As Grandes Lições do Amor. Parte 2.

Um conto erótico de Max Al-Harbi
Categoria: Heterossexual
Contém 5180 palavras
Data: 30/09/2022 14:40:03

Durante cerca de meio minuto eu fiquei ali analisando a situação. Preferi não externar os piores pensamentos, me levantei da cama e fui para o chuveiro. Debaixo da água quente que relaxava o meu corpo, os pensamentos voltavam a me assombrar. E o pior é que a imagem deliciosa da Duda, nua, gemendo de prazer num orgasmo intenso me deixavam excitado e ao mesmo tempo revoltado. Meu sangue fervia de ódio e desespero.

Continuando…

Parte 2: reencontros e novas amizades.

Se dependesse da minha vontade aquele banho podia ser eterno. Eu não tinha a mínima vontade de sair dali. Me lembrei do que escreveu Nietzsche: "Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal." Nesse caso, seria o perdão. Perdoar por amor estaria acima do mal que ela me fazia naquele momento. Mas ele também escreveu: "O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são." Talvez o meu amor por ela estivesse afetando a minha interpretação correta de toda aquela situação.

Enfim, para cada bom pensamento, existia um pior que tentava se sobrepor. A verdade é que eu estava completamente arrasado, me sentindo doente. O golpe havia sido forte e eu não via como reagir a tudo aquilo. Minha memória tentava buscar fatos e situações que explicassem tal atitude de Duda. O torpor psicológico me deixava fisicamente travado, mas minha mente trabalhava a mil por hora. Me lembrei do segundo grande sinal vermelho que Duda havia dado e que na época, eu não percebi.

Após a formatura e da festa em minha em casa, onde a conheci, passamos a ficar mais vezes juntos. Cinemas, jantares, bares, baladas… éramos sempre os quatro curtindo juntos. Milla sempre demonstrou uma certa admiração por Márcio. Não estou falando de ser uma idiota que fazia tudo para agradá-lo, mas ela estava sempre pronta a conversar e ceder quando necessário. Ela e Márcio sempre conseguiam se entender e chegar a um acordo.

Duda era o oposto disso, se suas vontades não eram atendidas, a noite estava praticamente estragada. E eu, para não criar caso ou piorar o clima ruim, acabava cedendo aos seus caprichos. Também não estou falando de nenhum tipo de abuso ou manipulação, mas se ela estava com vontade de sair, saíamos. Se ela queria transar, transávamos… era sempre ela que decidia o roteiro da noite, onde iríamos, o que faríamos… se eu tentasse dar uma sugestão diferente, lá vinha a cara amarrada e a noite estava comprometida. Por lealdade a mim, Márcio acabava convencendo Milla a não se importar.

Só que tudo na vida tem limite e após seis meses dessa situação, Márcio e Milla saiam cada vez menos com a gente. Eu entendia e até preferia que fosse assim, para não incomodar aos amigos. E foi em uma dessas saídas que Duda deu o seu segundo grande sinal de alerta.

Estávamos em uma casa noturna muito famosa da cidade e num camarote muito legal, open bar. O espaço era para oito pessoas, mas só estávamos os quatro. Eu ainda tinha quatro pulseiras no bolso e não estava com a mínima vontade de estar com outras pessoas. As que realmente me importavam estavam comigo. A primeira vez que Duda e Milla voltaram do banheiro, após uma demora estranha, elas já voltaram discutindo. Como as duas eram amigas de infância, eu preferi não me meter no meio da situação, e Márcio fez o mesmo. A música em volume alto não nos deixava ouvir o que elas falavam, mas era Milla que parecia muito irritada e Duda tentava se justificar.

O local era muito comum. Um amplo salão, com camarotes elevados nas laterais com visão para a pista de dança, que ficava bem no meio e era enorme. À direita dos camarotes, estava o bar maior. À esquerda ficava a entrada da balada e também um bar menor para ajudar no fluxo das bebidas. Os banheiros ficavam à nossa frente. Eu podia ver a ida e a volta, mas não o que acontecia lá dentro. Elas vieram discutindo por todo o caminho, com Duda tentando fugir da conversa e Milla sempre a puxando para falar. Só ao chegar perto de nós que a discussão parou. Nenhuma das duas se falou mais naquela noite. Era a primeira vez que isso acontecia.

