Os pedreiros mediram tudo e vieram com o orçamento.
- então Cesar o que vamos fazer, e fazer uma nova camada de concreto com uma queda de água, para a água parar de empoçar e dar infiltração e goteiras.
A quantidade que eles me pediram de areia lavada, pedra e cimento sem falar das ferramentas, estava em grego mais, só teria noção de quanto ia me custar quando eu fosse para a sala do diretor e começasse as negociações por telefone.
Agradeci aos meninos por se disporem. Fui para minha cama anotei tudo que foi me dito e coloquei na minha agenda.
- e ai fala comigo como foi o primeiro dia como empreiteiro. – Carlos fala isso comigo se aproximando.
- Eu estou bem confiante que vai dar muito certo!
-posso ver a lista? – já falou estendendo a mão, como eu ia dizer não né?
Passei para ele ver
- Cesar, isso vai estourar seu orçamento de R$:3.000,00, sem sombra de dúvida, deve dar do mínimo uns 6 paus.
- eu sei! Porém tem uma coisa que você não sabe!
- oque?
- esse material é para a reforma de todo o telhado do bloco! isso significa que vamos poder cobrar de mais pessoas. Mas você vai precisar falar com todas as celas.
Ver quem pode pagar e quem não pode. E quem não poder, vir trabalhar na obra. Quanto mais mão de obra mais rápido a gente termina e passa pra próxima.
- temos mais ou menos 60 cabeças por cela aqui. 60 x 6 = 360. – aquela cara de Carlos fazendo contas de cabeça me deixava encantado. – 360 x 20 (reais) = 7.200,00. Só na primeira parcela Cesar, já dá para tirar nosso investimento. 7.200,00 x 4 = ...
Nessa hora dele demorou um pouco para concluir a conta, mas quando ele se deu conta ele arregalou os 2 olhos e olhou no fundo dos meus olhos com cara de espantado.
- Cesar, da quase 28.800,00, com uma margem de erro de que nem todo mundo pode pagar porquê, precisamos de pessoas trabalhando, mas cara dá pra você ficar rico, com essas obras.
- ok, hoje vou levantar, uma lista de quantas pessoas tem por cela, para a gente ter um parâmetro de pessoas que vivem aqui na real. Tempos que eu tirar esses números, você anuncia e eu começo a comprar o material e ai partimos, para obra.
- perfeito! Você é tão inteligente que minha vontade é de fuder com você. Só de conversar com você.
- nada disso, cu agora só depois que eu me recuperar.
Entre risadas e flerte, conversamos e passamos os dia assim, como namoros adolescentes... muita conversa e pouco contato. Isso nos aproximava e deixava com mais desejo.
....
Com o passar dos dias eu avancei com meus planos, mas em correria. Levantei o total de quase 380 pessoas vivendo naquele bloco. Isso era um ótimo número.
Carlos fez questão de ir de cela em cela e conversar com todo mundo, ele falou que por mais que as chuvas de verão estivessem acabando, o inverno estava chegando e aquela quantidade de agua com frio, só deixava a gente mais doente e que nossa vida ia melhorar muito com as obras. No final só para firmar tudo que ele falou, ele deixou a entender que isso não era uma opção todos iam pagar, e os poucos que não tinham condição, era pra me procurar pois iam trabalhar.
Carlos tinha o dom da fala, então a mensagem era bem passada e entendida para não deixar sobra de dúvida, meu homem era foda.
No total eu tinha quase 30 trabalhadores.
Fui para as negociações, com tudo.
Fui conduzido até a sala do diretor.
- bom dia, Sr Adriano!
- bom dia, Cesar! Sobre o que você quer falar primeiro.
- então estava pensando em falar sobre a questão das obras pois são muitos matérias, não conheço um fornecedor, sem falar que vamos precisar de ferramentas e mão sei se todas vão poder entrar no pavilhão.
- Então, temos esse fornecedor, que é o fornecedor do governo federal. Os preços não são tão baixos. – na hora meu estomago já doeu – mas também, temos esse aqui... esse e o fornecedor do pavilhão cristão. Ele vendem para os irmãos da igreja com um preço bacana Cesar.
.
Foi o que eu fiz. Passei todo o material para o cara, O orçamento ficou em R$:5.000,00. Quando fui questionar sobre o valor das ferramentas Adriano falou que ia disponibilizar, isso. era perfeito pois eu ainda tinha R$:2.500,00 para emergências.
