tanto amavam estavam em mãos alegres. Autores se apresentavam falando de suas obras, ilustradores contavam suas experiências diante de olhares atentos.
Era um público diverso. Blogueiras e blogueiros registravam e transmitiam tudo pelos smartphones, professores acompanhados de seus alunos lotavam o espaço junto com os outros tipos de leitores. Amigos e parentes também vieram prestigia-lo.
Marcinha se aproximou de Leandro. Estava acompanhada de Pedro e outros jovens. Perguntou por Vanessa.
_ Ocorreu um imprevisto e ela teve que ir pra casa. _ Leandro respondeu tentando esconder a tristeza.
_ Que vacilona! Eu só vim por ela. A Vanessa me perturbou para poder vir. Nem gostar de ler eu gosto...com todo respeito, seu Leandro._ lamentou Pedro.
_ Ah, Pedro, precisava dizer isso? Ninguém precisa saber que você é um ignorante.
_ Eu não sou ignorante, Marcinha, sou sincero.
_ Bom, espero que fiquem a vontade. Mas eu preciso ir resolver algumas coisas.
Leandro se despediu dos jovens, se afastando. Como estava entediado, Pedro pegou o celular para navegar na internet. Mas o seu aparelho quase foi ao chão, quando Marcinha deu um grito.
_ Eu não acreditooooooo! O livro da Colleen Hoover! Aaaaah! Eu querooooo! Agora a minha coleção está completa._ Marcinha tomou nas mãos o livro Cinderela em busca da perfeição.
_ Eu hein, garota doida! Precisava dessa histeria toda só por causa de um livro?
_ Cala a boca, Pedro.
Foram três dias de eventos, que ocorreram melhores do que Leandro esperava. Recebeu muitos elogios dos clientes e Alberto. E pelo que contabilizava por alto, as vendas tiveram um número satisfatório.
No terceiro e último dia recebeu a visita inesperada. Apesar de Beatriz ter dito que André compareceria, mas se passou três dias e nada do homem. Leandro chegou a acreditar que os ex-amigo desistiu da visita. Contudo, se espantou ao vê-lo entrando na livraria com um sorriso gentil.
André sofreu muitas mudanças com o decorrer do tempo, apesar de ter somente trinta e três anos, aparentava ter uns trinta e oito. Estava um pouco mais acima do peso, apresentando uma pequena elevação da barriga. Na juventude, André cortava o cabelo muito curto, descartando todos os cachos escuros, que agora ele não fazia questão nenhuma de ocultar. Os pelos dominaram mais o seu corpo, deixando crescer um pouco a barba e um leve bigode. Os olhos ainda possuiam a mesma vivacidade de antes.
Sentindo o coração se aquecer de alegria, Leandro se atirou em seus braços sem pensar. Não se importou nenhum um pouco com os olhares em sua direção. André retribuiu o abraço, segurando o seu rosto com as duas mãos e dando um beijo duradouro na testa.
_ André! Quanto tempo! É tão bom te ver!
_ É incrível como os anos só te favoreceram, Leandro. Você está ainda mais lindo do que foi há anos atrás!
_ Não precisa mentir, André. Eu sei que estou horroroso. Estou exausto, pele ressecada e uma olheira pavorosa.
_ Que nada! Você está cansado, Leandro. Está precisando relaxar. A minha mãe me deixou como herança a casa de Búzios. Lembra dela?
_ Lembro sim. A casa era tão linda! Passamos muitos fins de semana e férias lá. Bons tempos.
_ Então sinta-se convidado para passar um fim de semana lá comigo. Só nós dois relaxando. Prometo que vou fazer de tudo para que sejam os melhores dias da sua vida.
Leandro o olhou pensativo. Estava tão exausto e triste que viu naquela proposta uma boa oportunidade de evasão.
_ É...por que não? Afinal eu mereço um pouco de descanso.
André sorriu, mordendo o lábio inteiro, esperou tantos anos por aquela oportunidade.
Do outro lado da livraria, Abner os observava com a cara fechada, sendo devorado pelo ciúme.
_ Você fez um ótimo trabalho por aqui, Leo. Isto aqui tá bombando!
_ Obrigado. Fico muito feliz que você veio. Quero que se sinta a vontade.
_ E como vão todos? A dona Ângela e o seu Genaro...e a Val, ainda te chama de Bijuzinho?
Leandro confirmou com a cabeça sorrindo.
_ Valéria não mudou nada.
_ Isso eu já sabia. Da última vez que a vi em Nova York, ela continuava a mesma maluquete da juventude.
_ Ainda bem. Eu amo o jeito dela. Os meus pais estão bem.
_ Eu soube que se estão se separando, que pena.
_ Foi melhor pra ambos.
_ Quem diria que você não se formou em Direito. Você sempre foi o mais inteligente da turma. Eu jurava que você seria um grande advogado. Mas acabou se casando com um grande advogado.
Leandro não gostou de Júlio ter se tornado parte do assunto. De hipótese alguma queria falar sobre o ex marido ou casamento.
_ Eu soube que vocês adotaram uma menina...a Vanessa, esse é o nome dela?
_ Sim. É uma menina linda! Veja._ Leandro retirou o celular do bolso e mostrou a foto de Vanessa que estava no protetor de tela.
_ Ela é muito bonita mesmo! Tem quantos anos?
_ 16._ Leandro respondeu com orgulho, sem tirar o sorriso ao olhar a foto.
André falou um pouco da sua vida. Depois que se formou em administração, viajou para os Estados Unidos nas férias e conheceu Stuart, um jovem corretor de ações, que trabalhava em um dos prédios da Wall Street. Depois de alguns meses de um namoro apaixonado, os dois decidiram se casar, e André se mudou de vez para os Estados Unidos.
O casamento durou dois anos, mas André permaneceu em território americano desde então, contando mais quatro casamentos e diversos casos e namoros.
O último casamento com um modelo dez anos mais jovem terminou há três meses. Na vida profissional André se especializou em gestão empresarial, fez alguns investimentos na bolsa de valores o que lhe rendeu uma pequena fortuna. Nós últimos anos, tornou-se coasch empresarial, obtendo muitos alunos no seu curso online (a maioria brasileiros) e escrevendo um livro de auto-ajuda, que foi o seu best seller.
André se sentiu muito ofendido quando percebeu que Leandro não conhecia o seu trabalho.
_ Eu sinto muito. É que a minha vida é tão corrida, que quase não tenho tempo para redes sociais._ Leandro se desculpou ao desconhecer que André era famoso nas redes sociais, contando com mais de 220 mil seguidores e uma conta verificada.
André se orgulhava muito da fama que conquistou e isso o alimentava demais o seu ego. Mas, resolveu não demonstrar a sua decepção. Sabia que Leandro e Júlio não estavam mais juntos. E sentia o desejo pulsar para levar Leandro para cama, desejo esse que tem desde a adolescência e nunca conseguiu satisfazer.
