Cris me pediu para ir para o chão e foi sugando com a boca a sopa que havia ficado no meu rosto até me deixar bem limpinha. Ela tirou toda a minha roupa, deixando apenas o plug anal e me fez engatinhar pela casa como a sua cachorrinha. Quando chegamos na cama do quarto da sua mãe, ela ordenou:
– Agora me come, cadela.
Pensei comigo que, naquele momento, a minha amiga é que deveria ser a verdadeira cadela e eu deveria possuí-la como só os animais sabem fazer. Fechei os olhos e comecei a lambê-la. Primeiro, a minha língua percorria a bucetinha, cheia de líquidos; depois, sentia o sabor do cuzinho, delicado e sensível.
– Chupa o meu cuzinho, sua cadela, esfrega essa boca nele.
Fui cheirando, sentindo, percorrendo com o meu focinho e com as minhas patas o corpo que se entregava para mim. A bundinha da Cris precisava ser possuída. A Cris ficou de quatro e eu fui me aproximando, penetrando, engatando o meu membro dentro do se cuzinho. Com o meu mastro lá dentro, resolvi ficar em pé, com as pernas afastadas, o joelho inclinado, para poder pressionar o meu corpo contra aquelas nádegas. O corpo de Cris se inclinava para baixo, deixando apenas a bundinha para cima, como uma pequena lua reluzente, pronta para me receber. O meu membro penetrava de cima para baixo, com força, fazendo pressão. A Cris gemia como uma cadela e eu me esforçava para ser o seu animal.
– Cachorra, filha da puta, me come, sua vadia – ela gritava.
Comecei a me apoiar nas ancas da minha namorada, e a aumentar os meu movimentos freneticamente. Enquanto eu enfiava com força, o plug anal que estava no meu ânus começou a doer por conta das contrações repetidas e senti a necessidade de tirá-lo.
Cris percebeu e, para minha surpresa, dirigiu-se até as minhas nádegas, retirou o plug, e foi logo colocando o objeto inteiro dentro da sua boca, enchendo-o de saliva. Vendo a minha cara de pasmada, ela comentou:
– O que foi? O lubrificante de menta é comestível e somos duas cadelas. Sem nojinho, entendeu?
Repeti aquelas palavras para mim: “Sem nojinho, somos duas cadelas”. Fechei os olhos e a cadela da minha amiga retirou o objeto da sua boca e o colocou na minha. O plug tinha gosto de menta e de uma saliva um pouco mais grossa, viscosa, como se fosse baba de cachorro. O vazio que tinha ficado no meu ânus estava sendo preenchido pela boca da minha amiga. A língua da Cris no meu anel era geladinha e deslizava como um pequeno peixinho dourado. Aquele era um prazer diferente. Prazer delicado, capaz de arrepiar o corpo interior a partir de um pequenino ponto.
Para não decepcionar a minha amiga, ou talvez pelo orgulho de conseguir ser tão puta como ela, fui colocando o plug na minha boca até engolir por completo, inteirinho. A Cris me dava um verdadeiro apoio motivacional:
– Isso, cadela, engole tudo e prende a respiração.
Segurei a respiração o máximo que pude e quando soltei o plug saiu da minha boca com uma quantidade absurda de saliva.
– Está bem lubrificado. Ótimo trabalho, cadela. Agora coloca de volta no lugar certo. Só quando você estiver com o rabinho no lugar é que vai poder continuar a me foder. Ou será que você já esqueceu da nossa primeira lição?
Pensei um pouco e tentei repetir as palavras iniciais da minha amiga, antes de transarmos. Eram palavras que me transformam numa verdadeira passiva:
– Uma fêmea de verdade só pode usar o próprio pênis se estiver devidamente preenchida na parte de trás.
– Isso mesmo, cachorra, aprendeu a lição direitinho – disse a minha amiga.
Cris ficou de quatro, inclinou o corpo para baixo, e deixou a bundinha para cima, pedindo para que eu a penetrasse novamente. Ela não falou nada, mas seu corpo repetia uma linguagem universal e cuja sonoridade é parecida numa infinidade de línguas: “fode-me” (português), “fuck me” (inglês), “fóllame” (espanhol), “fottimi” (italiano), “Fick mich” (alemão). Basta um “F” forte no início, grosso e tônico, e um pronome átono mais fraco no final, pequeno, agudo passivo, para que a cena se torne inteligível em qualquer língua de origem latina.
