Parecia um sonho, era mais do que um sonho. Meu doce primo estava me pedindo em casamento, ali, ajoelhado com um sorriso lindo estampado no rosto. Fiquei sem reação, as palavras me faltaram na hora; mas um misto de dor e sofrimento passou pela minha cabeça naquele momento. E se Antônio voltasse a usar drogas, e se ele nunca se recuperasse... Eu iria passar uma vida toda ao lado de alguém que iria me fazer infeliz ? Eu queria um homem que me fizesse sentir feliz, que me passasse segurança. Comecei a chorar e ele percebeu...
-- Poxa amor, por que está chorando ?
-- De emoção! -- Disse tentando disfarçar
-- Não é de emoção Matheus, eu te conheço!
-- Tem razão Antônio... Não é de emoção, é de tristeza!
-- Tristeza ? Por que tristeza Math ?
-- Antônio eu não sei se posso, eu não sei... -- Disse profundamente triste e chorando
Ele veio até mim e me abraçou forte, me abraçou com força, com determinação. Colocou sua mão em meu rosto e limpou as minhas lágrimas. Eu estava com o coração partido!
-- Por que tanta dor nos seus olhos ?
-- Por que eu não sei se vai dar certo; eu não sei se nossa história vai ter um final feliz...
-- Vou fazer o possível e o impossível para que sim! Só me dê uma chance
-- Antônio você me faz muitas promessas, você diz coisas lindas mas basta um problema pra você cair no vício. Eu sinceramente não quero essa vida.
-- Matheus, naqueles 5 meses que eu passei dentro daquela clínica, eu sofri muito, mas também aprendi que a felicidade depende de nós. Só nós podemos mudar o nosso destino, só a nós cabe trilhar caminhos diferentes; e meu caminho é ao seu lado.
-- Eu preciso de um tempo!
-- Matheus! -- Disse Antônio com o semblante totalmente caído
Saí correndo do parque, peguei um ônibus e desabei a chorar. Chorava com uma dor que eu nunca senti em toda minha vida, eu amava Antônio, mas estava inseguro em me casar com ele. Antônio me ligou..
-- Por que você fez isso comigo ? -- Disse ele em lágrimas
-- Eu to arrasado Tony!
-- Você acabou comigo Math
-- Antônio eu...
-- CHEGA! Vou acabar com minha vida... Acabou tudo! Estou dizendo adeus.
-- Antônio o que vai fazer ? Antônio! ANTÔNIO!
A ligação caiu. Entrei em pânico, eu sabia que algo ruim iria acontecer, meu Deus o que eu fiz, agora eu tenho certeza que eu mandei ele pras drogas de vez ou algo muito pior. Me senti um lixo de pessoa!
-- Moço para o ônibus que eu quero descer!
-- Tem que esperar até o próximo ponto moço!
-- PARE O ÔNIBUS, POR FAVOR! -- Disse desesperado
-- Qual o seu problema maluco! -- Falou o motorista resmungando
Desci do ônibus, ligava para Antônio mas dava caixa postal e ele não atendia. Cheguei em casa e fui logo perguntando para os meus tios onde ele estava, mas eles não sabiam.
-- Tia, eu acho que eu fiz uma besteira! -- Disse todo aflito
-- O que querido, conte!
-- Eu acho que eu acabei com o Antônio de vez!
-- O que você fez com ele Matheus ? -- Disse tia Lucy nervosa
-- Eu disse que precisava de um tempo pra pensar em me casar com ele!
-- Matheus, por que fez isso ? Você ama meu filho, por que fez isso! Ele é muito sensível, você tem ideia que você pode por tudo a perder!
-- Desculpa tia, eu não queria magoar ele!
-- Onde ele está ?
-- Eu o deixei no parque!
-- Matheus eu estou muito decepcionada com você! Você não pode brincar com os sentimentos de alguém assim, ainda mais um dependente químico.
-- Tia, por favor, me desculpe!
-- Eu espero que meu filho não tenha feito nenhuma besteira!
Ligamos para Antônio, mas nada... A noite chegou. Eu, tia Lucy e tio João estávamos angustiados pensando no pior... Nisso um telefonema toca, era a Amanda, uma amiga dele, que também é usuária de drogas.
-- Oi! É da casa do Antônio ?
-- É sim, o que aconteceu com ele ? -- Disse tia Lucy apavorada
-- O Antônio está muito mal
-- O que aconteceu com ele ? ME FALA MOÇA!
-- O Antônio teve uma overdose!
