Parece que está tudo dando certo. Depois de hoje, só falta me vingar da Kelly, e eu irei desaparecer. Muito do que eu planejei, infelizmente deu errado, e outras pessoas estão sendo vítimas dessa minha vingança, mas a vida é assim. Eu também sofri muito, sem merecer. Fui vítima de muita desgraça e meu irmãozinho também.
Ao menos, elas poderão reconstruir suas vidas, mas meus pais e irmão não tiveram essa oportunidade. No final, elas ainda estão no lucro. Um pouco de terapia deve resolver, e se algum dia quiserem me procurar pra um acerto de contas, eu irei aceitar, mas a Letícia não existe mais a um bom tempo, assim como a Luara vai deixar de existir também. É uma pena ter que me desfazer desse nome. Minha mãezinha adorava ver a lua e o R de Rodolfo e o A de António em homenagem ao meu pai e irmão formaram esse nome perfeito pra mim. Luara.
Aproveitei que o Armando me deu férias e não irei mais voltar. Eu já estava falando constantemente sobre o intercâmbio, e essa seria a desculpa para sumir da vida de todos. Foi bom enquanto durou namorar o Abel, mas a verdade é que isso nunca daria certo, e embora eu goste dele agora, o início foi só mais uma forma de ficar por perto e até usá-lo para atingir a Kelly, caso fosse necessário.
Demorei a ter acesso a elas sem levantar suspeitas. Primeiro fiz amizade com a Sabrina que era a antiga secretária do Armando. Ficamos amigas de academia e logo descobri que era uma safada que traía o marido. Por quê as pessoas traem? Eu não suporto isso e foi uma das manias que eu peguei do meu Coronel. Consegui armar pra ela, fazendo ela transar com um personal da academia. Emprestei camisinha pra ela, mas antes eu furei elas com alfinete, fazendo com que ela engravidasse. Fiz com que ela saísse do emprego e me colocasse no lugar dela.
Mais tarde ela teve o azar do menino nascer escurinho, da cor do personal. O marido era branco que nem ela, e eles se separaram, mas eu já estava infiltrada e um dia que a Grazi me pediu pra carregar o celular e deixou comigo, enquanto conversava com o Armando, foi quando consegui instalar um app espião e tive acesso a várias informações, inclusive do grupinho secreto delas.
Foi tão fácil que praticamente, só precisei documentar essa putaria, pois elas mesmo se colocavam em risco. Um bando de mulher burra, maluca e com fogo no cu.
Contudo, atingir o Armando, que foi um bom chefe pra mim e sempre me tratou com respeito, mesmo quando eu me insinuei pra ele. Achei que seria uma boa forma de sacanear a Grazi, mas ele nunca cedeu. Fazer isso era errado, mas o que a Grazi fazia com ele também era. Armando merecia saber de tudo e ter uma vida melhor.
Só que eu não posso permitir que um estuprador safado continue a fazer isso com todas essas mulheres. Farei por elas, e não pela Grazi. Por mim, ela podia se ferrar, mas me lembro que na festa, enquanto eu observava todo mundo, eu vi que aquele safado também cobiçava as filhas dela e eu gostei tanto da Regina e se futuramente algo acontecesse a ela porque eu simplesmente deixei rolar, não iria me perdoar nunca.
A Fabi é outra que se envolveu com a pessoa errada. Esse Gabriel é meio psicopata. Ele já sabe de tudo e não faz nada. Já dei o dinheiro a ele, conforme o combinado, mas segundo minhas informações, ele age como se ainda estivesse com a corda no pescoço. Não sei o que ele pretende, mas isso é muito estranho e é melhor ficar de olho nisso.
Vinte e um. Ano que vem farei vinte e um anos. Vinte e um anos de sofrimento e vai ser o número de homens que a Patrícia irá encarar numa noite. Falei com o Marcinho, e ele me garantiu que não haveria estupro, mas por via das dúvidas, eu quis estar presente e assistir tudo.
Afinal, ele me devia porque foi através de meus contatos que possibilitaram que os advogados conseguissem o relaxamento da prisão dele. E se por algum motivo, ele resolver me passar a perna, estaria assinando sua sentença de morte, porque eu não temo a morte, e por isso sempre fui fria nas minhas decisões. A verdade é que a morte iria me libertar de tantas lembranças ruins.
