O gay refugiado prostituto em Paris
Aleppo, Síria, 23 de julho de 2013, terça-feira, 10:22 horas. O professor de econometria explicava um dos modelos matemáticos que correlacionava algumas variações econômicas que poderiam ser compreendidas através deles quando a série de explosões encheu a sala de estrondos vindos dos quarteirões no extremo sul do bairro de Al-Furqan, fazendo o piso estremecer e algumas vidraças se estilhaçarem. Professor e alunos correram para as janelas e puderam presenciar densas nuvens de fumaça escura ganhando os céus numa altura impressionante, enquanto os topos das edificações mais altas eram camuflados por nuvens de detritos e pedaços de concreto. Ahmad sentiu um frio na barriga e uma leve vertigem, por alguns segundos pareceu-lhe estar fincado no chão, sem conseguir se mover. O sobrado de três andares numa rua tranquila e arborizada onde morava com os pais, um tio e sua família e seus avós paternos ficava no bairro agitado de Al-Furqan, cada família ocupando um dos amplos andares cercados por varandas da construção.
Ahmad correu em direção ao estacionamento da universidade e saiu em disparada pelas ruas tumultuadas que iam se enchendo de pessoas, carros que desrespeitavam a sinalização e trafegavam por longos trechos na contramão, ambulâncias e viaturas dos bombeiros com sirenes ligadas forçavam a passagem pelas calçadas e espaços que os carros iam abrindo lentamente. A poucos quarteirões de casa, bloqueios feitos pela polícia ou pelos escombros das construções atingidas pelo bombardeio impediram-no de continuar, e ele abandonou o carro e começou a correr pelo que restou do asfalto esburacado das ruas. Ao dobrar a esquina de uma avenida principal com a rua onde morava, o pior de seus pensamentos se materializou, o sobrado de três andares era um monte de tijolos e concreto em ruínas. Ahmad foi tomado de um desespero sem tamanho, seu olhar começou a embaçar com as lágrimas que escorriam pelo rosto empoeirado e, parando diante dos escombros, ele soltou um grito que veio da profunda dor que seu coração sentia. Feito um louco, ele avançou sobre os escombros gritando pelo nome da mãe e do pai, de todos que moravam com ele, mas tudo que lhe entrava pelos ouvidos eram outros gritos vindos de casas e edifícios parcialmente destruídos e do movimento frenético que havia tomado conta das ruas. Alucinado, ele enfiava as mãos nos espaços entre os escombros e ia atirando para longe os pedaços de paredes, objetos e mobília que haviam se amontoado numa mistura de materiais despedaçados, ao mesmo tempo em que continuava a gritar chamando pelos parentes. As mãos de Ahmad estavam sangrando pelo esforço hercúleo de remover concreto e ferro retorcido, quando um bombeiro o agarrou e tentou tirá-lo de lá, uma vez que parte de uma laje estava na iminência de desabar. Com a garganta seca de tanto gritar, Ahmad lutou com o bombeiro para não se deixar levar, enquanto implorava para que ele o ajudasse a encontrar seus pais. Outros civis acorreram de todos os cantos, quem podia e não estava empenhado em procurar por parentes e familiares, se juntava à força dos bombeiros no resgate das vítimas que, aos poucos, eram retiradas debaixo do que horas atrás ainda era uma construção. Algumas vítimas saiam feridas e sangrando, nalgumas faltavam pedaços do corpo como pernas ou braços, outras já tinham o olhar paralisado dos mortos, enquanto outras gritavam de dor e desespero. Ahmad olhava para tudo aquilo e sabia que sua vida jamais seria a mesma depois daquilo tudo.
Alquebrado ele continuava sentado na calçada defronte ao sobrado, ainda esperançoso de que os bombeiros encontrassem alguém de sua família com vida. Seus dois primos, Baahi e Mohim, que também estavam em aula naquela manhã escaldante e seca do verão, vieram se juntar a ele com aquela mesma expressão de horror e sofrimento estampada em seus rostos. À medida que as horas passavam, a tarde se desenrolava ainda mais quente e com o ar como que estagnado pela tragédia, dava início a uma noite que vinha devagar, fazendo pespontar as estrelas no céu, que ia se tornando mais escuro e perdendo aquele brilho vermelho alaranjado. Os três, ali sentados em silêncio, iam intuindo que tinham ficado órfãos, que dali para a frente, seriam apenas eles os membros da família Elkader e, que não tinham mais nada além da roupa do corpo e dos carros que haviam abandonado a quarteirões dali no afã de alcançarem sua casa. Eles passaram a madrugada ao relento, perdidos com o que seriam doravante apenas lembranças de um passado feliz, de sonhos que todo jovem tem para o futuro, de planos que jamais se concretizariam.
Pela manhã, membros da defesa civil, deram o veredicto final, não havia sobreviventes entre os escombros do sobrado. A remoção dos corpos seria feita mais adiante, pois a prioridade das equipes era encontrar sobreviventes entre as ruinas das ruas ao redor. Mesmo assim, Ahmad e seus primos não arredaram pé dali pelos próximos três dias, foram aparados pela generosidade alheia, que lhes trouxeram água e algo para comer, embora nenhum deles conseguisse sentir fome. No quinto dia, surgiram os primeiros corpos, a mãe de Ahmad, a mãe de Baahi e Mohim e a avó deles, próximos um dos outros, no que fora a cozinha da casa do segundo andar, onde moravam Baahi e Mohim. Ao cheiro nauseabundo de decomposição, se juntava o aroma de especiarias, vindas do tempero que sua avó havia trazido de uma ancestralidade que remontava gerações e, que estava sendo utilizado no preparo do Yabrak que seria degustado no jantar comunitário da noite da tragédia. Pela primeira vez, Ahmad sentiu engulhos com aquele cheiro e vomitou o suco gástrico aquoso e a bile que havia no estômago vazio. Os corpos dos homens foram encontrados no final da tarde do mesmo dia, em andares diferentes do sobrado. No início da noite, após uma necropsia conduzida às pressas no necrotério local abarrotado de corpos, os familiares de Ahmad foram cremados. Ele e os primos foram instalados num abrigo público, enquanto a guerra civil ia avançando, destruindo a cidade e a vida de milhares de pessoas. Continuar vivendo em Aleppo se mostrou inviável, e os três resolveram seguir o caminho que outros tantos milhares de civis enxotados pela guerra estavam seguindo, fugir da Síria e encontrar outro lugar para viver.
A conversa começou no abrigo público onde estávamos alojados, o que mais participava dessas conversas era meu primo Baahi, então com vinte e três anos e o mais velho de nós, que se sentia responsável pelo nosso futuro desde a morte de nossos pais. Ele tentava nos convencer a seguir numa caravana de refugiados que estava sendo organizada por um sujeito que não vivia no abrigo, mas que propunha sonhos de liberdade em países europeus em troca de uma polpuda contribuição para o que ele chamava de custos da logística de transporte. A princípio recusei-me a abandonar meu país, achando que provavelmente em poucos meses aquela guerra civil teria terminado e nós pudéssemos encontrar trabalho, uma moradia simples e, quem sabe, até continuar nossos estudos na universidade. Porém, cerca de um ano depois, a guerra continuava e já ninguém mais acreditava no fim dela. A hora de imigrar se mostrava cada vez mais urgente e eu cedi aos apelos dos meus primos, disposto a enfrentar a longa jornada onde apenas a nossa imaginação via perspectivas de um futuro melhor, pois nada sabíamos do que nos esperava ao final dela.
A venda dos dois carros era todo capital de que dispúnhamos e, metade dele, foi pago ao sujeito que nos prometeu levar até a Grécia e, por mais uma módica quantidade, talvez até na costa italiana, de onde poderíamos alcançar facilmente o país europeu que mais nos agradasse. No alvorecer dia 15 de novembro de 2014, um sábado chuvoso de outono começou nossa jornada de 1.300 quilômetros de Aleppo até Kusadasi na Turquia percorridos de ônibus, onde seríamos instalados numa balsa que nos deixaria em Piraeus na Grécia em mais um trecho da viagem de mais de dez horas, e que seria feita durante a noite, segundo nosso contratado, pois o país estava se recusando a admitir mais refugiados sírios que invadiam as fronteiras quase sem nenhum controle gerando problemas sociais no país que também passava por um período conturbado de sua economia.
Eu estava exausto quando chegamos a Kusadasi, pouco antes do pôr-do-sol. O ônibus lotado de pessoas e bagagens, tudo o que restara de suas vidas passadas, estacionou num local isolado próximo a um ancoradouro que servia de base para os pescadores locais atracarem suas embarcações. Foi-nos orientado a não chamar a atenção de ninguém, o que parecia um conselho hilário diante daquela trupe maltrapilha com crianças agitadas pelo desconforto e precariedade de condições. Faltava um quarto de hora para a meia-noite quando a balsa com 52 passageiros a bordo zarpou do ancoradouro precariamente iluminado e vazio. A lua em quarto minguante desapareceu do céu cerca de duas depois de zarparmos, encoberta por nuvens que prenunciavam chuva, o que de certo modo trazia um alívio para o calor abrasador que nos havia fustigado até então. Eu nunca havia pisado num barco e, apoiado entre o Baahi e o Mohim colocava para fora os dois sanduiches que compuseram minha dieta daquele dia, resultado da cinetose que me provocou um mal-estar tão intenso como nunca havia sentido. Os dois chegaram a se divertir com o aspecto macilento e conturbado do meu rosto, enquanto uma dezena de outros passageiros passava pelo mesmo drama.
A chuva começou devagar com pingos grossos que pipocavam sobre nossas cabeças, já transtornadas pela náusea marítima. Uma hora depois, era uma tempestade à qual se juntaram ventos que elevavam os paredões de água escura que nos cercavam a alturas que ultrapassavam em muito o convés da balsa. Os ferros de sua estrutura e as madeiras antigas rangiam entre o estrondo de um trovão e outro, depois que um raio, parecendo as raízes de uma árvore, iluminara o céu e mergulhara nas águas do mar revolto. A agitação e o medo começaram a tomar conta dos passageiros, muitos deles, como eu, marinheiros de primeira viagem a quem aquela situação só trazia um pavor insano. Tal como uma águia enfia suas garras nas presas que captura, eu me agarrava a balaustrada rasa da balsa temendo ser arrastado por um daqueles vagalhões gigantes. Crianças gritavam e choravam sem que as mães ou pais pudessem fazer muito por elas, uma vez que também tinham o pavor estampado nos semblantes preocupados. Mohim foi a única pessoa que eu conheci que parecia não ter medo de nada. Desde a infância, ele mostrava uma coragem que faltava a muitos adultos, e eu sempre me sentia mais seguro quando estava perto dele. Embora mal pudéssemos nos distinguir um do outro em meio aquele breu, naquela balsa de poucos metros, ele me encarava como se soubesse do medo que eu estava sentindo, e passou seu braço sobre os meus ombros me trazendo para mais perto dele. Dessa vez a tática não funcionou como nas anteriores, eu continuei apavorado e rezava o pouco de que me lembrava do que minha mãe me ensinou, uma vez que nunca fomos frequentadores assíduos das mesquitas ou dos ensinamentos dos imãs.
A balsa há muito estava à deriva, os dois sujeitos encarregados de guia-la ao seu destino, nada podiam fazer contra aquela massa de água que fluía na direção que bem desejasse. Ora eu podia ver o céu fechado, ora só enxergava a água, enquanto a balsa procurava desesperadamente se manter flutuando. Então o paredão de água, quase tão maciço quanto uma rocha, começou a se erguer a bombordo, o lado oposto ao qual eu e meus primos estávamos; fomos afundados tão profundamente nas ondas que suas águas frias roçaram as minhas costas, eu olhei para cima e pude ver a crista espumosa e branca descendo sobre a balsa como se uma mão estivesse estapeando uma superfície. Depois, meu corpo foi tragado pela água e tudo ao meu redor estava escuro, a única coisa que eu sentia era o braço forte do Mohim me mantendo junto dele. Como um pedaço de madeira, nossos corpos giravam dentro da água, seguindo em direção ao nada pela força que nos empurrava. Eu já não conseguia mais segurar a respiração, parecia que meus pulmões iam estourar quando finalmente chegamos à superfície onde os gritos de agonia ecoavam macabramente. Os olhos do meu primo estavam arregalados, eu só distinguia as escleras, mas elas não se moviam.
- Mohim! Mohim! Por Alá não me abandone! – comecei a berrar feito um louco, enquanto sacudia aquele corpo que minhas mãos seguravam como se fosse uma tabua de salvação.
A mudez total e um esgar lúgubre me fizeram saber que ele estava morto. Agarrei-me ainda com mais força a ele e deixei aquele grito que havia se formado em meu peito sair sonoro como uma ode aos mortos. À nossa volta boiavam corpos, alguns também gritavam nomes de pessoas, mas quase nenhum obteve uma resposta e, quando ela veio, a pessoa nadava em direção a ela e mais gritos e choro preenchiam o ar. Eu não me desgrudava do Mohim, comecei a chamar em vão pelo Baahi, mas ele não me respondeu. Algumas horas se passaram, quantas eu não saberia dizer, pois elas tinham a mesma periodicidade da eternidade. A chuva foi lentamente enfraquecendo precedida pelos ventos que deixaram de soprar devolvendo à superfície da água uma tranquilidade aparente. Assim que as nuvens carregadas se foram e a lua voltou a iluminar o mar, a extensão da tragédia se mostrou em toda sua catastrófica morbidez. Mohim tinha um extenso corte sobre a testa e, o que eu julgava ser água era, na verdade, uma cortina de sangue. Quando a balsa virou, a balaustrada atingiu a cabeça dele, num golpe fatal.
- Aaaahhhh! – gritei para o céu, liberando toda a raiva que estava dentro de mim, enquanto sacudia meu primo como se isso pudesse trazê-lo de volta à vida.
Os sobreviventes foram se juntando aos poucos, Baahi não estava entre eles. Tentamos, num esforço conjunto, virar a balsa, mas seria necessária uma força muito superior àquela dos nossos esforços somados. Aos poucos, os sobreviventes foram soltando os corpos que mantinham em seus braços para poderem se segurar na balsa que flutuava emborcada com a quilha para cima. Ao nadar ao redor dela, encontrei o corpo do Baahi boiando a poucos metros da balsa, por um segundo só desejei a morte enquanto berrava a plenos pulmões o nome do meu primo. Um homem desconhecido se aproximou de mim, tentou me fazer soltar o corpo de Mohim e me agarrar ao madeirame da balsa, mas meus dedos não se abriam.
- Solte-o! Não há mais nada que você possa fazer por ele! Você precisa se salvar! – entrou nos meus ouvidos, embora eu não esboçasse reação alguma.
O homem precisou lutar comigo para que eu soltasse o Mohim e o deixasse boiar à deriva, me arrastando para junto da balsa sobre a qual lancei meu corpo extenuado. Eu não saberia dizer em que hora da madrugada estávamos, mas sabia que estava completando dezenove anos naquele 16 de novembro de 2014, e que estava sozinho nesse mundo, sentindo a maior dor da minha vida.
Ao amanhecer, pudemos constatar que éramos dezesseis sobreviventes. Todos se encaravam num silêncio sepulcral, tentando entender o porquê de termos sido poupados. Talvez ainda tivéssemos contas a acertar com Aquele Ser Divino que comandava o universo. Cada vez que uma onda se levantava no horizonte trazia à tona os cadáveres que boiavam sobre a superfície. Meus olhos provavelmente estavam ardendo mais por conta do choro do que pela água salgada do mar, uma vez que os soluços convulsivos que senti durante toda a madrugada haviam sido engolidos à força, e sufocados no fundo de minha alma.
Depois de três dias à deriva, deitado sobre a parte emersa da balsa ao lado daqueles que ainda respiravam, eu já não sabia mais onde estava. Achei que tinha chegado no céu, mas ele não se parecia com aquilo que eu tinha ouvido a respeito dele. Um rosto apareceu contra a luz intensa do sol quando alguém girou meu corpo e, com uma voz grave e imperiosa, afirmou – este também está vivo – me alçando em seus braços e me colocando sobre uma superfície firme. Sons confusos ganhavam força à minha volta, eram vozes, eu as atribuí aos anjos, talvez estivesse mesmo no céu e eu não deveria esperar por mais do que aquilo. Será que existe um céu para cada pessoa, segundo sua fé e suas crenças e a pureza de alma que manifestou em vida, ou ele é um só para todos, apenas variando os ambientes em que somos alojados conforme nossas ações na terra? Pelas imagens distorcidas e embaçadas que entravam nos meus olhos, eu não devia ter sido uma boa pessoa, pois nada estava nítido.
- É um moleque ainda, tão jovem e tão desventurado! – pronunciou alguém próximo a mim. Seria eu o desventurado? Impossível saber, pois nada fazia sentido, a não ser que eu estava dentro do meu corpo, e este doía como jamais doeu antes.
Meus lábios estavam secos, queimavam como se estivessem em brasa, num esforço supremo abri os olhos e, num balbucio que mal eu consegui ouvir, pedi água.
- Giatré, to agóri xýpnise! (Doutor, o rapaz acordou!) – afirmou uma voz feminina, o que fez mais dois homens se aproximarem de mim. A imagem deles ao meu redor foi se tornando cada vez mais nítida, bem como tudo que cercava. Eu não estava no céu, mas numa enfermaria, como me confirmaram os cheiros que inalava.
- Pós niótheis agóri mou? (Como está se sentindo, meu rapaz?) – perguntou o homem de meia idade que fiquei encarando enquanto ele me examinava. Talvez houvesse uma triagem para entrar no céu, e eu devia estar passando ela.
Pedi água, mas ninguém pareceu compreender meu pedido. Repeti-o mais três vezes, e o resultado foi o mesmo.
- Do you speak english? – perguntou o homem que terminara de me examinar, num sotaque tão carregado que mal pude entender o que dizia.
- Yes, I do! – balbuciei através os lábios grudados um no outro.
Dois outros sobreviventes do naufrágio não resistiram a mais essa provação e seus corpos foram resgatados já sem vida. A partir daí consegui a água e foi-me explicado que eu estava na enfermaria de um navio da marinha grega sendo levado para um hospital em Atenas. Meus olhos se encheram de lágrimas, eu finalmente chegara a Europa, debilitado, desidratado e sozinho, mas tinha chegado a algum lugar, sorte que meus primos não tiveram. Passei mais uma semana internado no hospital da capital grega, me recuperando da insolação e das queimaduras na pele provocadas pela exposição ao sol. Meus rins estiveram a um triz de parar de funcionar e quase me levando também para algum lugar fora desse mundo.
Equipes do serviço social do governo grego me levaram a um abrigo provisório para refugiados nos arredores de Atenas, o que me garantiu um teto e refeições enquanto um visto temporário estava sendo providenciado para eu pudesse ser transferido para outro país da Comunidade Europeia, e até trabalhar para me sustentar. Permaneci por seis meses no abrigo e, durante esse período, pude ver a fuga em massa de cidadãos do meu país, que chegavam às centenas todos os dias invadindo as fronteiras dos países europeus numa escala jamais vista.
A vida no abrigo não era fácil, à medida que mais e mais refugiados chegavam os quartos eram atulhados de beliches para acomodar a todos, as refeições se tornaram mais ralas, refugiados doentes compartilhavam os mesmos sanitários e dormitórios com os demais, pois não havia um lugar próprio para alojá-los. Eu me propus a ajudar, junto à direção do abrigo, nas tarefas que o mantinham funcionando, como a limpeza e o preparo da comida. Fui designado como ajudante na cozinha e cumpria uma jornada de doze horas de trabalho. Quando chegava ao meu beliche à noite, eu capotava sobre o colchão com o corpo moído, mas feliz por ter sobrevivido a mais um dia. Havia mais uma razão para eu ter afirmado que a vida no abrigo não era fácil. Aqueles quatro galpões construídos às pressas e precariamente no meio de um descampado que fora cercado com alambrados pelo governo grego, recebia apenas refugiados homens. As horas ali transcorriam devagar, muito devagar, e o ócio nunca foi um bom conselheiro. Depois de semanas nesse marasmo e, com as energias recuperadas após as longas jornadas da fuga, começavam a pulular nas mentes desses homens maneiras de saciar outros desejos da fisiologia humana, obter alívio para suas necessidades sexuais. Não raro se via algum deles se masturbando debaixo dos chuveiros, nos beliches durante as noites abafadas que roubavam o sono, ou pelos cantos mais isolados do abrigo; isso quando dois não se juntavam e transavam como se fossem animais saciando seus instintos. Passei a temer os corredores escuros após o pôr-do-sol, parcamente iluminados pelas lâmpadas fracas que pontuavam esparsamente o teto; bem como o dormitório durante as madrugadas quando todos dormiam, exceto aqueles a quem a testosterona mantinha em estado de vigília e predação, pois senti que os olhares sobre o meu corpo jovem e bem esculpido despertava a libido insaciada daqueles homens. Uma noite, ao regressar ao dormitório, no fim do meu turno na cozinha e, após me despir para subir no beliche, fui agarrado por um sujeito surgido repentinamente das trevas. Eu não o havia visto escondido atrás de uma coluna quando adentrei o dormitório vindo dos chuveiros, mas ele acompanhou sequioso cada um dos meus movimentos para tirar a toalha enrolada na cintura e vestir a cueca. Ao mesmo tempo em que uma de suas mãos tapou a minha boca, a outra se encarregava de arriar minha cueca, enquanto ele se esfregava em mim e tentava enfiar o pau carente entre as minhas nádegas proeminentes. Eu me debati, comecei a chutar os beliches que estavam à minha volta o que fez aqueles que dormiam neles acordarem e virem em meu socorro. O sujeito, um quarentão, voltou a enfiar o pau rijo dentro da calça e me lançou um olhar tenebroso de como quem diz – ainda nos encontraremos por aí – o que não me deixou baixar a guarda desde aquele dia.
Em dezembro de 2015 começou a circular a notícia de que a França havia estabelecido uma cota de entrada para refugiados em seu território, eu me candidatei. Não seria a minha opção preferida, mas foi o que surgiu e eu queria deixar aquele abrigo o quanto antes e tentar retomar ao menos um pouco da minha vida. Recebi o visto de entrada na França duas semanas depois e, as passagens de trem e ônibus que, após mais de 36 horas de viagem, me deixariam na capital francesa, onde também seria instalado num abrigo para refugiados.
Ao percorrer de ônibus o trecho entre Tessalônica e Budapeste na Hungria, mal conseguia desgrudar o olhar das paisagens que passavam pela janela, havia um mundo verde totalmente desconhecido para mim, exceto por algumas fotografias que vi em revistas ou agências de turismo, pois a Síria carecia dessas paisagens cujo verde exuberante deixava a atmosfera menos árida. De Budapeste à Paris a bordo do trem, essas paisagens se tornaram cada vez mais espetaculares, lugares idílicos se descortinavam durante a travessia da Áustria, do sul da Alemanha e da região nordeste da França, que recentemente havia fundido os territórios da Alsácia, Champanhe-Ardenas e Lorena na região Grande Leste, surgiam numa sucessão deslumbrante. Se havia um paraíso, eu o estava atravessando, o que me fez crer que eu ainda podia ter esperanças de uma vida melhor.
Por quase um ano passei me mudando de abrigo em abrigo, todos subvencionados e administrados por uma organização humanitária, Emmaüs Solidarité, enquanto aguardava para ser transferido para um mais amplo que estava em fins de construção. O abrigo havia acabado de ser construído numa área demetros quadrados no Boulevard Ney, próximo a Montmarte, sendo denominado Centre Humanitaire Paris Nord, também se destinava exclusivamente a refugiados homens e, suas instalações eram ligeiramente mais refinadas que as do abrigo de Atenas. O que não mudava era a fisionomia sofrida daquelas pessoas que assistiram impotentes suas vidas sendo levadas à bancarrota. Inicialmente, a previsão é que cada refugiado passasse em torno de uma semana no abrigo e recebesse orientações da Secretaria Francesa de Imigração e Integração, e ajuda para obter um trabalho temporário através de ONGs que colaboravam com o governo. Mas, isso logo se mostrou inviável, dificuldades com o idioma, a rejeição da população aos imigrantes que são vistos como um estorvo à economia do país, a xenofobia assumida, tudo colaborava para estadias mais prolongadas no abrigo. Contudo, a despeito delas e de não falar uma palavra em francês, eu consegui um trabalho numa padaria no 15º Arrondisssement, próximo à estação Vaugirard do metrô. O proprietário me encarou como se eu fosse um animal vindo da selva, me avaliou da cabeça aos pés como se estivesse comprando um objeto qualquer, começou a me fazer perguntas em francês até eu improvisar uma resposta que fora ensinada nas aulas do idioma que estava frequentando no abrigo. A indignação que ele estava sentindo por não falar seu idioma estava estampada na cara dele, mesmo assim, ele me contratou, uma vez que ia me designar para uma função interna, longe das vistas da clientela abastada que vivia naquele bairro nobre. Monsieur Léon Ermisse, cuja cabeleira estava entremeada de fios brancos e, juntamente com suas rugas faciais não escondia seus cinquenta e poucos anos, exigiu que eu o chamasse de Monsieur Ermisse, que não desse as caras na área onde entravam os clientes e não lhe causasse problemas de ordem alguma, ou estaria despedido.
- I know all these refugees well, you are a race bound to cause trouble, and I don’t want that in my stablisment, you understand! (Eu conheço bem esses refugiados, vocês são uma raça fadada a causar problemas, e eu não quero isso no meu estabelecimento, compreendeu!) – sentenciou ele, num inglês sofrível, para ter a certeza de que eu o compreendia.
- Yes, Monsieur Ermisse! – respondi cabisbaixo, sem coragem de encarar aquele olhar de desprezo.
Comecei no dia seguinte comecei a trabalhar. A carência de um funcionário já devia ser longa, pois outras três pessoas que trabalhavam comigo se sentiram aliviadas com a minha vinda. Um deles era Monsieur Damien, também um senhor na casa dos cinquenta anos, cujo nome se encaixava muito bem na maneira com que conduzia os outros dois assistentes, Adrien e Louis, jovens brincalhões que estavam respectivamente com 23 e 20 anos de idade, exatamente as mesmas dos meus primos Baahi e Mohim e, que precisavam do pulso forte dele para executar as tarefas que lhes eram designadas. Preocupado em manter meu emprego, eu seguia à risca atentamente cada nova informação que Monsieur Damien me ensinava. Ele tinha um ar paternal e, já no segundo dia, se mostrou incomodado por eu chamá-lo a toda hora de Monsieur Damien.
- Dis juste Damien, peux-tu faire ça? (Diga apenas Damien, consegue fazer isso?) – pediu ele naquela manhã, depois de eu tê-lo tratado por Monsieur uma centena de vezes.
- Oui, Monsieur Damien! – respondi nervoso de pronto, fazendo com que o Adrien e o Louis caíssem na risada, e o Monsieur Damien balançasse a cabeça de um lado para outro sem dizer mais nada, como se eu fosse um caso perdido. Porém, ao longo das semanas seguintes, pude sentir que ele gostava de mim e, os eventuais deslizes que cometia, repetindo o tratamento cerimonioso, eram assimilados com um sorriso franco.
Depois de um ano trabalhando arduamente por horas à fio com Monsieur Ermisse, eu tinha pouco a comemorar. Apesar da minha dedicação, de ter aprendido muito além daquilo para o que tinha sido contratado, de ter me tornado o braço direito de Damien e assumido tarefas extras para Monsieur Ermisse, eu continuava a ser o funcionário com o menor salário, uma quantia aviltante e que mostrava bem como se dava a exploração da mão-de-obra barata dos imigrantes. Depois desses doze meses, a única concessão que o dono da padaria me fez, foi me permitir fazer as refeições na padaria sem ter que pagar pelo que consumia.
- Consideréz cela comme une augmentation de salaire, une générosité de ma part, pour vos efforts! (Considere como um aumento de salário, uma generosidade de minha parte, por seu empenho!) – disse ele, ao me dar a concessão. Não consegui deixar de sentir o tom irônico de suas palavras, mas não estava em condições de questioná-lo, tinha que aceitar as coisas como elas se apresentavam ou estaria nas ruas como, aliás, vinha acontecendo a milhares de outros refugiados espalhados por toda Paris e outras cidades importantes da França.
- Merci, Monsieur Ermisse! (Obrigado, Sr. Ermisse!) – respondi, era tudo o que eu podia fazer. Ele não perdeu tempo, aproveitou a ocasião para me incumbir de mais uma tarefa, da qual o Louis vinha se queixando há tempos, sempre ameaçando deixá-lo na mão caso não o desincumbisse dela.
Afora isso, outra coisa que mudou durante aquele ano, foi que eu começava a dominar melhor o idioma francês, estava frequentando uma escola noturna que me fora indicada pela assistente social do abrigo e, que ficava a poucos quarteirões da padaria. Também mudou meu relacionamento com o Damien, Adrien e o Louis, que agora corria mais descontraído e, muitas vezes até abusivo, especialmente por parte do Louis, cujo caráter, como fui descobrindo, era dado não só à uma rebeldia, como a uma safadeza inata. Damien continuava tão paternal como no início, não escondia que dos três eu era seu pupilo preferido. Adrien foi se solidarizando comigo, era um sujeito reservado, mas tinha boa índole e não se furtava a me dar dicas sobre diversos assuntos para facilitar minha adaptação ao seu país, inclusive me convidando para alguns programas com seus amigos. Já Louis era a personificação do capeta, não que fosse um sujeito ruim, mas seu estilo de vida conturbado fazia dele uma péssima influência para qualquer incauto. Faltas ao serviço e atrasos faziam parte da sua rotina, o que deixava Monsieur Ermisse possesso e lhe rendia longos sermões de admoestação, os quais Louis encarava com um risinho debochado nos lábios, e lhe entravam por um ouvido ao mesmo tempo em que saiam pelo outro. Outro prazer dele consistia em me pregar peças, particularmente em relação à língua. Ele me ensinara todos os palavrões que conhecia, e eu precisava tomar cuidado quando lhe pedia para me dizer como se diziam certas coisas, pois ele propositalmente me ensinava palavras de conotação vulgar e sexual, o que me tinha rendido algumas situações bem embaraçosas, enquanto ele se acabava em risos.
- Tu as l’air d’um suceur de bite! (Você tem cara de ser um chupador de picas!) J’aimerais sentir ces lèvres charnues sucer ma bite! (Eu adoraria sentir esses lábios carnudos mamando minha rola!) – costumava afirmar ele, quando estava num daqueles seus dias impossíveis, caçoando e fazendo graça por qualquer besteira. Nas primeiras vezes fiquei fulo da vida, queria mandá-lo à merda, mas como em todas as vezes nas quais implicava comigo vinha me abraçar e me dava um beijo ladino nas bochechas, eu passei a não dar importância aquelas tolices de moleque travesso. Quem se incomodava com essas brincadeiras era Monsieur Ermisse quando as flagrava.
- C’est quoi se boxon? (Que putaria é essa?). Arretê de fair la merde ici! (Parem de fazer merda aqui dentro!) – berrava ele, enquanto eu corava e me encolhia envergonhado, o Louis caia na risada.
Não fiquei nem um pouco surpreso quando, num belo dia, resolvi expor minha frustração por não conseguir um salário melhor e estar com dificuldade para fazer um pé de meia que me permitisse sair do abrigo e conseguir um cantinho para morar, mesmo que tivesse que dividir as despesas com mais pessoas, e o Louis sugerir que eu fosse fazer uns bicos noturnos nas alamedas do Bois de Vincennes. A princípio não entendi do que se tratava, mas pela censura que o Damien fez e, pela cara hilária do Adrien, logo percebi que não deveria ser boa coisa.