_ Não se preocupe. Eu entendo perfeitamente que você não está inteirado no mundo dos negócios. Mas deveria. Afinal, você agora é um empresário.
_ Você tem razão. Eu confesso que preciso entender um pouco mais de gestão empresarial. Conhecimento nunca é demais.
André segurou em sua mão, a acariciando. Gostava de sentir a pele macia e imaginou aquela mão no seu membro, que endureceu no mesmo instante.
_ Pode deixar comigo. Eu te explico tudo sobre o assunto.
Leandro sorriu, agradecido. André o puxou para mais um abraço. Foi apoiando a cabeça no ombro de André, que Leandro percebeu que Abner o olhava com raiva. Mesmo com a expressão imóvel, Leandro se sentiu feliz por ter despertado o ciúme do jovem.
Fernanda entrou na livraria buscando Lurdes com os olhos. Ao vê-la, sorriu e acenou.
Lurdes se radiou de felicidade. Via em Fernanda a luz no fim do túnel. Estimava a moça e desejava muito que fosse a sua futura nora.
De imediato, foi ao encontro da jovem e a abraçou.
_ Que bom te ver, querida!_Lurdes disse a olhando sorrindo.
Desde que soube desse evento, Lurdes não se deu por satisfeita com o fato de Abner trabalhar com Leandro. Temia que isso enfurecesse Júlio e que esse se vingasse do seu filho. Como solução, convidou Fernanda, para que assim pudesse aproximar os dois.
Lurdes não exitou em mostrar Fernanda a Abner.
_ Seja muito bem-vinda! Quero que fique a vontade._ Abner a cumprimentou com um abraço apertado e dois beijos no rosto. Ele sabia que Leandro os observava e queria dar o troco por causa de André.
Leandro se esqueceu de tudo e só mirava os dois. No fundo, ele se sentiu feliz por usar André para provocar ciúmes em Abner, mas não estava gostando nada de receber o troco.
_ Bonita ela né?_ Patrícia perguntou rindo do ciúme de Leandro, que estava estampado em seu rosto.
Ao notar a presença de Patrícia, Leandro se recompôs, deixando a expressão mais leve, na tentativa de disfarçar o ciúme.
_ Sim. Ela é muito bonita mesmo. Quem é?
_ É a futura namorada do Abner....segundo o desejo da dona Lurdes.
_ Que bom. Espero que sejam felizes._ mentiu Leandro.
_ Pare de bancar o evoluído, Leandro. Eu sei que você está se comendo de ciúmes.
_ Não diga bobagens, mulher. Eu não estou com ciúmes coisa nenhuma. Nem tenho motivos para isso. Abner não é nada meu.
_ Mas pode ser. Do jeito que ele é louco por você, eu garanto que ele manda aquela piriguete pro espaço e vai parar na sua cama rapidinho.
_ Você se esqueceu de tudo que ele me fez?
_ Ah ainda essa história! Leandro, o cara levou um tiro por sua causa, comprou uma briga feia com o Júlio pra te defender, o que mais você quer que ele faça para provar que te ama?
_ Você sabe que sou uma pessoa problemática.
_ E você vai deixar a pirralha da Vanessa e o cretino do Júlio te impedirem de ficar com o homem que você gosta? Porque nem adianta negar, dizer que não gosta do Abner, porque a mim você não engana.
_ Abner quer se afastar de mim. Disse que não quer mais me causar problemas. Eu acho que é melhor assim.
_ Isso não é justo! Leandro, você tá deixando a sua filha e o seu ex marido ditarem na sua vida. A Vanessa transa com quem quer e nem liga que isso te incomoda. O Júlio já está até namorando. Homem do céu, tome as rédeas da sua vida.
_ Patrícia, eu não vou voltar atrás na minha decisão.
_ Então, fique aí as moscas, e assistindo a Lurdes empurrar aquela moça para o Abner. Bonita ela é, e ele não é de ferro. O cara tá há meses sem transar, se guardando pra você. Tomara que ele não se aguente por muito tempo e trace a bonitinha. Você fica aí chupando dedo.
_ Iiiih! Você tá chata, hein! Tá parecendo a Valéria me dando esporro. Eu vou cuidar da minha vida, que é o melhor que eu faça.
Leandro se afastou de Patrícia retornando ao trabalho.
_ Filho, a Fernanda está a procura de um novo emprego. Eu pensei de ela trabalhar conosco lá na confeitaria. O movimento está aumentando e na certa vamos precisar de mais funcionários._sugeriu Lurdes.
_ Por mim, tudo bem. Você tem experiência como balconista?
_ Tenho sim. Trabalhei durante três anos numa confeitaria lá do centro da cidade. Se quiser, podemos marcar um dia e eu te mostro a minha carteira de trabalho.
_ Você se incomoda de começar segunda?
_ Não! De maneira alguma. Fico muito feliz mesmo que vai me contratar, você não tem noção do quanto estava precisando trabalhar. Muito obrigada, Abner. De coração.
Fernanda o abraçou novamente, demonstrando gratidão.
....
O ambiente estava vazio. Só restavam alguns papéis pelo chão, louças descartáveis e uma bagunça que Leandro não se importou em ter que organizar depois. Estava satisfeito demais com o resultado do evento literário.
Junto com Abner, estava sentado á mesa do escritório contabilizando as vitórias financeiras obtidas.
_ É...pelo jeito a livraria prosperou muito com esse evento. Nem acredito que dei conta! Logo eu, que perdi o sono por causa disso._ Leandro disse com os olhos brilhando de felicidade.
_Espero que você se lembre disso e nunca mais permita a ninguém que te diga que não é competente.
Leandro sorriu com o canto da boca. Apesar de tudo, gostava da forma como Abner o fazia enxergar o próprio valor. Ainda era difícil para ele se ver como um ser humano digno de respeito, já que passou anos sendo levado a creditar que não possuía nenhuma qualidade além da sexual.
_ Nós formamos uma belo dupla. O Alberto gostou muito do nosso trabalho, o que é muito bom. Vai que rola outros?
_ Se isso acontecer, o melhor a fazer é recusar. Precisamos manter a distância.
Leandro se sentiu mal ouvindo aquilo. Abner disse com dureza. Estava ressentido pelo ciúme de André.
_ Tudo bem...se é o que você quer. Mas você não precisa sair daqui da rua quando o seu contrato acabar. O ponto é bom. Nós podemos ser profissionais.
_ Eu não acho uma boa ideia, Leandro. Eu não quero te causar nenhum mal e muito menos atrapalhar a sua vida, mas não sou de ferro. Te ver vai me machucar.
_ Eu sinto muito que as coisas tenham chegado a esse ponto._ Leandro estava tentando domar o próprio choro._ Se ao menos você tivesse me contado a verdade.
