***CAPÍTULO VINTE E CINCO***
Tomo outro banho, só que dessa vez bem gelado.
Tendo em vista que meu corpo continua quente, coloco um pijama que Isabel me deu; são confortáveis e me deixam um pouco mais fria.
Não estou com sono, meus pensamentos não me deixam dormir. Vou até a porta da sacada, respiro fundo e abro as janelas para arejar o ambiente, deixando o ar da noite beijar minha pele flamejante.
Na beira da sacada, fecho os olhos só para sentir como o toque do vento é suave, trazendo uma sensação deliciosa em meu corpo. Suspiro aliviado. Assim que abro os olhos, me deparo com a lua e a sua beleza etérea. Sempre admirei a noite estrelada, agora não seria diferente.
Sentir essa veracidade noturna sobre minha vida, meu corpo, minha mente, me torna um pouquinho melhor. Às vezes a gente só precisa disso para acalmar o coração, principalmente antes de cair no sono.
— O que faz do lado de fora? — Assusto com a voz autoritária do Gabriel.
Estou tão inerte na beleza da noite que nem noto quando ou de que forma ele apareceu.
— É proibido? — questiono, secamente.
— Não é seguro. Por esses dias é melhor não arriscar. — Mantém um tom calmo, me censurando.
Seus olhos vagueiam pelo meu corpo, parando nas minhas pernas, depois volta a subir.
— E isso importa? Se algo acontecer a mim, será mais fácil pra você — digo dramaticamente, tentando ignorar o calor que se espalha pelo meu corpo.
— Isso não é verdade. Você me daria muito mais trabalho e gastos com um funeral, fora ter que me explicar aos seus pais. — Sua voz traz um pouco de humor.
Será que esqueceu que eu acabei de gritar algumas verdades na cara dele? Talvez seja por isso que mantém um tom cauteloso.
— É um bom motivo. — Dou de ombros. — E meus pais seriam a parte
mais difícil. Porque se tem dinheiro para me dar um carro, com certeza um funeral não será problema. — Cutuco.
— Não seria um problema nenhuma das partes, talvez um pouco de dor de cabeça, mas no final estaria feito. O motivo de proteger você é muito maior do que você pensa.
— É mesmo? — Finjo surpresa.
— A sua segurança é importante pra mim. — Ele continua.
Um frio se instala na boca do meu estômago.
— E isso não vale pra você? Está aqui fora também.
Viro o jogo, porque não estou preparado para ouvir coisas desse tipo, ainda mais vindo dele.
— Um dos meus seguranças avisou que você estava aqui fora, então vim apenas pedir que entre — diz, suavemente, sem o seu tom de autoridade.
Agora sim estou surpreso.
— Pedir? — Quando é que ele pede alguma coisa?
— Se quiser posso ordenar. — O canto da sua boca eleva-se em um sorriso perverso. Extremamente lindo.
Engulo em seco.
— Só pedir está bom pra mim.
— Então entre.
O comando me faz rir, levando a tensão que tinha se formado a minha volta.
— Tudo bem. Boa noite, Gabriel.
— Boa noite, anjo. — A última palavra sai com tanto carinho que luto para não deixar entrar no meu coração.
Batalha perdida.
Entro, fecho a porta e logo depois as cortinas. Deitar é fácil, o difícil é conseguir dormir. Fico revirando de um lado para o outro, com imagens e sensações obscenas, me sentindo molhada e sedenta por ele. Nem a roupa fina me refresca, ao contrário, seu pano leve e fino se arrasta em minha pele sensível, me incendiando como o toque imaginário de Gabriel.
Maldição, Samuel! Tire esse homem da cabeça.
Meu pensamento brinca com as imagens, trazendo junto de si as lembranças.
Saio do quarto e desço até a cozinha. Preciso de alguma coisa gelada ou dormir dentro do freezer.
Julia está arrumando algumas coisas.
— O que faz aqui ainda? — indago, já é madrugada.
— Oi, Samuel, estou arrumando algumas coisas para amanhã.
— Quer ajuda?
Melhor ficar e ocupar a minha mente do que continuar no quarto, deixando meus pensamentos me torturarem.
— Já estou terminando. — Merda! — Mas me diz: por que está aqui?
Precisa de alguma coisa?
— Estou com sede e acho que um pouco de fome.
Fome eu sempre tenho, sede é minha prioridade.
— Vou ver o que tenho, só um instante. — Julia como sempre prestativa.
— Tem gelo? — pergunto subitamente. Gelo também seria de boa ajuda.
