Ano Novo: Dor e Paixão

Um conto erótico de Al-Bukowski
Categoria: Heterossexual
Contém 11433 palavras
Data: 31/12/2022 16:40:04
Última revisão: 03/08/2024 10:36:20

Alemanha, dezembro de 1944

A situação da Alemanha de Hitler, ao final de 1944, começava a se tornar desesperadora. As gigantescas tropas russas vinham marchando de forma avassaladora na frente oriental, empurrando sem piedade as divisões alemãs para dentro do território alemão. Por sua vez, no lado ocidental as forças aliadas haviam recuperado os territórios ocupados na França e nos Países Baixos, e pressionavam as fronteiras germânicas em direção à invasão final que levaria à derrota nazista. O objetivo era romper de vez essa linha de defesa até a virada do ano, ganhando uma posição estratégica para quando o inverno acabasse.

Ethan Growe era o sargento do 34o pelotão de infantaria, que fazia parte da 3a divisão do exército americano. Estava na Europa desde a invasão da Normandia, no dia D em 6 de junho de 1944, sempre atuando na vanguarda das divisões de ataque. Perdera a conta de quantas missões já conduzira nesse tempo todo, mas podia afirmar, com certeza, que haviam derrotado o inimigo na grande maioria dos embates, chegando a centenas os inimigos que abatera com seu rifle de assalto.

Nesse momento, contudo, nada disso importava para ele. A atenção de Ethan estava toda focada no objetivo de ocupar uma posição estratégica de defesa para poder proteger o avanço das divisões aliadas na região de Aachen. E nela, a pequena cidade alemã de Zaussburg era vital para essa ação. Sempre ciente da força e periculosidade do exército alemão, eles avançavam lentamente, flanqueando a pequena colina que deveriam ocupar para ter visão e cobertura de todo o vale onde a cidade se localizava. Era notória ainda a resistência alemã, e qualquer descuido poderia ser a chance que eles esperavam para aplicar alguma emboscada que brecasse aquele avanço.

#Ethan

O dia de hoje amanheceu um pouco mais claro, mesmo com o inverno se intensificando cada vez mais. Isso facilitava nossos passos, mas também nos deixava mais expostos a algum contragolpe dos alemães. Nossa inteligência confirmara que o inimigo recuara para uma posição defensiva, reagrupando-se a cerca de 50km a oeste de onde estávamos. Mesmo assim, eles tinham por prática deixar alguns comandos a cargo de ações de resistência e bloqueio, visando nos causar baixas e atrasar o que conseguissem em nossos movimentos. Por esse motivo, mantínhamos todos os nossos sentidos em alerta para qualquer situação suspeita.

Atingimos o cume da pequena colina, ainda ocultos pela vegetação da pequena mata que a circunda. Já conseguimos, de nossa posição, vislumbrar a casa modesta dessa pequena propriedade rural, sua estrutura toda bem judiada, necessitando de muita manutenção. É uma típica construção alemã, com um celeiro parcialmente destruído e algumas áreas mal cercadas com restos de plantações.

Dou a ordem para que Wilson e Adam contornem a área, verificando se é seguro nosso movimento para a tomada da casa. Apesar de pequena, sua posição é estratégica para nossa missão, uma vez que daqui temos uma visada de muitos quilômetros ao longo de todo o vale de Zaussburg; para onde as divisões de infantaria e blindados estão se movendo, e planejam montar uma base de operações para o ataque principal contra os alemães aqui na região.

Vejo quando Wilson alcança uma das laterais da casa, ao mesmo tempo em que Adam já havia circulado pelo outro flanco, e nos sinalizava positivamente não ter encontrado nenhuma resistência ou ameaça. Sinalizo para o restante dos meus soldados me seguirem, avançando rápido e dispersos para a entrada frontal da casa.

Busco ter uma melhor visão do interior da casa, por uma fresta de uma janela parcialmente coberta por tábuas pregadas, numa tentativa de proteger os vidros que ainda resistem inteiros. Esse momento é sempre tenso, pois não foram poucas as vezes em que perdemos bons homens em investidas como essa, e que escondiam emboscadas preparadas pelos alemães.

Dou o sinal para Wilson, que, com uma forte botinada, quebra o fecho da porta, nos permitindo entrar de surpresa e com força total, com os rifles de assalto em riste, e fazendo varredura contra qualquer ameaça que pudéssemos lá encontrar. Estou logo a frente nesse movimento, com meus soldados se dispersando rápido pelos poucos cômodos da casa, e sigo para uma das portas à direita do que seria a sala principal por onde entramos.

Aponto minha arma pelo vão da porta semiaberta, protegendo-me contra a parede de seu batente para não expor meu corpo a alguma rajada de tiros de algum eventual inimigo lá entocado. Abrindo-a com cuidado, vou entrando devagar no quarto, até poder me projetar para o seu interior, sendo surpreendido pelo que lá encontro. Quatro mulheres, encolhidas e abraçadas entre si, num dos cantos do quarto, que me olham assustadas e trêmulas.

Mesmo sob a minha mira, a mais velha delas se vira lentamente, erguendo suas mãos para o alto em sinal de rendição. Ela se coloca à frente, como que protegendo as mais novas e que permanecem chorando trêmulas atrás de si. Não entendo o que ela diz, mas fica claro que está se entregando, pedindo piedade e que não lhes faça mal:

- Freund, freund! Kein Mann hier!

(Amiga, amiga! Nenhum homem aqui!)

Recolho o meu rifle no limite do bom senso, ainda engatilhado e preparado para alguma ação. Mas a verdade é que fiquei um bom tempo hipnotizado por aqueles olhos azuis, que me olhavam carregados de medo e sofrimento. Adam se aproxima de mim, me dando cobertura, e me fazendo sair daquela comoção. Então me movo em direção a ela, bem devagar para não lhe assustar, e abaixo uma de suas mãos, sinalizando que estava tudo bem. Ela respira aliviada, manchas de suas lágrimas marcando seu rosto. Seu olhar continua atento em mim, enquanto é abraçada pelas garotas que se moveram vindo detrás dela.

Reparo, num olhar rápido, que todas usam roupas velhas e amarrotadas, quase trapos brutos e improvisados, mas com perceptível carinho na costura. Há um ou outro detalhe mais delicado aparecendo, tentando dar alguma beleza quase impossível àquelas roupas feias, e provavelmente servindo de consolo para o espírito e o corpo calejados, cansados e maltratados daquelas mulheres.

#Evelyn

Já sabíamos que algo estava ocorrendo nas últimas semanas, pelo movimento intenso de nossas tropas preparando a retirada da cidade. Os rumores eram de que os exércitos americanos estavam nos derrotando na frente de batalha, e avançavam rapidamente, não sendo mais possível garantir que Zaussburg ficasse sob domínio alemão. Eu agradecia e rogava aos céus que isso fosse verdade, esperando por uma libertação do jugo nazista que sonhava há muito, mais precisamente desde pouco antes do início da guerra.

Hoje, como sempre, estávamos preparando algumas sobras de alimento do pouco que conseguimos preservar para enfrentar o inverno. Estava muito preocupada, pois nem mesmo na cidade havia mais como conseguir alguma comida, ainda mais com a partida das tropas. Vivíamos, na maior parte do tempo, do pouco que nossa horta nos provia, quase sempre batatas e alguns parcos legumes. Fazia tempo que não sabíamos o que era uma carne, depois que anos atrás roubaram as últimas porquinhas que ainda mantínhamos escondidas, e que foram uma fonte importante de comida para mim e minhas filhas no início do conflito. Enquanto a Alemanha ganhava a guerra, não tínhamos fartura, mas ao menos os gêneros essenciais eram fornecidos. Mas tudo piorou com a virada dos acontecimentos no último ano, tanto na frente oriental, com a contraofensiva dos russos, como na ocidental, com a chegada dos americanos. Agora, além dos soldados, apenas os agraciados do partido nazista ainda conseguiam algum acesso a mantimentos. Enquanto isso, o restante da população tentava sobreviver como podia no dia após dia, no chamado "esforço de guerra".

Minha filha do meio, Mia, havia saído, pela manhã, para coletar pedaços de madeira na mata para podermos usar em nosso velho fogão a lenha, praticamente o único conforto que ainda tínhamos em casa; e nossa principal arma para enfrentar o inverno que se intensificava. Enquanto isso, Heidi, minha caçula, me ajudava descascando uma porção de batatas que dividiríamos mais tarde, provavelmente na única refeição do dia. Nem bem começamos nossa tarefa e Mia retornou assustada e ofegante, dizendo que havia avistado soldados não alemães se embrenhando na mata. Tomando muito cuidado, e se valendo do conhecimento que tinha de todas as trilhas e atalhos naquele entorno, ela conseguiu passar desapercebida, e assim voltou correndo para casa.

Sem saber bem o que esperar, e mais uma vez temendo por nossas vidas, chamei também Norma, minha filha mais velha que limpava os fundos da casa. Tratamos de recolher rapidamente as poucas peças de roupa que secavam no varal, na esperança de que eles não se interessassem por nossa pequena casa, que pouco ou nada teria a lhes oferecer. Trancamos tudo, e ficamos à espreita, assustadas e rezando para nosso ingênuo plano dar certo. Contudo, os soldados, que identificamos pelo uniforme serem americanos, vieram para nosso lado, e nos desesperamos ao ver dois deles cercando a casa, agora sabendo que iriam invadi-la. Não havia mais o que fazer, de maneira que fomos as quatro para dentro do meu quarto, e ficando escondidas e abraçadas rezando, pedindo para sermos poupadas.