Depois de dez minutos de constrangimento, começamos a dançar e a beber e o assunto pareceu ter sido esquecido. O clima permaneceu ruim por cerca de uma hora, até que Duda voltou ao banheiro, dessa vez sem a companhia de Milla e sendo acompanhada por um olhar de reprovação da amiga. Estranhando aquilo, acompanhei atentamente o deslocamento de Duda. Ela entrou no banheiro e saiu normalmente. O estranho foi um rapaz parado próximo a entrada, parecendo esperar alguém. Achei que ele esperasse sua namorada ou parceira. Mas me surpreendi ao ver o sorriso que Duda deu a ele. O mesmo que ela fazia ao me ver quando ia buscá-la. Apesar de estranhar, os dois apenas conversavam e até mantinham uma certa distância. Pouco depois, um outro casal se juntou à conversa e logo os três vieram em nossa direção. Milla também acompanhava a cena, de cara fechada e fuzilando Duda com o olhar.

Duda veio até a mim e pediu:

- Nique, aqueles três são grandes amigos meus e eu fiquei muito feliz em encontrá-los. Você se importa se eles ficarem aqui com a gente? Tenho certeza de que você irá gostar muito deles.

Quando queria alguma coisa, Duda sempre usava aquele jeito de menina sapeca, falando de forma sensual ao meu ouvido. Eu apenas concordei e lhe entreguei as pulseiras. Ela, toda feliz, desceu ao encontro dos amigos. Milla continuou brava e falando alguma coisa com Márcio. Eu aproveitei o momento, puxei Milla e perguntei:

- Você os conhece? Por que está agindo assim? Parece que você não gosta muito deles.

Milla tentou ser honesta, mas sem dar detalhes:

- Eu os conheço sim. E realmente não gosto muito. Duda se transforma quando está com eles. Você vai ver.

Dito e feito. A partir do momento que eles entraram em nosso camarote, Duda parecia ser outra pessoa. O rapaz que falou com ela na saída do banheiro se chamava Kaique. Era alto, mas magro. Não era um homem feio, longe disso, e parecia um pouco desengonçado, mas demonstrava uma inteligência aguçada na hora de conversar. O outro rapaz se chamava Cláudio e a moça, Laís. Ele era baixo, mas forte, o oposto de Kaique. Laís era uma morena muito bonita. Se destacava até na presença de Duda e Milla, que continuava de cara emburrada.

Laís deveria ser da mesma idade das duas, só que muito mais extrovertida. Conversava comigo e com Márcio como se o namorado não estivesse ao lado dela. Tiradas certeiras e bem-humoradas que prendiam a nossa atenção.

Duda e Laís dançavam juntas, dançavam comigo, dançavam com os dois rapazes… nada de anormal e muito menos desrespeitoso. Parecia mesmo ser amigos se divertindo e felizes por estarem juntos. Eu realmente gostei dos três e aquilo ia deixando Milla cada vez mais revoltada. Até que ela não aguentou mais e pediu ao Márcio para levá-la embora. Após um protesto tímido, ele acabou concordando e os dois se foram. Ao se ver livre da amiga, Duda me disse:

- Milla é foda, só porque a Laís roubou o Cláudio dela, ela fica assim toda vez que vê os dois.

Duda disse aquilo como se não fosse nada demais. Eu me senti traindo os meus amigos. Tive que me posicionar:

- Porra, Duda! Tá maluca? Se eu soubesse disso não daria as pulseiras. Que trairagem!

Duda me olhou com fúria:

- Deixa de ser idiota. Milla é cheia dessas palhaçadas. Ela acha que eu não devo mais falar com meus outros amigos por causa dela. Laís é tão minha amiga quanto ela. Eu apenas não escolhi um lado.

De certa forma, Duda não estava errada. Escolher entre amigos é bem difícil, mas a situação poderia ter sido melhor conduzida. Aquilo acabou com o meu embalo e aproveitando que já passava das duas da manhã, preferi ir embora e tive mais uma surpresa. Ao chamá-la, Duda foi bem direta:

- Eu não estou com vontade de ir embora. Se quiser, vá você. Ainda é cedo.

Eu não estava acreditando naquilo. Ainda tentei insistir:

- Você está falando sério? Você acha que eu vou deixar minha namorada sozinha na balada?

Duda me olhou realmente brava:

- Eu já disse a você que não gosto desses rótulos e mesmo que eu gostasse, o fato de eu ser sua namorada não me torna sua propriedade. Se não quer ficar, vá embora. Eu não sou obrigada a fazer todas as suas vontades.