Ela para no meio do caminho, antes de chegar à geladeira.
— Gelo? — questiona com o cenho franzido, com certeza me achando louca.
— Noite quente.
— Não está tão quente assim. — Ela sorri, desconfiada. — Será que tem alguém te deixando quente?
Julia às vezes me irrita com essas suposições, mesmo que esteja certa.
— Pare de falar besteiras, e pode deixar que me viro por aqui. Está tarde, vá descansar — digo, dispensando-a.
Ela solta uma gargalhada.
— Hum, parece um pouco frustrado e explosivo. Podemos conversar um pouco sobre esse fogo...
Indignado, imediatamente interrompo suas insinuações:
— Não. Não quero falar sobre nada, quero ficar sozinho, vá descansar. Agradeço a sua ajuda.
Me aproximei muito de Julia esses dias, é como uma amiga, uma amiga bem irritante.
— Tudo bem, se precisar estarei no meu quarto.
Ela termina o que estava fazendo, guarda coisas na geladeira e sai — rindo —, mas antes, me lança um olhar safado.
Será que está tão evidente assim?
Abro a geladeira, adorando o ar frio esfriar a minha pele. Seleciono alguns ingredientes para o meu sanduíche e aproveito para pegar meia garrafa de vinho que está na porta da geladeira, deve ser o que sobrou do jantar. Ele está gelado. Coloco o vidro no pescoço, sentindo o gelado aliviar o local.
Fecho a geladeira e dou de cara com Gabriel.
O susto é tão grande que derrubo tudo que está na minha mão. A garrafa de vinho se espatifa no piso, espalhando o líquido aos meus pés.
— Oh, merda! Você me assustou!
Meu coração está disparado.
Olho a bagunça no chão e automaticamente me agacho para pegar.
— Desculpe, não queria assustar você.
Ele se abaixa também para me ajudar com os cacos de vidro. Por conta da sua proximidade, acabo machucando a mão.
— Droga. — Choramingo, sentindo a ardência.
— Se machucou? Me deixe ver. — Entrego a mão para ele, há um furinho no dedo que começa a sangrar. Me sinto agitado pelo toque suave das suas mãos.
— Estou bem. — Puxo a mão e volto a recolher os cacos.
— Deixa que eu faço isso. Pegue o pano na pia. — Seu olhar é reprovador. — Julia vai nos matar se pegar a cozinha toda cheia de vinho amanhã cedo.
Ele realmente parece preocupado.
Faço o que ele manda, preciso mesmo da distância. Meu coração está em apuros. Assim que limpamos, reúno as coisas do lanche e me dirijo à mesa para prepará-lo, sentindo o dedo latejar.
— Está com insônia, assim como eu? — pergunta, se sentando na cadeira a poucos centímetros de distância. É uma mesa pequena de quatro cadeiras, onde os funcionários tomam o café da manhã.
— Não, só com fome mesmo. — Minha fome desapareceu assim que ele entrou na cozinha. — Vou comer e subir para o quarto — aviso, para ver se ele vai embora.
Ele ri.
— Fique à vontade. — Sua voz traz uma leve rouquidão que me desestabiliza.
Gelo! Preciso de gelo.
Vou até a geladeira e pego uma garrafa de suco, quase a deixo cair quando o calor do corpo do Gabriel aquece as minhas costas. Ele está parado atrás de mim.
— Não prefere vinho? Vou buscar.
O quê? O que ele falou?
Coloco a garrafa de volta no lugar, com as mãos trêmulas.
— Aqui. — Ele volta e enche uma taça para mim. Beberico o vinho, agradecendo o gelado que desce pela minha garganta. — Estou com fome também, achei que encontraria Julia aqui, ela sempre está acordada nesse horário, e faz lanches deliciosos.
Caramba! O que vou dizer?
— Espero que não fique bravo, mas eu a dispensei — confesso, com receio.
Quem sou eu para dispensar os empregados da casa dele?
Espero os gritos, mas não aparecem, ao contrário, ele apenas sorri.
— Não tem problema, mas vou querer um desses que está fazendo. — Olho para o meu pão com presunto, queijo e tomate.
— Não é como os que Julia faz, mas acho que serve. — Dou de ombros, abrindo um leve sorriso.
É fácil falar com ele quando está calmo, sem aqueles olhos escuros como carvão na brasa ou aquela fachada de homem autoritário.
— Ficarei agradecido.
Sua voz é tão sexy. Divago, mentalmente.