E assim aconteceu. Bastou que o meu membro adentrasse novamente o anel já aberto e sedento da minha amiga para que ela começasse a pedir:
– Fode esse cuzinho, vai, mete nele, vai, fode essa tua cachorra.
De repente, sinto que a bunda da minha amiga se inclina para trás, indo em direção ao meu pênis. Já não era mais eu que fodia, era a bunda da minha amiga que fodia comigo, rebolando, descendo, gingando. A bunda dela dançava no meu pau, metia nele, esfolava.
A minha amiga reivindicava o seu poder. O corpo dela emponderava-se, mostrando que, no Brasil, a ordem correta não é o “fode-me” das outras línguas latinas. No nosso caso, primeiro vem o objeto do prazer, a bunda, com sua delicadeza, grandeza, arrebatamento. É por isso que a gente sempre diz: “me fode”, “me come”, “me usa”.
A bunda é o símbolo, nela está a força do feminino, a bunda de Cris rebolava para trás e eu me remexia para frente, sentindo a pressão do plug anal direcionando o meu corpo. As nossas bundas comandavam o sexo, dançando, bamboleando, friccionando as nossas intimidades. O plug anal atrás de mim me ajudava a sentir a fêmea que eu era e me dava forças e virilidade para penetrá-la com ainda mais intensidade.
Junto com Cris, comecei a pedir, afinando a minha voz:
– Me fode, vai, me come com essa bunda gostosa.
E foi assim que o prazer foi me subindo, me envolvendo, e eu afirmei que iria gozar.
– Me dá leitinho – falou a Cris.
Porém, bastou que eu tirasse o meu membro do cuzinho da minha amiga para que ele esporrasse inteiro na sua bundinha. Ela, então, pediu:
– Cadela, suga a porra da minha bunda sem engolir.
Fui em direção a sua bunda como se estivesse numa rara missão e não pudesse desperdiçar uma única gota de um líquido precioso. Absorvi tudo e dei para a minha amiga. Ela, porém, também não engoliu. Resolveu que deveríamos brincar com aquele leitinho como duas putas de verdade. Uma deveria dar o leitinho para a outra, sem deixar cair nenhuma mísera gota no chão. Assim, fizemos. Sentindo meu esperma aumentar de tamanho ao se misturar com nossas salivas, eu pensava que nós duas éramos completamente malucas. Duas viciosas. Putas! Cachorras! Fetichistas! E gostava de poder compartilhar aquilo.
À medida que a nossa brincadeira se expandia, mais difícil era mantê-la. A Cris não aguentou e deixou o líquido transbordar, sujando o seu rosto. Eu havia ganho aquele desafio e o meu prêmio foi um beijo muito babado. Um beijo branco de porra que deixou os nossos lábios com sabor de sexo.
Acho que esses momentos com a Cris são e serão para sempre os melhores da minha vida. A Cris é tão puta e tão pura ao mesmo tempo que eu fico deslumbrada. Talvez me censurem por juntar essas duas palavras: puta e pura. Um sacrilégio! Mas não acho inadequado. Existe uma pureza obscena que só as pessoas que não têm nada a esconder podem ter. É tão bom ter a Cris. Ter alguém com quem eu possa compartilhar as minhas intimidades, alguém que me faça ser por inteiro o que sou, alguém que não vai se espantar mesmo que eu diga as maiores baixezas e vulgaridades. Com a Cris, eu sempre me senti no paraíso.
É claro que aquele, em comparação com os outros, era um paraíso bem estranho e lascivo. Um paraíso cheio de maçãs proibidas que nós duas não cansávamos de morder.
Leitores, mais uma vez estou saindo da história e peço que vocês me perdoem. Retomando a cena do beijo de porra, um último fato inusitado aconteceu. Terminado o beijo, eu procurei sugar todo o leitinho que escorria pelo meu rosto e fui me limpar no banheiro. Tomei o meu banho e fui pedir para minha amiga uma roupa dela para vestir. Quando vou fazer o pedido, deparo-me com o rosto dela ainda todo babado, com porra em todos os lados. Espantada, pergunto:
– Não vai se limpar, amiga?
– Não, mereço uma prenda – ela falou. – Perdi o nosso jogo e deixei o leitinho cair. Preciso ser punida.
– E que tipo de prenda, Cris? – perguntei.
– Vamos até a padaria comprar pão e eu vou com o rosto assim, todo sujo de porra.
– Mas, amiga, isso é loucura! – exclamei, tentando conter o impacto.
– Eu já me decidi. Separei uma bermuda jeans para você e uma camisa unissex da seleção brasileira. A calcinha você vai precisar escolher.