Escutamos, então, quando eles estouraram a porta da frente, e os passos pesados das botas invadindo a casa ecoaram como que marcando o que poderia ser os últimos momentos de nossas vidas. Eu apenas consegui abraçar minhas filhas, esperando pelo pior, no consolo de ter a visão dos rostos delas como a última da minha existência. Assim que aquele soldado completamente armado rompeu pela porta do meu quarto, não sei como, mas num instinto de sobrevivência, me postei à frente delas, mesmo sabendo que meu corpo não poderia as proteger da arma apontada por ele, que parou me observando, e senhor de nossos destinos.

Agora, sob a mira do rifle dele e olhando em seus olhos, eu imploro por nossas vidas. E faço isso ao mesmo tempo em que minhas memórias voltam para a primavera de 40. Época de uma Alemanha pujante, em franca expansão depois da conquista da Polônia e da anexação de diversos territórios a oeste. A guerra total já era inevitável, e Hitler movia seus exércitos para o oeste, iniciando as operações para invasão da Bélgica, Holanda e França. Contudo, internamente entre nosso próprio povo, outra dominação se consolidava: o controle absoluto do partido nazista sobre o destino de todos, classificando como inimigos qualquer mínima demonstração de oposição ao governo. Os membros da Gestapo, a polícia de Hitler, tinham total poder e apoio para promover uma limpeza não apenas étnica, mas também política da sociedade. Entendiam que uma Alemanha poderosa se iniciava sendo forte dentro de suas fronteiras, e qualquer resistência ou ideia que questionasse suas decisões era sumariamente eliminada, com ou sem julgamento. Tinham carta branca do gabinete de Hitler, sendo que todos os meios eram aceitáveis para destruir a moral e esmagar os opositores, o que, ao longo dos anos, ficamos todos sabendo incluir principalmente torturas e execuções.

Eu nasci exatamente em 1900, último ano do século passado, e tendo crescido e permanecido a vida toda aqui mesmo em Zaussburg. Casei-me jovem com Klaus, o amor da minha vida, que foi meu amigo de infância, e veio a ser meu primeiro e único homem. Norma nasceu logo no primeiro ano de casados, quando eu tinha apenas 20 e poucos anos de idade. E, ao longo dos 6 anos seguintes, vieram ainda e pela ordem, Frank, Mia e Heidi, essa a minha caçula, hoje com 17 anos. Assim, naquela data eu estava com 40 anos, e trabalhava como professora de Matemática no liceu, tendo voltado a lecionar principalmente para alunos do segundo grau depois do nascimento da Heidi. Meu marido Klaus trabalhava num pequeno comércio, uma tradicional mercearia que sua família mantinha há décadas na cidade.

A guerra já eclodira, e os tempos eram difíceis, com um temor constante pairando sobre todos; a liberdade de expressão sendo oprimida pelo totalitarismo do nazismo. O país vinha se dividindo há tempos, desde que Hitler tomou o poder com um golpe em 1933. Opiniões mesmo levemente divergentes eram perigosas, o que era inconcebível para Klaus, um amante da liberdade e das artes. Ele mantinha uma esperança em um futuro melhor, um pacifista na essência, e não escondia suas críticas ao rumo que a Alemanha vinha traçando. Efeito desse clima político exacerbado, vários de nossos antigos e íntimos amigos, bem como até familiares, deixaram de falar conosco, e evitando qualquer tipo de contato, o que o amargurava tremendamente. Amigos de infância como Ulrich, com quem cresceu junto, mas que depois de se filiar ao partido, não mais lhe dirigia a palavra. E, pior, que havia sido visto diversas vezes junto ao Otto, esse sim um radical membro da Gestapo, e desafeto de longa data de Klaus; nunca tendo se dado bem com ele e com quem teve inúmeras desavenças durante a juventude. Esses e outros tantos conhecidos nossos na comunidade, com quem crescemos juntos frequentando as casas um dos outros; eu, amiga de suas esposas, e nossos filhos convivendo em harmonia até essa praga do nazismo tomar conta da Alemanha.

Era uma manhã ensolarada de um sábado, o dia em que iríamos comemorar o aniversário de Heidi. Preparávamos uma celebração simples, Klaus e Frank fazendo o trabalho mais pesado de arrastar alguns móveis para fora, para abrirmos mais espaço em nossa modesta sala. Mia ajudava-me com a preparação de um bolo surpresa, enquanto Norma e seu noivo Stefan haviam levado Heidi para a cidade, com uma desculpa qualquer para tirá-la de casa e assim depois fazermos a surpresa na sua volta.

Estranhei quando escutei dois jipes chegando pela estrada, e parando bem defronte a nossa casa. Olhei pela janela da cozinha, e senti um calafrio ao ver alguns de militares da Gestapo desembarcando dos veículos, e tendo Otto à frente na condução do grupo.

- Klaus, meu amor. O que está acontecendo? - perguntei ao meu marido, segurando sua mão enquanto víamos o grupo entrando em nossa propriedade.

- Não sei, Evelyn. Mas vamos ficar calmos para resolvermos o que quer que seja.

Sem nem mesmo se anunciar, Otto entrou pela porta de nossa casa, trazendo consigo um grupo de pelo menos 5 militares em seus uniformes negros, com as insígnias da Gestapo brilhando, e suas armas bem à vista. Outros poucos soldados permaneceram do lado de fora, provavelmente fazendo uma guarda no que considerei um excesso de precaução para uma família indefesa como a nossa.

- Klaus, Klaus... Quanto tempo, meu amigo! - sua voz ecoou pela sala, com um tom carregado de uma ironia intensificada por seu sorriso, ao que não respondemos, ficando os quatro juntos, com meu marido mais à frente.

Otto andava calmamente pelo espaço aberto na sala, mexendo despreocupadamente em nossas coisas, em retratos de família e outros pequenos adornos que lá mantínhamos. Então, ele se virou, e dirigiu a palavra para mim, aproximando-se da mesa onde eu estava terminando de confeitar o bolo de Heidi.

- Evelyn, sempre linda… Hummm, que bolo gostoso esse! É para mim? Estavam me esperando? - e passou os dedos pela cobertura, levando um pouco dela de forma grosseira para sentir o gosto em sua boca.

- Otto, diga-me, o que você quer conosco? - Klaus lhe perguntou então, aflito em tentar que aquela visita incômoda logo terminasse.

- Sempre direto, hein, Klaus? Bom, vamos ser claros e assim não perdemos tempo. Fomos informados que você anda falando mal de Herr Hitler… Isso é verdade, Klaus? - ele não respondeu, abaixando a cabeça provavelmente pressentindo que de nada adiantaria resistir a uma prisão eminente.

Otto, então, se aproximou dele, ficando bem à sua frente, com outros soldados se movendo em apoio a ele e, também, se postando junto de nosso filho Frank.

- Tsc, tsc.. Uma pena que vocês não aprenderam ainda quem realmente manda agora nesse país. Seus comunistas nojentos! - e dizendo isso, desferiu um forte tabefe em Klaus, que até esboçou uma reação, mas foi contido por dois soldados, o mesmo acontecendo com Frank, após tomar um murro gratuito, caindo ao chão e se dobrando de dor.

Tentei me mover para socorrer Frank, num instinto protetor de mãe, mas fui segura no braço com força por Otto.

- Você escolheu muito mal com quem se casar, minha querida Evelyn. Ao invés de um perdedor como esse aí, poderia estar ao meu lado nesse momento de glória do nosso país, não é mesmo, Ulrich? - disse isso dirigindo-se a nosso antigo amigo e meu compadre, agora o irreconhecível pai de nosso afilhado, e que nos olhava com uma satisfação sádica nos olhos.

- Mas você ainda pode mudar isso, se for boazinha para mim, Evelyn - e me forçou um beijo lascivo, tentando enfiar sua língua em minha boca, eu lutando contra ele enojada.

Num momento de descuido, eu desferi um tapa em seu rosto, tentando proteger minha honra, ainda mais estando perante meu marido e meus filhos. Isso provocou mais ainda sua ira, que devolveu minha agressão com muito mais força, me jogando contra a mesa e me fazendo derrubar boa parte da louça e dos talheres que lá estavam arrumados para a festa.

- Bom, pelo jeito, hoje você é que será nossa aluna, professora Evelyn. E vai aprender direitinho a lição - e, me puxando de volta pelos cabelos, rasgou o decote do meu vestido, me fazendo tentar sem sucesso cobrir meus seios que foram expostos a todos aqueles soldados ali. Meu marido fora forçado a se ajoelhar junto com meu filho, nada podendo fazer, estando ambos sob a mira das armas deles.

Otto me dominava, imobilizando minhas mãos enquanto apalpava meus peitos, abrindo e rasgando meu vestido. Escutei, então e para meu desespero maior, o grito de Mia, que estava sendo dominada por dois soldados, jovens rapazes que foram também meus alunos, um deles inclusive colega de Norma na escola. Eles a agarraram e saíram a arrastando aos gritos para o quarto. Otto então declarou, ordenando aos soldados:

- Podem se divertir com as duas! Aproveitem o quanto quiserem para darem uma boa lição e exemplo a esses inimigos da pátria e de nosso líder. Heil Hitler!!!