Não, sua voz não tem nada de sexy, é normal, eu que devo estar imaginando coisas.
Estou enlouquecendo.
Termino o lanche e entrego a ele. Quando termino de fazer o meu, percebo que Gabriel já devorou a metade de seu sanduíche.
O clima está palpável, o calor me derretendo por dentro, a estática a nossa volta causa calafrios pelo meu corpo... Está cada vez mais difícil de respirar. Viro a taça de vinho totalmente enquanto ele enche tudo outra vez.
Talvez seja a terceira vez que bebo, fora o que eu já bebi no jantar.
— Por que está de só com a parte de baixo? — Quase cuspo o vinho, só que me forço a engolir.
— O quê? — Me finjo de desentendido, mas ele pergunta de novo:
— Por que só a parte de baixo?
Percebo que ele abre dois botões da camisa cinza que está vestindo.
— Hoje está muito quente.
— Sim, também acho. — Ele me analisa atentamente.
Gabriel se remexe na cadeira, parecendo desconfortável, bebendo do seu próprio copo.
Acabo de comer e levo o prato à pia, sentindo o efeito da bebida me ganhar, tipo um formigamento nos braços e nas pernas, deixando a pele adormecida.
Não foi uma boa ideia beber o vinho, agora estou suando, parece que estou três vezes mais quente.
Abro a torneira para lavar a louça, esperando que a água me esfrie, mas Gabriel fica atrás de mim de novo, dessa vez mais perto.
— Por que não deixa isso? — sussurra nos meus cabelos.
Respirar... Preciso me lembrar de como se respira.
— Prefiro limpar. — Forço a voz para sair firme, não posso gaguejar.
Não posso mostrar que estou me sentindo fraco devido a sua presença.
— Esse seu jeito de me tratar está me matando. — Ele chega mais perto.
Oh, Deus!
Não me importo, não me importo, não me importo... Ele coloca as mãos em cada lado da pia, me prensando entre ela e seu corpo quente. Fogo! Estou pegando fogo.
Fecho os olhos, tentando me acalmar.
— Eu sei que me quer. — Cheira meu cabelo, e se inclina para beijar meu ombro.
Suspiro, sem conseguir controlar o tremor pelo meu corpo.
— Não quero não. — Minha voz fica entalada na garganta, as palavras são quase incompreensíveis.
Tenho que sair daqui.
— Então por que estremece quando toco sua pele? — Para mostrar o quanto está certo, ele sobe a mão pelo meu braço, me fazendo estremecer. — Por que está com a respiração pesada, como se precisasse de ar? — Com a outra mão, ele segura minha cintura e aperta suavemente, colando as minhas costas em seu peito. — Sei que me quer, anjo, está louco para ser tocado. Eu arriscaria dizer que se pudesse ouvir o seu coração, ele estaria batendo tão forte quanto o meu.
— O que quer, Gabriel? Por que não me deixa em paz? — pergunto, com a voz esganiçada, quase sem som.
— Você não quer que eu te deixe em paz, você quer que eu te beije, quer isso tanto quanto eu. — Sinto seus lábios no meu pescoço, deito a cabeça para trás em seu ombro, dando passagem, recebendo suas carícias. Não tem como ir contra esse desejo intenso dentro de mim. Em um movimento rápido, ele me vira de frente e me senta na pia, se infiltrando entre as minhas pernas. — Samuel... — geme meu nome, antes de grudar seus lábios nos meus.
O beijo é avassalador, completamente desesperado. Tenho fome dos seus lábios, fome dele, vontade de senti-lo de novo.
Estou perdido, entregue em seus braços.
Ele comanda o beijo e eu o sigo. Solta meus lábios e volta a provocar meu pescoço, me deixando louco e querendo bem mais que carícias. Meus quadris se movem por conta própria, tentando se aliviar, buscando o prazer.
Gabriel pega meu mamilo, apertando com vontade. Logo sua mão é substituída por sua língua.
— Gabriel... — É minha vez de gemer seu nome, como se fosse uma prece sagrada.
Ergo o quadril ao encontro do seu, sentindo sua ereção.
Oh! Minha nossa!
Ele tira o meu short, abre mais as minhas pernas e me encara, subindo lentamente a outra mão pela minha coxa, até chegar à borda da minha cueca. Infiltra os dedos, puxando-a para baixo, e com a mão, começa a me torturar com vai e vem no meu pau, onde imploro para ser tocado desde o dia em que me deixou louco na academia.
— Gabriel, por favor! — Ofego.
