Júlio andava de um lado para o outro, nervoso. Aguardava com ansiedade o médico sair do quarto de Vanessa. Luciano já havia sido atendido. Segundo o doutor, o corte não foi profundo e não deixaria cicatrizes depois da retirada dos pontos dali a uns dias. Também receitou para Luciano um analgésico para aliviar a dor, e o jovem já estava repousando em seu quarto.
Assim que o médico saiu do quarto de Vanessa, Júlio o abordou perguntando pela filha.
_ Ela está em estado de choque. Eu a mediquei com um bom sedativo. Ela acabou adormecendo, mas creio que acordará muito melhor.
_ Obrigado, doutor. O senhor já sabe. Nada do que aconteceu aqui deve sair daqui.
_ Com certeza. Não se preocupe, doutor Júlio.
_ E o meu companheiro?
_ Ele vai ficar bem. Mas recomendo que siga todas as minhas indicações para que não infeccione. Seria mais prudente que ele fosse a um hospital, mas já que o senhor não quer.
_ Não. O Luciano iria ter que explicar o ferimento de faca e eu não quero problemas para a minha filha.
O médico recebeu pela consulta e um valor adicional pela discrição.
Júlio foi até o quarto e encontrou Luciano sentado na cama com o braço enfaixado.
Júlio se aproximou carinhoso, sentando ao lado de Luciano e o beijando.
_ Oh, meu amor, me desculpe por você ter passado por isso.
_ Eu não posso mais viver nesta casa. Essa menina me odeia! Ela tentou me matar!_ Luciano disse chorando.
_ Meu amor, não precisa exagerar.
_ Você chama isto de exagero?!_ Luciano gritou mostrando o braço._ Essa garota me esfaqueou! Ela está totalmente desequilibrada!
_ Sim, está. Mas Vanessa é só uma criança confusa! Ela está emocionalmente instável por culpa de tudo que está acontecendo. Eu tenho minha parcela de culpa nisso. Mas eu prometo que vou cuidar de tudo.
_ Como você a defende depois de todas as coisas ruins que ela fez comigo? Essa garota me humilha o tempo inteiro e agora tentou me matar! O que eu sou pra você? Um pedaço de lixo?
_ Ela é a minha filha! O que quer que eu faça? Que a ponho para fora de casa?
_ É isso mesmo. Você me vê como um lixo. Basta a forma como me tratou naquele dia em que me estuprou nesta mesma cama!
Júlio o olhou com ódio. Sentiu vontade de estapear Luciano, mas se conteve. Lamentava por ter que suporta-lo.
_ Eu não te estuprei! Deixe de exagero! Eu só bebi um pouco e perdi o controle. Isso não tem nada a ver com estupro! Você está me ofendendo! Nós somos um casal! E você é muito atraente. Estava todo gostosinho, deitado de cueca, com essa bundinha deliciosa pra cima, eu não resisti. Mas eu prometo que vou tentar me controlar. Mas vê se colabora também e durma vestido quando eu estiver bêbado. Você também é homem, sabe que a carne é fraca.
_ Eu não estou feliz. Quero voltar para a minha casa.
_ A sua mãe não quer te ver. Você sabe disso. Não depois do que fez.
_ Eu fiz por você. Mas não valeu a pena.
Júlio se aproximou e o beijou carinhosamente. Apoiou a cabeça de Luciano em seu peito, que começou a chorar.
_ Não chore, meu bem. Me desculpe por não estar sendo o marido que você merece. Mas eu vou resolver tudo.
_ Como?
_ A Vanessa vai passar uns dias fora. Vou deixá-la com o Leandro. Só até às coisas se acalmarem. Ela vai receber um tratamento psicológico adequado. Querendo ou não vai fazer terapia.
_ Isso não adianta!
_ Claro que adianta. Eu vou contratar dois seguranças. Eles vão ficar de olho na Vanessa e em tudo por aqui para garantir que nada de ruim te aconteça. E vou tirar férias também. Nós vamos viajar.
_ Pra aonde?
_ Pra onde você quiser. Você escolhe.
_ Eu não sei se essa viagem vai resolver. Eu só quero a minha mãe.
_ Mas ela não te quer! E eu não vou deixar que você se humilhe. Mesmo depois do que aconteceu, eu não tenho mágoa da Irene. Apesar de tudo, ela é a sua mãe. Pode te visitar a hora que quiser, mas ela não quer e eu não acho justo que você implore por isso.
Luciano abaixou a cabeça deixando as lágrimas caírem. Por dentro, Júlio estava entediado com a tristeza do namorado. Para sair daquela situação, o abraçou fingindo preocupação.
Ficaram abraçados por um tempo, até que Júlio disse que iria descer para comer algo na cozinha.
Luciano aproveitou a saída de Júlio para pegar o celular. Olhou para tela por alguns segundos, antes de ligar para Irene.
A cada toque não atendido o seu coração disparava. Só sentiu alívio quando ouviu a voz da mãe do outro lado da linha.
Luciano perguntou como ela estava.
_ Estou bem._ Irene respondeu seca.
Mas o seu coração amoleceu ao ouvir de Luciano dizendo que ele estava com saudades e que precisava vê -la. Ela concordou em ir até o apartamento de Júlio no dia seguinte. Em seguida, perguntou como Luciano estava, mas não se convenceu quando ele disse que estava bem. Ela sentia que era mentira e estava disposta a tirar o filho daquele lugar.
...
Recordou da última grande briga que teve com Irene. Segurou com força no pescoço da mãe perdendo totalmente o controle dos seus impulsos. Desesperada, e quase sem ar, Irene implorou para que ele parasse.
Em fração de segundos, Luciano voltou a si, a soltando e parando para recuperar o fôlego. Irene, ficou brava. Olhou para Luciano com toda a fúria que sentia e atirou sobre o filho o primeiro vaso que viu pela frente.
Luciano conseguiu desviar, e o objeto se espatifou na parede.
_ Como se atreve a agredir a sua própria mãe por causa de um homem qualquer?
_ Me desculpe, mãe? Por favor! Eu fiquei nervoso e...
_ Eu vou acabar com aquele desgraçado! Não estou nem ligando mais para dinheiro. Vou pôr a boca no mundo e o Júlio vai ser preso! Vai perder tudo que tem!
_ Mãe, pelo amor de Deus! Pare de alimentar esse ódio pelo Júlio! Nós podemos sair prejudicados com essa história de vingança! Não é só o Júlio o envolvido nessa história! Há pessoas poderosas que podem mata-lo e a nós também!
_ Que se foda! Eu quero mais é que aquele desgraçado morraaaaa!
Irene caminhou às pressas até o quarto de Luciano. Tinha a intenção de pegar o pendrive. No entanto, Luciano foi na frente e a trancou do lado de fora.
Ele tampava os ouvidos na tentativa de não ouvir os gritos da mãe, junto com as batidas violentas que ela dava na porta.
Luciano estava desnorteado. Não aguentava mais aquela história de vingança e não queria que algo de ruim acontecesse com Júlio. Estava apaixonado. Tinha esperanças de poder viver esse amor ao lado dele.
Ligou o notebook e apagou o arquivo da nuvem e do aparelho. Pôs o pendrive no bolso e abriu a porta para sair de casa.
Irene aproveitou para entrar no quarto. Descontrolada, vasculhou tudo a procura do pendrive.
_ Não adianta, mãe. Eu vou acabar com essa história de chantagem. Eu nunca quis participar desse plano de vingança! Nunca gostei dessa ideia! Tudo que aceitei foi porque nunca soube te dizer não.
_ Me dê essa porra desse pendrive!_ Irene exigiu, socando os braços de Luciano.
Ele a segurou com força pelos pulsos e a forçou sentar na cama.
_ Acabou, mãe. Eu amo o Júlio desde que eu era criança! Ele também me ama! Não quero mais essa vida de ódio e vingança!
_ Deixe de ser burro, seu tonto! Júlio não te ama! Ele só tá te usando! Ele vai recuperar esse arquivo e vai te dar um pé na bunda!
Luciano a ignorou e saiu porta a fora.
...
Júlio havia acabado de chegar em casa, quando Valdeia anunciou que Luciano o aguardava no escritório.
Ao entrar, Luciano o entregou o pendrive. Júlio o olhou sem entender o que estava acontecendo.
_ Esse é o pendrive que está o vídeo que a minha mãe estava te chantageando. Júlio, eu te amo! Não quero mais viver com chantagens. Quero ter um bom relacionamento contigo. Eu te amo!
_ Mas há alguma cópia?
_ Não. Eu apaguei as cópias do notebook e da nuvem. Só trouxe o pendrive para te provar a minha lealdade.
Júlio deu um sorriso e o beijou.
_ Meu amor! Meu amor! Você é o homem perfeito pra mim!
Luciano gostou da reação do namorado. Novamente foi beijado, mas desta vez, recebeu um abraço demorado.
_ A minha mãe está furiosa. A minha relação com ela ficará abalada.
_ Não se preocupe. Pegue as suas coisas e venha viver comigo aqui em casa.
_ É sério, amor?! Jura?
_ Claro! O que você fez por mim, eu jamais teria como agradecer. Você me deu a liberdade! Você é leal a mim como ninguém nunca foi. É de um homem assim que quero e preciso ter ao meu lado.
Júlio fez questão de levar Luciano até a casa da mãe para que ele fizesse as malas e se mudasse para a sua casa.
Irene os recebeu aos berros e praguejou o filho e genro quando soube de tudo.