_ Você não me perdoaria do mesmo jeito.
Leandro abaixou os olhos em direção ao chão.
_ Eu não consigo lidar com o fato de que você foi pra cama com o Júlio e muito menos que houve sentimentos entre vocês.
_ Pelo visto o seu ciúme do Júlio ainda está bem vivo.
Leandro o olhou no mesmo instante.
_ Não é do Júlio que tenho ciúmes. É de você.
Eles se olharam por alguns segundos sem emitirem nenhum som.
_ Bijuzinho, vem logo, o André tá te esperando e...
Valéria entrou na sala como um furacão, estava tão distraída que imaginou que Leandro estivesse só. As palavras sumiram de sua boca ao perceber a presença de Abner.
_ Ah você tá aí?_ ela disse com desdém.
_ Eu já vou indo. Afinal o André não pode esperar._ Abner pronunciou as palavras expressando nojo. Saiu do escritório às pressas, estava dominado pela raiva e tristeza.
Leandro o seguía com os olhos melancólicos.
_ Bijuzinho, o que você sente por ele?
_ Pelo Abner? Nada.
Valéria o encarava de um jeito que o deixou desconcertado.
_ O que foi? Pare de me julgar, Valéria!
_ Vai continuar mentindo pra mim, Leandro?
_ Vou. Não quero que você me chame de burro.
_ Não vou te chamar de burro. Eu até te entendo.
_ Entende?
_ Claro. Os melhores pintos têm os piores donos. Mas isso não significa que deva fraquejar. Seja forte.
_ Eu estou tentando. Estou tentando.
Valéria percebeu a tristeza de Leandro. Sentou ao seu lado e o abraçou.
_ Por que a vida tem que ser tão complicada?
_ Nada que é ruim é eterno, meu amor.
_ Eu tenho tanto medo que o Júlio faça algo contra ele.
_ Do Júlio se pode esperar tudo. É sempre bom ficar alerta. Mas me diz uma coisa, Bijuzinho...e nem adianta mentir pra mim, que você sabe que eu te conheço.
Valéria fitou no fundo dos olhos de Leandro, não lhe dando nenhuma chance de mentir ou de desviar o olhar.
_ Você ainda gosta do Abner?
Leandro abaixou a cabeça, e ficou em silêncio por alguns segundos.
_ Me responde, Leandro._ ordenou Valéria.
_ Ele ainda mexe comigo...mas não me orgulho nem um pouco disso.
_ Não é para se orgulhar mesmo não. Você não pode esquecer que esse homem mentiu pra você e dormia com o seu marido.
_ Eu sei disso. E não quero mais falar neste assunto. Tenho coisas mais importantes para me preocupar. Como a Vanessa por exemplo.
_ O que tem a Vanessa?
Leandro narrou todos os últimos acontecimentos. Enquanto ele dizia cada palavra aflito, Valéria o ouvia com atenção.
_ Eu não gosto nada do que a minha filha está se tornando. Mesmo ela não tendo nenhum um pingo do sangue do Júlio, está tão manipuladora quanto ele.
_ É a convivência.
_ Eu queria tanto poder ter a guarda dela só pra mim. Quero muito deixar a Vanessa bem longe da influência do Júlio.
_ Aí você já tá querendo demais, Leandro.
_ Eu sei.
_ Bom, mudando de assunto, você vai mesmo viajar com o André?_ Valéria perguntou empolgada.
_ Vou sim. Eu preciso de um pouco de descanso.
_ Huuuum! Vai botar essa piroca pra gozar, hein.
Leandro sorriu de um jeito sacana.
_Finalmente vai sentir o gosto do pau do André.
_ Bom...eu já senti uma vez.
_ Sério?! Por que você nunca me contou isso, vagabunda?
_ Ah faz muito tempo! Antes de eu namorar o Júlio, eu e André nos pegamos. Aí rolava uma mão ali, outra aqui, um chupava o outro.
_ Mas o Júlio não foi o seu primeiro?!
_ Sim. Foi. Porque, na época, o André tava nessa de não querer dar de jeito nenhum. Ele queria muito me comer. Numa dessas pegações, nós ficamos empolgados e André fez a proposta. Mas ele fez isso, se roçando em mim, com o pau já melado.
_ Ai que delícia!
_ Aí, nós estávamos numa barraca, num acampamento da escola. Ninguém se lembrou de levar o lubrificante. Ele queria usar só a saliva e o preservativo. Menina, quando foi entrando, eu senti uma dor insuportável. Parecia que tava enfiando uma faca em mim. Com isso, eu desisti e o André ficou puto. Rolou uma breve discussão e depois disso, eu sempre fugia da hora H.
_ Do André você fugia, mas para o cretino você deu de primeira.
_ Ah, amiga, eu estava apaixonado de verdade. E Júlio, na época, era mais gentil que hoje. E também tinha mais experiência... aí rolou. Mas eu me arrependo muito. Acho que se tivesse ficado com o André eu não viveria o inferno que vivi.
_ É...pode ser...talvez. Nunca se sabe. Mas chorar pelo leite derramado não adianta nada. O negócio é aproveitar o presente, Bijuzinho.
_ Eu sinto falta de ter alguém, sabe? Às vezes é bom ficar sozinho. Mas às vez, chego no meu apartamento a noite e gostaria de ter uma boa companhia a minha espera. Alguém com quem conversar sobre os nossos cotidianos, jantarmos juntos, assistirmos TV de mãos dadas e dormirmos de conchinha. Não quero ter algo intenso e ruim como tive com Júlio. Quero um amor tranquilo, daqueles que aquecem o coração e faz brotar nos lábios um sorriso só de pensar na pessoa amada. E também não sou de ferro. Eu gosto de muito de sexo. É bom ter um homem disponível.
Enquanto falava, Leandro pensava em Abner. Lamentava que ele não era o Dimitri que conheceu e se apaixonou, por seus planos de viver ao lado do cozinheiro não tivesse obtido sucesso.
_ Mas quanto a isso, você está na seca porque quer. Bonito desse jeito, o que mais tem é macho louco por você.
_ Mas amiga, eu não sou assim. Nada contra quem faz, mas eu não curto muito esse negócio de sexo casual. Eu gosto mesmo é de fazer amor. Gosto da conexão de corpos e sentimentos, de me sentir amado e dar amor.
_ E você acha que o André será essa companhia? O cara coleciona homens.
_ Se rolar rolou, se não, tudo bem. Mas vou dar uma chance sim.
_ Então, se joga, meu amor. Se tem uma coisa que você merece é ser feliz.
Um sorriu para o outro de um jeito carinhoso. Leandro a abraçou forte, beijando a sua testa.
_ Eu te amo, mulher.
_ Eu também te amo, minha vida.
Valéria o lembrou que André os aguardava. E os dois amigos saíram da sala de mãos dadas.