Eu fiquei tão abismado com aquilo, que resolvi dar um susto nela. Saí sem olhar para trás, a deixando ali. Minha intenção era dar tempo para ela recobrar o juízo e ver que estava errada. Fiquei no carro por quase meia hora, antes de me dar conta da realidade: Duda não viria atrás de mim.

Peguei o celular e liguei para o Márcio. Ao ser atendido, eu disse:

- Coloca no viva-voz, quero me desculpar com a Milla.

Márcio fez o que eu pedi e voltei a falar:

- Desculpe, amiga! Se eu soubesse do que se tratava, não teria feito a vontade da Duda.

Milla, achando que Duda estava ao meu lado, disparou ríspida:

- Você é uma filha da puta, Duda! Nem sei porque ainda sou sua amiga…

- Ela ainda está lá com eles na danceteria. Nós brigamos. - Eu tratei de interrompê-la.

O silêncio foi constrangedor, mas eu deveria ter entendido o que significava. Totalmente sem jeito, e como naquela época de nossas vidas a lealdade de Milla ainda era maior à Duda, ela tentou disfarçar:

- Ela é cabeça quente assim mesmo. Depois ela volta com o rabo entre as pernas. Duda é uma pessoa difícil, mas ela sabe reconhecer quando erra. Deixa isso para lá, amigo! Vá descansar.

Batidas fortes na porta interromperam aqueles pensamentos. Era o Márcio novamente, preocupado:

- Hora de voltar a viver, vamos! Eu só saio de perto depois que deixá-lo na empresa. Acelera.

Desliguei o chuveiro e me enxuguei pensando no quanto eu fui feito de trouxa. Sabendo o que eu sei hoje, e o que aquelas mensagens de WhatsApp me mostraram, deduzi que Duda devia ter saído dali com os três e feito uma senhora suruba naquele dia. Disso eu tinha certeza.

O terceiro estágio do luto, então, veio depressa. Ali naquele banheiro, nu e destruído, eu coloquei meus joelhos no chão e barganhei com Deus: "Senhor, me ajuda a esquecer essa desgraçada. Eu prometo fazer a sua vontade. Farei caridade, voluntariado, ajudarei as crianças sem pais, os necessitados…, mas por favor, me faça esquecer essa mulher. Eu não posso viver assim."

Logo eu, uma pessoa que não era crente, que duvidava da existência de Deus, estava ali, barganhando na hora da necessidade. No momento de desespero, acabamos nos dando conta do quanto somos ignorantes e hipócritas incoerentes.

Saí do banheiro e me vesti com o terno que Milla e Márcio haviam escolhido. Após os elogios verdadeiros da minha amiga e confidente, e de uma pequena zoação entre amigos feita pelo Márcio, eu estava pronto para encarar os meus fantasmas, achando que os dois confiariam em mim e iriam embora, mas fui escoltado por Márcio até o estacionamento da construtora. Antes de ir, ele estacionou do lado e pela janela falou:

- Saiba que eu tenho meus informantes. Não adianta achar que eu não sei o que você irá fazer. Vá trabalhar, isso ajuda. Sei que você tem prazos a cumprir.

Ele acelerou e se foi. Eu saí do carro e fui caminhando devagar, me lembrando que a primeira pessoa que eu iria encontrar, após a minha secretária, seria o filho da puta do Kaique, que a pedido de Duda, era hoje o meu braço direito.

Parei, tirei o celular do bolso e voltei a ler as mensagens que o Márcio tinha enviado, a prova circunstancial das traições de Duda:

"Kaique: E aí? Hoje vai dar?

Duda: Vai dar quando eu quiser.

Kaique: Tá se fazendo de difícil? Vai dizer que não está sentindo falta?

Duda: Por que eu sentiria? Quem disse que você é tudo isso?

Kaique: Melhor que o Nique, eu tenho certeza.

Duda: Kkkkkk. Nos seus sonhos.

Kaique: Se não fosse, você não voltava sempre.

Duda: Eu gosto de variar. Você até tem uma boa pegada, mas está bem longe do Nique. Se enxerga…"

Era inacreditável. Meu estômago revirou e doeu na hora. Ali estava a prova de que ela me traía com o safado do amigo traíra. E a dor da traição era destrutiva. Se eu era tão bom no sexo como Duda fazia parecer, por que ela precisava trair? Isso tornava tudo ainda mais doloroso. Revoltado, me lembrei de uma conversa estranha que tivemos logo no primeiro ano de namoro. Estávamos em um hotel fazenda na serra, um lugar maravilhoso e com o clima propício para romance. Seria o fim de semana em que eu pediria a mão da Duda. Estávamos na cama e Duda mamava no meu pau de forma magistral. Sua boca engolia o pau inteiro. Eu chegava a tremer:

- Caralho, mulher! Ninguém chupa uma piroca como você.