_ Eu desejo que vocês dois sejam muito infelizes e que tenham uma vida repleta de desgraças!
_ Apesar de todo o mal que você me fez, Irene, eu te perdoou.
Ela olhou para Júlio como se o fuzilasse com os olhos.
_ Desgraçado! Não venha querer bancar o bom samaritano comigo! Eu sei muito bem que você é o demônio!
Júlio deu um sorriso de canto, a irritando com o seu ar de vencedor.
_ Vamos, meu amor. Nós vamos ser muito felizes sim, independente da vontade da sua mãe.
Os dois saíram, deixando Irene possuída de ódio.
....
Vanessa despertou assustada gritando por Leandro. Ao ver que Júlio estava sentado ao seu lado, se tranquilizou, se atirando nos braços do pai. Chorava, trêmula.
_ Pai, foi horrível! Aquele homem é um monstro! Ele ficou bravo porque eu ia fazer o jantar e o pai Leandro iria vir. Aí ele pegou a faca e se descontrolou! Me ameaçou e correu em minha direção. Eu corri para o meu quarto, ele veio atrás de mim e cortou o próprio braço! Pai! Pai! Foi pavoroso! Parecia uma cena de filme de terror!
Júlio a abraçou a apoiando a cabeça dela em seu peito. Pedindo que se acalmasse.
_ Ele foi embora, pai?! Aquele homem é um louco! Ele não pode ficar aqui! Ele é doente!
Júlio respirou fundo. Olhou para a filha com dó.
_ O Leandro tá vindo pra cá. Eu já pedi para a Valdeia arrumar as suas coisas. Você vai passar uns dias com ele.
_ Cadê o Luciano, pai?
_ Ele está no nosso quarto.
Vanessa se afastou abismada. Olhava para Júlio com espanto e decepção.
_ Eu não acredito que você não está acreditando em mim! Você vai me expulsar de casa pra ficar com aquele monstro!
_ Vanessa, eu não estou te expulsando de casa. Eu conversei com o seu pai ao telefone e chegamos a conclusão que, no momento, o melhor a fazer é você ficar lá com ele.
_ Isso não é justo!_ Vanessa gritou._ Você prefere acreditar num doente do que na sua própria filha! Porra! Você vai continuar com ele depois de tudo o que aconteceu?! E ainda vai me expulsar da sua casa!
_ Vanessa, eu já disse que não estou te expulsando!
_ Está sim, porra! Você não quer enxergar! Simplesmente quer jogar os problemas para as costas do Leandro e ponto. Como você sempre fez! Você não se importa comigo! Desde que começou a se esfregar com o Luciano nem ficar comigo você fica mais! Eu te odeio!
_ Deixe de ser injusta! Eu errei com você sim e quero consertar as coisas. Nós vamos passar mais tempo juntos, eu prometo, meu amor. E você receberá toda a assistência médica necessária e...
_ Eu não estou louca! Sei muito bem o que vi! Ele se cortou!
_ Ah pelo amor de Deus, Vanessa! Você viu como você deixou o braço dele?! Eu encontrei a faca na sua mão! Eu sei que você tem ciúmes do Luciano, mas você foi longe demais e ainda quer brigar comigo! Eu estou tentando fazer o melhor pra você!
_ Você não acredita em mim! Saia do meu quarto!
_ Vanessa, por favor!
_ Saiaaaaaaaa! Saia daquiiiiiiii! Saiaaaaaaaa! Aaaaaaaaaaaa!
Júlio se retirou bufando. Não via a hora de Leandro chegar logo e se livrar daquela situação.
Valdeia bateu na porta do quarto alguns minutos depois, receosa. Temia ser vítima dos ataques de Vanessa.
No entanto, a encontrou vestida pronta para sair, com uma calça jeans cintura alta, uma blusa social rosa com os botões abertos até entre os seios, cabelos soltos repartidos de lado e saltos altos. A menina não estava maquiada como de costume. Pelo contrário, estava com uma expressão abatida e os olhos inchados de tanto chorar.
_ Oi, Vanessa. Você está melhor?
Vanessa respondeu que sim com a cabeça. Ela arrumava as próprias roupas na mala.
_ Eu vim arrumar as suas coisas.
_ Não se preocupe. Eu mesma fiz isso. Não quero ficar mais um instante dentro desta casa. Assim que o meu pai chegar, eu vou embora.
...
Leandro e Abner namoravam peladinhos no quarto escuro. Depois de gozarem de tanto prazer, permaneciam abraçados aos beijos.
O ato de amor foi interrompido com a ligação de Júlio, que a princípio foi ignorada. Porém, devido a insistência, Leandro concluiu que poderia ser algo relacionado a Vanessa e decidiu atender.
Ficou trêmulo quando ouviu o relato de Júlio. Não queria acreditar no que estava ouvindo. Assim que desligou, explicou a Abner do que se tratava, e esse se ofereceu para levá-lo até a cobertura. Leandro negou. Alegou não achar apropriado chegar ao local acompanhado do namorado. Isso poderia aborrecer Vanessa e piorar ainda mais a situação. E Abner compreendeu.
Leandro se vestiu de imediato. Estava nervoso.
_ Eu não acredito que a minha filha chegou a esse extremo! Meu Deus, eu falhei muito na educação dela!
_ Fracamente, Leandro, você acredita mesmo que a Vanessa esfaquearia um homem daquele tamanho?! Tenho pra mim que isso é armação daquele tal de Luciano. Você viu como aquela bicha é surtada! Sem contar que ele morre de ciúmes do Júlio, que por sinal, mima muito a Vanessa. Tá na cara que ele armou pra cima da garota pra tirar ela do caminho. Ele quer que a Vanessa saia de casa, pra ele ficar sozinho com o Júlio.
_ Amor, eu queria muito que isso fosse verdade. Mas eu não posso fechar os olhos para um absurdo desses só porque a Vanessa é a minha filha. Ela nunca gostou do Luciano. E não se esqueça do que ela armou pra você.
_ Mas, meu nenê, uma coisa é aquela armação infantil de garota boba, outra complemente diferente é esfaquear um homem que tem o dobro do tamanho dela! Eu e a sua filha não nos bicamos, mas não acredito que ela seria capaz de fazer isso. O Júlio é um incompetente. Não sabe lidar com a situação e jogou pra você, o que não é nenhuma novidade. Agora se você comprar essa armação do Luciano, vai abalar muito a boa relação que você vem construindo com ela. Essa garota foi uma vítima. Ela precisa do seu apoio neste momento.
Leandro sentou novamente na ponta da cama. Sentia como se o mundo desabasse sobre ele. Estava confuso. Por um lado, queria acreditar em Abner. Para ele, era doloroso demais saber que a sua querida filha foi capaz de tamanha crueldade. Por outro lado, tudo apontava para acreditar que Vanessa fosse realmente culpada.
_ Eu estou me sentindo péssimo. Eu não sei o que fazer. Sinceramente, queria muito fugir desta situação. Não sei se quero lidar com isso.
_ Nenêm, eu estou aqui. Você tem todo o meu apoio. Eu recomendo que você se mostre carinhoso com a Vanessa. Na certa essa menina tá sofrendo e precisa muito de ti. Está sendo tudo muito complicado pra ela, a separação de vocês, descobrir a verdade sobre Júlio, ter que lidar comigo e com Luciano e ainda estamos em ano de vestibular. Ela precisa muito de ti. O seu apoio vai fazer total diferença. Vamos fazer o seguinte: você dá suporte emocional pra Vanessa e eu dou suporte a você.
_ Oh, meu amor!_ Leandro o abraçou._ Você tá sendo tão necessário!
....
_ Valdeia! Valdeia!
A empregada entrou correndo no escritório do patrão para atender o seu chamado.
_ Pois não, seu Júlio.
_ Meu bem, me faça um favor de assim que o Leandro chegar, pedir a ele para que entre aqui para conversar comigo?
_ Sim, senhor.
_ E a Vanessa?
_ Eu confesso que estou com um pouco de pena dela, seu Júlio. A menina tá tão tristinha. Mas também estou com pena do seu Luciano. Ele ficou bem machucado. É triste que os dois não se dão bem de jeito nenhum.
_ É complicado. Ela acha que eu estou a abandonando. Mas eu não estou. Vou cuidar dela. Só não consigo fazer isso sozinho. Eu tenho muitas coisas pra lidar. Tem a empresa, tem o Luciano...fica complicado pra mim. O Leandro tem que ter um pouco de responsabilidade também. Vanessa sempre foi muito mimada. Eu confesso que tenho minha parcela de culpa. Ela é a minha princesinha. Eu a amo muito e sempre fiz tudo que ela quis. Nunca controlei esse gênio dela e confesso que impedia do Leandro fazer isso. Eu não deveria ter interferido. Deixado o Leandro ter feito trabalho dele. Agora não sei lidar com isso. Só não quero ela saia prejudicada.
_ Então o senhor fez bem em manda-la para a casa do outro pai.
_ Não sei. Leandro mudou muito desde que foi embora. Ele já foi um homem decente. Mas hoje está se esfregando com um garoto de programa. Não sei se é uma boa companhia para a minha filha...Valdeia, você acha que um colégio interno só para meninas seria uma boa solução? Assim ela poderia se dedicar mais aos estudos, ficar longe dos garotos e do Luciano.
_ Como o senhor está pedindo a minha opinião, eu vou dar. Eu acho que ela ficaria ainda mais revoltada. E se ela fez o que fez, poderia até piorar. Talvez, passando uns dias na casa do outro pai, ela pode ficar mais calma.