- Por que no Bois de Vincennes, não é um bosque público para se admirar a natureza? O que é que eu conseguiria admirar por lá à noite? – perguntei ingênuo.
- Não é você quem vai admirar! Será você a ser admirado! – respondeu o Louis, tirando uma com a minha cara.
- Isso só pode ser outra de suas brincadeiras sem graça! – retruquei
- É lá que se expõem os garotos de programa ao cair da noite. – esclareceu o Adrien, me ajudando a entender do que se tratava.
- Eu sabia que só podia ser besteira! Vindo do Louis, o que é que se pode esperar! Putain! – respondi, pois tinha começado a chamá-lo de puto toda vez que se engraçava para o meu lado. Ele riu.
- Estou falando sério! Aposto que o mais fuleiro dos michês do Bois de Vincennes ganha pelo menos o triplo do que você ganha aqui, ralando de sol a sol. E pior, sem nenhum glamour! Com esse seu corpinho, você ia faturar alto! – exclamou ele.
- Você não presta, Louis! Va te faire foutre! (Vá à merda!) – devolvi ultrajado, me valendo de seus próprios ensinamentos linguísticos para ir à desforra. Apesar da minha raiva, o safado ainda tascou um beijo que só não atingiu minha boca em cheio porque desviei o rosto, mas do beliscão na minha bunda não escapei.
Eu era o único funcionário a ter que trabalhar todos os domingos, apenas a cada quinze dias me era concedida uma folga no período da tarde, quando a padaria também encerrava o atendimento mais cedo. Damien nunca trabalhava aos domingos, já tinha ultrapassado essa fase de necessidade, e deixava tudo pronto na véspera para que eu e um dos dois terminássemos de assar os pães que ele havia modelado e deixado a fermentar. Aos domingos, a esposa do Monsieur Ermisse sempre vinha ajudá-lo no atendimento aos clientes. Estava sendo uma manhã agitada, um daqueles raros dias sol em Paris que parecia ter feito todo mundo sair de casa, e a clientela se acumulava no balcão. Monsieur Ermisse devia ter acordado com o pé esquerdo e estava completamente sem paciência, seu – bom dia – já veio acompanhado de uma carraspana que ele despejou sobre mim e o Louis que estávamos de serviço naquele dia. A primeira e segunda fornada foram consumidas antes do meio da manhã e ele veio até nós mandando que colocássemos mais alguns tabuleiros no forno. Apressei-me a cumprir suas ordens, dado o estado emocional em que ele se encontrava, não queria ter que ouvir mais desaforos. Era incumbência do Louis cuidar da nova fornada, uma vez que Monsieur Ermisse havia declarado textualmente que eu era despreparado demais para cuidar de tarefa tão vital, e que me mantivesse longe do forno para não lhe causar nenhum prejuízo. Como sempre, obedeci. Acontece que o Louis havia se desentendido com a garota com a qual estava saindo e dando umas trepadas, o que o manteve a manhã toda ocupado com ligações ao celular discutindo com a tal garota. Lembrei-o dos pães no forno e ele me apontou o dedo médio em riste no meio de mais uma ligação que estava fazendo com a garota. Ao sentir que o cheiro dos pães assando estava ligeiramente mais intenso que o normal, corri para acudi-los, puxando rapidamente os tabuleiros para fora do forno, salvando-os antes de se queimarem. O Louis os levou até a área de atendimento, ligeiramente mais dourados que o normal. Cerca de meia hora depois, Monsieur Ermisse entrou na área de preparação da padaria soltando os cachorros. A clientela estava reclamando da cor dos pães, queriam os mesmos de sempre, e aceitar pães ‘queimados’ não era o que tinham vindo procurar. Para variar, virei o bode expiatório do patrão, como não se atreveu a voltar sua ira contra o Louis, que o teria mandado à merda já nas primeiras frases, ele jogou toda sua bronca contra mim, que o ouvi em silêncio e apenas balancei a cabeça nem sei para que. Voltei para o abrigo humilhado, não tinha sido minha culpa, mas paguei mais uma vez pelo erro dos outros, sem poder reagir, a menos que estivesse a fim de perder o emprego.
A proposta indecente e absurda do Louis de me expor no Bois de Vincennes nunca mais havia saído da minha cabeça desde o dia em que ele a aventou, sem que eu soubesse explicar o porquê. Talvez pela própria insensatez que ela ensejava. Contudo, naquele domingo, após a bronca do Monsieur Ermisse e, de mais um incidente daqueles que eu achava que já havia me acostumado quando estava sob os chuveiros do abrigo, a proposta foi me parecendo menos suja, menos estapafúrdia, menos imoral. Eu tinha deixado a padaria por volta das 13:00 horas, vinha engolindo o choro por todo trajeto de volta ao abrigo e só pensava em tomar um banho em me enfiar na cama. No banheiro comunitário, algumas duchas separadas da qual eu estava, um afegão recém-chegado ao abrigo e que já tinha conseguido se envolver numa briga com outro asilado, não tirava o olhar voraz do meu corpo, ao mesmo tempo em que manipulava sua jeba colossal tentando me seduzir. Fingi não perceber o que estava acontecendo, era a minha tática usual nesses casos, e me apressei para sair dali. Procurei um canto mais discreto para me enxugar, mas logo percebi que ele veio no meu encalço. Segundos depois, eu tentava lutar contra os seus músculos para evitar de ser enrabado pelo cacetão que endureceu numa velocidade assombrosa depois que ele me agarrou. Percebendo que não ia dar conta de me safar ileso, comecei a gritar para atrair outras pessoas que pudessem me ajudar, o que felizmente aconteceu antes de ele conseguir enfiar a jeba dura no meu cuzinho. O afegão foi advertido pelos administradores do abrigo e expulso de lá horas depois, mas isso não me trouxesse alívio nenhum. Eu sabia que essas cenas iam se repetir até que num dia qualquer um desses tarados conseguisse me estuprar. Eu já não aguentava mais tudo aquilo, precisava tomar uma providência qualquer para sair daquela vida.
Aquela foi mais uma noite onde fiquei chorando baixinho na cama, eu tinha plena ciência de que chorar não resolveria minha situação, mas o choro parecia consumir as minhas últimas energias e me fazia cair no sono mais rapidamente. Desejei ter meus primos ali comigo, mas já tinha me acostumado com a ideia de que havia ficado irremediavelmente sozinho no mundo. Mesmo assim, fiquei horas me lembrando de como eles cuidavam de mim, principalmente o Mohim, que encarava qualquer coisa para me proteger. A simples lembrança do rosto dele naquela madrugada nas águas turbulentas do Mar Egeu, quando eu estava agarrado ao seu cadáver, fez com que as lágrimas rolassem pelas minhas faces sem controle algum. Eu também devia ter morrido naquele dia, uma vez que era exatamente assim que eu me sentia, um morto.
No dia seguinte, eu estava de volta ao trabalho às seis horas da manhã, como se nada tivesse acontecido, como se mais aquele incidente fosse algo alheio à minha pessoa, retomando minhas tarefas com um sorriso forçado na cara. Após o expediente fui para a minha costumeira aula de francês, pois dominar fluentemente aquele idioma era uma das minhas obsessões. Passava das 22:00 horas quando me despedi de alguns colegas que tinha feito naquele grupo. Eu não estava longe do 12º Arrondissement e, portanto, do Bois de Vincennes, algumas estações do metrô e eu estaria lá. Desci em direção a estação ainda pesando os prós e contras de tamanha loucura, mas ao me convencer de que estava me dirigindo até lá apenas para conhecer o lugar, tudo me pareceu menos imoral. As alamedas que serpenteavam dentro do bosque, mais próximas do movimento das avenidas que o cercavam estavam repletas de homens e garotos na faixa dos vinte aos trinta e tantos anos tentando angariar clientes para um sexo remunerado. Havia de tudo, alguns travestis escandalosos, homens másculos e discretos, garotos com roupas tão justas ao corpo que deixavam o contorno de seus membros tão explícitos como se estivessem nus, e suas bundas tão marcadas que praticamente se podia distinguir o rego entre as nádegas. Era um mercado do sexo a céu aberto, ali se vendiam corpos, desejos inconfessáveis e todo tipo de libertinagem. Pensei que ia ficar muito mais chocado do que fiquei, talvez as agruras da vida já estivessem me deixando menos sensível, julgando menos os fatos e as pessoas. A maioria dos clientes passava lentamente de carro, avaliando as mercadorias segundo suas necessidades, eram mais homens de meia idade com algum sucesso conquistado na vida, uma vez que seus carros eram um pouco o reflexo de sua condição econômica. As escolhas cabiam exclusivamente eles, já que aos homens e garotos não era concedido o direito a recusas, tudo era dinheiro, um dinheiro do qual dependiam para continuar subsistindo. Fiquei perambulando por cerca de uma hora, analisando como aconteciam as abordagens, como se comportavam os michês, que trajes faziam mais sucesso, a quem os clientes davam preferência. No fundo, tudo aquilo me pareceu como um Souk, um mercado como os do meu país, só que ali se negociava e pechinchava sexo. Durante a minha caminhada, fui abordado por um travesti trintão que devia estar tentando uma transição de gênero, e por um gayzinho novo, de sorriso angelical, que eu quase podia jurar ainda não ter completado dezoito anos. Ambos ofereceram seus serviços, mas desistiram depois de me perguntarem se eu tinha carro e eu haver negado, pois ficara evidente que eu não tinha como pagar pelo serviço. Já na calçada, rumo à estação do metrô, um senhor na mesma faixa etária de Monsieur Ermisse emparelhou seu automóvel comigo e, através do vidro aberto, perguntou se eu não estava a fim de fazer um boquete nele, o que me fez acelerar o passo de tão constrangido que fiquei.
- Je voudrais que vous me taille une pipe, mon petite corneé! (Eu estou a fim de você me pagar um boquete, tesudinho!) – sentenciou ele com a voz pausada e rouca, como a de um fumante inveterado. Nem me atrevi a olhar na direção dele.
Demorei a conciliar o sono, as imagens do Bois de Vincennes não queriam sair da minha cabeça. Seria essa a solução para mim também, pois uma das coisas que me chamou a atenção foi que muitos daqueles caras eram imigrantes, talvez até refugiados como eu. Minha dedicação ao trabalho, meus esforços para me aprimorar na padaria, onde eu já dominava praticamente todas as funções de nada me valeram, nada disso me trouxe o reconhecimento que eu esperava. Por outro lado, era a minha juventude, o meu corpo e a minha bunda que atraiam todas as atenções sobre mim. Talvez eu estivesse usando os talentos errados para conseguir me firmar na vida, não era a minha capacidade intelectual que os franceses queriam, era a minha bunda, a minha carinha inocente. Pois se assim o desejavam, era isso que teriam. Antes do cansaço e do sono me consumirem, minha decisão estava tomada. As consequências dela só o futuro podia dizer.
Por mais inacreditável que possa parecer, desde que cheguei à França não havia comprado uma única peça de roupa, todas as roupas que eu usava eram resultado de doações que ficavam expostas numa sala do abrigo, onde podíamos escolher as peças que nos faltavam. Dentro delas eu não me parecia com um desses jovens de vinte anos que circulavam pelas ruas de Paris, e sim com um alienígena que viera do Oriente Médio. E, definitivamente, não era esse tipo de roupa que os garotos de programa do Bois de Vincennes usavam. Portanto, adquirir roupas novas e mais compatíveis com meu novo trabalho extra se tornou imperioso. Além de não ser descolado, eu não saberia onde comprar essas roupas a um preço que não estourasse meu parco orçamento. Eu só conhecia uma pessoa que poderia me ajudar nessa tarefa, o Louis; sim, o safado do Louis era um representante típico do jovem antenado, e só ele podia me dar umas dicas. Quando fui falar com ele, ele me encarou com um semblante suspeito, procurando adivinhar o que tinha me levado a mudar meu guarda-roupas.
Monsieur Ermisse pagava meu salário semanalmente, às sextas-feiras, por isso escolhi esse dia para falar com o Louis, pedindo que me acompanhasse, durante o horário do almoço do sábado, às lojas onde ele comprava suas roupas. E lá fomos nós, no dia seguinte, às compras. A grana que eu tinha separado para isso era pouca e eu já havia gasto tudo depois de escolher algumas peças. Tinha acabado de provar um jeans que o Louis garantiu me cairia muito bem, de cintura muito baixa e que me fizera sentir um desconforto enorme por comprimir meu pinto que nunca tinha se sentido tão aprisionado. O gancho traseiro, cuja medida entre a cintura e o fundilho era mínima, fazia com que eu o sentisse atolado no rego provocando uma sensação inusitada. Juntamente com o jeans, o vendedor indicou uma camiseta que, segundo ele e o Louis, era perfeita e realçava o meu tronco, muito embora eu a achasse um pouco curta por mal chegar a cobrir o cós da calça, o que fazia com que meu ventre ficasse exposto cada vez que eu erguia levemente os braços. Me olhando no espelho do provador, não era só o abdômen exposto que me incomodava, mas a exposição indiscreta do início do meu rego que a cintura baixa do jeans não conseguia cobrir.
- Não vou levar essas últimas duas peças, não gostei muito delas e, ademais, já não tenho como pagar por elas. Talvez numa próxima, ok! – disse ao vendedor, depois de devolvê-las às suas mãos.
- Você ficou muito bem dentro delas! Valorizaram seu corpo, ficou ainda mais tesudinho! – exclamou o Louis, numa indiscrição sem tamanho, me fazendo corar diante do vendedor. – Ele não fica mais gostoso envergonhado assim? – perguntou ele ao rapaz que também parecia estar apreciando a minha sensualidade, sorrindo e acenando positivamente com a cabeça, tornando tudo ainda mais embaraçoso para mim.
- Louis! – exclamei vexado
- Ele vai levar o jeans e a camiseta! – afirmou o Louis ao vendedor. – É um presente meu para você! – emendou dirigindo-se a mim.
- Não posso aceitar! – exclamei de pronto, pois conhecendo-o como o conhecia, ele ia tirar proveito dessa generosidade repentina.
- Mas vai aceitar! E não discuta comigo! – ordenou, me obrigando a levar as peças.
Passei o fim de semana pensando no que estava me metendo, no que diriam meus pais se ainda estivessem vivos e me vissem nesses trajes, de como a vida tinha sido simples em Aleppo onde o status não era medido pelas vestimentas e, mais uma vez, concluí que aquela vida não existia mais, eu já não era o mesmo Ahmad de antes, portanto era hora de seguir em frente sem ficar pensando muito, pois isso só me traria dor e angústia.
Na segunda-feira, o Louis chegou quase duas horas atrasado ao trabalho, o que acabou de vez com o pouco humor de Monsieur Ermisse, já normalmente ínfimo, após os quinze minutos de bronca que deu no funcionário ao qual ele atribuiu inúmeros adjetivos, alguns bem degradantes. O que eu estranhei foi a passividade com a qual o Louis aceitou o esculacho, sem protestar, sem fazer suas habituais caretas, sem colocar aquele risinho debochado na cara. Ele, na verdade, passou o dia mais calado e introspectivo que o normal, não me zoou nenhuma vez, o que era inédito, não aporrinhou o Damien, nem contou piadas obscenas de seu vasto repertório para o Adrien.
Ao chegarmos à padaria para o trabalho, éramos obrigados a tomar uma ducha rápida antes de vestir os uniformes com o logotipo da padaria impresso no bolso do jaleco, deixando as roupas com as quais viemos da rua nos escaninhos de um armário do vestiário. A ação fazia parte das estratégias de marketing do negócio e Monsieur Ermisse fazia questão de propalá-la como um diferencial entre seus concorrentes. Como aquela segunda-feira seria o meu primeiro dia no “novo emprego” eu escolhi justamente o jeans e a camiseta que o Louis me dera para estrear nas alamedas mal iluminadas do Bois de Vincennes, após a minha aula de francês. Já vestido, eu estava dando um jeito no cabelo diante do espelho do vestiário, achando que também precisava mudar o corte, quando o Louis entrou e começou a se despir tirando o jaleco, pondo seu tórax atlético à mostra e, começando a baixar a calça até os pelos pubianos surgirem acima do elástico do cós.
- Uau! Vai sair com o namorado em plena segunda-feira? – questionou ele, me agarrando por trás e me dando uma encoxada firme.
- Para com isso, Louis! Eu já te falei mais de mil vezes que detesto essas suas brincadeiras idiotas! – protestei, procurando me safar de seus braços, ao ficar frente a frente com ele e espalmar minhas mãos sobre seu peito para afastá-lo de mim.
- Você é um ingrato! Será que não posso nem fazer um elogio? – questionou ele, fechando a cara que, sem sombra de dúvida estava muito mais triste do que o normal.
Embora com menor empenho e esforço, eu ainda procurava me afastar dele, mas seus braços continuavam cerceando minha cintura e ao nos encararmos, ele começou a fazer pressão sobre meus ombros. Não sei o que me deu naquele instante, mas eu deixei que a pressão sobre meus ombros fosse me abaixando até eu ficar agachado diante dele na altura de seu membro. Uma das minhas mãos terminou de baixar a calça dele, enquanto a outra se fechava suavemente ao redor de sua rola. Ele emudeceu na hora, fixou seu olhar na minha mão e, incrédulo, acompanhou de olhos arregalados eu levar à boca a caceta iniciando uma ereção. Ao fechá-la com os lábios envolvendo a cabeçorra, o Louis soltou um gemido e agarrou minha cabeça. Eu nunca tinha posto para dentro da boca uma carne tão viva, quente e latejante como aquela, que crescia e enrijecia ao menor movimento dos meus lábios. Como é que se chupa uma pica, pensei comigo mesmo. E, tímida, mas decididamente, comecei a sugar a verga do Louis. Eu chupava desajeitadamente, pois com aquele pinto ficando cada vez mais duro, eu procurava uma posição que se mostrasse mais fácil para chupar. O Louis gemia, gemia cada vez mais alto, fazendo meu coração disparar dentro do peito. Se fossemos pegos naquela sacanagem, estaríamos ambos no olho da rua. Comecei a sentir um gosto aquoso e ligeiramente salgado se misturando à minha saliva enquanto chupava, não de todo ruim, mas diferente de tudo que eu já havia provado. O Louis tinha testículos grandes, e eles pareciam pesados, pois esticavam a pele da bolsa escrotal dele, fazendo com que se parecessem com pêndulos; toquei-os delicadamente com as pontas dos dedos, eram borrachóides e estavam ingurgitados e sensíveis. Cheguei à conclusão que a virilha de um macho era um campo fértil a ser descoberto, uma vez que nunca dei muita importância à minha, talvez só na puberdade quando começaram a crescer aqueles pelos ralos que serviram só para o Baahi e o Mohim começarem a mangar de mim. Quando o cacete do Louis ficou bem rijo, ele começou a estocá-lo na minha boca num frenesi crescente, eu comprimia meus lábios ao redor dele e sentia as estocadas chegando até a minha garganta, mal me deixando respirar. Quando ele parava por um tempo, eu lambia e sorvia a umidade que havia se acumulando ao longo da pica. O Louis jogava a cabeça para trás grunhia emitindo um som que parecia vir de suas vísceras e continuava metendo o cacete na minha boca num vaivém cadenciado. De repente, eu senti que ele se contraiu todo, a pelve se mexia como se ele fosse um robô, um sonoro gemido entrou nos meus ouvidos ao mesmo tempo em que ele ejaculava uma porra densa de sabor alcalino, enchendo minha boca e me obrigando a engoli-la para não sufocar. Ao erguer meu olhar na direção do dele, vi que havia brotado um sorriso no rosto dele, o primeiro que ele deu naquele dia. Meu primeiro boquete, pensei comigo mesmo. Sem coragem de pronunciar uma palavra sequer, eu gostaria de ter perguntado se ele havia gostado.
- Putain, Ahmad, qu’est-ce que c’éitat que ça? (Caralho Ahmad, que porra foi essa?) – indagou ele, ainda arfando enquanto suas mãos acariciavam meu rosto.
- Merci, Louis! – devolvi, sem responder sua pergunta.
- Você me faz um puta boquete gostoso desses e me agradece! Você é maluco, cara! Sou eu quem deve te agradecer por essa puta mamada deliciosa. – retrucou ele.
- É pelas dicas, pela roupa, por ter sido tão legal comigo. – devolvi
- Avec um bouche gourmande comme ça, tu peux devenir millionnaire! (Com uma boca gulosa como essa, você pode ficar milionário!) – afirmou ele, ainda assimilando a esporrada fenomenal que o fiz gozar. – Avec elle tu as sauvé ma journée! (Com ela você salvou meu dia!) – emendou ele, num tom de voz acabrunhado.
- Elle t’a botté le cul, n’est-ce pas? (Ela te deu um pé na bunda, não foi?) Tu l’amais bien, n’est ce pas? Plus que les autres. (Você gostava dela, não é?) (Mais do que das outras.) – perguntei, diante o olhar tristonho dele.
- C’est une putain de salope, oui! (Ela é uma grandessíssima puta, isso sim!). – esbravejou ele.
- Quatre-vingt dix pour cent du temps vous es un connard, mais tu sais être gentil quand tu veux. (Noventa por cento das vezes você é um babaca, mas sabe ser gentil quando quer.) – afirmei, sem perceber que minhas mãos ainda estavam espalmadas sobre seu peito nu. Ele me lançou um sorriso, tinha entendido o recado. Nos abraçamos demoradamente e ficamos sem dizer nada. Fomos nos soltando sem pressa, eu afaguei o rosto dele e, aos poucos ele foi aproximando a boca até ela tocar suavemente na minha, movimentamos nossos lábios até eles se encaixarem e encontrarem a quentura úmida de que necessitavam.
Depois disso, ele continuou me aporrinhando como sempre. Nunca mais voltamos ao assunto do boquete, mas passamos a ter um elo que não existia antes. Alguns dias depois ele voltou com a garota, e fez questão de me contar. O sorriso e a jovialidade dele estavam de volta. Eu apenas pisquei na direção dele.
Corri para a minha aula de francês já atrasado, apesar de ter enxaguado da boca o gosto alcalino do esperma do Louis ainda estava na minha garganta. A ansiedade por me expor pela primeira vez no Bois de Vincennes me manteve disperso a aula toda. A professora precisou corrigir minha escolha das palavras e a pronúncia num diálogo banal que já havia feito outras vezes sem incorrer em erros. No metrô quase perdi a estação, minhas mãos suavam apesar do frio que a noite trouxe. À entrada do bosque, quase dei meia-volta, ainda estava em tempo de desistir dessa loucura. Segui adiante. Caminhei parque adentro até as alamedas que concentravam os garotos de programa posicionados displicentemente ao longo delas como se estivessem ali apenas para admirar a natureza. Em determinado ponto parei, tinha passado pelos rapazes exibindo parcialmente seus corpos e pelas travestis em trajes sumários sob capotes que elas abriam assim que um cliente se aproximava, tinha chegado a um espaço sob o arvoredo não ocupado por ninguém, à exceção de um sujeito parrudão na calçada oposta, com um dos pés e as costas encostadas ao tronco de uma árvore fumando um cigarro cuja brasa se acendia de tempos em tempos quando ele o tragava. Eu estava tão tenso que não encontrava uma posição relaxada, também não sabia o que fazer com aquele par de mãos que subitamente pareciam estar sobrando. Eu as enfiava e retirava dos bolsos do jeans a cada par de minutos, e não sabia o que fazer com elas. Cerca de um quarto de hora depois de eu ter finalmente conseguido parar de sapatear feito um desengonçado, um par de faróis acesos foi se aproximando e apagou completamente quando ficou a poucos passos de onde eu estava. O vidro elétrico do lado do passageiro desceu e um cara de mais ou menos quarenta e poucos anos se inclinou e me desejou – boa noite – o que respondi gaguejando, pois a voz não queria sair.
- Topa um boquete? Quanto é? – perguntou ele.
Demorei a responder, parecia estar anestesiado. Um “sim” significava que estava me transformando num michê, numa puta. Quanto vale um boquete, foi a próxima coisa que passou pela minha mente. Eu tinha acabado de fazer um de graça, ou algo no gênero, já que o Louis havia me presenteado as roupas.
- Trente boules! (Trinta Euros!) – respondi. O sujeito destravou as portas, eu entrei e ele seguiu algumas centenas de metros à frente na Avenida de Gravelle e estacionou pouco depois da entrada da Route du Parc sob os galhos baixos de uma gigantesca castanheira.
O que preciso fazer agora, perguntei-me, sentindo a boca seca. Será que cabe a mim tirar o pinto dele de dentro da calça, que aliás, tinha crescido um bocado durante esse curto trajeto, ou é ele quem vai conduzir a coisa do jeito que mais lhe agrada? Como é que você se mete numa merda dessas Ahmad, sem nem ter pesquisado isso tudo antes? Por que você é uma besta, Ahmad! Uma besta! Ruminava eu com meus botões.
- Seu rosto, e seus olhos são lindos! Sou Jean! – disse ele, quebrando aquela barreira que se agigantara diante de mim, embora eu intuísse que o nome talvez fosse tão mentiroso quanto seu elogiu.
- Merci! – balbuciei, vendo-o levar minha mão até sua braguilha e deslizando-a sobre a ereção.
- Como você se chama? – quis saber
- Théo! – respondi, acabando de criar um pseudônimo.
Juntei toda a coragem que consegui e comecei a abrir a braguilha, fui enfiando lentamente a mão lá dentro enquanto continuava a cariciar a pica que dava pinotes cada vez mais intensos dentro daquele confinamento. Para facilitar as coisas e, talvez por que a urgência estivesse lhe consumindo, ele desafivelou e desabotoou a calça, de modo que eu pudesse pegar na cabeçorra que havia emergido de dentro da cueca. Inclinei minha cabeça na direção dela, fechei os olhos num aperto forçado, senti que os dedos que seguravam a pica estavam ficando molhados e abocanhei a cabeçorra úmida, aprisionando-a entre os lábios. Tal como havia feito o Louis, o homem gemeu ao sentir o calor da minha boca envolvendo seu cacete. Comecei a chupar movimentando minha cabeça para cima e para baixo, ritmicamente, imprimindo toda a sensualidade que minha inexperiência permitia. Um cheiro selvagem, amadeirado, começou a entrar nas minhas narinas, me fazendo querer cada centímetro daquela carne latejante. Eu mal me lembrava do porquê de tudo aquilo, minha mente estava concentrada naquele caralho de macho, saboreando-o, sentindo sua textura e seu potencial inato. Enquanto eu trabalhava, o homem afagava meus cabelos, se lançava contra o encosto do carro e grunhia feito um animal selvagem. Ele forçava minha cabeça para dentro de sua virilha e erguia seus quadris do assento, metendo a jeba mais fundo na minha boca, garantindo assim que os jatos de porra que despejou dentro dela não fossem desperdiçados.
- Ach! Ach! – gemeu ele guturalmente enquanto gozava.
Voltei a me aprumar no assento, enquanto ele ainda arfava em êxtase, deliciando-se com a fartura daquele gozo. Olhei para a satisfação estampada no rosto maduro dele, ele passou suavemente as pontas dos dedos pelo contorno do meu rosto e gemeu um – Théo – longo e suspirado. Antes mesmo de guardar a pica na calça, ele colocou duas notas de vinte Euros na minha mão e disse que estava tudo certo, destravou as portas e me desejou – Bonsoir, Théo!
Voltei caminhando até o mesmo ponto dentro do bosque, minha ausência durara menos que três quartos de hora. O sujeito do outro lado da calçada continuava lá, olhando na minha direção, me deixando irritado, pois parecia ser a personificação da minha consciência, me acusando da barbárie que havia cometido. Não tive que pensar muito nisso, uma vez que outro carro parou na minha frente. O homem era ligeiramente calvo, tinha as têmporas grisalhas e ao bigode ralo se juntava a um cavanhaque bem delineado ao redor de sua boca, onde havia certa sensualidade, ou talvez por que eu assim a enxergava. Outro boquete, dei meu preço, ele topou, entrei no carro, ele colocou as cédulas na minha mão e dirigiu até encontrar um lugar mais reservado e menos iluminado. Sem perda de tempo, assim que desligou o motor e apagou os faróis, ele tirou o pinto para fora. Era menor de o do anterior, mas os pelos pubianos eram mais densos. Peguei na pica ainda mole, masturbei-o até ela ganhar consistência e comecei a chupar, só parando quando estava com a boca cheia de porra. Ele fora prático, quase não falou, se satisfez com seus próprios gemidos e voltou a colocar o carro em movimento, deixando-me no mesmo lugar em que me pegou.
Consultei a tela do celular, 23:50 horas. Olhei em direção a calçada oposta, o parrudão continuava lá, feito uma câmera de vigilância, vendo cada um dos meus movimentos. Dessa vez passaram alguns carros lentamente, o motorista me examinava como a uma mercadoria numa loja e seguia adiante. Um deles, depois retornou e me abordou. Negócio combinado embarquei, acordamos setenta Euros, pois ele também queria meu cu após o boquete. Ele desceu do carro e, me guiando pelo braço, me levou mais para dentro do parque, onde arbustos baixos em meio às árvores camuflavam as orgias. Era um cara mais jovem, cheirava a graxa, tinha uma barba por fazer que espetava quando me beijou prensando meu corpo contra o tronco de uma árvore. Ele arrancou minha camiseta pela cabeça e avançou sobre os meus mamilos, cravando os dentes eles, enquanto procurava arriar minha calça. Senti as mãos ásperas dele deslizarem sobre as minhas nádegas, ele voltou a me beijar e enfiou a língua na minha boca, comecei a tremer, não de frio, mas do calor que tomou conta do meu corpo. Ele me forçou a ajoelhar e pincelou a rola na minha cara, antes de contornar meus lábios com a cabeçorra estufada dela. Apoiei minhas mãos nas grossas coxas peludas dele e comecei a mamar a verga intrépida, o aroma másculo logo se fez sentir. Massageei as bolas dele, o que o fez arfar mais rápido e mais profundamente. Suas mãos acariciavam meu rosto, ele me confessou seu nome – Marcel – e pediu o meu. Balbuciei meu codinome enquanto dirigia um olhar lascivo na direção dele. Ele me suspendeu, voltou a me beijar e apertar contra seu peito, depois me virou de cara contra a árvore e pincelou a caceta no meu rego; assim que identificou minha rosquinha, meteu-a no meu cuzinho com um impulso firme e abrupto, eu gani; senti minha fenda se abrindo, expandindo para deixar aquilo entrar, doía, mas eu cerrei os olhos e mordi com força. Ele havia me suspendido, meus pés não tocavam o chão, e me socava contra a árvore forçando minha carne a se abrir para alojar todo seu membro. Eu enfiei meus dedos na casca rugosa do tronco do carvalho sob cujos galhos ele me possuía, eu precisava daquela solidez para me apoiar, uma vez que minhas pernas pareciam não conseguir fazê-lo. Ele suspirava e chupava meu pescoço e meus ombros, acelerando o vaivém que esfolava minha mucosa anal, me obrigando a gemer e a me contorcer entre seus braços, o que o deixava ainda mais alucinado. Aquilo parecia não ter fim, comecei a achar que minhas forças não se manteriam até ele gozar, mas aí ele urrou chupando minha orelha e dois vigorosos impulsos antecederam o gozo. Tão desconhecida e tamanha era a sensibilidade do meu ânus que eu consegui sentir a camisinha se rompendo e meu sendo inundado pelos jatos de porra que ele ejaculou dentro dele e, que iam se transformando num corrimento caudaloso que se aprofundava nas minhas entranhas. Agora era definitivo, eu era uma puta. Ele pediu desculpas, disse que não esperava a camisinha romper, e que eu não me preocupasse, pois ele estava sadio. Eu estava tão apavorado que não sabia o que pensar e o que dizer. Ele vestiu a camiseta, ergueu a calça e guardou o caralho, enquanto eu também me recompunha voltando a cobrir minha nudez. Ele me pagou e seguiu à minha frente em direção a saída, entrou no carro acenou e partiu. Não vou longe com esses desconhecidos largando sua porra no meu rabo, com sabe-se lá que doenças, pensei comigo mesmo. Agora tinha mais uma preocupação, procurar um centro de assistência para me testar e ver se não tinha pego uma doença sexualmente transmissível. Eu conseguia sentir a carência dele através dos toques de pele, não se tratava apenas de uma carência sexual, mas de um vazio que fora aberto por alguém ou por algum acontecimento. Na hora, lembrei-me de ter lido não sei bem onde, que toda puta tem um quê de psicólogo e, por pouco não ri por constatar a veracidade da afirmação. Meus passos não me davam firmeza, juntei as pernas ao caminhar, achando que com isso também fecharia o enorme buraco que julgava ter entre elas. Ainda tremia todo quando me aproximei de uma árvore perto de onde ficava meu ponto e, recostei-me nela para não desabar no chão. O olhar enigmático do parrudão do outro lado continuava a me vigiar, pela demora desta vez, ele soube que meu cu estava ardendo. Esperei por um tempo, procurando me acalmar para voltar para o abrigo, a tela do celular já indicava um novo dia, quarenta e dois minutos de terça-feira, eu estava tão exausto que mal conseguia ficar em pé. Quando resolvi caminhar na direção da estação do metrô, fui novamente abordado, ainda dentro do bosque, depois de ter dado apenas algumas dezenas de passos.