Sua língua corria macia por toda a extensão da caceta e depois, fazendo movimentos circulares nas minhas bolas, antes de dar uma chupada demorada em cada uma:

- Assim eu vou gozar rápido, sua safada!

Duda voltava a abocanhar a rola e enfiar tudo na boca. Retirava de dentro com uma chupada estalada na cabeça e depois engolia outra vez, fazendo uma sucção deliciosa na glande.

- Puta que pariu! Assim eu não aguento…. Aaahhhhhhhh….

Não pude resistir e gozei gostoso, inundando sua boca com meu sêmen. Ela engolia tudo sem perder uma gota sequer, deixando o pau limpinho e pronto para a próxima:

- Você é demais. Eu tenho muita sorte.

Duda me sorria satisfeita. Vê-la ali, nua e linda à meia luz era uma visão incrível. Seu corpo perfeito era a minha maior fonte de desejo. Tudo nela era impecável. Eu sentia que queria aquela mulher para sempre. De repente, ela fez uma pergunta estranha:

- Você disse que nenhuma mulher chupa uma rola como eu. Você já experimentou tantas assim?

Antes que eu pudesse responder, Duda deitou de ladinho e veio esfregando aquela bunda deliciosa no meu pau. Eu não sabia muito o que dizer, pois a pergunta veio de repente. Tentei disfarçar:

- Não muitas, mas o suficiente. Márcio sempre foi muito bom em conhecer mulheres e me apresentá-las. Esqueceu como nos conhecemos?

Duda se esfregava e com isso eu me excitei novamente e muito rápido ao notar seu desejo.

Sentindo minha ereção, ela pegou o meu pau e foi encaixando na entrada de sua xaninha. Ela estava tão excitada com a situação e a conversa, que o pau deslizou facilmente para dentro. Duda avaliou minha resposta e me pegou desprevenido:

- Você já esteve com mais de uma mulher ao mesmo tempo? Do jeito que sua família é rica, isso deve ter sido uma constante para você e o Márcio.

- Não! Já tive oportunidade, mas acabou não acontecendo. – Respondi.

No meio de nossa relação, eu estranhei aquela pergunta. Excitado, comecei a estocar fundo, tirando o pau inteiro e voltando a penetrar forte. Duda, aproveitando o momento, me olhou de forma maliciosa e entre gemidos, voltou a falar:

- Você teria coragem? Hummmm... Mesmo estando comigo? Aaahhhh…

Continuei o vai-e-vem gostoso, com calma e cada vez indo mais fundo. Sem entender a malícia de provocação no sorriso dela, achei que a pergunta era uma cilada e acabei escolhendo a resposta política:

- Jamais! Eu a amo e você me basta. Você é única para mim.

Achei que era aquilo que ela queria ouvir, mas não era. Talvez, a minha negativa tenha sido uma clara demonstração de inflexibilidade, pois Duda se afastou e pareceu ter perdido totalmente o tesão.

Foi impossível não pensar que se eu tivesse reagido melhor naquela época, talvez, naquele momento, aquelas traições poderiam ter sido a aventura de um casal e não a covardia de uma pilantra que parecia uma interesseira.

Só que havia uma contradição. A verdade é que de interesseira, Duda não tinha nada. Ela nunca havia me pedido um único real. Tudo que eu dei, foi de livre e espontânea vontade, e houve até uma certa resistência e protesto para que ela aceitasse cada um dos meus presentes.

Tirando algumas joias, roupas e perfumes, todos os grandes presentes foram contestados. Quando lhe dei o seu primeiro carro, um Audi, os seus quinze minutos de direção foram até a concessionária para devolver. Após dias de brigas e resistência, ela aceitou um Citroën C4 hatch, bem inferior, mais barato e ainda por cima usado.

Minha cabeça fervia com as análises das situações. Pensando com clareza, o interesse financeiro que eu usava até o momento para explicar a traição não era verdadeiro. Duda sempre teve muita dificuldade em aceitar os meus presentes caros. Eu precisava encontrar uma outra explicação para justificar o seu comportamento infiel. Ou talvez, toda aquela resistência tenha sido friamente calculada para me enganar.

Uma voz preocupada e incisiva interrompeu as reflexões:

- Cara! O que aconteceu com você? Estamos com os prazos todos apertados. Há três dias não temos uma direção a seguir no projeto do prédio comercial do centro.

