**CAPÍTULO VINTE E CINCO **
Vou atrás dele, a porta do quarto está aberta. Ele anda de um lado para o outro, ainda de cueca e a camisa aberta.
— Gabriel. — Minha voz sai baixa e aflita.
— Vá embora, Samuel! — vocifera ele, ríspido, com a voz embargada.
— Por favor! Olhe pra mim. — Tento chegar perto, mas ele se afasta.
— Vá pro seu quarto! — grita de novo, dessa vez me olhando nos olhos. Meu coração erra uma batida.
Seus olhos estão vermelhos e cheios de lágrimas. Me sinto cair, tudo a minha volta se quebra, dilacerando a alma.
— Não precisa ser assim — digo, em um fio de voz, quase um sussurro.
— Preciso ser forte, não posso cair. O que você não entende, Samuel, é que se eu desmoronar, a minha família cai também e por minha culpa, por erros meus. Não posso deixar isso acontecer. — Sua expressão é perturbada e seu olhar doloroso.
Sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Enquanto uma dor profunda se instala em meu peito, sinto pena por ele e, nesta hora, percebo que não importa quem ele seja, se usa máscara ou não, ele é o Gabriel, por quem estou completamente apaixonado. O resto podemos lidar com o tempo, talvez eu possa ajudá-lo a superar a dor, sem que ele precise se destruir no caminho.
Preciso que ele se sinta amado. Eu quero amá-lo.
Acabo com a distância entre nós, puxo a gola da sua camisa ao meu encontro e dou-lhe um beijo. Ele não resiste enquanto enterro meus dedos em seus cabelos desgrenhados. Me agarrando pela cintura e me prendendo em seu corpo. Gabriel parece tão desesperado que me perco na sua angústia, na sua vontade louco de se agarrar a alguma coisa.
Tiro sua camisa e jogo no chão. Ele me conduz até a cama, tira a cueca e se senta. Não sei muito o que fazer, então o deixo me guiar. Gabriel agarra as minhas coxas, tira meu short, me fazendo ajoelhar em cada lado do seu quadril. Como estou sem cueca, é fácil me penetrar.
Nossa, é como estar nas nuvens...
Gememos juntos, nos lábios um do outro, perdendo a consciência com a loucura do momento.
Depois disso, nossos corpos iniciam uma dança sensual e incrível. Nos pressionamos um ao outro, mal conseguindo respirar. Suas mãos estão por todos os lados me torturando, me levando a um lugar aonde nunca cheguei, nem mesmo na nossa primeira vez juntos. Não existe hesitação de nenhuma das partes, não existe dor, apenas prazer e luxúria. A sensação é devastadora, me levando ao nível máximo, me quebrando e me reestruturando, tudo ao mesmo tempo.
Sonhei tanto com isso que nem parece ser real.
Ele aumenta os movimentos me erguendo com os braços fortes, seus músculos inchados com meu peso, aumentando meu desejo. Acelero de acordo com seus movimentos, e nós dois ficamos agarrados, nos movendo em sincronia, enquanto as lágrimas se misturam com nossos beijos. Me sinto completo, como se meu lugar fosse aqui, em seus braços.
— Anjo — Ele suspira, e me beija com mais avidez, deslizando as mãos pelas minhas costas, fazendo um rastro de fogo, incendiando a minha pele. É o suficiente para me fazer chegar ao clímax, me agarrando a ele, sentindo suas estocadas profundas e certeiras. Ele vem logo depois, se derramando dentro de mim, com um gemido animalesco, desesperado e descontrolado.
Gabriel cai pra trás, me levando com ele, está ofegante, buscando ar para os pulmões, como eu.
Me mexo para olhar em seu rosto, ele está com os olhos fechados, parecendo relaxado, sem aquela expressão de dor que acabou comigo minutos atrás. O silêncio toma conta do quarto, ouvimos apenas nossas respirações se normalizando.
O que eu devo fazer: dizer que tudo vai ficar bem ou ir embora para o meu quarto e deixá-lo pensar?
— Por que parece tão pensativo, se arrependeu? — A voz dele preenche o ambiente.
— Não, só não sei o que fazer — confesso.
— Fique comigo, durma aqui. — Ele me puxa para mais perto e me abraça, beijando meu queixo. — Ainda não tive o suficiente de você.
— Estou aqui.
Dormir seria a última coisa que faríamos, Gabriel é insaciável, e talvez eu esteja um pouco viciado também.
Depois de mais um sexo quente embaixo do chuveiro, nos deitamos nus e caímos em um sono profundo. Amanhã lidaremos com as consequências, porque hoje temos um ao outro.