_ É... você tem razão. E quem sabe Leandro cuidando mais da filha, tenha menos tempo para ficar de fuleragem com o prostituto?
Valdeia não quis opinar mais, não queria ultrapassar o seu limite de funcionária. Ficou aliviada quando ouviu o som do interfone. Pedindo licença para atender. Retornou dizendo que Leandro estava subindo.
...
Luciano estava descendo as escadas quando deu de cara com Leandro entrando no apartamento. A raiva o pegou em cheio. Estava esgotado da comparação de todos com o Leandro. A presença do seu antecessor o ofendia, sentia uma inferioridade perturbadora.
Reparou a diferença entre os dois. Leandro tinha sim um porte elegante, gentileza nos gestos, uma beleza encantadora mesmo estando preocupado. Passou a odia-lo por isso. Quis chorar, mas não queria se sujeitar a esta humilhação. As palavras de Vanessa ecoavam na sua cabeça, o destruindo por dentro. Desejou o silêncio da morte, todo aquele ódio o perturbava. Respirou com dificuldade. Olhou para Leandro com a cabeça erguida, querendo ocultar o sofrimento numa falsa aparência de arrogância.
_ Como se atreve a pisar aqui?
_ Luciano, eu não vim brigar. Só quero resolver as coisas.
_ Acho bom mesmo que resolva e dê um jeito nessa sua filha mal educada. Olha a que ponto ela chegou.
_ Eu sinto muito por isso.
_ As suas desculpas não apagam as dores que estou sentindo no braço e nem o trauma de ver aquela psicopata apontando uma faca pra mim. Você e o Júlio são péssimos pais. Criaram um monstro!
Leandro não quis prosseguir com o assunto. Não tinha estrutura emocional para começar uma briga com ninguém. Só queria pegar a filha e sair daquele lugar o mais rápido possível.
_ Cadê o Júlio?_ Leandro perguntou a Valdeia.
_ Está esperando pelo senhor no escritório.
_ O que quer com o meu marido?
_ O seu marido também é pai da minha filha. Eu preciso conversar com ele.
_ Não acho apropriado que você se tranque com ele debaixo do meu nariz.
_ Tudo bem. Então, você vem conosco. Creio que como companheiro do Júlio a casa também seja sua. Você tem todo o direito de estar presente.
_ Ótimo. Vamos?
No fundo, Leandro até gostou que Luciano estivesse com eles. Não estava nem um pouco a fim de ouvir alguma gracinha de Júlio.
Os três foram até o escritório. Valdeia os deixou na porta, dizendo que iria avisar Vanessa sobre a chegada de Leandro.
Júlio não gostou de Luciano estar por perto e demonstrou com o olhar, o que fez Luciano ainda mais ofendido.
_ Amor, eu preciso conversar em particular com o Leandro.
_ Não precisa. O Luciano é o seu companheiro. Ele tem o direito de estar aqui.
Júlio respirou fundo, tentando manter um pouco de paciência. Ficou em silêncio por alguns segundos, olhando os dois homens diante de si. Uma cena pervertida passou pela sua cabeça. Os dois nus de joelhos com a boca no seu pau. Sentou para esconder a ereção. Imaginou como a vida seria um deleite se pudesse ter os dois ao mesmo tempo a sua disposição para satisfazer o seu prazer. Gostou da ideia e sorriu.
_ Se é o que vocês querem, então tudo bem. Sentem-se.
Luciano e Leandro decidiram permanecer de pé. Luciano estava tenso demais para sentar e Leandro desejava terminar aquela conversa o mais rápido possível.
Júlio argumentou que diante dos fatos, o melhor seria que Vanessa e Luciano ficassem afastados por um tempo. E que Vanessa recebesse os cuidados de Leandro. Pediu ao ex marido que procurasse os melhores profissionais da área da saúde mental para que pudessem cuidar de Vanessa e que ele arcaria com todas as despesas.
_ Também peço discrição de ambos. Vanessa não é nenhuma bandida. É só uma menina confusa que precisa de ajuda. Não quero que a minha filha seja hostilizada.
_ E você vem pedir isso para mim?! Ah, Júlio pelo amor de deus!_ reclamou Leandro._ É muito fácil pra você. A menina tá com problemas, você joga nas minhas costas e paga umas sessões de terapia e tá tudo bem. Eu tenho que lidar com tudo isso sozinho. Como se só eu fosse o único pai dela! O negócio é o seguinte: como a situação chegou a esse estado? Por que você não pôs limites na Vanessa quando ela começou a maltratar o Luciano? Ele é o seu namorado e ela também é a sua filha!
_ E você acha que jogar a culpa toda pra cima de mim vai resolver a situação, Leandro?
_ Foi o que você sempre fez comigo a vida inteira, Júlio! Eu sempre quis pôr limites na Vanessa, mas você nunca permitiu. Até achava graça no temperamento explosivo da Vanessa! Sempre permitiu que ela humilhasse as pessoas, inclusive até a mim! A coisa toda aconteceu na sua casa! Com o seu namorado! Mas você simplesmente joga pra mim, lava as suas mãos e abre a carteira. Pronto! Tá tudo resolvido!
_ Não sou só eu que estou mexendo com a cabeça da Vanessa! Você saiu de casa, abandonou a menina e agora se esfrega com um garoto de programa. Você acha que isso não afeta uma adolescente?
_ Nem vem! Nem vem! Eu nunca abandonei a minha filha! Eu saí desta casa, porque você me agrediu! A Vanessa estava testemunhando demais as nossas brigas e este lugar estava se tornando um ambiente hostil para ela! Eu só não a levei comigo, porque ainda não tinha condições financeiras para isso! Quando tive, eu a busquei! Lutei para compartilhar a guarda dela, que você não queria só pra me obrigar a voltar para esta casa. E sobre o meu namorado, Abner não é mais um garoto de programa! Ele trabalha honestamente! E o meu relacionamento com ele não atinge a Vanessa.
_ Você a levou para um muquifo, que chama de apartamento e a obriga a conviver com um sujeito sórdido!
_ O único sujeito sórdido que a Vanessa convive é você! Eu não quero mais perder o meu tempo batendo boca contigo. Eu acho que esse é mesmo o melhor a se fazer com a minha filha. Vou levá-la e cuidar dela! Só quero que saiba que você está machucando a nossa filha! Vanessa sente a sua falta, sofre com as suas negligências! E te digo mais! Ela está se tornando uma mulher e, aos poucos, está vendo a sua verdadeira face e está muito decepcionada!
_ Olha aqui, Leandro, se você ficar pondo a minha filha contra mim, eu vou te processar por alienação parental e nunca mais te deixo chegar perto dela.
_ Eu não preciso fazer isso! Nunca precisei! O que mais quero e que vocês dois tenham uma boa relação. Não por sua causa, eu não me importo com você, mas sim por ela, porque sei que ela te ama.
Luciano aproveitou a discussão do ex casal e saiu sem que ninguém notasse a sua ausência. Foi até o quarto de Vanessa, onde a menina finalizava a arrumação de suas malas. Ele permaneceu parado encostado na soleira da porta, a olhando de baixo para cima.
Vanessa sentiu o corpo inteiro se arrepiar ao notar Luciano. A cena dele a perseguindo, gritando com uma faca na mão ainda a apavorava. Mas o fato de os pais estarem em casa a deixou mais segura. Sabia que Luciano não a faria mal perto de Júlio.
Além disso, não queria demonstrar fraqueza. Levantou a cabeça e o encarou fingindo coragem.
_ Os seus pais estão lá no escritório discutindo por culpa sua. Ainda bem que você vai embora desta casa. Só assim terei paz.
_ Você sabe muito bem o que aconteceu. Não foi culpa minha e sim sua!
_ Sabe, o Júlio vai pagar um psicólogo e um psiquiatra para você. Ele e o Leandro acreditam que você está mentalmente perturbada. Se você continuar me humilhando, eu juro que dá próxima vez, vou fazer com que seja trancafiada num hospício.
_ Você deve estar muito feliz por me ver indo embora né.
_ Nada mais me dar mais prazer que isso._Luciano respondeu com um sorriso sínico.
_ Você fez tudo isso por desespero. Você sabe que o meu pai não te ama e que pode te descartar a qualquer momento. Você acha que ficando sozinho com ele, vai reverter as coisas. Sabe o que mais me consola? É que o meu pai é um homem tóxico. Ele vai fazer com você o mesmo que fez com o meu pai Leandro e você vai estar sozinho nas garras dele. Ninguém vai te ajudar. Será uma bicha ridícula, brega, vulgar, burra e infeliz!
_ Por que você ainda me humilha?
_ Porque você é humilhavel. É digna de pena! Já reparou que está só? Você não tem amigos, sua mãe não quer te ver, o meu pai criou uma teia pra você e te aprisionou. Aqueles seguranças não são para te proteger, são para te encarceirar. Você está num labirinto. Eu vou adorar quando ele acabar com você.
_ Sua puta ridícula!_ Luciano deixou uma lágrima cair.
_ Bicha mal amada! Ralé, despeitada e louca! Não passa de brinquedinho sexual de um homem sádico. Burra! Agora saia da minha frente, seu depósito de porra!
_ Veja lá como fala comigo!
_ Vai fazer o quê, surtada? Se cortar? Até que é uma boa. Desta vez, você poderia cortar os pulsos ou a própria garganta. Não vai fazer falta. Existem milhares de bundas como a sua no mundo, pro meu pai não vai fazer diferença nenhuma. Agora saia da minha frente! Não quero mais ficar um minuto nesta casa contigo.