Confesso que ver a Paty, transando com um atrás do outro e com vários ao mesmo tempo, não saciou a minha sede de vingança. Achei que eu iria me deleitar com tal espetáculo, mas uma vez safada, sempre safada. Acho até que ela curtiu a experiência. Como pode uma mulher ter tudo e se rebaixar a isso? Fiquei enojada. Nem quis ver o restante do espetáculo, mas mesmo de longe eu conseguia ouvir seus gemidos de prazer.
Acho que a dor, ela só irá sentir se o marido descobrir. Então eu pensei, e falei com Marcinho, que ela só seria liberada se o marido viesse buscá-la. Ele riu e achou engraçado. Começamos a montar a história que seria dita ao marido dela e vamos ver como ela lida com isso tudo. Veremos se ela sente remorso ou se ela é uma pessoa sem coração. Chegou a hora da Patricinha sofrer.
Coringa - Bom dia, damas. Fiquei sabendo que o baile bombou, mas acho que vocês esqueceram alguma coisa lá e não foi a calcinha hahahaha
Grazi - Onde está a Paty?
Coringa - No mesmo lugar que vocês a abandonaram.
Kelly - O que você fez a ela?
Coringa - Eu não fiz nada.
Grazi - Você é um desgraçado.
Coringa - Vamos parar com esse showzinho e vamos ao que interessa. A Paty está sob custódia do dono do morro, e ele só irá devolvê-la ao marido.
Kelly - Enlouqueceu?
Coringa - Hahahaha ainda não
Grazi - Como faremos isso?
Coringa - Vocês, não. Só a Kelly. Você irá falar com o Leonel para ele ir até o morro de uber. Ele será conduzido até o local determinado, e é só ele não causar problemas que tudo será resolvido.
Grazi - Só isso?
Coringa - Já ia esquecendo, mas nem preciso falar que se vocês chamarem a polícia, o Marcinho não irá gostar e eu nada poderei fazer.
Kelly - OK. Vou agora falar com o Leonel.
Kelly - Como eu vou fazer isso? O Leonel vai surtar. Ele vai querer chamar a polícia.
Grazi - Você vai ter que inventar uma boa história.
Kelly - Quem é boa de inventar histórias é você.
Grazi - Fala que a gente foi ajudar uma pessoa, e deu tudo errado.
Kelly - Você fica aqui com a Fabi, e eu vou lá falar pessoalmente com o Leonel.
Coringa - Boa sorte, Kelly. Depois quero conversar contigo. Adeus, damas e lembranças pra Fabi.
…
…
Meu nome é Leonel e eu sou Pastor numa igreja, e sou marido da Patrícia, como muitos já devem saber. Nosso casamento já teve altos e baixos, como acontece no da maioria. Eu tive uma criação muito rígida pelo meu pai, que também era Pastor, e muitos assuntos, que prefiro chamar de polêmicos ou tabus, não eram discutidos em minha casa e eu até preferia evitar, para não trazer o inimigo pra minha vida.
Quando me casei com Patrícia, ela tinha passado por um forte trauma, e eu a ajudei a superar, primeiramente como pastor, depois como amigo até que nos apaixonamos e nos casamos.
Minha vida é boa, apesar de não ter muita agitação. Não posso me queixar disso. Eu sou filho único, e trabalho na administração de um dos mercados que pertence à minha família.
Escutando as conversas de trabalho de alguns funcionários, eu me dei conta de que o meu casamento, no sentido sexual da coisa, era bem monótono e simples. Resolvi quebrar alguns tabus e me dediquei a melhorar nessa parte, e a Patrícia adorou. Sei que ela já teve outros relacionamentos antes e essa parte mundana devia lhe fazer falta.
O nosso casamento melhorou muito depois que passamos a falar mais sobre isso e a fazer o que falávamos. Nossa cumplicidade ficou cada vez melhor, e agora eu me sinto um outro homem.
Tudo estava indo bem, até que a Kelly apareceu lá em casa, e eu senti que alguma coisa ruim tinha acontecido, porque achei que a Patrícia estaria com ela.
Leonel - Kelly, onde está a Patrícia?
Kelly - Léo, eu tenho que te contar uma coisa, mas nem sei como começar. Você vai ter que ser forte agora.