Era mais um grisalho, meio acima do peso, pelos densos e negros saindo da camisa aberta, o pau duro já estava na mão que não segurava o volante. Ele parou e me chamou de – ma petite fleur – minha pequena flor – o que absolutamente não condizia com meus 185 centímetros de altura, mas no estado em que me encontrava, não estava a fim de fazer objeções. A proposta foi outro boquete, menos mal pensei, pois mais uma pica no cu naquela noite e eu ficaria sem condições de caminhar por uma semana. Ele me fez entrar no carro ali mesmo e levou minha mão até a jeba babada dele sem muita firula. Estava ficando tarde, eu precisava estar às seis horas na padaria, tinha que ser rápido. Punhetei o sujeito assim que liberei toda a genitália dele. À medida que socava a punheta, o sacão dele sacolejava no mesmo ritmo. Primeiro lambi a babinha viscosa que envolvia o cacete, depois o coloquei na boca e chupei, sorvendo a umidade que ele vertia. O homem bramia feito um touro bravio, um bramido rouco e extasiado. Enfiei minha mão pela abertura da camisa e acariciei o peitão peludo dele, sem parar de mamar a verga grossa.
- Oh mon Dieu, gosse salaud, tu vas me tuer! (Oh meu Deus, moleque safado, você vai me matar!) – grunhiu ele, lançando a porra cremosa na minha boca.
Terminei de lamber e limpar a pica esporrada dele e, enquanto eu limpava meus lábios ele me passava das cédulas. Me perguntou se eu queria uma carona para algum lugar ou se ia continuar no metiér, aceitei a oferta até a estação do metrô, uma vez que meu cu ainda ardia e a caminhada, apesar de curta, ia ser exaustiva nas condições em que me encontrava. O homem pareceu contente por eu ter aceitado a carona, colocou a mão sobre a minha coxa e a ficou alisando. Antes de ele deixar a alameda do bosque, dei uma última olhada para trás e vi que parrudão continuava lá, praticamente na mesma posição de quando eu cheguei. Por alguns segundos eu surtei, achando que talvez fosse alguém do serviço social, algum agente do governo francês me vigiando, procurando qualquer deslize para me negarem um visto permanente, tão cismada e obsessiva pode ser a mente de um refugiado. O olhar dele acompanhou o carro até sairmos do campo de visão dele. Ao descer do carro, o homem colocou um cartão de visitas na minha mão, dizendo-se disposto a repetir o encontro num lugar mais propício e com mais tempo para que pudesse sentir meu corpo sedutor enroscado no dele. Me despedi sem conferir e corri para dentro da estação. No metrô, observei o cartão. Uma larga faixa preta na borda esquerda do cartão era interrompida por um círculo dourado no qual se via uma balança de dois pratos na mesma cor, pelo restante do cartão lia-se – Martin Andrieux – na primeira linha – avocat & conseiller juridique – na segunda, seguidas de outras com endereço e demais dados.
Enfiei-me debaixo da ducha ao chegar no abrigo, precisava lavar meu cuzinho e tirar aquela porra suspeita que ainda formigava dentro dele, não sabia o que pensar daquele dia. Entre as onze e um quarto e as duas e quarenta da madrugada do dia seguinte eu havia faturado centro e trinta Euros, mais do que Monsieur Ermisse me pagava por doze horas de trabalho árduo. Era, sem dúvida, um serviço lucrativo como jocosamente havia me afirmado o Louis.
Apareci pontualmente na padaria, o sol ainda demoraria a despontar, se é que ele ia dar as caras naquele dia cinzento; o Damien foi o primeiro a notar que algo estava diferente em mim, eram provavelmente seus anos de vida que lhe davam essa clareza para interpretar a alma dos outros. O Adrien me perguntou se eu estava bem, que parecia não ter dormido bem à noite, o que neguei, pois embarquei num sono profundo tão logo minha cabeça havia encostado no travesseiro.
- Você andou queimando a rosca? Que jeito esquisito de caminhar é esse? – perguntou o desaforado do Louis.
- Sua besta! Vá cuidar da sua vida! – revidei irado. O puto tinha sensibilidade, se não para as coisas boas, mas para a sacanagem não restava dúvida. Ele riu, imitou meus passos e ficou me encarando até encontrar outra distração.
Só voltei a fazer ponto no Bois de Vincennes na sexta-feira. Evitei os dois primeiros dias depois da minha estreia por que meu cuzinho ainda estava bastante sensível e, o dia seguinte a eles, por ter que me mudar do abrigo para outro local designado pela Secretaria Francesa de Imigração e Integração, um edifício decadente que, após uma rápida reforma, recebeu pequenas unidades habitacionais que acomodavam de quatro a seis pessoas. Eu estivera nos abrigos públicos e gratuitos por mais tempo que o previsto pelo serviço social e, a partir dessa mudança, teria que arcar com um modesto custo de cem Euros mensais, uma vez que os demais custos da manutenção do edifício continuavam a ser subsidiados pelo governo francês. Fui alocado numa das unidades para quatro pessoas, dois dos rapazes que se mudaram para lá comigo eu já conhecia do Centre Humanitaire Paris Nord, tínhamos pouco contato e nenhuma amizade, mas ao menos eram caras conhecidas. O quarto morador era um tunisiano que já vivia na França há oito anos, mas que perdera o emprego e passou a depender do serviço social francês para morar. Desde que perdera o emprego num supermercado, ele vivia de bicos fazendo a manutenção de jardins em casas particulares. Nizar se chamava o sujeito, ele usava o cabelo sempre bem curto cortado rente a cabeça redonda, não fugia do estereótipo do homem do Oriente Médio, barba, cavanhaque e bigode emoldurando o rosto. Ele tinha sobrancelhas largas e negras que quase se juntavam próximas ao nariz aquilino, acima dos olhos acastanhados. Ombros largos e um tronco atlético onde também cresciam pelos negros que desciam até sua virilha passando por um abdômen trincado revelavam um homem habituado a trabalhos pesados. Ele era bastante calado e circunspecto, chegava tarde em casa todas as noites e, quando permanecia dentro de casa, tinha o costume de se sentar no peitoral largo da janela do cômodo que servia tanto como sala quanto cozinha. Passava horas ali, olhando para a rua lateral de pouco movimento e para a parede de tijolos à vista do edifício do outro lado da rua e, se perguntado por alguma coisa quando estava nessa posição, resumia-se a responder com um grunhido ou um aceno de cabeça. Os outros dois moradores logo desistiram de interagir com ele, vendo que não valeria à pena. Eu fui um pouco mais insistente, era da minha índole fazer amizades com certa facilidade, embora desde minha saída de Aleppo isso não tivesse voltado a acontecer. Também não obtive muito sucesso com o Nizar, mas ao menos ele sorria para mim de vez em quando, o que considerei uma vitória.
O movimento no Bois de Vincennes às sextas-feiras à noite era bem mais intenso do que no dia da minha estreia, como pude constatar assim que entrei na alameda que me levaria até o mesmo ponto da segunda-feira. Havia bem mais garotos de programa espalhados ao longo das alamedas, bem como travestis e michês. Procurei pela mesma árvore na qual fiquei naquele dia e tive que compartilhar o espaço de poucas dezenas de metros ao redor dela com duas bichinhas bem assanhadas enfiadas em shortinhos curtos, e que ficavam conversando entre si num tom de voz que mais se parecia com o grasnar de uma gralha. Elas me encararam de modo desafiador, como se não estivessem aprovando a nova concorrência, mas acabaram acenando espalhafatosamente na minha direção depois de alguns minutos, o que respondi com um sorriso e outro aceno. Era uma maneira estranha de interagir com as pessoas, mas depois de tudo pelo que passei, eu já não dava mais importância a esses detalhes. Também estava lá, na calçada do outro lado, o parrudão que vigiou cada uma das minhas saídas daquele dia. Até a posição, pé e costas recostadas no tronco da castanheira era a mesma. Será que havia um padrão a ser adotado para identificar que serviços cada um prestava? Minha ignorância nesse assunto era tamanha que eu me sentia como se estivesse noutro planeta. Eu tolamente acenei para o sujeito também, como forma de dizer – olá – porém ele continuou me encarando com o semblante fechado.
Eu não estava nem um quarto de hora fazendo ponto quando cinco rapazes se aproximaram de mim de forma agressiva. Um deles mais velho, certamente com mais de trinta anos, parecia liderar a trupe. Foi ele quem me enquadrou.
- Qual é a sua viadinho do caralho? – perguntou ele, sem que eu soubesse do que estava falando. A voz dele era bem máscula, embora a boca estivesse carregada de batom e os olhos delineados com um lápis de maquiagem que os faziam parecer mais fundos do que na realidade eram.
- Não estou entendo, do que você está falando? – retruquei, um pouco assustado, pois eles tinham conseguido me intimidar.
- Ah, você não sabe, não é sua putinha barata! – continuou o sujeito. – Pois eu vou esclarecer uma coisa, se está tentando nos derrubar com esses seus boquetes de mixaria, vai ter que se haver conosco, melhor dizendo, diretamente comigo, está entendendo agora? – eu continuava na mesma ignorância, e estava com receio de perguntar o que é que tinha feito de errado.
- Os serviços aqui tem preço, cadelinha novata! – exclamou uma das travestis do grupinho. – Soubemos que você anda fazendo boquetes a trinta Euros. Se esse é o preço lá no país de merda de onde você saiu, volte para lá. Aqui um boquete muito do rapidinho não sai por menos de cinquenta Euros, está entendo cadelinha!
- Desculpe, eu não sabia que existia uma tabela! – respondi, o que fez o grupo todo cair na gargalhada.
- Tabela? De onde você saiu, putinha? Não existe nenhuma tabela, sua bicha perdida! O preço varia conforme a cara do freguês, o carrão no qual ele vem, as roupas que ele usa, você não sabe disso não? – voltou a falar o líder deles, enquanto os demais caíam na gargalhada.
- Trinta Euros é uma pechincha! Se gosta de pechinchar volte para seu país, vá chupar as picas daqueles fodidos, mas não aqui, ok! – sentenciou outra voz do grupo.
- Talvez esteja precisando de uma lição para aprender como se trabalha por aqui, não é turma? – perguntou o líder.
- Peço desculpas novamente, eu juro que não sabia disso. – afirmei, tentando acalmar os ânimos.
- Que tipo de puta é você? Pare de ficar pedindo desculpas feito um molequinho educado! Você é um viado, um puto de um viado que não faz ideia no que se meteu, ou você dá o fora daqui, ou eu mesmo me encarrego disso. – ameaçou o líder, desferindo uma violenta bofetada na minha cara que me fez perder o equilíbrio e precisar me apoiar no tronco da árvore para não cair, seguida de um soco na barriga que me deixou sem respirar. Outro deles aproveitou para me dar um chute nas costas quando me dobrei sobre o ventre comprimindo-o com as mãos para ver se voltava a respirar.
O líder estava me erguendo pela camiseta para continuar a me espancar quando foi atingido por um soco no meio da cara, caindo de costas sobre a relva como se fosse um saco de batatas. Ele se pôs em pé rápido, mas não escapou de outro soco e um chute que o deixou caído por mais tempo dessa vez. Quando olhei ao meu redor, a trupe havia tomado distância de mim e do parrudão que encarava a todos com um olhar ameaçador. Ninguém mais se atreveu a encará-lo, embora fossem quatro contra um, uma vez que o líder se punha em pé muito lentamente, com o canto da boca sangrando. Ele ainda blasfemou um último blefe na direção do parrudão.
- Um dia desses ainda vamos acertar as nossas contas! – exclamou ele, o que me fez concluir que eles já tiveram suas diferenças no passado.
- A hora que você quiser! Estarei à sua espera! – respondeu o parrudão com a firmeza de uma rocha, o que fez o líder se retrair, sabendo que não era páreo para o sujeito. – Se voltarem a perturbar o rapaz, terão que se haver comigo! Especialmente você cretino, não vejo a hora de te deixar sem nenhum dente nessa boca imunda! – ameaçou, apontando para o líder que apenas revidou com um risinho irônico.
- Quanto a você bonequinha linda, eu posso te ensinar tudo o que você precisa saber para se dar bem por aqui, me procure! Gilles, guarde bem esse nome, posso fazer muito por você, acredite! Tenho muito a oferecer para essa sua carinha linda e esse seu corpinho tesudo. Te garanto que estará muito melhor nas minhas mãos do que nas desse sujeito! – propôs o líder reaprumado, agarrando a própria pica, num sinal de dominância.
Eu tremia da cabeça aos pés, sentia o gosto de sangue na boca e passei a mão pelos lábios para ver se estavam sangrando, mas o pequeno corte era interno, a bofetada comprimiu o lábio inferior contra os dentes que o cortaram, afora isso, só a humilhação estava doendo. Uma chuva torrencial começou a desabar sem aviso, nos obrigando a procurar abrigo fora do bosque. O parrudão e eu corremos até a estação do metrô, onde chegamos esbaforidos e empapados.
- Obrigado! – agradeci-o com a respiração entrecortada. – Não sei o que eles teriam feito comigo se você não tivesse aparecido para me ajudar.
- Vá para casa! – ordenou ele.
- Me chamo Ahmad, e você? – perguntei. Ele simplesmente virou as costas, desceu rapidamente as escadas que levavam à plataforma e embarcou na composição que já fechava as portas.
Fiquei um tempo sentado num banco da plataforma, tremendo de frio com as roupas coladas ao corpo, sentindo raiva de mim mesmo, sentindo raiva do mundo, sentindo raiva dos miseráveis que tinham acabado com meu país e me lançado nesse mundo ao qual eu sentia não pertencer. O apartamentinho estava às escuras quando entrei em casa, nenhum dos beliches do quarto estava ocupado, entrei no meu após me despir e puxei o cobertor sobre o corpo na esperança de que o dia seguinte fosse melhor. Eu já tinha perdido as contas de quantas noites eu encostei minha cabeça no travesseiro pensando dessa forma.
- O namorado andou mordendo seu lábio, foi? – perguntou o Louis na manhã seguinte assim que cheguei à padaria, ao notar meu lábio levemente inchado. Ignorei-o, o que o fez perceber que aquilo não tinha surgido gratuitamente e que eu não estava disposto a falar sobre o motivo daquele lábio deformado.
Os finais de semana concentravam o agito do Bois de Vincennes e eu estava lá na noite de sábado, após tomar uns comprimidos de anti-inflamatório e sentir que meu lábio havia desinchado. Aqueles desgraçados que me ameaçaram também tinham saído de países subdesenvolvidos e corruptos, não seriam eles a me dizer como agir. Por garantia, comprei um canivete, daqueles, cuja lâmina salta ao se destravá-lo, e o enfiei na mochila junto às outras coisas que eu chamava de ferramentas de trabalho, camisinhas, lenços umedecidos, cuecas extras, enxaguatório bucal e lubrificante íntimo. E, fui à luta.
Decidi que meu ponto seria aquele, que o defenderia de qualquer intruso, mesmo que precisasse cravar uma lâmina na barriga do enxerido. Meus tempos de baixar a cabeça precisavam terminar, e eu introjetava esse desafio cada vez com mais empenho. O primeiro carro se aproximou de mim pouco depois, outro homem maduro, muito provavelmente casado que não encontrava em casa tudo do que precisava. Dei meu preço para o boquete, cinquenta Euros, ele topou e me fez entrar no carro. Chupei-o na garagem subterrânea de um edifício ali perto, ele guardou o pinto satisfeito depois de eu ter massageado delicadamente suas bolas peludas por um tempinho, enquanto ele me beijava e mexia nos meus mamilos. Dispensou-me na calçada da Avenida Gravelle perto do meu ponto, para onde segui apressado, pois a noite estava só começando. Ao regressar vi o parrudão no ponto dele, acenei e, como já esperava, ele não retribuiu. Idiota, pensei comigo, que se foda.
Cerca de três quartos de hora depois, um BMW de vidros escuros encostou ao lado dele, ficaram uns minutos conversando. O motorista baixou o vidro do passageiro e olhou na minha direção, antes de retomar a negociação com o parrudão. Em seguida, ele acenou para mim me chamando para juntar-me a eles. Fiquei sem saber o que fazer, o que significava aquilo, um ménage à trois? Tinha dado o cu uma única vez, estaria preparado para isso, pensei, continuando onde estava. O parrudão continuava acenando, mais insistente. Atravessei a alameda e ele me fez entrar na porta de trás do sedã. O cliente era um homem troncudinho, de uns sessenta anos, que pisava fundo no acelerador assim que os semáforos abriam, ao som do Concerto de Brandenburgo Nº 1 de Bach. Levou-nos a um apartamento amplo e luxuosamente decorado numa rua do bairro L’Elysee, e mandou que nos puséssemos à vontade. Fiquei me perguntando como se fazia isso quando todo seu corpo estava rijo como uma tábua. Tirou quatrocentos Euros da carteira e os entregou ao parrudão.
- Sou Benoît! Benoît Cavalnni! E vocês? Querem uma bebida? – perguntou ele.
- Um uísque! – respondeu o parrudão
- E você, meu rapaz? O mesmo? – perguntou o senhor, enquanto servia o copo do parrudão.
- Não obrigado! – respondi
- Outra coisa, então? Um licor, uma cerveja, uma água? – insistiu o homem.
- Uma água! – respondi, embora tivesse minhas dúvidas se alguma coisa fosse descer pela minha garganta.
- E qual é o nome desse efebo escultural? – tornou a perguntar quando me deu o copo de água onde as borbulhas do gás pareciam estrelas faiscando.
- Théo. – respondi
- Você é muito bonito Théo! Tem muitos clientes? – enquanto eu era submetido ao interrogatório, o parrudão olhava para mim com uma expressão indecifrável.
- Obrigado! Não, não muitos!
- Então você deve ser muito seletivo, pois sua beleza e essa sua bunda devem conquistar uma legião de fãs. – afirmou o sujeito. Eu corei, o que pareceu divertir o parrudão.
- E quanto a você, é um homem muito atraente, gosto de homens másculos como você! Como se chama? – observou o troncudinho que, enquanto isso, já tinha tirando a camisa de dentro da calça e a desabotoado, mostrando os longos pelo grisalhos que tinha no peito.
- Nada de beijos, só faço ativo e nada de toques no meu traseiro, entendeu? – respondeu o parrudão ao Benoît.
- Entendi! Cobra a mais por isso? – perguntou o cliente.
- Não, são pontos inegociáveis! Quero que fique bem claro, para não termos problemas. – impôs o parrudão.
- Está certo! E como devo chamá-lo? – Benoît apontou um olhar para o parrudão que me deixou convicto do que estava lhe passando pela mente com aquela resposta aviltante – tudo e todos nesse mundo tem seu preço, é só uma questão de negociar – a idade e talvez o traquejo nos negócios haviam lhe ensinado.
- Use o nome que quiser, o que acender o seu cu está valendo! – respondeu aquele que eu começava a achar o sujeito mais intragável que já tinha visto. – Aqui está o que você gosta e pelo que está pagando. – emendou, abrindo a braguilha e tirando lá de dentro um cacetão cavalar e intimidador, algo tamanho que eu jamais poderia imaginar que coubesse entre as pernas de um homem.
O cliente foi até ele, sentou-se no sofá ao lado do parrudão e começou a manipular a caceta. O parrudão terminou de tirar a camisa dele e puxou sua camiseta por cima do pescoço, deixando um tronco imenso e sensual à mostra. Logo o cliente levou a outra mão até ele e começou a acariciá-lo, inclinando-se na direção dos mamilos e lambendo seus biquinhos. O tesão não me deixou desviar o olhar daqueles dois homens se acariciando enquanto começavam a arfar. A pica do parrudão ficava cada vez mais dura e gigantesca na mão do cliente.
- Vai ficar parado aí feito uma estátua? Não é para isso que você está sendo pago! – exclamou o parrudão dirigindo-se a mim. – Tire a roupa e deixe-o mamar sua rola. – ordenou como se fosse um pai dando ordens ao filho. Eu estava arrependido de ter vindo, queria esganar aquele sujeito petulante que tornava aquilo tudo ainda mais constrangedor para mim.
Cheguei mais perto deles e o cliente terminou de arriar o meu jeans e a cueca, expondo meu pinto flácido. Mesmo mole ele o colocou na boca e começou a me chupar, sob o olhar interessado do parrudão. Eu sabia que meu pau não ia endurecer, fosse lá o que o cliente fizesse. Me passou um flash pela minha cabeça, fugir dali. Mas, como fazer isso sem parecer ainda mais ridículo. Percebendo que meu pau estava demorando demais para endurecer, o cliente voltou novamente ao do parrudão que continuava ereto feito um poste. Como eu estava ao alcance de sua mão, ele agarrou uma das minhas nádegas e a amassou com tanta força que imprimiu a marca de seus dedos sobre a pele alva. O cliente fez o mesmo com a outra nádega, antes de beijá-la e cravar seus dentes nela.
- Quero fazer no quarto! – disse o cliente, caminhando à nossa frente em direção a um corredor, ao mesmo tempo que ia se livrando das calças e da cueca estilo samba-canção de seda.
No quarto ele voltou a me agarrar, seu falo ficava sob uma dobra da barriga, era curto, circuncisado e quase não havia pelos pubianos envolvendo-o e ao saco, esse sim, bastante volumoso. Me envolvendo em seus braços peludos ele se esfregava em mim, fazendo o pau enrijecer e liberar uma babinha nas minhas coxas. Feito um alucinado que precisava de oxigênio para sobreviver, ele colou sua boca à minha e meteu sua língua com gosto de tabaco dentro dela. Eu retribuí, sentindo suas mãos abrindo meu rego para que seus dedos tateassem meu cuzinho. Eu gemi ao sentir um deles entrando pela fendinha, e percebi que meu pinto tinha conseguido uma ereção. O homem me inclinou sobre a beira da cama e se deitou sobre mim, enfiou a pica no meu cu e começou a bombar freneticamente, restringindo-se a poucos centímetros da portinha do meu cuzinho, pois a rola dele era insuficiente para ultrapassar aquele limite. Mesmo assim, meus esfíncteres se fecharam ao redor da pica num espasmo abrupto que a prendeu entre as pregas anais. O vaivém voraz as estirava e provocava uma dor contínua, mas suportável, que me fazia ronronar feito uma gata no cio. Acariciando as coxas musculosas e peludas do parrudão, o cliente o chamou sobre si, rebolando a bunda reta como se ele próprio estivesse no cio, se oferecendo para a cópula. O parrudão o fez esperar, agarrando-o pelos cabelos e puxando-o com força para sua virilha, onde o obrigou a mamar o caralhão que socava na garganta do velho até ele grunhir pedindo arrego. Ele fez isso umas quatro vezes, alucinando o cliente que desforrava seu tesão no meu cuzinho. O parrudão se posicionou, segurou o cliente pelas ancas, puxou-o contra sua virilha e meteu o caralhão no cu dele, fazendo o homem soltar um ganido grave e rouco, como se o estivessem estripando. Por alguns minutos senti a pressão no meu cuzinho amenizando, foi durante o tempo que o parrudão levou para enterrar toda a pica no cu dele. O cliente rebolou com a jeba atolada no cu, parecia feliz com aquela verga malhando sua carne, e retomou sua atenção sobre mim. Enquanto era fodido, ele me fodia, com o pinto mais duro e mais sequioso. Eu era o único a gemer, eles dois arfavam feito animais bravios, já tinham passado por aquilo inúmeras vezes na vida, não sentiam mais aquele frenesi que machucava e dava prazer ao mesmo tempo, e o prazer, eles sabiam, tinha os minutos contados até o clímax, quando nem sombra dele restaria reverberando em seus corpos. O cliente gozou no meu rabo protegido pela camisinha, soltando um urro enquanto seu corpo pesado parecia convulsionar sobre o meu. Saí debaixo dele deixando o parrudão terminar o serviço no cu dele. Ele me puxou de volta até eu ficar ajoelhado ao lado dos dois e abocanhou a minha rola, mamando-a até eu gozar na cara dele. O parrudão estava tão próximo de mim que eu podia sentir o calor do corpão dele, os pelos negros do peito dele brilhavam com o suor entremeado neles, pequenas gotículas de suor também afloraram nas têmporas dele e eu senti uma atração irresistível por aquele macho copulando feito um garanhão no rabo do cliente. Ele arfava com os lábios ligeiramente entreabertos, eles estavam vermelhos e úmidos e eu me atirei contra eles, cobrindo-os com a minha boca. No mesmo instante ele me empurrou para longe como se estivesse me desferindo um coice, eu caí de costas sobre o colchão fofo.
- Sem beijos, sua bicha! – protestou ele furioso, algumas bombadas antes de esporrar nas costas do cliente.
O cliente se estirou na cama ao meu lado e me envolveu em seus braços, começamos a nos beijar, e ele contornava meu rosto com os dedos ligeiramente trêmulos.
- Você é tão lindo, Théo! Lindo e gostoso! – balbuciou ele, com a respiração acelerada e o corpo todo suado. Eu o beijei novamente e acariciei seu rosto vincado pela idade. Ele me deu um sorriso doce.
- Não vou poder levá-los de volta, aqui está o dinheiro do táxi! – disse o Benoît, tirando algumas cédulas do bolso de um robe de seda. – Fechem a porta ao sair! – emendou, entrando no banheiro da suíte.
Ainda dentro do edifício, no hall do andar térreo, o parrudão me passou cem Euros.
- É a sua parte! – disse ele.
- Não fizemos o serviço juntos? – perguntei, me sentindo explorado.
- O restante é pela minha proteção! – respondeu ele.
- Proteção? Eu não pedi e nem preciso da sua proteção! – revidei exasperado.
- Não foi o que me pareceu ontem à noite dentro do bosque. – devolveu ele.
- Não pedi a sua ajuda! Sei muito bem cuidar de mim mesmo!
- Também não foi o que eu presenciei! – a indiferença com a qual ele expressava isso me irritou.
- Se eu precisasse de um cafetão, eu mesmo procuraria por um. Não preciso que se ofereça para fazer esse serviço! – exclamei, desafiando-o.
- Não sou seu cafetão! – exclamou ele, elevando a voz.
- Então não haja como se fosse! – revidei.
- Para um novato, você é bem atrevido! Não à toa já se envolveu em encrenca. – afirmou ele.
- Não me envolvi em encrenca alguma!
- Então me explique o que foi aquilo ontem à noite, um acordo amigável entre bichas putas para chegar a um denominador comum de quanto cobrar pelos serviços?
- Isso não é da sua conta! Não pense que vou me deixar explorar por você. Sei muito bem valorar o que faço.
- Ah, isso deve saber mesmo! Trinta Boules num boquete deve ser o bastante para pagar seu serviço, tudo depende da qualidade.
- Você é um idiota, cara! Tripudia de mim, mas não fez um único Boule na segunda-feira, muito provavelmente por que o seu serviço também não deve ser lá essas coisas. – sentenciei revoltado
- Olha aqui, moleque! Está na cara que você não conhece nada disso aqui, portanto, não se meta comigo, entendeu! – revidou ele. – Agora me deixe em paz, que ainda tem muita noite para eu continuar. – ele me largou ali plantado, levando o dinheiro do táxi.
Passava um pouco da meia-noite, realmente era cedo para voltar para casa, principalmente por que haviam me restado menos de cem boules depois que paguei o táxi até o Bois de Vincennes; uma noite de final de semana mais magra, apesar de ter me empenhado num boquete e levado uma rola no cu. O parrudão estava no ponto dele quando me viu chegar, eu o encarei com vontade de despejar mil impropérios na cara de pau daquele imbecil.
Mas minha raiva durou pouco, não havia tempo para remoê-la. O homem passou por mim deixando o carro rolar vagarosamente, apagou os faróis e ficou me examinando. Ao contrário da maioria dos garotos de programa que ficavam no bosque, eu não acenava e nem ficava provocando os clientes com caras e posses do tipo – estou à venda – eu me limitava a observá-los na mesma intensidade que eles o faziam. Ele seguiu adiante sem parar, sumindo de vista após a curva que a alameda fazia mais à frente. Cinco minutos depois, repetiu a manobra, passou, examinou e foi embora. Muitos clientes faziam o mesmo, a maioria que procedia assim estava se arriscando nessa aventura pela primeira vez, tinham pouca experiência em abordar um michê, e eu quase podia sentir as inseguranças que os afligiam. Passados mais alguns minutos ele voltou, tinha criado coragem e parou ao meu lado.
- Oi!
- Oi!
- Tudo bem?
- Tudo bem, e com você?
- Também! ... Quer dar uma volta? – perguntou depois de um breve silêncio.
- E no que consistiria essa volta? – devolvi
- Ah, sei lá! Um bate-papo, quem sabe! – o constrangimento dele era tão visível que até medo de expressar o que queria o impedia de ir direto ao ponto. Ele era um homem bem comum, nem feio nem bonito, certamente com uma profissão que lhe garantia um padrão de vida mediano e que, passando por algum revés da vida, uma separação talvez, a perda recente de um amor, um casamento em crise, problemas no trabalho, qualquer um desses fatores que o impulsionou a procurar uma válvula de escape.
- Um bate-papo? – perguntei, o que o fez desviar ligeiramente o olhar, como se tivesse se dado conta de que deu uma bola fora. Só que essa atitude o fez parecer repentinamente muito sedutor. – Ok, um bate-papo! Você sabe que eu cobro por isso, não sabe? – continuei, aceitando o programa.
- Não claro! Claro que sei! – foi divertido vê-lo recuperando a confiança. – Quanto você cobra? – emendou ligeiro.
- Isso depende! Bate-papos costumam não estar na lista de opções. – respondi.
- Sei! E se eu pagasse por uma das opções da lista que você julga ser equivalente ao bate-papo? – ele, sem o perceber, estava se tornando um sujeito divertido e até criativo.
- Quanto tempo você acha que vai durar esse bate-papo? – perguntei
- O quanto você quiser! Quando ficar entediado com a minha conversa, paramos, tudo bem? – acho que por já ter me sentido assim, fiquei comovido com sua solidão.
- Digamos então algo entre um boquete e uma foda rápida! – ele precisou segurar o riso, minha proposta deixou-o mais solto.
