Cheguei cheia de alegria no escritório no dia seguinte, tendo comigo as lembranças do ocorrido no estacionamento da faculdade, durante a chuva do dia anterior. Apesar de, no íntimo, eu já estar vivenciando o conflito entre Gustavo e Roberto, naquele momento só o que eu tinha em mente era poder aproveitar cada instante daquela minha nova paixão. Por mais psicopático e egoísta que pudesse ser, eu sinceramente não me sentia nem um pouco dividida. Eu gostava de ambos, em diferentes estágios e intensidades. E, na minha imaturidade de então, eu não via problemas em seguir daquela forma. Pelo menos até onde isso fosse possível e eu me desse bem. Mas o mundo não era "Fernanda-cêntrico", e não girava em torno do meu umbigo. E a conta começou a chegar em pequenas parcelas a serem quitadas.
Durante o meio da manhã, Roberto me chamou em seu escritório, pedindo-me para fechar a porta quando entrasse. Esse ato, por si só, já ativou minhas desconfianças de que a conversa seria mais séria, uma vez que nunca o víamos com as portas fechadas a menos que fosse para alguma eventual conversa com diretores da empresa. E, prático como sempre, ele não fez rodeios para entrar no assunto:
- Bom Fernanda, sobre ontem eu acho que temos que conversar para deixar as coisas bem claras.
- Sim Roberto, eu sei...
Ele sorriu, desconfortável com o assunto e o clima ali entre nós:
- Eu pensei que seria mais fácil falar... - falou soltando um suspiro
- Tudo bem, eu também estou... sei lá... meio perdida...
Respirando fundo, e com o semblante mais sério, ele me encarou me olhando diretamente nos olhos, se declarando finalmente:
- Fernanda, eu não posso negar que eu... você sabe... eu estou gostando mesmo de você - ao ouvir isso, o calor que subiu pelo meu corpo foi algo que nunca havia sentido. Foram palavras simples e singelas, mas que tocaram muito fundo lá dentro de mim.
- Eu também gosto de você Roberto - e disse isso com um sorriso incontido no rosto, que foi retribuído por ele.
Tudo naquela hora era meio estranho e deslocado, com aquela conversa sentimental ocorrendo num ambiente de trabalho, com cada um de nós de um lado da mesa. Um chefe e sua estagiária, mas ao mesmo tempo um homem e uma mulher se declarando. Foi algo bem surreal quando me recordo da cena.
- Eu passei a noite toda em claro, pensando em como isso aconteceu. E em como fui cair nessa... rsrsrs
- Ah, você acha isso ruim... Roberto? - perguntei com um certo charminho
- Não... pelo contrário. Ontem foi... você sabe... muito bom... - via meu chefe ficando pela primeira vez envergonhado na minha frente
- Mas, Fernanda, tem algumas coisas aqui que complicam isso tudo. E... se você quer tentar algo... bom, temos que resolver elas antes.
- Eu imagino o que você vai dizer, Roberto.
- Pois é... primeiro tem o fato de você ter me dito que tem namorado. Você vai ter que resolver as coisas com ele se quiser ficar comigo, ok? – e senti seu olhar firme em mim, medindo o quanto isso me impactava.
- Eu sei. Já te disse que não é nada sério. Namorico, eu vou terminar isso logo... Hã... já estava para fazer isso, não quero mais nada com ele não...
Ao falar isso, meu estômago deu uma embrulhada e me senti mal mesmo. Era mentira sim, eu não pensava em romper naquele momento com o Guto. Por mais que nosso namoro tivesse tomado um rumo meio fora do convencional, eu não tinha motivos para deixá-lo. Não até agora, quando Roberto me deu esse ultimato.
- Bom, então até lá ficaremos como... bons amigos, tudo bem? - foi duro de escutar isso de por quem a gente está apaixonada, mas eu não tinha opção.
- Tá bom... mas... você não vai nem mais me dar carona então? - perguntei com uma carinha de menina pidona, esperando ter ao menos essa regalia ainda com ele. Ele me olhou e sorriu, sem ter como negar:
- Tá, mantemos a carona, quando eu puder. Mas é só para deixar você na porta da faculdade, nada mais de estacionamentos, certo? - e falou isso com um tom de malícia, obviamente ambos lembrando o que tinha rolado por lá.
- Tudo bem, acho que eu posso conviver com isso... pelo menos por enquanto... rsrsrs
Quando eu esperava que íamos então encerrar a conversa, para eu voltar para a prancheta de trabalho, e poder pensar em como resolver esse imbróglio todo, ele puxou mais um assunto de importância:
- Tem mais uma coisa, Fernanda.
- O que é, Roberto?
- Aqui na empresa eu me sinto agora meio "suspeito" para seguir como seu chefe direto. O que aconteceu lá...
- Ah não, Roberto... por favor, não me manda embora, vai... eu...
- Calma, Fernanda! Eu não falei nada disso. Mas é que, pelas regras da empresa, não se permite que haja uma relação pessoal entre superior e subordinado. Chamam isso de "conflito de interesses", para você saber. Está no código de ética, para evitar conceder privilégios e se ter uma gestão isenta e equilibrada.
- Eu entendo... mas... como você mesmo disse, ainda somos só... amigos, não é? Então não vai ter problema…
- Pois é... eu ainda vou pensar nisso tudo. Mas, se... sei lá... a gente acabar... bom... se a gente vier a ter algo um com o outro, eu já te aviso que vou ter que transferir você para outro gestor.