- Heil Hitler! Hahaha... - as risadas sádicas que escutei, misturadas aos gritos de desespero de Mia, ela já sendo agredida com tapas e bofetões enquanto tentava inutilmente resistir a ter suas roupas rasgadas, foram o anúncio do inferno que cairia sobre nós nas próximas horas.

Fomos as duas repetidamente violentadas, barbarizadas e sodomizadas por todos os soldados que vieram a nossa casa; incluindo os que montavam guarda, todos se revezando sobre mim e com minha filha, ela ainda então uma adolescente. Primeiro Otto me jogou sobre a mesa, e, rasgando também minha saia e minha calcinha, possuiu-me por trás, machucando-me muito ao me penetrar com brutalidade, enquanto puxava meus cabelos com violência; estapeando e com os dedos e unhas cravados em minha bunda, sua braguilha aberta e socando ferozmente seu membro em mim. Ele gozou urrando e rindo, me obrigando a olhar para meu Klaus, que chorava em desespero, enquanto se terminava dentro de mim. Logo após, Ulrich tomou seu lugar, que, indiferente ao meu choro de desespero, preferiu me sodomizar, e como um animal me fodeu por vários minutos, antes de me jogar ao chão satisfeito, eu sentindo meu ânus deflorado e sangrando.

Enquanto dois soldados se punham sobre mim, ao chão, Otto se abaixou ao lado de Klaus, fazendo-o me olhar sendo violentada e dizendo calmamente:

- Vocês não são comunistas, Klaus? Então... devem estar satisfeitos em dividir sua esposa e aquela filhinha linda lá dentro, com nossos bravos soldados, não é mesmo? Hahaha - e dando-lhe uma coronhada na cabeça, seguiu para o quarto para também abusar de Mia.

Todos ali bateram muito em Klaus e em Frank, desferindo-lhes covardemente tapas, joelhadas e murros. Depois de ter sido violada pelo quarto ou quinto soldado, eu já me encontrava amortecida, meu corpo inerte e largado ao chão, toda arranhada, machucada e dolorida, apenas sentindo os solavancos que cada um deles me infligia, virando-me e abusando de mim de todas as formas. Assim como Mia, eu era xingada de puta e vagabunda comunista, e tinha meu rosto e minha intimidade sujos e cobertos pelas inúmeras cargas de esperma que recebi seguidamente, um após outro, várias vezes...

Em determinado momento, com um de meus olhos inchado e semifechado, ainda consegui esticar meu braço em direção a Klaus, que estava já completamente desfigurado. Mesmo assim, conseguimos fazer nosso sinal secreto, um toque que fazíamos com os dedos mindinhos e que era nosso sinal de amor; algo que apenas nós dois entendíamos e que dizia muito um para outro. Representando o quanto nos amávamos e nos queríamos, afirmando que estaríamos para sempre juntos.

Depois que todos aqueles monstros se mostraram saciados, eles se reuniram na sala, os últimos retornando e ainda fechando suas braguilhas enquanto deixavam Mia abandonada e inerte em sua cama do quarto, me fazendo temer pelo pior. Não conseguia me mover, destruída e humilhada, um verdadeiro trapo humano, nua entre restos rasgados do que sobrou de minha roupa. Então escutei Otto dando as instruções aos soldados:

- Levem esses dois daqui! Vamos, e rápido! - eu os vi, então, puxando Klaus e Frank com brutalidade, para serem presos e provavelmente conduzidos para um cárcere na cidade.

Sem forças para reagir, tentava me recompor quando vislumbrei, para meu alívio, Mia se arrastando para fora do quarto, e se apoiando no batente da porta. Estava toda machucada, também com restos de sua roupa presos no corpo, tentando esconder sua vergonha, um dos seus pequenos seios aparecendo e sangrando pelas mordidas que levou; ela toda suja de esperma pelo rosto e corpo, e coberta de vergões em muitas de suas partes. Olhamo-nos destruídas, eu querendo, mas não conseguindo me mover para ajudar minha filha.

Então escutamos 2 tiros, em intervalos curtos e vindos lá de fora. Em puro desespero, e, da forma que conseguimos, corremos para fora para encontrar os corpos já sem vida do meu marido e do meu filho, caídos no meio do pequeno gramado em frente da casa. Abraçadas a eles, ainda cruzei meu olhar com o de Otto, vendo nele um sorriso totalmente diabólico, antes dele virar o rosto e seguir seu destino; os dois jipes partindo pela estrada, com os soldados rindo e comemorando entre si. Nunca senti dor tamanha como aquela, e roguei muito, e por toda minha vida, que todos aqueles bastardos tivessem tido um final muito doloroso e que sofressem muito na guerra, com mortes lentas e agonizantes.

#Ethan

Recebo a informação de que a casa está segura, e não temos nenhum risco ou ameaça no perímetro. Dou algumas instruções para Flynn montar uma vigilância com outros dois soldados, enquanto mantenho aquelas quatro mulheres sob minhas vistas. Elas ainda me olham assustadas, mesmo eu tentando sinalizar com meus movimentos que elas não corriam riscos, o que, aos poucos parece as convencer disso. Mando chamar Adam, que fala alemão fluentemente, e assim poderia servir de intérprete na conversa com elas.

Assim que ele chega, procuro saber mais sobre quem eram, o que faziam por ali, entre outros detalhes da vida delas. Fico sabendo que a mais velha se chama Evelyn, sendo mãe das outras, respectivamente Norma, Mia e Heidi. Que vivem naquela casa e cidade desde antes do início da guerra, e que o marido e o filho foram mortos pela Gestapo. Nunca foram simpatizantes dos nazistas, e por isso sofreram muito nos últimos anos. Peço que Adam explique que somos do exército americano, e que nossa ofensiva veio para justamente acabar com a guerra e assim derrotar Hitler. E que precisaremos, como parte de nossa operação, ficar acampados em sua propriedade nos próximos dias até pelo menos a virada do ano. Mas que podem ficar calmas e tranquilas, que nenhum de nós fara mal a elas, e que não são nossas prisioneiras. Ao ouvir essa última parte, sinto um alívio quase palpável no rosto de todas elas, que até chegam a esboçar leves sorrisos, conversando entre si mais tranquilas.

Saio então dali para coordenar as ações no entorno da casa, agora nosso ponto de apoio para a chegada de nossas divisões de infantaria e blindados. Hoje, 28 de dezembro, está prevista a ocupação da cidade, numa operação coordenada de duas companhias de frente, percorrendo cada rua e beco para garantir que não encontremos soldados alemães escondidos, ou nos preparando uma surpresa desagradável. Nossas ordens são de manter essa posição de observação até o primeiro dia do novo ano, quando devemos receber novas ordens. E assim o faço, delegando e indicando o posicionamento de nossas barricadas e pontos de vigilância, transformando a pequena casa de Evelyn em nosso centro de operações.

Caminho por aquela pequena propriedade verificando se foi tudo preparado conforme minhas instruções. E, ao fazê-lo, recordo-me dos tempos no Kansas e das atividades pesadas nas fazendas em que lá trabalhei por muito tempo, e que são minha vocação natural. O casamento com Beth e nossos planos de ganhar dinheiro para comprar nosso próprio pedaço de terra, onde viveríamos felizes. Planos que se desfizeram, depois de perdermos tragicamente nosso único filho mais novo em um acidente; e o casamento se desfazer em meio a essas lembranças e tristezas. Tudo isso é parte do motivo por eu, então sozinho no mundo, ter me alistado e entrado para o exército em 1942, na convocação após Pearl Harbor.

Ao longo dos dias seguintes, acompanho tanto as atividades de vigilância, bem como apoiamos os movimentos de nossas tropas que rapidamente ocupam Zaussburg, montando seu quartel general na prefeitura. O coronel de nossa divisão reuniu os principais burocratas da cidade, entre eles o prefeito, e os posicionou da nova cadeia de comando, estabelecendo uma força de ocupação que se encarregará do comando na cidade a partir de agora. Temos uma poderosa base, com milhares de soldados de vários batalhões e companhias chegando a toda hora e montando acampamento na cidade e nos arredores.

Enquanto isso, aqui na fazenda, e com as atividades mais calmas, aproveitamos o tempo para um descanso dos últimos e intensos dias. Acompanho o movimento de todos, com particular atenção para Evelyn e as filhas, preocupado que não sejam importunadas por meus comandados no batalhão. Sei bem que são soldados exemplares, que provaram seu valor nos combates. Mas também conheço bem como eles não resistem a um rabo de saia, e aquelas lindas garotas com quem ainda vamos conviver nos próximos dias podem ser tentadoras demais; e não quero lhes causar mais problemas do que elas já enfrentaram nesses últimos tempos.