- Fechado então, meio boquete e meia foda! Fica em quanto? – ele já conseguia caçoar com a bizarrice da situação.
- Duzentos e cinquenta boules! Sem direito a regatear! – exclamei, com um sorriso largo.
- Sem pechincha! Legal! Entre! – devolveu ele, contente com o arranjo.
Nossa negociação durou pouco mais de um quarto de hora, tempo no qual o parrudão não desgrudou o olhar do que eu estava fazendo. Ao me ver entrando no carro, ele consultou o celular, eu podia jurar que estava conferindo as horas.
- Para onde quer ir, ... ? – perguntou o homem, quando pôs o carro em movimento. – Como devo chamá-lo, existe uma maneira certa para me referir a você? – acrescentou, meio sem jeito.
- Théo, chame-me pelo meu nome, Théo! – respondi
- Ok, Théo! Para onde quer ir?
- Onde você quiser! Se for muito longe, vou acrescentar o táxi da volta, ok? – respondi. Ele riu novamente.
- Eu trago você de volta, são e salvo, não se preocupe! – dessa vez fui eu quem riu, e ele gostou.
Quarenta minutos depois, ele estacionou na Rue Saint Georges no 9º Arrondissement e caminhamos por cerca de cem metros até um bistrô de esquina.
- Prefere ficar no salão ou no terraço? – perguntou quando entramos.
- Onde você quiser! – respondi. O cheiro de comida me fez lembrar que fazia muitas horas que eu não comia nada, e eu achei a sensação reconfortante.
- Naquele canto do terraço, então! Está bem?
- Ótimo, perfeito!
- Ah! E não se preocupe com a conta, não vou propor que a dividamos, nem vou abatê-la do que combinamos. – disse ele, como uma carinha safada sorrindo, tirando uma comigo.
- Eu não esperava outra coisa de um cavalheiro! – devolvi entrando na dele.
- Você é bem divertido, além de muito lindo também! – afirmou, sem medir as palavras.
- Obrigado! E você, que ainda nem me disse seu nome, é muito gentil! – devolvi
- Ah, verdade, perdão! Fiquei tão empolgado que até esqueci de me apresentar. Fabien, Fabien Serrurier!
- O que foi que te deixou tão empolgado, Fabien Serrurier? – eu nunca fui um sujeito ruim, mas estava gostando de brincar com ele, de provocá-lo para descobrir até onde ia a criatividade dele, mesmo sabendo que estava tripudiando com alguém que não estava vivendo seu melhor momento na vida.
- Você! – respondeu na lata. – Nunca imaginei que um jeans e uma camiseta pudessem parecer tão glamorosos sobre as curvas de um corpo, o que dirá dele nu!
- Você me imaginou nu?
- Assim que te vi ali parado, com a luz se infiltrando e as sombras se movendo junto com as folhas da árvore sob a qual você estava, parecia uma cena de cinema. – confessou ele.
- E, isso te excitou? – questionei
- Muito! Como agora, com você me encurralando contra a parede com suas perguntas. Não queira ver como estou debaixo dessa mesa, duro feito um adolescente folheando uma revista pornô. – admitiu
- Pois eu estou curioso para ver o que você esconde. – retruquei, o que o fez rir.
- Antes vou precisar conferir meu saldo bancário para ver se estou em condições de fazer tantas estripulias numa noite só. – devolveu ele com humor.
- Talvez eu embuta na negociação, como um bônus! – exclamei. Eu precisava admitir, aquele jogo de palavras com um estranho tão charmoso também estava me deixando excitado.
- Então vou pedir algo bem substancioso, pois estou faminto, e vejo que vou precisar de muitas calorias para atender as suas expectativas. – sentenciou sorrindo
Eu estava faminto, mas nada perto dele. Ele devorou seu pedido como se fosse um leão esfaimado. A comida era realmente saborosa e serviu de embalo para mais de três horas de conversa. Fabien nem parecia mais aquele homem retraído que me abordou no bosque, ele era expansivo, tinha um astral muito bom, sabia fazer um jogo de sedução que mal se conseguia perceber, antes de estar enredado por sua conversa.
- Descobri que não sou tão entediante assim, você está me aturando há mais de três horas e ainda sorri das bobagens que eu falo, devo ser bom nisso! – exclamou ele.
- É muito bom, pode ter certeza! Eu nem senti o tempo passar, e continuo curioso para saber que outras qualidades você tem. – asseverei.
- Essa curiosidade já vai fazer parte do bônus? – perguntou ele.
- Começo a fazer uma ideia de qual seja a sua profissão. Você deve ser um agente financeiro, um banqueiro, ou alguém bastante acostumado a colocar preço em tudo, acertei? – indaguei
- Nem passou perto! Sou engenheiro. – respondeu ele, divertindo-se com meu palpite.
Quando ele terminou de pagar a conta e levantamos para sair, eu notei que o pau dele estava duro, formando uma saliência enorme na calça de pernas ligeiramente folgadas. Ele não fez questão de esconder a ereção, assumiu-a a caminho do carro e, assim que nos acomodamos nos assentos, ele se inclinou na minha direção e me beijou, começando com cautela num roçar suave de lábios para depois comprimi-los com força contra os meus e, lascivamente, ir enfiando a língua na minha boca, enquanto suas mãos passeavam pelo meu corpo. A alguns quarteirões do bistrô ele entrou na garagem de um edifício, pegamos o elevador até o quarto andar e ele destrancou uma das duas portas que havia no corredor, entramos e, fechando a porta com um dos pés, ele voltou a me agarrar numa sofreguidão desenfreada, me beijando loucamente, me palpando sob a camiseta e praticamente a arrancando do meu tronco. Assim que viu meus mamilos, começou a chupá-los como se fosse um bebê mamando nas tetas da mãe. Ambas as mãos penetraram na cintura do jeans e agarraram minhas nádegas, ele me ergueu, caminhou comigo até o quarto, sem desgrudar a boca da minha. Aos pés da cama, me girou enlaçando minha cintura e começou a lamber e chupar minha nuca, enquanto arriava minha calça abaixo dos joelhos.
- Lindo, perfeito e escultural, Théo! – suspirou ele, desabotoando a calça e tirando a jeba dura para fora, que o estava torturando há horas. Com uma encoxada forte ele me fez sentir seu membro deslizando pelo meu rego.
- Ahh! – soltei num suspiro excitado. A pegada dele era intensa, viril.
Ele se esfregou na minha bunda até o cacete começar a babar, eu me virei e o beijei, descendo minhas mãos espalmadas pelo tórax e abdômen dele, até enfiar uma delas com os dedos abertos nos pelos pubianos grossos que circundavam seus genitais. Peguei a rola pesada e a afaguei, começando a me sentar na beira cama para que minha boca alcançasse o que latejava indômito na minha mão. Com a ponta da língua amparei a gota translúcida e viscosa que pendia da uretra larga dele, lambendo e sorvendo em seguida a babinha que já havia lambuzado toda a rola. Ele grunhia e se contorcia, eu acariciava seu ventre. Ele era inegavelmente saboroso, tinha um sabor amadeirado de cogumelos frescos que se igualava ao aroma de sua verga. Chupei-o devotamente, sem me importar com o tesão que o consumia e o fazia gemer a cada sugada que meus lábios davam na cabeçorra arroxeada e sensível dele.
- Théo, Théo! – repetia ele grunhindo, como num refrão de uma canção. – Eu vou gozar! Eu vou gozar! - prevenia ele acaloradamente.
A previsão se cumpriu, ele esporrou na minha boca, apertando firmemente minha cabeça dentro de sua virilha, dando estocadas curtas e ritmadas que sincronizavam com a saída dos jatos de porra leitosa. Engoli tudo e lambi a jeba toda, passando a língua sobre o grosso emaranhado de veias saltadas que pulsavam vigorosamente nutrindo a rigidez dela. Ele me encarava com os olhos brilhando e a respiração acelerada. Sem me deixar levantar, ele foi me deitando sobre a cama, terminou de tirar meu jeans pelos pés e colocou cada uma das pernas sobre seus ombros, veio se inclinando devagar sobre mim até ficarmos com os rostos colados.
- Quero você! – murmurou ele excitado.
- Está dentro do bônus! – retruquei, ele riu e começou a me beijar.
Eu afagava a cabeleira dele, acariciava a nuca junto a implantação dos cabelos e sentia que meus toques eriçavam a pele dele naquela região, fazendo sua respiração ficar cada vez mais ruidosa. A língua dele se movia dentro da minha boca num frenesi crescente e, parecia que o ar que entrava pelas minhas narinas começava a ficar insuficiente para as necessidades dos meus pulmões, me obrigando a contorcer o corpo todo que, com isso, ia se entrelaçando ao dele. A boca dele desgrudou da minha e eu inspirei profundamente recuperando o ar que faltava, ele foi descendo com ela entreaberta e soltando o ar quente de seu hálito sobre a minha pele, fechou-a ao redor das minhas tetinhas, mordeu-as e chupou-as. Retomou a caminhada, descendo pelo ventre, pousando seus lábios úmidos ao redor do meu umbigo, saltou meus genitais e beijou e mordiscou a parte interna das minhas coxas lisas, foi me erguendo até conseguir contemplar o cuzinho rosado, atacando-o como uma fera ataca sua presa. Gemi lascivamente enquanto ele lambia minhas pregas anais, mordendo as beiradas do meu cuzinho. De quando em quando ele olhava para o meu rosto, via o tesão que eu estava sentindo refletido nele, e voltava a mover a língua devassa sobre a minha fenda anal. Ele voltou a firmar os pés no chão, ergueu meus quadris e apontou a cabeçorra na portinha do meu cu, um impulso abrupto a fez atravessar meus esfíncteres distendendo-os e me obrigando a ganir. Eu espalmei minhas mãos sobre o abdômen dele, para impedi-lo de continuar avançando com toda aquela voracidade da qual estava possuído. Fabien esperou o que para mim não foram mais do que alguns segundos, enquanto para ele parecia uma eternidade. As estocadas recomeçaram, potentes, intrépidas, fazendo o cacetão abrir minha carne até conseguir alojá-lo no fundo do meu casulo. Eu me agarrava aos lençóis, sentia-os insuficientes para me dar amparo, agarrava seus bíceps musculosos, eles continuavam a não ser o bastante, apertava seus ombros largos feito um desesperado, trazendo-os sobre mim até conseguir cravar meus dedos nas costas dele, enrodilhando seu torso quente que finalmente se mostrou seguro para eu me entregar por inteiro aos desejos libidinosos dele. Ele acariciava meu rosto como se soubesse da agrura que eu estava sentindo, me beijava e gemia meu nome. Eu gozei com ele movimentado a jeba dele no meu cu, gemendo e ganindo num misto de prazer e dor. Depois disso, extenuado, eu recebia as estocadas vigorosas dele quase sem reagir, encarando-o e afagando seu rosto até ele gozar liberando um urro grave e se deixando cair pesadamente sobre mim, enquanto os jatos de porra enchiam a camisinha. Ficamos abraçados por um bom tempo, trocando afagos. O pau dele relutava em amolecer e ele parecia não ter pressa de tirá-lo de dentro de mim.
- Se esse é apenas um bônus, eu fico imaginando como seria o serviço completo! – exclamou ele, quando sua respiração havia se aquietado.
- A inspiração foi maravilhosa, assim como tudo que você fez! – devolvi. Ele levantou a cabeça que estava apoiada sobre o meu peito e sorriu para mim.
- Diz isso a todos os seus clientes?
- Não! Só àqueles que realmente se destacam. – respondi
- São muitos? Estou entre eles?
- Quer que eu seja sincero? É o primeiro a quem digo isso, acredite você ou não! – respondi com franqueza
- Eu acredito! Acredito de verdade! E fico feliz por sua sinceridade. – devolveu ele.
Passado mais um tempo, já não estávamos mais engatados, ele tinha se aninhado nas minhas costas e passado um braço ao redor da minha cintura, e eu sentia o ar morno de sua respiração resvalando na pele do meu ombro, fiquei me imaginado com um homem assim todos os dias, me transmitindo aquela paz que estava sentindo naquele momento. Era um sonho, um sonho que eu não estava em condições de sonhar, me movimentei para afastá-lo da minha mente, mas o braço do Fabien me reteve.
- Não vá, fiquei aqui comigo. Passe o restante da noite comigo! – ronronou ele, feito um felino carente. Eu fiquei.
Acordei assustado, sem saber onde estava e achando que tinha perdido a hora de começar na padaria, mas aí senti cheiro de café recém-coado e me lembrei que era domingo, um dos meus domingos de folga. Não demorou o Fabien entrou no quarto com uma badeja montada, vê-lo caminhar na minha direção com o pinto balançando colocou um sorriso meigo e preguiçoso no meu rosto. Assim que ele apoiou a bandeja sobre o colchão eu o abracei e beijei.
- Acho que vou fazer um contrato vitalício com você, assim assegurarei esse sorriso e esse carinho para todos os dias. – disse ele, retribuindo meu beijo e passando a mão na minha bunda. Acho que ele também tinha sonhos, podiam não ser os mesmos que os meus, mas carregavam a mesma essência, os mesmos desejos.
Foi o Fabien quem sugeriu que eu postasse um anúncio nas redes sociais oferecendo meus serviços de acompanhante, assim facilitaria o acesso dos clientes sem que eles precisassem circular pelo Bois de Vincennes, uma vez que qualquer cidadão parisiense sabia o que um homem procurava quando se dirigia à noite ao bosque de Vincennes ou ao Bois de Bologne; eram lugares seculares de prostituição da capital francesa. Fiquei de pensar sobre o assunto quando lhe passei o número do meu celular, pois a sugestão dele não vinha totalmente sem propósito, era em homens retraídos e discretos como ele que pensou ao fazê-la.
Dias depois, dei vazão à ideia, antes consultei alguns sites para não dar nenhum fora e cair de gaiato como tinha feito com o valor dos serviços. Aproveitei uma noite em que estava em casa sozinho para tirar algumas selfies, focando a câmera para pontos de interesse dos potenciais clientes. Não ficaram tão boas como eu precisava, mas dadas as condições, tinha que me contentar com elas. As mensagens começaram a entrar já no dia seguinte, o que comprovou a eficácia do método. Uma delas inclusive, foi enviada pelo Fabien – Será que é o Théo a quem servi um café da manhã na cama, depois de ele ter me proporcionado uma das melhores noites da minha vida? – dizia a mensagem, acompanhada de dois pontos, traço e fecha parênteses, evocando um sorriso. Respondi a mensagem durante meu horário de almoço – Confirmo se o remetente dessa mensagem for o homem que fez meu corpo todo estremecer em seus braços – a contra-resposta veio quase que instantaneamente – Fico feliz que tenha aceitado minha sugestão. Tenho uma única ressalva, as imagens não fazem jus à formosura do seu corpo – novo dois pontos, traço, parênteses. Ele passou a me ligar diariamente, às vezes íamos apenas tomar uma taça de vinho ou uma cerveja, noutras ele me fodia até esvaziar seus testículos.
Com o anúncio nas redes sociais, passei a ir menos ao Bois de Vincennes, o que foi percebido de imediato pelo parrudão. Num sábado depois de ter sido deixado na alameda pelo terceiro cliente, ele atravessou a calçada e veio ter comigo. Era a primeira vez que nos falávamos depois daquele programa duplo e da nossa discussão.
- Você anda sumido, o que aconteceu? – eu me preparava para dar uma resposta enviesada quando ele emendou – Senti sua falta! – que cretino fala uma coisa dessas jogando charme para cima de mim, depois de me humilhar, se aproveitar da minha inexperiência, me chamar de moleque e mandar que o deixasse em paz? Eu só podia ser um babaca mesmo, bastou aquele olhar circunspecto, aquela voz de macho e, aquilo que ele devia considerar um sorriso de reconciliação, para eu me abalar todo.
- Não aconteceu nada! Que interesse você tem nisso? – respondi questionando
- Ainda está bravo comigo? – não respondi, e ele não foi embora. Uma motocicleta se aproximou, o cara tirou o capacete e nos encarou.
- É ele quem negocia por você, ou podemos levar um papo só nós dois? – perguntou o motociclista trajando calça e jaqueta de couro, ao se dirigir a mim.
- Claro que podemos! No que está pensando? – respondi, dando uns passos para mais perto dele e deixando o parrudão para trás.
- Estou louco para te enrabar! Não sei se notou, mas já passei algumas vezes por aqui, você nem me deu bola. – afirmou ele.
- Desculpe, não notei! Devia estar focado noutra coisa, por que seria impossível não te notar. – retruquei.
- Legal! Sobe aí então. Vamos para um lugar mais reservado. – ele recolocou o capacete, me deu o reserva quando montei na garupa e passei os braços ao redor da cintura dele, palpando acintosamente a rola dele, bem diante do olhar do parrudão. Ele acelerou e adentramos ao bosque.
- Quem é o leão-de-chácara que estava te acuando? Precisa de alguma ajuda para se livrar dele? – perguntou o motociclista durante o trajeto.
- Não, não preciso, obrigado! Ele também é michê, só estava batendo um papo comigo. – respondi.
- O sujeito parece um cão de guarda! Acho que tem ciúmes de você!
- Quem? Ele? Você só pode estar brincando! Nem sei qual é o nome dele! Nossa relação está mais para ódio do que para outra coisa! – afirmei
- Amor e ódio são o reverso da mesma moeda! – foi a última coisa que disse antes de me colocar para mamar sua jeba cabeçuda, na qual afastei qualquer pensamento relacionado ao parrudão.
Depois de me deixar nu, ele me debruçou sobre a motocicleta com as pernas abertas, veio por trás e enfiou a rola no meu cu, eu gani e me agarrei no guidão até ele terminar de se satisfazer. Ajudei-o a tirar a camisinha cheia de porra, beijei a pica dele ainda dura e me pendurei no pescoço dele; enquanto ele me comprimia contra o tórax, beijava minha boca e enfiava um dedo no meu cuzinho. Quando voltamos ao ponto e nos despedimos, não vi mais o parrudão.
Na semana seguinte, assim que cheguei ao ponto o parrudão veio ter novamente comigo. Disse que o troncudinho sexagenário do apartamento no L’Elysee tinha ligado para ele e queria repetir o programa com nós dois juntos. Que só estava esperando a ligação de retorno dele, marcando o horário em que estaríamos lá.
- Não, obrigado! Não estou afim! – respondi de pronto.
- Por que não, ele paga bem, o lugar é elegante e confortável, cheio de mordomias. Qual é o seu problema?
- Não estou interessado, só isso!
- Não está interessado numa grana boa e fácil? Conta outra! – retrucou ele, embravecido. – É comigo a coisa, não é? Você continua puto comigo, é isso! – acrescentou inquieto.
- Com você? Não tenho nada com você! Se a grana é boa, vai lá você! E, divirtam-se! – revidei. – Agora se você me fizer o favor, desembaça o meu pedaço, tem clientes passando e olhando, mas estão pensando duas vezes antes de me abordar. – afirmei, notando que procuravam por mim, mas continuavam adiante.
- Eu quero que esses viados filhos da puta se fodam! À merda com esses “clientes”! Eu estou te propondo um programa garantido e bem pago e você fica dando bola para essas bichas enrustidas. – despejou ele furioso.
- E o teu cliente é o quê, um macho que engole espadas? – retruquei.
- Vá se foder! – berrou ele, caminhando de um lado para outro na minha frente e socando o chão a cada passo.
- É para isso que eu estou aqui! Só que fica difícil com você me empatando. – respondi. Ele ficou em silêncio, não voltou ao ponto dele, ficou ali parado, meditando, se remoendo por dentro, talvez querendo me dar um soco na cara, como indicavam seus punhos cerrados.
- Não quero brigar, sério! Não quero brigar com você, juro! – foi o que disse ao quebrar o silêncio que já durava alguns bons minutos. – Vem comigo, o cliente gostou de você, deixou isso bem claro na ligação. Ele quer você. – interrompeu-se uns instantes. – A gente vai lá, faz o que precisa ser feito e tudo está resolvido, ok?
- Se ele gostou mesmo de mim, qualquer hora ele aparece por aqui e eu faço um programa exclusivo só para ele. – respondi.
- Cara! Você me irrita, sabia! Tudo isso só porque não dividi a grana igualitariamente com você e te deixei pagar o táxi de volta sozinho, é isso! Pronto, fica tudo para você dessa vez, tudo bem? – sugeriu ele.
- Não quero a sua grana, não quero nada seu. Vou usar a mesma expressão que você usou comigo naquele dia - agora me deixe em paz, que ainda tem muita noite para eu continuar – ele não revidou nem se afastou.
- Me desculpe! Foi grosseiro da minha parte, não foi? Nem precisa responder, eu já sei a resposta. Pode me desculpar? – de repente eu tinha outra pessoa diante de mim, não aquele truculento insensível. – Tudo bem você não vir fazer o programa comigo, mas pode ao menos me acompanhar numa cerveja? Estou hasteando a bandeira da paz. – convidou ele.
- Talvez outro dia! Acho que já vou para casa. Até mais! – eu estava me despedindo quando o trocudinho da BMW encostou junto de nós.
- Tente você convencê-lo! A mim ele não atende! – disse o parrudão quando o Benoît baixou o vidro do carro.
- Estão brigados? Gostei muito de você, não dê importância ao que esse troglodita diz, a gente deixa ele assistindo e sentindo inveja de nós dois juntos. Vem! – insistiu o homem. Nisso me passou pela cabeça que eles já se conheciam, que aquele encontro duplo não tinha sido o primeiro deles, talvez tivessem um trato, talvez o parrudão fosse seu michê fixo. Havia algo estranho na ligação entre os dois, mas eu não estava a fim de descobrir, precisava da grana, nada mais, e acabei topando.
O Benoît era muito mais atencioso e carinhoso comigo do que com o parrudão. Era notório que ele gostava da masculinidade do parrudão, da maneira selvagem como ele o fodia, mas ele também gostava de ser tocado com gentileza, gostava de ser beijado, o que era um item fora de questão com ele, gostava de como eu me deixava enroscar em seus abraços, gostava de chupar meu pinto pequeno e bem formado – um pinto de Davi, só que deliciosamente quente – como o classificou, referindo-se ao Davi de Michelangelo. Ele era um daqueles gays versáteis, que se definem assim achando que dessa forma não deixam de ser verdadeiramente homens, mas que à simples visão de uma rola de macho, arregaçam a bunda e oferecem o cu feito uma cadela no cio. Comigo ele se sentia macho, por estar fascinado pelo meu físico angelical, e sabia que seu pinto pequeno conseguia me satisfazer, o que não acontecia com as mulheres ou aqueles gays mais exigentes. Com o parrudão ele era uma bicha assumida, que engolia pelo rabo aquela jeba colossal pela qual o cu laceado já não padecia mais.
Logo que chegamos ao apartamento o cliente me despiu, queria que eu desfilasse nu diante dos olhos ávidos dele, dizia que era como ter uma obra-prima dos mestres renascentistas em carne e osso. Ele se despiu em seguida, me perseguia como se meu rabo estivesse exalando os feromônios do cio, me abraçava por trás e me chupava o pescoço, esfregando seu pinto curto nas minhas nádegas. O parrudão nos assistia do sofá, tinha tirado apenas a camiseta, pois o cliente também quis acariciar o tronco másculo dele, tinha se servido de um Bourbon e curtia extasiado aquela caça excitante à corça inexperiente, que hora empinava a bundinha e hora a resguardava num jogo de sedução. O Benoît me levou ao quarto, estava tão tarado que me apertava com força contra si, contra o sexo duro. Eu gemia cada vez que ele enfiava um dedo no meu cuzinho. Ele me deitou e veio chupar meus mamilos, enquanto manipulava minha pica e meu saco. Comecei a endurecer, minha pele parecia queimar onde ele me tocava, todos os meus sentidos estavam em alerta, meu coração disparou. Ele começou a me chupar, me fazendo gemer e me contorcer, nesse momento vi o parrudão sobre os ombros dele entrando no quarto só de cueca. Me virei de bruços e o homem se lançou sobre mim, estava tão afobado que demorou a encontrar a entrada do meu cuzinho. A ereção dele durava pouco, por isso era preciso meter logo a caceta no meu cu e bombá-lo enquanto a ereção se mantinha. Mesmo naquele transe de excitação ele foi gentil na hora de enfiar a rola no meu cuzinho, e parou ao me ouvir ganir, perguntando se estava tudo bem. Quando gemi que sim, ele socou a verga para dentro, o mais fundo que conseguia, o que me pareceu não ser suficiente para suas necessidades. O parrudão olhava para nós dois em deleite, desfrutando de cada gemido meu como se fosse ele a provocá-los. O velho urrou e gozou sem parar de bombar, ele queria seguir até onde lhe permitisse a rigidez do membro, que se encolheu tão logo espirrou as últimas gotas de porra na camisinha. Antes de ele sacar o pau eu travei o cu; o pau saiu, mas parte da camisinha que estava folgada ao redor do cacete ficou entalada nas minhas pregas. Ele a tirou e passou um lenço umedecido no meu rego, descartou-os no banheiro e lavou o pinto na pia, antes de voltar para o quarto. Ele foi direto para o torso do parrudão, deslizou as mãos sobre ele, o beijou em diversos pontos, lambeu um dos mamilos e se deixou apalpar nas coxas e nas nádegas. Trouxe o parrudão consigo quando voltou a se aproximar da cama onde eu continuava deitado com a bunda para cima. Fez com que eu me aproximasse deles e, pegando da verga pesada do parrudão que tirou de dentro da cueca à meia-bomba, ele a pincelou no meu rosto, ao redor da minha boca, instigando-me a abocanhá-la.
- Chupa! – disse ele, quando segurei a rola na minha mão e fechei os lábios ao redor dela.
Dei uma boa mamada na chapeleta do parrudão, pois não dava conta de enfiar mais do que isso na boca. O cliente se divertiu com a dificuldade que eu tinha para abocanhar aquela jeba taurina, trocou olhares com o parrudão e pegando sua pica flácida, mandou que eu também a chupasse. Fiquei revezando as picas na boca, ora uma, ora outra ganhava minhas sugadas carinhosas, enquanto eles ficavam trocando carícias entre si, o parrudão começando a enfiar a mão no rego do cliente. Pela rola do sexagenário não havia muito o que fazer, o que ela podia gozar já tinha gozado por todo aquele dia. Porém, pela caceta do parrudão ainda havia muito que me esforçar, por isso, passei a dedicar mais tempo a ela do que a do cliente, o resultado não demorou a aparecer. Eram gemidos ganhando sonoridade, era a respiração dele arfando e estufando aquele peito largo e enorme, era ele agarrando a minha cabeça para que eu não afastasse minha boca gulosa da pica dele. Eu lambia, chupava, sorvia o pré-gozo abundante que a pica soltava impregnando o ar à minha volta com seu cheiro másculo e afrodisíaco. Era ele quem ditava o vaivém da minha cabeça, enfiando-a nos pentelhos dele e socando a pica na minha garganta, enquanto eu me debatia, socando as coxas peludas depois de não conseguir afastá-las ao tentar empurrá-las com as minhas mãos contra a solidez delas. Eu estava sufocando, meu rosto estava vermelho e pegando fogo quando ele bramiu feito um touro, despejando seus jatos de esperma da minha boca. Lagrimejando, eu os engolia um a um, sob o olhar exultante dele. Ambos se deixaram cair ao meu lado, me bolinaram, enquanto eu acariciava seus torsos e cobria o cliente de beijos por todo o rosto e pescoço.
Pouco depois, o parrudão estava engatado no cu do Benoît agachado de quatro sobre a cama, socando o cacetão até o talo, o que fazia o homem gemer. O coito mais se parecia com uma cópula animal, o parrudão desembestado socava forte, o sacão dele batia nas nádegas do cliente e produzia um som cadenciado, tudo com a impessoalidade de dois animais que se encontram casualmente na natureza, farejam seus cios e copulam para aliviar os sintomas que a testosterona correndo em suas veias provoca. O parrudão encheu tanto a camisinha que ela quase transbordou quando ele sacou o caralho do rabo lanhado. Fomos os três para o box amplo com duas duchas saindo do teto. Fiquei no meio dos dois, sendo bolinado e beijado pelo cliente. Ele colocou novamente o pagamento na mão do parrudão e nos despedimos, não sem antes ele exigir que eu lhe desse meu número de celular.
Fazia frio quando chegamos à rua, eu tirei um moletom da mochila e o vesti. Ia me despedir do parrudão quando ele me pegou pelo braço e me puxou.
- Vem comigo!
- Para onde? Está tarde, vou para casa. – respondi.
- Vem comigo! – determinou ele. Sem soltar meu braço, ele me fez correr até a estação do metrô três quadras adiante, entramos na composição esbaforidos e trocamos uns sorrisos bobos que eu não sabia o que significavam.
Fizemos uma baldeação e percorremos mais cinco estações até nosso destino final, uma rua estreita e escura cujas calçadas era ladeadas por edifícios antigos que haviam sido abandonados e deixados ao esquecimento, antes de voltarem a receber novos moradores; um pessoal basicamente formado de jovens, grupos ecléticos, artistas que ainda não chegaram a vivenciar a fama, a maioria nunca a alcançaria, e uma população de desocupados que, ou vivia às expensas da família, ou se encostava num relacionamento com alguém ligeiramente mais abastado. Entramos num deles sem que ele precisasse tocar a campainha, subimos os quatro lances de escadas e chegamos ao último andar, a porta estava aberta e, lá de dentro, vinha o som de uma música ruidosa. Havia mais de dez pessoas no labirinto de cômodos da habitação que se estendia por dois andares, o último deles uma espécie de sótão que saia para um terraço na altura dos telhados dos edifícios vizinhos, era lá que estava a maioria do pessoal, conversando, bebendo e alguns já chapados ou de maconha, ou de cocaína.
- O parrudão os cumprimentou com um ‘oi’ geral, não dirigido especificamente a ninguém. No meu ouvido sussurrou que eu me mantivesse longe dos três carinhas chapados que me encararam com olhares vesgos e um esgar nas bocas.
Me levou até a cozinha, tirou duas cervejas da geladeira e me estendeu uma – fique à vontade, curta a noite, a casa é sua – foi tudo o que me disse, antes de abrir os braços para uma garota que veio espalhafatosamente ao encontro dele pendurando-se em seu pescoço e beijando-o libertinamente. Era uma mulher feia, passara há muito dos trinta anos, tinha sobrancelhas largas, um nariz adunco, lábios finos que se ocupavam em tragar o cigarro que tinha entre os dedos, os cabelos eram longos e pretos, careciam de cuidados. O parrudão a beijou sem muito entusiasmo, passou a mão nos seios e deu uma agarrada na coxa dela, o que a fez sorrir feito uma vagabunda. Ela o arrastou para um cômodo mais afastado no andar debaixo. Eu a odiei, sem a conhecer, sem ao menos saber por quê.
Nunca havia me sentido tão deslocado num lugar. O ar pesado e rescindindo a nicotina e maconha embrulhou meu estômago. Fui ao terraço à procura do ar gélido da noite. No canto oposto aos dos três carinhas consumindo drogas, havia um grupo maior, três carinhas e duas garotas dividindo algumas garrafas de vinho que ocupavam espaço sobre um caixote com candeeiros nos quais tremulavam as luzes de algumas velas.
- Junte-se a nós! Quer uma taça? Como se chama? – perguntou um dos carinhas que abriu espaço para mim ao lado de onde estava sentado.
- Não obrigado! Ahmad! E você? – respondi.
- Michel! Esta é Françoise, Léon, Frank e Annette. – devolveu ele, enquanto todos me lançavam um sorriso formal.
- De onde você é? – perguntou o Léon
- Síria, Aleppo! – respondi
- Faz tempo que sua família se mudou para Paris? Ouvi dizer que a situação da guerra civil por lá está cada vez pior, foi isso que motivou a mudança? – tornou a perguntar ele.
