Júlia mal consegui dormir naquela noite. Estava preocupada com sua filha. A reação dela foi muito estranha. Julia sabia que talvez a filha fosse ficar chateada, mas nunca esperava que tivesse aquele ataque de fúria. Aquilo realmente assustou Júlia.
Julia olhou no relógio, já eram 6:30 da manhã. Se levantou e foi fazer sua higiene antes de ir pra cozinha fazer um café para filha. Ela iria tentar falar com ela novamente. Provavelmente Ana já estaria um pouco mais calma.
Julia fez o café e esperou pela filha para mais uma vez elas conversarem. Mas nada de Ana aparecer. Deu 7 horas e nada. Júlia resolveu chamar a filha. Nesse horário as duas já estavam atrasadas. Julia chamou, mas Ana não respondeu. Tentou abrir a porta e conseguiu, não estava mais trancada. Olhou na cama e não viu Ana. Olhou no banheiro e nada. Julia começou a ficar preocupada. Olhou no quarto e no guarda roupa. Não sentiu falta de nada além da mochila do colégio. Então ficou um pouco mais calma. A filha provavelmente saiu cedo e foi para o colégio. Era a explicação óbvia.
Dani se soltou do abraço. Passou as mãos no rosto de Ana limpando suas lágrimas e novamente perguntou se ela estava melhor. Ana só afirmou com a cabeça e deu um sorriso amarelo.
Dani: Quer conversar sobre o que está acontecendo com você?
Ana: Achei que não queria falar comigo.
Dani: Depois falamos sobre isso, mas se quiser conversar estou aqui.
Ana se sentia segura com Dani. Então resolveu falar com ela. Pelo menos algumas coisas.
Ana: É minha mãe. Ontem ela me contou que se envolveu com uma garota na adolescência. Mas as duas ficaram muitos anos sem se ver. Só que se reencontraram e ficaram juntas ontem. E pelo jeito minha mãe quer ficar com ela de vez.
Dani: Bom, desde que esta mulher seja uma boa pessoa não vejo problema. Sua mãe está sozinha a um bom tempo pelo que me falou. Acho que ela merece ter alguém novamente.
Ana: Você está doida? Você não entendeu!?! É uma mulher! Não quero ver minha mãe com uma sapatão. Se ela fizer isso vou sumir. Não quero vê-la nunca mais!
Aquelas palavras foram direto pro coração de Dani e doeu, doeu muito! Dani nunca foi de ficar calada. Ela sempre defendeu o que acha certo. Ela não aguentou aquilo calada e falou o que achava.
Dani: Olha Ana eu me enganei muito com você, mas muito mesmo! Nunca imaginei que você era uma pessoa homofóbica, covarde e fresca. Você não tem noção do que está falando. E se você repetir isso na minha frente de novo eu juro que te quebro os dentes da boca.
Ana se assustou com o que ouviu. Não conseguiu falar nada.
Dani se levantou bufando e saiu morrendo de raiva. Mas depois de dar alguns passos voltou com lágrimas no rosto, olhou para Ana e falou.
Dani: Você não merece, mas vou te falar algo. Eu sou filha de duas mães, sim isso mesmo, minha mãe foi casada com outra mulher e resolveram ter um filho. Só que quando eu estava vindo ao mundo a minha mãe se foi. Ela teve problemas durante o parto e morreu sem ao menos me ver. Eu daria tudo para pelo menos abraçar ela uma vez. Mas infelizmente não tem como.
Dani falava com raiva e tristeza ao mesmo tempo. Seu rosto estava sério, mas as lágrimas caiam sem parar.
Dani: A mãe que me criou é a mulher mais decente do mundo. E sim, ela é lésbica e eu a amo muito! Tenho muito orgulho dela.
Ana percebeu a merda que tinha feito e abaixou a cabeça.
Dani: Olha eu sei o porquê você se afastou de mim. Eu sei o que você sente por mim. Eu via nos seus olhos, mas você preferiu fugir. Você foi covarde comigo e com você mesma. Mas por favor não seja covarde a ponto de impedir sua mãe de ser feliz. De você não tem coragem de ser feliz pelo menos deixa ela ser.
