UM VENEZUELANO NA MINHA VIDA - 19: PRA VOCÊ É SIM!

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Homossexual
Contém 2333 palavras
Data: 12/12/2022 01:25:25

Nos últimos dias, a vida de Ian D'ávila foi do céu ao inferno. Afinal, os planos malignos de derrubar o seu próprio chefe poderiam cair nos ouvidos dos funcionários da Tech Land e as reações poderiam variar.

Depois de fechar uma grande parceria com uma empresa de sapatos, Ian chegou na sala de reunião todo feliz. Só que a novidade não surtiu o efeito esperado e o empresário não entendeu o desânimo dos colegas.

— Eu disse algo errado? — quis saber Ian se aproximando de Kleber, que estava preparando café para a equipe.

— Não, a coisa errada que você fez foi tentar lascar a vida do Enzo. As pessoas não esquecem fácil. — disse Kleber, colocando café em uma xícara e sorrindo de maneira sarcástica.

— Ninguém nunca errou? — Ian questionou com a mão direita na cintura e suspirando.

— Errar todo mundo erra, mas cometer um crime...

— Que inferno! — exclamou Ian, deixando a sala de reunião.

— Obrigado, Jesus. — pensou Kleber saboreando o café e a derrota de Ian.

Após dois dias de viagem, o grupo chegou à Venezuela. Porém, ainda faltava atravessar o país para chegar a Mérida. Eles decidiram ficar em um hotel e buscaram um lugar seguro para trocar o dinheiro. A quantia ficou com Erick, o mais preparado para situações perigosas.

As ruas da cidade de Tumeremo estavam vazias. O grupo se destacava, afinal, eles estavam em um lugar desconhecido e buscavam trocar dinheiro para a moeda venezuelana. Por outro lado, Noslen se sentia em casa, pois as pessoas conseguiam o entender sem problemas.

— O Noslen parece pinto em merda, não é? — Erick perguntou para Celine.

— O tadinho deve estar feliz por falar a língua materna. Imagina, você morar durante anos em um lugar onde ninguém te entende?

— Você tem um ponto, mozinha. — respondeu Erick de mãos dadas com Celina.

Assim como a vida profissional, a área familiar de Ian estava em frangalhos. O pai fez uma reunião com todos os filhos e anunciou uma novidade que chocou a todos, menos ao Ian. Havia uma nova adição à família D'ávila, a Diana.

— Esse homem é louco! — esbravejou Ian, entrando no quarto e jogando uma almofada no chão.

— O efeito é mais dramático quando se joga um objeto de vidro. — disse Yara, que assustou o irmão.

— Não estou no clima, Yara. — ele afirmou, deitando na cama e respirando fundo. — A minha vida entrou em um espiral de desgraça e...

— Qual é, Ian. Você está exagerando. — garantiu Yara, sentando na cama. — Isso é culpa sua. Você contratou a Diana. — pontou. — Você quis dar um golpe no Enzo.

— Me fodi. Essa é a verdade.

— Sorte sua o Enzo não ter dado queixa. Já pensou o que o papai ia fazer? Você ia ser deserdado.

— Pior que as pessoas estão me dando as costas. Sempre pensei que poderia viver sem as pessoas, mas...

— Isso se chama culpa. No fundo, você fez isso para suprir a carência do papai. Ele é muito injusto com você, Ian. Mas não o deixe te transformar em uma versão 'purpurinada' dele. — aconselhou Yara, batendo na coxa de Ian e saindo do quarto.

Depois de algumas horas, eles encontraram uma casa de câmbio e conseguiram trocar o dinheiro sem problema. Inclusive, Noslen desenrolou um desconto em um restaurante famoso na cidade.

No dia seguinte, o grupo foi para a cidade de Mérida. Apesar de cansativa, a viagem uniu os casais. Celina viu um lado puro de Erick, que não mediu esforços para ajudar o irmão. Já Noslen agradecia aos céus por ter Enzo como parceiro, uma vez que não é todo mundo que cruzaria um país inteiro por outra pessoa.