- Estou há quase dois anos na França. Vim sozinho. Perdi minha família com a guerra. – respondi, me dando conta de que nunca tinha expressado isso publicamente, sem ser para algum funcionário dos serviços sociais de algum governo. Houve um breve silêncio constrangedor entre o grupo.
- Sinto muito! Deve estar sendo duro para você, sem familiares, país novo, costumes diferentes, idioma diferente. – foi enumerando ele.
- Um pouco! Estou frequentando aulas de francês, embora como podem constatar, o sotaque ainda é bem evidente.
- É charmoso! – exclamou o Frank que, até então, estava me examinando da cabeça aos pés, acompanhando meus movimentos sem disfarçar o olhar penetrante com o qual o fazia. Todos concordaram com ele, talvez por educação, ou pena, não deu para saber.
Como eu estava sentado entre o Michel e o Léon, ficava fácil para ele continuar me encarando do lado oposto da rodinha que formávamos. Depois de mais algumas perguntas, deixei de ser o centro das atenções e rolou um papo até que gostoso, o que foi me devolvendo alguma segurança, aos poucos. O parrudão havia sumido, fazia mais de uma hora que eu não via nem ele nem a garota. Com a desculpa de ir ao banheiro, deixei o grupo e fui procurá-lo. Desci as escadas e caminhei sem fazer barulho pelo labirinto de cômodos, até ouvir os gemidos de uma mulher através da fresta aberta de uma porta. Me posicionei de modo a conseguir ver o que acontecia lá dentro, sem que pudessem me ver. A trintona estava nua, à exceção da calcinha que o parrudão puxava com uma das mãos de modo a ter acesso à vagina dela. Ela estava de quatro sobre a cama, ele em pé, montado nela feito um garanhão cobrindo uma égua. Ela gemia a cada estocada violenta que ele dava na buceta, fazendo com que as tetas flácidas balançassem soltas. O padrão da foda era o mesmo de sempre, que ele adotava com os clientes, ele bombando ativa e mecanicamente, montado sobre a passividade de sua parceira, a mesma posição da qual se valiam os animais para se reproduzirem, alheios aos inúmeros e imensos sentimentos de prazer que um coito com envolvimento pode proporcionar. Ele gozou pouco depois de eu ter me posicionado, tirou o cacetão de vagina dela, tirou a camisinha com seu néctar, fechou-a com um nó e jogou no chão. Ela engatinhou até a cabeceira da cama, acendeu um cigarro, deu uma traga longa e lançou a fumaça no ar. Ele deitou a cabeça entre os seios dela e ficou massageando o sacão, como se ele o estivesse incomodando. A expressão do rosto dele era a mesma de um jogador de pôquer, de blasé. Não se podia adivinhar o que ele estava sentindo naquele momento, prazer pelo desempenho sexual, indiferença pelo que ela podia estar sentindo, insensibilidade por qualquer comoção; eles estavam simplesmente ali deitados cada um com seus próprios sentimentos, usufruindo-os solitariamente. Afastei-me dali quase correndo, encostei-me numa parede alguns metros adiante e contive o enjoo que se apoderou do meu estômago. Peguei minha mochila e corri para a rua, entrei na estação do metrô e fui para casa. Os vagões estavam praticamente vazios, era madrugada. Sentei-me de fronte a uma mulher agarrada à sua bolsa. Ela me encarava quando viu as duas lágrimas que gotejaram dos meus olhos caírem sobre o moletom, mas não disse nada. Qual foi a desse cretino me deixando sozinho no meio de estranhos, esfregando na minha cara o quão heterossexual ele é, depois de não ter escondido o prazer que sentiu enquanto eu trabalhava carinhosamente o caralhão dele e engolia sua virilidade com desvelo? E, só então, constatei que ele havia ficado novamente com toda a grana do programa com o Benoît, filho da puta, pronunciei calado.
Nos reencontramos alguns dias depois no Le Dépôt, um clube gay no qual eu havia combinado com um cliente que ligou para nos encontrarmos. Ele estava acompanhado do Frank, do Léon e da Françoise e me viu chegar assim que entrei no lugar. Ficou esperando alguns minutos para se aproximar, olhando ao redor para ver se eu tinha vindo acompanhado.
- Oi! Por que sumiu aquela noite sem me avisar? – perguntou ele, reacendendo a raiva em mim pela hipocrisia da pergunta.
- Você estava ocupado, não quis te atrapalhar! – respondi, para confirmar que a intenção dele de me mostrar que era heterossexual tinha funcionado.
- Não sabia que você conhecia esse clube! – exclamou ele
- Não conhecia! Combinei de encontrar com um cliente, mas, ao que parece, ele me deu o bolo. Vou para casa, até mais! – retruquei.
- É cedo, fique mais um pouco. O lugar é legal, quer que eu te mostre?
- Não obrigado! Estou cansado e com dor de cabeça, vou mesmo para casa.
- Venha ao menos cumprimentar a galera, o Frank tem me perguntado de você.
- Ele é interessante, dê um “olá” por mim para ele. – devolvi, tomando a direção da saída.
- Ainda temos que fazer o acerto de contas, estou com a sua parte do programa daquele dia. – ouvi-o dizer às minhas costas, mas continuei andando sem responder.
Na entrada dei de cara com o Gilles, o carinha que tinha vindo me ameaçar no Bois de Vincennes por conta do valor que estava cobrando pelos serviços. Ele estava acompanhado de quatro caras, dois me eram conhecidos daquele mesmo dia, os outros só ficaram me estudando.
- Oi gostosão! Sozinho? – questionou ele.
- Oi! Já estou de saída! – respondi
- Espera, espera! Onde vai com tanta pressa? Ainda nem nos conhecemos direito. Vem comigo, eu te pago uma bebida e você me fala de você, me conta do que gosta. – retrucou ele, me puxando novamente para perto do balcão.
- Tenho um cliente me esperando, fica para uma próxima!
- Deixe o cliente para lá, depois você dá uma desculpa qualquer. Essa noite seu cliente sou eu! Até pago se for o caso! – afirmou ele, me abraçando e começando a me beijar libertino e predador.
- Você é sempre assim, tão agressivo nas abordagens?
- Me acha agressivo? Sou determinado, pego aquilo desejo sem fazer muita frescura. E você não tem saído dos meus pensamentos desde que o vi pela primeira vez. Você é um tesão! Estou louco de vontade de cuidar de você. – sentenciou ele, prensando-me contra o balcão enquanto suas mãos percorriam meu corpo.
- Não preciso e nem quero que cuidem de mim, sei fazer isso por mim mesmo. – respondi com firmeza.
- Gosto dessa sua coragem, me excita! Então mudemos o foco, fazemos assim, você cuida de mim, o que acha? Estou cheiro de carências e sei que você é capaz de mitigar todas elas. – afirmou
- No momento estou impedido de atender suas carências! – exclamei
- Por que? Tem a ver com aquele sujeito ali? Vocês brigaram, para você fugir sem a companhia dele? – questionou ele, quando notou que o parrudão não tirava os olhos de nós.
- Não tem nada a ver com ele! Nos encontramos aqui por coincidência, como eu disse, vim me encontrar com um cliente que me deixou na mão. – respondi.
- Mais um motivo para você ficar comigo essa noite, assim você não desperdiça a chance de conhecer meus talentos, tenho muitos, sabia? – dado a conquistador barato e grosseiro ele era, sem dúvida, mas estava longe de me impressionar com isso, ou com quais fossem os tais talentos que alardeava, eu não o queria como homem nem que ele fosse o último deles sobre a face da terra. No entanto, percebi que o parrudão estava ficando incomodado com aquele assédio. Seria essa uma boa oportunidade de ir à desforra?
- E esse seria um dos seus talentos a ser explorado? – perguntei, enfiando minha mão dentro da calça dele e a fechando ao redor da rola.
- Com certeza! Você não é capaz de imaginar do que ele é capaz de fazer com um carinha tesudo como você. – apregoou ele.
- Algum problema, Théo? – o parrudão encostou do meu lado e olhou desafiadoramente para o Gilles, cujo membro que estava começando a se empolgar com a minha mão, voltou à frouxidão original, sem deixar de notar onde a minha mão estava.
- Qual é cara! Vai querer se meter a besta? Dá uma olhada à sua volta, somos cinco! – proclamou o Gilles
- Cinco, dez ou cem merdas como você não vão fazer a diferença! Tire as mãos de cima dele! – ameaçou o parrudão.
- Quem você pensa que é, seu desgraçado? Como você mesmo pode notar, não estou forçando ele a nada. – revidou o Gilles, que procurava pela conivência dos colegas, caso as coisas começassem a esquentar.
- Vou repetir pela última vez, tire as mãos dele! – repetiu o parrudão
- Não sou eu quem está com as .... – antes que o Gilles pudesse concluir a frase o punho cerrado do parrudão o acertou e o fez debruçar sobre o balcão, derrubando alguns copos de clientes que estavam próximos. Abriu-se uma clareira ao redor de nós, o que me fez tirar rapidamente a mão de dentro da calça do Gilles, pois havia centenas de olhares nos mirando.
- Vou te matar, filho da puta! – berrou o Gilles, enquanto tentava se levantar, mas outro soco o atingiu antes que pudesse revidar. Tinha ficado sem apoio, os dois colegas que intentaram tomar suas dores, recuaram assim que o parrudão desferiu um soco no estômago de um deles e um chute no peito do outro.
Os seguranças do clube vieram para cima de nós, o som de sirenes chegando a porta do clube ficava cada vez mais alto. O parrudão me pegou pelo braço e me arrastou para rua no momento exato em que os policiais invadiam a casa. Corremos pela calçada por alguns quarteirões, a chuva fina que caía sobre nossas cabeças ganhava força. Na esquina da Rue Beaubourg passava um táxi que parou assim que o parrudão fez sinal. Ele me empurrou para dentro dele, estávamos encharcados, dos meus cabelos caíam gotas grossas.
- Que porra foi aquela? Anda, me explica o que é que você estava procurando na braguilha daquele filho da puta? – questionou impositivo. O motorista do táxi olhou pelo retrovisor, ainda não sabia para onde seguir. – Rue de Meaux, 39 – ordenou exasperado ao motorista, sem parar de me sacudir.
- Nada! Dá para falar mais baixo, não preciso que toda Paris ouça nossa conversa. – respondi.
- Eu te fiz uma pergunta e quero a uma resposta! O restante que se foda! – continuou ele, no mesmo tom de voz alterado.
- Eu já respondi. Nada!
- Não me faça de idiota! Você estava com o caralho dele na mão, não tente negar! – o motorista continuava ligado na nossa conversa e acabou passando um semáforo fechado.
- Não estou negando nada! Quero descer, eu vou para casa sozinho. – retruquei
- Você vai ficar exatamente onde está, nossa conversa ainda não terminou! Eu já não te disse que era para você ficar longe daquele miserável? Aquilo não presta! Você vai se foder nas mãos dele, será que é tão burro que não consegue enxergar isso? – vociferava ele
- Eu não estou nas mãos de ninguém! E estou dispensando qualquer conselho que venha de você. – afirmei.
- Eu estou te prevenindo, você vai se foder! Depois não venha correndo para o meu lado pedindo ajuda. – disse ele.
- E quando foi que eu pedi a sua ajuda para o que quer que seja? Eu nunca pedi a sua ajuda! Nunca! – devolvi furioso. – Eu quero descer, mande o motorista parar! – o taxista voltou a me encarar pelo retrovisor e ficou em dúvida se devia ou não parar, reduzindo a velocidade e mudando de faixa para se aproximar da calçada.
- Siga em frente! Ninguém vai descer, e se for possível acelerar faça-o! – determinou o parrudão ao taxista que não hesitou em cumprir sua ordem.
Diante do número 39 da Rue de Meaux, ele me arrancou do táxi e pagou a corrida. O motorista me perguntou se estava tudo bem, desconfiando das atitudes do parrudão, que bateu a porta com força e respondeu por mim.
- Está tudo bem! Merde!
Subimos até o terceiro andar, ele destrancou a porta e me empurrou para dentro. Era um apartamento pequeno, mas relativamente bem arranjado, não fosse a bagunça de peças de roupa espalhadas sobre a mobília, vasilhas de fast-food vazias sobre os tampos das mesinhas, copos com restos de vinho ao lado, ou latas de cerveja junto aos pés do sofá, que davam um ar de pós-bombardeio ao lugar. Ele me deixou plantado no meio da sala e entrou por uma porta no final de um corredor curto. Voltou com duas toalhas de banho nas mãos e jogou uma na minha direção.
- Dispa-se! Vai acabar pegando uma pneumonia, tremendo de frio feito uma vara verde. – sentenciou, enquanto tirava as próprias roupas encharcadas de cima do corpo, e ia ficando despojado como veio ao mundo.
- Quero ir para casa!
- Você fica!
- Não quero ficar aqui!
- Você não vai a lugar algum! É tarde e você está todo molhado!
- Não é você quem decide isso!
- No momento sou eu sim quem decide isso! Tire a porra dessas roupas, está molhando todo o chão! – exclamou, elevando mais uma vez a voz. O assoalho de carvalho ia ganhando um tom mais escuro ao redor dos meus pés, e eu resolvi atender o pedido dele. Fiquei pelado e cobri meu sexo com as mãos cruzadas à frente dele.
Ele desapareceu levando as nossas roupas atrás de outra porta, instantes depois ouvi o som de uma máquina de lavar roupas trabalhando. Passou apressado pela sala e voltou a sumir atrás da primeira porta em que tinha entrado, eu continuava parado ali feito uma estátua tremendo de frio.
- Vista isso por enquanto! É tudo que tenho! – exclamou, me atirando uma camisa aflanelada dele que era, no mínimo três numerações acima das minhas, quando voltou enfiado apenas numa cueca branca cuja transparência me permitia ver o caralhão dele e a negritude dos pentelhos. Por que esse desgraçado tinha quer tão lindo e ao mesmo tempo o maior cretino que eu já conheci?
- Vai ficar parado aí? – questionou com sua grosseria costumeira.
- O que quer que eu faça? Está dando as ordens, então continue! – revidei.
- Que sente, que caminhe por aí, que me diga o quer tomar, que diga se está com fome, faça qualquer coisa, ora! – despejou ele
- Um chá quente cairia bem, se você tiver. – respondi ao me sentar num canto do sofá.
- Tenho! Vem comigo, vamos prepará-lo juntos na cozinha.
- Você mora aqui? – nenhuma resposta. – É o apartamento de algum amigo? – silêncio total. – De um cliente especial? – tive a impressão que continuaria falar com as paredes.
- Breakfeast ou Assam? – perguntou ele quando abriu a porta de um dos armários da cozinha e tirou duas latas quadradas de Twinings lá de dentro, enquanto a água fervia sobre a chama do fogão.
- Assam! – respondi. – Será que ao menos o seu nome você pode me dizer? Estamos nos vendo há meses e você não é capaz de me dar uma resposta tão simples. – afirmei.
- Vai fazer alguma diferença?
- Vai, vai fazer diferença! Pessoas educadas se apresentam devidamente quando se conhecem, faz parte do convívio em sociedade. – respondi.
- Talvez eu não seja uma pessoa educada!
- Isso nem é preciso comprovar! Mas, não fuja novamente da pergunta, como se chama? – insisti
- Escolha o que mais gosta!
- Ele não caberia a alguém de quem definitivamente não gosto! Seria um paradoxo, não acha? – retruquei. Ele riu.
- Você é cheio dos porquês! Por que isso, por que aquilo, e de perguntas, qual seu nome, o que faz, onde mora, aquele é seu amigo, aquele é um cliente, um saco! – afirmou ele.
- É demais querer saber minimamente com quem se está lidando? De onde eu venho isso é prática comum, não ofende nem arranca pedaço de alguém. Aliás, de onde você é, francês é que não é, a menos que seus pais tenham imigrado para cá e você tenha nascido aqui. – questionei.
- Viu o que eu disse? Perguntas e mais perguntas!
- Grassouilletón crétin! (Parrudão cretino!) – revidei. – Puis que tu ne me diras pas ton nom, je te traiterai de ‘grassouilletón’ à partir de maintenant! (Uma vez que você não me diz seu nome, vou chamá-lo de parrudão de hoje em diante!) – o líquido de cor âmbar intenso, quente e reconfortante desceu pela minha garganta deixando o aroma amadeirado marcante e um sabor de malte defumado se espalhando pela minha boca.
- Grassouiletón? (Parrudão?) É assim que me vê? – perguntou ele. Não respondi. – Grassouilletón! – repetiu ele pronunciando bem as sílabas. Permaneci calado. Ele me encarou à espera de uma resposta que não veio.
Terminei de tomar o chá, o frio que sentia passou, voltei à sala e dei uma espiada pelas janelas que davam para a rua. A chuva continuava a cair, os bueiros engoliam a enxurrada, o reflexo das luzes se multiplicava no chão molhado, ao vê-la voltei a sentir um pouco de frio e apertei os braços ao redor do corpo o que fez aconchegar a flanela da camisa junto à minha pele. Fiquei tentado a cheirar a camisa, mas o Grassouilletón podia aparecer a qualquer instante, e eu ia me embaraçar todo para me explicar. As vidraças escuras pelo lado de fora, serviam como espelhos refletindo todo o ambiente. Voltei a concentrar meus pensamentos na mobília e no que mais havia na sala. Concluí que tudo aquilo não obrigava o dono a se prostituir no Bois de Vincennes para se sustentar, por que então, ele fazia programas sexuais? Era mais uma pergunta, das inúmeras, que ia ficar sem resposta, ou seria simplesmente ignorada. Ele devia me odiar. Mas, por que? Nunca fiz nada para merecer esse tratamento por parte dele.
- Quer mais alguma coisa? Está com fome? – perguntou ele, quase rente às minhas costas, a ponto de eu conseguir sentir o hálito morno dele roçando minha nuca, depois de ficar um tempo nessa posição sem dizer nada. Eu não respondi.
Ele foi até o sofá e se sentou com as pernas bem abertas. A imagem dele estava emoldurada entre as esquadrias da janela, parecendo um quadro, cores e sombras exaltando a virilidade exuberante. No dia em que tivesse minha própria moradia, eu queria ter esse quadro pendurado no meu quarto e poder olhar para ele todas as noites antes de me deitar.
- No que está pensando? – perguntou, ao mesmo tempo em que dava uma ajeitada no cacetão. Não respondi.
A máquina de lavar roupas continuava funcionando e eu me perguntava por quanto tempo eu ainda teria que suportar aquela tortura toda. Estava confinado num lugar aconchegante com um homem que podia realizar todas as minhas fantasias e que estava praticamente nu ao alcance das minhas mãos, usava uma de suas peças de roupa que já estivera em contato com a pele máscula dele, mesmo estando de costas podia sentir o olhar cobiçoso com o qual ele me admirava e que o obrigava a controlar a ereção que insistia em se formar, porém nada acontecia. Parecia haver uma barreira intransponível entre nós, uma barreira dolorosa para ambos.
- Washan El Sayed! Libanês de Sídon! Vinte e nove anos, mês passado! Ex-miliciano do Hezbollah até 2011 quando imigrei para a França onde tinha parentes distantes, o que mais quer saber? – discursava ele atrás de mim. Mais uma vez não me pronunciei, só dei uns passos na direção de uma poltrona e me sentei encolhendo as pernas, que fiquei segurando, sobre o assento. Alguns minutos depois ele bufou forte, começara a ficar irritado.
- Será que falta muito para a máquina terminar de secar as minhas roupas? – perguntei.
- Como é? À merda as roupas! Eu estou te dando todas as respostas que você queria e você me pergunta das malditas roupas! Porra, que merda! – esbravejou ele, dando um murro no estofo do sofá.
- É tudo que me interessa saber agora, Grassouilletón! – retruquei. Ele não conseguiu segurar o riso.
- Por que você tem que ser assim? – perguntou ele.
- Assim como?
- Tão difícil!
- Não sou difícil!
- É!
- Bem, então sou! – mais uma onda de silêncio que parecia se eternizar. A máquina parou de trabalhar no cômodo próximo, meu celular marcava três horas e doze minutos da manhã. – As roupas estão secas!
- Devem estar! – respondeu ele, sem sair do lugar.
- Pode buscá-las para mim?
- Não!
- Então eu mesmo vou! – exclamei, tomando o rumo da onde tinha vindo o som da máquina.
No caminho ele me interceptou, me puxou sobre o sofá e se atirou sobre mim, colando sua boca na minha e arrancando a camisa do meu corpo. Eu comecei a lutar com ele, ele continha todas as minhas investidas, imobilizando meus braços acima da minha cabeça.
- Quieto! – ordenou ele, voltando a me beijar, até sentir que eu havia parado de resistir.
Os beijos foram descendo pelo meu pescoço, pousavam úmidos sobre meus mamilos que eram sugados como se ele estivesse mamando. Minhas entranhas entraram em convulsão, meu cuzinho piscava, meu pinto enrijecia, eu arfava sob o corpão quente e pesado dele.
- Você quebrou sua regra de ouro, nada de beijos. – balbuciei.
- Cala a boca! – respondeu contrariado, tornando a me puxar para junto dele e me devorando com sua boca ávida e obstinada.
Demorei propositalmente a retribuir sua investida, queria que ele chegasse a sentir o gostinho da rejeição, mas não fui forte o suficiente para lhe negar o carinho que estava querendo arrancar de mim. Tão logo ele percebeu que eu o aceitava, começou a me bolinar entre as coxas, a tatear sobre as minhas nádegas, a vasculhar a profundeza quente do meu reguinho. Aquelas mãos potentes devassando minha intimidade estavam me deixando louco de tesão. Eu gemia ‘Grassuilletón’ sem parar, o que o fez perder a cabeça. Ele me carregou em seus braços até o quarto, me lançou sobre a cama, arrancou a cueca de onde escapuliu o caralhão enorme e veio para cima de mim feito um lobo. Estava me forçando a ficar de quadro ou de bruços, eu me recusava a assumir a posição e ele usou a força para me dominar. Quando conseguiu me deitar de bruços, deitou-se sobre mim e, tomado de um frenesi, instalou a pica no meu rego à procura da fendinha na qual queria entrar. Como eu me contorcia continuamente, não conseguiu encontrá-la na ponta da cabeçorra úmida, onde sentia minhas preguinhas querendo devorá-la.
- Não! – como a cabeçorra tinha conseguido se imiscuir apenas entre as pregas anais, ela acabou saindo assim que me arrastei para a frente para sair debaixo dele. Ele ficou indignado.
- Arre caralho! O que pensa que está fazendo? Pare onde está! – rosnou ele. – Eu vou te comer!
- Não vai, não! Não me tratando como se eu fosse uma cadela, sobre o rabo da qual se monta feito um cão assanhado. – afirmei, ele de início não compreendeu.
- De que raios de porra você está falando? Eu vou meter minha rola no teu cu! – asseverou ele.
- Quer meter esse caralhão no meu cu, quer?
- Quero! E, vou!
- Então vem cá! Venha olhando nos meus olhos, venha me encarando e me mostrando o que quer de mim, frente a frente!
- Que bobagem é essa? Foda é foda, para que essa frescura toda?
- Diz para mim do que tem medo! Vamos, estamos só nós dois aqui. Confessa para mim que a regra estúpida do nada de beijos é uma maneira de fugir da intimidade da qual você tem medo de gostar quando está com um gay. Admita que só me levou para a casa daqueles seus amigos para me esfregar na cara que é heterossexual e não gay, quando eu jamais tive dúvidas da sua sexualidade. Diz para mim por que fica no meu pé quando sabe que eu sou gay e você vive repetindo em alto e bom som que não quer nada com um gay a menos que ele esteja pagando por seus serviços de macho ativo. Fala para mim Grassouilletón o que você quer de mim, por que é tão grosseiro, por que me odeia tanto? – questionei, com os olhos marejados, enquanto ele me encarava assustado com a minha reação.
- Porque te acho um tesão, porra! Eu gosto do teu corpo, da tua sensualidade! Dá para entender isso? Você é um viado, uma bicha e eu sou louco por você, caralho! – confessou ele, passando as mãos na cabeça, olhando para o teto como se procurando por algo mais afetuoso a dizer.
De repente, estávamos ali, ambos sem esboçar reação alguma, cabisbaixos, como se a derrocada de nossa curta relação estivesse acontecendo naquele momento. Aguentei o quanto pude até deixar que as lágrimas caíssem sem ingerência alguma, ele olhou para mim e tinha os olhos marejados. Eu me atirei nos braços dele e o beijei intensa e amorosamente, ele retribuiu. Com a ponta da língua de fora, fui descendo pelo tronco maciço dele, deixando um rastro úmido sobre os pelos e a pele, até chegar ao umbigo; circundei-o com lambidas lentas antes de continuar até chegar onde começava o denso matagal de pelos pubianos. Peguei suavemente na pica e a levantei. Ao sentir a suavidade da minha mão em sua rola ele liberou um urro contido. Com o cacetão pulsando e endurecendo na minha mão, e o sacão globoso totalmente desimpedido, eu o lambi, movendo os enormes e pesados colhões contidos nele como se fossem duas bolas de golfe sacudindo de um lado para o outro. Notei o quanto seus músculos abdominais estavam rijos e retesados, por conta de ele estar se esforçando para controlar os espasmos que vinham do fundo de sua pelve. Coloquei um dos testículos na boca, pressionei-o com a língua, ouvindo outro urro escapando da boca dele num arfar longo, e comecei a chupá-lo. Eu tinha o controle total da situação, meu Grassouilletón estava incondicionalmente nas minhas mãos, mais especificamente na minha boca, seria melhor afirmar. Quando soltei o testículo dele, abocanhei a cabeçorra e comecei a sorver o pré-gozo, aumentando gradativamente a intensidade das sugadas até meus lábios estarem mamando aquela jeba cavalar numa voracidade desenfreada. O quarto estava dominado pelos ganidos roucos dele, extasiado de tanto tesão. Chupei sem parar por uns quinze minutos, ele estocava a pica na minha garganta de vez em quando, enquanto eu massageava o sacão pesado dele. Sem um anúncio prévio de que estava chegando ao clímax, ele gozou na minha boca. Ergui meu olhar na direção do rosto dele e fui engolindo uma esporrada atrás da outra.
- Ahmad, seu putinho safado! Onde foi que aprendeu a mamar um macho desse jeito? – questionou ele, expirando todo o ar que havia em seus pulmões num gemido sonoro.
Aos poucos, ainda com o caralhão dele na mão, fui me reclinando e o trazendo sobre mim, abri as pernas e posicionei meus joelhos nos ombros dele. Senti caralhão rondando outra vez a minha rosquinha, ele afagou meu tórax, meu ventre, mordeu a dobra entre as minhas nádegas e coxas, enfiou a cara hirsuta entre as duas bandas e começou a lamber o meu cuzinho. Eu me contorcia e gemia o nome com o qual o batizei, ele já não se importava mais como eu o chamava, ele me queria, me queria como nunca quis outra coisa até então. Ao sair da cama e se colocar de pé ele me puxou pelas ancas, deu uma última olhada para o meu cuzinho rosado todo franqueado ao seu tesão e meteu a caceta imensa e grossa dentro dele. Eu gritei, não fugi, deixei a cabeçorra entrar, sentindo ela me rasgando todo.
- Seja gentil, Grassouilletón! – pedi, espalmando a mão sobre seu ventre. O apelido que dei a ele começava a ter um poder que eu nunca havia imaginado. A simples menção dele saindo dos meus lábios o avassalava de uma maneira intensa, quase como um terremoto que se instalasse em seu corpo e mente, sem que o compreendesse por inteiro, mas que lhe aniquilava as forças e qualquer resistência que intentasse impor.
- Está doendo? – perguntou carinhoso
- Acho que sim! – balbuciei.
- Quer que eu tire?
- Não! Apenas seja gentil! – sussurrei me entregando completamente em seus braços.
Ele estudava as mudanças de expressão na minha face e, conforme o que via, ia controlando a penetração firme e cautelosa. Nunca nada daquele tamanho havia entrado no meu cu, eu tive receio de não aguentar e não conseguir levar o coito adiante, o coito que eu mais havia desejado na vida.
- Estou te machucando, vamos parar! – exclamou ele, ao sentir eu me contorcendo debaixo dele.
- Não me deixe Washan! Não me deixe Grassouilletón! – implorei, cerrando os dentes e erguendo minha pelve contra a virilha dele para que aquele tronco latejante de carne me penetrasse mais fundo.
Ele me abraçava como se tivesse um tesouro a proteger, me mantendo junto de seu torso peludo, enquanto metia devagar o cacetão no meu cuzinho até sentir que ele estava todo atolado dentro dele. Mastiguei a jeba contraindo cadenciadamente os esfíncteres ao redor dela. Ele esboçou um sorriso bobo de prazer e aceitação, sabia que eu o queria bem ali onde pulsava todo excitado. Aos poucos ele foi socando com mais força, mais rápido, estava me fodendo e queria que eu sentisse o que estava fazendo. Eu gania, tudo dentro do meu ventre parecia estar se rasgando, eu não ia sobreviver àquilo por muito tempo, comecei a pronunciar o nome dele, gozei me esporrando todo, ele bombava, estocava, socava todo o caralhão no meu rabinho apertado. Ele já não sabia mais o que fazer, tomado de um prazer insano e viciante ele só queria mais e mais. Sacou a rola do meu cu, eu gritei, ele arrancou a camisinha da pica e a meteu novamente de um só golpe na fendinha aberta que deixava ver a mucosa vermelha e ferida dentro dela, eu gritei outra vez, tinha a certeza de que ia desmaiar. Não desmaiei, só senti aquele macho enorme procurando um lugar para se aninhar dentro de mim. Eu o recebi, beijando sua boca e afagando sua nuca, até ele se despejar todo no meu cuzinho. Os jatos úmidos pareciam não findar, a umidade ia me encharcando por dentro trazendo consigo um formigamento prazeroso e único. Ele deitou sobre o meu peito e, minutos depois ressoava um sono tranquilo. Desejei que o mundo parasse naquele instante, que os batimentos cardíacos dele continuassem a vibrar no meu tórax, que aquele macho nunca saísse dos meus braços e das minhas entranhas.
Desde esse dia, passamos a nos ver com mais frequência. Fazíamos passeios juntos, inclusive para os arredores de Paris por um final de semana inteiro, frequentávamos os clubes gays da cidade juntos, pois ambos continuavam a se prostituir, mas também tínhamos nossos momentos solo, ele e eu passando noites juntos, dormindo na mesma cama como um casal. Não que tudo fossem flores, houveram tensões, houve ciúmes, houve discussões acaloradas que, ao final, acabavam levando à harmonia e à paz, além de muito amor e sexo.
Isso foi possível por que eu tinha conseguido um novo emprego numa empresa de logística e deixado a padaria de Monsieur Ermisse, ganhando mais horas de folga para meus estudos e para compartilhar com o meu Grassouilletón. No dia que escolhi para dar a notícia ao Monsieur Ermisse, cheguei no horário de costume, conversei privadamente com o Damien e o agradeci por tudo que tinha ensinado e por todo carinho que sempre teve comigo. Ele lamentou minha saída, mas concordou que eu precisava galgar outros degraus numa profissão mais rentável. Depois, cerca de uma antes do final do expediente, dei a notícia ao Adrien e ao Louis. O primeiro a tomou sem grandes demonstrações, apenas me desejou sorte e me deu um abraço. O Louis, me levou a um canto onde não podíamos ser vistos ou ouvidos e me confessou que também já estava praticamente de malas prontas para sair dali. Ele e a namorada, fazia alguns meses, estavam produzindo seus próprios pães e doces numa cozinha improvisada da casa dela e, estavam com planos de se mudar para Lyon e abrir o próprio negócio com a grana que já tinham juntado.