...
Marcinha se sentiu com intimidades o suficiente para entrar no quarto de Vanessa sem bater. Olhava para amiga desapontada.
_ Por que você furou com a gente? Geral tava te esperando lá na livraria do seu pai.
Vanessa a olhou com os olhos inchados de tanto chorar. Mesmo depois de cair no sono a expressão do choro ainda era visível. Contou com detalhes tudo o que aconteceu.
_ Meu deus!_ Marcinha se espantou, pondo a mão na boca._ Mas por que você fez isso?
_ Porque eu queria tirar aquele traste da vida do meu pai! Ele acabou com a minha família!
Eu não vou querer mais ver o Leandro se eles dois ficarem juntos.
_ Vanessa, eu até entendo a sua raiva. Eu no seu lugar ficaria puta com a amante do meu pai, caso ele tivesse uma, mas não é justo você colocar o Leandro contra a parede. Se ele te disse que não tem nada com o Abner, talvez realmente não tenha.
_ O que mais me deixou cabreira foi o que ele falou sobre o meu pai Júlio.
_ Você acredita que o Júlio é tóxico?
_Eu não sei...as vezes eu não acredito, outras vezes fico confusa. O meu pai Leandro sofria muito quando eles eram casados...mas o meu pai Júlio fazia tudo por ele...ah eu tô tão confusa, amiga.
_ Só há um jeito de a gente descobrir.
_ Eu pensei em botar o meu pai Júlio contra a parede e...
_ Não! Tá doida, Vanessa? Botar o Júlio contra é inútil. Se ele for tóxico, não vai assumir. E sem contar que você só vai causar mais intriga entre os dois.
_ E o que devo fazer?
_ Temos que investigar. Aaah isso vai ser tão legal! Como Sherlock e Watson...eu quero ser Sherlock.
_ Deixe de palhaçada, Márcia. Isso aqui é vida real.
_ Então, só há duas pessoas que podem confirmar tudo isso. Uma é o Rubens, já que é praticamente o braço direito do Júlio. Mas, ele não vai abrir a boca, porque além de amigo é funcionário do Júlio e tem muito a perder, caso dê com a língua nos dentes. A outra pessoa é a Lorena. Como ex secretária ela sabe muitas coisas. É mais fácil ela dizer, já que está com raiva do seu pai.
_ Aquela mulher é uma vagabunda mentirosa. E se ela mentir?
_ A gente colhe os dados e confirma na prática.
....
Era a primeira vez que Vanessa ia a casa nova do avô. Foi convidada diversas vezes por ele, mas enrolava o máximo que podia.
A desculpa que deu para a sua aparição foi o falso interesse em conhecer a casa, que Genaro a mostrava com gosto.
_ O que achou, minha querida?
_ Muito bonita, vovô. Eu estava pensando em dormir aqui hoje. Tem algum problema?
_ Claro que não, meu anjo. Nesta casa você sempre será bem-vinda._ Genaro disse, dando um beijo em sua testa.
Vanessa tinha acabado de chegar. Vestia um short jeans cintura alta, um cropped branco, nos pés os tênis ALL star e o cabelo se encontrava preso num coque no alto da cabeça.
_ Onde eu vou dormir? Preciso pôr essa mochila num lugar e trocar de roupas.
_ Fica no segunda porta a esquerda._ Lorena respondeu com má vontade. Não estava nem um pouco a fim de aturar Vanessa.
_ Você me pode me acompanhar até o quarto, Lorena?
_ Por quê? Você não é tonta de se perder aqui dentro de casa.
_ Que isso, Lorena?! Precisa falar com essa grosseria toda com a menina?
_ É só quero te fazer umas perguntas...coisa de mulher sabe? Eu não tenho nenhuma presença feminina na família...talvez você possa me ajudar.
_ E a cascavel da Angela?_ Lorena perguntou desconfiada.
_ Lorena, nós fomos amigas, eu confio mais em você do que nela...a minha avó é toda antiquada.
_ Meu amorzinho, vá lá conversar com a menina. Quem sabe vocês se entendem?
Lorena a acompanhou com má vontade. Ela não confiava na falsa gentileza da menina.
Ao entrarem no quarto, Lorena trancou a porta. Olhou com firmeza para Vanessa apontando o dedo indicador.
_ Olha aqui, garota, nem venha de armação pra cima de mim, que eu não sou idiota. O meu pai já me deu o papo do que você tentou fazer com o Abner, mas comigo isso não vai dar certo.
Vanessa jogou a mochila em cima da cama e cruzou os braços, encarando Lorena de um jeito desafiador.
_ Pode abaixando a crista, que sua marra não me assusta em nada. Eu não quero armar nada. Tô pouco me fodendo pra você. Só quero saber umas coisinhas sobre o meu pai Júlio.
_ Que coisas?
_ Eu soube que ele teve outros amantes além do Abner, isso é verdade?
Lorena sorriu. Sentou na cama, cruzando as pernas. Ela conhecia Vanessa, sabia que se a menina soubesse da verdade poderia ser uma pedra no sapato de Júlio e Lorena adoraria poder se vingar do ex patrão.
_ Senta aí, moleca, que a conversa vai ser longa.
Vanessa sentou desarmada. Sentia que o coração bater tão forte, que ardía no peito. Por mais que quisesse saber a verdade, temia a ela. Não era nada fácil lidar com o fato de que Júlio não era o homem maravilhoso que ela idealizou durante todos aqueles anos.
_ Você quer saber se o seu pai tinha amantes? Meu bem, ele colecionava amantes. Era um diferente por semana. E todos jovens. O mais "velho" que ele comia era o seu paizinho Leandro. E olha que ele me contava detalhes, se gabava de comer geral. Dizia com o peito estufado "Eu sou o ativo que passo o rodo em geral."_ Lorena disse a última frase engrossando a voz simulando uma masculina.
Vanessa havia se arrependido de ter feito aquela pergunta. Ela nunca soube os papeis que cada um dos pais excercia na cama e aquela revelação era muito desconfortável para ela.
_ Menos na baixaria.
_ Uh, é! Não é você quem quer saber? Papais transam, meu bem.
_ Lorena, continua, mas sem os detalhes sórdidos._ ordenou Vanessa.
Lorena sorria satisfeita.
_ Eram vários homens. Uns ele conhecia nos aplicativos, dava umazinha e caia fora, outros ele conhecia nas esbórnias da vida, outros eram garotos de programa que eu mesma entrava em contato pra ele e reservava os motéis...outros eram das festas de orgia que o seu paizinho participa. Sabe aquelas noites que ele mentia pra você e pro Leandro que estava viajando a trabalho? Então, estava fodendo.
Lorena se satisfazia ao ver a expressão de tristeza de Vanessa, se sentia mais empolgada para prosseguir.