Escolhi uma calcinha fio-dental, de rendinha, que me deixava bem gostosa e adorei a bermuda jeans da minha amiga. Ela era de elastano e se ajustava ao meu corpo, ficando bem apertadinha e realçando a minha bunda. A camisa da seleção escondia tudo, ela era um pedaço de pano que escondia para o mundo o meu lado feminino. Rejeitei a camisa verde-amarelo, não me sentia muito patriótica com ela. Na verdade, fazia tempo que aquela camisa, ao invés de me incluir, parecia querer negar a minha essência. Ao ser usada por grupos homofóbicos de extrema direita, ela era o masculino que me negava e que eu precisava evitar. Com os meus pequenos seios de fora, falei:
– A camisa da seleção não cabe em mim. Posso pegar outra?
– Pode, escolhe a que você quiser.
Escolhi uma blusinha vermelha, bem discreta, sem decotes, e com a estampa da Minie. A blusinha combinava com os meus seios pequenos e infantis. Pensei que, antes de ser mulher, eu precisava aprender a ser uma garotinha.
Cris aprovou a minha escolha e até me deu a camisa de presente, dizendo que já estava para aposentá-la. Na padaria, ninguém parecia olhar para nós duas. Não escutamos nenhum comentário. Quando já estávamos do lado de fora do estabelecimento, imersas na rua escura, um senhor, discretamente, falou:
– Senhora, o seu rosto está sujo, apontando para os lábios e para o nariz.
Cris tirou com os dedos aquele resto de porra, lambeu, e depois perguntou:
– Agora melhorou?
– Ainda não – respondeu o homem.
Cris, então, me chamou e começou a me beijar, fazendo com que eu a limpasse por completo. Nesse momento, algumas pessoas que saíam do estabelecimento começaram a franzir as sobrancelhas, desaprovando o casal de mulheres que tinha resolvido namorar em público.
Encabulado, o senhor saiu sem dizer mais nada. Provavelmente, estava nos rejeitando por dentro. Com certeza, não era o conteúdo sexual daquele beijo que estava sendo censurado. Era impressionante como a homossexualidade parecia horripilante para as pessoas, enquanto o conteúdo, realmente, obsceno do nosso beijo permanecia invisível.
Foi, então, que a minha amiga resumiu a situação:
– Se você tivesse optado pela camisa da seleção e fosse percebida como um homem, mesmo sendo um pouco afeminado, a reação seria positiva.
– Com certeza – falei.
– Iriam até elogiar o afeminado que se libertou e aceitou a heterossexualidade como único caminho para a salvação – complementou a minha amiga.
– É verdade. E eu seria o macho pegador que foi premiado com uma princesinha gostosa. O máximo que eles pensariam seria...
– A camisa da seleção ainda está valendo – falou a Cris, interrompendo a minha frase.
– Já disse que ela não cabe mais em mim – respondi.
– Sei disso – afirmou a minha amiga. – Coloquei de propósito para te forçar a ter que fazer uma escolha.
– Então, era tudo um teste? – questionei.
– A vida é um grande teste – filosofou a minha amiga. – A vida é um grande teste onde pequenas escolhas definem aquilo que somos e podem mudar por completo a vida de toda uma nação.
Nesse momento, perguntei:
– Cris, você teria vergonha de andar com uma camisa verde-amarela na rua e ser confundida com uma pessoa de extrema direita.
– Sim, teria – ela respondeu.
Resolvi concluir:
– Que coisa estranha é o sentimento de vergonha. Você não tem medo de andar lambuzada de porra, mas tem receio de andar de verde-amarelo.
– A porra costuma ser confundida com leite ou yogurt – disse Cris. Ninguém vai provar para ter certeza. Já a camisa do Brasil, quando não é dia de jogo da seleção, tornou-se, claramente, um símbolo obsceno e não deixa espaço para dúvidas.
Leitores, só agora percebo que o meu conto mais uma vez se desvia. De uma obscenidade fetichista e prazerosa adentrei terrenos pantanosos que têm gerado angústias para os que têm um mínimo de consciência. Termino aqui o meu conto sem sentir nenhum pingo de culpa ou remorso pelos que podem ter se ofendido com as minhas concepções políticas. Os leitores LGBTs ou simpatizantes que são de extrema-direita estão, mesmo sem saber, contribuindo para um governo que ataca minorias e contribui para a destruição da nossa diversidade com um punhal cruel, antidemocrático e heteronormativo.
Motivem a nossa escrita com seus comentários.