Com mentiras, trapaças e chantagens, Ian, conquistou toda a diretoria técnica da Tech Land. Ele descobriu, por exemplo, que Joel e Teresa eram amantes, já seu Agenor desviava materiais de informática para a sua casa, e Leandro, o design da empresa, tinha caso com uma adolescente. Informações preciosas que ajudariam Ian na fase crucial do plano principal.
Em sua mesa, Ian, posicionava várias peças e cada uma representava um funcionário da Tech Land. Enzo, André e Popi estavam posicionados do lado direito da mesa, as outras espalhadas. A mente dele viajava para achar maneiras de gerar aliados e, claro, ele não perderia tempo para virar o jogo ao seu favor.
Animada com os números que só cresciam, Diana entrou no escritório cantarolando. Ela segurava algumas pastas, mas derrubou tudo ao ver uma pessoa estranha na sala. Era Benjamim Azevedo, um dos comparsas de Ian. Ele ajudou Diana a juntar os papéis e, com todo o seu charme, encantou a secretária de Ian.
— Você é uma jovem tão bonita. — comentou Benjamim.
— Por favor, Benjamim. — cortou Ian, assustando os dois. — Chamar a Diana de bonita é um absurdo até para você.
— Com licença. — pediu Diana saindo da sala.
— O que você quer? Eu já te passei os documentos. — colocando as coisas na mesa e sentando.
— Eu sei, mas acho que aqueles números estavam errados. — sentando na frente de Ian e percebendo as peças. — Olha, algum tipo de jogo sórdido?
— Bem que eu queria. Eu posso olhar os seus documentos?
— Claro. — entregando os papéis para Ian.
— Bem, eles não precisam ser exatos, o importante é refazer do jeito que lhe dê lucros.
Um jantar de casais transformou a casa de Enzo em uma verdadeira zona. Erick teve a ideia de um encontro mais íntimo com Celina, mas ela sugeriu algo em família. Enzo gostou da ideia, seria a primeira vez que faria algo do tipo. Eles decidiram o cardápio da noite, algo bem caseiro e familiar, e contaram com a ajuda de Dona Aurora. A idosa se dispôs a fazer os pratos da noite.
Com a lista de ingredientes em mãos, eles seguiram para o supermercado mais próximo. Na verdade, Enzo e Erick, possuíam muitas qualidades, mas cozinhar estava fora de questão. Graças ao apoio de Noslen, que mesmo sem saber falar português muito bem, ajudou os dois. Em menos de 30 minutos, todos os produtos pedidos pela idosa foram comprados.
— Sério, o que vocês comiam antes de eu chegar? — questionou Noslen, colocando o cinto de segurança. Ele estava mais entrosado com os irmãos e aquilo aquecia o seu coração.
— Comida chinesa, comida japonesa, churrasco, a nossa alimentação era balanceada. — disse Enzo olhando para o venezuelano pelo retrovisor.
— Entendi.
— Bem, crianças. Agora vamos pegar a Dona Aurora, e depois vou no salão.
Enzo e Noslen se olham, riem e começam a encher o saco de Erick. Pela primeira vez em muito tempo, Noslen se sentia parte de uma família. E mesmo sem perceber, Erick e Enzo conseguiram transformar a vida do venezuelano e das pessoas ao seu redor. No caminho para a casa de Dona Aurora, os três fizeram uma disputa de karaokê no carro.
Naquela tarde, o amazonense e o venezuelano decidiram tomar banho juntos. A força da água deixava o cabelo de Enzo engraçado, Noslen como tinha um corte estilo militar não fazia tanta diferença. Os beijos começaram a ficar mais quentes e a excitação falava alto.
No corpo de Noslen, haviam marcas, algumas cicatrizes do acidente e sua famosa tatuagem do Pequeno Príncipe nas suas costas. Para Enzo, aquilo deixava o jovem mais sexy, mas nunca falou sobre o assunto, afinal, uma tragédia se abateu na vida do parceiro.