- Tá... eu entendi... - não pude deixar de sentir um temor que isso pudesse acontecer, mesmo que no final não terminássemos juntos. Eu gostava muito de trabalhar para ele.
- Bom, acho melhor a gente encerrar por aqui. Senão essa porta fechada vai gerar burburinhos entre os outros... rsrsrs
- Verdade, melhor mesmo.
- Ah... Acho que não preciso te pedir para que isso fique só entre nós, não é, Fernanda?
- Sim, lógico. É nosso segredo... Beto! - e pela primeira vez eu o chamei de forma mais carinhosa e íntima por seu apelido.
- Fernanda... Não deixa os outros escutarem isso... tome cuidado, por favor!
Eu fui me levantando, olhando para ele de forma decisiva, e fingindo uma coragem que não tinha ali de fato:
- Fica tranquilo, eu vou saber me comportar. Mas... você ainda vai ser meu, Beto! - e dei uma piscadinha que apenas ele viu, ficando ali com carinha de bobo me olhando saindo da sala, certamente admirando e desejando a mulher pela qual estava se apaixonando.
Perdi o Roberto de vista pelo restante daqueles dias, primeiro com ele desaparecendo para revisar seu material de apresentação, e depois já seguindo para o aeroporto, em direção ao congresso que ocorreria durante a sexta-feira e o final de semana todo. Já do meu lado... Bom, oficialmente eu continuava namorando o Guto, e sentia um carinho todo especial por ele. Ele tinha sido meu primeiro homem, e nosso confuso relacionamento já durava mais de ano. Não era fácil, e, mais uma vez, eu estava insegura de tudo. Questionava-me até mesmo se, lá no fundo, eu não estaria apenas iludida com o Roberto, e que talvez ele não fosse mesmo quem eu realmente desejava. A confusão imperava na minha cabeça e no meu coração. Complicando tudo, o aniversário do Gustavo se aproximava, e, meio já como parte da comemoração, tínhamos programado irmos todos numa grande balada com vários amigos naquele sábado.
Então, sem muita saída, eu simplesmente "virei a chavinha", e tratei de seguir pelos próximos dias deixando tudo na mesma, vivendo meu papel de namorada do Guto, e guardando meus sentimentos e desejos por Roberto para resolver depois desse período. Isso me deu, inclusive, um tempo para decidir melhor, e que encarei também como uma espécie de chance para o Guto confirmar ou não o que eu sentia por ele. Imbuída nesse clima, tratei de me produzir no estilo mais provocante que tanto ele gostava. Escolhi usar, naquela noite, uma blusinha linda e mais moderninha, que deixava de fora partes do meu sutiã de renda. E que por ser bem comprida, escondia quase que totalmente o shorts jeans minúsculo e cavado que usava por baixo, me deixando com as pernas totalmente de fora. E causando curiosidade de saberem o quanto aquele shortinho era pequeno e como entrava atrás na minha bundinha.
Gustavo adorou desde o momento em que me pegou em casa, passando o caminho todo com as mãos sentindo a pele macia de minhas coxas e acariciando gostosamente meus pelinhos descoloridos, enquanto não chegávamos na balada. Chegando lá, a festa se provou mesmo diferenciada, numa vibe bem agitada. Muita música eletrônica, bebidas à vontade, e um clima geral de azaração entre todos. Eu dancei muito, brincando com todos ali enquanto experimentava diversos drinks exóticos e diferentes que serviam para nós. Eu estava muito feliz mesmo, por tudo que vinha vivendo na minha vida, e entre os amigos ali eu me soltava, a bebida dando uma ajudinha a mais nisso tudo. Devo ter deixado muitos com vontade de me pegar, a morena gostosa de cabelos longos e atitude provocante, mas que sempre voltava para junto do namorado. Eu me abraçando a ele, sentando-me no seu colo e trocando deliciosos beijos com Guto.
Pouco depois da meia-noite fomos nos despedindo de todos, acabando saindo da balada comigo meio de pilequinho, dando muita risada de tudo, mas sem mais vexames como no passado. Ele me levou, então, para o apartamento dele para termos um momento só nosso, dizendo-me que não estava se segurando de vontade te me comer naquela noite. E esse momento já começou no carro mesmo, com mais muitos amassos, ele passando as mãos nas minhas coxas e me excitando com os dedos agora entrando pela abertura do shorts e encontrando minha bocetinha já molhada e quente. Ao que eu retribuía acariciando o volume formado pelo pau dele duro dentro da calça. Loucura de jovens, algo nada seguro de se fazer com um carro em movimento, e ainda mais depois do tanto que bebemos na balada. Outros tempos, outras regras... hoje isso é claro para mim.
Chegando em sua casa já fomos direto para o quarto, com Guto arrancando toda a minha roupa e me agarrando de todo o jeito. Eu estava entregue, me sentindo leve pela bebida, mas muito excitada ao mesmo tempo. Deixei que ele me tocasse como bem queria, totalmente passional, não pensando em nada a não ser ter e dar prazer a ele. Seria um sinal de culpa e peso na consciência pelo meu dilema com Beto? Não sei, mas aquela noite com ele eu estava diferente, mesmo não sabendo como.