-- Overdose ? -- Disse tia Lucy
-- Overdose ? -- Falei a tia Lucy em choque.
-- Sim, vou lhe passar o endereço do hospital.
Tia Lucy me olhou com um olhar de raiva e angústia.
-- Ta satisfeito!?
-- Tia, eu...
-- Você acabou com ele!
-- Tia eu juro que...
-- Vai embora dessa casa Matheus! Eu te amo muito, mas se é pra fazer meu filho sofrer, quero que saia daqui!
-- Tia deixa eu ver o Antônio, eu te imploro! -- Disse chorando.
-- Lucy, você vai expulsar o menino de casa ? -- Disse tio João
-- Vai ser melhor assim, vou lhe dar o dinheiro de um hotel, e você se acomode lá!
-- Tia por tudo que é mais sagrado, deixa eu ver o Antônio! POR FAVOR...
-- NÃO! VOCÊ JÁ FEZ DEMAIS! SAIA DESSA CASA!
Fui até o quarto, fiz minhas malas e deixei a casa de tia Lucy. Fui para um hotel no centro da cidade, estava em pedaços. Não acredito que tia Lucy estava de mal comigo e pior, que ela não me deixou ver o Antônio. Mas a culpa era minha, toda minha. Uma angústia muito forte estava me sufocando, eu estava acabado. Três dias se passaram até então, não tive notícias dele, mas resolvi que iria enfrentar tia Lucy e ir no hospital ver ele, mesmo que ela me odiasse pro resto da sua vida.
HOSPITAL
-- Olá, eu gostaria se saber informações de um paciente internado aqui!
-- Pois não? -- Disse a atendente
-- O nome dele é Antônio Marccheneli
-- Você é da família ?
-- Sou primo dele... E namorado!
-- Ah... ok, mas só a família pode vê-lo senhor!
-- Por favor moça, por tudo que é mais sagrado, deixa eu vê-lo!
-- Senhor...
-- POR FAVOR! -- Disse implorando
-- Ok, eu deixo você ir vê-lo, mas você não pode demorar muito.
-- Muito obrigado moça, eu não sei como te agradecer!
-- Não tem de quê!
NO QUARTO:
Cheguei no quarto e Antônio estava dormindo, respirando com ajuda de uns aparelhos. Fiquei em silêncio e olhei pra ele, eu quase perdi meu Tony, para sempre, por minha culpa. Nisso ele foi acordando...
-- O que você está fazendo aqui ?
-- Oi Tony
-- Veio ver a minha desgraça ? Ótimo! Agora vai embora!
-- Antônio eu...
-- Olha Matheus, essa foi minha última recaída, isso eu te prometo. Eu quase morri, mas vou ser mais forte do que a droga, mesmo que você não me queira, mesmo que eu esteja sozinho. Vou vencer a droga por mim, pelos meus pais, pela minha felicidade. Eu estou cansado de sofrer, mas vou dar a volta por cima!
-- Eu acredito Tony!
-- O que você quer aqui ?
-- Te pedir perdão!
-- Perdão ?
-- Sim, perdão!
-- Uma vez você me disse que amar é nunca ter que pedir perdão
-- É verdade...
-- Eu vou guardar com carinho o que vivemos juntos.
-- Antônio eu pensei, nesses últimos dias que você esteve aqui, eu pensei muito.
-- Pensou no que ?
-- Em nós dois. Eu te amo, eu sou completamente apaixonado por você! Você está em tudo, no ar que eu respiro, nos meus pensamentos, no meu acordar, no meu adormecer, nos beijos que demos apaixonados, em tudo. É com você que eu quero passar minha vida, e agora que eu quase perdi você pra sempre, eu não vou deixar você escapar.
-- Você tem certeza disso ?
-- Sim! Agora tenho total certeza
-- Pense bem! É uma decisão que vai mudar tudo
-- Antônio, eu pensei, e é você que eu quero.
Nisso nos olhamos com carinho, com um olhar doce. Eu o beijei e ele correspondeu com mais amor ainda.
-- Só me prometa que vai largar as drogas.
-- Como eu disse, essa foi a última vez! Eu quase morri Matheus, não quero mais saber disso.
-- Eu quero muito acreditar nisso
-- É real! Essa é a mais pura verdade
Nisso tia Lucy veio chegando mais tio João...
-- O que você está fazendo aqui ?
-- Tia eu...
-- Eu já não pedi pra você não vim visitar o Antônio!
-- Mãe! Para com isso!
-- Antônio...
-- Não briga com ele! A culpa foi minha, foi eu que fiz essa besteira de novo!