Leonel - O que houve com minha esposa, Kelly? Ela morreu?
Kelly - Não, Léo. Vira essa boca pra lá. Ela está em perigo, sim, mas nós iremos salvá-la.
Leonel - ME CONTA LOGO, KELLY!
Kelly - Calma, Leonel. Precisamos ficar calmos. A Paty está na favela.
Leonel - Favela? Como assim? Você disse que ela estava na casa da amiga de vocês se curando de um porre. Como é que agora ela está na favela?
Kelly - Ela dormiu na favela, Léo. A gente foi ajudar uma amiga que mora na favela e que apanha do marido. A gente foi resgatar a garota, mas tudo deu errado. Apareceram uns traficantes, e a gente acabou se perdeu dela no meio da confusão.
Leonel - Ai, Meu Deus. O que iremos fazer? Vou ligar agora pra polícia.
Kelly - NÃO, LÉO! Me escuta! A gente não quis falar ontem contigo, porque achamos que conseguiríamos resolver ainda de madrugada.
Leonel - Eu vou ligar pra polícia.
Kelly - Se você ligar vai ser pior. Presta atenção! A gente conseguiu falar com uma pessoa da favela, e o traficante que está com sua esposa, vai soltá-la, mas ele disse que só fará isso se o marido for lá pessoalmente.
Leonel - Então, vamos.
Kelly - Eu não posso ir. Foi ordenado que você fosse sozinho.
Leonel - Eu nunca entrei numa favela.
Kelly - Não vai ter erro. Só você chegar lá, que vai dar tudo certo. Você não confia em Deus, homem?
Leonel - Confio, sim.
Kelly - Então vai lá agora. Qualquer coisa, mantenha contato.
Me despedi da Kelly, e peguei um uber, pois assim foi recomendado. Minha cabeça estava a mil. Eu não tinha uma notícia da Patrícia. Seu celular agora estava desligado, provavelmente sem bateria.
Pelos meus cálculos, ela ainda não tinha 24 horas de desaparecimento, mas mesmo assim era muito preocupante. Eu estava suando frio, e com muito medo de ter acontecido uma tragédia. Eu só conseguia rezar. Pedia a Deus que ela estivesse viva e bem.
Cheguei na entrada da comunidade e imediatamente fui abordado por três homens armados. Morrendo de medo, comecei a suar frio, e acho até que eu senti minha pressão caindo e quando um daqueles homens armados falou comigo, meu sangue gelou.
Homem - Pode voltar tiozin! Mete o pé!
Leonel - Eu vim falar com o dono do morro. Ele está me esperando. Meu nome é Leo.
Homem - Para de caô tiozin! Vaza daqui! Rala peito!
Leonel - Eu vim buscar minha esposa Patrícia que se perdeu aqui.
Os três se entreolharam e foram mais pra trás cochichando, mas sempre de olho em mim. Eu estava com muito medo e sempre que me olhavam eu suava frio e engolia a seco. Um deles pegou um rádio e falou alguma coisa que não dava pra entender. Em seguida, vi que os três estavam mais relaxados e até rindo. Vieram em minha direção e um deles disse:
Homem - Desculpa Doutô, mas é que noiz nunca te viu por aqui e sabe como é... Noiz tá responsável aqui na contenção.
Leonel - Sem problemas. Eu só quero pegar minha esposa e ir embora. Como eu faço pra chegar lá?
Homem - Relaxa Doutô… Desce do uber, que um mototáxi já está vindo pra te levar, mas antes noiz vai revistar o Doutô. É coisa rápida que noiz faz isso com geral, tá ligado?
Desci do carro e me submeti à revista. Foi o tempo do mototáxi chegar, e lhe disseram onde tinha que me levar. Fomos subindo e passando por ruas sinuosas e ladeiras também. Se não fosse dessa forma, eu nunca chegaria até lá, porque o caminho era bem confuso. Em minhas veias, o meu sangue era gelado, tamanho o medo. Nunca vi tantas armas na minha vida. Era como se eu estivesse num filme de guerra e o meu medo aumentava e se transformava em pânico. Acho que em minhas veias, não corriam mais sangue pois estavam geladas como se tivessem transformado em água, mas agradeci a Deus por tudo estar se encaminhando e por eu ainda estar vivo. Fui orando por todo o caminho.