Já na cama, Guto fez questão de me deitar de costas e desceu com a boca na minha fendinha, e ficando muito tempo ali, me chupando e acariciando minha bocetinha, mexendo com os dedos dentro dela do jeito que ele sabia me deixar louca. Eu me contorcia toda, sentindo os espasmos vindos de dentro de mim, quando os dedos dele tocavam os pontos mais sensíveis dentro dela. Então ele me virou, me colocando de quatro para ele, o que fiz de forma mais que provocante, com as pernas bem afastadas e totalmente empinada, fazendo questão que ele me visse assim todinha aberta para ele. Nem cheguei a pedir direito, e ele me penetrou por trás, ao jeito que ele mais gostava, numa estocada só, firme e funda, enterrando o pau todo de uma vez. Sempre doía, e doeu mais uma vez naquela noite. Mas, como sempre, seguida da dor vinha uma sensação deliciosa que meu corpo aprendera a ter, instintivamente minha boceta pulsando e escorrendo mais a cada bombada que sentia batendo na boca do meu útero.
Eu me jogava de encontro a ele, sentindo minha bunda batendo contra a pélvis dele, as mãos dele firmadas na minha cinturinha, me puxando no ritmo em que me fodia gostoso por trás. Sentia meus peitos balançando livres, se chocando um contra o outro, e me dando um tesão a mais de estar sendo deliciosamente fodida pelo meu homem. Ele me comeu assim um bom tempo, ora acelerando, ora se segurando e indo mais lentamente. Fazendo carinhos em mim, me dando arrepios quando beijava minha pele, minhas costas, minha nuca. Então, num dado momento eu virei meu rosto levemente para trás, procurando por Guto, para pedir mais um beijo dele. E, fazendo isso, senti um frio angustiante na barriga, vendo ali o Marquinhos seminu encostado na porta do quarto. Ele apenas de bermuda, o zíper aberto, e tocando lentamente seu pau duro, nos olhando fodendo na cama. Ensaiei um protesto procurando Guto com os olhos:
- Mas o que... - e fui calada por ele com um beijo na boca, ele me segurando e não me deixando sair daquela posição.
- Shhh... aproveita meu amor... - disse ele com uma das mãos me abraçando, apalpando meus peitos ainda com o pau dentro da minha bocetinha, fazendo movimentos mais curtos, mas ainda assim me penetrando.
Fiquei mais ainda sem ação, quando Marquinhos se ajoelhou na cama na minha frente, me mostrando aquele pau lindo e grande que ele tinha. Ele puxou a pele toda para trás, o trazendo bem para perto da minha boca, com a glande brilhando e já meio úmida.
- Abre a boquinha... abre Fê! Isso... assim... - e, nem mesmo sabendo porque, eu o recebo também, primeiro meus lábios sentindo seu gosto, e depois a cabeça invadindo minha boca, indo se alojar dentro dela, me trazendo o sabor daquele pau. Eu o chupei, de uma forma meio automático e não consciente, meio que sentindo ser meu dever fazer aquilo.
Vendo aquela cena toda ali na sua frente, eu rebolando com ele me comendo por trás, socando cada vez mais forte e rápido, enquanto via também o pau do Marquinhos entrando e saindo da minha boquinha, Guto não conseguiu mais se controlar, e anunciou urrando:
- Hummm... que delícia... ahhh... vou gozarrr... - e com isso de Guto, me puxou mais forte ainda, enterrando e segurando seu pau dentro de mim lá no fundo, e soltando pelo menos três jatos enormes e quentes da sua porra na minha bocetinha.
Assim que ele me soltou, eu larguei meu corpo também sobre a cama, deitando-me enquanto ainda sentia o esperma dele dentro de mim. Ao mesmo tempo, o Marquinhos saiu do meu lado, também tirando seu pau da minha boca, ficando ele todo babado com a minha saliva. Enquanto se recuperava, Guto se deitou recostado na cama ao meu lado, procurando a minha boca para me dar um beijo, sua língua me explorando, procurando... e sentindo o gosto do pau do amigo, com certeza. Ele me beijava e me apalpava o corpo todo, puxando-me contra ele. Aquilo tudo me causava um conjunto de sensações confusas, eu ainda sentindo o corpo tremendo excitada, não entendendo bem como proceder, a bebida ainda agindo contra minha razão.
E, daquele jeito, deitada de ladinho, abraçada e trocando beijos com o Guto, sinto o Marquinhos se posicionando atrás de mim, mirando a cabeça do pau, agora vestido com uma camisinha, na entradinha da minha bocetinha. Ela estava toda exposta, com meu namorado fazendo questão de afastar minhas nádegas para deixá-la mais abertinha e acessível. Não tive como reagir a tempo, e sinto então o pau dele me penetrando por trás, suas mãos segurando minha bunda, e ele fincando aquele membro grosso e grande de maneira a me preencher por completo, em dois ou três movimentos se encaixando todinho dentro de mim. Finalmente eu me livro do beijo do Guto e consigo com dificuldade protestar, um pedido tímido, misturado a um gemido incontrolável:
- Para... não quero... hummm... para vai...