Luciano sentiu tanta raiva pelas humilhações de Vanessa, que gritou de ódio. Ela o olhou sorrindo e se afastou.
Ele sentiu os olhos pesarem e correu para o quarto para chorar. Não queria fazer isso na frente de Vanessa.
Ao ver Leandro, a jovem se atirou nos seus braços chorando, implorando para que o pai a tirasse o mais depressa possível daquela casa que a sufocava. Júlio quis se despedir com um abraço, mas ela o negou, demonstrando rancor.
Partiu abraçada com Leandro, se despedindo apenas de Valdeia.
...
Júlio entrou no banheiro e se desfez das roupas rapidamente. Ligou o chuveiro em águas frias para auxiliar no apagamento do seu fogo. Fechou os olhos para emegir fundo na sua fantasia, pondo a mão no pau ereto, se tocando.
Leandro e Luciano o aguardavam nus, de quatro em cima da cama, com as bundas empinadas e os cuzinhos bem abertos a sua disposição. Júlio se deleitava com a língua naquele buracos deliciosos. Chupando um e dedando o outro. Ambos rebolavam. Sentiu-se no paraíso.
Ordenou que os dois se beijassem e apreciou a cenas das línguas se tocando lentamente. Enfio-se no meio delas num beijo triplo.
Sentou com as pernas abertas e ambos se postaram ajoelhados diante dele, disputando o seu pau, fazendo pausas para se beijarem.
Júlio delirava vendo os dois disputando a sua porra. Ordenou que Leandro sentasse sobre a sua pica dura. Não pensou em se lubrificar. Gostou de ver a expressão de dor no marido que rebolava mesmo assim, gritando.
Virou Luciano com brutalidade e deu um tapa violento na sua bunda.
_ Empina esse cu, sua puta imunda!
Meteu a língua no cuzinho de Luciano, enquanto Leandro sentava na sua. Seu corpo estava em transe nessa imaginação deliciosa.
No banheiro se tocava com mais força.
_ Vagabundas! Putas imundas! Cadelas safadas! Vocês são minhas! Só minhas! Minhas! Eu quero as duas!
Gozou urrando de um jeito animalesco. Respirou ofegante, deixando a água lavar o seu corpo. Apoiou a mão sobre a parede fria.
_ Esses dois são uma delícia! Eu quero os dois. Eu vou ter os dois! Ah vou. Faço o que tiver de fazer, mas esses dois serão meus.
...
Foi um alívio chegar no apartamento. Por mais que Vanessa sempre achou a casa de Leandro inferior, pela primeira vez, viu um lar naquele lugar. Sentiu um pouco de paz e sabia que estava segura.
_ Filha, eu nem tive tempo de preparar o almoço no meio dessa correria. Mas posso fazer uns sanduíches. Tenho que organizar algumas coisas aqui em casa, está tudo uma bagunça.
_ Não se preocupe, pai. Eu só vou tomar um banho e trocar de roupas. Posso ficar no seu quarto? Só quero tentar dormir.
_ Tudo bem. Você quer conversar?
_ Quero sim. Mas deixe eu tomar banho primeiro. Estou morrendo de calor.
Leandro carregou as malas até o quarto de Vanessa. Estava com o coração partido por ver a filha tão triste. Em seguida, foi até a cozinha para preparar um sanduíche de atum para a Vanessa. Por mais que não tivesse se alimentando, quis adiar isso. Precisava limpar a casa e lavar roupas. Ligou para a Patrícia para saber como estavam as coisas na livraria.
_ Até agora tá tudo normal. Movimento fraco. Poucos clientes. E os que entram aqui reclamam dos preços e saem dizendo que vão comprar na Amazon por estar mais barato.
_ Isso está preocupante! As editoras têm me passado os valores dos livros muito caro e eu repasso mais caro ainda para os clientes. As vendas estão caindo muito. Estou com medo, amiga.
Há dias Leandro tem perdido o sono devido a esse assunto. Viu-se de mãos atadas diante deste problema. Teve medo de não suportar a concorrência com a grande multinacional e ter que fechar as portas do seu negócio.
Terminou de preparar o sanduíche e o suco e foi até o seu quarto, onde Vanessa descansava.
_ E aí, minha princesa?_ Leandro cumprimentou sorrindo, segurando a bandeja.
Vanessa deu um sorriso amarelo, sem deixar de digitar no celular. Leandro se aproximou, pôs a bandeja numa mesinha ao lado da cama da filha, sentou na ponta da cama e a beijou no rosto.
_ Confesso que eu gostaria de ter preparado algo mais elaborado. Mas foi tudo tão corrido que nem tive tempo para respirar. Como você está, meu amor?
_ Péssima! Aquele homem é um psicopata!
Vanessa narrou o que havia acontecido. Estava tão nervosa, que não conseguia parar de chorar. Comovido, Leandro a abraçou.
_ Filha, eu sinto muito que tenha passado por tudo isso. Mas eu quero que saiba que eu sempre vou estar aqui para o que você precisar. Eu vou cuidar de você e te proteger do que for que aconteça.
_ Obrigada, pai! Obrigada por acreditar em mim! Eu te amo tanto! Me desculpa por todas as vezes que fui estúpida e grosseira contigo por causa do Júlio. Eu estou tão arrependida!
_ Eu já te perdoei antes que você me pedisse. Sei que foi você manipulada por ele. Eu só gostaria que você repensasse as suas atitudes. Se tornasse uma pessoa menos arrogante! Filha, você está se tornando adulta. O mundo real não é o reino encantado que eu e o Júlio criamos pra você. Eu confesso que tenho muito medo de que você faça inimigos cruéis. Há pessoas que são capazes de tudo quando são provocadas. Eu vou fazer a minha parte. O que estiver ao meu alcance para evitar que você fique perto do Luciano eu vou fazer. Só que pode chegar um tempo em que eu não poderei mais te ajudar. Pais não são imortais.
_ Eu estou bem agora. Fiquei muito revoltada por ter sido expulsa de casa, mas estou me sentindo bem aqui. Obrigada por transformar a sua casa num lar pra mim.
Leandro a abraçou sentindo-se muito bem. Há tempos, tentava uma aproximação com a filha e sentiu que finalmente havia conseguido.
_ Eu quero te contar uma coisa. Você se abriu comigo sobre estar namorando aquele sujeito sórdido. Disse que não queria que houvessem segredos entre nós. Pois, eu tenho algo para te contar. Seria dito no jantar que eu estava organizando, mas resolvi abrir o jogo pra você agora, já que não há mais clima para jantar. E também, você é a única pessoa que merece saber.
_ O que aconteceu, meu amor?
_ Eu estou namorando.
Leandro arregalou os olhos assustado. Sentiu como se lhe faltasse o chão. Não sabia como reagir. Apesar de ter consciência que a filha estava crescendo, ainda era difícil lidar com o fato que a sua garotinha estava se tornando uma mulher.
_ Eu...bem... não sei o que dizer. E quem é o felizardo?
_ É o Pedro, o garoto que o meu pai me flagrou na cama com ele daquela vez. A gente ficava há um tempo. Aí por causa do meu pai, que me mudou de colégio, passamos a não nos ver mais. Ele começou a namorar uma chatinha que estuda na nova escola. Na minha viagem de fim de ano com a família da Marcinha, ele acabou indo junto. Eu não sabia, mas ele se convidou só para ficar perto de mim. Quando eu cheguei lá, fiquei fula da vida porque a Marcinha havia me escondido isso. Queria até voltar pra casa, mas depois acabei me acalmando e nós conversamos, eu e Pedro. Nos acertamos e decidimos oficializar o relacionamento. Ele terminou com a piranha sem graça e agora estamos namorando.
_ Bom... Eu conheço o Pedro e a família dele há um tempo. Sei que ele não é um menino ruim, mas ele é meio mulherengo né filha.
_ Eu sei. Mas eu vou botar ele na linha. E eu também não sou flor que se cheire, se Pedro me pôr um par de chifres e eu ponho dois nele. Mas nada do que você disser vai me fazer mudar de ideia. Eu gosto daquele cafajeste gostoso. Aceitei o seu namoro com o Abner, não custa nada você aceitar o meu.
_ Tá certo. É uma questão de justiça._ Leandro respondeu sorrindo._ mas eu gostaria de conversar com o Pedro.
_ Ah, pai. Não venha bancar o retrógrado! Eu acho o ápice do machismo o cara ter que pedir permissão a você para namorar comigo. Como se eu fosse uma propriedade particular, em que um homem deve pedir ao outro permissão para fazer uso.
_ É...confesso que nunca tinha visto por essa perspectiva... você tem razão, isso é extremamente machista.
_ Lógico! Eu nunca vi um caso em que a mulher deve pedir permissão a mãe ou pai do homem para poder namorar.
_ Eu não quero que o Pedro peça nada a mim. Mas eu sou o seu pai e você é menor de idade. Acho apropriado conversar com o meu genro. Afinal ele vai passar a frequentar a minha casa e namorar a minha filha. E sem contar que você ainda é menor de idade e estar em ano de vestibular. Devo impor algumas regras para que o namoro não atrapalhe os seus estudos. Pode ficar tranquila. Não vou te fazer pagar mico, dando uma de pai carrasco. É só quero ter uma conversa civilizada num jantar.
_ Tá bom.