Ana ainda de cabeça baixa só chorava. Sim aquilo era verdade, tudo verdade, ela foi uma covarde.
Dani se virou para sair, mas novamente se virou para Dani e disse.
Dani: Sabe o que é pior Ana? Eu me apaixonei por você desde o primeiro dia que te vi passando dentro daquele carro. Eu nunca mais tirei seu rosto do meu pensamento nem do meu coração. Depois de te conhecer melhor eu realmente percebi que te amava. E eu sei que você sente o mesmo por mim. É uma pena tudo acabar assim. Adeus.
Dani saiu sem olhar para trás. Deixou Ana ali processando tudo que ouviu. As últimas palavras ditas por Dani desencadeou um pensamento na cabeça de Ana; *Meu Deus, ela me ama! Não acredito, ela me ama!
Algo mudou dentro de Ana. Ela não estava mais triste. Era como se aquelas palavras ditas por Dani tivessem tirado a tristeza e a dor que ela sentia.
Ana abriu um sorriso. Levantou a cabeça e não viu Dani. Ela precisava ver Dani de qualquer jeito. Olhou em todo lugar e nada. O sinal tocou e ela correu para sala e não a viu. Perguntou a alguns dos amigos da sala, mas ninguém tinha a visto. Ela já ia sair quando uma das alunas disse que tinha visto Dani entrando no banheiro a pouco tempo atrás. Ana agradeceu e saiu correndo. Quase atropela o professor que ia entrando,. Pediu desculpas e saiu em disparada. O professor ainda a chamou, mas ela não deu a mínima atenção.
Dani ia sumir daquele colégio e para sempre. Mas estava muito alterada para ir na sua moto. Resolveu ir ao banheiro para lavar o rosto e se acalmar um pouco. Ficou em uma das cabines escondida por alguns minutos. Não queria ver ninguém. Quando o sinal tocou ela saiu, jogou um pouco de água no rosto e ficou ali meio que paralisada por uns segundos. Respirou fundo e foi sair. Quando virou viu Ana entrando e vindo em sua direção. Dani foi perguntar o que ela queria, mas não deu tempo.
Ana pulou no pescoço de Dani e foi beijando sua boca como se a vida dela dependesse daquilo. Dani se assustou no começo, mas logo se entregou a aquele beijo que ela tanto esperava.
As duas ficaram naquele beijo por alguns minutos. Até que Ana se afasta e diz meio sem fôlego. *Meu Deus!! Dani ria da cara de surpresa de Ana já que era ela que deveria estar com aquela cara.
Dani: Nossa, foi tão ruim assim?
Ana: Pelo contrário. Foi maravilhoso, foi incrível, foi... Nossa eu nem sei explicar.
Dani: Eu sei, é amor Ana! É diferente de tudo.
Ana: Você me ama Dani? De verdade?
Dani: Amo muito. E não tem nada que eu queira mais nessa vida que a chance de te fazer feliz.
Ana: Eu também te amo. Me desculpe por demorar tanto para perceber. E principalmente por demorar tanto a ter coragem de amar você como você merece ser amada. Por favor, me perdoe.
Dani: Vamos deixar isso de lado meu amor. Vem, quero outro beijo seu.
Ana voltou a colar seus lábios nos de Dani. Agora era um beijo calmo, com carinho, com muito amor.
Mas do nada Ana lembra de algo e para o beijo.
Dani: O que houve?
Ana: Amor por favor não me leve a mal. Queria muito ficar aqui com você, mas preciso consertar algo e tem que ser agora.
Ana deu um selinho em Dani. Saiu dizendo que a amava, mas tinha mesmo que ir e que explicava depois. Dani ficou ali sem entender nada.
Julia mesmo mais calma resolveu ligar pra Ana. Chamou e nada da filha atender. Ela resolveu esperar um pouco para ligar de novo. Se ela não atendesse ligaria pro colégio para saber se a filha estava lá.
Júlia voltou para a cozinha. Pegou um copo de suco de laranja e se sentou para tentar pôr as ideias no lugar. Se lembrou que tinha que ir trabalhar. *Poxa é agora? Pensou Júlia. Já era para ela estar lá. Pegou o celular para ligar pra Larissa e explicar que talvez não poderia ir. Quando pegou o celular viu que chegou uma mensagem de Ana.