Marquinhos então se agarra mais a mim, me abraçando com o corpo todo por trás, me fazendo sentir na minha nuca e no meu pescoço seus lábios me beijando, e me procurando, enquanto começava a me comer com gosto, fazendo mais força, fodendo a namorada do amigo... ali na frente dele. O amigo que tinha um brilho nos olhos, que estava adorando me ver sendo usada por ele, daquela forma novamente. Ele me come, metendo cada vez mais forte... cada vez mais gostoso... eu me perco num tesão que me invade, me torturando. Eu quero brigar contra isso, eu quero e não quero ao mesmo tempo. Então Marquinhos me sussurra com uma voz embargada no meu ouvido:
- Hoje você vai dar o cuzinho para a gente, não vai Fernanda? Putinha gostosa...
Naquele momento algo se transformou dentro de mim. A razão começou a voltar de alguma forma a mim, e eu passei a empurrar o Guto primeiro, e com as mãos tentando me livrar do Marquinhos também, por mais engatado e agarrado a mim que ele estivesse.
- Para... Sai, Marquinhos... não quero mais... - e nessa hora, pela primeira vez, a imagem de Beto veio à minha mente. Foram poucos segundos, onde parecia que meu destino com ele dependeria da minha reação àqueles dois. Eu senti vergonha de mim por eu estar me submetendo àquilo, aos desejos deles se sobrepondo aos meus, sendo mais forte do que minha própria autoestima. Eu precisava, de alguma forma parar tudo ali:
- Sai Marquinhos, chega! - e nisso ele para por instantes, assustado com meu tom mais forte de voz, se afastando de mim, seu pau escorregando para fora de mim também com meu movimento de corpo.
- Calma, Fê... o que foi que... - agora era Guto que tentava reverter as coisas.
- SAI! NÃO QUERO, ENTENDEU? - e agora meu grito foi alto mesmo, para todo mundo que pudesse escutar saber mesmo, e acabar de vez com aquela loucura toda.
- Tudo bem, tudo bem... estou saindo fora... Acalma sua mina ai, Guto! - e eu vi, entre lágrimas que já escorriam pelo meu rosto, Marquinhos pegando suas roupas com o pau ainda semirrígido, sentindo a humilhação de vê-lo ainda todo melado dos fluidos roubados da minha boceta. Ele saiu indignado, batendo a porta com alguma força enquanto deixava o quarto, carregando as peças de roupa que tirou.
Abalada por tudo aquilo, eu apenas consegui me enrolar naquela cama, puxando o lençol para cobrir minha vergonha, enquanto chorava abraçada a mim mesma em posição fetal. Procurando sozinha ali encontrar algo em que me apoiar para recuperar um pouco de dignidade. Só o que vinha a minha cabeça era o pensamento de "como ele pode fazer isso comigo... o que o Guto pensa que eu sou?". Eu o olhava agora de costas para mim, vestindo de volta sua roupa, calado, e sem mostrar nenhuma empatia que fosse por mim. Hoje, pensando bem, tenho certeza absoluta de que aquele momento, aquela indiferença por mim, foi onde o meu amor por ele se quebrou por completo, e todo o encanto que algum dia existiu, se foi para sempre.
- Me leva para casa Guto...
- Tá bom. Se veste então, que vou estar lá na sala te esperando. - E ele saiu, fechando a porta do quarto, me deixando sozinha recolhendo minhas roupas e as vestindo humilhada, meus sentimentos destroçados, e eu em cacos.
Ao longo do caminho até em casa, o silêncio imperou durante um bom tempo. Parecíamos dois estranhos, o que aliás agora Guto realmente se mostrava ser para mim. Um estranho, não aquele rapaz pelo qual eu me apaixonei. E quando só o que eu esperava era poder chegar à segurança da minha casa, escuto ele rompendo o silêncio e me perguntando:
- O que está acontecendo, Fê? Você está diferente...
- Nada, Guto. Eu só não queria fazer assim... é isso.
- Mas e lá no chalé? Não vai me dizer que não gostou do que rolou...
- Lá foi diferente, Guto. Tinha também a Luana, foi uma coisa de casal, uma troca...
- Sei...
Mais um bom momento de silêncio, comigo agora tomando a iniciativa de quebrá-lo:
- Guto, você me ama de verdade?
- Lógico Fernanda. Você sabe o quanto eu te curto e te quero.
- Curtir e querer, tudo bem. Mas e amor? Você me ama mesmo?
- Amo sim, Fernanda. Eu te amo, está bom, assim? - ele responde meio contrariado e meio chateado.
- Mas... você não tem ciúmes? De me ver com outros, eles me... pegando na sua frente?
- Não tenho ciúmes, pois eu sei que você é minha. Mas, sei lá, tenho tesão de ver, de dividir você com outros. Eu sinto muito tesão em ver você gozando, comigo e com outro. É isso, entendeu? Coisa minha... sei lá...
- Sinceramente, não sei o que pensar, Guto. Estou confusa...
- Ok, se você não quiser mais, paciência. Damos um tempo, então. Quem sabe você pensa melhor, e aí nos divertimos de novo juntos. Eu sei e você também sabe que, bem lá no fundo, você gosta, não é?
Aquilo que ele disse no final foi o que mais me magoou. Magoou muito, mas eu engoli calada. No fundo, ele estava certo. Eu gostava sim. Mas eu não queria mais, lutava contra mim, queria me corrigir… Eu estava na verdade era carente, queria ser mais amada, tratada com carinho e respeito. Não viver só de tesão e sexo. Por mais que sexo fosse importante para mim, que fosse algo que eu precisasse saciar, e que fosse já quase um vício para mim.