Ser tirado dos meus pensamentos, e justamente pelo filho da puta do Kaique foi demais. Não pensei, apenas reagi. Meu punho raivoso tentava encontrar sua cara, mas ele foi mais rápido e conseguiu desviar. Me olhando sem entender e segurando minhas mãos, ele disse:

- Tá maluco? O que deu em você?

Meu ódio me fazia bufar. Respirei fundo e disparei:

- Sai da minha empresa agora, você não trabalha mais para mim. Seu talarico desgraçado! Saiba que você nunca mais conseguirá um emprego decente nesta cidade. Ou melhor, neste estado. Os contadores irão até você para fazer o seu acerto. Some da minha frente.

Kaique me olhava assustado. A raiva elevou a adrenalina e eu comecei a me sentir bem. Ele se afastou e eu entrei decidido na empresa, sendo prontamente seguido por Jane, minha secretária:

- Sr. Nique, tenho dezenas de documentos para o senhor assinar.

Eu não queria saber de nada. Pedi a Jane que me deixasse em paz. Ela ficou admirada e sem reação. Eu me tranquei na minha sala, sentindo a adrenalina baixar e o sofrimento voltar com tudo. Liguei o computador e enquanto procurava um destino para me refugiar, ficar longe da vista de todos, meu celular tocou.

O sorriso da foto de identificação do contato parecia um deboche. Duda linda e plena me encarava radiante, parecendo dizer: "Atende corno. Não quer falar comigo, chifrudo? Seja um corninho manso e atenda esse celular…"

Com lágrimas já escorrendo pelos olhos, peguei o aparelho e o arremessei com força contra a parede. Os vários pedaços pareciam aliviar um pouco o meu sofrimento. Aquele aparelho e eu éramos iguais, ambos em pedaços, destruídos… A fúria tomou conta do meu corpo e perdi o controle. Depois de alguns minutos, ao olhar ao redor, vários objetos pareciam querer se igualar a mim e ao celular: o vaso de plantas, o telefone de mesa, o teclado do computador… todos éramos uma grande família feliz agora, todos em pedaços. Eu na minha cadeira e eles no chão do escritório.

Jane, sempre zelosa, abriu a porta com a chave reserva e de olhos arregalados, não entendia o que acontecia:

- Sr. Nique? O que está acontecendo? O senhor está bem? Quer que eu chame alguém?

Depois da tempestade veio uma calmaria, logo seguida de outra emoção. Eu estava descontrolado e os sentimentos confusos. O pranto veio forte, assim como o quarto estágio do luto: depressão.

Jane, cuidadosa como só ela, escolhida a dedo por minha mãe, tentou me dar um pouco de carinho. Se abaixou na minha frente e me abraçando, me deixou chorar em seu ombro. Sábia e experiente, acariciando minhas costas e dando conforto. Ela disse:

- O que quer que seja, vai passar. Você ainda é muito novo, tudo está apenas começando. Essa é só a primeira vez. Derrotas, fracassos, vitórias, conquistas, perdas, ganhos… tudo é novo, você aprenderá a conviver com tudo isso.

Eu só precisava de uma resposta e mesmo que ela não a tivesse, eu perguntei mesmo assim:

- Por que ela fez isso comigo, Jane? Eu não era suficiente? Por que uma pessoa diz que ama e prefere mentir?

Jane era mais do que uma secretária. Ela me conhecia a fundo:

- As pessoas são o que são. Confusas, imperfeitas, traiçoeiras…, mas também, belas, amorosas, necessárias… todos tem um pouco do bem e do mal dentro de si. Equilibrar essa balança leva tempo e o aprendizado é constante. Vocês ainda são crianças, praticamente.

Jane me olhava com ternura. Sem ela, que antes de ser minha secretária, fora minha babá, minha vida teria sido muito mais vazia. Ela voltou a dizer:

- Pelo jeito, você precisa se entender com a Duda. Dê a ela, pelo menos, a chance de se explicar. Talvez depois, você consiga entender e seguir em frente. Só ela pode responder a sua pergunta, mais ninguém.