_ Em uma dessas "viagens de negócios", Júlio levou o Abner para a casa de Angra de vocês. E os dois foderam loucamente na mesma cama em que ele dormia com o Leandro.
Nessa hora, Vanessa sentiu tanta raiva que urrou, socando a cama.
_ Ah, mas não fique achando que o Leandro é um coitadinho. Lembra naquela noite em que você dormiu na minha casa? Então, o Leandro botou o Abner na casa de vocês e fodeu na cama do Júlio._ Lorena soltou uma gargalhada estridente._ Que casalzinho sacana heim!
Vanessa respirava fundo, o peito vermelho subia e descia devido a respiração ofegante.
_ Sabe? Enquanto o seu papai Leandro chorava em casa como uma mulher estapiada, o Júlio se divertia comendo outros homens num apartamento que ele comprou no seu nome.
_ Que apartamento?
_ O apartamento que ele pôs o Abner para baixar o facho do amante. Júlio é um mentiroso. Ele mentia pro Abner dizendo que largaria a "primeira dama" para se casar com ele. E você acredita que o idiota acreditou? Bastou Júlio falsificar um documento dizendo que o apartamento era do Abner e tudo estava resolvido. Mas com a treta dos dois, Abner foi expulso de lá com uma mão na frente e outra atrás.
_ Você pode me dar o endereço desse apartamento?
_ Claro...com todo prazer._ Lorena disse sorrindo, mordendo o lábio inferior.
Vanessa pertencia ao grupo dos adolescentes privilegiados que aos 16 anos já tinha o próprio carro. Por mais que Júlio a ensinou a dirigir desde os 13 anos, nos fins de semana que passavam no sítio da família, ela era proibida pelos pais a pegar no volante na cidade grande. Por esse motivo tinha a sua disposição uma motorista particular.
Sem o conhecimento de Júlio, Vanessa a dispensou naquela tarde. Junto com Marcinha foi dirigindo até o prédio onde Abner morou para colher informações.
_ Isso é tão excitante, Vanessa. Ah! Nós podemos fazer igual nas novelas e comprar as informações do porteiro com dinheiro.
_ Nada disso. Nós somos jovens e lindas podemos conseguir o que quisermos._ Vanessa afirmou piscando um dos olhos e saiu do carro em seguida.
Ambas usaram suas graciosidade para impresionar o porteiro, um homem de meia idade, que se viu deslumbrado com a beleza e charme das meninas. Mesmo sabendo que seria impossível para um homem como ele conseguir tocar em meninas tão lindas, se conformou em passar um tempo conversando com as jovens.
Em meio ao assunto, Vanessa conseguiu a informação que buscava, ao mostrar as fotos de Abner e de Júlio, o porteiro confirmou que o jovem cozinheiro residiu em um dos apartamentos.
_ Mas esse morou por pouco tempo. O doutor é que sempre veio aqui.
_ Ele vinha só?_ Vanessa perguntou, sentindo um nó se formar na garganta. Estava apavorada com a nova face de Júlio que estava descobrindo.
_ Ele sempre estava acompanhado de uns outros caras. Creio pra mim... cá entre nós, que ele seja meio._ o porteiro desmunhecou para dizer que Júlio era homossexual.
Vanessa sentiu as pernas bambas naquele momento. Não havia como negar, Júlio não era o homem decente que ela sempre acreditou que fosse.
Marcinha percebeu que as lágrimas já se formavam nos olhos da amiga e encerrou o assunto, a levando de volta para o carro.
Dentro do veículo, observava Vanessa cair em prantos, sentindo pena da amiga.
_ Amiga, fique calma.
_ Ele não tinha o direito de fazer tudo que fez! Por que, Marcinha? Ele tinha um ótimo casamento, um marido maravilhoso, a vida financeira que sempre desejou...por que foi se misturar com outros caras? Por que fez tanto mal ao Leandro?
Marcinha não sabia o que responder e a abraçou com força, como forma de consolo.
....
Os dias passavam e Vanessa estava cada vez mais ausente da vida dos pais. Nunca atendia as ligações de Leandro, ou respondia mensagens. Fazia questão de vizualizar e não responder, o que deixava Leandro arrasado.
_ Deixa essa garota pra lá, Leandro. Ela não te merece como pai._ Patrícia aconselhava. Estava revoltada ao ver o quanto Leandro estava chateado com a rejeição da filha. Ele estava muito preocupado com a saúde mental de Vanessa. Mas decidiu respeitar o espaço da filha e não ligou mais. Apenas mandava poucas mensagens, que nunca foram respondidas.
Para não ver Júlio, ela passava a maior parte do tempo na casa de Marcinha.
Ao acordar, fazia questão de pedir que o seu café da manhã fosse servido na cama, para evitar olhar para Júlio. Na hora do jantar, tomava a mesma atitude.
Durante os fins de semana, não ia mais a casa de Leandro. Inventava sempre uma desculpa para ir a outro lugar que não fosse a casa de Leandro. Passava mais tempo no sítio com os amigos da antiga escola.
Júlio percebeu o distanciamento da filha. E numa certa noite, entrou em seu quarto.
Quis abraça-la, mas ela se negou. Com frieza, pediu para que ele saísse do quarto, que ela estava com muito sono.
Assim que Júlio se retirou, Vanessa caiu no choro baixinho, abraçando um ursinho de pelúcia. Para ela era doloroso demais saber que o seu querido pai não era o marido amoroso que ela acreditou que fosse. Era inaceitável pensar que o homem que a ensinou andar de bicicleta, que sempre a dava um beijo de boa noite era um abusador.
Lembrou-se de quando era pequena, se animava toda quando Júlio chegava do trabalho. Com os pequenos bracinhos abertos, corría em sua direção e era posta no colo, recebendo um beijo acolhedor na bochecha. Júlio sentava na poltrona com ela nos braços. Vanessa o olhava com admiração, segurando na sua gravata e desejando ser um dia uma boa advogada como o pai.
_ A super garra vai pegar a neném!_ Júlio dizia retorcendo a mão em direção a barriguinha da menina.
_ NÃaaaao!_ Vanessa gritava com a voz infantil e animada. Adora receber as cócegas do pai.
Em meios as lágrimas, recordou das vezes em que presenciou Leandro ter crises de nervoso. As discussões entre os dois aconteciam com as portas fechadas e ela quase nunca tinha acesso. Sentiu raiva de si mesmo por não perceber o motivo que deixava Leandro daquele jeito. O ódio se desviou para Leandro por esse ter escondido dela tudo o que estava acontecendo, deixando que ela acreditasse que Júlio fosse uma pessoa que ele não era.
Em seguida, a raiva foi destinada a Júlio, por ter sido o causador de tudo isso.
Como não conseguia dormir, levantou da cama e pegou o notebook, que estava na mesa de estudos que ficava em frente a cama. Sentou na cama com as pernas cruzadas e pôs o notebook em cima delas.