_ E outra, temos que contar pro Júlio.
_ Ah não! Não mesmo! Ele não tem que saber de nada! Ele me abandonou! Não quero que saiba da minha vida.
_ Vanessa, Júlio também é o seu pai. Nós dois somos responsáveis por você. Ele tem que saber.
_ Mas...
_ Filha, o Júlio vai descobrir de um jeito ou de outro. E se não for por nós contando, ele vai ficar furioso e você já sabe o caos que isso pode se tornar. Vamos fazer o seguinte: você convida o Pedro para jantar aqui amanhã. Aí nós três conversamos e vemos juntos um jeito de contar pro Júlio.
_ Tá bom._ Vanessa concordou a contra gosto.
_ Agora coma esse sanduíche que eu fiz com muito carinho.
...
_ Nossa! Esse bobó de camarão está uma delícia! Huuuum! Com quem você aprendeu a cozinhar tão bem?!_ Vanessa perguntou provando um pouco do prato que retirou da travessa de cerâmica vermelha, posta na mesa.
_ Acho que você não vai gostar de saber.
_ Ah! Pelo menos aquele prostituto teve alguma utilidade.
_ E você continua com a língua bem afiada né? Agora estou na dúvida. Acho que não deveria ter feito arroz com brócolis. Não sei se o Pedro vai gostar.
_ Ele gosta sim. E para sobremesa você fez o quê?
_ Cheesecake de morango.
_ Huuuuum! Adoro!
Vanessa pulou saltitante ao ouvir o som do interfone.
_ Ele chegou!_ Exclamou feliz!
Pedro a aguardava na portaria. Ao ver o namorado, Vanessa se atirou em seus braços e o beijou.
_ Gata, eu tô muito nervoso!
_ Por quê?
_ Você esqueceu o que aconteceu na sua outra casa?
_ Ah, relaxa, amor. Esse pai é mais tranquilo que o outro.
_ Dois pais é foda, Vanessa!
_ Qual é o problema? Não vai dar uma de homofóbico né?! A gente para por aqui agora mesmo. Eu não aceito esse tipo de coisa!
_ Não é isso! Eu não tenho nada contra os gays. Só tenho medo de encarar dois sogros.
Vanessa aproximou a boca ao pé do ouvido do namorado e sussurrou:
_ Pense no sexo anal que vamos fazer depois que o nosso namorado for oficializado. Você é o primeiro cara com quem vou fazer isso.
Pedro a olhou mordendo os lábios. O beijo foi imediato, junto com uma pegada em cheio na bunda da garota.
_ Gostosa! Além de linda, você é uma delícia! A minha namorada é perfeita.
_ Sou mesmo.
O casal entrou no apartamento com as mãos dadas e expressões faciais de apaixonados. Leandro se viu desconcertado diante da cena. Lembrou da sua filha ainda pequena, usando um vestidinho rosa, Maria-Chiquinha e uma boneca no colo. Agora estava totalmente mudada. Tinha curvas de um belo corpo de mulher, usava maquiagens que realçava a sua beleza e tinha um namorado! Um namorado! Para Leandro era muito difícil aceitar aquela realidade. Mas, sabia que isso ia acontecer um dia. Achava mais prudente ser compreensivo e respeitar a decisão da filha para poder manter uma relação saudável com ela.
Ele e Pedro se cumprimentaram com um formal aperto de mãos e um boa noite. Educadamente, Leandro o convidou para sentar no sofá.
Leandro sentou numa poltrona em frente ao casal e conversaram. Pedro falou que havia conseguido a aprovação na escola e que estava disposto a estudar para o vestibular. Expressou o desejo de cursar medicina, ser dermatologista como a mãe e assumir a clínica da família no futuro. Vanessa prendia ao máximo o riso. Ela conhecia Pedro, sabia que o menino não era muito interessado nos estudos, só estava querendo impressionar o sogro. A verdade era que Pedro não tinha pretensão nenhuma de prestar vestibular para uma universidade pública. Como os seus pais o conheciam, negociou que pagariam uma faculdade, que Pedro só aceitou em troca de um carro novo.
_ Que bom, Pedro! A sua mãe é uma ótima dermatologista. Eu me consultava muito com ela. E o seu pai também é um ótimo dentista.
_ Valeu, Leandro. A minha família já até combinou a distribuição da herança. Eu vou ficar com as clínicas da minha mãe e a minha irmã, que cursa odontologia, vai herdar as clínicas do meu pai.
_ Justo.
_ Ainda bem que não tenho irmãos. Assim, vou herdar as empresas dos meus pais sozinha.
Pedro riu da namorada.
_ Sortuda você. Mas eu amo a minha irmã. Não me importo de dividir com ela.
_ Além disso, vou herdar a livraria também.
_ Mas o jogo pode virar, amor. Os seus pais podem se casar de novo e adotar outros filhos._ Pedro provocou Vanessa que a olhou séria.
_ Nem pensar! Eu sou única!
_ Ciumentinha essa minha gatinha._ Pedro envolveu o braço no ombro dela e a beijou.
Desconfortável e um pouco enciumado, Leandro os convidou para irem á mesa com a intenção de interromper a cena romântica do jovem casal.
Á mesa, a conversa sobre futuro prosseguiu. Vanessa expressava o seu desejo em cursar Direito e a sua admiração pela área.
_ Ele é um idiota vacilão, mas é um ótimo advogado. Eu tinha muito orgulho dele. Quero ser tão boa quanto ele.
_ Tinha? Não tem mais?_ quis saber Pedro.
Vanessa abaixou a cabeça entristecida.
_ Ele me expulsou de casa! Não duvido nada que tenha vontade de me deserdar e dar tudo para o Luciano. Ele só não faz isso porque a legislação brasileira não permite.
_ Não creio que essa seja a vontade do seu pai, filha. Ele sempre foi muito cauteloso em questão ao patrimônio, até de mim ele protegeu. E sempre deixou claro que você é a única herdeira. O que é seu, com certeza, está protegido.
_ Não duvido de mais nada. Do jeito que ele está babão pelo o Luciano.
Percebendo a tristeza da namorada, Pedro, para mudar de assunto, elogiou o bobó de camarão e Leandro agradeceu.
_ Bom, já que estamos falando de futuro profissional. Eu gostaria de dizer algumas coisas. Creio que vocês dois já estão na idade de namorar e eu não faço oposição a isso. No entanto, há algumas regrinhas básicas que vamos ter que deixar claras. Este é um ano de vestibular. É desejo da Vanessa em conjunto comigo e o outro pai dela de que Vanessa estude em uma das melhores universidades deste país. Por mim, seria a UFRJ, mas a Vanessa deseja a USP. Bom, para ingressar em qualquer uma das duas, ela precisará se dedicar aos estudos. E sem contar que ainda tem o ano letivo do colégio. Portanto, pelo menos por este ano, Vanessa terá que saber dividir muito bem as coisas, e policiar os horários e dias. Como sou o pai e um dos responsáveis, acho adequado que vocês só se vejam nos fins de semana. Para que assim Vanessa consiga focar mais nos estudos.
_ Por mim tudo bem. Mas a Vanessa pode ir pra minha casa nos fins de semana?
Leandro o olhou interrogativo.
_ Qual é, pai? Todo mundo sabe que nós transamos. E vamos precisar de privacidade e esta casa é um ovo.
Assustado, Leandro começou a tossir.
_ Tá tudo bem, Leandro?
Ele confirmou com o dedo polegar e bebeu um gole do suco, recuperando o fôlego.
_ Pense pelo lado positivo, pai. Aos fins de semana, eu vou pra casa do Pedro namorar e você fica aqui namorando o seu cozinheiro destruidor de lares. Todo mundo transa e fica feliz.
Os dois adolescentes riram e Leandro permaneceu sério.
_ Vanessa, eu não estou confortável com a forma que você está conduzindo esta conversa.
_ Tá bom! Mas pense comigo. É melhor eu e o Pedro termos intercurso sexual sob o seio familiar_ tom de deboche._ do que por aí num carro ou motel. E além do mais, nós já transamos desde o ano retrasado. Sempre nos prevenimos. De uma coisa você pode ter certeza, não será avô tão cedo. E aí? E, você não vai gostar de ouvir os meus gemidos aqui.
_ Vanessa!
_ Pai!
_ Tá bom. Você pode dormir na casa do Pedro.
O jovem casal comemorou com um beijo, enquanto Leandro sentia o rosto arder de vergonha.
_ Mudando de assunto! Precisamos combinar como vamos falar com o Júlio.
Vanessa revirou os olhos para cima e cruzou os braços, bufando.
_ Aí, vou mandar o papo. Você é tranquilo, mas o outro lá é uma fera. Lidar com ele não vai ser nada fácil.
_ Não é fácil, mas necessário. Infelizmente eu não sou o único pai da Vanessa. Júlio precisa saber. Eu estava pensando em marcarmos um jantar num restaurante para contarmos. Júlio sempre se preocupou em manter uma boa aparência publicamente. Creio que não vai querer fazer um escândalo num ambiente público.
_ É uma boa.
_ E vamos chamar os meus avós também. Assim se o meu pai surtar, tem mais gente para segurar ou chamar a ambulância do hospício. Agora vou pegar essa sobremesa logo. Estou louca para comer aquele Cheesecake de morango!
Pedro e Vanessa namoraram um pouco no portão do prédio antes do rapaz ir embora. Ao subir para o apartamento, Vanessa encontrou Leandro sentado a
á mesa da sala com o notebook aberto e uma cara de preocupação.