Mesmo que Jane tivesse razão, eu ainda não estava preparado para esse encontro. As mensagens eram reais, disso eu não tinha dúvidas, mas encontrá-la, seria o mesmo que aceitar de vez. Por mais que tenhamos a certeza de alguma coisa, a esperança sempre teima em ficar ao nosso lado. Encontrar Duda e ouvir suas explicações, seria admitir, aceitar o inevitável. Eu ainda não estava pronto para aceitar, precisava sofrer e encontrar o sentido. Vulnerável como eu estava, eu iria ceder ao amor e ao perdão. Por mais intensa que fosse a dor em meu peito, o amor por Duda ainda era mais forte e capaz de me fazer sucumbir. Seu encanto era maior do que a minha vontade de resistir.

Chorei por quase dez minutos antes de me recompor e pedir licença a Jane. Peguei as chaves do meu carro e saí, sem me importar com os clientes que aguardavam para falar comigo ou com as palavras de Márcio antes de se despedir. Achava que sem celular, ninguém me encontraria mais durante aquele dia. Entrei no carro e rodei sem rumo por quase duas horas pela cidade. Ainda eram onze horas da manhã quando a luz do painel, indicando que o carro havia entrado na reserva de combustível chamou a minha atenção. Parei em um posto qualquer e pedi ao frentista para completar o tanque. Perguntei pelo banheiro e ele me indicou uma porta lateral. Ao me olhar no espelho, notei que as olheiras e a palidez eram profundas. Eu estava irreconhecível.

Voltei ao carro e tornei a rodar sem rumo, parando finalmente em um antigo endereço na parte central da cidade. Um prédio de apartamentos que estava com a pintura bem desgastada. Era ali que, há quatro anos atrás, morava a Natasha e onde passamos tardes intensas de amor. Sempre que eu chegava, ela liberava a agenda completamente e passava o dia comigo.

Sai do carro e me encostei na lateral, observando o movimento. Pela hora, dificilmente algumas das meninas estariam transitando na rua. Atravessei a rua e me sentei na pastelaria, em frente ao prédio. Pedi um pastel de queijo e um caldo de cana com limão. Observei por quase quarenta minutos, até que uma moça com todo o jeito de profissional do sexo, entrou no estabelecimento e sentou na cadeira ao meu lado. Ela sorria para mim, tentando me agradar. Era uma moça bonita, nos seus vinte e poucos anos. Cabelos castanhos, rosto fino e nariz pequeno. Uma maquiagem pesada para a hora e que a fazia parecer bem mais velha. Ela tratou logo de puxar conversa:

- Primeira vez aqui?

Eu fingi que não entendia o que ela estava querendo:

- Aqui na pastelaria? Por quê?

Ela novamente sorriu:

- Quando um homem se senta por aqui, por tanto tempo, é sinal que está sem jeito de subir. Envergonhado talvez?

Eu tentei ser honesto:

- Eu estava rodando sem rumo. Nem sei por que parei aqui.

E me fiz de desentendido:

- Mas não entendi sua questão, o que acontece aqui?

Eu me fazia de inocente, pois a conversa despretensiosa me fazia bem. O jeito dela me lembrava Natasha. "Será que ela a conhecia?" Pensei e prestei atenção na sua explicação:

- Geralmente quando um homem está por aqui, assim sem rumo igual a você, ele está procurando alguém.

- Não estou procurando ninguém. - Respondi com expressão de desânimo.

Ela ficou me observando por uns longos dez segundos. Depois disse:

- Você não engana. Pelo seu estado, acho que você está sofrendo. Diga a verdade.

Não respondi nada. Mas ela, na sua simplicidade, deduziu certo. Apenas abanei a cabeça. Ela insistiu:

- Você está procurando alguém em especial?

Naquele instante, destroçado, eu até a achei meiga. Até pensei em usá-la para me livrar dos meus problemas. Quem sabe um sexo sem compromisso e sem nada mais depois me ajudasse a relaxar? Mesmo que ela fosse bonita e agradável, eu não estava a fim. Resolvi ser honesto e testar:

- Eu conhecia alguém aqui, mas faz tempo. Nem sei se ela ainda está por aqui ainda. Pelo tempo decorrido, ela já terminou os estudos. Talvez já esteja em outra.

Fiz uma pausa, e em seguida me corrigi:

- Nem perguntei o seu nome, desculpe, eu sou o Nique.

- Eu sou a Bela. Prazer, Nique! Me diga o nome dela, da sua conhecida, talvez eu possa ajudar. Já estou aqui há algum tempo. Quem sabe…

Eu pensei se deveria e resolvi arriscar:

- Natasha! Ela se chama Natasha. Você a conheceu?