No Google digitou "relacionamento abusivo" e clicou em alguns sites que falavam sobre o assunto. Na maioria deles se referiam a relacionamentos heterossexuais, os quais as mulheres eram vítimas de seus parceiros. Apesar disso, não viu em seu pai muitas diferenças entre os abusadores héteros.
Decidiu pesquisar por "Relacionamento abusivo gay". Clicou em um vídeo em que um rapaz narrava a sua experiência e a dificuldade de sair de uma situação abusiva, falou dos seus traumas e de como estava fazendo para superar.
Depois de assistir alguns vídeos, Vanessa pesquisou se havia cura para uma pessoa abusiva e mentirosa, mas nada encontrou, o que a deixou frustrada.
A luz solar invadia o apartamento pelas paredes de vidro. Era um domingo ensolarado e Júlio decidiu levantar um pouco mais cedo para jogar vôlei na praia do Leblon com os seus amigos.
Espantou-se ao encontrar Vanessa na sala da casa. Ela vestia um biquíni preto e uma saída de praia de crochê azul. Carregava nas costas uma mochila de pano.
_ Uh, é! Tá aí, meu amor? Pensei que já tivesse ido para a casa do Leandro.
Júlio a abraçou e beijou no rosto. Vanessa apenas o olhava decepcionada.
_ Eu vou pra casa do meu avô. Vai ter churrasco lá.
_ E por que não vai pra casa do seu pai? Aconteceu alguma coisa, minha princesa? Você anda tão diferente.
_ Não aconteceu nada. Eu vou encontrar o meu pai lá.
_ Tudo bem. Mas você anda diferente. Um pouco tristinha. O que tá acontecendo, meu bebê? Você sabe que pode confiar em mim.
Vanessa se sentia tão irritada que não queria passar mais um minuto perto de Júlio.
_ Não aconteceu nada. Só não estou gostando da nova escola._ Vanessa decidiu mentir para por um ponto final no interrogatório de Júlio.
_ Não se preocupe com isso, meu amor. Estamos em outubro. As férias de fim de ano estão virando a esquina. Venha, eu te levo na casa do seu avô.
_ Não precisa.
_ Precisa sim. Hoje a Maria está de folga.
_ Eu já pedi um carro pelo aplicativo. E além do mais, o meu avô não gosta de você. Não vai cair nada bem você aparecer por lá.
Vanessa sentiu o celular vibrar na mochila, retirou e disse para Júlio que o carro estava a sua espera na portaria.
Júlio a abraçou e se despediu com um beijo no rosto.
Longe do incomodo da presença de Júlio, Vanessa não estava mais apática. Enturmou-se com os parentes e curtia a piscina com uns primos, enquanto a carne assava na churrasqueira.
Já não vivia mais as turras com Lorena. Uma não morria de amores pela outra, mas já se toleravam, chegando até a conversarem sobre vários assuntos, inclusive a gravidez.
_ Venha, minha queria. Venha almoçar._ chamou a sua tia avó Margarida, que arrumava o prato dela, pondo um pouco de arroz, salpicão, farofa e algumas fatias de carne bovina e linguiça.
_ Obrigada, tia.
Vanessa sentou á mesa com os parentes, ao lado da tia.
_ E o seu pai Leandro? Pensei que estaria aqui hoje._ quis saber Margarida.
Genaro se mostrou insatisfeito com a ausência do filho, acusando Angela de manipulação.
_ Não é nada disso, titio._ respondeu Beatriz._ Leandro não veio porque foi viajar.
_ Viajar?! Pra aonde?_ Lorena perguntou curiosa.
Beatriz de um sorriso de satisfação.
_ O mundo dá voltas! Depois de anos, Leandro e André se reencontraram e fizeram as malas para Búzios. Huuum! Tô sentindo o cheiro de romance no ar.
No mesmo instante, Vanessa jogou o garfo com força em cima do prato de porcelana. O tintalar do barulho chamou para si a atenção de todos.
_ Que história é essa?!_ Vanessa perguntou furiosa.
_ E pra que essa grosseria toda?_ Genaro se prontificou irritado._ O Leandro não é mais criança. Ele tem que viver. E saiba que faço gosto pelo André. Sempre fiz, desde que os dois eram adolescentes. Além de gostar muito do André, também gosto da família dele. Se Leandro tivesse escolhido o André no lugar do traste do Júlio, as coisas teriam sido bem melhores.
Revoltada, Vanessa se retirou da mesa bufando. Foi para o quarto em que estava hospedada, trancando a porta. Jogou-se na cama, sentando apoiando o queixo nos joelhos, pôs as mãos nos ouvidos e caiu no choro.
_ Essa menina está tão rebelde! Leandro errou muito em mima-la. Não só ele, Júlio também a estragou. No meu tempo não tinha isso. Os jovens sabiam respeitar. Essa geração está perdida._ exclamou Margarida.
Vanessa decidiu não dormir na casa do avô naquele dia. Estava irritada demais e só queria dormir na sua cama. Chegou por volta da meia noite. A casa já estava escura e em silêncio. Resolveu não fazer barulho e foi direto para o seu quarto dormir. O que ela não sabia é que no quarto ao lado, Júlio e Luciano dormiam abraçados nus, depois de uma noite intensa de sexo.
Na manhã seguinte, as empregadas gargalhavam na cozinha de Júlio. O motivo era algum assunto trivial que narravam uma com a outra.
Com a chegada de Luciano, o silêncio se faz presente, deixando as mulheres envergonhadas. Esmeralda arregalou os olhos castanhos como um gato assustado e Luciano a olhou, a reconhecendo.
_ O senhor deseja alguma coisa, seu Luciano?_ perguntou Valdeia.
_ Eu quero saber se o café da manhã está pronto. O Júlio vai trabalhar daqui a pouco.
_ Não se preocupe. Eu já vou aprontar tudo e levo na bandeja para os senhores.
_ Ok. Só não demore muito.
Luciano saiu, deixando as duas a sós.
Valdeia trabalha na casa desde que se tornou a substituta de Patrícia. Como a cobertura era muito grande, Esmeralda foi contratada como diarista, prestando os seus serviços de faxina pesada três vezes por semana. Assim que Luciano saiu, ela disse:
_ Meniiiina, o que esse cara tá fazendo aqui?
_ Ele é o novo namorado do doutor Júlio. Você o conhece?_ quis saber Valdeia.
_ Claro! Eu morei ao lado da casa do George, o ex namorado do Luciano. Eu não acredito que o seu Júlio está namorando ele.
_ Estão juntos há um tempinho... A Vanessa detesta. Quando ela acordar e souber que o Luciano dormiu aí, ela vai ficar louca. Eu já sei que hoje tem briga.
_ Hum! O seu Júlio não sabe o inferno que tá arrumando pra vida dele ao se meter com esse aí.