— Você é lindo. — soltou Enzo, passando a mão pelo corpo de Noslen.
— Eu sou lindo? Garoto, você já se olhou no espelho?
— Eu sempre me achei esquisito, sabe. Fora do padrão. Os caras preferem os musculosos e sarados.
— Não lembro muito da minha vida na Venezuela, mas tenho certeza que não curtia os caras padrões. — assegurou Noslen.
— Que loucura, né? Eu me apaixonei por um venezuelano que não se lembra quem é.
— Você acha que um dia a minha memória volta? — questionou Noslen.
— Espero que sim.
O cheiro de comida caseira invadiu o apartamento dos jovens. Enquanto, Noslen e Dona Aurora cozinhavam, Enzo organizava a mesa de jantar. Na verdade, o jovem abriu uma um vídeo com Ian, que aproveitou o momento para sondar mais sobre a vida do chefe.
— Vira a câmera. Não preciso ficar olhando para o teu rostinho lindo. — pediu Ian, revirando os olhos.
— Ah, desculpa. — se tocou, Enzo, mudando a posição da câmera para Ian.
— Olha, que apartamento maneiro. — Ian tentou usar toda a falsidade que tinha dentro de si.
Talheres, pratos e guardanapos de pano. Aos poucos, Ian foi orientando o chefe a criar uma mesa adequada para o jantar romântico. Animado, Noslen entrou e mostrou para o colega o prato que fez, uma versão abrasileirada das arepas.
— Nossa, arepas, que delícia, hein. — disse Ian com um sorriso amarelo no rosto.
— Estão perfeitas. — afirmou Enzo.
— Enzo! Enzo! Terra para Enzo! — gritou Ian, estalando os dedos e chamando a atenção do jovem.
— Opa. E, então? O que achou? — perguntou Enzo ficando vermelho.
— O Boy? Muito latino para o meu gosto. — soltou Ian.
— Não, não. Da mesa.
— Ah. Ótima. Você vai arrasar. Enzo, agora que eu te ajudei, tipo, posso te fazer uma pergunta?
— Acho que pode...
— Ótimo. Esse boy, maravilhoso, ele é o motivo da tua ausência? — questionou Ian.
— Não, claro que não. Eu apenas estava ficando sem tempo para assuntos pessoais. Inclusive, o André falou que você está fazendo um ótimo trabalho. Parabéns.
— A Tech Land é a minha segunda casa. Enfim, chefinho, um ótimo jantar, a mesa está linda, e um beijo no coração. A vadia está desligando. — Ian fechou a chamada de vídeo e olhou para Diana. — Cara, esse Noslen pode ser útil no meu plano. — com um sorriso malicioso no rosto.
Arepas, fricassê de frango e bastante vinho. Quando chegou em casa, Erick ficou impressionado, ele não reconhecia a própria cozinha. Uma pequena confusão se formou na hora que eles tentaram pagar o trabalho de Dona Aurora, a idosa negou o dinheiro, mas com um jeitinho todo especial, Noslen, convenceu sua mãe de coração.
O responsável por levar Dona Aurora para casa foi Enzo. Nesse meio tempo, Erick correu para se arrumar, escolheu suas melhores roupas, passou o melhor perfume, tudo para impressionar Celine. No quarto ao lado, Noslen tentava combinações de roupas diferentes, ele havia ganhado algumas peças, e mesmo nunca ligando para isso, queria ser bonito para Enzo.
A cidade de Manaus e suas ruas congestionadas. Na Djalma Batista, uma das principais avenidas da cidade, Enzo contou para Dona Aurora sobre como conheceu Noslen, e o risco que eles correram com o assalto. A idosa ficou horrorizada por causa da violência.
— Você está feliz com o meu menino, né?
— Sim, Dona Aurora, eu não vou mentir, mas tenho tanto medo. — assumiu Enzo.
— Do quê?
— Dele recuperar a memória, e sei lá, descobrir que ama outra pessoa. Nunca se sabe.