Sem poder contar com a ajuda de Adam, que havia juntamente com Flynn ido ao centro de mantimentos buscar alimentos e outros gêneros para repor nosso estoque, eu arrisco uma conversa direta com Evelyn. Fazendo muito malabarismo combinando mímica e as poucas palavras em alemão que conheço, tento me fazer entender a ela sobre essa preocupação, e pedindo para que ela me comunicasse sobre qualquer problema. Depois de tentar arranhar o pouco do inglês que conhecia, Evelyn me puxa pelo braço e me leva até a soleira da porta, apontando para as filhas que, em diferentes lugares, conviviam animadamente com meus soldados, eles todos também procurando formas de conversar com elas. E, com um sorriso lindo, ela me faz um sinal de positivo, deixando claro que estava tudo bem.

Senti-la pegando em meu braço, naqueles poucos instantes em que olhávamos para fora, foi um momento diferente para mim. Meses e meses nos arrastando pelos campos e cidadelas, combatendo palmo a palmo com os exércitos de Hitler, enquanto os empurrávamos de volta para seu território, deixou marcas eternas em mim. Minha pele se transformara num couro duro, e meu coração endureceu pela necessidade de sobrevivência. Agora, sentindo aquela bela mulher ao meu lado, frágil, mas feliz pela proteção que finalmente recebia, foi mais do que eu esperava. Ela conseguiu, com seu jeito meigo e despojada de qualquer vaidade, tocar e amornar meu coração. Algo muito diferente de Valérie, a cortesã que conheci em um cabaré de Paris, e com quem tive um ardente caso no verão, durante a libertação da cidade. Sentia saudades do corpo daquela morena maravilhosa, do sexo quente e sem limites da francesa. Contudo, a atração que sinto por Evelyn é claramente diferente disso tudo.

Quando Adam retorna da cidade, vem com o jipe lotado de mantimentos, tendo também conseguido a religação da energia elétrica da propriedade. Isso e mais algumas surpresas para as mulheres, graças a Flynn e seus contados com o tolerado mercado negro do nosso exército. Uma boa parte dos mantimentos repõe nossos gastos das últimas semanas, enquanto uma outra parte maior e considerável, resolvemos dividir com Evelyn e suas filhas. Vários enlatados, gêneros para limpeza e higiene pessoal, além de barras de chocolate que fizeram os olhinhos delas brilharem de emoção, ao receberem aqueles presentes atrasados de Natal. Tudo parte do esforço aliado, e com muito investimento americano em reconquistar territórios e trazer a população de volta em nosso apoio. Política que em nada importava a elas naquele dia, tão distantes que estavam da humanidade nesses últimos tempos.

Chega o dia 30, e minha primeira atividade na manhã é repassar o relatório de posição com Jack, o tenente de nosso batalhão, e que me delega as ordens para os movimentos planejados para retomarmos as ações no ano novo. Nem bem ele sai, retornando para a cidade, Adam me procura acompanhado da Evelyn e de sua filha Norma. Ele me traduz o que elas vêm me falar, que é um pedido cercado de cuidados, solicitando uma autorização para termos uma celebração na virada do ano, elas querendo retribuir um pouco do tanto que se sentiam gratas pela nossa presença ali. Não pondero muito, e concordo liberando-os para seguir com a ideia. Norma sai entusiasmada, procurando pelas irmãs, enquanto Adam já circula a notícia entre os companheiros. Evelyn fica mais um instante, e, se chegando a mim, me dá um beijo na face, sorrindo e agradecendo com um sotaque germânico carregado:

- Thank you! - Hitler não me derrotaria, mas aquela mulher por certo agora estava me levando a nocaute.

#Evelyn

Eu não me reconheço mais, pelo calor que sinto cada vez que cruzo meu olhar com o sargento Ethan. Isso não é apenas pelo fato de os americanos terem nos vindo libertar, mas sim algo mais profundo que brota de dentro de mim quando em sua presença. Toda vez que me recolho à noite a minha cama, as lembranças de Klaus ainda reverberam em minha mente, o homem a quem eu nunca deixarei de amar. Contudo, eu estou viva, e sei que, lá de onde ele me vê, deve estar cuidando de mim, e querendo que eu siga em frente.

Quando olho minhas filhas felizes, rindo pela primeira vez nesse tempo todo, sem o medo e terror que foi a regra até aqui, eu nem consigo acreditar. Não tivemos uma vida, mas sim sobrevivemos como pudemos, tantas foram as vezes em que fomos colocadas à prova e contra a parede, no limite de desistirmos de tudo e perecermos.

Após Klaus e Frank terem sido covardemente assassinados, eu e Mia ficamos perdidas, sem saber o que fazer, aguardando junto aos corpos deles a volta das minhas outras filhas. Foi desesperador, e apenas com a ajuda da família de Stefan foi possível darmos um enterro minimamente decente para eles. Enquanto isso, Norma e Heidi, mesmo traumatizadas com a perda do pai e do irmão, cuidavam de mim e de Mia, destruídas que estávamos pelos abusos e violência dos soldados. A muito custo, Norma conseguiu que um médico e pai de uma de suas amigas, cuidasse de nós duas, conseguindo nos aplicar doses de penicilina contra sífilis e gonorreia, risco maior naquele momento. Aos poucos, nossos machucados foram sendo curados, e nós nos recuperando.

O pior, contudo, ainda estava por vir, pois, como resultado dos estupros a que foi submetida, Mia acabou engravidando. Algo terrível para todos os efeitos, ela ainda uma menina adolescente, começando a sonhar com romances e rapazes carinhosos. Passar por uma violência daquelas com aqueles monstros, e ter ainda que carregar um filho como fruto disso, era um fardo muito grande. Passaram-se alguns meses, sua triste gravidez já se fazendo visível, quando ela teve uma série de complicações, vindo a abortar daquela indesejada criatura. Ficou entre a vida e a morte, internada no hospital da cidade por vários dias. Tudo o que haviam feito com minha filhinha lhe causou inúmeros problemas, os médicos tendo que, ao final, remover seu útero numa histerectomia de emergência para ela não vir a falecer.

Pouco tempo depois desse ocorrido, ficamos sem Stefan, convocado pelo exército para servir na frente oriental, nos preparativos para a invasão da Rússia. Norma ficou inconsolável com a partida do noivo, apesar de todos já estarem esperando que isso, em algum momento, infelizmente, viesse a acontecer. Perdemos, dessa forma, a última presença masculina na família, e que nos ajudava em vários momentos a termos algum suporte na cidade. O medo de muitos depois do assassinato de Klauss, vinculando-nos a comunistas e opositores do regime, fez com que nos tornássemos párias e figuras indesejáveis na comunidade, dificultando praticamente tudo, mas que Stefan ainda conseguia suprir. A ida dele para a frente de combate, e, logo depois, a minha demissão do cargo de professora na escola, nos relegou a tentar sobreviver com o pouco que cultivávamos na horta ou extraíamos da mata, além de receber alguma ajuda escondida dos poucos amigos que restaram.

Entretanto, esse pouco não era suficiente. Precisávamos de remédios e outros itens básicos, e para os quais não tínhamos dinheiro ou acesso a vales para sua aquisição. Nesse momento, primeiro Norma e depois a própria Mia, passaram a eventualmente se prostituir junto a alguns militares e homens mais influentes, em troca de algum dinheiro que nos permitisse sobreviver àqueles tempos. Eu mesma fui também alvo de assédio e tive que ceder várias vezes, presa fácil que era como uma viúva, com uma família em casa e sem ter um soldo de um marido ou filho na guerra para nos suprir do mínimo, como ocorria com outras mulheres. E assim nós três acordamos em fazer aquilo em silêncio, escondendo essa verdade de nossa pura Heidi, conseguindo ao menos preservá-la de mais esse horror da guerra.

Penso nisso, e lágrimas veem aos meus olhos, tanto pela dor da vergonha, como também pelo alívio e esperança de novos dias. Olho pela janela da cozinha, e vejo minhas filhas às voltas com os americanos, felizes como nunca as vi antes. Todos na expectativa da celebração do ano novo na noite de hoje, preparando um cozido e alguns itens a mais que foram conseguidos junto ao exército aliado.

Ontem costuramos e ajustamos vestidos novos que eles trouxeram para nós, um presente maravilhoso e que aqueceu nossos corações. Caprichamos como pudemos, pensando em ficarmos mais bonitas e atraentes para a festa, confessando entre risos e provocações sobre com quem gostaríamos de dançar ou ter alguns momentos a sós.

- E a senhora, mãe? Tem planos para a noite com o sargento Ethan? - Heidi me provoca, atenta que foi aos vários momentos em que nos viu juntos.

- Heidi! Se comporte menina... Ethan é apenas um bom homem, e muito respeitador - tento fugir do assunto e esconder delas meus sentimentos por ele.

- Hummm... Mas e o cachecol que ele lhe presenteou esse manhã? Não pense que não ficamos sabendo... - nesse momento eu enrubesço, lembrando e admitindo que ele realmente me presentou com essa surpresa, sendo-me dito que ele havia encomendado junto a Flynne, e que ficaria muito bem em mim se eu o usasse essa noite.

Minhas meninas continuam a farra, fazendo piadinhas entre si, excitadas com as horas que passam agora mais rápidas, nos aproximando da noite que vem anunciada pelo frio que aumenta no entardecer. Fico por um tempo pensativa, quando, então, Norma se aproxima de mim fazendo um carinho em meus cabelos, e me diz:

- Mãe, você merece ser feliz novamente. Nem que seja por uma noite, entendeu? - e sai de perto de mim, me deixando com aquela frase soando em minha cabeça.