No banco traseiro, Noslen estava de mãos dadas com o namorado. Ele aproveitou o clima gostoso para descansar a cabeça no ombro do amado. Ao sentir o carinho do venezuelano, Enzo sorriu e fechou os olhos. Aquilo era tudo o que ele precisava na vida.

Após 13 horas de viagem e cruzando parte do litoral da Venezuela, o grupo chegou em Mérida. Ao ver o início da cidade, Noslen teve uma sensação de pertencimento. No GPS, Enzo colocou o endereço da casa do namorado e eles não perderam tempo.

O grupo atravessou uma ponte e Noslen abriu a janela do carro para ter uma visão melhor da cidade. Mesmo de noite, era possível ver a montanha que cercava a cidade. Aquela paisagem já havia invadido o sonho do venezuelano diversas vezes. O tanto de informação estava afetando Noslen, porém, quanto mais ele recebia, mais ele queria.

A cada rua, um sentimento novo cortava o coração de Noslen. Ele lembrava dos cheiros e paisagens daquele lugar. Do banco do motorista, Enzo percebeu a inquietação do namorado, que apertava os próprios joelhos a fim de se acalmar.

Eles chegaram em uma área arborizada e, de imediato, Noslen reconheceu. A memória dele estava fragmentada, mas ganhava força a cada momento.

— Essa praça...

— Oi? — questionou Enzo, olhando para o namorado.

— Eu conheço essa praça. — explicou Noslen, que não escondeu a emoção. — Eu conheço essa rua, Enzo. — saindo do carro.

— Noslen, espera. — Enzo parou o carro no meio da rua. No banco de trás, Celina acordou Erick, que descansava, depois de horas no volante. — Noslen. — saindo do veículo. — Entra no carro. Nós estamos perto.

Impulso. Isso que correu no corpo do venezuelano. Ele sentiu um impulso e correu. Sem ter outra opção, Enzo seguiu o namorado, só que o seu desempenho físico poderia ser descrito como vergonhoso.

Enquanto isso, Erick pulou para o banco do motorista e seguiu os dois. Ele estava confuso, mas se manteve no encalço do irmão e cunhado. Já as memórias invadiam a cabeça de Noslen. Isso lhe causou uma enxaqueca, mas aquilo não era nada comparado ao sentimento bom que corria dentro dele.

— Noslen! — exclamou Enzo, quase sem fôlego.

— Eu conheço esse lugar, Enzo. — disse Noslen, que correu mais alguns metros e parou em frente a uma casa.

— Ma, maluco. — soltou Enzo, quase sem forças. Ele precisou parar por um minuto e usou sua bombinha de ar.

— Essa é a minha casa. — Noslen balbuciou. Ele tirou a chave do bolso e andou em direção a residência. — É a minha cas...

O corpo de Noslen amoleceu, mas graças a Enzo o venezuelano não caiu no chão. Aos poucos, ele foi perdendo a consciência e apagou de vez. Aos poucos, Noslen voltou, mas não encontrou Enzo ao seu lado. Ainda zonzo, ele levantou e cambaleou para o lado. Com medo de desmaiar outra vez, Noslen segurou na parede.

De repente, uma mulher entrou na sala. Logo, Noslen lembrou dela. Sua mãe, Ingrid. Ela era magra, com os cabelos pretos e um olhar caloroso.

— Filho, você está bem? — questionou Ingrid, pegando no ombro de Noslen.

— Eu... Eu...

Noslen desabou em lágrimas. Ele abraçou a mãe, que se assustou com a reação do jovem. A mulher acariciou os cabelos do filho e o deixou chorar. Um homem assiste a cena do outro lado da sala. É o pai do venezuelano, que se aproxima e abraça os dois.

— Vai ficar tudo bem, filho. — o homem diz em espanhol. — Você voltou para casa. Estamos juntos.

— Eu senti tanta falta de vocês. — o choro de Noslen não cessava. A sensação de perda o atingiu como uma bala. — Desculpa, desculpa por esquecer vocês.

— A culpa não é sua, amor. Nós sabemos que você estava nos procurando. — disse Ingrid, se afastando e beijando o rosto do filho. — Nós te amamos.