_ Uh, é! Por que, Esmeralda?
_ Hum! Mulher, nem te conto. Luciano e George namoraram. No início foi tudo mil maravilhas, Luciano sempre calminho e generoso. Depois, com o passar do tempo, Luciano se tornou um ciumento possessivo. Era briga feia todos os dias. George caiu fora, mas Luciano não sossegou e quase matou o menino a facada. Enfim, deu até polícia!
_ Gente, que horror!
Júlio levantou mais cedo e resolveu ir até o quarto de Vanessa. Encontrou-a com a mesma cara amarrada de sempre.
Ele entrou sorrindo, trazendo uma bandeja de café da manhã. Sentou ao seu lado na cama e sorriu.
_ Bom dia, minha bebê. Que carinha é essa?
_ Você tá sabendo que o meu pai Leandro vai viajar com um tal de André? Acho que você conheceu esse cara._ Vanessa disse com raiva.
Júlio permaneceu em silêncio por momento, sem expressar nenhum sentimento.
_ Meu bem, eu preciso conversar contigo. Amanhã é aniversário do Luciano. Eu planejei uma festinha surpresa pra ele aqui em casa. Não será nada grandioso. Um jantarzinho simples com algumas pessoas da empresa. Eu prometo que te dou o que você quiser, caso você se comporte. Por favor, filha, seja uma boa moça.
Vanessa o olhava decepcionada. Mirava-o no fundo dos olhos como se não reconhecesse o homem que estava diante dela.
_ Eu acabo de dizer que o seu marido vai viajar com outra pessoa e você vem me falar de Luciano?!
_ Minha flor, o Leandro não quer mais nada comigo. Até já vai viajar como você está dizendo. A fila anda. Eu sei que é difícil pra você aceitar, mas eu estou apaixonado pelo Luciano. Eu sei que você quer muito que eu e o seu pai ficamos juntos. Mas ele não quer, eu não posso insistir.
Vanessa cruzou os braços e olhava com firmeza. Pela primeira vez percebeu que Júlio não olhava nos olhos dela quando mentia.
_ Você está errado, pai. Eu não quero mais que você e o meu outro pai fiquem juntos. Ele não te merece.
_ Vanessa, por favor. Só peço que não estrague a festa. Eu prometo que...
_ Eu já sei. Não sou idiota. Agora saia do meu quarto. Eu preciso me arrumar para ir pra escola.
Júlio saiu no mesmo instante. Assim que fechou a porta, Vanessa atirou um objeto sobre ela e deu um grito de ódio. Ele parou no mesmo instante. Olhou para trás, virou de volta e retornou para o quarto.
Ouviu um barulho do chuveiro ligado. Sabia que Luciano estava debaixo dele. Ao imaginar o belo corpo nu do amante, sentiu ao "crescer" entre as pernas. Despiu-se retirando o short do pijama e camiseta branca.
Luciano se surpreendeu quando sentiu a mão máscula de Júlio puxando os seus cabelos molhados para trás, fazendo com que o seu pescoço ficasse a disposição do namorado.
Sem perder tempo, Júlio o beijou com vontade, dando vários chupões sem nenhum pudor.
Segurou com força os quadris do jovem, encaixando com os seus. Pôs o peito de Luciano para frente, que apoiou as mãos na parede fria do banheiro.
Com as costas largas e macias a sua disposição, Júlio se dedicou a beija-la e deslizar a sua língua quente e úmida.
Excitado, Luciano sentia o próprio pênis pulsar, quando sentiu o de Júlio se roçar entre as suas nádegas.
Foi virado para frente com brutalidade, ficando com as costas apoiadas no azulejo. Teve as pernas erguidas e encaixadas entre as de Júlio, que o beijou com violência, impaciência e sede de saliva.
_ Essa boca é uma delícia! A melhor que já provei.
Tonto de tesão, Luciano gemeu. Gostava de acreditar em tudo que Júlio dizia. Sentia-se lisonjeado quando o parceiro era violento e gentil ao mesmo tempo.
_ Ajoelha e chupa o meu pau._ Júlio ordenou sério, com uma expressão quase cruel, o que deixou Luciano com as pernas bambas de tesão.
Obedeceu em silêncio. Pondo-se de joelhos e segurando com uma mão, afastando a pele da cabeça para que pudesse chupar melhor.
Júlio estava louco dentro daquela boca. Empurrava a cabeça do companheiro sem nenhuma gentileza e fodia com força.
_ Eu vou te comer até você sangrar.
Júlio permaneceu fodendo o mais rápido que podia, deixando Luciano desconfortável e ao mesmo tempo excitado.
O pau de Júlio era grande demais e Luciano não conseguia por todo na boca. Tentou retira-lo, mas Júlio o impediu, segurando a sua cabeça com força.
Gritou depositando todo o seu esperma na boca do parceiro.
_ Engole tudo, caralho! Não desperdiça uma gotinha._ Júlio ordenou estalando uma bofetada no rosto de Luciano.
Ao terminar, Luciano pode levantar e lavar a boca na pia. Júlio sentou no vaso, tentando recuperar o fôlego.
Olhava para a bunda de Luciano, enquanto esse se lavava na pia. Sorriu e o puxou, dando beijos e mordidas nas nádegas do namorado. Abriu as duas abas com os dedos e enfiou a língua, fazendo Luciano se contorcer de prazer. Fechou os olhos enquanto se deliciava com o cuzinho de Luciano, que piscava na sua língua.
Júlio o puxou pelos cabelos, levando até o quarto. Jogou-o na cama com violência. Luciano caiu de bruços. Sentiu a bunda se erguida e as pernas abertas, ficando de quatro.
Júlio foi até a gaveta e pegou um par de algemas.
_ O que é isso?_ Luciano perguntou empolgado.
_ Cala a boca, puta.
Júlio prendeu as mãos do namorado na cabeceira da cama. Pegou a própria cueca de Luciano e a pôs dentro da boca do rapaz.
Luciano gemía, não via necessidade em ser armodaçado e não se sentia bem com a situação.
Gritou mordendo a cueca, ao sentir Júlio o invadir depois de passar o lubrificante.. Agonizava de dor e aos mesmo tempo sentia um prazer imenso. O seu pênis estava melado num pré gozo.
_ Rebola, safada! Come gostoso essa piroca._ Júlio ordenou com a voz grave, metendo ainda mais forte e deixando a marca da sua mão nos dois lados da bunda de Luciano.
Depositou dentro de Luciano todo o seu leite viscoso. Saiu assim que gozou e libertou o amante.
Luciano deitou com a barriga para cima. Olhava para o teto suado e ofegante.
Júlio deitou por cima dele e o beijou com carinho, não se parecendo em nada o homem bruto de segundos atrás.
_ Eu te amo._ disse acariciando os cabelos de Luciano.