_ Aconteceu alguma coisa, paizinho?_ a menina perguntou, beijando o seu rosto.
_ Nada que você precisa se preocupar. Só coisas de trabalho.
_ Se é importante pra você, é importante pra mim. Diga.
_ Os números de vendas caíram um pouco. Os preços dos livros sofreram um reajuste e tivemos que aumentar o valor. No entanto, a Amazon e a Submarino estão vendendo por muito mais barato. Parece que essas multinacionais estão nos engolindo.
_ Eu acho que o governo brasileiro deveria voltar com a política de proteger a economia nacional e taxar esse povo também. Mas isso é ruim, pai?
_ Não sei. Mas confesso que tenho medo.
_ Não precisa ter medo. Você é inteligente. Vai encontrar uma solução.
_ Obrigado, meu bem. Agora, ligue para o seu pai e fale do jantar.
_ Ah não, pai! Não quero falar com ele. Por que você não liga?
_ Tá bom. Eu ligo.
E assim Leandro fez. Mesmo não tendo um pingo de vontade de trocar palavras com o ex marido, ligou marcando o jantar num restaurante. Em seguida, ligou para os pais.
....
Rubens entrou afobado na sala de Júlio. Estava tão empolgado que esqueceu de bater antes de entrar. Foi sentando na cadeira em frente a do patrão.
_ Beeeechaaaa! Nós estamos prestes a pegar o caso do século! Imagina quem vai ser a nossa futura cliente?
Júlio o olhou sem entender do que Rubens dizia.
_ Sei lá.
_ Ninguém mais e ninguém menos que Victória Montenegro! A suprema! A rainha! Simplesmente a maior socialite da alta sociedade brasileira! A suprema dona da luxuosa rede de hotéis Montenegro.
_ Como assim?!_ Júlio perguntou com espanto. Há tempos tentava ter Victória Montenegro como cliente, mas a socialite era inacessível para ele.
_ Parece que a colunista Patrícia Vidal está prestes a publicar um livro sobre a vida secreta dos Montenegro. Na certa, revelar vários podres. E a suprema quer entrar com um processo judicial para impedir a publicação do livro. Victória não está satisfeita com a sua equipe de advogados e, simplesmente, mandou todos para o olho da rua. Agora está estudando a procura de uma nova equipe jurídica.
_ Ela nos procurou?
_ Claro que não, né veado! Meu amor, você não entende o poder desta mulher! Quando ela quer solicitar algo, os profissionais que se postam aos pés dela.
_ E por que você entrou aqui feito uma gazela saltitante como se a mulher fosse nos contratar?!
_ Porque tenho fontes que orbitam entre a Victória e me deram essa informação. Mas, eu consegui que vocêzinho e mais um acompanhante fosse convidado para o evento da OAB que acontecerá nos salões de uma das filiais dos hotéis Montenegro, aquela de de Copacabana. Ou seja, se você conseguir se aproximar dessa Divônica e jogar a sua lábia, a causa é sua._ Rubens comunicou batendo na mesa.
Júlio sorriu satisfeito. Seria muito bom para os seus negócios se trabalhasse para uma cliente tão importante.
_ Imagina o alto valor dos honorários que a senhora pode ganhar. E se fizer amizade com essa mulher ou alguém da família, isso abrirá muitas portas para ti. Os Montenegro se relacionam com pessoas muito importantes, desde políticos, desembargadores, celebridades e até mesmo o presidente da república!
_ Ca-ra-lho! Eu quero essa causa! Aliás, quero não! Ela será minha!
_ Só há um probleminha.
_ Diga.
_ Victória Montenegro é uma mulher conservadora. Digamos que... um pouco homofóbica. Não seria adequado você ir acompanhando do Luciano. Mas também não seria de bom tom ir a esse evento sozinho. Recomendo que leve uma mulher.
_ Você chama isso de problema?! E mesmo que se eu pudesse levar um companheiro, não seria o Luciano né. Ele não é apresentável para circular no meio da alta sociedade. Luciano pode ser uma delícia na cama, mas é só essa a serventia dele. Não é inteligente, nem culto e bem educado. É só um gostoso para manter trancafiado no ambiente doméstico. Não é como o Leandro.
_ Credo! Coitado do rapaz.
_ Mas, me responde uma coisa. Pelo que li dessa família, a Victória Montenegro tem um neto não é? Um rapazinho da idade da Vanessa?
_ Sim. O Bernardo Montenegro. É um jovenzinho meio rebelde sem causa. Vive se metendo em confusões como dirigir alcoolizado, briguinhas essas coisas de jovens ricos. Mas por que a pergunta?
_ Eu já sei qual é a mulher que vai me acompanhar nesse evento. E, se tudo der certo, será o meu passaporte para ingressar no high society._ Júlio disse seguro de si, com um sorriso presunçoso.
_ Não entendi!
_ Como assim não entendeu?! Não faça a bicha burra. É óbvio que estou falando da minha filha. Não é você quem disse que a Vanessa está na idade de namorar? Ela tem 16 e para 18 é um pulo. É bom que pense em fazer um bom casamento.
_ Aaaaaa. No caso você quer casar a sua filha com o neto da Victoria Montenegro? Veado, você não se enxerga não? Tá parecendo a sua ex sogra, uma classe média se sentindo elite. Never que alguém que pertença o high society vai se misturar com meros mortais como nós. Eles são um grupo muito fechado.
_ Muitos furam a bolha. Conheço caso de jovens ricos que se casaram com mulheres de classe média. O próprio Ivan Matarazzo,por exemplo, mesmo pertencendo a umas das famílias mais ilustres do High society, se casou com Zé ninguém, que era classe C! Ou seja, nem média como nós. E eu confio no potencial da minha filha. Vanessa além de bonita, é inteligente e esperta, é boa de lábia. Sem contar que foi muito bem educada pelo Leandro. Quando quer, ela saber uma lady. Vanessa é poliglota como o Leandro, ele fez questão de ensina-la. Angela sempre foi metida a besta. Sonhava que um dia Leandro seria um homem rico e o fez cursar etiquetas. E o meu marido passou esses ensinamentos para a Vanessa. Tá certo que tem horas que Vanessa é um furacão, mas em ambientes mais refinados, ela se comporta como uma princesa.
_ E o que te garante que vai rolar algo entre o Bernardo Montenegro e a Vanessa?
_ Eu conheço a minha filha. Ela é ambiciosa e determinada.
_ Bom, eu se fosse você só se concentrava na parte profissional e não...
_ Rubens, faça o seu trabalho e deixe que do futuro da minha filha cuido eu. Agora, tenho que ir. A Vanessa marcou um jantar no restaurante. Diz que quer falar com todos da família.
_ Seria aquele jantar que aconteceria na sua casa, mas devido a confusão com o Luciano não aconteceu?
_ Esse mesmo. Por falar em Luciano, essa poia está insuportável! Cismou que quer ir.
_ E você vai levar?
_ Claro que não! Vanessa surtaria se ele aparecesse. Olha Luciano tá insuportável! Depois que eu conseguir o que quero, vou colocar esse veado na linha. Vou bota-lo bem obediente.
_ O que você quer?
_ Na hora certa você vai saber.
_ Ui! Todo cheio dos mistérios. Mas eu pensei que você iria dispensar o Luciano, já que é obcecado pelo Leandro.
_ A princípio a intenção era essa. Mas, com o tempo, eu fui gostando dele. Luciano é a minha putinha gostosa. Quando fica de joelhos me mamando então...
_ Ui! Baixaria.
_ Eu decidi que vou ficar com ele e com o Leandro. Vou ter os dois. Gosto da ideia de um trisal. Todos na mesma casa, fazendo um ménage gostoso.
_ Ih a bicha enlouqueceu!
_ Isso, Rubens, vai debochando de mim. Você vai ver que vou conseguir. Ah se vou. Vou ter aqueles dois deliciosos só pra mim, sendo totalmente meus, me obedecendo como duas putinhas submissas.
_ Realmente, você enlouqueceu.
....
Júlio revirou os olhos para cima ao chegar no quarto e deparar com Luciano penteando os cabelos na frente do espelho. O rapaz se empenhou em se vestir bem apresentável. Para não errar, arriscou numa calça social preta, blusa social branca e um paletó da mesma cor da calça. Os sapatos brilhantes de tão bem engraxados. O perfume optou pelo mesmo do noivo. Não entendia nada de perfumes, mas não queria parecer um jeca na frente de Leandro. Não ia permitir que o seu antecessor o humilhasse com a admiração que recebia das pessoas em volta.
_ Aonde você pensa que vai?_ Júlio perguntou, pondo a maleta em cima da cama e se aproximando de Luciano. Segurou-o pelo queixo e o beijou.
_ Eu vou jantar contigo, ora!
_ Luciano, nós já conversamos sobre isso.
_ Júlio, eu não vou deixar você ficar sozinho com o seu ex marido.
_ Deixe de ser ridículo! Eu não vou estar sozinho com o Leandro! A família inteira estará lá.
_ Eu também faço parte da família! Sou o seu companheiro!
_ Mas não é viável que você e a Vanessa ficam no mesmo ambiente! O jantar é dela! Dar pra respeitar?!
_ E ela por acaso me respeita? Ela quer unir vocês dois. Por isso está armando essa palhaçada!
_ Eu não vou comer o Leandro na mesa do restaurante.
_ Bem que você adoraria né.
_ Lógico que não! Você está me ofendendo!