****************
Acordo sentindo beijos sendo depositados no meu ombro, nas minhas costas, e uma mão subindo e descendo pela lateral do meu corpo.
— Hum. — murmuro.
Abro os olhos e imediatamente preciso piscar várias vezes para me acostumar com a claridade do quarto.
— Bom dia, anjo — Gabriel ronrona, mordendo o lóbulo da minha orelha.
Gemo.
— Ainda está aqui? — Me lembro da última vez que acordei sozinha.
— Aqui é o meu quarto. — continua me torturando, distribuindo beijos, e me virando para ele.
— Pensei que fosse me maltratar de novo, como da primeira vez.
Uma parte dentro de mim ainda está morrendo de medo por causa do depois. Meus olhos ardem com as lágrimas.
— Fui um idiota — confessa, beijando meus lábios, voltando para o meu pescoço. Em seguida, desce para os meus mamilos, e sua mão acaricia a minha perna, deixando um delicioso rastro entre as minhas coxas, chegando em meu pau.
— Tão pronto pra mim — sussurra em minha pele, fazendo movimentos circulares.
— Não vai voltar a me ignorar? — Gemo, incoerentemente.
— Ainda não, ainda não consigo me distanciar. Você é tão viciante que mal consigo pensar em nada a não ser você, no seu cheiro, no seu gosto.
— Gabriel — chamo, tentando entender o que ele quer dizer. Se ele continuar, vou acabar me perdendo em seu toque e não chegaremos a lugar nenhum.
— Quietinho, anjo, me deixe ter um pouco mais de você — pede, me penetrando com os dedos.
Não entendo o que está falando, as suas carícias me deixam aéreo. Tudo isso é uma loucura, e eu também quero mais dele, portanto deixo a conversa para depois.
Gabriel me beija e, sem pensar, jogo as minhas pernas, girando para cima dele, me sentando nele, sentindo a penetração bem funda, nos unindo.
Começo a me movimentar, mexendo os quadris, sentindo o prazer percorrer meu corpo.
— Oh, anjo!
Aumento a velocidade dos meus movimentos, como ele faz comigo, me deixando no controle, dando prazer.
Poderoso é pouco, me sinto sexy, sedutor.
Oh, Senhor, é tão bom.
— Anjo... Caralho, você parece a porra de um deus... Oh... Merda!
Com um movimento rápido, ele fica em cima de mim, entrando e saindo com precisão, investidas longas e profundas, me fazendo gritar. Quando o orgasmo me atinge com espasmos descontrolados, ouço-o gritar meu nome repetidas vezes.
Ele despenca sobre mim, com a respiração ofegante no meu pescoço, o suor colando nossos corpos. Faço carinho em seus cabelos enquanto tudo se normaliza. Ele se apoia nos cotovelos, aliviando um pouco do seu peso e fica me olhando maravilhado, até que um leve sorriso sincero e lindo surge.
— O que fez comigo?
Dou de ombros.
Ele se levanta e vai até o banheiro para tomar banho, só não vou junto porque estou exausto. Minutos depois, escuto seu celular tocar na mesinha ao lado da cama. Olho para o visor e vejo o nome do Vinicius.
Cubro meu corpo com o lençol da cama e saio do quarto, indo para o meu.
Não sei por que estou me sentindo triste, quer dizer, triste não, fraco, enciumado. Talvez porque eu sei que ele vai se encontrar com ele.
Será que ele... Melhor nem pensar.
Não me arrependo de nada, nem de ontem nem de hoje de manhã, estou bem consciente do que fiz.
Gabriel derrubou as barreiras para ficar comigo, abaixou a guarda e me deixou ver o homem por trás daquela fachada quebrada e cheia de dor. Eu vislumbrei seu medo, a sua vulnerabilidade. Ele se entregou a mim.
Me olho no espelho, ainda sentindo seu toque em minha pele. Fecho os olhos, lembrando-me de como foi maravilhoso cada vez que chegamos ao ápice juntos. Meu coração se enche com um sentimento gostoso, um sentimento quente. Um sentimento de amor.
Será que ele sentiu o mesmo?
Não posso cobrá-lo, e o que mais me doí é que eu sei que irá se fechar de novo. Sei que aquele homem de negócios vai voltar a dar as caras, mas tenho fé que, com o tempo, vou conseguir destruir de vez aquela fachada, fazendo-o superar todos os seus medos e receios.
Ouço passos atrás de mim, então me viro, ainda enrolado no seu lençol. — Por que saiu da cama sem minha permissão?
Sorrio.