Bela pensou em voz alta:

- Natasha… Natasha…

Eu tentei ajudar:

- Moreninha mignon, seios médios, cabelo preto e corte Chanel, tatuagem de rosa no ombro direito…

Bela me olhou vitoriosa:

- Sim! A Nat. Cara, você não é bobo, não! Só mexe com o suprassumo. Mas ela não está mais nessa vida. Na verdade, ela agora é advogada e cuida da gente.

Eu fiquei mais animado:

- Você sabe dela?

Feliz, Bela pediu uma caneta ao atendente e escreveu o telefone da Natasha em um guardanapo. Mas antes de entregar, ela sondou:

- Pera aí! Acho que eu não devia fazer isso. Você está aqui procurando a puta, não a advogada.

Tentei me justificar:

- Na verdade, eu estava procurando uma amiga. Natasha não é uma puta para mim.

Uma voz feminina atrás de nós, entrou na conversa:

- É verdade! Natasha é muito mais do que uma puta para ele. Eu lembro de você playboy.

Ao me virar, uma negra linda me encarava. A reconheci instantaneamente. A amiga de Natasha que ficou com Márcio. Eu disse:

- Olá, Brenda! Há quanto tempo, Como você está?

Brenda estava ainda mais bonita. Sua roupa formal demonstrava que ela também havia largado a vida de puta. Ela foi direta:

- Oi, Nique! O que você quer com a Natasha?

Ela ainda riu sozinha:

- Natasha… há tempos não falo esse nome. Ah, e eu, doutora Samara, por favor. Brenda não existe mais.

Eu fui rápido nas deduções:

- Pela sua risada, suponho que Natasha também não exista mais. Vai me dizer o nome verdadeiro?

Samara voltou a se divertir:

- Você já tem o telefone, por que não pergunta a ela? Tenho certeza que minha sócia adoraria revê-lo. De vez em quando, ela sempre lembra de você. Agora preciso ir, tenho clientes. Foi um prazer revê-lo.

Samara me deu dois beijinhos no rosto e saiu rebolando aquela bunda incrível, seguida pelos olhos gulosos, tanto os meus como os da Bela.

Me pegando desprevenido, Bela disse:

- Pronto! Agora que você conseguiu uma parte do que veio buscar, que tal um programinha? Como você é famoso por aqui, dou uma caprichada, cento e cinquenta a hora. Topa?

Eu sorri para ela. Aquela conversa havia melhorado muito o meu espírito. Ela insistiu:

- Vamos lá, anote meu número pelo menos.

Foi só então que eu me lembrei que estava sem celular. Dobrei o guardanapo com o número de Natasha, guardei no bolso e disse:

- Preciso de um celular. Destruí o meu numa parede hoje mais cedo.

Bela foi solícita:

- Tem uma loja aqui do lado. Quer dar uma olhada, eu não tenho nada para fazer mesmo, te acompanho. Nenhum cliente marcado, a coisa está feia hoje.

Apesar da situação financeira, eu nunca me importei muito com o modelo de celular que usava. Nunca me liguei a esse negócio de status do aparelho mais famoso. O único que tive, me mostrou o péssimo desempenho de sua bateria. Acabei optando pelos modelos com sistema Android. Surpreendendo Bela e por ter gostado de sua companhia, e por só ter tomado o caldo de cana e não comido o pastel, fiz o convite:

- Estou com fome, quer almoçar comigo? Compramos o celular e depois podemos ir. - Aproveitei para imitar seu jeito e brincar com ela - Topa?

Seu sorriso radiante já demonstrava sua excitação:

- Espera eu trocar de roupa. Não estou vestida para almoçar.

Ela nem me esperou responder e saiu correndo para o prédio à nossa frente. Em menos de vinte minutos estava de volta. A transformação foi espetacular. O rosto limpo, sem a maquiagem pesada, mostrava toda a sua beleza. Os olhos cor de mel ganhavam brilho e a leveza de uma menina, apenas uma garota jovem, a simplicidade a fazia resplandecer. A bermuda de tecido leve destacava a bela bunda arrebitada, e o top, um pouco maior do que o anterior, completavam o conjunto, destacando os seios médios, bem formados, com os biquinhos marcando o tecido. Ela estava linda e eu, embasbacado:

- O que foi? Tá me olhando assim por que?

Tentei voltar ao normal:

- Nada! Você está linda.

Novamente ela deu aquele sorriso lindo que me encantava, mas que ainda não conseguia apagar a dor em meu peito. Bastava lembrar de mulher e eu acabava sempre lembrando de Duda. Achei que a Bela percebeu:

- Obrigada! Mas por que ficou triste de repente?