Depois de resolver isso fui para as aulas.
O diretor me levou até um conjunto de salas que ficava perto do pavilhão da Bandinha. Era um conjunto de 3 salas. Dessas salas ele abriu uma e eu entrei. Estava muito escuro dentro.
Quando ele ligou a luz era uma sala, de aula. Uma sala de aula completa. Com quadro, armário, material didático, tinha até uma cafeteira. Nossa foi muito foda.
Ele me apontou a mesa de professor para eu sentar e ele sentou em uma cadeira a minha frente.
- Então Adriano, quantos alunos temos?
- temos cerca de 280 analfabetos e semianalfabetos.
-podemos separar eles, por nível de escolaridade, depois por comportamento, e formamos uma turma de até 40 alunos. Dou aula 3 vezes na semana. De forma experimental. Se for um sucesso como acredito que seja. Podemos botar mais uma turma 3 vezes na semana, na parte da tarde. Oque o senhor acha?
- Perfeito Cesar. Mas você sabe que vai ter pessoas de todos os pavilhões? Você vai ter seguranças. Mas um olho no peixe e outro no gato.
-sim SR. – confesso que isso me deixou um pouco nervoso, mas nada que fosse tirar meu sono.
Conversamos, sobre merenda, intervalos, o currículo e até metodologia ativa.
O diretor Adriano, era muito inteligente e solicito, ele assim como eu estava de cabeça naquele projeto. Depois de terminar nossa reunião voltei para meu pavilhão.
E me deparo com um Pan demônio.
Quando entro na minha cela em especial me deparo com muitas pessoas eufóricas. Carlos soltava fogo pela boca e gritava e empurrava quem passava pela frente dele.
Marcelo se aproximou de mim e veio na minha direção.
- o que está acontecendo?
- um agente veio aqui cedo e tirou Lucas da cela. Ele não levou nada. o boato na hora é que ele foi transferido para um presidio novo. Na hora Carlos ficou puto , porque até agora Rogerio ainda não voltou para o presidio.
- eu achei estranho que ele ainda não voltou também. A cada minuto que ele passa lá fora é mais perigoso pra gente.
- exatamente. Então Carlos e Fernando ligaram para o morro para saber o que estava acontecendo, pois o Lucas ia ser passado. E não era o combinado ele sair daqui.
- mais como isso chegou a esse ponto.
- Valeria, a mulher de Rogerio. Matou um cara no morro que eles moravam. Quando o cara foi cobrar ela satisfação. Mano ela pulou de facção e fugiu do morro trocando tiro. Ela matou o gerente do morro, viado!
- cara, como assim? – na verdade eu não sabia nem o que falar eu estava estático.
- cara se essa família fugir. Vai feder pra gente.
- pra gente?
- sim! Todo mudo que está perto de você e Carlos estão com uma mira na testa.
Minha cabeça entrou em congestionamento. Agora eu estava praticamente surtando como todo mundo ali. Meu estomago doía de mais, mas eu sinceramente não podia dar pra trás naquela hora. Depois de tudo que eu enfrentei.
Carlos termina uma ligação e senta na sua cama. Vou indo ao seu encontro aos poucos, como se tivesse me aproximando de um animal selvagem.
Carlos suava, de nervoso. Suas veias pulsavam de ódio.
- achei um! – ele fala soltando um suspiro de alivio, como se tivesse prendendo a respiração por dias.
- o pai ou o filho?
- o filho! Ele está indo para Romeiro Neto. É uma prisão pequena. Aquela puta deve estar indo morar pra lá. Mas ela tá fodida. Já estão esperando o filho dela. E dessa vez não importa o dinheiro que ela acha que tem. Ela matou um gerente. Ninguém vai passar a mão não.
- você, sabe que hospital, está o pai?
-Geralmente o pessoal aqui é levado para o Albert Schweitzer. Mas não faço ideia se ele está ou não, sei que ele não vai fugir por mito tempo. Porque pra ele ser transferido ele tem que voltar para o presidio. Só preciso que ele volte.
- e o que eu posso fazer?
-nada agora e comigo. Nem tudo você precisa resolver. Tem coisa que está fora do seu alcance. Relaxa vou cuidar de você!
Carlos conseguia me deixar mais calmo com suas palavras e demonstração. Ele estava certo isso estava além de mim.
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Olá galera mil desculpas pela demora de uma semana.
Mas estou aqui.
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