Depois de uns 10 minutos, chegamos num local com algumas casas e um terreno baldio. O mototáxi disse que era aqui, e foi embora. Fiquei ali meio perdido sem saber o que fazer, quando apareceu um cara negro de mais de 2mt de altura e quando abriu a boca, sua voz era como se fosse um trovão e ela me causava pânico. Meu sangue era água fria que me congelava a alma.
Homem - Aguarda só um instante que você já vai ser atendido.
Leonel - Minha esposa está bem? Onde ela está?
Ele não me respondeu nada e entrou na casa. Fiquei ali olhando em volta e vi um monte de galinhas e alguns galos num terreno baldio. Eles ficavam cacarejando e fazendo muito barulho. Dois desses galos vieram em minha direção e eu tentei espantá-los, porém em vão. Eles continuavam a ciscar pro meu lado e eu pisava no chão pra espantá-los, mas não surtia efeito e isso estava começando a me deixar nervoso e ansioso. O tempo passava, e eu ali esperando. Onde está a Patrícia? Por que essa demora? Já se passaram 15 minutos e nada.
Tentei controlar minha ansiedade através da oração. Estava tentando orar, mas o barulho dos galos não me deixava em paz. E durante esse momento de stress, acabei pegando uma pedra e joguei num dos galos. Lógico que eu não mirei pra acertar. Eu sou um cara da paz. Nunca maltratei uma formiga, quanto mais um galo. Peguei outra pedra e mirei próximo ao outro galo, mas eles continuavam a voltar. Parece que sabiam que eu estava com medo e queriam atormentar a minha vida. Quando fui pegar a terceira pedra pra jogar no galo, o negro alto retorna com um revólver apontando pra minha cabeça e com sua voz de trovão.
Homem - Que porra é essa ? Não admito crueldade com os animais.
Só aquela voz do trovão já seria o bastante pra me intimidar ainda mais pelo jeito que ele falou, mas a visão de uma arma apontada para a minha cabeça me fez quase borrar as minhas calças.
Leonel - Calma! Vamos conversar. Eu não ia jogar pedra neles.
Homem - Eu vi quando jogou a outra. Para de caô. Acha que pode vir aqui na comunidade e fazer o que quer só porque tem dinheiro e é granfino?
Leonel - Qual o seu nome, rapaz?
Homem - Montanha.
Leonel - Então, Montanha... Eu sou pastor. Sou da paz. Sou temente a Deus e não faço mal aos animais.
Montanha - Eu vi lá de dentro que você tacou uma pedra no Roberto Carlos. O que ele te fez, pra ganhar uma pedrada?
Não sabia o que dizer. Eu estava paralisado. Eu não tinha coragem pra abrir sequer a boca.
Montanha - Responde, doutô!
Leonel - Ele não fez nada. É que estou ansioso pra ter notícias da minha esposa, e levá-la embora pra casa.
Montanha - Ok, mas o Doutô vai ter que pedir desculpas.
Leonel - Tudo bem! Desculpa por ter jogado pedra no galo.
Montanha - Roberto Carlos.
Leonel - Isso! Desculpa por ter jogado pedra no Roberto Carlos. Tudo bem agora?
Montanha - Não. Você não tem que me pedir desculpas. Você não fez nada pra mim. Tem que pedir desculpas ao Roberto Carlos.
Eu olhei pra ele sem acreditar no que estava acontecendo. Era sério isso?
Montanha - Vai lá, Doutô. Vai lá pedir desculpas ao Roberto Carlos.
Era o fim da picada, mas parecia ser sério. Pedir desculpas a um galo, era muita loucura, mas o Montanha era enorme e estava armado. E eu precisaria de 21 Leoneis pra dar conta de um Montanha. Que loucura! Será que ele está sob efeito de drogas... Decidi ir até o galo Roberto Carlos.
Leonel - Me desculpe, Roberto Carlos, por ter jogado pedra em você. Me perdoe...
Voltei pra perto do Montanha e disse:
Leonel - Tudo bem agora?
Montanha - Ainda não.
Leonel - Mas eu já pedi desculpas.
Montanha - Ele te desculpou?
Leonel - Não sei. Ele é um galo.