Chegamos finalmente em casa, e nos despedimos com um beijo sem nenhuma vida e ternura, o que nem poderia ser diferente ante o clima que ficou naquela noite. Acabei ficando o domingo sozinha em casa, enfurnada no meu quarto e repensando minha vida. Fiquei mal em muitos momentos, chorei sozinha, me sentia desvalorizada e mal-amada. Depois tentava me reencontrar, escutava música, lia alguma coisa, mas estava difícil desconectar daquilo tudo. Acabei ligando para a Amanda e terminei desabafando minha dor, a insegurança pelo namoro com o Guto, mas sem dar todos os detalhes do ocorrido naquela noite. Cheguei a falar do Beto, e ela acabou aliviando um pouco, recomendando entre brincadeiras que eu desse o golpe do baú e ficasse então com o chefe-riquinho e gostoso.
A nova semana começou, e, voltando para a empresa, Roberto dividiu com todos nós os resultados do congresso do qual participou. Surgiram diversas novas oportunidades de negócios e até mesmo alguns projetos com tratativas iniciadas. Houve felicitações de todos, principalmente do Sr. Fábio, com o qual passou boa parte da manhã traçando as novas estratégias. Sentada perante minha mesa de projetos, eu divaguei por uns instantes, pensando nessa dicotomia que sentia sempre que entrava e saia daqueles dois mundos da minha vida: o emprego ali, e a minha faculdade. E eu comparava inconscientemente, como as coisas fluíam organizadas e seguras ali dentro, enquanto lá fora era tudo improviso e festa. E comparava meus dois homens. O Guto, que via agora como um garoto imaturo e insensível, apesar de muito gostoso. E meu chefe ali na sala dele, um homem feito, cheio de qualidades... e também muito gostoso. Acho que não havia mais muitas dúvidas sobre quem eu escolheria...
Esperei minha chance de felicitá-lo, indo à sua sala mais no meio da tarde quando eu o percebi lá sozinho. Antes tratei de me arrumar um pouco, revendo meu cabelo preso num "rabo de cavalo", e ajeitando minha camiseta e a calça jeans justa que usava no dia, bem ao estilo "universitária". Joguei, então, meu charme novamente, radiando sorrisos e rasgando elogios a ele. Disse-lhe, num jeitinho maroto e safado, que queria muito era dar meus parabéns com um beijo nele naquela hora. Ele respondeu que achava que "não seria muito apropriado", e ambos rimos juntos, mais descontraídos por estamos sozinhos na sala dele sem ninguém por perto:
- Além do que não somos namorados, não é, Fernanda? - ele provocou, recostado na cadeira executivo me olhando de baixo para cima com um sorriso provocador no rosto.
- Por enquanto... Mas eu acho que ainda tenho chances, não é? - e disse isso me sentando na beirada da mesa dele, minha perna ali trazendo um leve toque de sensualidade para a situação, o que foi mais ainda enfatizado pelo meu tom de voz. Ele entrou na brincadeira, e respondeu:
- Bom, você ainda é a primeira da fila... tem chances sim!
- E... tem mais alguém nessa fila?
- Olha, pensando bem... eu acho que não. Mas... é bom você se decidir logo. Nunca se sabe quando alguém pode aparecer, não é? - ele completou rindo.
Eu o fuzilei com o olhar, mas entendi perfeitamente a mensagem. Aquela indireta me atingiu, e deu uma certa abalada no meu mundinho de ficção. Onde eu estava com a cabeça, pensando que ele estaria ali à minha disposição para sempre? Controlando minhas emoções, tentei passar tranquilidade e respondi para ele:
- Hum, acho que não vai dar tempo de fazer fila não....
Ele sorriu e me respondeu:
- Mesmo? Quero só ver...
Eu então me levantei e fui um pouco mais para perto dele, discretamente deixando minha mão escorregar sobre a dele, num leve carinho imperceptível, mas que era carregado de sentido para nós dois.
- Você vai ver. E não vai mais conseguir fugir de mim.
Ele retomou então a postura de chefe, e me repreendeu polidamente, procurando encerrar aquela conversa ali indevida:
- Dona Fernanda, acho que você tem trabalho te esperando em sua mesa, não é?
- Sim chefinho, já estou indo. Logo vai estar tudo pronto, e bem do jeitinho que você mais gosta! - disse isso num tom de malícia e com todo o duplo sentido para aquela situação.
- Sai daqui sua maluca. Antes que me deixe também doido como você - ele me indicou apontando a saída da sala, mas rindo de tudo.
Eu, então, me virei indo em direção à porta, não sem antes voltar o rosto e deixar ali a última palavra, piscando o olho para ele:
- Eu vou te deixar doido sim. Você vai ver!
Depois daquele dia, mais alguns se passaram durante a semana, eu ainda envolvida nas atividades finais do semestre e já ensaiando como terminar o meu namoro com o Guto. Eu pensava em como lidar com a proximidade do aniversário dele, pois seria dali a uma semana. Não queria deixar uma marca assim, mas, por outro lado, cada vez mais meu coração me empurrava para ficar definitivamente com o Beto. O momento não era apropriado, mas eu não tinha mais muita opção, e queria de fato fazer aquilo. Estava já decidida, apenas buscava o melhor momento e pensava em como fazê-lo.