Está aí a sua autoridade, mas seus olhos continuam alegres, sem aquela sombra por trás.
— Não sabia que tinha me dado uma ordem, senhor. — Mordo os lábios, sentindo meu estômago se contorcer.
— Ah, anjo, o que faço com você? — Ele acaba com a distância entre nós. — Você é como droga e eu estou viciado. — Atiça meu corpo, como brasa quente. — Infelizmente neste momento terei que sair.
— Vai ver o Vinícius? — Solto, sem esconder a amargura na voz.
Abaixo a cabeça e me obrigo a não chorar.
— Anjo, olhe pra mim. — Ele ergue meu queixo, me obrigando a olhar em seus olhos escuros. — Não é o que está pensando, eu preciso descobrir uma coisa. Acho que Vinícius está dando informações sobre mim, ele está me traindo e tenho que ser cauteloso. Ignorar seria um erro da minha parte.
Gosto de sua sinceridade.
— É perigoso, não é? — Acaricio seu rosto, com a barba rala e bem-feita.
— Eu sou perigoso, anjo — afirma, com aquele olhar sombrio, vestindo a máscara de fodão de novo — Ele é apenas um subordinado. — Continua. — Vou descobrir o que está acontecendo e destruí-lo. Ele não está sozinho, tem alguém agindo com ele e preciso saber quem é. — Sua voz é letal, percebo a raiva que está sentindo.
Pelo menos ele não está transando com ele, sinto um alívio se espalhar pelo meu corpo.
— E eu? Vou ficar sozinho de novo?
— Lembro que me falou sobre livros, certo? Você gosta? — Assinto. — Venha comigo.
— Mas tenho que me trocar. — Na verdade, necessito de um banho.
— Eu deixaria você assim o dia todo, mas pensando bem é melhor você se trocar. Não quero que Osvaldo fique tendo belos pensamentos a respeito de você.
Rio.
Me troco rapidamente e vou com ele. Quando vejo para onde está me levando, eu paro.
— Vai me levar ao seu escritório? — pergunto, com certo espanto na voz.
— Lá tem livros e você pode pegar o que quiser. Como não gosto, nem sei o que tem, mas, se não gostar de nenhum, voltamos pra sua lista. — Ele dá um sorriso para mim.
Eu o abraço.
— Obrigado.
Entro cautelosamente em seu escritório, imediatamente vejo os livros. Na primeira vez, tinha me encantado com a grande prateleira e a quantidade de livros, porém, hoje, ao perceber que posso tocá-los, me sinto maravilhado.
— Você disse que não gosta de livros, então por que comprou estes? — Passo a mão por eles, imaginando o quanto de informação e histórias tem aqui.
— Quando comprei a casa, eles já estavam aí, por isso não tirei. E estou feliz que finalmente eles servirão pra alguma coisa.
— Posso pegar?
Tenho medo até de tocar e eles esfarelarem em minhas mãos, parecem ser tão antigos.
— Qualquer um que você quiser. — Encosta-se à mesa, me observando. Está tão lindo que não consigo desviar os olhos. O terno lhe cai muito bem, mas gostaria de vê-lo mais solto, um pouco mais desleixado, como seu cabelo. — Se continuar me olhando dessa forma, não irei a lugar nenhum hoje.
Desvio os olhos, envergonhado. Ele ri.
— Você é tão lindo. — Gabriel se aproxima de mim. — Tenho que ir, anjo, você pode ficar aqui e escolher o que quiser ler — garante ele, depositando um beijo na minha testa.
— Vai me deixar em seu escritório? — pergunto, surpreso.
— Já está aqui, anjo, e não tenho mais o que esconder de você. Só peço que quando eu estiver em reunião, não me interrompa. — Acho que posso fazer isso. — E essa noite... — Ele abre um sorriso malicioso e me agarra pela cintura, me prensando em seu peito, encostando a sua testa na minha. — Foi a melhor noite da minha vida.
Estou fascinado. Gabriel tem algo que me faz esquecer de quem sou e de quem ele é, não sei como explicar, é como se tudo a minha volta parasse, apenas meu coração batesse, batesse por ele, é incontrolável.
— Gabriel, eu am.... — Ele arregala os olhos e gruda a sua boca na minha, compreendendo o que vou falar a seguir, mas não me deixa dizer as palavras, as quais rondam a minha cabeça há algum tempo.
Mesmo quando o odiava, eu o amava, e queria que ele soubesse.
— Tenho que ir. — Gabriel me dá um último selinho e sai, me deixando decepcionado e completamente confuso.
Acho que estraguei tudo.