Montanha - Tem que pedir desculpas até ele aceitar.
Fui novamente em direção ao galo e quando ia pedir desculpas novamente, o Montanha falou rindo.
Montanha - Relaxa Doutô. Tô de zuera contigo. Hahahahahaha. Precisava ver a sua cara.
Por dois segundos senti o meu sangue voltar a aquecer o meu corpo. Fiquei com raiva, mas ao olhar o Montanha segurando a arma e vendo que ali próximo outros também estavam observando e segurando armas, me fez aceitar que o medo me visitasse novamente.
Leonel - Onde já se viu brincar numa hora dessas....
Falei isso baixinho. Deixei escapar, mas o Montanha ouviu.
Montanha - Doutô, desculpa a sacanagem, mas vou te contar uma parada. Se liga, que o bagulho é doido. Senta aqui comigo.
Leonel - O que houve? Por que o Marcinho não aparece, e nem a minha esposa.
Montanha - Calma, ele deve estar finalizando ela.
Leonel - Finalizando? O que é isso? O que significa isso?
Montanha - Vou te contar o que aconteceu, mas se o Doutô quiser, o Marcinho depois vai te explicar melhor. Ele está finalizando com ela, orientando o que ela deve ou não falar pra polícia e no hospital.
Leonel - Meu Deus!!! O que aconteceu?
Montanha - Parece que ela subiu aqui no Morro com algumas amigas, pra fazer sei lá o que. Ontem era dia de baile aqui, e estava lotado. Desconfio que algum safado ofereceu alguma bebida batizada pra sua esposa e ela acabou se perdendo das amigas e ao que tudo indica, foi estuprada.
Leonel - Não pode ser... O que fizeram com minha esposa? Coitada dela!
Comecei a chorar que nem uma criança. Montanha ficou me observando e por algum motivo continuava segurando a arma e apontando pra mim.
Montanha - Pois é, Doutô. O mundo é cruel. Amassaram ela, e não foi só um não. Parece que foram uns 4 ou 5.
O choro agora estava misturado a soluços. Montanha dava tapinhas nas minhas costas.
Montanha - Judiaram tanto da princesa, que ela está com medo e vergonha de te encarar.
Princesa? Pensei numa coisa, mas a tristeza e o medo não me deixavam pensar com clareza e eu só queria pegar a Patrícia e sair com ela dali com vida.
Leonel - Quanta dor ela deve estar sentindo? Não posso nem imaginar...
Montanha - Então cuida bem da sua esposa, e leva ela num hospital pra fazer uns exames. Sabe como é... Esses caras só trepam no pêlo, porque detestam usar capa.
Leonel - Eu sou da paz, mas esses monstros têm que pagar pelo que fizeram.
Montanha - Sim! Com certeza. Essa parte pode deixar com a gente. O Marcinho vai explicar pro Doutô.
Nisso, escutei alguns gemidos e reconheci que eram da minha esposa. Eu olho pro Montanha, e me levanto pra entrar na casa. Ele me segura.
Montanha - Calma, Doutô.
Leonel - Minha esposa está gemendo. Ela precisa de ajuda.
Montanha - Ela está com o Marcinho e a Irene. Com certeza está sendo bem cuidada. Relaxa e fica aí aguardando, Doutô.
Logo em seguida, uma mulher sai da casa e me diz:
Irene - Cuida bem dela que ela vai precisar.
Leonel - Eu ouvi gemidos dela agora pouco. O que está acontecendo? Eu quero entrar.
Irene - Ela já está vindo. Marcinho está trazendo ela. Além do estupro, ainda bateram um pouco nela, e alguns hematomas apareceram, mas eu cuidei do jeito que dava. Por isso ela gemeu, porque ainda está dolorido.
Leonel - Coitada dela. Por quê Deus não ajudou minha esposa?
Irene - Mas nós ajudamos. Cuidamos dela e alimentamos ela com bastante proteína e muito líquido pra mantê-la hidratada.
Logo em seguida, aparecem na porta minha esposa com aquela figura magrela e estranha de cabelo descolorido.
Leonel - Patricia!!! Meu amor, eu sinto muito.
Patricia, de cabeça baixa, começou a chorar.
