Esse conto é um complemento da série "Esposa amorosa, casamento feliz", devendo ser lido após o capítulo “Final”.
5 meses depois...
Acordo cedo, o sol já brilhando, iluminando e esquentando o quarto. Fico um tempo a mais na cama, curtindo uma leve preguiça, mas que logo coloco de lado, pois tenho pendências a resolver de manhã e assim liberar o resto do dia. Sigo para o banho, sentindo a água levemente fria batendo no corpo e me despertando de vez para o dia. Saio nu do banheiro, entrando no quarto e parando uns instantes na frente do espelho. Meses atrás, nessa mesma situação eu estava num dos piores momentos da minha vida, e me olhando agora sinto vergonha pelo que fiz no meu antigo apartamento. Não sou vaidoso, mas ao me olhar no espelho novamente fico orgulhoso de como mudei. Emagreci um pouco, estando agora no peso ideal. Tenho feito mais exercícios, corridas, e o resultado é visível. Estou com um corpo bacana, saudável e, o melhor, com a alma leve, tranquila. Olhando minha imagem digo em voz alta:
- É Beto, acho que você ainda tem alguma chance.
Olho para baixo e falo com o meu pau:
- Tá com saudades de uma xaninha, Betinho? "Sim Beto, quero uma xaninha!" - eu mesmo me respondo imitando a voz de um garoto, brincando e mexendo com ele. Para com isso Beto, não seja ridículo! E saio rindo para vestir uma bermuda e camiseta.
Tomo meu café, como frutas e ligo o notebook na mesa da sala, lendo algumas notícias, e respondendo alguns e-mails da empresa. O programa de comunicação toca, notificando uma chamada do Fábio, lá da empresa:
- Bom dia Roberto! Como vai?
- Oi Fábio, tudo bem, tranquilo. E aí na empresa?
- Ah Roberto, o mesmo de sempre, você sabe. Mas com a desvantagem de não ter a vista que você tem aí onde está. Deixa eu ver, vai! Mostra para mim como está a praia hoje!
Desde que terminaram minhas férias, fiz um acordo com o Fábio de trabalhar remoto aqui do litoral onde me refugiei. E, em nossas conversas, virou uma brincadeira eu mostrar pela câmera como está o tempo na praia, mostrando a vista que tenho agora morando à beira-mar. Pego o notebook e o levo para a varanda, dando uma geral para ele ver toda a paisagem
- Olha só Fábio, hoje vai dar praia! Céu azul, mar calmo. Mais tarde vou dar um mergulho, e apreciar as mulheres desfilando de biquíni pela areia!
- Porra Roberto, não fode! Já basta você esfregar essas imagens na minha cara. Não precisa também humilhar, né? Hahaha
Damos risada juntos com o contraste de nossos escritórios.
- Só tenho a agradecer a você pela chance e eu continuar trabalhando remoto daqui, abrindo essa exceção.
- Roberto, você mais que ninguém sabe que não rasgamos dinheiro aqui. Você só está aí pois seu desempenho é excepcional, e seus projetos novos estão abalando o mercado. Por mim, continuando assim, você pode ficar aí o resto da sua vida!
- Obrigado Fábio. Pode sempre contar comigo.
- Eu sei, não precisa falar. E, a propósito disso, eu tenho uma proposta para você Roberto. Devido a toda sua história em nossa empresa, e à sua importância para nossos negócios, conversamos na direção e queremos muito que você se torne sócio da empresa, entrando com 15% e depois podendo crescer. Você tem os números, e sabe que isso significa uma boa grana. E aí, você aceita?
- Uau, lógico que aceito. Sempre tive isso como meta na carreira, está perfeito para mim.
- Ótimo, vou encaminhar a papelada aqui e te mandar por e-mail.
Conversamos mais alguns detalhes, e no final eu pergunto a ele sobre a Larissa, se está indo bem, se continua na empresa.
- A Larissa está muito bem, inclusive foi promovida e já está liderando o próprio time. Só tenho "feedbacks" positivos sobre ela, todos a adoram.
- Temos que cuidar bem dela Fábio, é uma garota especial, e pela qual tenho muito carinho.
- Eu sei Roberto. Não quero saber os detalhes, mas sinto que algo rolou entre vocês. Ela também sempre fala de você e te cita como exemplo para todos na empresa.
Fico feliz de verdade por ela, pelo futuro brilhante que certamente terá na carreira. E agora como sócio, farei o possível para ajudá-la ainda mais. Acabamos nos despedindo, e eu volto para minhas atividades, olhando para aquele mar lindo e trabalhando ali da sacada mesmo.
Pouco antes da hora do almoço meu celular, que troquei o número assim que vim para o litoral, toca numa chamada de áudio pelo WhatsApp. É a Laís, uma das poucas pessoas, além dos meus filhos, para quem passei esse número. Temos mantido contato constante ao longo de todos esses meses, com ela me atualizando as fofocas e novidades lá da nossa cidade.
Logo que cheguei aqui ela me acalmou dizendo que, junto com a Cris, chamou todo mundo e todos concordaram em apagar o vídeo que receberam naquele grupo. Fizeram isso por mim, e para proteger meus filhos das besteiras que a Fernanda fez. O assunto morreu ali, deixado no passado, e ninguém nunca ficou sabendo que a Laís estava por traz da divulgação do vídeo.
Quando perguntei dos três safados, ela me contou que o Marcelo se deu mal, tomando um pé na bunda da esposa, que era quem tinha a grana no casamento. O sogro o demitiu da empresa, e ele ficou na pior. A última notícia que teve foi da internação dele numa clínica para recuperação de drogados.