— O que quer, anjo?
— Não pare — imploro, achando não vou aguentar outra vez.
— Não vou. — Desce a boca pelo meu corpo até se agachar entre as minhas pernas. Sei o que vai fazer, e meu corpo se antecipa pelo toque da sua boca. O desejo me consome, me deixando completamente fora de controle.
Gemo alto, sentindo-o beijar a parte de dentro da minha coxa.
O toque da sua língua no meu pau é mais devastador que qualquer sentimento que tive até agora. Não consigo parar de me mexer, estou sentindo todo o prazer se aglomerar no meu ventre, muito perto de explodir.
— Não sabe o quanto queria sentir seu gosto... Tão doce — murmura entre as minhas pernas, voltando a me torturar.
— Oh... Gabriel... Meu... Oh...
O que vem é tão destrutivo que, quando os tremores começam, não consigo pensar em mais nada, apenas na sensação devastadora que toma conta do meu corpo. Ele não para, pelo contrário, infiltra dois dedos dentro da minha bunda, com investidas duras e profundas.
Meu corpo entra em combustão, me agito tanto que Gabriel precisa me segurar para não cair. Os espasmos vão diminuindo, me deixando mole e satisfeito.
Gabriel fica em pé e me beija. Agarra meus cabelos, me beijando mais profundamente, se esfregando em mim enquanto estou quase perdendo a consciência novamente ao me deixar levar pelo desejo.
— Anjo, preciso entrar em você. Estou loucamente desesperado por isso.
Assim que as palavras saem, tenho um momento de lucidez.
O quê? O que estou fazendo?
Ele está mais uma vez me usando. Se Gabriel acha que pode me enganar de novo, está muito enganado.
Ah, não vai...
Sem dizer nada, desço minha mão pelo seu peito abrindo os botões da sua camisa pelo caminho, até o cós da sua calça. Paro o beijo e começo a descer, beijando seu pescoço, seu peito cheio de músculos. Nossa, como ele cheira bem...
Concentração, Samuel!
Com as mãos trêmulas, abro sua calça e ela cai em seus pés, ele chuta para o lado, ficando apenas de cueca e a camisa aberta.
Pelos deuses, por que ele tem que ser tão gostoso?
Samuel!
— Me diz o que você quer, anjo.
Ai, essa frase. Sua voz jorra prazer e sensualidade.
— Eu quero... — digo, um pouco sem ar. Por mais que queira me vingar dele, ele ainda é o Gabriel Miller.
Afasto qualquer pensamento que me faz desejá-lo, agarro sua ereção e aperto com toda a minha força.
— Quero que vá pro inferno! — grito na cara dele.
— Que porra é essa? — esbraveja, se afastando.
Desço da pia, me visto, passo por ele, que ainda se recupera, como se tivesse ganhado a batalha.
— Samuel! — Sua voz é carregada de gelo, assustadoramente assombrosa.
Corro escada acima, ele vem atrás de mim. Acelero os passos, os exercícios me deixaram mais rápida — só que não tanto —, pois Gabriel me alcança antes de conseguir fechar a porta do quarto.
— Me deixe em paz! — Empurro a porta, mas ele é mais forte que eu, então desisto e me afasto. A porta bate com tudo na parede, se escancarando.
Gabriel entra, parecendo furioso, o diabo em pessoa.
— Saia já do meu quarto!
Ele não diz nada, seu peito sobe e desce pelo esforço da corrida, os olhos tão negros como a noite, me dá calafrios na espinha. Vem em minha direção a passos lentos, como um predador pronto para dar o bote, e eu sou a sua presa. Ele dá um passo à frente; eu um para trás, recuando até sentir a cama atrás dos nos meus joelhos.
Estou sem saída. Merda!
— Ga... Gabriel, saia. — Quase não consigo respirar.
O ar some assim que ele me pega, me atirando na cama e vindo em cima de mim.
— O... O que está fazendo? — Ele prende meus braços acima da cabeça, começo a chutar e me contorcer enquanto solta o peso em cima de mim, me imobilizando. — Me... Me Solte!
Minha voz está instável, igual meu coração.
Será que ele vai me forçar? Não, Senhor!
— Não devia ter feito isso, Samuel, não sabe do que sou capaz. — A frieza em sua voz é o que mais me deixa com medo.
— Eu vou gritar — ameaço.
— Acho que já está fazendo isso, anjo. — Sorri perigosamente. Vejo seus olhos agressivos, cheios de desejo e fúria.