MSG: *Mãe ainda está em casa ou já foi pro trabalho?
RESPOSTA:*Ainda estou em casa filha. Onde você está? Estou preocupada.
2° MSG : *Mãe não sai daí por favor. Estou chegando. Vou pegar um táxi. Fica aí tá.
RESPOSTA:*Está bem filha. Vou estar aqui.
Júlia ficou aliviada. Ligou para Larissa e explicou o que tinha acontecido. Que não iria ao trabalho na parte da manhã. Pediu para ela avisar Helen e Luísa. Larissa falou pra amiga não se preocupar e para dar notícias assim que possível.
Logo Ana chegou na sua casa. Pagou o táxi e foi correndo ver sua mãe. Quando entrou na sala viu a mãe vindo ao seu encontro com uma cara de preocupada. Ana correu para os braços da mãe e disse.
Ana: Me desculpe mãe. Eu fui uma idiota com você. Eu estava passando por um problema. Acabou que eu juntei tudo e descontei em você. Eu estava muito confusa e sua história meio que piorou tudo. Mas já passou e não há nada no mundo que eu queira mais do que sua felicidade. Independente do lado de quem for. Me perdoe mãe. Eu te amo muito,
Júlia: Filha eu também te amo muito. Me desculpe ter jogado essa bomba em cima de você sem nem saber que você estava com problemas.
As duas ficaram ali naquele abraço por algum tempo até que Ana disse.
Ana: Então quando vou conhecer minha futura madrasta? 🤭
Júlia: Boba 🤭 Vou falar com ela, talvez a gente possa marcar algo pra vocês se conhecerem. O que você acha?
Ana: Por mim tudo bem mãe.
Júlia: Mas me explica uma coisa. Por que você mudou de ideia tão rápido?
Ana: Pode se dizer que foi um milagre do amor mãe. 🤭
Júlia: Fiquei mais confusa agora filha.
Ana: Mãe eu gosto de uma pessoa. Ou melhor, eu amo uma pessoa há algum tempo. Mas eu não queria aceitar isso. Eu estava muito confusa, mas essa pessoa hoje falou umas coisas para mim que mudou algo dentro de mim. Aceitei o sentimento que eu tinha por ela. A gente meio que se acertou e eu comecei a ver sua história de uma forma diferente. Vi o quanto fui idiota com você e vim me desculpar.
Júlia: Então minha filha está finalmente amando alguém de verdade!?!
Ana: Estou mãe. Muito mesmo!
Júlia: E essa pessoa seria a sua amiga Dani?
Ana: Como você sabe? 😳
Júlia: Lembra que na hora que você gritou comigo você falou o nome dela?
Ana: Lembro sim. E desculpa ter gritado com você mãe.
Júlia: Tudo bem. Bom, eu lembrei que logo depois que você a conheceu você estava bem feliz. Aí de uns tempos para cá você andava triste. Não falava mais o nome dela. Não saia mais com ela. Então hoje quando você falou o nome dela eu fiquei pensando no porquê. Agora quando você disse que estava amando alguém eu pensei, só pode ser ela. Você não falou de mais ninguém ultimamente a não ser dela. 🤭
Ana: Pensando assim até que ficou meio óbvio né. 🤭 Mãe, mas a gente não tem nada. Tipo foi tudo de repente. Não rolou nada. Só dois beijos hoje.
Júlia: Mas pelo jeito não vai ficar só nisso né? 🤭
Ana: Se depender de mim não mãe. E acho que ela também pensa assim. Mãe, tudo bem para você, eu e ela?
Júlia: Claro filha, mas quero conhecer ela tá bom.
Ana: Está bem mãe. Vou trazer ela aqui o mais rápido possível. Prometo.
O clima entre mãe e filha estava ótimo. Uma fazendo piadinha com a outra, uma zoando a outra. Conversaram bastante. Ana contou sua história com Dani. Só não disse algumas coisas pessoais que Dani falou porque achou melhor Dani contar no futuro para sua mãe ela mesmo. Assim seguiu a manhã de mãe e filha até que Júlia teve que sair para ir pro trabalho.
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Continua.