-- Mas...
-- Não tem 'mas'. Foi eu que me droguei, eu que tive a overdose. Não desconte suas frustrações em cima do Matheus, ele não tem culpa de nada. Ele não é obrigado a se casar comigo!
-- Tem razão filho; desculpa Matheus... Eu fui muito cruel com você, fiz falso julgamento, te acusei. Me perdoa, me perdoa de coração.
-- Tudo bem tia! Eu sei que você agiu como mãe, protegendo o seu filho.
Nisso ela veio até mim me dando um abraço. Tio João também me abraçou, Antônio olhava com olhar de alívio e felicidade.
-- E quando você vai pra casa filho ? -- Disse tio João
-- O médico disse que amanhã mesmo, pai.
-- Filho eu espero que agora você não usa mais isso, promete pra mim e pra sua mãe. A gente te ama tanto, meu filho se você morresse minha vida iria acabar.
-- Oh papai, não fica triste. Pai, agora acabou! Essa é a última vez que eu uso essa porcaria!
-- E vocês dois ? Quando eu cheguei pareciam que estavam falando alguma coisa.
-- A gente se acertou de vez
-- Que bom! Eu espero que dessa vez seja pra valer
-- Eu vou me casar com seu filho tia Lucy
-- Oh querido, eu fico tão feliz!
-- E eu vou ter um genro-sobrinho -- Disse tio João feliz
Ficamos no quarto até a hora da visita acabar. Eu tinha certeza que agora tudo iria dar certo, lá no fundo, eu sabia que todo o sofrimento, tudo que eu e ele passamos tinha ficado pra trás...
NOVEMBRO DE 2022
O dia do casamento chegou, estava ansioso e muito feliz. Coloquei um terno azul marinho e estava bem bonito. Antônio se arrumava no outro quarto, acho que por ser um casamento gay, não tinha essa neurose de o noivo ver o outro e essas coisas, que dizem que dão azar. Mas eu não arrisquei a ir vê-lo.
-- Você já está pronto ? -- Disse tio João
-- Estou sim tio!
-- Então podemos ir
-- Aí tio, chegou a hora!
-- Que você seja feliz meu filho! Agora você faz parte da família por completo.
-- Obrigado tio! -- Falei dando um abraço nele
Tio João me conduziu até o altar e lá estava me esperando, como um príncipe, o meu Antônio. Ele me olhava com olhar apaixonado. Chegamos ao altar, o cerimonialista conduziu o casamento, até chegar na parte principal:
Cerimonialista: Antônio Marccheneli Santos, você aceita Matheus Albuquerque Marccheneli como seu futuro esposo, na saúde, na doença, na alegria, na felicidade, e em todos os momentos de sua vida ?
[Antônio] - Sim, eu aceito!
Cerimonialista: Matheus Albuquerque Marccheneli, você aceita Antônio Marccheneli Santos como seu futuro esposo, na saúde, na doença, na alegria, na tristeza, e em todos momentos de sua vida ?
[Matheus] - É claro que eu aceito!
Cerimonialista: Então eu os declaro, casados! Podem se beijar
Eu o beijei e todos aplaudiram, estava extremamente feliz e ele também. Era puro amor, pura felicidade. A festa foi um sucesso, dançamos e nos divertimos muito. Saímos da festa e fomos para a lua de mel, escolhemos um resort nas praias do Nordeste. Chegamos lá no dia 30 de Novembro, e adivinhem ? Transamos gostoso no quarto, com aquela vista para o mar exuberante. Ficamos lá até o dia 06 de Dezembro e voltamos para Porto Alegre; Antônio frequentava o Narcóticos Anônimos e fazia tratamento em uma clínica de recuperação de dependentes químicos. Os amigos dele ofereciam drogas pra ele, mas ele recusou todas as vezes, e por conta disso resolveu romper com as antigas amizades. Nos mudamos para um apartamento, começamos uma nova vida, passamos o Natal na casa dos meus tios e tenho certeza que seremos um casal muito feliz.
Em breve posso escrever mais sobre minha história com o Antônio, portanto, isso não é um adeus, mas um até logo. Só estamos começando a nossas vidas. Tenho certeza que o ano de 2023 será de muito amor e felicidade para nós. Essa é a minha história, de como o amor pode mudar vidas, sei que é muito difícil amar um dependente químico, mas não os abandone! No fundo só com o amor é que podemos ajudar essas pessoas. Prometo que assim que eu me ajeitar com Antônio, eu volto aqui e conto como estamos. Até mais!
Matheus Albuquerque Marccheneli