— Eu te odeio, tenho vontade de vomitar só de olhar pra sua cara — digo o que vem à cabeça. Quero feri-lo, quero fazê-lo desistir.
Ele ri.
Fixo em seus olhos sombrios, são como um poço de escuridão.
— O que queria com tudo isso? — Gabriel pergunta.
— Quero você longe de mim. Não pode me tocar quando sente vontade, não pode fazer o que fez, não pode...
Estou a ponto de chorar.
— Claro que posso. — Me interrompe, sua voz é fria como uma lâmina afiada. — E você quer que eu te toque, quer que eu faça você gozar enquanto grita meu nome.
Uma onda quente de lava derretida, pelo menos é isso que parece, derrete a minha essência. Me irrito mais ainda por não ter controle sobre meu corpo.
— Por que não me mata? Me mata logo, desse jeito me livro de você.
— É tentador, sabe? Depois da sua ousadia... Mas não vai ser tão fácil assim se livrar de mim.
— Por que eu? Por que me escolheu entre tantas pessoas? — Seguro o choro.
— Não te escolhi, anjo, foi apenas a hora errada e lugar errado, uma má sorte sua. Seu destino te pregou uma bela peça, e agora você é minha.
Com uma das mãos me mantém preso, e a outra desce pelo meu pescoço, parando entre os meu peito.
Me contorço, tentando me soltar; entretanto, mesmo com uma única mão, ele me segura firme.
Volta a olhar para mim.
O seu cheiro deixa tudo mais doloroso de suportar, e a única coisa que me mantém no controle é a raiva que ferve em minhas veias. A raiva por mais uma vez ser enganado por ele.
— Me solta! Está me machucando! — Não consigo mais segurar as lágrimas, elas descem livremente pelo meu rosto.
Sinto seu aperto diminuir, mas não me solta. Seu corpo se eleva, aliviando o seu peso sobre mim, seus joelhos me mantêm preso. Estou controlado e submisso abaixo de seu corpo.
— Você fica mais delicioso assim: rebelde e selvagem. — Volta a me provocar.
— Desgraçado!
Ele ri de novo, mas sinto a amargura no tom.
Gabriel move a sua mão e me toca, mas não para apenas nessa posição. Começa a descer, seu toque é como atear fogo em minha pele, esfarelando meus ossos. Ele para na minha cintura e aperta, me tirando um gemido involuntário.
— Como espera que eu te solte, se você me provoca dessa forma?
— Saia de cima de mim, estou me sentindo enjoado — exijo, com menos convicção do que queria, minha entonação é como um suspiro de desejo.
Não estou nem um pouco enjoado, estou queimando por ele.
Merda de corpo.
— Se te soltar, você promete que vai terminar o que começou? — provoca.
— Não comecei nada, você que começou.
— Sim, porque sei que seu corpo implora pelo meu, porque eu sei que me quer. Não pode me enganar, anjo.
Com isso ele ergue o quadril, roçando sua ereção entre as minhas pernas. Como estou sem cueca, o atrito é enlouquecedor. Suspiro pesadamente, fechando os olhos, sentindo o prazer me envolver.
Levo um tempo para me recuperar, sob seu olhar atento e obstinado.
— Me solta! — grito.
— Está tudo bem, senhor? Ouvimos gritos.
Olhamos para a porta juntos, Osvaldo e a Julia estão aqui. Julia agarrada no braço do Osvaldo, parecendo aflita.
— Voltem para o quarto, não está acontecendo nada — Ele responde friamente. Logo depois, se dirige a mim quando percebe que posso abrir a boca para pedir ajuda. — Não se atreva.
— Sim, senhor, nos desculpe. Vamos, Julia. — Ele arrasta Julia com ele.
Gabriel volta seus olhos para mim, parecendo se dar conta do que está fazendo.
— Samuel, vamos conversar.
É tarde pra isso.
Me remexo, tentando me soltar. Apesar de estar sem forças, consigo me libertar de uma das suas mãos. Esmurro seu peito, até meu corpo começar a chacoalhar também com os soluços incontroláveis que saem de mim.
Me sinto fraco.
Gabriel me coloca de pé e me abraça. Apoia-me em seus braços, me deixando chorar.
— Calma, anjo. Droga! Me desculpa.
Empurro Gabriel, mas ele me prende de novo, dessa vez na parede. Coloca sua perna entre as minhas, me fazendo sentir toda a extensão do seu corpo ao meu.
— Não toque em mim. Me solta!