Nesse meio tempo, o departamento de Recursos Humanos da empresa me cobrou alguns documentos que eu estava devendo, e que precisava retirar na minha universidade. Conversei com o Roberto, e assim consegui a dispensa da quinta-feira para resolver essas burocracias e zerar as pendências. Acordei então naquele dia um pouco mais tarde, segui para a universidade lá pelo meio da manhã, buscando pelo prédio administrativo onde eu deveria resolver esse problema, e que ficava defronte ao de ciências biomédicas. Gastei um bom tempo preenchendo formulários e aguardando que me gerassem todos os documentos que precisava.
Ao de lá sair, vi um grupo de estudantes conversando animados, sendo que facilmente reconheci a Luana entre eles. Ela toda de branco, com uma calça justa que de longe destacava suas pernas e aquela bunda perfeita. Fui, então, em direção a ela, que conversava animada com o grupo de colegas:
- Oi Luana! – fui a chamando animada enquanto me aproximava do grupo, chamando a atenção dela.
Ela me olhou e ficou um pouco séria, saindo do grupo de colegas enquanto esses a olhavam comentando algo entre si.
- Já volto gente...
- Oi Luana, tudo bem? Desculpa, mas estava passando por aqui e...
Ele me interrompeu, e, me pegando pelo braço, me levou para longe de onde estava seu grupo de amigos, indicando um lugar mais afastado onde havia, inclusive, alguns bancos para nos sentarmos.
- Fê, vamos conversar ali. É melhor e podemos ficar a sós.
Eu não entendi bem, mas coloquei na conta de que ela pudesse estar magoada pelo que aconteceu, ou que tivesse algo relacionado ao rompimento com o Marquinhos. Enquanto andávamos em direção aos bancos, eu fui pensando no que falar com ela, sem ferir seus sentimentos ou causar algum tipo de mal-estar.
Sentamo-nos nos bancos e eu, meio sem jeito, comecei a puxar uma conversa, explicando o que tinha vindo fazer ali, e que estava, então, estudando no período da noite, por conta do estágio que estava fazendo. Contei da empresa e de como estava entusiasmada com as perspectivas, e tudo mais. Eu falava, mas reparava que ela me escutava quase em silêncio, só concordando comigo e dizendo uma ou outra palavra em anuência ao que eu dizia.
- Luana, olha... você me desculpa... mas sei lá, acho que estou te incomodando com isso, não é?
- Não Fernanda, imagina. Estou feliz que você esteja progredindo na carreira e tudo mais...
- Bom, não queria também que ficasse algum desentendimento por causa do Marquinhos e, você sabe... daquela noite lá no chalé, sabe? Quer dizer, depois daquele final de semana vocês romperam, eu nunca mais te encontrei, e fiquei pensando se...
- Olha Fernanda, você não precisa me dizer nada. Não teve nada a ver com você, ok? - ela me interrompeu meio ríspida, o que me fez me calar, sentindo que havia tocado em algum ponto mais sensível, e que eu não sabia do que se tratava.
Ficamos uns momentos caladas, olhando cada um para suas próprias mãos, pensando no que dizer. Então escutei ela murmurando para si mesma:
- É cada uma em que eu me meto... eu mereço mesmo...
- Lu, desculpa, mais... - e mais uma vez ela me interrompe, agora me olhando nos olhos.
- Fernanda, olha... Vai doer o que vou lhe contar, mas você merece saber toda a verdade. Isso porque você é uma garota legal, eu realmente gostei muito de tudo que vivemos não só naquele dia, mas tudo mais. Queria muito ser sua amiga, senti um carinho especial por você.
- Eu também Lu...
- Então, olha só. Vou contar tudo... e, para começar... meu nome verdadeiro não é Luana, eu me chamo Ana Rita.
- Hã? Como assim...
- Luana é meu nome, digamos... profissional, Fernanda.
- Profissional?
- É... eu sou... eu sou uma garota de programa, Fernanda. É isso. Luana é o nome que uso com meus clientes.
Minha cabeça deu um nó na hora, e eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Cheguei até a imaginar que ela estava me pregando uma peça, brincando comigo. Mas aí fui escutando-a contar toda a história, e fui aceitando e entendendo melhor. Ela havia vindo do interior para estudar Odontologia, mas não tinha muitas condições de se sustentar. A família, de poucas posses, fazia o possível para pagar a faculdade, os materiais, e tudo que ela precisava para morar na cidade. Mas tinham que fazer muitos sacrifícios para isso, o que ela logo descobriu quando conversando com uma prima. Tentou, então, várias formas de ter alguma renda extra na cidade, mas nada dava certo ou era suficiente. Até que acabou descobrindo essa forma, seu último recurso e que relutou muito em aceitar, apenas o tendo feito por não encontrar outra maneira.
Conheceu, por meio de uma amiga em comum, outra garota da universidade que também fazia programas de forma discreta, tendo uma cafetina que a agenciava. Muito atraente, linda e com aquele corpo, não teve dificuldade nenhuma em ser aceita, e logo os programas começaram a aparecer. Não podia recusar nada, e me deu a entender que teve que encarar de tudo, sendo a maioria com homens casados, mas também teve casos com mulheres, casais e até mesmo participou de algumas surubas com altos executivos e por um bom dinheiro, onde era mais do que abusada.