Uma a uma, fomos então nos banhando, e dividindo gotas do vidro de perfume presenteado a Mia pelo soldado Flynn. Saímos de casa juntas, sendo recebidas por uma saraivada de assovios, quando nos juntamos aos soldados americanos em torno de uma fogueira que eles prepararam para nos mantermos aquecidos noite adentro. Já estão todos com garrafas de conhaque nas mãos, e que são divididas conosco. Eles cantam e contam histórias, que com dificuldade entendemos o sentido, mas nem por isso não nos divertem menos.

Todos festejam e bebem muito, numa pausa naquela vida repleta de incertezas. São jovens que não tiveram juventude, que vivem o momento como uma fuga das dores passadas e das que virão. Depois de dançar um pouco, me encosto a uma cerca, eu os observo feliz, como há muito não me sentia. Vejo Norma e Mia se divertindo efusivamente, sentadas no colo dos soldados, trocando carinhos e provocando e brincando com eles, ora com um, ora com outro; sendo cortejadas pelos rapazes que nutrem esperanças de conseguirem algo mais delas nessa última noite do ano.

Reparo então, olhar de mãe atenta, quando Heidi e Adam se afastam do grupo, eles que tanto conversaram esses dias pela maior proximidade de suas idades. Adam, ela me contou, tem pouco mais de 20 anos, de longe o mais novo do batalhão e tendo crescido em uma família religiosa na Carolina do Norte. Vejo quando ela pega em sua mão, e o leva para as ruínas de nosso celeiro, tendo certeza do que procuram. Não me oponho, muito pelo contrário, vendo com carinho e respeito o momento de minha filha, perto dos seus 18 anos e uma vida apenas de provações e sofrimento até aquele dia.

#Heidi

Converso com Adam a frente da fogueira, sentindo o calor bom das chamas aquecendo minha pele. Ao mesmo tempo em que já me sinto quente por dentro, talvez ajudada pelo conhaque forte que experimentei pela primeira vez, em pequenos goles conforme ele me explica para fazer. Falamo-nos muito nesses dias, ele me contado dos EUA e de como era sua vida por lá, tantas histórias daquele outro país que eu conhecia apenas pelos livros da escola, mas que não mais frequento há um bom tempo. Não tenho muito o que dividir com ele, ao decidir por não compartilhar os momentos severos e ruins de nossas vidas aqui cercados pela guerra. Decidimos conversar sobre o futuro, nossos sonhos e planos, mas agora estamos calados, vendo os demais cantando e se divertindo. Fogem palavras, porém afloram os sentimentos, e que me conduzem a tomar a iniciativa:

- Vem comigo, Adam.

- Para onde, Heidi?

- Vem cá, deixa eu te mostrar uma coisa... - e pego em sua mão, saindo discretamente pela penumbra e escondidos nas sombras daquela noite especial.

Levo-o para o celeiro, ou o que antes era um celeiro, agora semidestruído pela falta de manutenção e consumido pelo tempo. Empurro a porta, a única coisa ali que ainda funciona, entrando para o seu interior. Lá dentro há algum entulho acumulado nos cantos, e um pequeno monte de forragem seca e morta; meu local secreto, para onde fujo quando quero ficar deitada e sonhando com uma vida melhor, olhando para o céu pelo enorme vão do teto agora inexistente. Hoje, a luz da lua cheia ilumina todo o interior, criando um padrão de sombras e luzes estranho, mas bonito. Adam olha para os lados, conferindo o espaço, enquanto lhe digo:

- Foi meu pai que construiu sozinho esse celeiro. Um dia ainda quero vê-lo em pé novamente.

- Não vai ser difícil refazer, tem uma boa base - ele responde, examinando as paredes,

- E esse é meu esconderijo, meu lugar predileto... Passo horas sozinha aqui - digo indicando onde costumo me deitar, sobre a forragem seca e velha.

Ele chega até onde estou, e mesmo antes de o conferir, eu passo meus braços em volta de seu pescoço para roubar-lhe um beijo. Meu primeiro beijo, sentindo a língua dele entrando em minha boca, mexendo-se contra a minha, uma sensação engraçada e gostosa; e muito diferente do que imaginava quando treinava beijos com meu travesseiro na minha cama em casa. Suas mãos percorrem minhas costas, descendo até meu bumbum, me puxando contra ele, me fazendo sentir algo endurecendo contra minha barriga.

- Heidi, você tem certeza... disso? - ele me pergunta, na atitude mais nobre que eu poderia esperar dele.

- Sim, Adam, nunca tive tanta certeza... me faça mulher, por favor! - o sorriso lindo no rosto dele é a resposta que eu queria.

Beijando-me sem parar, suas mãos vão entrando por baixo do meu vestido, me ajudando a erguê-lo e tirá-lo sobre minha cabeça. Enquanto isso, eu o ajudo desabotoando os botões de seu uniforme, sentindo com meus dedos a pele do seu corpo, seus fortes músculos do peito, me deixando molhada entre minhas pernas. Minha bocetinha desejando mais do que apenas os dedinhos com que brinco sozinha desde que me descobri esse prazer.

Quando vamos para o chão, Adam está sobre mim, eu apenas com minha calcinha antiga, a melhor que tinha e que reservei para essa noite, pensando em tudo que poderia acontecer entre ele e eu. Meus cabelos longos e castanho claros se espalham por sobre a palha seca, enquanto as mãos de Adam procuram meus seios pequenos, sentindo meus biquinhos de mamilos claros durinhos e sensíveis. Nossos beijos são agora deliciosos; eu aprendo rápido, minha língua sendo atrevida como a dele foi na minha boca.

Adam então desce seu rosto para sugar meus peitinhos, beijando com carinho, ficando um bom tempo nessa brincadeira comigo. Eu ansiosa, mas ao mesmo tempo amando tudo aquilo, acariciando seus cabelos enquanto olho pelo teto e vejo a lua cheia, que vai ser testemunha dessa minha primeira noite de amor, o ano novo próximo, uma vida nova chegando para todos. Ele segue seu caminho, e vai descendo minhas calcinhas, me fazendo depois abrir as pernas para procurar minha bocetinha com a boca, guiado por meus pelos, também claros como meus cabelos. Ele ergue minhas coxas, procurando a entradinha dela, abaixo de minha pelugem; e quando a encontra me leva ao delírio. Sua língua mexe por ela inteira, subindo e descendo, e nesse movimento me vem uma sensação maravilhosa de prazer que faz meu corpo vibrar.

Ele volta subindo novamente, fazendo agora o caminho inverso, e abrindo e abaixando parcialmente sua calça, junto com a cueca, deixando-me curiosa por apenas antever um membro duro e lindo. Um pau, como dizem minhas irmãs, mas que eu apenas imaginava como seria pelo que elas me descreviam ser. Eu sabia muito de sexo, mas tudo pelos ensinamentos teóricos delas, alguns confusos, mas que agora passaram a fazer mais sentido. Adam procura minha boca e me beija com ternura:

- Heidi... eu te quero...

- Vem Adam... sou sua...

E assim sinto ele pincelando a ponta do seu pau na entradinha da minha bocetinha, eu abrindo minhas pernas e me posicionando o melhor possível para o receber. Sua estocada vem firme, forçando minha virgindade, que resiste ao primeiro impacto. Uma segunda tentativa, e o pau dele escorrega para fora, para meu desgosto, imaginando eu estar fazendo algo errado.

- Como você é apertadinha, Heidi!

- Hã... E isso é ruim?

- Não, pelo contrário, é delicioso... - e nem bem termina de pronunciar isso, ele consegue me penetrar, firmando seu pau com a ajuda da mão enquanto ele rompe meu cabacinho, indo se alojar dentro da minha bocetinha; me fazendo finalmente mulher.

- Ahhhhh... uiiiiii.... Adam....

- Heidi... meu amor....

Ele começa a se mover para dentro para fora, estocando seu pau duro dentro de mim. E, diferente do que Norma me disse, não sinto dor, mas sim um prazer maravilhoso com o pau dele me ocupando inteira; me preenchendo totalmente, roçando pelas paredes e me tocando no fundo da minha boceta. Sem controle, eu começo a rebolar sob ele, cruzando minhas pernas ao redor do seu tronco, querendo que Adam nunca mais saia de dentro de mim. Nos beijamos, e nos juramos de amor, entre gemidos dos dois lados, reflexo das sensações que nossos corpos nos provocam.

Então Adam sai de dentro de mim, pedindo-me para virar de costas para ele, querendo me possuir por trás. Vejo seu pau saindo coberto do meu sangue; um sangue bom, numa época de guerra onde tanto dele foi vertido por ódio entre os homens. Eu fico então ajoelhada sobre o capim seco, apoiando-me nos braços, entregando-lhe minha bundinha pequena e magra; que ele acaricia com carinho, sentindo minhas carnes e curvinhas, enquanto procura novamente a entradinha da minha bocetinha. Com uma nova estocada deliciosa, voltar a me preencher, agora me fazendo sentir seu ventre colado no meu traseirinho. Ele começa a me comer com mais intensidade, segurando minha cintura com a duas mãos, e eu me deixo levar. Sou dele, e quero ser dele. Seu pau me fode gostoso, num prazer agora diferente, nessa posição que eu sabia ser uma das inúmeras que homens e mulheres praticam... além de ser a confidenciada pela Mia como sua preferida.