— Eu juro que nunca mais vou esquecer vocês. — prometeu Noslen, mais para si mesmo do que para os pais. — Eu juro.

Desesperado. Assim estava Enzo. Ele segurava o namorado nos braços e o ouviu balbuciar algumas palavras desconexas. Com carinho, o empresário acariciou os cabelos do amado. Celina e Erick entraram na casa, sem ter ideia do que acontecia dentro de Noslen. Eles se aproximaram do casal para checar a situação.

— Ele lembrou. — anunciou Enzo. — Ele lembrou e apagou.

— Deve ter sido muita informação. — afirmou Celina, pegando no ombro de Noslen. — Vou no carro pegar água.

— Deixa eu colocar o Noslen no sofá. — pediu Erick, levantando as mangas e pegando Noslen nos braços.

— Cuidado. — pediu Enzo, auxiliando o irmão.

— Eu estou tendo cuidado, irmanito. — Erick soltou, fazendo Enzo rir. Com todo cuidado, ele repousou o cunhado em um sofá. — Tá empoeirado, mas vai servir.

— Erick, — disse Enzo pegando no ombro do irmão. — obrigado. Acho que nunca vou poder te agradecer o suficiente.

— Vai querer ficar meloso agora, — olhando para Enzo com desdém. — sério?

— Idiota. — murmurou Enzo, que voltou sua atenção para Noslen.

Enquanto Noslen precisava lidar com memórias do passado, André recebeu uma ligação do Centro Psiquiátrico onde sua mãe estava internada. Aparentemente, a mulher recusava-se a comer sem a presença dos filhos. Ele levantou da cama, mas acabou acordando Ian, que estava, praticamente, morando ali.

Ao ver a preocupação do parceiro, Ian decidiu acompanhá-lo. Eles partiram em direção a instituição, que ficava em uma outra área da cidade. No caminho, André revelou que a mãe sofria de esquizofrenia, um transtorno mental caracterizado pela perda de contato com a realidade, que causa alucinação, delírio e falsas convicções.

— Certo dia, cheguei da escola e a mamãe estava batizando o Arnoldo. — contou André para Ian, que prestava atenção no trajeto.

— Batizou?

— Ela estava afogando o Arnoldo, Ian. — explicou André como se a situação não o afetasse mais. — A mamãe não queria outro filho "bicha". — fazendo aspas com as mãos.

— André, nossa...

— Tudo bem. Eu sabia que aquilo era a doença falando. Ian, eu sei que o teu pai é complicado, mas não ter ninguém em nossa vida é muito difícil. — aconselhou André, que enviou uma mensagem para a enfermeira plantonista.

Nunca em toda a sua vida, Ian D'Ávila esteve em instituição para o tratamento de pessoas com problemas psicológicos. De início, ele ficou com nojo e, principalmente, assustado. A cada corredor, o empresário se sentia em um filme de terror. Já André andava pelo prédio como se conhecesse cada departamento, inclusive, cumprimentou alguns funcionários.

Os dois entraram no quarto 'B-15'. O lugar era organizado, mas Ian se assustou com os desenhos na parede. No canto, próximo a uma cômoda, a mãe de André estava abaixada. A mulher era magra e usava uma espécie de pijama. Seus cabelos raspados evidenciavam alguns machucados no topo da cabeça.

Aproveitando a distração de André, Ian puxou assunto com a enfermeira. De acordo com a profissional, a paciente sofria de esquizofrenia paranoide, que é associada a delírios de perseguição e grandeza, assim como ideias ilógicas e irrealistas.

Com toda paciência do mundo, André se aproximou da mãe, que estava arisca, e começou a conversar com ela. Suas palavras eram doces e gentis. A mulher passou a insultar o filho. No fundo, Bruna não aceitava a sexualidade de André e a doença a lembrava disso a todo instante.

— Eu preciso ir para casa. — soltou a mulher com um tom de voz alterado. — O Arnoldo não pode ser criado por um gay. Você é uma péssima influência para o seu irmão. — olhando para André com desprezo.