— Entendo, mas se ele está com você, mesmo sem memória, deve ser porque você é especial. — aconselhou a idosa.
Erick e Noslen chegaram na sala juntos. Eles se olharam e riram. O irmão de Enzo arrumou a blusa do venezuelano. O Erick é um homem grande e forte, mas quem o conhece sabe da sensibilidade que existe nele. A conversa entre os dois fluiu e, mesmo com a dificuldade da língua, os dois conseguiam desenrolar.
Às 20 horas, Celina chegou no apartamento dos irmãos Viana. Ela estava deslumbrante, Erick ficou hipnotizado. A moça trouxe a sobremesa, um pavê de cupuaçu, e sim, Enzo lançou a piada do "pavê ou pra comer". Eles tiveram que contextualizar a piada para Noslen, que ficou sem entender.
Depois do jantar, eles seguiram para a varanda. Sim, a noite foi divertida. Eles jogaram, beberam, dançaram e beijaram bastante, claro que cada um com seu par. Para celebrar a noite, o quarteto decidiu ir para um Bar Karaokê chamado "Saideira".
No repertório dos casais rolou de tudo. Anitta, Pabllo Vittar, Caetano Veloso, Britney Spears, Madonna e Marília Mendonça foram os mais escolhidos para terem suas músicas apresentadas. As vozes eram péssimas, mas o sentimento genuíno. Tanto Erick, quanto Enzo estavam apaixonados, e quando isso acontecia, eles viviam o amor intensamente.
— Caramba, vocês são péssimos. — disse Celina.
— Falou a cunhatã que quebrou o copo com o falsete. — brincou Erick abraçando Celina.
— A gente ganhou um troféu. — ressaltou Noslen levantando um troféu que tinha um microfone na ponta. — Arrasamos!
— Graças a minha voz. — soltou Enzo rindo.
O álcool bateu e eles decidiram voltar para o apartamento. No Uber, eles começaram a rir e cantar uma música da Madonna. Noslen estava vivendo o seu melhor momento, e não, ele não queria que acabasse. Por causa do horário e da bebida, Celina decidiu dormir com Erick.
— Não vai pensar besteira. — pediu Celina.
— Não falei nada. — disse Erick pegando uma camiseta e uma bermuda para a moça usar. — São do Enzo, acho que cabem em você. Pode usar meu banheiro.
No outro quarto, o clima estava quente. No desespero, Enzo lançou os óculos contra a parede, Noslen rasgou a sua blusa, mas nada impediu os beijos e carícias. No ápice do amor, o venezuelano deixou uma marca no pescoço do parceiro. Eles dormiram abraçados, e claro, pelados.
Outro que capotou foi Erick, mas não viveu toda a paixão que queria. Ele respeitou a vontade de Celina. A moça, por sua vez, ficou tentada ao ver o rapaz dormindo sem camisa ao seu lado. Para não quebrar suas próprias regras, Celina respirou fundo e relaxou até dormir.
No dia seguinte, Erick acordou e seguiu para o banheiro. Ao perceber que o policial havia levantado, Celina, pegou uma bala de menta, limpou os olhos e arrumou o cabelo, e fingiu que estava dormindo. Para não atrapalhar o sono da amada, Erick, decidiu comprar o café da manhã e saiu.
Esperta, Celina correu para o banheiro e tentou ficar o mais natural possível. Passou um blush, tirou as olheiras e penteou os cabelos. Ela voltou para o quarto e sentou na cama, ao ligar o celular, percebeu que o mesmo estava sem bateria. A moça começou a procurar uma fonte para conectar o aparelho e abriu uma gaveta.
— Nossa, Erick. Organização zero, viu. — pegando um documento e organizando. — Uê, o nome do José. O que o nome do meu irmão está fazendo neste papel?
— Eu comprei café... — avisou Erick entrando.
— Erick. O quê o nome do meu irmão está fazendo aqui? — perguntou Celina chorando.