Adam segue atrás de mim, intensificando seus movimentos, o barulho de suas coxas batendo contra as minhas ecoam naquele celeiro. Sinto uma de suas mãos largar de minha cintura, indo seu dedo polegar massagear meu outro buraquinho, o mais valioso. Ele tapa a entradinha dele, talvez para suportar a tentação de querer me comer também por ali, ao vê-lo se oferecendo a ele naquela posição. E, dessa maneira, ele acelera mais, até urrar baixinho e anunciar que vai gozar; retirando seu pau no último momento de dentro de mim, esporrando sobre minha bunda e nas minhas costas. Sinto seu amor sendo despejado ali, em minha pele, quente e vigoroso. Meu homem, e que me fez mulher nessa noite.

Caímos cansados e ofegantes, ficando agora abraçados, sentindo nossas respirações fortes, nossos corpos se comunicando na linguagem do amor. Ficamos namorando por um bom tempo ali, longe dos outros, em nosso mundo. Passado um tempo, ele mais uma vez pronto para mim, me come novamente, nessa segunda vez me fazendo descobrir o que era um orgasmo. Ou, se não for isso, pelo menos posso dizer que é algo delicioso, e que me deixa molinha, agarrada a ele por um tempo naquele celeiro, e puxando um cobertor velho sobre nós dois, que eu havia deixado por ali. Adormecermos juntos, antes da virada da noite, e da entrada no ano novo; no melhor sono que já tivera em minha vida.

#Ethan

Assim que vejo as mulheres saindo da casa, vestindo as roupas que conseguimos para elas comprar, solto um sorriso de satisfação enorme, como há muito não fazia. Não que fossem vestidos caros e elaborados, muito pelo contrário. São simples, mas são decentes e levemente coloridos, infinitamente mais belos se comparados às surradas e lúgubres vestimentas com que as encontramos. Evelyn, em particular, está extremamente linda, tendo os cabelos loiros soltos, e usando o cachecol que lhe dei.

Quando veem para o espaço improvisado que meus soldados montaram para a celebração, são recebidas em festa, e já rodeadas por todos, cheios de gracejos e cortejando as garotas principalmente. As músicas e cantos se sucedem, a todos vão se divertindo numa improvável noite de ano novo em meio a uma guerra sangrenta como essa. Aproveitando um momento raro em que esquecemos as lutas em curso, e somos humanos novamente.

Aproximo-me, então, da Evelyn, que está recostada em uma cerca, bebendo sozinha e basicamente assistindo as filhas às voltas com os rapazes, rindo quando compreende alguma piada ou brincadeira que rola entre eles. Logo que chegou, Flynn a tirou para dançarem juntos, e pude admirar como ela se movia com graça e delicadeza, algo completamente distante de mim, que sou um "cintura dura" e sem nenhum jeito para danças. Enquanto eles dançavam a poucos metros de mim, ficamos conectados por nossos olhares, ela olhando para mim o tempo todo, alegre e sorrindo, e vendo em mim a mesma reação.

Encosto junto a ela, e, por um tempo, assim como ela fazia, apenas assisto aos movimentos dos demais, ficando em silêncio ao seu lado. Tentando uma aproximação mínima, aponto a lua linda e brilhante no céu, chamando sua atenção para ela, que concorda comigo e me sorri. Passamos a conversar por um tempo, ao nosso jeito, palavras em inglês que cito e aponto, escutando-a captando e repetindo. E o mesmo ela faz comigo, eu tendo muito mais dificuldade com a língua alemã. Nesse momento invejo Adam, que conversa com todas elas, e, nesse momento, está junto a Heidi claramente engatando algum galanteio que agrada a menina.

As músicas e mensagens acolhedoras da BBC se sucedem no rádio, enquanto comemos e bebemos em nossa singela festa. Evelyn então me sinaliza estar com frio, ao que eu a envolvo com meus braços, a jaqueta de couro do exército fazendo seu papel e nos aquecendo. Sinto ela se aconchegando junto de mim, trazendo consigo seu perfume e o cheiro delicioso dos cabelos lavados. Sinto dentro de mim o desejo por ela despertar mais uma vez, como tantas vezes aconteceu nesses dias; na forma de uma ereção escondida, mas algo perceptível na calça de meu uniforme.

Ela, então, se levanta de junto a mim, e, pegando em minha mão, imita o movimento que vimos Heidi fazendo com Adam momentos antes, e me puxa para a seguir, mas nesse caso em direção a sua casa. Evelyn caminha à minha frente, em alguns momentos se virando e andando de costas, olhando para mim como que se certificando que eu a acompanhava; seu sorriso e os olhos azuis hipnóticos mais do que garantindo que isso aconteça. Entramos pela casa, e ela me conduz para o seu quarto, trancando a porta assim que passamos por ela.

A luz da fraca lâmpada, ainda improvisada no aposento, permite que nos vejamos claramente, e sua beleza agora se apresenta para mim em mais detalhes lindos. Sem muito dizer, ela se posta à minha frente, enlaçando seus braços no entorno de meu pescoço, para darmos finalmente o beijo que vinha sendo tão desejado por ambos. Sinto seu hálito fresco, levemente misturado ao conhaque que bebíamos até instantes atrás, enquanto nossas línguas se entendem, se buscando e se querendo. Minhas mãos sentem o corpo dela, descendo pelas costas até irem se pousar sobre um traseiro carnudo e gostoso, causando-me a rigidez plena de meu membro; algo que ela também sente, e sabe bem do que se trata. Nossas bocas se desconectam por um momento, e Evelyn acaricia meu rosto e meus cabelos, olhando-me para dizer singelamente:

- Love!

Respondo com um sorriso e lhe aplico um beijo mais ardente, agora já tendo nossos desejos e tesão no comando de nossas ações. Ela aperta meu corpo, me sentindo, ao mesmo tempo em que retiro seu cachecol, e desço os lábios por seu pescoço, beijando e mordiscando, tirando alguns primeiros gemidos dessa mulher. Evelyn, então, me leva para sua cama, me fazendo sentar na beirada, ao mesmo tempo em que tiro a jaqueta e desabotoo meu uniforme, retirando minha camisa e ficando de peito nu para ela. Ela se ajoelha na minha frente, e me ajuda a remover minhas botas e meias, deixando-me assim apenas de calças, antes de se afastar um pouco e ficar em pé à minha frente.

Assisto, então, ela sorrindo, e se contorcendo para soltar os botões às costas de seu vestido, para, logo a seguir, abaixar as alças dele e o deixar cair lentamente a seus pés. Vejo seu corpo surgindo ante a mim numa cena que nunca mais esquecerei; sua pele muito branca, macia e linda, os seios volumosos e pouco caídos, e com mamilos grandes rosados, os biquinhos duros e apontando para mim. Uma cintura levemente delineada, que termina numa bunda ainda firme e gostosa de quadris largos, que se mostram por fim, quando ela abaixa suas calcinhas, voltando a ficar em pé para se mostrar a mim. Atraindo meu olhar para o vão entre suas pernas, onde uma vasta pelugem loira e fina, cobre sua boceta.

Começo a soltar o cinto de minha calça, sem deixar de olhar para ela, que se adianta e me ajuda nessa operação. E que termina quando ela puxa minhas calças e me deixa completamente nu assim como ela, sendo sua a vez de admirar minha completa ereção, com meu pau duro apontando para cima. Ela diz algo que não entendo, mas que parece ser um sinal de aprovação, já que sorri com os olhos arregalados, procurando meu membro com suas mãos para sentir e me punhetar com carinho. Inicia esse movimento, alternando seu olhar entre ele e eu, vendo-me reagir com tesão a seus toques; antes de se aproximar e, com sua boca, passar a me chupar deliciosamente. Subindo e descendo sua cabeça, engolindo-o até onde conseguia, mostrando-se uma amante experiente e maravilhosa nesse quesito.

Aproveito e relaxo o que consigo, recebendo esse carinho dela até meu limite, quando, então, a puxo para cima da cama, e me posiciono para retribuir esse mesmo prazer a ela. Deitada de costas, abro as pernas da Evelyn, tendo uma visão divina daquela boceta loira e rosada, os lábios expostos e entreabertos, sua fenda extremamente úmida e exalando seu maravilhoso perfume de mulher. Eu me esbaldo na boceta dela, chupando e sorvendo tudo que posso, tocando-lhe com meus dedos e minha língua de forma contínua, não parando antes de senti-la se contorcendo, gemendo muito e alto, pronunciando uma série de palavras e frases que me instigam ainda mais; deduzindo estar xingando e se liberando num instinto de fêmea, na linguagem universal do amor. Seu gozo é farto, escorrendo visível ao mesmo tempo que sua boceta pulsa na minha boca. E que eu engulo com satisfação, e fazendo meu pau endurecer a ponto de doer.