Me distraio com os livros. São tantos escritores, alguns conhecidos e outros que nunca nem ouvi falar.
Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Cecilia Meireles, Aluísio Azevedo, Euclides da Cunha, Vinicius de Moraes, Rachel de Queiroz, Camões, Mário Quintana, Paulo coelho, Ruth Rocha, Moacyr Scliar e muitos outros, são vários livros clássicos. Alguns estrangeiros, como: Homero, Giovanni Boccaccio, Shakespeare, Cervantes, Jane Austen e tantos outros que não pude ler ainda. Tenho certeza que clássicos são os que mais têm aqui e todos em primeiras edições.
Gabriel tem uma fortuna e nem sabe, é rico de palavras.
Alguns clássicos eu já li, mas outros separei para começar a ler.
Passo a tarde toda no escritório, me perdendo nas páginas dos livros. Fui dormir às três da manhã, e Gabriel ainda nem tinha chegado.
No domingo, acordo com a Isabel e Laurinha pulando em cima de mim.
— Vocês são loucas? — Dou um sorriso.
— Acorda tio, acorda tio! — Ela me abraça, tem um cheirinho de morango tão bom que dá vontade de mantê-la nos braços o dia todo.
Passamos o dia tomando sol, com três seguranças nos vigiando.
— Esses caras não cansam? — comento.
— Se for ver bem, até que é uma boa visão ter esses homens lindos de terno, com esses corpos gigantes. Acho que se estivessem de sunga as coisas ficariam bem mais interessantes também.
Isabel não tem jeito.
— E você, como está indo na empresa?
Uma vez me relatou que a empresa é uma financeira e que só despencava.
— Ainda uma loucura. Nossa gerente, uma das melhores associadas, se separou do marido e resolveu tirar férias fora do país, os clientes começaram a desistir e quebrar os contratos. Penso que se continuar assim, a empresa vai afundar e eu não queria destruir o que meu pai construiu com tanto amor e suor. Eu estou tentando manter em pé e contornando algumas situações, mas preciso de bons projetos e sou péssima nisso. Gabriel era o melhor, era tão bom com os clientes, fechava um contrato novo toda vez que marcava uma entrevista. Não faz ideia de como ele faz falta. — Ela se entristece. — Me sinto uma inútil às vezes.
— Não diga isso, você é ótima. — Seguro na mão dela só para que sinta meu apoio. — Por que Gabriel não quer ir lá?
Sei que é por causa do pai, mas não deve ser apenas isso.
— Eu não sei muito bem, mas já ouvi Gabriel dizer que não merece o que meu pai construiu. Acho que de alguma forma ele se sente culpado pela morte do meu pai, mas ainda não sei o porquê, visto que foi um acidente.
E se não foi acidente? Penso e já afasto o pensamento. Gabriel não seria capaz de matar o próprio pai, certo? Claro que não. Será?
*************
A tarde passou rápido e Isabel foi embora depois do jantar.
Voltei ao escritório, li tanto que acabei dormindo debruçado na mesa, em cima de um livro da Jane Austen.
Acordo com a Julia me sacodindo para ir à cama.
— Que horas são?
— 6h da manhã, Samuel, você deve estar com dor nas costas.
Só agora que ela falou que percebi o quanto estou descadeirado.
— Muita, e o Gabriel?
— Não o vi, Samuel, a cama dele ainda está arrumada.
Assinto.
Onde ele está? Por que não deu notícia e nem apareceu? Ele disse que a noite foi a melhor da vida dele.
Será que eu o assustei quando quase disse que o amava? Droga!
Levanto e vou tomar um banho. Assim que acabo, desço até a cozinha e me alimento com um bom café da manhã.
Após o café, saio e vou falar com um dos seguranças. Estou ficando preocupado.
E se alguma coisa terrível aconteceu? Não, por favor, não!
— Oi.
— Bom dia, senhor Samuel, posso ajudar? — Será que eles são treinados para falar comigo?
— Acho que sim, queria saber do Gabriel, faz dois dias que ele ainda não voltou.
— Ele está ocupado, senhor, e não sou autorizado a dar informações; mas, para tranquilizá-lo, posso dizer que está muito bem. — Ele mal olha pra mim, se mantém sério.
Será que se eu der um chute no saco do segurança, ele ficará com essa mesma postura? Que idiota!
Não pode descontar a sua raiva nas pessoas, Samuel, ele até que foi cordial. Meu subconsciente sempre aparece nas horas inoportunas.
— Obrigado. — Minha educação me força a dizer.
Volto para dentro.
Estou ansioso, quase não me concentro nos livros.
O que eu faço?