Luana, ou melhor, Ana Rita secou algumas lágrimas enquanto me contava isso, envergonhada das coisas a que teve que se submeter nesse mundo de prostituição, mencionando o namorado de infância que mantinha em sua cidade natal, e com quem conseguia se encontrar a cada 1 ou 2 meses quando visitava a família. Já estavam noivos, e tinham planos para se casar assim que ela voltasse para lá, dentista formada e montando seu consultório. Para o qual, inclusive, já havia comprado quase tudo que precisava. Obviamente, ela mantinha tudo isso em segredo, ninguém sabendo que ela era GP, e muito menos seu namorado. Conseguia justificar o dinheiro para os investimentos com o trabalho de assistente num consultório - o que de fato existia, mas que pagava muito pouco para o sustente de suas necessidades.
- Mas Luana... quer dizer, posso te chamar de Ana Rita?
- Rita. Todos me chamam de Rita, Fê.
- Então Rita... Mas, não estou entendendo. Você tem seu namorado lá, e... ficou com o Marquinhos aqui? Foi isso?
- Não Fê… o Marcos sempre soube o que eu fazia. Ele me conheceu fazendo programa comigo.
- Mas então, tipo... ele aceitou isso e vocês namoraram, mesmo ele sabendo?
- Olha Fe, agora vem a pior parte disso tudo. Meu único amor nessa vida é meu namorado lá na minha cidade. Eu nunca namorei o Marcos. Nosso namoro era tudo mentira, Fernanda.
- Não estou entendendo...
- Tudo não passou de uma armação. Uma armação para levar você para a cama, Fernanda. Você é que sempre foi o alvo, quem eles queriam comer juntos...
- Peraí, Rita... Você disse... eles? Eles... quem?
- Os dois, Fernanda! O Guto e o Marcos que me pagaram para fazer essa palhaçada para te seduzir e fazer você… bom, fazer o que fizemos. Ganhei um bom dinheiro com isso, e consegui finalmente terminar de pagar os equipamentos e saldar a faculdade, e aí eu segui fazendo...
Meu mundo naquele momento desmoronou por completo. Eu não conseguia nem responder o que a Rita continuava me dizendo, pois nada mais escutava saindo da boca dela. O que consegui entender até ali já era mais do que suportaria saber. Ela segurava a minha mão, me apoiando percebendo toda a importância e impacto que saber sobre aquilo tudo causou em mim.
- Fê, eu só estou de dizendo isso tudo porque estou indo embora nas próximas semanas. Eu me formei, e quero agora começar uma vida nova, esquecer essa parte infeliz dela. E acho que alguém lá em cima me trouxe você aqui hoje, para eu poder pelo menos pedir perdão pelo que lhe fizemos. Eu juro, por tudo de mais sagrado, que ter te conhecido foi a única coisa boa nessa história toda. E, sinceramente falando, eu apenas fiz amor nessa vida com duas pessoas: com meu namorado e com você. Naquela noite, quando ficamos as duas juntas, por alguns momentos eu realmente amei você... você é muito especial Fernanda, mesmo!
Duas amigas da Rita se aproximaram, então, de nós, nos levando a disfarçarmos um pouco aquele clima todo.
- Ritinha, estamos indo para o laboratório. Está em cima da hora... Você vem?
- Já vou Ceci. Só mais um minutinho e encontro vocês lá - ela respondeu, com as amigas se afastando em direção ao prédio da Odonto.
Rita então se virou para mim, e, me segurando as duas mãos entre as dela, olhou nos meus olhos dizendo:
- Fernanda, o Guto não é quem você pensa que é... Eles já tinham me pago antes para um programa, acho que quando vocês deram um tempo. Eu acabei indo com os dois para um motel, e bom... não preciso dizer o que rolou. Eu também tenho visto ele saindo com outras garotas em várias noitadas durante a semana, Fê. Olha, a vida é sua. Mas, se eu fosse você, eu largava desse cara. Ele não presta, só quer curtir a vida como filhinho de papai que é, e pegando geral. Eu vi e vejo como você é apaixonada por ele, mas também sei como você é uma garota bacana. Fê, por favor, esquece ele. Tenho certeza de que alguém decente vai aparecer na sua vida.
Falamos mais um pouco, e, então, nos despedimos, nos abraçando com os olhos marejados, e trocando contatos, quem sabe, para ainda viermos a nos encontrar por aí algum dia. Fiquei sentada ali durante um bom tempo, vendo-a primeiro se afastar para cumprir suas obrigações finais no curso, e depois acompanhando as idas e vindas do pessoal da faculdade naquela manhã. Imaginando se suas vidas tinham doses de perversidade assim como a minha. Cada um tem seus problemas, e seus dramas, e certamente o meu não era dos mais difíceis de encarar nessa vida. Existe coisa muito pior e mais dolorida. Mas, naquele momento, aquela dor era só minha e eu não tinha com quem dividir.
Perdi ali um tempo que não sei precisar. Quando consultei meu relógio, verifiquei que já era bem próximo do almoço, e respirando fundo, tive a difícil decisão de partir em direção ao prédio da Veterinária, que ficava alguns quarteirões de onde me encontrava. Naquele horário, ele já deveria estar comendo algo na lanchonete que havia nas imediações. Então, me levantei e me enchi de coragem para finalmente encarar o Guto e acabar com tudo. Se eu não havia me decidido até então, eu tivera o destino fazendo isso por mim. Acabou, não havia mais chance de retorno. Mas eu precisava acabar por mim mesma, devia isso a mim.