_ Por quê?
_ Por que o quê?
_ Por que está dizendo isso? Júlio, por favor, não brinque com os meus sentimentos. Eu sei que você não me ama.
_ Como pode ter certeza?_ Júlio perguntou distribuindo vários beijos em seu peito.
_Não tem como você me amar depois do que a minha mãe te fez e...
_ Xuuuu._ Júlio pôs o dedo entre os lábios de Luciano e o beijou com carinho.
_ Você não é a sua mãe.
_ E o Leandro?
_ É passado.
_ Mas vocês estão casados e...
_ Estamos casados por pouco tempo. Logo logo o divórcio vai sair. Agora eu só quero desfrutar desse seu corpinho gostoso.
_ Vamos nos atrasar para o trabalho.
_ Você pode se atrasar o quanto quiser, esqueceu que está dormindo com o chefe?
Luciano sorriu e o beijou.
_ Quero que se toque pra mim.
_ Como assim?
_ Quero que se masturbe na minha frente, com as pernas abertas e o cuzinho a mostra.
Júlio sentou na ponta da cama e se tocava, enquanto observava Luciano deitado nu, se masturbando. Pôs o dedo na boca do jovem que gemia, aumentando o ritmo da punheta.
Os dois gozaram quase no mesmo instante, sendo Luciano a fazer isso primeiro.
Júlio puxou Luciano com força e o beijou, sentindo o membro endurecer aos poucos.
Luciano pôs a mão e arregalou os olhos espantado.
_ Você ainda quer mais?!
_ Eu sou insaciável, minha delícia._ Júlio respondeu, penetrando a língua dentro da boca de Luciano.
...
O entra e sai dos funcionários do buffet estava deixando Vanessa muito irritada. Ela já estava acostumada com esse tipo de evento em sua casa. Júlio sempre gostou de dar festas e fazia de qualquer comemoração um grande evento. O que a incomodava era para quem era destinada a festa.
Vanessa decidiu que não sairia do quarto. Ficaria por lá até que tudo acabasse, o que deixou Júlio satisfeito, já que dentro do quarto Vanessa não causaria problema.
Ouviu o barulho de pessoas chegando. Os risos e a vozes eram para ela perturbadores.
_ Vai embora!_ Vanessa ordenou ao ouvir alguém bater na porta.
_ Sou eu, mulher.
Vanessa relaxou os ombros ao ouvir a voz de Marcinha e autorizou a sua entrada. Ficou espantada ao ver a amiga usando um vestido rosa, com a saia rodada até o meio das coxas.
_ Gostou do meu vestido novo? Comprei especialmente para a festa.
_ Você vai ficar naquela festa, sua traíra?
_ Vou, uh é! Eu e os meus pais fomos convidados. Eles estão lá na sua sala. E você não vai descer?
_ Claro, Márcia. Vou descer e dar um beijo e um abraço no Luciano o parabenizando pela festa. Eu hein! _ Vanessa disse em tom de sarcasmo._ Me admiro você bater palmas para aquele João ninguém.
_ Ah para de bobeira, Vanessa. Eu vim porque o buffet contratado é da minha tia e você sabe que eles arrasam na comida. E além do mais, vai ser divertido. Você sabe que as festas na sua casa sempre são boas. Você deveria descer, ao invés de ficar aqui com essa cara de tonta, sem um pingo de maquiagem. Eu tô sendo sincera. Ficar aqui não vai fazer com o que os seus pais voltem, ou que o Júlio termine com o Luciano. Você deveria superar o passado e aceitar que o casamento dos seus pais é igual as nossas virgindades, nunca mais vão voltar.
_ Ah não enche o saco, Márcia.
Marcinha se esforçou muito para convencer Vanessa a descer, mas a garota se manteve firme na sua decisão. Sem mais esperança, Marcinha foi para a sala se reunir com os outros convidados.
Luciano ainda estava no escritório quando recebeu uma ligação de Rubens, dizendo que estava no apartamento de Júlio e que esse exigia a sua presença naquele instante.
_ Aconteceu alguma coisa?_ Luciano perguntou assustado.
Júlio não pisou no escritório naquele dia e não deu nenhuma satisfação da sua ausência. Luciano estranhou que não recebeu as rotineiras mensagens de "Bom dia" pela manhã e nem teve nenhuma mensagem respondida por Júlio.
Teve medo que algo ruim tivesse acontecido. Na mesma hora, saiu do escritório e foi direto para casa de Júlio, onde fui surpreendido.
Ao abrir a porta, levou um susto ao ver muitas pessoas gritando "Feliz aniversário!". Uns soltavam balões, outros apitavam e todos batiam palmas pulando.
Viu-se paralizado, não conseguia expressar nenhuma reação.
Júlio o puxou pela cintura e o beijou diante de todos. Ainda emocionado, Luciano agradeceu a todos tentando prender o choro.
A festa rolou numa alegria tranquila. Júlio se mostrava um namorado atencioso e apaixonado.
_ Agora, eu gostaria de dizer umas palavras.
Todos os olhares se voltaram para Júlio, quando esse pediu para interromper a música e tomou a palavra, que eram ouvidas por Vanessa do seu quarto.
_ Durante muitos anos, eu fui completamente apaixonado por uma pessoa. Amei de uma forma tão intensa que achei que seria pra sempre. Como todos sabem, o meu relacionamento chegou ao fim e a dor que senti foi imensurável. Eu acreditei que jamais voltaria a amar de novo. Até que conheci esse homem maravilhoso, que trouxe o sol de volta para a minha vida nublada. Meu amor, é tão bom te ter ao meu lado. É tão bom saber que posso contar contigo para o que der e vier. Eu te desejo que tenha o melhor da vida, que ela seja longa e feliz...e principalmente, ao meu lado. A todos vocês, meus queridos amigos, desejo que tenham um Luciano na vida de vocês.
Vanessa sentiu sede. Resolveu aproveitar que todos estavam distraídos com o discurso de Júlio para ir até a cozinha sem ser notada. Ela estava descendo as escadas, quando Júlio retirou do bolso da calça uma caixinha com um par de alianças. Ele se aproximou de Luciano segurando em sua mão, ajoelhando.
Luciano sentiu que o coração sairia pela boca naquele momento e todos olham surpresos.
Marcinha pôs a mão na boca e arregalou os olhos.
_ Luciano, meu amor, você me dê a honra de se casar comigo?
As atenções de todos foram desviadas para o som de palmas que vinham das escadas. Vanessa descia vestida com o pijama e a cara de poucos amigos.
_ Que maravilha! Que lindo espetáculo! Olha Luciano, eu não gosto de você. Mas esse mal eu não desejo pra ninguém, nem mesmo pra ti. Quer um conselho? Diga não a esse pedido de casamento patético. Se você se casar com ele será a próxima vítima desse homem abusivo.