- Qualquer dia desses você precisa me apresentar a essa santa! – afirmei. – Ela conseguiu regenerar um malandro safado de primeira, fazendo dele um sujeito compenetrado e empreendedor, quem diria? – acrescentei. Ele riu, me abraçou com força e beijou minha boca.
- Faço questão que a conheça, ela vai se apaixonar por você, mas vou correr o risco! Uma vez que estamos num momento de confissões, quero que saiba que me questionei muitas vezes se dava ou não em cima de você. Sempre te achei um tesão, cheguei mesmo a pensar que era gay e não sabia, mas o que gostava mesmo em você era essa sua doçura, essa sua capacidade de chegar na alma das pessoas e dizer exatamente o que elas precisam ouvir quando estão para baixo. Bati muita punheta debaixo do chuveiro pensando nessa sua bundinha acolhendo minha rola! – confessou ele.
- Você continua não prestando! Deixa sua namorada ouvir uma besteira dessas, para ver o que te acontece! – devolvi
- Eu já contei isso para ela! Seu conselho chegou tarde!
- Louis, como você pode? Safado! – revidei, antes de receber um novo beijo dele. – Vou sentir saudades de você! – asseverei.
Monsieur Ermisse me disse poucas e boas quando pedi a demissão. Ficou furioso por eu o ter deixado na mão, com afirmou. Disse que não se podia esperar outra coisa dessa corja de imigrantes que não se comprometia com nada, que éramos todos uns ingratos por termos sido acolhidos num país civilizado e aprendido alguma profissão para depois virar as costas a quem lhes estendeu generosamente a mão, numa visão deturpada que muitos cidadãos franceses comungavam. Tive que me segurar para não jogar na cara do velho toda a iniquidade com a qual ele me tratou durante todo tempo que trabalhei para ele, mas a cabeça dele já estava formada, suas opiniões consolidadas e não valia à pena gastar uma única frase para mudar isso. Além disso, eu tinha outra certeza, a de que o próximo infeliz que caísse em suas mãos não seria tão submisso e nem tão dedicado quanto eu fui, e isso me bastou como vingança. Isso acabou se confirmando, segundo me revelou o Damien meses depois, quando nos encontrávamos de vez quando para tomar uma xícara de café.
Logo que mudei de emprego, o Nizar, que também tinha conseguido se reempregar, me propôs que dividíssemos o aluguel de um pequeno apartamento que haviam lhe indicado estar disponível por um preço acessível. Pareceu-me mais um sonho se tornando realidade e eu topei depois de fazermos uma visita ao local. O que eu não esperava era a reação do Grassouilletón, ele virou um bicho, ficou possesso, rosnava feito um leão feroz.
- Zut, zut, zut! (interjeição que exprime contrariedade, raiva) Une millier de fois, Zut! (Mil vezes, zut!) Nizar? O Nizar do abrigo? Aquele Nizar cheio de músculos por todo lado, bem ao estilo do que você gosta? Você e o Nizar juntos, num apartamento, dividindo meia dúzia de metros quadrados, se esbarrando toda hora? Só tenho uma palavra para dizer, não! – bufava ele quando fiz o comunicado. – Um gayzinho de fala mansa, mesmo que com alguns trejeitos eu até concordo, você não corre perigo algum. Mas aquele sujeito barbado com cara de fodedor, nem pensar! Está me ouvindo, nem pensar! Eu não vou permitir, não vou! – rosnou ele.
Gastei horas tentando fazer o cabeça-dura ao menos ouvir meus argumentos, mais um tanto para dobrar sua genialidade, e outro tanto para que convivesse com o fato pacificamente. Para isso, precisei mencionar um nome – Benoît Cavalnni – o que o desarmou e o fez ver que também estava cheio de razões para questionar relacionamentos.
- É diferente! – exclamou ele, num último recurso apelativo
- Não, não é diferente! Se ciúmes é a questão chave, então eu tenho muito mais motivos para implicar com a parceria Benoît Cavalnni e Washan El Sayed. – revidei, foi quando ele capitulou.
Já fazia algum tempo que eu não aparecia no Bois de Vincennes, a praticidade dos sites de busca, os inúmeros clubes gays da cidade e a tecnologia se mostravam muito mais eficientes para conseguir um programa. Como fazia uma noite bonita e quente para os padrões da capital francesa, o que era raro, o Grassouilletón e eu resolvemos seguir até lá, ao invés de nos enfurnarmos numa casa noturna lotada impregnada de ares pestilentos. Não demorei a ser abordado, apesar do meu ponto já ter sido ocupado por outro rapaz que nunca tinha visto por lá. Dois caras novos num Citroën pararam pouco depois ao nosso lado, o novato me deu a preferência quanto percebeu que os rapazes estavam interessados em mim. Eles perguntaram se eu faria um programa duplo, o que interpretei como sendo o novato e eu, mas logo esclareceram que seria apenas eu e eles. Topei. O que eu tinha a perder, tinha acabado de fazer um programa pouco antes de vir para o bosque que não me rendeu muito me entregando só para um. Cobrei os mesmos quatrocentos boules que o Grassouilletón e eu cobrávamos do Benoît, eles regatearam. Não cedi, tinha aprendido a dar o devido valor aos meus serviços e ao uso do meu corpo. Os jovens trocaram algumas frases entre si quando me afastei do carro, já achando que não ia dar certo. Porém, alguns minutos depois, eles me chamaram e aceitaram o valor.
- Só que é o seguinte, mano! Serviço completo nos dois até a gente te dispensar, valeu? – disse o mais atrevido deles que conduziu a transação.
- Ok! – respondi. Quem está pagando dita o jogo, nenhuma novidade nisso.
Nenhum dos dois era minimamente inspirador ou desejável sob o aspecto sexual. Carregavam tatuagens enormes pelo pescoço e braços, tinham um corte de cabelo bizarro que os deixava mais feios do que já eram, estavam cheios de badulaques na forma de piercings pendurados nos mais insólitos lugares e, segundo minhas suposições deviam fazer parte de alguma tribo, seita ou grupo que se opunha aos costumes da sociedade. Parecia uma rebeldia que já não combinava com a idade deles, uns quarenta anos pelos meus cálculos. Todo o trajeto até um apartamento numa rua de Belleville no 20º Arrondissement foi feito sob o som de uma música na qual predominavam tambores desafinados e ensurdecedores. Quando me fizeram entrar, recebi uma lufada de ar pesado cheirando a haxixe e ópio, o que não me espantou dadas as características físicas deles. Eles ainda estavam vestidos quando mandaram que eu me despisse, o que fiz mantendo a cueca.
- Tire tudo! – ordenou um deles, enquanto o outro preparava uma carreira de cocaína sobre o tampo da mesa de centro que, ao ficar pronta ambos aspiraram em profundidade. Recusei-me a participar do banquete.
Um deles levantou e veio me apalpar, dando duas longas fungadas antes de beijar meu ombro. Deu dois tapas em cada uma das minhas nádegas e enfiou a mão no meu rego, até seu polegar tatear minha rosquinha anal, ele foi bruto.
- Debruce sobre o braço do sofá! – mandou ele, o que fiz para que ambos ficassem admirando meu cuzinho liso.
- O putinho tem um cuzinho bem gostoso! – afirmou o outro, que se aproximou e logo enfiou o dedo indicador no meu rabo. Eu gemi. – E geme como uma putinha também. – emendou.
Ambos ficaram metendo o dedo no meu cu alternadamente, o que não me deu tesão algum, pois percebi que o faziam não para se excitarem, mas para me humilharem. Eles se despiram e me mandaram chupar os cacetes deles, tão desprovidos de charme e sensualidade quanto os donos. Mas eu estava ali à trabalho e não para me divertir ou me entusiasmar com aqueles cacetes, portanto, fui à luta. Coloquei um deles na boca e trabalhei com afinco, o cara grunhia sem eu saber se era por conta do boquete ou pelo efeito da cocaína que o fazia apresentar os primeiros sinais de que estava ficando chapado. Quinze minutos trabalhando na verga do sujeito e o máximo que consegui foi deixá-la à meia-bomba. Parti para o outro cara, que tinha ficado brincando com sua jeba quando me contemplava trabalhando. Ele soltou um gemido quando abocanhei a rola dura dele, parecia estar mais concentrado na coisa e sentindo mais tesão, uma vez que pica estava toda melada. Chupei até ele me avisar que ia gozar, o que acabou fazendo assim que fechei a mão ao redor do saco dele. A porra respingou no meu rosto, uma vez que me recusei a engoli-la, e ele a esfregou na minha cara.
- Putain! – exclamou ao enfiar o polegar cheio de porra na minha boca, que eu fingi lamber quando, na realidade, estava cuspindo tudo para fora junto com a minha saliva.
O chapado tinha ido buscar uns brinquedinhos e, quando voltou, mandou que eu abrisse novamente as pernas e enfiou um consolo no meu cu, fazendo-o vibrar no meu rabo. Enquanto isso, os dois vieram me agarrar e me bolinar, me chupando os mamilos e mordendo meus biquinhos salientes. Comecei a sentir tesão, as duas bocas mornas sugando meus mamilos e aquele troço ligado no meu rabo fazendo tudo dentro dele vibrar me acenderam. Meus gemidos os excitaram, fui levado de volta ao sofá e enrabado pelo chapado, que tinha conseguido dar uma consistência suficiente na rola para que me penetrasse. Ela escapou umas quatro vezes, pois ele já tinha perdido parte da coordenação motora pelo efeito da droga. Quando conseguiu meter novamente, começou a me bombar com violência. Fiquei contente por aquela rola não estar plenamente rija, caso contrário ele teria me machucado. Ele acabou desistindo sem gozar depois de algum tempo, percebendo que não estava excitado o suficiente para chegar ao clímax. O outro assumiu o lugar dele tão logo meu cuzinho estava livre. A estocada também foi bruta e atolou praticamente a jeba toda no meu cu. Eu gani, o que o deixou satisfeito. Ficamos mudando de posição, ele socando e eu me entregando. Eu o estava cavalgando, acariciava o tronco dele e me insinuava, enquanto ele amassava meus mamilos em suas mãos. Ele chamou o outro, que se aproximou de pronto, arriscando a sorte mais uma vez. Forçando meu tronco contra o parceiro, ele enfiou o pau no meu cu onde já havia uma rola entalada. Minhas preguinhas se romperam causando uma dor pungente, como se o fio de uma faca afiada estivesse cortando meus esfíncteres. Eu gritei, o que os deixou alucinados. Com ambos me segurando, não consegui escapar e precisei me submeter ao jugo voraz deles. Suportei o vaivém abrutalhado, apertando os dentes e fincando as pontas dos dedos nos ombros daquele que estava deitado embaixo de mim. Quando se deram por satisfeitos, me soltaram, meu cu parecia estar com uma brasa acesa dentro dele, enquanto eles se livravam das camisinhas esporradas. Recebi nova ordem para chupar as cacetas, embora me empenhasse, as ereções foram decepcionantes. Percebendo que não estavam conseguindo o que queriam, e que, mesmo em dois, mal estavam dando conta de me excitar, resolveram partir para algo mais radical. Um deles tornou a sumir dentro de um cômodo anexo e, quando voltou trazia o maior plugue anal que eu já tinha visto. O objeto era enorme e intimidador, especialmente para mim que nunca tinha participado de nenhuma sessão de bondage, disciplina, dominação, submissão e sadomasoquismo. Fiquei apavorado quando me mandaram ficar de quatro e começaram a lubrificar meu ânus e o plugue com um creme.
- Je ne sais pas comment baiser avec un si gros plug anal! – (Não sei transar com um troço desse tamanho!) – afirmei
- On va te baiser, on sait comment l’enterrer dans ton cul. (Nós vamos te foder, sabemos como enterrar ele no seu rabo.) – sentenciou o que começou a posicionar o plug na minha fendinha lanhada.
O cara começou a forçar, eu queria escapulir mas era impedido pelo outro que travava minha fuga e me segurava com força. Senti meus esfíncteres sendo abertos à força, se distendendo além dos limites do suportável, e comecei a implorar que não me machucassem. Minhas súplicas foram em vão, o sujeito obstinado em enfiar aquele troço enorme em mim não me dava ouvidos. Continuou bruto a empurrar o plugue cujo diâmetro ia aumentando à medida que chegava na parte posterior, eu comecei a gritar, sabia que não ia aguentar aquilo. Me mandaram calar a boca e parar de fazer escândalo.
- Afinal, você é um viado rameiro ou, não é? Quer faturar sem dar algo em troca? Vá se foder, putinho do caralho! – disse o que estava tentando enfiar o plugue no meu cu. - O cu da bicha está sangrando! - anunciou para o parceiro, como se isso fosse um trunfo que alcançaram.
A tentativa resultou frustrada, depois de mais de quinze minutos tentando meter no meu cu eles se convenceram de que aquilo não ia entrar na minha fendinha, que se contraía cada vez mais à medida que tentavam arregaçá-la ainda mais, com o sangue a escorrer de um rasgo mais profundo. Fiz força para engolir o choro, não queria dar esse gosto àqueles dois animais. Eu mal conseguia me mexer, sentia como se houvesse cavado um túnel nas minhas entranhas, a dor continuava insuportável. Me vesti catando as roupas do chão como se estivesse coletando partes do meu próprio corpo, pois me sentia esfacelado por dentro. Quando pedi o pagamento pelo serviço eles se entreolharam, esboçaram um risinho sarcástico e se negaram a me dar o combinado.
- Allez charge le pape! (Vá cobrar o papa!) – foi a resposta que me deram ao me empurrar porta afora, rindo como dois demônios.
Fui me agarrando ao corrimão da escada para conseguir chegar à rua. Um choro convulsivo tomou conta de mim. Tudo doía tanto que eu já nem sabia mais de onde ela vinha. Por duas vezes caí sobre os joelhos, pois as pernas não davam conta de me sustentar. Chegando à calçada em frente ao edifício, tive que me reclinar à parede enquanto meu corpo pesado despencava lentamente até eu ficar acocorado. Estava tão sem forças que nem um táxi consegui parar. Quem passava por mim, me tomava por bêbado ou drogado, pois nem eu conseguia mais enxergar direito através dos olhos embaçados pelas lágrimas que não paravam de escorrer pelo meu rosto. Cruzei os braços e afundei a cara neles, soluçando feito uma criança desamparada. Num esforço hercúleo, consegui tirar o celular da mochila e apertar a tecla de atalho “Grassouilletón”. Quando ouvi a voz grossa e firme do outro lado dizendo “Oui” desembestei a chorar, não conseguindo articular palavra alguma.
- Ahmad! O que aconteceu, Ahmad? Onde você está? – como a resposta demorou a vir, ele continuou mais aflito. – Ahmad, você está bem? Responda, Ahmad! Onde você está?
- Me ajuda! – consegui balbuciar depois de alguns minutos.
- Você precisa me dizer onde está? Eu vou aí te ajudar, mas fale de uma vez, Ahmad! – desesperou-se ele.
Quando o vi descendo do táxi minhas forças se esvaíram, ele estava me levantando quando desmaiei nos braços dele, ainda consegui sentir o cheiro dele e o calor de seu corpo antes de tudo se apagar. Quando acordei estava num ambiente gélido, branco e silencioso, a dor havia desaparecido, mas meu corpo estava pesado assim como meu raciocínio, o estado torporoso me dizia que a dor havia sido debelada à custa de alguma droga. Mesmo com as pálpebras fechadas eu podia enxergar uma claridade através delas. Demorei a criar coragem para abri-las temendo não estar mais fazendo parte desse mundo. Subitamente senti uma mão quente envolvendo a minha, era ele, eu não estava morto.
- Zut, Ahmad! Quer me matar de susto, moleque! Quem fez isso com você? Ande, me diga quem foi o responsável por isso? – fiquei me perguntando se ele, nem numa situação como essa, conseguia ser um pouco doce, um pouco menos durão, embora estivesse feliz por vê-lo.
Ele já sabia o que tinham feito comigo. O médico do Pronto Socorro para onde ele me levou quando viu minha calça empapada de sangue, havia dito que seria preciso suturar meus esfíncteres dilacerados para recompor a anatomia normal.
- Amo você Grassouilletón! – balbuciei entre um sorriso.
- Você está merecendo uma surra, seu moleque travesso! – exclamou ele, como forma de colocar para fora toda aquela opressão que estava sentindo.
- O fato de você ser meia dúzia de anos mais velho do eu não te dá o direito de me tratar por moleque! – minha voz ainda não estava firme, mas a contundência das palavras se encarregou de lhe dar o recado.
- Já está colocando as manguinhas de fora? Sinal de que o pior já passou, não é? Está até querendo começar a brigar comigo de novo! – retrucou ele.
- Eu te amo Grassouilletón, eu nunca brigo com você! – devolvi
- Bem sei que não! – exclamou irônico, mas sorria para mim quando se expressou.
No apartamento dele, no dia seguinte, contei-lhe o que havia acontecido. Perguntei se não seria o caso de avisar a polícia, afinal tratava-se de uma agressão homofóbica. Ele soltou uma risada tensa, referiu-se sarcasticamente à polícia como – Ces merdiques de gendarmes (Aqueles policiais de merda) – e me garantiu que os autores ainda poderiam sair como heróis. Ele conseguiu me distrair fazendo o jantar, me envolvendo numa conversa mole, me cobrindo de beijos e fazendo carícias com sua mão atrevida debaixo da camisa que me emprestou. Me disse que tinha um compromisso e saiu. Imaginei que fosse algum programa que ele havia combinado e não o retive. Tivemos essa conversa quando eu já estava na cama para onde ele havia me mandado ir e esperar sua volta.
- Gosto de te ver usando as minhas camisas, você consegue me deixar louco! – afirmou ele, me mostrando sua ereção, que eu propus mamar, mas que ele recusou dizendo que já estava atrasado para o compromisso, mas que estaria de volta a tempo de me pôr para dormir.
- Que assunto é esse? Não pode esperar até amanhã? Não quero ficar sozinho. – sussurrei num muxoxo.
- Coisa rápida! Não pode esperar e você vai ficar aí quietinho até eu voltar!
Quando voltou cerca de duas horas e meia depois, ele colocou 1.800 Euros na minha mão, encarei-o sem entender a origem e o porquê dessa grana.
- Foi o que aqueles dois filhos da puta pagaram pelo seu serviço de ontem. – disse ele
- Pagaram?
- Digamos que sim! Estão com as caras bastante lesadas e vão precisar de um dentista para substituir alguns dentes, mas pagaram. – sentenciou ele. Um calafrio sempre percorria a minha espinha quando ele falava daquela maneira fria e insensível, pois eu já havia notado que ele tinha pouco apresso à vida daqueles que lhe causavam algum aborrecimento mais sério.
- O que você fez com eles?
- Nada! Só fui cobrar o que te deviam. Não se fala mais nesse assunto, estamos entendidos? – impôs ele.
- Mas eu .... – ele me encarou de modo assustador.
- Não se fala mais nesse assunto! – exclamou, elevando a voz. Conhecendo-o como eu o conhecia, fiquei de cabelos em pé só de imaginá-lo indo à desforra. De qualquer forma, estava grato por ele se preocupar tanto comigo, de cuidar de mim como estava fazendo, de expor seu lado protetor e carinhoso, coisa que ele não fazia com mais ninguém.
- Vem cá!
- O que quer agora? Vai começar com outro mimimi?
- Vem cá Grassoullietón, vem! – repeti, acenando com o indicador para que viesse até mim. Eu tinha pronunciado a palavra mágica e o encarava comum olhar lascivo, foi o bastante para ele se aproximar.
Ergui meus braços e enfiei minhas mãos debaixo da camiseta dele na altura do abdômen. Fui desabotoando a calça e abri o zíper da braguilha, enfiando uma das mãos dentro dela.
- O que pensa que está fazendo? – ele ainda estava com aquele tom de voz belicoso, mas eu sabia que em breve isso mudaria.
- Sendo gentil e amoroso com você! – respondi, no momento em tirei o caralhão para fora.
- Eu ainda não tomei banho! – alertou ele
- É assim mesmo que eu gosto, sentindo seu cheiro! – devolvi, sentindo o cacetão receber um impulso forte que iniciou a ereção.
Ele se sentia desarmado quando estava comigo, quando eu lhe fazia essas declarações com uma naturalidade inocente, quando sentia a plenitude e intensidade do amor que eu tinha por ele embutida nessas atitudes simples. Ele agarrou minha cabeça antes mesmo de eu colocar o caralhão na boca e começar a chupar. Mesmo estando compenetrado lambendo e sugando aquela verga que crescia a olhos vistos, e me dedicando a acariciar suas bolonas peludas, eu conseguia sentir o olhar dele fixo no que eu fazia. Eu nem precisava olhar para cima para saber que seus olhos faiscavam de tesão e prazer. O cacetão e toda a virilha estavam com o cheiro almiscarado e másculo dele que havia se acumulado e concentrado durante todo o dia, eu poderia distingui-lo entre milhares se fosse o caso, tanto ele havia se impregnado na minha mente e sob a minha pele toda vez que fizemos amor. Eu o chupei até ele gozar, me brindando com seu néctar numa esporrada farta e saborosa.
Eu havia sido orientado a ficar de repouso e caminhar o menos possível para que meu ânus se recuperasse mais rápido. No entanto, fazia dois dias que estava no apartamento do Grassouilletón me recuperando e faltando ao trabalho, aquilo não podia continuar e decidi que voltaria a trabalhar no dia seguinte.
- Amanhã volto ao trabalho e para a minha casa. – comuniquei, depois daquela conversa tensa que acabáramos de ter.
- É cedo demais, você ouviu a recomendação do médico, três a quatro dias de repouso. – sentenciou ele.
- Estou me sentindo bem melhor, e preciso voltar ao trabalho, estou récem-contratado e não posso me dar ao luxo de me ausentar por tanto tempo. Ademais, tenho coisas a resolver em casa. – argumentei
- Com o fodedor tunisiano? – indagou ele exasperado
- Sério? É isso mesmo que você quer saber, depois do que acabei de fazer em você? – questionei entristecido e magoado.
- Escapou! Não foi minha intenção te magoar. É que você sabe o que eu penso sobre você estar morando com aquele sujeito. Não consigo me controlar! Não fique triste comigo, eu adorei o que você acabou de fazer. – esse era o jeito dele de se desculpar, sem nunca pedir desculpas diretamente, apenas fazendo rodeio e evitando pronunciar a palavra – desculpe.
Acordei cedo na manhã seguinte, o que o fez compreender que não adiantaria tentar me demover da minha decisão. Ele me acompanhou até em casa, pois eu precisava trocar de roupa antes de seguir para o trabalho, onde compareci pontualmente no horário costumeiro, justificando meus dois de ausência com um atestado que me dava o direito de ficar mais dois em casa. Questionado sobre o motivo da minha ausência, afirmei que tive uma gastroenterite, provavelmente por ter comido algo contaminado. Quanto a eu estar caminhando com dificuldade e mal encontrar uma posição sentada que não exacerbasse as dolorosas pontadas no cu, eles que tirassem suas próprias conclusões.
Eu devia me abster de manter relações sexuais por pelo menos um mês, para dar tempo da minha musculatura anal voltar a se fortalecer e não correr o risco de um novo rompimento. Durante esse período cuidei do Grassouilletón só na base do boquete, e me admirei de ele se dar por satisfeito apenas com as minhas mamadas quando, inúmeras vezes, já havia declarado que a coisa que mais prazer lhe dava na vida era meter a pica no meu cuzinho e sentir ele sendo engolido pela minha carne úmida e quente.
Pelos três meses seguintes também não fiz mais nenhum programa. Depois do incidente, tive receio de me ver novamente estuprado por um cliente de mente doentia. Cheguei mesmo a pensar em deixar essa vida de prostituição, mas eu tinha planos que demandavam custos que apenas meu salário não seria capaz de bancar. Confessei meus medos ao Grassouilletón.
- Você precisa encontrar um homem bem mais velho, que já esteja bem estabilizado na vida, que possa te sustentar e te dar o que precisa em troca de algumas fodas. Eles têm picas pequenas e geralmente já não mantem uma ereção consistente por muito tempo, com isso não vão te machucar e você os compensará de outras maneiras. – não acreditei quando ele me disse isso com a maior cara lavada.
- Eu não preciso e não quero um homem que me sustente! Eu quero um homem que eu possa amar e que também me ame, independente das nossas condições sociais. Eu quero um homem que compartilhe a vida comigo, os momentos bons e os ruins, nos apoiando mutuamente e construindo uma vida comum sólida. – afirmei
- Isso não passa de um blábláblá romântico! Acorda, em que mundo você vive? Nunca conheci um carinha tão meloso como você, que se desculpa por qualquer coisinha sem importância, que fica aos beijinhos e carícias com seus clientes, que nunca briga com ninguém, mesmo que te pisem nos calos. O mundo não é um mar de rosas, você devia saber muito bem disso! Se vacilar aposto até que você é do tipo que dá a mão aos velhinhos para atravessarem a rua! Tem horas que você me irrita, me enche o saco com esse seu jeito de santinho. – sentenciou ele. Eu ri
- Você já pensou que nem todos os clientes estão só atrás de sexo, que, na verdade, a carência deles reside em outras coisas e eles acham que contratando uma transa vão aliviar essa carência? É por isso que eu os beijo e afago, é isso que eles querem, um colo, alguém que os enxergue e às suas dores. – retruquei. – Se tivesse apostado na questão dos velhinhos teria ganho. – emendei.
- Não acredito! Você é mesmo o maior bobão que eu já conheci! – exclamou ele
- Uma velhinha, Isabelle Duplantier, é o nome dela, vinha diariamente à padaria pela manhã fazer suas compras, estranhei quando ela desapareceu por quase uma semana, e fui perguntar ao Monsieur Ermisse se sabia do motivo, ele nem tinha se dado conta que uma freguesa regular não estava vindo ao estabelecimento. Eu sabia que ela morava ali perto e, perguntando nas bancas de jornais, nas de flores e comércios do quarteirão consegui descobrir onde morava. Fui até lá e ela havia sofrido uma queda e fraturado o fêmur, o que a obrigou a depender do serviço social que lhe enviava uma vez ao dia, alguém que ia verificar se ela estava tomando a medicação, lhe deixava as refeições e verificava se ela estava precisando de alguma coisa. Comecei a levar os pães que ela costumava comprar todos os dias, conversava rapidamente com ela, dava uma ajeitada na cozinha lavando a louça e um ou outro servicinho rápido de que estivesse necessitando. Portanto, eu ajudo os velhinhos sim! Não só a eles, mas a quem mais precisar, se eu estiver em condições de fazê-lo. – revelei, contando ele esse fato que ocorreu quando ainda trabalhava na padaria.
- Bobo! Tesudo para caralho, mas bobo! – exclamou ele, vindo me dar um demorado beijo.
Eu ainda relutava em voltar à prostituição quatro meses depois, quando ele veio me propor outro programa com o Benoît. Ele fez uma série de rodeios antes de se explicitar, pois sabia dos motivos que me faziam ter uma rejeição enorme por aquele homem.
- Ele quer te ver, ficou penalizado com o que te aconteceu. Vai ser coisa rápida, você sabe o quanto ele gosta dos teus boquetes. Uma enfiadinha rasa, se muito, e ele já vai estar gozando, você bem sabe.
- Não gosto dele! Melhor, não gosto de como ele olha para você, como te seduz e você se deixa levar feito um bobalhão. Se fosse só a grana eu não ia dizer nada, mas ele quer mais de você, será que não consegue enxergar isso? – devolvi
- Não delira! Não tem nada disso acontecendo! – exclamou zangado
- Tem sim, e você sabe! Posso ser o maior bobão que você já conheceu, mas sei que ele está te seduzindo, que está seduzindo o meu homem. – revidei
- Não sou o homem de ninguém! Só porque como o seu cu não quer dizer que sou seu homem! Eu não tenho amarras, sou livre! Ninguém vai botar um cabresto em mim, está entendendo? Ninguém! – retrucou enfurecido
- Tonto! Você me ama, só tem medo de admitir! – ele bateu a porta com força e me deixou plantado sozinho na sala do apartamento dele. Voltou duas horas depois, mais manso, mas reinsistindo no mesmo pedido.
Benoît Cavalnni era só atenção para comigo, a ponto de ser enjoativo. Eu tinha aprendido a reconhecer a falsidade do seu olhar sempre solícito. Depois de alguns minutos de conversa mole, me despiu, me bolinou, sempre lançando olhares lascivos para o Grassouilletón como se estivesse pedindo a aprovação dele. Foi gentil ao pedir que eu chupasse sua pica, alegando que já não podia mais viver sem a minha boca aveludada mamando sua verga. Oficialmente, estávamos fazendo um programa, e eu fiz o meu serviço, chupei e lambi deixando o cacetinho dele bem duro e sedento pelo meu cuzinho. Fui com ele para o quarto, enquanto o Grassouilletón continuou na sala tomando um Bourbon, relaxado junto à porta envidraçada que dava para um balcão. Cheio de mesuras, ele ficava me perguntando se estava me machucando enquanto socava o pinto num vaivém cadenciado no meu cuzinho. Garanti que não, que estava tudo bem, o que não o impediu de continuar perguntando, como se achasse que aquela jeba fosse a maior maravilha do mundo. Voltei para a sala tão logo ele sacou a rola do meu cu e o limpou com um lenço umedecido. Ele foi ao banheiro se livrar da camisinha e lavar a pica, eu fui ter com o Grassouilletón que me encarou um tanto quanto inquisitivo.
- Foi tudo bem! Não estou sentindo nada! – garanti, pois sabia que ele estava esperando por isso.
- Tem certeza? Não doeu? – indagou ele.
- Acho que sei o que sinto, você não precisa se mostrar tão preocupado comigo! – respondi zangado.
Benoît voltou sala nu e se sentou no colo do Grassouilletón com uma intimidade constrangedora. Deixou-se apalpar por ele, rebolou sobre o caralhão dele até sentir a rigidez cavalar consumada. Guiou-a para dentro do rabo e soltou um gemido quando fez metade da rola sumir dentro do cu dele. Por uns dez minutos ele ficou saltando sobre a jeba como se estivesse montado num cavalo, arfando e deixando com que o Grassouilletón o erguesse com algumas estocadas brutas que terminaram de atolar a rola no cu dele. Ao gozar, o Grassouilletón tratou de ser discreto, talvez por eu não tirar os olhos deles, deu um bramido curto e rouco e logo afastou a bunda do Benoît de seu colo. Levantou-se rápido e foi se livrar da camisinha e lavar a pica no banheiro. Eu estava a ponto de explodir, estava me controlando a todo custo, sentindo algo se arrebentando em meu peito.
- Já contou para ele? – perguntou o Benoît com um sorriso sarcástico quando o Grassouilletón voltou a se juntar a nós.
- Agora não é o momento! – respondeu o Grassouilletón enfurecido
- Contar o que? – perguntei, desconfiado aquele troca de olhares enigmática.
- Nada! Depois conversamos sobre isso. – exclamou o Grassouilletón
- Não é prudente adiarmos essa conversa! É melhor ele saber logo. – disse o Benoît
- Zut, zut! Eu já disse, depois! Depois! – rosnou o Grassouilletón, ainda mais enfurecido
- Estou mudando o escritório central da minha empresa de importação e exportação para Milão, e convidei o Washan para vir comigo, não é querido? – por alguns segundos pensei que ia morrer, não vi mais nada diante dos meus olhos e um zumbido parecia estar perfurando a minha cabeça.
- Caralho! Eu te avisei que seria eu a contar a ele! O que prende com isso?