Eu tentei desconversar e já fui andando em direção ao carro:

- Nada não! Alguns problemas que eu estou passando.

Bela era esperta:

- Mulher, né? Homem com olheira, sem rumo, com problemas e procurando "velhas amigas", só pode ser isso. - ela até fez o sinal de aspas com a mão.

Ao ouvir o som do carro sendo destravado e tendo a certeza do modelo, os olhos de Bela voltaram a brilhar:

- Nossa! Você é rico, né? Que carrão! Nunca andei em um desse.

Seu jeito de moleca que me fazia bem e por um instante, tive um momento de maior lucidez e pensei: “acho que era isso que faltava na minha vida, um pouco de realidade, do quanto eu sou abençoado e acabo me esquecendo de que nem todos são como eu.”

A partir daquela descoberta, de que eu era rico, eu achava que Bela mudaria completamente. Pensava que ela ia aproveitar para tentar tirar alguma coisa de mim. Já desconfiando, entrei no carro sem imaginar que grandes surpresas me esperavam.

Continua…

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Comentários

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Max Al-Harbi, eu gosto muito do seu estilo de escrita, como eu acho legal a construção da ambientação e como você constrói seus personagens.

A forma com que você faz nos deixa facilmente ou identificados com eles mesmo que seja por algum período de nossas vidas ou conseguindo identificar alguém próximo que poderia ser um de seus personagens, essa forma que mesmo que você não concorde com algumas atitudes ou com o desfecho torna a experiencia de leitura muito rica e nos traz uma imersão em sensações muito além de uma simples excitação de um conto erótico.

Parabéns, mais um ótimo conto.

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Por enquanto, só tenho que comentar que...

... caramba, como eu gosto de narrativas com flashbacks! Eu mesmo utilizo isso quando escrevo.

Tá me dando é ansiedade no reencontro com a "Natasha". Os dois capítulos de ambientação foram bem escritos, mas agora vamos à trama? rs

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Max como sempre seus contos são os melhores, parabéns.mas homens apaixonados são todos iguais,perde o direito de pensar viram carneirinho diante de uma pessoa,aí perdem a razão,Nick precisa dar a volta por cima, talvez bela seja está válvula ,vou continuar lendo bjs a vc e outro p jean

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MAX, tirei um pedacinho da madrugada e vim dar uma olhada neste seu novo conto. Um drama dos mais comuns e verdadeiros no centro do conflito: Um machista que se deixa envolver por uma mulher independente, linda, gostosa, e dona do seu nariz, descobre que ela vive a vida sem medo de ser feliz, faz o que sente vontade e mostra a ele que não vai se deixar dominar. Dividido entre a paixão e a raiva de se ver apenas um coadjuvante, sem deter o controle, embora esteja acostumado a ser o centro das atividades, confiante de que o dinheiro lhe garante o poder, toma na cara uma bela bofetada de realidade e independência. Como bom machista vai achar que ela é uma vagabunda, mas sofre por isso, já que sabe que gosta dela e no fundo sente sua falta. Em torno desse drama bastante comum e realista, que exemplifica a história de muitos como ele, circulam personagens secundários interessantes, ricos de personalidade, cheios de realismo e muito verdadeiros em seus perfis, comuns e verossímeis, com suas próprias histórias pessoais e suas atitudes diante dos fatos. Ou seja, uma história que parece muito verdadeira, até comum, mas repleta de "sub-dramas" que prometem uma história muito boa, onde sua excelente capacidade narrativa, e inventiva, nos revela o ótimo contador de histórias que você já é. Um dos grandes novos autores do site, e que nos brinda com belas e intrigantes tramas. Não apenas sexo mas um erotismo consistente, real. Aqui você pode tudo e a história tem potencial para ser mais um dos seus grandes sucessos. Parabéns. Vou ler com muita atenção e respeito. Estrelado como devido.

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Show Max, espero que está reviravolta siga belo bom caminho

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Se não tiver nenhuma sacanagem já sou time NAT. Ótima continuação. Max desistiu da série O que é o amor e das outras de ficção?

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Opa meu amigo tudo bem? cara essa história promete heinnn

parabens

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Caraca Max! Sem palavras! Excepcional como sempre!

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Max meu brother!!! Essa estória está prometendo muito. Parabéns!!!

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Max amigo sumido trabalhando muito certo, como sempre nota mil demais amei.

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Max, a história tá muito boa. Vc é mestre. Não demora miito pra postar😁👊

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Suas histórias são excelentes parabéns, aguardando o próximo episódio.

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