Já o casal "dominatrix" sofreu na mão da Laís. Ela não engoliu a sacanagem toda que queriam fazer com ela, e digamos que liberou o hacker para agir e chantagear os dois. Como havia muitas personalidades gravadas em vários outros vídeos, ele deu uma extorquida nos safados (ganhando um dinheiro que usou para comprar mais uns computadores de última geração) e os obrigou a saírem da cidade e irem morar na fazendo da família da Verônica, sob risco de ele jogar os vídeos na internet se eles não obedecerem. Não se ouviu mais falar deles, e a putinha deve estar amassando barro na roça com os saltos altos dos sapatos importados que usava.
- Oi minha musa japonesa, como vai?
- Eu estou ótima e você meu amor?
- Tudo bem por aqui. Olha, estou cuidando bem do seu apartamento aqui na praia. O síndico veio aqui dizer de um vazamento para o apartamento aqui embaixo, mas já resolvemos.
- Você é meu locatário predileto!
- A propósito disso, acho que vou virar seu vizinho. Vi que colocaram à venda uma unidade no andar de cima, e estou pensando em negociar e assim te devolver esse aparamento maravilhoso de vocês.
- Já disse que você pode ficar quanto quiser por aí. Mas, por outro lado, se você comprar o outro apartamento, a Cris já pode programar levar toda a turma no final do ano, já pensou? Hahaha
- Acho que ainda não estou preparado para isso… Mas quem sabe o que rola até o final do ano, né?
- Você pensa em voltar para aqui?
- Sim, eu vou voltar. Mas sem alarde, do meu jeito. As feridas estão curadas, mas não fecharam totalmente. Algum dia isso rola.
- E aí gostosão? Conta só para mim: já pegou alguém aí na praia? A verdade por favor…
- Não Laís, estou tranquilo e calmo. Se tiver que acontecer, vai acontecer.
Ela ri e diz que está pensando em descer, e quem sabe passar um final de semana a sós comigo...
- Foi o Ricardo que deu a ideia!
Eu dou uma gargalhada, mas ela mantém o dito, e diz que não está brincando. Conversamos mais amenidades, e desligamos com carinho. Ah Laís… jogaram fora seu molde depois que você nasceu!
Meus filhos estão bem, superaram a separação dos pais, e até curtiram poder passar alguns finais de semana na praia comigo. Logicamente queriam que nosso casamento tivesse continuado. Mas entenderam quando explicamos que não estávamos bem juntos, que continuaríamos sempre com eles, mas cada um seguindo sua vida. Nunca saberão dos reais motivos, e nem precisam mesmo saber.
Depois de algum tempo, por conta “das crianças”, comecei a ter um diálogo respeitoso e amistoso com a Fernanda. Ela mudou completamente, ficando mais reclusa, focando mais ainda na carreira e em nossos filhos. Felizmente, quando tudo terminou, a Cris a convenceu a fazer todo tipo de exame de sangue possível, e ela não pegou nenhuma doença. Fiz o mesmo, e também tudo certo comigo. Temos conversado mais, e posso dizer que estamos nos tornando amigos de fato. Mesmo depois de tudo, apesar de não haver chance de reconciliação, não desejo mal a ela. Torço que se seja feliz, assim como sinto que ela deseja o mesmo para mim.
Lá pelas 4:00 da tarde resolvo curtir o final do dia na praia. Com a agenda flexível que tenho, posso me dar ao luxo de em alguns dias ir à praia no início do dia e em outros no final. De qualquer maneira, tento manter uma rotina de sempre passear ou tomar um sol, fazendo isso bem em frente ao apartamento onde estou. A praia está completamente deserta nessa tarde de quinta-feira. Depois de um banho revigorante no mar me deito na areia, ficando de olhos fechados e sentindo o corpo secando sob o sol. Passa um tempo durante o qual sou embalando pelos sons do mar, o cheiro da maresia, o vento morno da tarde.
Sinto então uma sombra sobre mim, e abro os olhos devagar, vendo na minha frente as curvas de uma bela mulher que tapa o sol onde estou. Escuto então sua voz carinhosa, me perguntando:
- Posso me sentar aqui com você, Roberto?
Eu me ergo, sentando-me na areia, vendo-a pegando um lugar do meu lado. Ficamos algum tempo ambos calados e olhando para o mar à nossa frente, sentindo o momento. Quebro esse silêncio:
- Como você me encontrou aqui?
- Não é só você que tem amigos para te ajudar.
Mais alguns momentos de silêncio, quando ela toma a iniciativa:
- Eu entendo se você me mandar embora, depois de tudo o que aconteceu. Mas… se você me der uma chance é tudo o que eu preciso.
Eu a olho, e sinto novamente o que eu evitava reviver dentro de mim. Mas é algo mais forte do que eu, não tenho como controlar. Me reclino sobre ela, que se deita na areia. Afasto os cabelos longos que caem sobre seu rosto lindo, e nos beijamos, primeiro suavemente, para depois cairmos numa entrega plena. Acaricio o corpo dela, da mesma forma que ela procura sentir o meu junto ao dela. As poucas peças de roupa que usamos catalisam as sensações, pele contra pele, os dedos e mãos invadindo nossas intimidades. Paramos por um momento e voltamos a nos olhar, e vendo nossas histórias ali se cruzando novamente. Ela então se apoia nos braços e pergunta:
- E então Beto? Isso é um… sim?
Penso em tudo o que aconteceu em minha vida, as lembranças dos últimos meses e anos, e o sentimento de que eu mereço ser feliz novamente, abrindo outros horizontes e perspectivas. Quem entende a alma humana? O que se passa na cabeça de cada um? O que nos constrói como seres humanos? A vida nos molda, na dor e na felicidade, e o que serve para um não serve para outro. É, Roberto… é tempo de buscar a felicidade novamente.
- Sim! A resposta é sim… Bia!