Cheguei decidida na faculdade dele, respirando fundo e com tudo planejado do que iria dizer, para acabar com a raça dele. Rsrsrs… Nada mais ilusório! Quando o vi de longe, toda minha coragem desapareceu, e eu me senti frágil novamente, submissa, com medo do domínio que ele exercia sobre mim. Mesmo assim, encontrei um restinho de forças, me inspirando que eu teria agora o Beto para mim, onde eu já sentia que surgia um amor de verdade.
Ele estava sentado numa das mesas de canto, com alguns colegas, a maioria rapazes, e todos conversando e rindo de alguma coisa. Ao me ver chegando, ele sorriu e se levantou admirado por eu estar ali naquele dia e horário, fora do meu trabalho. Ele deu alguns passos em minha direção, ensaiando vir me abraçar, mas não teve tempo disso, comigo já soltando o verbo:
- Quer dizer que a Luana era namoradinha do Marquinhos, não? Não me admira aquele bosta só conseguir namorar pagando uma puta...
O pessoal das mesas ao redor se virou de imediato para olhar para nós, soltando algumas interjeições vendo que a discussão ia ser séria. Gustavo tentou manter a sua pose de gostosão, abrindo os braços olhando para eles sorrindo, e se voltando para mim:
- Não fica chateada meu amor... foi só uma pegadinha, uma brincadeira! - E, se aproximando mais de mim, fala baixinho novamente aquilo que já estava me tirando do sério ouvir da boca suja dele, falando com sarcasmo e dono de si:
- E nós sabemos como você gostou, não é mesmo, minha putinha?
Meu sangue ferveu de vez, e desferi um tapa ardido no rosto dele. Forte como ele era, apenas virou o rosto, quase sem sentir dor. Ele veio então em minha direção, mas eu consegui ser mais rápida, pegando um copo de suco que uma menina bebia na mesa do meu lado, e joguei tudo na cara dele.
- Acabou Gustavo! Não quero te ver nunca mais na minha vida, seu desgraçado... Volta aí para seus amiguinhos. Quero que vocês todos morram seus FDP!
Ele enxugou um pouco da bebida que escorria pelo seu rosto, todos agora ali olhando para nós. Uma tensão no ar, tentando imaginar como ele reagiria a isso… Eu poderia muito bem ter me virado e ido embora naquele instante, mas eu paralisei ante o olhar que ele me deu. Eu sentia meu rosto ardendo, com ódio e dor ao mesmo tempo, mas não consegui me mover.
Ele deu um passo calmo em minha direção e me segurou pelo braço de maneira firme, mas sem machucar. E, então, eu escutei as palavras mais duras e … que nunca imaginei que alguém a quem dediquei tanto amor me diriam algum dia:
- Pode ir, Fernanda. Vai! Mas eu sei que você vai se arrepender e ainda vai querer voltar rastejando para mim um dia. E sabe por quê? Eu te digo, Fernanda. Porque você é o tipo de garota que depende de homem, que não consegue viver sem um macho que te coloque no seu devido lugar… Você sabe que dentro de você há uma vadiazinha que precisa de pica, que vive querendo e precisando gozar, que adora ser usada, e abre as pernas facinho… Você não é uma mulher para se casar e se amar. Você não passa de uma vagabunda refinada, uma mocinha que parece ser família, mas que na verdade nasceu para ser puta. E muito mais puta que a Luana, se você quer saber!
E ele me empurrou, então com um sorriso sarcástico na boca, voltando orgulhoso para a mesa com os colegas. Alguns bochichos aqui e ali, ele obviamente recebendo a solidariedade dos amigos, com algumas risadinhas e comentários misóginos já rolando entre eles, apoiando o jeito que me tratou.
A crueldade dele me quebrou toda, me destruiu totalmente naquele momento. Sem saber como, eu segurei um choro apenas o tempo de conseguir me virar de costas para ele e sair dali correndo, já sentindo as lágrimas escorrendo aos montes pelo meu rosto, molhando minha camisa… Eu queria sumir, queria morrer naquele momento. Escapando por entre os outros estudantes que ali passavam, fui esbarrando em alguns sem querer, que paravam para reclamar, mas logo se calavam vendo o meu estado.
Não me lembro bem, mas quando me vi eu já estava num canto distante dos prédios da faculdade, encostada numa pequena árvore, caída ajoelhada ao lado dela para explodir num choro descontrolado, sozinha, me sentindo desamparada. Eu pedia socorro, mas sem ninguém para me ouvir. As lembranças passaram como flashes na minha cabeça, tudo o que me ocorreu nesses últimos anos, perdida sem saber onde errei, tendo as últimas palavras dele como música de fundo. Palavras que marcaram, machucaram, e abriram chagas no meu coração… me invadindo e me contaminando. Meu mundo e tudo que achei que sabia, em que acreditava, ruiu por completo naquele dia. Parecia que ele me jogara uma maldição… Mas, no fundo, talvez ele vira o que nem mesmo eu havia visto até então em mim.
Ele esfregou na minha cara quem eu realmente era. Minha dor vinha diretamente das palavras dele. Contudo, de quem mais eu sentia vergonha, era de mim mesma. Pela primeira vez eu percebia o que vivia dentro de mim. Eu tinha um espelho da minha alma virado para mim, e eu fiquei muito magoada comigo mesma. A verdade doeu demais...