_ Se não há nada entre você e a aquela bicha horrorosa, então não há problema nenhum eu ir a esse jantar.
_ Você é quem sabe! Quer ir? Vá. Só me sirva um uísque. Preciso relaxar antes de tomar um banho e me arrumar.
_ Ah! Tudo bem.
Luciano saiu e retornou em seguida com uma garrafa e um copo com gelo. Júlio o olhou franzindo o cenho, como se tivesse recebido a mais infame das ofensas.
_ O que houve, amor?
_ Que porra é essa? Cadê o meu Chivas Regal Royal Salute?
_ Ah, a outra garrafa tinha acabado e decidi comprar uma nova. Mas esse daí é muito caro! Vinte mil reais numa garrafa de Uísque é um absurdo! Então eu comprei este aqui que é mais em conta.
_ Mas que merda!_ Júlio deu grito inesperado, fazendo com que Luciano piscasse de susto._ Você não precisa fazer nada da vida! Eu ralo para te dar tudo o que você quer e precisa! Você não precisa correr atrás de nada! É só ser bonito e útil. Mas pelo visto só é bom na primeira. Eu trabalho feito um filho da puta e tenho todo o direito de tomar o Uísque que eu bem desejar! Você sabe muito bem que só gosto de Chivas Regal Royal Salute e você me aparece com essa porcaria!
Luciano sentiu um tremor pelo corpo. Gelou de medo e tristeza. Lamentou pedindo desculpas, prometeu que compraria outra garrafa no dia seguinte. Mas Júlio permaneceu sério e decepcionado. Não quis conversa. Entrou no banheiro para tomar banho. Luciano foi atrás tentando se desculpar quase chorando.
_ Quer fazer o favor de me deixar tomar banho em paz?
_ Amor, é só uma garrafa de Uísque! Não precisa ficar chateado!
_ Saudades de quando está casa era bem administrada!
Luciano abaixou a cabeça. Estava desarmado. Não dava para competir com o fantasma de Leandro. Mesmo que Júlio não dissesse diretamente, mas deixava a desejar que ele não era tão competente quanto o ex marido.
Como não conseguiu segurar as lágrimas, correu para o quarto chorando.
Debaixo do chuveiro, Júlio esboçou um sorriso. Sádico, se divertia provocando sofrimento no companheiro.
Luciano preferiu chorar no quarto de hóspedes. Sentia-se sufocado. Só queria que tudo voltasse a ser como antes. Queria ser um bom marido. Tão bom quanto Leandro foi.
Júlio entrou alguns minutos depois. Estava com os cabelos penteados e molhados. Vestido pronto para sair para jantar. Trazia em mãos um copo de suco amarelo e tinha um sorriso gentil. Beijou Luciano se desculpando.
_ Eu tive um dia cheio no escritório. Estou trabalhando muito. Eu sei que isso não é motivos para descontar em você! Eu sou um idiota! Me perdoe, amor?
_ Eu prometo que vou melhorar. Vou ser tão bom quanto o Leandro.
_ Esquece o Leandro! Não é a ele que amo e sim você. Você é muito melhor que ele.
_ Sério? Você acha?_ Luciano com sorriso, que se contrastava com as lágrimas que caim dos seus olhos.
_ Lógico! Você é mais jovem, mais bonito, mais apertadinho._ A última palavra foi sussurrada ao pé do ouvido de Luciano, seguido da língua penetrando-o, provocando arrepios.
_ Só isso? Só sou melhor que ele nos aspectos físicos?_ Luciano perguntou com insegurança. Queria ser algo mais.
_ Não. Você é leal. Coisa que Leandro não é.
Luciano sorriu e o abraçou.
_ Isso significa que estou perdoado?
_ Sim, meu amor.
_ Eu trouxe esse suquinho pra você. Quero me redimir.
Luciano agradeceu e ingeriu bebida em seguida. Em questão de minutos, sentiu os olhos pesarem de um jeito que não conseguia controlar. Sentiu a cabeça girar.
Júlio o observava sem expressar nada.
_ Júlio, o que tá acontecendo comigo? Você me drogou?
Luciano caiu na cama adormecido.
_ Idiota. Até parece que eu ia te levar pro jantar com a Vanessa.
Júlio saiu e trancou a porta para que Luciano não pudesse ir atrás dele quando acordasse.
O expediente de Valdeia já havia terminado. Somente o segurança estava na casa. Júlio deu ordens para que, em hipótese alguma, abrisse a porta do quarto caso Luciano acordasse.
_ E se ele arrombar a porta, não o deixe sair. E não me ligue. Vou estar com a minha filha e não quero ser perturbado com os chiliques do meu segundo marido.
_ Sim, senhor.
....
_ O Júlio como sempre atrasado. Quem ele pensa que é? O rei Charles? Francamente hein.
Lorena reclamou sentada ao lado de Genaro. Estava com o meses de gestação avançados, o nascimento da criança se aproximava e isso a deixava ainda mais impaciente, qualquer aborrecimento a afetava.
_ Para o começo da conversa, você nem deveria estar aqui, vagabunda. Que eu saiba é uma reunião de família.
_ Que baixaria hein, Angela! Justo você que é tão metida a educada, a fina, está se comportando como uma favelada. E sim, eu deveria estar aqui sim. Faço parte da família. Afinal sou a esposa do Genaro.
_ Antes favelada que meretriz. Isso mesmo deixe claro que é a esposa deste senhor. Caso contrário, vão pensar que é o seu avô._ Angela ironizou, dando um gole no vinho.
_ Meninas, por favor! Comportem-se! Estamos num lugar público!_ reclamou Genaro.
Todos estavam no restaurante reservado por Vanessa para o comunicado que ela estava prestes a fazer. As mesas estavam unidas totalizando sete lugares. Estavam presentes até o momento: Leandro, Genaro, Lorena, Angela e Vanessa.
_ Gente, pelo amor de deus, vamos tentar ter um jantar em paz?
_ Você está pedindo demais, Leandro. Daqui a pouco o Júlio chega e onde aquela bicha entra pela porta, a paz é atirada pela janela._ Lorena ironizou sorrindo._ Ah, falando no diabo.
Júlio chegou até a mesa acompanhado pela recepcionista. Cumprimentou a todos com um boa noite e se aproximou de Vanessa dando um beijo em sua testa. Desculpou-se pelo atraso, dizendo que o motivo era a situação caótica do trânsito.
_ Que bom que você já chegou... não sei se é tão bom assim, mas a minha neta quer a sua presença, então temos que suporta-la.
_ Ah, meu sogro você é tão amável! Aliás como o senhor está? Continua movimentando a indústria da Viagra? Só assim para dar conta dessa profissional do sexo.
_ Júlio, respeite a minha mulher!
_ Claro que respeito! A sua esposa é uma golpista de primeira. A segunda é até mais eficiente que a primeira. Se bem que uma aprendeu com a outra. Já que as duas te deram o golpe da barriga.
_ Escute aqui..._ Genaro levantou da mesa e ergueu o dedo indicador. Mas Leandro o segurou, fazendo-o sentar.
_ Pai, por favor! Gente, vamos parar com isso? Respeitem o ambiente e a Vanessa!
_ Aliás, meu sogro, tem visto o seu sócio? Como é o nome dele mesmo? O Abner.
_ Sócio?
Leandro olhou com ódio para Júlio.
_ Sim, meu sogro. O seu sócio de cama com a Lorena.
Vanessa cruzou os braços e olhou para Júlio erguendo a sobrancelha. Lorena o olhou com ódio. No entanto, Genaro sorriu.
_ Que eu saiba quem perdeu o marido para esse tal de Abner foi você. Quis dar uma de garanhão, mas foi otário o suficiente para pagar para um cara roubar o seu marido.
Agora o jogo havia virado. Era Genaro que sorria e Júlio que estava com ódio. Lorena acompanhou o marido no sorriso.
No entanto, Leandro desejava muito sair daquela situação. Para finalizar a discussão sugeriu que todos fizessem os pedidos.
_ Bom, já que estamos todos aqui. Já podemos fazer os pedidos. Antes que morram engolindo os próprios venenos.
_ Ótima ideia, coração. Adoro esse seu jeito apaziguador.
Leandro revirou os olhos para cima. Cada vez mais não suportava as ironias de Júlio.
Vanessa olhou para a porta do restaurante sorrindo.
_ Espere, pai. Chegou quem estava faltando.
Júlio olhou para a filha de um jeito duvidoso. Queria saber sobre quem ela se referia. Direcionou o olhar para onde Vanessa olhava e arregalou os olhos insatisfeito com o que via.
Pedro se aproximava da mesa, trazendo em mãos um buquê de girassóis, as flores favoritas de Vanessa. Os jovens trocaram olhares sorrindo.
Ao chegar na mesa, Pedro se direcionou a lugar próximo ao dela e a beijou no rosto entregando o buquê. As suas mãos se tocaram, permanecendo unidas.
_ Bom, família. Quero que vocês conheçam o Pedro, o meu namorado._ Vanessa comunicou sorrindo, com a voz carregada de orgulho.
Lorena não conseguiu conter o riso da satisfação ao ver a expressão brava de Júlio, que olhava para Pedro como se o jovem fosse uma ameaça que precisava aniquilar.
_ Mas que merda é essa, Vanessa?! Que porra é essa?!_ Júlio gritou, dando um tapa na mesa.
_ Quer parar de show, Xuxa? Você não precisa se exaltar desse jeito._ Vanessa respondeu no tom mais debochado que pode.