Ela entende o ponto a que chegamos, sendo a sua vez de me puxar para ir sobre ela, no caminho me permitindo fazer mais uma demorada parada sobre seus peitos, mamando e sugando sofregamente, deixando seus bicos intumescidos ao mesmo tempo em que não deixo de dar atenção a sua boceta, esfregando meus dedos na entradinha dela, sentindo o grelo duro e inchado. Minha boca encontra então a sua novamente, para nos beijarmos com muita paixão, em meio ao que, eu ajeito meu pau contra sua boceta; e, com sua ajuda erguendo e abrindo mais as pernas, penetrá-la ao mesmo tempo em que nos beijamos, minha língua em sua boca, e meu pau dentro dela. Evelyn se entrega, então, por inteiro, rebolando, me acariciando e me puxando mais ainda para dentro de si, numa foda intensa, e repleta de amor, beijos e olhares que desnudam nossos sentimentos e desejos. Gozamos juntos, ela novamente, e eu soltando enormes cargas represadas de meu esperma na boceta dela, que revira os olhinhos azuis ao se sentir sendo inundada por dentro.

Deitamo-nos ofegantes um ao lado do outro naquela cama, mas sem nos desgrudarmos um instante, abraçando-nos e nos olhando; trocando muitos beijos e juras de amor, cada um em seu idioma, tentando explicar um ao outro o significado, numa brincadeira que se estendeu noite adentro. Fizemos amor diversas vezes naquela noite, eu descobrindo cada detalhe do corpo dela, seus pontos mais sensíveis, e como ela gostava mais de fazer. Gozamos muito, eu ao menos mais duas vezes, antes de sermos derrotados pelo sono, ela puxando as cobertas para dormirmos juntos, passando a primeira noite do ano um no calor dos braços do outro; escutando os fogos ao longe, vindos da cidade, anunciando a virada.

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O dia seguinte amanhece cedo para todos nós, tendo que seguir as ordens de desmontarmos a vigilância na propriedade de Evelyn e seguirmos com a companhia para as próximas ações na frente de batalha. A força de ocupação já controlava a região no entorno de Zaussburg, tendo a escolhida como uma das bases de operação dos aliados. Algo que me consolou, pois tinha agora certeza de que, se não houvesse mais nenhuma virada no curso da guerra, elas estariam seguras novamente.

Quando acordo, estou sozinho na cama, escutando Evelyn na cozinha cantarolando baixinho enquanto prepara um café quente, outro luxo que há muito não tinham em sua casa. Coloco novamente meu uniforme, sentindo com prazer o cheiro e perfume do corpo dela ainda impregnado em meu corpo, que decido manter até quando puder, como uma lembrança mais viva da noite deliciosa que tivemos juntos. Junto-me a ela na cozinha, aproveitando sua distração para abraçá-la pelas costas, dando-lhe um bom dia e recebendo de volta um beijo gostoso. Tomamos nosso café, entre sorrisos tímidos do lado dela num clima ameno, mas que já prenuncia a tristeza que virá até o final da manhã, quando partiremos definitivamente.

Seguimos com as rotinas, meus soldados curando mais uma das inúmeras ressacas que tiveram, sempre abusando da bebida em noites de folga e baderna. Vamos desmontando os equipamentos com agilidade, cada um ciente de suas obrigações, e carregando os caminhões e jipes que foram trazidos para esse movimento. Nossa marcha rumo a Berlin, agora já dentro do território alemão onde esperamos uma resistência muito maior por parte das forças de Hitler.

Chegado o momento, vou em direção a Evelyn, que me aguarda na soleira da porta da sua casa. Pelo caminho, observo Adam trocando beijos discretos com a Heidi, enquanto as outras irmãs estão às voltas com Flynn e outros poucos soldados, todos rindo e certamente ainda tendo em mente a agitada noite que tiveram com aquelas duas garotas.

Não há muito a ser dito a ela, e ambos entendemos em nosso íntimo que as coisas são assim. O final desse conflito, que destruiu milhões de vidas e famílias pelo mundo afora, ainda não está definido. E não sabemos que destino teremos, se sobreviveremos ou não para finalmente termos paz novamente. Parado à sua frente, ela pega em minha mão e a puxa para o rosto, sentindo-a em sua face. Isso me dá a chance de sentir seus cabelos, acariciando e a puxando para um último beijo intenso, demorado e profundo e que não queria que terminasse nunca, ligado que estou àquela mulher forte, linda e maravilhosa. Quando nos soltamos, as filhas dela já se aproximam, e eu sinto nossas mãos se afastando, dando-lhe um sorriso e vendo lágrimas brotando em seus olhos azuis, ao me virar para ir embarcar no jipe.

Ao partirmos daquela colina, ainda podemos ver as três filhas abraçadas a sua mãe, acenando para nós até que nossos veículos descem pela estrada e saímos do campo de visão delas. A última imagem que carrego de Evelyn comigo é do aceno dela chorando, mas se mantendo firme e me dando um sorriso de esperança e carregado do amor que nasceu entre nós.

Alguns quilômetros depois, ao pegar minhas anotações e mapas de bolso para revisar os planos, sou surpreendido ao encontrar, junto a eles, uma foto de Evelyn; que ela, provavelmente, deve ter colocado ali durante a manhã, enquanto eu ainda dormia em sua cama. É uma foto antiga, provavelmente de uns 10 anos atrás, dela mais jovem, mas tão linda como ainda é hoje. Uma foto de seu rosto meio de perfil, os cabelos soltos, sorrindo e com um olhar vivo e brilhante. Virando a foto, encontro apenas uma mensagem simples, mas cheia de poder e significado para mim, e que me acompanhará daqui para a frente: "Love, Evelyn"

#Evelyn

É véspera do Natal de 1945, e, enquanto preparo alguns pratos para a ceia, lembro-me com ternura e um aperto no peito, de tudo que aqui aconteceu há quase um ano. Com Ethan e seus soldados cercando e invadindo nossa casa, e de tudo de maravilhoso que aconteceu nos dias seguintes. Estávamos chegando ao limite da pobreza, medo e desesperança, quando tudo mudou naquele dia.

Hoje, se não há a fartura dos tempos anteriores à guerra, ao menos conseguimos tudo de básico que precisamos. Alimentos, itens de higiene, além de energia elétrica e acesso a medicamentos. Com a fuga dos nazistas e as forças de ocupação controlando a prefeitura de Zaussburg, uma certa normalidade voltou a nossa comunidade. A guerra finalmente cessou com a capitulação de Hitler em abril, e, no meio do ano, eu voltei a lecionar, recebendo um modesto salário na forma de vales e que nos garantem um sustento básico.

Além disso, muitas outras coisas aconteceram nesses últimos meses. A que mais nos pegou de surpresa foi o retorno inesperado de Stefan, o noivo de Norma. Depois que ele havia ido para a frente oriental e se envolvido nas ferozes batalhas contra os russos, perdemos o contato, não recebendo mais nenhuma carta como antes ele enviava a sua noiva nos primeiros anos da guerra. Ao chegar aqui, e depois de Norma cair em prantos e correr para abraçá-lo e beijá-lo entre muito choro e emoção, ele nos explicou que sua companhia fora cercada e capturada pelos russos, ele tornado prisioneiro e sendo enviado para um campo de trabalhos forçados. Imaginou que seria seu fim, mas talvez a patente de tenente que havia conquistado lhe deu alguma chance de não ser sumariamente executado, como infelizmente foi o destino de muitos de seus colegas e amigos. Depois disso, o noivado retomado, eles agora já sonham quando poderão se casar, tendo o apoio da família que também conseguiu resistir ao período da guerra.

Hoje estarão todos aqui comigo, minhas três filhas e Stefan, que virá com os pais para todos cearmos juntos à noite. Estou com Norma e Heidi preparando os pratos, esperando Mia retornar da cidade onde foi buscar alguns mantimentos para completarmos melhor a comida. Os pratos têm muitas batatas, como sempre, mas também mais itens da horta que conseguimos refazer, e até mesmo um leitãozinho que separamos para essa noite, dos poucos que voltamos recentemente a ter para engorda no chiqueiro.

Escuto, então, um jipe se aproximando pela estrada, imaginando que Mia tenha conseguido alguma carona da cidade até nossa casa. Muitos militares americanos, e agora também franceses, circulam diariamente por Zaussburg, e não é difícil para ela, linda como é, convencê-los a esticarem o passeio. Penso nisso, e em como os tempos mudaram. O sofrimento que ela, junto comigo, teve quando os nazistas assassinaram Klaus e Frank, e como ela foi forte para superar aquilo. E, depois, pela maneira vergonhosa como conseguimos sobreviver; as três caindo em completa desonra simplesmente para ter o que comer. Nós três conversamos muito sobre isso, decidindo deixar isso como um segredo sobre o qual nunca mais falaremos com ninguém, algo velado e trancado naquele passado de terror.

Saio dessas lembranças ao escutar as batidas na porta, limpando minhas mãos no avental e indo abrir a porta. Quando a abro, nem posso acreditar, mas vejo Ethan, vestido com seu impecável uniforme carregado de medalhas, dando-me um enorme sorriso, e ensaiando num alemão horrível:

- Olá Evelyn, poder entrar?

Nem respondo, me jogando nos braços dele, enchendo-o de beijos apaixonados. Norma e Heidi vêm se juntar a mim, ao escutar minhas exclamações e risos incontidos, abraçada a ele e o trazendo para dentro de casa. Passada a emoção inicial, nos sentamos à mesa e ele nos conta, usando todo o arsenal de alemão que conseguiu aprender nos últimos meses, que haviam lutado nas batalhas da tomada de Munique. Tiveram perdas, entre elas Wilson, morto instantaneamente na explosão de um morteiro. Adam e Flynn, perguntados por Heidi e Norma, estavam bem e sobreviveram com ele até o final dos combates. Depois disso, seguiram em território alemão, atuando com as forças de ocupação lá em Munique mesmo, até que o batalhão foi desmembrado no mês passado, cada um seguindo seu destino, a maioria retornando para a América.