Marcinho - Doutô, seguinte... Sua mulher foi currada num barracão. Quando noiz soube que uma madame estava sendo amassada aqui na nossa comunidade, eu fiquei boladaço. Chamei o Montanha, e a gente foi revirar o morro. Isso é ruim pro meu negócio, porque não quero polícia entrando no morro, fazendo busca aqui, tá ligado? E além disso não admito fazer ruindade assim com mulher. Fui ligeiro e dei meus pulos. Consegui achar sua esposa e demos o bote nos safados, antes de esculacharem ela. Eram uns 4, talvez 5, não sei dizer, por causa de que estava escuro e eles meteram o pé na confusão.
Leonel - Malditos desgraçados...
Marcinho - Vem comigo aqui Doutô. Vou te mostrar uma paradinha aqui.
Acompanhei Marcinho até o terreno baldio e lá eu vi 3 corpos de homens amontoados e ensanguentados.
Marcinho - Ali ó... Como eu disse, eu não permito ruindade com mulher aqui no morro não. Eu passei um, e o Montanha passou os outros dois. O outro fugiu, mas levou pipoco. Deve estar bem machucado e entocado em algum lugar. E pode ser que tenha um outro. Noiz vai achar eles, Doutô. Pode ficar tranquilo.
Leonel - Obrigado, Marcinho, mas não precisava matar. Era só levar pra polícia.
Marcinho - Que isso Doutô! Aqui a justiça é assim, se não vira bagunça. E vou mandar um papo reto pra tu. Não bota polícia na parada, se não vai dar ruim... Ninguém precisa saber o que aconteceu aqui. Tua mulher já sofreu muito e noiz vai cuidar do restante, mas se o Doutô for na polícia, noiz vai se defender. Um dos safados filmou tudinho que fizeram com ela e se a polícia aparecer aqui, esse filme vai rodar no zap zap de todo mundo. Sem polícia, tá ligado?
Leonel - Está bem, Marcinho. Sem polícia.
Marcinho - Agora eu vou chamar um carro aqui, que vai levar vocês até a entrada. Desculpa qualquer coisa aí, mas no morro tem gente boa e gente ruim também.
Voltamos até a casa, e eu segurei a mão da Patrícia. Ela continuava de cabeça baixa, e não me olhava.
Marcinho - Já pedi o carro. Eu vou voltar pra dentro e tratar de outro assunto.
Leonel - Obrigado Marcinho. Valeu mesmo.
Marcinho - Você tem que agradecer o Montanha. Foi ele que cuidou da sua mulher e fez de tudo. Se não fosse o Montanha, ela tava fudida, desculpa aí o palavrão, Doutô.
Leonel - Muito obrigado, Montanha. Faço questão de te pagar uma recompensa.
Montanha - Não precisa Doutô. Deixa disso...
Leonel - Não tem nada que eu possa fazer? Quero te recompensar.
Montanha - Bem Doutô, tem uma coisa, mas acho melhor não. Melhor deixar quieto.
Leonel - Pode falar Montanha. Tu além de salvar minha esposa, ainda pegou 2 desses malditos.
Montanha - Eu fico sem jeito, mas eu nunca vi uma mulher tão linda como a do Doutô. Eu queria só ganhar um beijo dela, mas só se ela estiver a fim.
Nessa hora, minha esposa olha assustada pro Montanha e pela primeira vez olha pra mim e logo abaixa a cabeça novamente. Eu fiquei meio atônito com esse pedido, mas o Montanha foi o salvador da minha esposa e era só um beijo. Provavelmente nunca mais nos veríamos de novo.
Leonel - Bem, acho que você merece, mas é a Patrícia quem sabe...
Paty - Eu não sei... Eu só quero ir embora daqui.
Leonel - Vai ser só um beijo meu amor. Você deve sua vida a ele.
Paty - Ok
Patricia vai até o Montanha e ele se abaixa um pouco para ganhar o beijo. Ela fica ao seu lado e lhe dá um beijo em sua bochecha.
Montanha - Na bochecha princesa? Eu queria na boca...
Leonel - Pô Montanha. Aí você me complica. Beijar a minha esposa na boca?
Paty - Eu beijo, mas você tem que ficar de costas. Não quero que você me veja fazendo isso. Já estou muito envergonhada com tudo o que aconteceu.
Leonel - Tudo bem, mozinho.