_ Como não?! Que história é essa de "meu namorado"? Ninguém pediu a minha autorização.
_ Lógico. Eu namoro a Vanessa e não você.
_ Ainda é abusado esse vagabundo!
_ Seu Júlio, eu não sou um vagabundo.
_ Ah não? O que você faz da vida?
_ Eu estudo, ora!
_ Estudar?! Conta outra, moleque! Você é repetente!
_ Eu vou namorar o Pedro e não o boletim escolar dele.
_ Você não vai namorar esse daí. Eu te proibo!
_ Você não pode me proibir!
_ Posso sim! Eu sou o seu pai e você é menor de idade.
_ O Leandro também é o meu pai e ele deixou.
_ O quê?! Você deixou, seu irresponsável?
_ Júlio, já chega!_ Leandro disse em tom firme._ Sem gritar!_ Ninguém veio aqui pra brigar. A Vanessa e o Pedro me procuraram para comunicar o namoro. Nós conversamos e trouxemos o caso pra você. O garoto só quer conversar contigo de um jeito amigável!
_ A Vanessa é uma criança, sua anta! Como ela vai namorar?
_ Criança! Essa daí entende mais do assunto picante do que todo mundo aqui nesta mesa. Até mesmo que a corna velha aí._ Lorena provocou.
_ Cala a boca, sua vagabunda! Isso é um assunto que tem que ficar entre eu, a minha filha e o meu marido.
_ Ex marido né, Júlio._ Enfatizou Angela.
Júlio a olhou com repreensão.
_ Eu não vou permitir isso! Não aceito!
_ Você não tem que permitir nada! Você me abandonou por causa do seu amante. Preferiu acreditar nele do que na sua própria filha! Por mim, eu nem te contava nada. Te excluía da minha vida como você me excluiu da sua.
_ Vanessa, eu não te exclui! Só dei um tempo!
_ Você me expulsou de casa!
_ Aí você usa esse moleque para me atingir?
_ Eu não estou usando o Pedro! Deixe de ser venenoso!
_ Olha aqui, seu Júlio! Eu posso ser um moleque, posso ter mil defeitos, mas gosto da sua filha pra caralho! Eu conheço a Vanessa! Sei que ela não é um poço de doçura, mas jamais esfaquearia ninguém! Agora me admira o senhor deixar de acreditar nela para acreditar num namoradinho!
_ Cale a sua boca, seu desgraçado! Não me venha dar lição de moral!
Todos em volta olhavam para a mesa onde Júlio estava, os seus gritos ecoavam pelo restaurante, deixando Leandro envergonhado.
Cansado de todo aquele vexame, Leandro levantou e disse:
_ Para mim já deu! Eu não vou passar vergonha em público! Vanessa e Pedro, vamos embora. Pelo visto não há nenhuma condição de prosseguirmos com esta conversa.
_ A culpa de tudo isso é sua!_ Júlio acusou Leandro.
_ Pense o que você quiser! Eu não ligo! Vamos, filha.
_ Eu vou sim, pai. Também não quero saber de escândalos! Sinceramente, Júlio, você só me decepciona!
Vanessa e Pedro se preparavam para acompanhar Leandro, quando Angela se levantou se oferecendo para ir com eles, saindo se despedir dos que estavam á mesa.
_ Olha, eu saí de casa achando que esse jantar seria um tédio, mas não é que me enganei? Foi tão divertido!
Júlio olhou para Lorena com ódio. Levantou bufando da mesa e se retirou.
Lorena seguiu sorrindo.
_ É, querida. Só nos resta fazer o pedido.
_ Verdade, leãozinho. Tudo isso me abriu o apetite.
_ Vai de salmão?
_ Adoraria.
....
De longe dava para sentir o cheiro de álcool impregnado no hálito de Júlio. Entrou em casa tropeçando nos próprios pés, com a cara brava. Revirou os olhos ao ouvir Luciano esmurrando a porta, aos berros exigindo que a porta fosse aberta. O segurança explicou que não havia muito tempo que ele tinha despertado e que começou a gritar quando percebeu que estava trancado.
Júlio abriu a porta, o olhando com desgosto.
_ Seu filho da puta! Você me drogou só pra me impedir de sair! Queria ficar sozinho com o desgraçado do seu ex marido!_ Luciano gritava nervoso. Sentia o ódio arder por total em seu coração.
_ Eu te tranquei porque você é um desequilibrado! Com certeza arrumaria confusão! A Vanessa não te queria lá!
_ Você me fez de idiota! Você me drogou e me aprisionou! Eu não vou mais aturar isso, Júlio! Você passou dos limites!
Luciano saiu do quarto de hóspedes, e foi para o quarto que dividia com Júlio.
As pressas, pegou uma mala e começou a colocar as roupas. Júlio entrou no quarto no mesmo instante. Olhou aquela cena como se tivesse recebido uma ofensa. Sem pensar, pulou em cima de Luciano, o empurrando para o chão. Retirou a mala da cama e a jogou de volta para o closet.
_ Escute aqui, seu cretino! Você não vai me abandonar!_ Júlio deu o ultimato apontando o dedo indicador para Luciano._ Já chega das pessoas me abandonando! Eu não aceito mais isso!
Furioso, Júlio começou a quebrar os móveis do quarto. Assustado, Luciano se encolheu no canto, tampando os ouvidos. Desejava muito sair daquele pesadelo.
_ Eu já estou farto da ingratidão de vocês! Eu sei amar, porra! Eu tenho sentimentos, caralho! Eu amo aquele cretino e ele me traiu e me abandonou! Me trocou por um prostituto de quinta! Eu fiz tudo por ele! Eu aturei aquele velho por ele! Eu aturei as humilhações dos pais dele por ele! Eu trabalhei feito um filho da puta para dar tudo a ele! Sempre me disseram que eu não era digno dele! Que Leandro era um príncipe e que merecia coisa melhor e eu quis ganhar dinheiro por ele! Para me sentir um pouco digno dele! E fui abandonado!
Agora aquela desnaturada! Eu a salvei de um pai negligente e de uma mãe vagabunda! Dei tudo a ela! Eu dei dinheiro! Eu dei o meu amor a ela! E o que ela faz? Me despreza! Ela me odeia, me abandona e se entrega a um vagabundo qualquer só para me machucar! E agora você também quer me abandonar?! A princípio, você era só mais uma bunda gostosa que eu comia! Depois se juntou com a cretina da sua mãe para me chantagear e eu passei a ter ódio de você! Queria te matar! Mas dei corda! Fui te conhecendo e me apaixonando por você.
Júlio o puxou pela gola da blusa, o jogou na cama de bruços e montou sobre ele.
Desesperado, Luciano implorou para que ele parasse. Júlio não ouvia, apenas se roçava no seu corpo e gritava em seu ouvido:
_ Você me viciou nesse corpo gostoso! Adoro entrar em você, gozar dentro enquanto você rebola e geme todo gostosinho! Eu amo a sua lealdade! Você me surpreendeu quando se livrou das provas por mim! Eu te amo, Luciano! Eu passei a minha vida inteira achando que só poderia amar o Leandro assim, mas você me surpreendeu!
_ Júlio, para por favor!
_ Eu me afastei da minha filha por sua causa! E você quer ir embora?! Você não vai! Você vai ficar comigo para sempre! Eu nunca vou permitir que me abandone! Ouviu? Ouviu?
Luciano concordou com a cabeça, desesperado.
_ Eu vou sair para refrescar a cabeça e você vai ficar aqui até eu voltar! Você só se afasta de mim morrendo, entendeu? Você, o Leandro e a Vanessa me pertencem! Eu vou ter todos vocês! Eu cansei de perder! Estou farto dos bajuladores que me cercam! Eu quero a minha família de volta e completa. E vou ter! E você faz parte dela! Você é meu!
Júlio levantou. Foi até a gaveta de Luciano e pegou o celular e todos os objetos eletrônicos de comunicação. Indo até a sala, destruiu os fios dos telefones.
_ Eu vou sair e ele está proibido de pôr os pés para fora deste apartamento, está proibido de receber visitas e fazer contato com qualquer pessoa de fora! Se ele tentar, use a arma para ameaça -lo. Mas não atire! Eu o amo. Só quero garantir que ninguém mais me abandone._ Júlio ordenou ao segurança.
_ Sim, senhor.
Saiu batendo a porta e não retornou para a casa por 4 días.
....
Valdeia ficou desesperada ao ver que Luciano empilhava, próximo á piscina, todas as roupas de Júlio, jogando álcool sobre elas.
_ Seu Luciano, por favor, o senhor precisa se acalmar!
_ Eu não quero me acalmar! Faz quatro dias que ele não aparece em casa! Eu não aceito ser traído! Não aceito, porraaaaa!_ Luciano gritava descontrolado.
Sem pensar, riscou um fósforo e jogou sobre as roupas. Em segundos, o fogo devorava todas as peças das roupas de grifes de Júlio, suas favoritas.
Valdeia sabia que o patrão ficaria furioso. Desceu correndo, se escondeu no banheiro e ligou para o patrão.
Júlio despertou na cama de um motel nu ao lado de um homem adormecido no mesmo estado.
A princípio, por estar sonolento não compreendia o que a empregada dizia. Até que tudo fez sentido.
_ Ele já quebrou o apartamento quase todo, o seu escritório acho que não restou nada, agora está queimando todas as roupas! Seu Júlio, eu não sei o que fazer!
_ Merda! Merda!