Escuto isso, e percebo um olhar meio de decepção de Heidi, que ainda nutria uma esperança de reencontrar Adam algum dia. Ethan, então, lhe entrega uma carta dele, escrita em alemão, que ela lê entre lágrimas e sorrisos. Não nos fala dos detalhes, mas diz que tem agora o endereço dele na Carolina do Norte, e que planejam se corresponder daqui para frente. Fico, então, sozinha com Ethan, e não resisto a perguntar se ele estaria retornando para sua casa também:

- Você está voltando para sua casa?

- Sim, Evelyn, estou - sua resposta corta meu coração, mas eu permaneço firme pois tinha consciência, desde o início, das diferenças entre nossas realidades.

- Mas planeja ficar quanto tempo aqui em Zaussburg? Poderá ao menos cear conosco hoje? Eu gostaria tanto disso...

- Gostar de ficar muito tempo aqui, Evelyn. Gostar até fim de minha vida... - olho para ele e não entendo o que diz; penso se ele está trocando as palavras enroladas em alemão e não dizendo coisa com coisa.

- Evelyn, aqui minha casa agora. Você me quer? – ele frisa, complementando.

Seu sorriso, segurando minha mão enquanto me diz isso, é a explicação que eu precisava, esclarecendo tudo o que ele queria realmente me dizer. Chorando muito, eu me levanto e me sento em seu colo, agora para mais beijos e carinhos, sabendo que nunca mais nos deixaríamos. E trocamos nossas juras, de um amor que começou com muita dor, mas que será agora eterno para nós dois:

- Ich liebe dich!

- And I love you!

#Heidi

Hamburgo hoje, 31 de dezembro de 2022

Sentada na poltrona de minha casa, olho pela janela da sala o tempo fechado e chuvoso lá fora, com a temperatura caindo à medida em que a noite avança. Ao meu lado, minha neta Anelise folheia comigo álbuns antigos, com muitas fotos de nossa família e que me levam, por instantes, de volta a Zaussburg, na época da guerra. Minha vista cansada, agora com meus 96 anos de idade, não ajuda muito, mas me esforço e consigo vislumbrar e completar com minha memória, ainda lúcida, aqueles tempos difíceis. Voltam-me lembranças junto com as fotos de meu pai e de meu irmão, além de outras de minha mãe e minhas irmãs, quase todas tiradas em nossa pequena casa na colina.

Permaneci por muito tempo lá com minha mãe, antes de finalmente sair para estudar fora, após conseguir completar meus estudos do segundo grau. Fiz minha formação em medicina em Munique, e depois segui me aprimorando com especializações em obstetrícia em Paris. Casei-me com meu já falecido marido Peter, e tivemos 4 filhos, vindo a nos fixar definitivamente aqui em Hamburgo, depois de algum tempo. Contudo, assim como minhas irmãs, estivemos sempre presentes junto a minha mãe e Ethan, durante toda a vida deles, morando lá naquela mesma casa. Tiveram uma vida simples, mas cheia de amor; ela com seu sargento americano até o final, falecendo ambos numa idade muito avançada, e praticamente juntos e no mesmo ano.

Minha irmã Norma casou-se com Stefan, e viveram a vida toda em Zaussburg mesmo, em uma casa da cidade. Ela sendo o apoio presente para minha mãe e meu padrasto americano, sempre enchendo sua casa com os 3 netos, que aproveitavam os momentos com os avós para aprenderem os segredos do campo e dos trabalhos na horta e com os porquinhos. Já Mia conheceu, pouco tempo depois do final da guerra, um bom homem que se tornaria depois professor universitário. Casaram-se e, pela impossibilidade dela em ter filhos, adotaram duas crianças que eram órfãs da guerra, terminando por se mudarem para Munique após alguns anos, onde ele lecionou.

Tivemos inúmeros encontros de família naquela acolhedora casa, principalmente em datas como hoje, Natal e Ano Novo, que foram sempre carregadas de muita emoção para nós quatro em particular, bem como para Ethan lembrando-se de quando encontrou o amor de sua vida, minha mãe Evelyn. Com a partida deles, e não tendo como mantermos aquela propriedade, decidimos vendê-la, sabendo depois que o local veio a se tornar um grande e famoso hotel turístico.

Minhas duas irmãs e meus cunhados também já partiram, e, daqueles que viveram os difíceis tempos da guerra naquela casinha, apenas eu ainda permaneço viva. No entanto, por mais tristes que tenham sido, a lembrança mais forte que tenho, ainda hoje, são os dias de nossa libertação; aqueles em que pudermos finalmente respirar com alguma esperança num futuro. Celebrando a chegada do ano de 1945 com aqueles soldados americanos, garrafas de conhaque nas mãos, dançando e cantando ao som das músicas que ecoavam do rádio. Comemorando o simples fato de estarmos vivas naquela noite, a maior vitória de nossas vidas.

Sou trazida de volta para a noite de hoje, quando minha bisnetinha de 5 anos corre para mim, pedindo para ver as fotos junto conosco. Ela batizada de Evelyn, em homenagem a minha mãe. E, com ela em meu colo, acaricio seus finos cabelinhos loiros, vendo nos seus olhinhos azuis o mesmo brilho cheio de vida de minha corajosa e querida mãezinha. O mesmo azul que encantou Ethan, e os uniu para sempre naquela casinha, numa noite de Ano Novo.

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Comentários

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E então? Quando teremos uma história nova?

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Oi Ana. Estou organizando com carinho uma próxima série, mas ainda tenho pontos em aberto para trabalhar. Talvez termine 1 ou 2 contos isolados na próxima semana, a depender da concorrência com meu trabalho. Está sendo um mês agitado e se nada de férias… rsrsrs

Obrigado por me perguntar! E vc, em que anda trabalhando?

Abs

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Isso mesmo Negao450, algo terrível. E que se repetiu depois na guerra da Bósnia, de forma também abominável.

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Alexandre, caro amigo, você tem um dom espetacular. Escrever bem quase todo mundo com um mínimo de instrução e boa vontade pode escrever. Mas transportar os leitores de um conto para a Alemanha da II guerra é para poucos. Emocionante, parabéns.

Nota 10 e 3 ⭐⭐⭐

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Muito obrigado snowcastle!

É realizador quando conseguimos passar essa sensação para os leitores, compartilhando com eles o que se passou em nossa imaginação.

Vlw mesmo! Espero poder continuar nessa interação com todos!

Abs

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Excelente. Parabens, nos fez ver a crueldade da guerra e com um final feliz

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Obrigado Sol45ma!

Sabemos, pela história relatada por muitos, que situações cruéis como essas, de abuso e desespero, foram e são algo que acontece na realidade.

Vide os exemplos que sabemos também acontecer na Ucrânia, mais recentemente. A romantização que esse conto descreve, e que, de maneira parecida, pode ter ocorrido na segunda guerra em vários lugares, ao menos atenuou um pouco o sofrimento de muitas que viveram aquilo na pele.

Abs e um ótimo 2023 para vc!

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Al...que história fantástica, dramática e sensacional, apesar do drama vividos por essas fortes e valentes mulheres, infelizmente a guerra mostra a pior face do ser humano

, A forma que vc descreveu tudo parecia que eu estava ali dentro com um espectador, as imagens vinham na minha cabeça como se fossem na frente dos meus olhos.

Cara parabéns mesmo

Um feliz ano novo

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Valeu Neto!

Se você teve essa sensação, então não só Ethan, mas também eu consegui cumprir minha missão! Rsrsrs

Obrigado pelo apoio de sempre, e também desejo um ótimo 2023 para vc e os seus!

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Parabéns Al, grande história. Feliz ano novo!

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Obrigado Himerus! Curti muito esse encarar esse desafio e fico feliz que estejam gostando do resultado.

Abs e um ótimo ano novo para todos nós!

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Nossa, que história incrível,Alexandre!

Triste por todo o contexto histórico em sua base de enredo,mas bonita quando a trajetória das personagens se encontram e aos poucos elas seguem em frente e começam a viver de forma digna com a ajuda dos americanos. Dignidade essa que se transforma em amor o qual elas tiveram direito.

Você se tornou um escritor que está se destacando no site com excelentes histórias.

Meus parabéns pela milésima vez hahahahaha.

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Muito obrigado Ana.

Estava desenvolvendo essa história em paralelo ao final da temporada da Fernanda, pois sempre quis escrever algo relacionado ao tema da segunda guerra, pelo qual eu me interesso muito. E tinha que fazê-lo para encaixar até hoje, nesse dia de virada do ano, a tempo do desafio do site.

Fico feliz que vc tenha gostado, pois foi um desafio realmente explorar esse tema de uma forma diferente.

Abs e um excelente 2023 para vc e todos de sua família!

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Um 2023 repleto de conquistas, sucesso, prosperidade e de muita inspiração neste nosso universo das palavras que se transformam em histórias.

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