Estou tomado por uma fúria irracional, quero tanto enfrentá-lo. Uma parte de mim quer correr para bem longe, mas a outra me mantém aqui, e quer acreditar que ele tem outro lado, um bem melhor do que demonstra.
— Entendo que esteja bravo comigo, eu sou um... Puta de um cretino. — Seus olhos mostram arrependimento, exatamente como sua expressão.
O quê?
— Eu te odeio, odeio.
Não quero ouvi-lo.
Me recuso a acreditar em suas palavras.
Ele levanta meu queixo, me olhando como se quisesse gravar cada centímetro do meu rosto. Parece tão devastado que vacilo por um momento, deixando-o se aproximar e beijar meus lábios suavemente, apenas um leve toque.
Esse homem tem todo o poder sobre meu corpo.
Viro o rosto, desfazendo o beijo.
— O que acha que eu sou? Acha que pode brincar com as pessoas assim?
— Não estou brincando, está ficando cada vez mais difícil ignorar o que sinto — suspira derrotado.
Afasta-se apenas um pouco, colando sua testa na minha. Não consigo me mexer, mesmo que ele não me segure mais, estou petrificada no lugar.
O que ele está querendo dizer?
— Você me deixa sem chão, Samuel, me faz querer coisas que não posso ter, me faz sentir o que há tempos não sinto, e isso me irrita. Você me faz querer ser bom, assim como o dia em que se entregou a mim — desabafa.
— A você não. Eu me entreguei a um homem gentil e carinhoso — rebato, petulante, tentando evitar que suas palavras me desestabilizem.
— Gentil? — Ele ri. — Não sou gentil, muito menos carinhoso. Anjo, este é o problema: não quero ser gentil, mas você me faz ser, pois escolho dentre tantas coisas, tentar de alguma forma não te machucar. Não pode ser.
— Não estou compreendendo, por que está me falando essas coisas? — Minha voz treme.
— Eu já fiz tanta coisa... Tanta coisa. — Continua, ignorando o que pergunto. Gabriel parece preso nos próprios pensamentos. — Eu sou um monstro, não há como corrigir, sou assim, não sei ser de outro jeito.
Vejo seu muro desmoronar na minha frente. Estou trazendo-o para a superfície, para a luz, mas ele não sabe lidar com isso.
Não se iluda, Samuel!
Sinto a sinceridade e a dor saindo junto com suas palavras, ele está quebrado e tem medo de se reconstruir.
Talvez tenha uma chance.
Ele volta em si, focando em minha expressão.
— Pra mim é difícil dizer isso, mas não sei como viver sem você, e isso me mata por dentro, sinto raiva e... E... Tento te afastar de mim, porque não sei lidar com essa ideia, não sei, Samuel... Tento me afastar de você, juro que eu tento, mas você sempre está em meus pensamentos.
A sua verdade me desarma.
— Não estou entendendo — digo, totalmente perdido neste homem a minha frente.
— Eu te quero tanto, anjo, que isso me faz te odiar. É uma coisa que me sufoca. Não consigo ficar longe de você. — Vejo a dor que isso causa a ele e, por incrível que pareça, o medo também está acompanhado. — Estou perdido, não consigo pensar direito, me sinto fraco. Você está me mudando, olha o que me tornei? Estou praticamente implorando, me arrastando aos seus pés. Porra! — Ele dá um murro na parede atrás de mim e se afasta, me soltando.
Nunca o vi dessa forma, nem quando dormimos juntos. Esse é o Gabriel Miller, o verdadeiro, o que tem por baixo de tudo; aquele imerso num mar de escuridão, sufocado em agonia e dor.
— Gabriel! — Dou um passo à frente, querendo ajudá-lo de alguma forma.
— Fique longe de mim, Samuel!
A angústia em seus olhos me assusta, é como brasa queimando por dentro, acabando com qualquer brilho que já vi ali. Por debaixo da máscara não sobra nem mesmo arrogância. Ele não tem nada.
Gabriel sai do quarto, me deixando sozinho, completamente extasiado, com os sentimentos que agora me sufocam. Isso faz com que, sem pensar, eu corra atrás dele.
Não sei o que posso encontrar depois que descobrir sobre seus verdadeiros sentimentos, mas sei de uma única coisa: eu preciso conhecê-lo. Preciso saber se ainda existe uma chance de trazê-lo de volta. Preciso saber se o que está florescendo dentro do meu peito pode fazer alguma diferença para nós.
Talvez faça.
Talvez ainda haja esperança.