— Mãe, o Arnoldo está bem. Esse ano, ele completa o ensino fundamental. O Arnoldo vai para uma escola técnica, passou em primeiro lugar. Tudo vai dar certo, mas a senhora precisa comer. O seu corpo está fraco. — comentou André, que tentou tocar na mãe, mas ela desviou.

— Seu André, — a enfermeira chamou o rapaz. — acho que vamos dar um remédio pra ela. Nos últimos dias, a Dona Bruna está muito agitada. O senhor pode nos acompanhar por um minuto, por favor. — pediu.

— Você fica de olho nela? — André perguntou para Ian.

— Claro. Pode ir. — respondeu.

A cena não podia ser mais estranha. A mulher agachada em um lado da sala e Ian próximo à porta. De repente, Bruna percebeu a presença de Ian e se aproximou. Ela exalava um cheiro suave, com certeza, o perfume que estava em cima da penteadeira branca.

— Você é bonito. — afirmou Bruna tocando no rosto de Ian, que ficou com medo de reagir. — Seus traços são de macho. Seus filhos vão ser bonitos. Não vão ser iguais aos meus. O André é um viado, não presta para nada. O Arnaldo vai acabar indo para o mesmo caminho...

— Olha aqui, — Ian ameaçou gritar, mas controlou o tom de voz. — lave a sua boca para falar do André e do Arnoldo. O André é um cara lindo, gentil e inteligente. Eu teria muita sorte se tivesse pelo menos 50% do caráter dele. O Arnoldo é um ser humano maravilhoso, tão esperto quanto o irmão. Esperto o suficiente para não ter nenhum tipo de preconceito. Então, recomponha-se e trate o seu filho bem. — a mulher ficou olhando estática para Ian. — Você me entendeu?

— Sim, eu... eu... eu entendi.

— Muito bem, senhora. — Ian se recompôs e pegou no ombro de Bruna. — Agora, quando o André voltar você vai dizer que o ama e vai comer a droga dessa comida. Eu passei um creme caríssimo no rosto, preciso do meu sono de beleza.

Sem reação, eles ficaram se olhando até o André aparecer no quarto. Do nada, Bruna mudou de atitude com o filho. Tudo bem, do nada não, as palavras de Ian tiveram uma repercussão momentânea em Bruna.

Os dois saíram do hospital e seguiram para a casa de André. O lugar não era grande, mas passava uma sensação boa para Ian, que teve ali as suas melhores noites de sono. Ao deitar na cama, o sono não veio para nenhum deles.

— Desculpa. A minha mãe pode ser demais, eu entendo se...

— Não, André. Você não tem motivos para pedir desculpas. Isso só faz eu gostar mais de você. — se aninhando ao lado do namorado. — Eu te amo. — soltou Ian, que ficou surpreso com a própria declaração.

— Eu também te amo.

— Você quer namorar comigo? — Ian perguntou e virou para olhar a reação de André.

— Uê, eu pensei que a gente já estava namorando. Você está praticamente morando aqui. — disse André.

— Sim ou não, rapaz?

— Sim. — respondeu André com um sorriso estampado no rosto. — Para você é sempre sim. — beijando Ian.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 9 estrelas.
Incentive Escrevo Amor a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

Nossa, já estava triste imaginando que esta linda história não iria ter um final...

Mais de um mês sem postar nenhum capítulo me deixou com crise de abstinência.... Rsrsrsrsrsrsrsrs

Amei A chegada de Noslen em sua casa mas fiquei meio confuso... Ele realmente conversou com os pais ou isso foi ao fruto das lembranças dele???

Quanto a Ian, me parece que ele está sendo sincero com André mas ainda fico com o pé atrás com ele...

Yara está me saindo melhor que a encomenda, parece que ela fugiu do DNA de canalhas da família e se tornou uma boa pessoa.

Bem vindo de volta "Escrevo Amor" e por favor não nos abandone mais...

Espero que esteja tudo bem com você!!!!!

0 0
Foto de perfil genérica

Muito bom, que pena que veio tão pouca informação da Venezuela, estou muito ansioso, quanto a Ian ainda não consigo confiar nele.

0 0