PRÓLOGO
**MIGUEL**
Eu precisava seguir em frente, e a melhor forma que encontrei foi me dedicando totalmente a gastronomia. Algo que faço por puro prazer, e hoje afirmo que sou um excelente profissional. Minha especialidade são comidas típicas brasileiras. Ao contrário de muitos chef, optei pela gastronomia brasileira.
Sai de Macuco, para crescer profissionalmente. E fugir das lembranças que cada canto daquela cidade me faz relembrar. Infelizmente, estou sozinho nessa minha jornada. O plano inicial não era esse.
— Miguel, aquela senhora está lhe procurando novamente. — Diz, Ludmila ao entrar no meu escritório.
Bufei, fechando os olhos e escondendo o rosto entre as mãos exasperadamente. Estava cansado dessa maldita perseguição…São 10 anos que vivo assim, acuado por Adelayde e Marcos.
— É muito tarde para dizer que eu não estou? — Indago esperançoso.
Ludmila deu de ombros, fazendo uma careta.
— A verdade é que ela está conversando com o chefinho, corri aqui para avisar você.
Levantei rapidamente, desabotoando meu dolmã. Estava furioso por essa mulher está invadindo minha vida dessa forma descabida. Ela e o marido tentam de toda forma acabarem comigo. Como se a culpa e solidão que carrego não fossem o suficiente. Se eu pudesse voltar no tempo, se eu soubesse que poderia ter acontecido algo que tirasse Jackson de nós, nunca… Jamais teria prosseguido com o nosso plano.
— Senhora, peço por gentileza para não voltar ao meu estabelecimento com a intenção de destratar meu funcionário. — Pediu Igor, sendo um chefe mais que compreensivo.
Se fosse outro em seu lugar já teria me demitido faz tempo. Entretanto, eu precisei contar os motivos que levam Adelayde, a fazer escândalo e difamar minha imagem aos quatro ventos. Igor sendo uma boa pessoa entendeu meu lado, e deixou claro que meu emprego estava seguro.
— Estou aqui, Adelayde. — E lá estava ela, fitando-me com ódio, rancor. Engoli seco, entregando meu dolmã para Igor, pedi a ele: — Por favor, preciso falar com ela.
— Tem certeza?
— Sim, não se preocupe.
Meu chefe saiu, um pouco relutante. Puxei uma respiração, tentando segurar a emoção que estava aflorando minha pele. Por mais que eu desaprove o que Adelayde faz comigo, não posso negar que sua imagem traz um pouco do meu grande amor. Jackson se parecia por demais com a mãe. Queria muito que as coisas fossem diferentes, mas infelizmente ela me enxergava como um demônio em sua vida e na vida de seu único filho, que já não está mais presente.
— Não sei como consegue viver sabendo que a culpa foi toda sua garoto. — Acusou-me, jogando sua raiva.
Era exaustivo bater de frente com ela, pois ao mesmo tempo que sinto raiva quero abraça-la para ver se consigo ter um pouquinho do Jackson. Isso acaba comigo. Dói tanto, meu Deus. E o tempo não ajudou em absolutamente nada. Eu continuo sentindo o vazio, a vontade louca de chorar, de dormir e não acordar mais.
— Você e seu marido precisam me deixar em paz! — Encaro-a duramente, tentando esconder qualquer fragilidade. — Eu deveria ir na delegacia mais próxima e acusa-los de perseguição e provas não faltarão.
Sem perder a postura elegante, agarrou a alça da bolsa, e se aproximou com mais dois passos. Antes de falar, suas lágrimas vieram primeiro.
— Eu nunca vou te perdoar, seu maldito. — Seus lábios tremeram, continuou: — Você tirou de mim o que eu tinha de mais precioso. Meu filho. Meu único filho. Que lutei tanto para mantê-lo vivo e saudável durante a gravidez. Eu te odeio!
Virou as costas, e precisei me apoiar na mesa. Suas palavras são como sal jogado na minha ferida. Apertei os lábios, permitindo as lágrimas caírem, e chorei silenciosamente.
— Querido, não fique assim. — Senti a mão de Igor em meu ombro esquerdo.
— Eu também sofro, Igor. Sei que minha dor não se compara a dela, que é mãe, mas eu sofro.
— Você não pode viver assim, Miguel. Se passaram dez anos, isso não é normal…Não é saudável para sua saúde. Talvez, você precise de uma ajuda profissional. — Sugeriu, e neguei maneando a cabeça.
Passando as costas das mãos no rosto, para afastar as lágrimas teimosas. Pensei que o melhor seria passar um tempo longe do Rio de Janeiro. Precisava de um lugar tranquilo, onde eu pudesse caminhar sem ter medo de encontrar os meus ex-sogros perseguidores.
— Ainda estão precisando de um chef na filial de Joinville?
— Sim, inclusive Marcondes me ligou dizendo que tinha recebido alguns profissionais interessados. Pensei em oferecer a vaga para você, contudo sei que o senhor é muito apegado aos pais, e sempre que pode viaja até Macuco para vê-los. E Santa Catarina, não é 197km de distância, como daqui para Macuco.
Seria difícil pela questão da distância, não poderia ver meus pais com tanta frequência. Entretanto, eu preciso sair daqui. Respirar novos ares, e quem sabe encontrar um pouco de paz espiritual.
— Ligue para ele, e avise que eu estou a caminho.