Só me restava consentir. Afinal, era só um beijo. Fiquei de costas, mas não resisti e olhei de rabo de olho. Ela olhou pra mim e disse que eu estava olhando. Eu disse que era impressão dela. Então o beijo aconteceu. Parecia beijo de novela. Montanha abocanhou minha mulher, e eu tive que tossir um pouco pra que parassem, e ela assustada desencostou dele. Tive a impressão que a mão dela estava próxima da cintura dele, mas acho que era só impressão. Provavelmente era só o ângulo. O carro chegou, e entramos nele.
Irene - Tchau 21. Vai com Deus.
21? Não entendi isso. Fomos embora no banco de trás, mas afastados. Patricia continuava de cabeça baixa sem falar direito comigo. O trauma foi muito grande, e vi que sua recuperação poderia ser lenta.
Leonel - Não se preocupe amor. Vou cuidar de você. Deus vai nos dar forças para superar isso.
Olhei pra ela, e lágrimas rolaram de seus olhos.
Paty - Eu sei. Eu te amo.
…
…
Enquanto isso, eu estava escondida na casa do Marcinho, e saí da casa para ir embora.
Marcinho - E aí, Madame? Tudo certo? Gostou das tatoos? Pena que só deu tempo de fazer uma, mas o restante com henna vai durar uns dez dias mais ou menos. Estamos quites?
Luara - Sim, se você esquecer que me conhece.
Marcinho - Eu acho que mereço mais…Você viu que a gente tratou da sua amiga direitinho.
Luara - O combinado não foi esse. Com um simples telefonema, você volta pra cadeia.
Marcinho - Agora que estou aqui, a polícia não me pega mais.
Luara - Da mesma forma que eu tirei você da cadeia, posso tirar alguns outros de lá que são seus inimigos. Imagina iniciar uma guerra aqui por causa de disputa de ponto. Acha que vale a pena correr um risco desnecessário?
Marcinho - Vá embora do meu morro. E nunca mais coloque os pés aqui.
Luara - Já irei. Quero só uma palavrinha com o Montanha.
Montanha - Você viu que corno otário? Acreditou na história do estupro. Que manezão!
Luara - A história era boa… E se um dia você quiser sair do morro, e trabalhar pra mim, procure esse advogado. Gostei muito de como você lida com as coisas.
Montanha - Foi mal, madame! Eu sou do morro. Não saberia viver longe daqui.
Marcinho - Porra Irene! Tu tá de sacanagem? Deu tudo certo, e você quer cagar na saída?
Irene - Desculpa Marcinho. Não resisti. Afinal, não é todo dia que a gente vê uma Patricinha aguentar 21 homens. Aquela lá gosta mesmo de piru. Eu contei viu? Vocês bateram recorde dessa vez...
Marcinho - Montanha, você é outro maluco. Pedir pro corno um beijo da esposa e ainda pegar a mão dela e botar pra segurar na sua jeba. Vocês são uns comédia. Tão a fim de me fudê...
Montanha só sabia rir.
Montanha - Ô Patrão. Vamo tirar a rapaziada do castigo.
Montanha e Marcinho caminharam até o terreno baldio, enquanto Irene voltava pra dentro da casa. Fiquei olhando para o morro, pensando na Patrícia, e no que ela passou. Senti pena do marido, que não merece a esposa que tem, mas agora faltava só a Kelly, e depois eu iria sumir.
Marcinho - Aê malandragem! Podem parar de se fingir de morto. Ou será que vocês gostaram de ficar juntinho? Tô entendendo isso não...
Montanha gargalhava agora.
Homem - Coé Patrão... Nós não morde a fronha não. Tá estranhando a gente?
Montanha - Simbora malandragem. Se limpem, e voltem aos seus postos. Chega de descanso que vocês já comeram um filézin ontem. Tá bom né?
Os 3 se levantaram e foram em direção a casa. Marcinho e Montanha também foram e deram uma última olhada pra mim. Eu mandei um beijo debochado pra eles e fui embora, mas antes disso, ainda ouvi um galo cantar e logo em seguida ouvi aquela gargalhada. Olhei pra trás e o tal galo Roberto Carlos cantou novamente e Montanha deu mais uma gargalhada. Desci o morro com um sorriso e um prazer indescritível.