- Nada, ora! Apenas deixá-lo ciente da sua partida daqui a dois dias. Fiz mal? – a ironia na voz do Benoît me trouxe novamente a realidade.
- Você ia me deixar sem nenhum aviso? Sem nem ao menos se despedir de mim? Eu não acredito que você seria capaz de tamanha crueldade. Eu te amo! Eu te amo tanto quanto a mim mesmo! E você vai me abandonar desse jeito? – despejei, não conseguindo mais controlar o nó que sufocava a minha garganta.
- Não seja dramático! Você sabe que eu sou um homem livre, só estou seguindo meu caminho. A vida é dinâmica! – respondeu Grassouilletón sem conseguir me encarar.
- Você está seguindo o caminho do velho pederasta, não o seu! Será que você não enxerga que ele só está fazendo isso para nos separar? Essa puta vadia sente despeito por que sabe o que sentimos um pelo outro. Ele pouco se importa com seus sentimentos, ele está te comprando como comprou qualquer um desses objetos caros que nos cercam. Você é uma mercadoria, nada mais! – afirmei irado.
- E você é o que? Um viado puto e barato! Qual a diferença? – revidou o Grassouilletón
- Eu sou a pessoa que mais te ama nesse mundo, seu idiota! – berrei, partindo para cima dele e socando aquele tronco maciço onde meus golpes ecoavam como se eu estivesse batendo num tambor.
- Pare com isso! Deixa de ser histérico! Para Ahmad! Para, ou não respondo por mim! – ameaçou ele, segurando minhas mãos para que não o atingissem.
- Era isso que você queria, não é seu velho desgraçado! Miserável, filho da puta! Eu quero que você queime no inferno, sua cadela velha! – berrei, ameaçando também o Benoît com meus punhos cerrados
- Tire esse desgraçado da minha casa! Sai! Fora daqui! – gritava o Benoît.
- Não se atreva a encostar em mim Grassouilletón! Não se atreva! – gritei encolerizado
- Anda, tira essa bichinha histérica daqui! Não quero baixaria desse tipo aqui dentro. – sentenciou Benoît.
- Miserável! Filho da puta! Eu vou quebrar essa sua cara enrugada e falsa. – ameacei, acertando um muro na cara dele.
- Fora! Fora vocês dois! Vou chamar a polícia, seus depravados! Fora daqui! – gritava o velho a plenos pulmões.
- Cala essa sua boca! Você não vai fazer nada, não vai chamar ninguém! Deixe que eu cuido desse assunto! Não se meta! – devolveu o Grassouilletón ameaçando o Benoît
- É com um tipo assim que você quer se juntar? Um tipo que te despreza e ameaça colocar a polícia atrás de você? – questionei furioso. – Eu te amo, seu cretino estúpido! Não me troque por esse miserável, Grassouilletón, não me deixe, por Alah! – implorei, atirando-me aos pés dele e segurando suas pernas.
- Pare com isso Ahmad! Minha decisão está tomada, não rasteje, deixe de se humilhar! Tenha ao menos um pouco de orgulho próprio! – revidou ele, começando a me agredir.
O Grassouilletón me arrastou para fora do apartamento sob uma saraiva de bofetões. Eu me defendia e me engalfinhei com ele, socando-o com toda a minha fúria. O escândalo continuou quando chegamos à calçada.
- Pare, Ahmad! Já chega! Já te aturei por mais tempo do que deveria. Agora chega! Suma da minha vida. Não quer mais ver essa sua cara na minha frente, está entendendo? – gritava ele, sem parar de me estapear e de me afastar do torso dele ao qual eu me agarrava desesperado por constatar que o estava perdendo.
- Eu te amo! Não faz isso comigo, não me abandone! Você me ama que eu sei! Não faça isso com o nosso amor, Grassouilletón, não faça isso, amor! – implorava eu, ao mesmo tempo em que o cobria de socos. – Não me abandone! Não me abandone, eu não sei viver sem você!
Ele me deu um empurrão que me fez bater com a cabeça contra a parede do edifício, minha raiva só crescia e parti para cima dele de novo, ele me esbofeteou até eu ficar zonzo e cambalear. Meus olhos injetados miraram nele e mais uma vez comecei a socá-lo com toda a força e fúria que a situação havia juntado. Com dois socos ele me atirou longe e, por pouco, não caí na rua em frente a um carro que passava. Ele me puxou e me deu mais dois socos no ventre cortando a minha respiração. Eu me dobrei sobre o abdômen apertando meus braços contra ele e cai na calçada fria, enquanto os transeuntes desviavam daquele tumulto sem esboçar reação, a não ser de perplexidade e desprezo pela cena brutal e patética que estávamos protagonizando. Ele voltou a subir ao apartamento e me deixou ali aos prantos.
Demorou até que um taxista atendeu meu sinal, vendo o estado em que eu estava. Cheguei em casa todo moído, nariz sangrando, olho direito praticamente obstruído por um enorme calombo hematoso, canto da boca lacerado. Tirei as roupas ensanguentadas e fui para o chuveiro, meu corpo estava coberto de hematomas e cada movimento gerava uma dor lancinante. Deixei-me escorregar pela parede fria até cair sentado no chão, encolhi-me todo e chorei, chorei como nunca tinha chorado na vida, nem mesmo quando perdi toda a minha família. Quando fui para cama naquela noite, eu ainda acreditava que a qualquer momento o Grassouilletón ia aparecer e dizer que estava arrependido e queria ficar comigo. Isso nunca aconteceu. Nem um telefonema, nenhuma mensagem de adeus, nada, ele partiu com aquele velho e me deixou, como se fosse alguma coisa de que não precisasse mais depois de tê-la usado enquanto precisou. Levei meses para me recuperar, embora não tivesse a certeza se o tinha conseguido. Porém, a vida continuava, eu já tinha passado por outros recomeços e sabia que aquele seria apenas mais um.
Eu vivia numa concha, como um caracol. Só saía de casa para o trabalho e para alguma necessidade básica. O mundo lá fora não me interessava mais. O que ele tinha de mais valioso e importante para mim já não estava mais disponível. Parei de me prostituir, tinha sido promovido e, com o novo salário, não precisava mais desse recurso. Com o fim do curso de francês, matriculei-me na universidade para continuar a faculdade de economia que havia abandonado quando a minha sina catastrófica começou. Em dois anos a concluiria e, com um pouco de sorte, talvez conseguisse um emprego ainda melhor na área.
Durante todo esse tempo, o Nizar foi meu baluarte, minha única certeza, a pessoa que sabia me ouvir sem julgamentos, a pessoa que me dizia todos os dias que eu ainda seria muito feliz, que essa felicidade estava a caminho.
- Você é uma boa pessoa Nizar! Sou grato pelo destino fazer com que nossos caminhos se cruzassem. Duvido de suas palavras, mas sei que só está tentando me encorajar, e isso já é muito para mim. – eu costumava responder quando ele me abraçava ao ver que eu tinha naufragado novamente nas minhas tristezas.
O Frank e o Léon costumavam me ligar com frequência. Sempre insistiam para que nos encontrássemos nalgum lugar, mas eu recusava. Não tinha disposição para frequentar os redutos gays da cidade, não tinha estrutura para rever os amigos do Grassouilletón sem que isso me fizesse lembrar que ele havia me trocado por um velhote que só queria o caralhão dele. Num sábado acabei me deixando levar pela insistência deles, fomos a um clube gay recém- inaugurado, mas detestamos o lugar e acabamos num bistrô já nosso velho conhecido. A ex-namorada do Grassouilletón estava com eles. Eu mal conseguia olhar na cara dela, ela me transmitia a mesma sensação que eu sentia quando estava na presença do Benoît. Foi inevitável que em dado momento a conversa se dirigisse para o passado, para o Washan, mesmo eu tendo tentado fugir do assunto.
- Vocês vão achar que eu sou um completo idiota, sem amor próprio, mas admito que se ele voltasse para mim hoje pedindo para reatarmos, eu sairia correndo para os braços dele abanando o rabinho como um cãozinho reencontrando seu dono. Patético, não é? Mas, o que sinto por ele ainda continuava vivo aqui dentro. – confessei.
- Ninguém que conheceu a intensidade do amor que vocês dois tinham um pelo outro te acharia um idiota, não pense assim! Um amor verdadeiro supera, perdoa, e o de vocês dois é assim, tumultuado, porém imenso. – afirmou o Léon.
- Eu também achava que o nosso amor tivesse essa dimensão e essa força. Contudo, bastou aquele velho acenar com algumas vantagens e ele não hesitou em me abandonar, sem nem sequer um adeus, um abraço que fosse. É por isso que sou um idiota. – ponderei.
- Eu conheço o Washan a mais tempo que você e nunca soube exatamente o que há por trás daquela carapaça impenetrável que ele construiu e na qual vive. O único que conseguiu furar esse bloqueio foi você, nós todos somos a prova disso. Ele se foi sem dizer adeus porque sabemos que ele não ia conseguir, não quando estivesse na sua frente e tivesse que te encarar. Ele sabia que ia sucumbir, por isso partiu sem um adeus. O Washan te ama Ahmad! Ele te ama como acredito nunca amou alguém. Só é difícil saber o que vai na cabeça daquele maluco, porque ele toma certas decisões, mesmo que elas lhe tragam dor e sofrimento. Deve ser um masoquista. – disse o Frank.
- Se ele me amasse mais do que ao dinheiro daquele velho ele não teria me abandonado. Eu sempre deixei claro que só precisava dele e do amor dele, o restante íamos construir juntos. – afirmei.
- Sei das suas reservas para comigo e não o culpo. – começou a ex-namorada dele que, até então tinha se mantido calada sem muita coragem de falar sobre algo tão delicado. – Mas também preciso te contar algumas coisas. Meu caso com o Washan nunca foi sério, rolou um clima certa noite numa casa noturna onde ele tinha ido fazer um programa. Bebemos demais e falamos demais sobre nossos passados, quando vi estava transando com ele no meu apartamento. Foi bom e começamos a repetir a dose, pois não havia cobranças de nenhum dos lados. No entanto, comecei a perceber que estava mudado, ele continuava trepando comigo, mas sua mente já não estava mais ali comigo. Para nós mulheres isso é um sinal claro de que o cara está focado em outra, e foi isso que pensei, até o dia em que eu o ouvi falando de você. Os olhos dele brilhavam como jamais os vi brilhar, o que ele dizia vinha de dentro dele, de algum lugar profundo onde guardava seus segredos. A partir daí eu soube que ele me usava para te fazer ciúmes, ele estava apaixonado por um gay, mas não conseguia admitir. Uma vez tentei conversar sobre o caso de vocês e, como você bem pode adivinhar, ele ficou furioso. Disse que não havia caso algum, que ele gostava de mulheres e especialmente de mim, o que eu sabia que não era verdade. A reação dele foi a prova mais cabal da paixão que sentia por você. Eu entendo que você esteja sentindo raiva dele, eu também sentiria se o homem que eu amo me abandonasse. Mas, te digo uma coisa, jamais duvide de que ele te ama, ou te amou. Você foi o que ele teve de mais precioso na vida e, como acabou de dizer o Frank, ninguém nunca soube o que ele pensa atrás daquela carapaça de macho autoconfiante. – revelou ela.
Saí daquele bistrô arrasado, não sabia mais o que pensar. Só conseguia sentir raiva, muita raiva daquele cretino que parecia nunca deixar que um espaço se abrisse no meu coração. Voltei a ficar deprimido por algumas semanas, e jurei que nunca mais ia voltar a ter qualquer tipo de conversa da qual o Grassouilletón fizesse parte do assunto. Os amigos dele acabaram sendo solidários comigo e ninguém mais falou sobre ele, não na minha presença.
Três anos se passaram. Eu me formei e, por intermédio da indicação de um professor, consegui um novo emprego numa financeira de renome. Me mudei para um apartamento melhor quando o Nizar me disse que ia se casar e gostaria de ficar morando com a esposa no nosso apartamento. Minha vida parecia estar retornando aos trilhos, minhas crises de choro e sensação de abandono haviam desaparecido. Fiz novos amigos, tanto no trabalho quanto com o grupinho de amigos do Washan. Eu já conseguia sair e me divertir sem sentir aquela carga toda pesando no meu peito.
Um dos colegas de trabalho estava comemorando o aniversário e reuniu a galera no Le Rex na região dos Grands Boulevards, uma badalada casa noturna famosa por concentrar renomados DJ’s internacionais que tocavam música eletrônica. Era a primeira vez que o novo diretor da área de crédito saía com gente. Ele tinha sido contratado há pouco, vindo de um banco suíço onde iniciou a carreira. Édouard Lambert é o nome dele, estava com trinta e dois anos e é solteiro como conseguiu apurar a mulherada que começou a arrastar as asas para o corpão atlético dele e um par de olhos que fazia a gente se perder dentro deles sem encontrar o rumo da saída. Ao mesmo tempo em que me deslumbrei com o charme e a masculinidade dele, contida naquele corpão musculoso de ombros largos e no volume imenso que as calças de seus ternos não davam conta de camuflar, eu sentia certa apreensão quando ficava perto dele, pois ele me olhava com os olhos ávidos de um predador. Como minha última experiência com esse tipo de homem tinha deixado cicatrizes permanentes na minha memória, eu não queria voltar a sofrer por conta de um amor homossexual que a vida já tinha me mostrado ser uma das coisas mais impossíveis de progredir.
Étienne, um colega que trabalhava na mesa colada à minha e que também era gay, porém casado, e que vivia me apresentando a outros gays para ver se eu desencalhava como costumava dizer, logo sacou que o novo diretor espichava aquele olhar de – vou te enrabar – para cima de mim. Étienne sabia de parte da minha história de vida e, como a dele também não tinha sido nada fácil depois que o pai quase o matou quando descobriu sua homossexualidade, e ele também precisou viver nas ruas se prostituindo para sobreviver, nossa amizade se tornou um esteio para ambos.
- O tarado não consegue nem disfarçar, está de olho grudado em você, só falta te engolir. Dá uma olhada, mas seja discreto. – avisou o Étienne quando flagrou o Édouard me secando de uma mesa próxima.
- Eu sou discreto! E você está vendo coisas que não existem, imagina se ele vai dar bola para mim. – respondi.
- Sei muito bem o que estou vendo, não cego e nem burro! E não é bola que ele estar querendo te dar é isso aqui ó! – afirmou ele, colocando um espaço entre as duas mãos como se estivesse me mostrando o tamanho de certa coisa.
- Maluco! Presta atenção no teu marido que dá mais certo do que ficar inventando coisas. – revidei.
- Maluco vai ficar você quando ele te mostrar o tamanho da benga dele. – devolveu ele rindo.
- Será que você não pensa noutra coisa?
- Penso, claro que penso! Penso na hora de chegar em casa e me enroscar no corpo do Pierre, coisa que você nunca vai fazer se não abrir um pouco a guarda. Você já está na secura há muito tempo, deixa de ser cagão e deixa ele chegar em você. – sugeriu
- Estou fodido se me deixar guiar pelos teus conselhos. – retruquei
- Antes bem fodido do que deixando o rabo encruar! – eu precisava rir quando ele usava a linguagem chula das ruas que, vira e mexe, deixava escapar quando ficava assanhado com alguma coisa. – Eu não disse! Lá vem ele, vem direto para você, quer apostar? Quinhentos Euros na minha mão se eu estiver certo! – propôs ele quando viu o Édouard vindo para nossa mesa.
- Não aposto nada! E pare de querer bancar o cupido se ele vier para cá, entendeu? Não me faça parecer um ridículo na frente dele. – avisei, o que foi praticamente como lhe passar uma procuração para fazer exatamente o contrário.
Era inexplicável o que eu sentia quando ficava próximo do diretor da área de crédito durante as reuniões na empresa. Na primeira vez que que nos vimos houve uma troca de olhares que deixou a ambos sem saber como agir, foi como se fossemos polos opostos de dois imãs postos lado a lado. Ao mesmo era assim que eu enxergava aquela estranha atração que parecia sempre estar nos aproximando. Naquela noite não foi diferente. Ele veio se sentar na única cadeira vazia que, coincidentemente, ficava espremida entre a que eu ocupava e uma coluna de sustentação do salão da casa noturna. É a essas coincidências que me refiro quando fiz a comparação com os polos dos imãs. Essas coincidências aconteciam nos diversos setores da empresa, nas mesas dos restaurantes onde a galera ia almoçar, sempre calhava de ficarmos muito próximos um do outro. Não vou me fazer de pudico, negando que ele me atraía, pois isso seria uma grande inverdade. Ele fazia o tipo de homem pelo qual eu me derretia. Eu certamente devo ter uma questão mal resolvida na minha psique que me faz sentir atração por homens do tipo machão em aparência e comportamento, quando mais heterossexual um cara fosse, mais tesão eu sentia por ele. Era como se eu carecesse de uma figura masculina, o que efetivamente nunca foi o meu caso, cresci cercado de homens. Contudo, eram os musculosos, os de fenótipo viril com pelos distribuídos pelo corpo, com rostos angulosos e másculos que tinham o poder de incendiar meu cuzinho, ainda no tempo em que eu nem sabia que era gay. E o Édouard tinha todas essas características muito bem coordenadas, ele era um homem muito bonito.
- Oi! – cumprimentou ele ao tomar assento
- Oi! – respondi, me distraindo com a careta do Étienne tirando uma com a minha cara.
- Quer dizer então que a galera conseguiu te arrancar da concha? Quem foi esse herói? – A pergunta dele não deixava dúvida de que estivera tentando obter informações a meu respeito, e querendo saber por que eu estava praticamente sempre ausente nos encontros que a turma organizava fora do expediente.
- Devo ser um velho precoce, gosto de ficar em casa. – respondi.
- Fiquei contente quando te vi chegar, fazia tempo que queria conversar com você fora do ambiente de trabalho. – confessou ele.
- Conversar comigo? Sobre o que gostaria de conversar comigo? – acho que fui direto demais, pois ele ficou uns minutos pensando na resposta para que ela não parecesse tão óbvia de suas intenções.
- Sobre você! – respondeu ele, um pouco constrangido.
- Com tanta coisa interessante para se conversar, você quer conversar sobre mim, em pouco tempo ficaríamos sem assunto. – devolvi.
- Duvido! Você é muito interessante! – exclamou ele. Desta vez fui eu quem perdeu o rebolado e até corei, fazia tempo que ninguém me elogiava tão explicitamente. Não sabia o que responder.
- Isso por que você me conhece pouco. Pensaria diferente se me conhecesse. – argumentei
- É exatamente isso que estou louco para fazer, te conhecer melhor. – o Étienne, que estava atento na nossa conversa, voltou a me dirigir uma piscadela, aumentando ainda mais o calor abrasador que sentia nas faces.
- Te garanto que minha história está mais para deprimente do que para grandes façanhas. – afirmei
- Ouvi por alto algumas coisas a respeito do motivo de você ter se refugiado na França, parece que você teve períodos bastante tumultuados. Mas, não é deles que quero falar, não gostaria de lhe trazer lembranças tristes. – asseverou ele.
- Então em que aspectos meus está interessado?
- Sendo bem objetivo e sincero? Em todos, especialmente naqueles em que eu possa ser uma presença benvinda e constante ao seu lado. – ele não fazia rodeios quando queria alguma coisa.
- Então considere-se bem-vindo! – exclamei
- E a constância, onde fica? – questionou ele, com um risinho petulante e deliciosamente safado.
- Se sua intenção foi me encabular, conseguiu! – devolvi tímido
- Não foi, juro! Mas preciso admitir que encabulado você fica ainda mais lindo. – percebendo que eu não era indiferente aos seus olhares lascivos, às suas insinuações e àquela abordagem explícita, ele foi ficando confiante e ousado.
A proximidade ao redor da pequena mesa onde estávamos, fazia com que, ao menor movimento, nossos joelhos se tocassem. Eu tinha levado a mão esquerda até meu joelho para ver se conseguia fazê-lo parar de tremer. Ele também baixou a mão direita e nossos dedos anelares e mindinhos se roçaram levemente. Foi como se eu recebesse uma descarga elétrica e, ao que parece, ele também, pois rapidamente retraímos as mãos. Eu estava sem coragem de olhar para ele. Contudo, de soslaio, percebi que ele sorria discretamente, quando voltei a posicionar a mão sobre o joelho e ele fez escorregar a dele sobre a minha. Eu rotacionei o pulso e as palmas de nossas mãos se tocaram, antes dos demais dedos se entrelaçarem. Sem que ninguém desconfiasse, estávamos de mãos dadas sob a mesa. Meu peito foi invadido por uma sensação boa, uma quentura acolhedora.
- Não vai me achar muito desaforado seu eu te convidar para irmos para algum lugar mais tranquilo, sem esse barulho todo impedindo de conversarmos? – indagou ele
- De forma alguma! Estou mesmo começando a ficar com dor de cabeça. – respondi.
- Quer sugerir o lugar? Afinal, você conhece a cidade há mais tempo do que eu.
- Em que tipo de lugar está pensando?
- Num em que possamos conversar sem interrupções, se tiver algo saboroso para comer seria ótimo, pois estou varado de fome e, onde eu possa estar tão ou mais próximo de você do que aqui. – respondeu ele.
- Conheço um pequeno bistrô familiar, muito aconchegante, na Rive Gauche onde o Grass...., - subitamente precisei interromper a frase, quase citei um nome que não deveria, no entanto ele percebeu meu embaraço. - Onde eu costumava ir com uns amigos. Faz tempo que não vou lá, mas era um lugar bem simpático. – consertei ligeiro.
- Tenho certeza de que vou gostar! Se você gostou do lugar, é porque deve ser mesmo bom. – disse ele.
Ao me levantar, todos os olhares da mesa e da anexa também com o pessoal da turma, se voltaram para nós. Foi aí que me dei conta de que ia cair na boca do povo. Era cedo demais para alguém deixar uma casa noturna que começava a bombar e, dois caras saindo juntos àquela hora renderiam assunto pelo restante da noite e para alguns dias da semana seguinte na empresa. O risinho irônico e debochado do Étienne deixou isso ainda mais claro. Ele sabia que a minha noite e a do Édouard não estava terminando ali e que, certamente a terminaríamos juntos, num lugar onde sua mente devassa e libertina, até já nos conseguia ver tal qual uma cena de filme pornô. Daí aquela risadinha com a qual ele olhava sorrateiramente para mim.
- Cinq cent boules! (Quinhentos boules!) – exclamou, ampliando aquele riso idiota que iluminava sua cara safada.
Percebi que o Édouard ficou um pouco desconfortável com a exclamação do Étienne, como alguém que perde parte de uma piada e acaba ficando sem entendê-la.
Ele aprovou a minha escolha, dizendo que era exatamente num lugar como aquele que tinha pensado para termos a nossa conversa. Também adorou a sugestão do magret du canard fumé sauce à l’orange que o chef nos indicou. Poderíamos ter nos sentado em lados opostos da mesa, frente a frente, mas o Édouard preferiu se juntar a mim no banco de dois lugares que permitia uma vista do salão e da calçada, como se justificou. Meu tempo de ingenuidade plena tinha ficado para trás nos contratempos que a vida foi me apresentando, por isso eu sabia que aquela desculpa esfarrapada era para dizer que queria ficar colado em mim. Realmente foi o que aconteceu enquanto degustávamos o prato, ombros se tocando, cotovelos batendo um no outro, joelhos se roçando. Será que vou me apaixonar por esse cara pelas semelhanças físicas que guarda em relação ao Washan, era a pergunta que não queria calar. Meu bom senso logo me alertou de que isso seria uma grande idiotice, o mais correto seria você evitá-lo para não cometer novamente o mesmo erro, deixar se levar por uma atração que é mais sexual do que emocional. Porém, eles tinham uma personalidade muito distinta, e foi dessa personalidade do Édouard que eu comecei a ter receio.
- Foi uma noite incrivelmente maravilhosa Ahmad! Esse lugar é espetacular, seu papo é inteligente e interessante, tanto que nem percebi as horas passarem, e tudo ficaria ainda mais perfeito se fossemos para a minha casa e você me desse o privilégio de estender a sua companhia até o amanhecer. – afirmou ele. Não sei o que me fez pensar que a armadilha estava armada, bastava a presa cair nela.
- Também achei tudo fantástico, foi uma noite especial, te garanto! Mas, vou me despedir de você aqui, pegar um táxi e voltar para minha casa. – comuniquei
- Eu te levo, não precisa pedir um táxi.
- Eu prefiro fazer do meu jeito. Boa noite, Édouard! E, obrigado por tudo.
- Pode ao menos me dizer o que fiz de errado, se falei algo que não deveria para você me deixar assim? Já sei, fui cedo e ávido demais ao pote, pode falar!
- Não disse nem fez nada de errado! Eu já disse, foi tudo perfeito. – respondi sincero.
Eu não estava preparado para o que ele queria. Eu ainda não estava preparado para me deitar com outro homem, por mais absurdo que isso pudesse me soar depois de três anos de abandono e abstinência sexual.
Achei que ele fosse ficar zangado comigo por não lhe dar aquilo que queria quando nos encontramos na empresa no início da semana seguinte. Se estava, não demonstrou. Pelo contrário, foi gentil e atencioso como de costume e agiu como se a minha recusa nunca tivesse existido. Voltou inclusive a me convidar para uma peça de teatro para a qual havia adquirido ingressos para dali a dois dias. Eu aceitei.
Quatro meses se passaram nesse revezamento de convites para algum programa, ora eu quem convidava e ele aceitava, ora ele convidava e eu não recusava. Só me recusava a ir para a cama com ele, sem dizer isso expressamente. Algumas vezes, de tão intrigado que ficava pelas minhas recusas, ele chegou a me questionar se eu não gostava dele, se não o achava um homem atraente o bastante para o meu gosto. Sempre respondi que não, que o achava muito atraente e sensual, que ele era o protótipo do meu homem dos sonhos, o que o deixava ainda mais confuso em relação a minha recusa em transar com ele. Foi ficando cada vez mais evidente que ele era muito diferente do Washan, embora fosse um tesão de macho como ele. O que eu não tive coragem de contar a ele foi que eu havia me prostituído, que já nem me lembrava com quantos homens havia transado, que fazia ponto no Bois de Vincennes como um garoto de programa vulgar. Ele ia me desprezar, nunca mais ia falar ou olhar na minha cara, ia se afastar como alguém faria de uma pestilência.
Os pais do Édouard eram suíços, moravam em Prangins, uma pequena comuna às margens do Lago Léman, e foi para lá que ele quis me levar nas duas semanas que envolviam o Natal e o Ano Novo, nas quais a empresa paralisava as atividades.
- Conhecer seus pais? Não sei se estou preparado para isso Édouard. – afirmei quando do convite
- Eles querem te conhecer! Estão ansiosos para isso, na verdade. – retrucou ele
- Você falou de mim para eles? Eles sabem que eu sou ...?
- Já faz uns meses que falei de você para eles, e que você é gay .... também de que .... de que eu não conseguia ficar um minuto sem pensar em você. – confessou ele.
- Você não devia .... Agora estou com mais medo ainda de aceitar seu convite. Eles devem estar cheios de expectativas para esse encontro. – devolvi
- Eles vão se apaixonar por você! Assim como eu! – ele segurava meus ombros e me trouxe para junto dele quando confessou seu amor, colando sua boca à minha que se recusou a interromper aquele voraz e sensual toque que os lábios dele transmitiam aos meus.
Não sei bem que argumentos ele usou para falar de mim para os pais, o que ficou claro para mim é que me receberam e me acolheram como se meu passado e minha condição de homossexual não fizesse a menor diferença para gostarem de mim. Também não sei se foi por orientação dele que haviam designado um quarto com uma só cama dupla que eu teria que dividir com ele, ou se eles já nos imaginavam como um casal. Contudo, foi um pouco embaraçoso quando a mãe dele me levou até o quarto no dia da nossa chegada.
No primeiro dia fizemos um passeio a pé pelas ruas da pequena comuna, com os flocos de neve caindo sobre nossas cabeças. A paisagem deslumbrante e o ar frio eram estimulantes. Da margem do lago viam-se as pequenas aldeias ao redor com os telhados das casas e igrejas cobertos de neve nas margens opostas. O Édouard pegava na minha mão como se eu fosse uma criança que ele precisava conduzir, era fofo e eu olhava para ele como se estivesse descobrindo o amor naquela hora. No segundo dia fomos a uma estação de esqui, ele estava disposto a me ensinar a esquiar, ou talvez sua intenção fosse apenas ter a chance de me agarrar quando levava um tombo, o que aconteceu infindáveis vezes.
- Estou com a bunda doendo! Esse deve ser o meu centésimo tombo do dia, acho que nunca vou conseguir ficar em pé em cima desses esquis. – afirmei.
- E olha que eu ainda nem toquei nela! – exclamou ele, numa devolutiva acompanhada de um sorriso safado
- Não sabia que era isso que tinha em mente quando me trouxe para cá! Essa é a causa daquela cama no quarto onde estamos? – perguntei
- Quer que eu diga a verdade ou minta para não te assustar?
- Quero que diga a verdade! – respondi.
- A ideia da cama foi minha! Aquele era o meu quarto quando menino. Meus gostos e necessidades mudaram de lá para cá e a cama de solteiro já não se enquadrada mais neles. – confessou ele.
- Gosto da sua sinceridade! Podia ter inventado uma besteira qualquer, mas deixou claro o que quer, mesmo que eu não saiba se é isso que eu também quero. – devolvi.
- Eu jamais te forçaria a fazer nada que não queira! Você tem o tempo que precisar, o tempo que estiver pronto, eu estarei aqui desejando você por inteiro com o tesão me deixando maluco, com a vontade de te pegar de jeito e te fazer todo meu. – revelou ele. Beijei-o docemente, eu também o queria.
Fui me deitar cedo naquela noite, meu corpo inteiro doía como se eu tivesse lutado com um oponente muito mais forte do que eu sobre um rinque. Não estava com sono e, a agitação dos meus pensamentos era um indicador de que aquela seria uma noite insone. A hora de eu contar ao Édouard que fui garoto de programa estava chegando. Eu estava gostando demais dele para omitir algo tão importante que poderia definir nosso futuro juntos.
- Ainda não está dormindo? Pensei que estivesse exausto? – disse ele quando se despiu e entrou na cama, cerca de duas horas depois de mim. – Você parece inquieto, está preocupado com alguma coisa?
- Estou, bastante exausto! Mas, não é isso que está me atormentando. Eu preciso que você saiba de uma coisa a meu respeito, a respeito do meu passado.
- Que perdeu seus primos no mar? Que é um refugiado que conseguiu asilo? Que teve um namorado que te abandonou? Eu já sei disso tudo, e meus pais também. – questionou ele.
- Que fui um garoto de programa no Bois de Vincennes e me prostituí por quase três anos depois que cheguei aqui e, antes de conseguir meu emprego na empresa. – despejei numa carreira só, pois não teria coragem de ir procurando as palavras aos poucos se tivesse que ficar encarando-o como estávamos fazendo naquele momento. O silêncio dele quase me levou aos prantos, mas eu não ia chorar na frente dele, não ia censurá-lo se quisesse terminar tudo ali.
- Você acha que qualquer coisa do seu passado me impede de te amar como eu te amo? – indagou ele, me tomando nos braços e me apertando contra a solidez de seu tronco viril. – Não faço parte do seu passado, sou seu presente e quero ser seu futuro, é só nisso que eu penso. – confessou ele.
- Sabia que você não existe! Que é o homem mais maravilhoso desse mundo? Que eu estou perdidamente apaixonado por você? – questionei com as lágrimas rolando pelo rosto, enquanto cobria o dele de beijos.
- Era por isso que você não me deixava te tocar, não é? – eu respondi com um aceno de cabeça.
Ele voltou a me deitar sobre o travesseiro e ficou afagando meu rosto, começou a me beijar, inicialmente com toques suaves sobre os meus lábios, depois com a avidez cobiçosa de um predador, enfiando a língua na minha boca, que eu sugava para sentir seu sabor másculo. Nossos corpos entrelaçados começaram a sentir o calor do tesão se apoderando deles. Eu sentia o caralhão molhado dele roçando minhas coxas, meu cuzinho piscava, meu pau endureceu. Meus mamilos projetavam seus biquinhos rijos e ficaram tão sensíveis que a simples movimentação do ar ao redor deles me incendiava. O Édouard enfiou a mão na minha cueca, baixou-a até que as nádegas ficassem expostas, apoderou-se delas com a mão vigorosa que se fechava amassando minha carne firme e quente. Envolvi meus braços ao redor do tronco dele, o peito peludo dele roçava no meu e eu sentia o coração dele batendo adrenalizado pela volúpia. Fechei minha mão apreendendo o cacetão que pulsava forte, acariciei-o e deslizei meus dedos para dentro dos grossos pelos pubianos dele. Ele me encarava com um olhar voraz e iluminado. Levei a boca até a pica dele e beijei a glande estufada que vertia um melzinho almiscarado e viscoso, lambi-o, o que criava um fio ininterrupto e translúcido entre os meus lábios e a cabeçorra do cacetão dele. O tronco de carne latejante que eu tinha mão era colossal, vinte e quatro centímetros de pura virilidade, reto, pesado, envolto por um emaranhado de veias ingurgitadas que saltavam na mesma cadência acelerada do coração dele. Eu sabia que dar amor aquele homem significava deixar me rasgar por aquele caralhão grosso, mas isso já não me assustava mais. O Washan e eu chegamos a transar poucas vezes antes de ele me abandonar depois que meus esfíncteres precisaram ser reconstruídos e suturados. Portanto, eu sabia o que era levar uma rola daquele porte e calibre no cuzinho.
Chupei o Édouard até ele gozar. Ele pretendia gozar na minha cara e tentar enfiar com cautela um pouco de seu sêmen na minha boca para ver se eu o aceitaria sem sentir nojo. Mas, eu não lhe dei chance para tanto, à medida que ele esporrava, eu engolia o esperma cremoso e morno como se fosse um bezerro mamando o leite da mãe. Ele se contorcia e olhava para mim com o rosto em jubilo, ele era virgem naquilo. Nunca antes, nenhuma mulher o tinha mamado até ele gozar, todas haviam parado bem antes disso, embora ele também tivesse tentado gozar na cara delas.
- Ah, Ahmad! Você acaba me matando desse jeito! – grunhiu ele, com um lindo sorriso de satisfação.
O sêmen de um macho sempre me fascinou, talvez por que ele o vertesse como recompensa por um enorme prazer que lhe proporcionavam. Era um presente único, que só dependia do parceiro, do momento, da felicidade que estava sentindo, do grau de satisfação que haviam lhe propiciado. Não havia dois gozos iguais num mesmo homem, cada um tinha sua particularidade, isso me ensinou a vida de promiscuidade como garoto de programa. Eu só me vi feliz e aceitado como gay quando percebi que essa capacidade de dar prazer a um homem, ao mesmo tempo em que eu também era brindado com essa sensação sublime. Foi mais ou menos nesses termos que expliquei ao Édouard o porquê de ter engolido seu esperma sem reservas e sem repulsão. Acima de tudo estava o sentimento que eu nutria por ele e, que sabia ele também nutria por mim, era exatamente esse sentimento que tornava aquele presente dele tão valioso e único para mim. Ele sorriu ao ouvir minha explicação.
- Você também é único, Ahmad! Enxerga tudo por um prisma positivo, mesmo a vida tendo lhe castigado tanto. Se eu conseguir um lugar nesse seu coração generoso, pequeno e apertado que seja, serei o homem mais feliz da face da terra. – confessou ele.
- Você ocupa todo o meu coração, cada cantinho dele está preenchido por você! É essa sensação que o torna tão importante e vital para mim, Édouard. Eu te amo de corpo e alma. – devolvi apaixonado.
- De alma só posso imaginar, mas de corpo posso sentir, e é isso que eu quero agora! Você, seu corpo e seu amor todo só para mim! – ele nem bem tinha terminado de falar quando abocanhou meu mamilo e o sugou com força.
Ele estava tão sensível que eu gemi ao sentir a boca dele chupando e mordiscando meu biquinho enrijecido. Segurei a cabeça dele entre as minhas mãos e me contorci sentindo o corpo todo estremecer com o frenesi de excitação que percorreu minha coluna até se concentrar no meu cuzinho. O Édouard girou comigo abraçado a ele, ficando de costas enquanto eu sentava sobre a virilha dele, sentindo o caralhão deslizar no meu reguinho. Era maravilhoso ter aquele macho enorme e musculoso à minha mercê, podendo acariciar seu tórax largo, beijar o contorno da mandíbula hirsuta que fazia os pelos da barba dele pinicarem meus lábios, mover minha pelve com suas mãos segurando e apalpando minhas nádegas.
- Que tesão de bunda, Ahmad! Nunca vi uma bunda tão gostosa! Toda vez que te vejo caminhar, ela parece estar pedindo por uma rola, é tão sensual e pecaminoso ao mesmo tempo, que deixa qualquer homem ensandecido. – sussurrou ele, enquanto eu movia as ancas no colo dele, provocando e excitando aquele cacetão distendido e duro como uma rocha.
- Quero você, Édouard! – devolvi com um ronronar lascivo.
Ele inverteu as posições, montou em mim, abriu minhas pernas e apoiou os joelhos sobre seus ombros. Assim que viu meu cuzinho piscando, ele enfiou um dedo dentro dele, eu gemi pronunciando o nome dele, que escapou dos meus lábios num arfar longo. O dedo girava dentro do meu cu, entrava e saía num vaivém provocador, o Édouard me encarava fascinado por ver como estava me excitando, me deixando louco por ele, implorando pela verga dele naquela fenda estreita que engolia seu dedo.
- Me diz o que você quer, Ahmad!
- Quero você! Quero você! – gemi.
Ele enfiou a cara no meio das minhas coxas, deixou as marcas de seus dentes na pele lisa delas e avançou com a língua de fora para cima das minhas preguinhas. Um ganido escapou sonoro da minha boca, enquanto eu me contorcia todo. Ele lambeu meu cuzinho, deixou-o molhado com sua saliva, e guiou a cabeçorra babada do caralhão para a portinha estreita dele. Senti o ar me faltando, suspendi minhas ancas e me ofereci. Ele deu um impulso vigoroso introduzindo a cabeçorra na minha fenda anal e dilacerando minhas pregas. Eu gritei mordendo a ponta do travesseiro e me agarrando aos bíceps dele. O Étienne tinha razão quando disse que meu cu ia encruar se eu não o usasse. Aquela abstinência sexual de três anos estava cobrando seu preço, especialmente voltando à ativa com um cacetão daqueles. A dor que senti naquele momento era bem mais pungente do que a que eu havia sentido no dia em que fui desvirginado, embora não se pudesse comparar a discrepância entre o tamanho das vergas.
- Estou te machucando, não é? – perguntou ele, me fazendo ter a sensação de um déjà vu.
- Me fode, Édouard! Só me fode! Deixe eu te sentir inteiro dentro de mim. – balbuciei ganindo, enquanto ele ia socando aquele colosso no meu rabo.
Em meio a dor começou a crescer o prazer, ele entrou fundo em mim, chegou aonde nenhum outro homem havia chegado, desbravou e explorou o que eu tinha de mais íntimo. Eu queria gritar de tanta felicidade, abraçava-o e cobria-o de beijos demonstrando o quando o queria. No meio dessa euforia toda eu gozei, esporrei meu ventre liberando o prazer que estava sentindo. Ele continuou metendo, socando, desbravando minhas entranhas estreitas e receptivas com a energia quase inquebrantável de um touro. Quando vi a expressão de seu rosto se contraindo, o arfar se transformando num bramido, eu envolvi seu rosto em minhas mãos e pronunciei o nome dele, imediatamente um último impulso desencadeou o gozo e ele se despejou todo dentro de mim. O último elo que faltava para nos atar acabara de ser fechado, éramos um só corpo, um só ser com dois corpos ardendo de paixão.
Quando acordamos na manhã gelada do dia seguinte, os flocos de neve caíam suaves como plumas diante da janela do quarto. O Édouard e eu ainda estávamos engatados, ele roçando os pelos do peito nas minhas costas, seu braço envolvendo minha cintura, sua jeba me fazendo sentir sua ereção matinal.
- Casa comigo! – sussurrou ele, quando beijou minha nuca.
- Casa comigo! – repeti, virando o rosto na direção dele para que minha boca pudesse encontrar a dele.
Na véspera de nosso regresso à Paris, o Édouard comunicou aos pais a nossa decisão de nos casarmos. No início da tarde do dia seguinte, eles nos levaram até a estação ferroviária de Genebra, com a exigência de os convidar para o casamento. Pouco mais de três horas e meia depois, o TGV Lyria adentrava a Gare de Lyon em Paris.
Passamos quase um mês procurando um lugar para morar, visto que nem o meu apartamento, nem o dele, atendiam nossas expectativas para uma vida enquanto casal. Encontramos um sobrado no 11º Arrondissement, enfincado entre dois edifícios baixos com um pequeno quintal nos fundos, onde floresciam diversas espécies cultivadas pelo antigo proprietário que preenchiam as paredes, e que foi decisivo no fechamento da negociação. Agora faltava comunicar aos colegas da empresa, amigos e a quem mais essa informação fosse pertinente, que resolvemos nos assumir enquanto casal e fazer uma pequena cerimonia dali a alguns meses para oficializar essa união, o que acabou acontecendo em meados de março.
Entre os poucos convidados estavam o Louis e a esposa que estava grávida e vieram especialmente de Lyon para o casamento, os amigos que eu tinha em comum com o Washan, o Michel, a Françoise, a Annette, o Frank, o Léon, a ex-namorada ou fosse lá o que eles tenham sido, que acabou por se tornar uma boa e sincera amiga, e outros que faziam parte daquela galera com a qual eu continuei saindo depois do Washan me abandonar; os pais do Édouard e alguns amigos dele, poucos e seletos, a quem ele contou que estava se casando com um gay; além de alguns colegas da empresa. Eu não ia fazer segredo da minha nova relação, não havia motivo para isso.
Dois meses depois do nosso casamento, a Françoise resolveu comemorar seus trinta e dois anos numa casa noturna gay, pois estava namorando uma garota que tinha conhecido fazia alguns meses. Fazia um tempão que eu não frequentava uma balada gay, desde que meu relacionamento com o Édouard começou a ficar sério, nós optávamos por lugares mais discretos e menos agitados quando saíamos para nos divertir. Além de rever o pessoal mais chegado, eu também acabei reencontrado o pessoal que fui conhecendo ao longo do período em que me prostituía. As caras eram as mesmas, alguns casais tinham trocado de parceiro, mas ainda dentro do mesmo grupinho, o que me deu a sensação de que todos já haviam transado com todos em alguma época e por alguns períodos. Bendisse o dia em que o Édouard entrou na minha vida, senão eu talvez também seria um deles, e tendo passado pelas mãos e cacetes de todos.
O Édouard e eu chegamos tarde propositalmente, era pouco mais de duas horas da madrugada, pois nossa intenção era cumprimentar a aniversariante, dar um rolê entre a galera e voltar para o conforto de nossa casa. Eu gozava do prestígio e do coleguismo da quase totalidade de carinhas que faziam parte da turma, muito provavelmente por que era o único que não tinha sido enrabado por eles, mas mesmo assim, sido carinhoso com todos. Por isso, fomos cercados assim que entramos no lugar barulhento e com um ar tão denso e esfumaçado que parecia que podia ser cortado com uma faca. Boa parte da turma não sabia que eu havia me casado e, quando viram o Édouard colado em mim e fazendo demonstrações de carinho, viramos o assunto central do evento. Os mais passivões vieram me perguntar onde tinha arranjado um machão daqueles e, caçoando, me pediram dicas e endereço de onde se encontravam homens como aquele. O Édouard trocava piscadelas comigo e me beijava, o que devia deixar o cu dos passivões piscando de tesão.
Nós mal conseguíamos avançar para dentro da balada, a todo instante surgia alguém conhecido e roubava uns minutos de prosa. Ainda nem tínhamos encontrado a Françoise para cumprimentá-la. Quando a vi sentada numa mesa pequena num cantinho mais tranquilo, cercada pelo Michel e pelo Frank, além de uma garota que imaginei ser a namorada, fomos nos juntar a eles. Conversamos, rimos, atualizamos tudo aquilo que havia ocorrido conosco desde a última vez que estivemos juntos e, obviamente, o Édouard e eu não escapamos do interrogatório de como estava sendo a vida de casados, como era acordar com o mesmo cara todos os dias, que chatices havíamos descoberto um no outro só recentemente e toda uma sorte de curiosidades que desejavam saber. O cretino do Frank não tinha perdido o hábito de ficar jogando indiretas para o meu lado demonstrando seu interesse de me levar para a cama e enfiar sua jeba no meu cuzinho, uma vez que, justamente por ser assim, um tarado assumido e declarado, não conseguia muita coisa com os carinhas mais bonitos e legais, precisando se contentar com os viadinhos mais rameiros, em encontros que quase nunca passavam da primeira noite. O Édouard o detestava, fazia cara feia para ele quando eu não conseguia desviar do toque de suas mãos e, como eu nunca deixei que ele me beijasse, nem mesmo um selinho, cada vez que ele se atrevia, o Édouard o peitava. O Frank já havia bebido bastante e, certamente, fumado alguns cigarros de maconha e cheirado ao menos uma carreira de cocaína, era disso que se abastecia para parecer um cara legal e ousado. E, nesse estado, tentou colocar o braço sobre os meus ombros e me trazer para mais perto dele. O Édouard lançou o braço dele longe num golpe furioso que quase o derrubou com cadeira e tudo.
- Você está precisando de água fria nessa cara, Frank! Venha comigo, vamos refrescar essa cabeça antes que você faça alguma bobagem da qual vai se arrepender amanhã. – disse o Léon que o levou até o banheiro. – Trago mais uma rodada quando voltar? O que querem, o mesmo? – perguntou o Léon antes de deixar a mesa, e cada um acenar positivamente com a cabeça.
Cerca de vinte minutos depois, ele e o Frank estavam voltando com as bebidas e, a companhia do Washan. O Léon continuou vindo até nós, mas o Frank e o Washan pararam no meio do trajeto para conversar com uns carinhas, assim que o Washan me viu. Fiquei totalmente desconcertado, minhas mãos ficaram úmidas, minha garganta tão seca que eu a sentia arranhar quando falava; como não conseguia me ver num espelho, não sabia que estava com a expressão transtornada, o que todos logo conseguiram identificar, inclusive o Édouard. Por alguns segundos a situação na mesa ficou tensa e constrangedora. Aquele reencontro entre nós dois não havia sido previsto por ninguém e, estava acontecendo na pior hora e lugar.
- É ele o sujeito, não é? – me perguntou o Édouard, ao pé do ouvido, quando viu a transformação que ocorreu em mim.
- É! – respondi.
- Quer ir embora? Podemos ir se quiser!
- Não! Não fiz nada para ter que me esconder. – respondi.
- Ok, você quem sabe! – de qualquer modo, segurei a mão dele, eu precisava daquele calor e daquela segurança. Ele entendeu meu gesto, sorriu e levou minha mão aos lábios e a beijou carinhosamente.
- Amo você! – articulei com os lábios sem liberar o som.
Pouco depois o Édouard foi ao banheiro me deixando no meio de uma galera após termos nos afastado da Françoise e voltado a circular pelo salão. Assim que me virei, o Washan estava ao meu lado.
- Oi!
- Oi Washan! – cumprimentei gentil, mas distante.
- Tudo bem?
- Tudo! E com você?
- Já tive dias melhores! – ele ficou constrangido ao dar a resposta. – Acabo de saber que você se casou. – acrescentou.
- Sim, ainda estamos em lua-de-mel, se podemos chamar assim. – respondi
- Bom! Legal! O sortudo é o carinha que estava com você agora há pouco?
- Sim, Édouard! Eu diria que o sortudo sou eu.
- É coisa séria? – indagou ele. Não respondi, meu silêncio seria suficiente para ele saber que sim.
- Não sabia que você tinha voltado para Paris! – exclamei
- Faz um mês e meio, mais ou menos! Estou morando provisoriamente com a Soraya, você deve se lembrar dela. – retrucou ele.
- Lembro, claro! Até acabamos estabelecendo uma amizade depois que você me ..... – não consegui terminar a frase receando que mais fantasmas do passado viessem a me assolar naquele que já estava sendo um momento muito ruim.
- É eu sei, ela me contou! – de repente, pareceu que ficamos sem assunto. Houve um silêncio demorado, penoso.
- Você está diferente! Parece mais maduro. Ainda está mais lindo do que antes, o que é quase impossível de acontecer. – elogiou ele.
- Você também, Washan, parece bem! Continua igual! – eu não queria elogiá-lo demais, para que não pensasse que eu ainda nutria qualquer esperança em relação a ele.
- Não sou mais seu Grassouilletón, não é? Você nunca me chamava pelo nome de batismo. – havia tristeza na voz dele quando disse isso, talvez por que percebeu que aquela forma carinhosa com a qual eu o tratava nunca mais ia acontecer. Também a essa pergunta não respondi, não saberia o que dizer.
- Por que voltou de Milão? – eu não estava realmente interessado em saber nada sobre o que aconteceu com ele e o Benoît naquela cidade durante esses três anos, mas isso o faria saber que eu ainda esperava por uma explicação para ele ter me abandonado daquele jeito. Ele demorou a responder.
- Não deu certo! Você não me saía da cabeça, o Benoît e eu vivíamos discutindo, ele acabou conhecendo um daqueles italianos filhos da puta que se deslumbraram com o que ele tinha a oferecer em troca de um pau no cu. – assumiu ele. Quase não me contive com vontade de dizer – como você também fez – mas não quis estender a conversa, por que vi que o Édouard estava se aproximando.
O Édouard me abraçou pela cintura, me puxou para junto dele e me beijou, ignorando por completo a presença do Washan, sem nem mesmo o cumprimentar.
- Você estava querendo ir para casa, não é amor? Vamos! – sentenciou o Édouard.
- Sim, já felicitamos a Françoise e podemos ir. – devolvi, retribuindo o beijo e abraçando-o.
- Talvez pudéssemos tomar um café juntos uma hora dessas! – sugeriu o Washan, quando lhe desejei boa noite.
- Talvez! Boa noite, Washan!
- Boa noite, Ahmad!
Eu ainda tremia quando o Édouard saía do estacionamento.
- Tudo bem com você? – perguntou ele, parando uns minutos antes de entrar na rua.
- Tudo! Acho! – respondi, me lançando nos braços dele e beijando demoradamente sua boca saborosa. Ele contornou meu rosto com as pontas dos dedos.
- Eu te amo! – sussurrou ele.
- Te amo muito! – respondi, voltando a me reclinar contra o encosto, enquanto ele tomava a direção de casa.
Não voltamos a tocar no assunto daquele reencontro desastrado. Eu, por que não queria magoá-lo falando de um ex com o qual tive um relacionamento intenso. Ele, para me poupar de recordações dolorosas e, para que seu ciúme não abalasse nosso cotidiano.
Passaram-se duas semanas. Havia dois dias que o Washan tinha me ligado marcando um encontro, não perguntei o que ele queria desse encontro, uma vez que eu sabia muito bem o que tinha para lhe dizer. Desde que recebi a ligação, o Édouard tinha percebido que eu estava angustiado e distraído.
- Está tudo bem com você? – ele não fazia ideia do quanto eu o amava por ter esse dom de interpretar meus pensamentos.
- Tudo! – não estava, mas eu não ia aporrinhá-lo com aquilo. – Tenho um compromisso essa noite, não precisa me esperar acordado, não sei a que horas volto. – comuniquei, encarando-o para ver como reagia.
- Ahã! – ele não me perguntou que compromisso era aquele, com quem eu ia me encontrar, o que ia fazer, nada; simplesmente nada. Ficou me olhando enquanto eu pegava minha carteira e as chaves do carro, e saía porta afora, esquecendo-me de dar um beijo nele, tão tenso eu estava com aquele encontro. – Boa noite! Te amo. – ouvi-o dizer quando a porta já estava quase fechada.
De tão distraído entrei duas vezes em ruas erradas antes de chegar ao meu destino, tendo que, com isso, dar uma volta bem maior nos quarteirões que voltavam a dar mão de direção. Meu pensamento estava com o Édouard, ele sabia com quem eu ia me encontrar, sabia que tipo de compromisso misterioso era aquele, sobre o qual eu não tinha conversado com ele, mas não me perguntou nada, não pressionou, não fez daquilo um cavalo de batalha.
Ele já esperava por mim, tamborilando os dedos sobre a mesa que costumávamos nos sentar quando ainda estávamos juntos, naquele mesmo bistrô em que levei o Édouard. Abriu um sorriso quando me viu procurando por ele. Havia uma taça e uma garrafa de vinho sobre a mesa e, ele já havia consumido mais de meia garrafa quando me sentei, o que me fez saber que ele já estava lá há um bom tempo.
- Oi!
- Oi! – Me desculpe pelo atraso, andei me perdendo pelo caminho. – justifiquei. Ele sorriu.
- Vejo que ainda não perdeu o hábito de ficar se desculpando por tudo! – sentenciou ele, me deixando constrangido.
- Algumas coisas são difíceis de se abandonar, os hábitos são uma delas. – retruquei, o que fez o sorriso do rosto dele desaparecer.
- Obrigado por ter vindo! Você teria mil motivos para não vir, mas veio. Fico feliz que ainda se importe comigo. – era um mea culpa à moda Washan, como as desculpas que pedia, sem efetivamente verbalizar o pedido de desculpas.
- Por que não me importaria com você? Tivemos um passado juntos, vivemos muitas coisas boas juntos. – ponderei.
- Fico contente que pense assim. – devolveu ele. Nesse interim o garçom trouxe o cardápio que nenhum dos dois aceitou, trocamos olhares e ele fez o pedido, a mesma cena já havia se repetido muitas vezes, o cardápio era dispensável. – Uma fatia de Pâté de Canard en croûte para cada um e uma Salade Landasie! Ah, e mais uma garrafa de vinho! – pediu o Washan ao rapaz.
- Velhos hábitos não mudam! – exclamei depois que o rapaz foi providenciar o pedido. O Washan riu.
- É, não mudam! Outras coisas também não mudam. – afirmou ele pensativo, antes de ficar uns minutos em silêncio. – Eu te amo Ahmad! Te amo como nunca amei ninguém na vida! – asseverou, pegando na minha mão que estava sobre a mesa.
- Podemos encontrar o amor de sua vida a qualquer momento. Às vezes, você o encontra no momento errado, fora do tempo. Um grande amor não se resume apenas a essa vida, ele vai ali daqui e da nossa existência. No nosso caso ele aconteceu em épocas distintas, estávamos em fases diferentes de nossas vidas, com sonhos e ideais que não combinavam naquela época. O que foi triste, e me fez sofrer muito. – afirmei
- Juro que eu nunca quis te magoar, no entanto, consegui te fazer sofrer, e você não merecia isso. Perdão, Ahmad! – garantiu ele.
- Você fez o que achou que era o certo para você! Nosso instinto de autopreservação está acima de qualquer outra força em nós. – argumentei
- Eu fui egoísta! Eu devia ter preservado o que nós dois tínhamos, o nosso amor. Paguei caro pela decisão errada.
- Não somos criaturas perfeitas. Eu não fui perfeito, você não foi perfeito, o que importa é a nossa história, ela foi boa, ela nos fez felizes. Nossas lembranças são espetaculares e são elas que ficam. Você ainda tem muito a viver, as coisas vão se arranjar com o tempo, você vai ver. – afirmei
- Minha vida nunca mais vai ser a mesma sem você! É por isso que estou aqui hoje, para ver se você me dá uma outra chance, para ver se a força do nosso amor faça tudo voltar a ser como antes. – eu estava estranhando o quanto ele havia mudado, de um macho que nunca admitia estar errado, para aquele homem que me encarava com o olhar marejado aceitando seus erros.
Pensei em responder que estava casado agora, que amava meu marido, que não o trocaria por ninguém nesse mundo, mas isso ele já sabia, ele conhecia meu caráter e minha índole, seria apenas como chover no molhado, e sentenciar um homem, já arrependido e derrotado, a um castigo desnecessário.
- Quero te levar a um lugar! Diga que aceita, é muito importante! – disse ele quando deixamos o bistrô por volta da uma e quarenta da madrugada. Ele havia me abraçado e eu segui a pé com ele por alguns quarteirões até chegarmos num hotel.
- Tivemos tanto tempo para isso, se eu entrar aí com você vamos cometer mais um grande erro de nossas vidas, pois estamos mais uma vez em timings diferentes. – argumentei.
- Por favor, Ahmad! Vem comigo! – exclamou ao me estender a mão e me levar até a recepção do hotel
Ele se identificou para o funcionário da recepção, que lhe entregou um cartão-chave e desejou-nos uma boa estadia. Estávamos sozinhos no elevador quando ele me puxou para junto dele e me beijou. A boca voraz, o sabor da saliva dele, ainda faziam minhas pernas estremecerem. Ele ficou me apertando em seus braços e me beijando por bastante tempo, antes de começar a me despir. Completamente nu, depois que ele me despiu, diante do torso maciço e peludo dele, quando tirou a camisa, eu não soube identificar se o que perpassou toda minha coluna foi um calafrio ou algo semelhante e quente feito um raio. Ele não parava de me beijar, de sussurrar – eu te amo - na minha orelha que mordiscava. A maneira como ele me olhava, como desejava meu corpo, como deixava transparecer o tesão, deixando sua ereção se formar para que eu a visse, bem como ao que queria fazer comigo eram exatamente iguais a três anos atrás. A certeza de que ele me amava estava mais uma vez ali diante de mim, irrefutável, como eu sempre soube. Ele terminou de tirar a roupa e me conduziu até a cama, foi me inclinando aos poucos, enquanto me beijava e acariciava minhas coxas e minhas nádegas. Eu apenas o tocava de leve, sentia a quentura da pele dele. Ao ver meus mamilos ele avançou sobre eles me mordendo e me chupando. Ele, assim como o Édouard e muitos dos clientes com quem transei, sempre tiveram uma atração quase doentia com as minhas tetinhas. Eu as tinha salientes, se destacando do peito, no formato de dois pequenos cones em cujo topo os mamilos acastanhados e dois biquinhos bem protuberantes e rosados que adquiriam uma rigidez ainda mais intensa quando eu ficava excitado. Eram eles que ele segurava entre o polegar e o indicador agora, apertando-os e tracionando-os até ouvir meu gemido. O Washan bolinou minhas nádegas, abriu meu reguinho e dedou meu cuzinho, eu não parava de encará-lo, e não era isso que ele queria. Ele queria me ouvir gemer – Grassouilletón – ele queria sentir meu corpo se contorcendo de tesão debaixo do dele, ele queria que eu me agarrasse em seus músculos, que me abrisse todo e me oferecesse à sua tara. Mas, nada disso estava acontecendo. Ele sentiu que não me era indiferente, mas que eu estava diferente.
- Não vai acontecer, não é? – perguntou ele, com o cacetão todo duro e babado.
Eu não respondi, passei a mão pela barba aparada dele, afastei uma mecha de cabelos que havia caído na testa dele e mergulhei um olhar profundo nos olhos dele. Ele me beijou, aconchegou-se a mim deitando a cabeça no meu peito, enquanto eu pinçava suavemente o lóbulo da orelha dele entre o polegar e o indicador e os movia como se estivesse enrolando alguma coisa no meio deles, uma forma de carinho que eu adquiri quando estávamos na cama, antes ou depois do sexo, e que se tornou um hábito com o passar do tempo. Uma trovoada se iniciou diante da janela, o clarão dos raios tremulava dentro do quarto, nós continuávamos ali em silêncio abraçados, sentindo o calor dos nossos corpos e ouvindo o sibilar fraco de nossas respirações. Meus olhos se encheram de lágrimas e elas gotejaram sobre o travesseiro. Eu não precisei olhar para ele para saber que ele também estava chorando. Quando a chuva começou a cair inclemente, eu voltei a me vestir, sob o olhar silente dele.
- Perdão, Ahmad! Perdão! Posso te pedir uma última coisa? Nunca deixe de me amar! – aquela voz rouca e grave que tinha me feito tantas reprimendas no passado, agora pedia por compaixão.
- Sabe o que aprendi com a nossa história? Que é cada momento do presente que importa, que precisamos vivê-lo com toda a intensidade, pois ele se tornara aquela lembrança boa, aquela lembrança que nos diz que valeu à pena. E, é isso que estou fazendo agora com o Édouard, vivendo intensamente o amor que temos um pelo outro. Eu sempre vou te amar, Washan! Sempre! Você é um amigo que vou carregar em meu coração até o dia da minha morte. Sempre estarei aqui se você precisar. – devolvi.
- Eu não quero ser apenas seu amigo, eu quero ser o seu homem, quero ser aquele homem por quem você se apaixonou e se entregou. – disse ele.
- Adeus, Washan! É melhor para nós dois que não nos vejamos mais! – sentenciei, dirigindo um último olhar para aquele macho viril, com seu caralhão imenso cobrindo parte de seu sacão, deitado nu com sua pele acobreada e seus pelos negros se destacando sobre o lençol branco.
- Ahmad! – ouvi-o pronunciar baixinho. Mas dentro dele meu nome vibrava como um grito desesperado de clemência.
Tomei o elevador até o térreo, os andares pelos quais passava iam acendendo os respectivos números num painel onde também piscavam as horas, três e vinte da madrugada, e que eu via por trás da cortina de lágrimas que inundava meus olhos. Não havia parado de chover, mesmo assim, caminhei sob a chuva pelas calçadas e ruas vazias até o estacionamento.
Cheguei em casa encharcado, a casa estava imersa no silêncio e na luz âmbar de dois abajures ligados na sala. Nosso quarto estava às escuras, o corpão do Édouard criava uma montanha debaixo do cobertor. Eu me despi e levantei o cobertor para me juntar a ele. Ele usava apenas uma cueca, o cacetão cavalar dele mal cabia dentro dela. Eu aconcheguei minha bunda nele e puxei o braço do Édouard sobre mim junto com o cobertor. Encaixei meus dedos nos dedos grossos dele, o anel de casamento brilhou na penumbra, eu o girei no dedo dele.
- Esteve com ‘ele’? – perguntou o Édouard, com a voz de quem acaba de acordar, ressaltando bem o ‘ele’.
- Sim!
- Foi tudo bem?
- Sim!
- Vocês transaram?
- Não!
- Ele nem tentou?
- Tentou!
- E você?
- Eu precisava desse encontro. Era a única maneira da ferida cicatrizar, de eu deixar no passado o que é do passado, e poder viver com o homem que eu amo, o amor pleno que ele merece.
- Eu te amo, Ahmad!
- Eu te amo muito, Édouard! Muito! – devolvi aos prantos. – Me fode! – pedi
- Não! No estado emocional em que me encontro eu vou te machucar muito. – devolveu ele. Eu podia compreender a raiva, o ciúme e insegurança que gerei nele ao ir me encontrar com o Washan, e não o culpei por isso.
Ele me abraçou com força, veio de encontro à minha boca e me beijou terna e carinhosamente. Eu peguei o lóbulo da orelha dele entre os dedos e o fiquei afagando, ele adorava esse carinho.
- Por favor, Édouard, nunca me abandone! Nunca me abandone! – implorei soluçando.