Capítulo Anterior ...
-(Bruna) O que você me aconselha a fazer?
Djalma foi direto:
-(Djalma) Usar a sua vantagem. Ele pode ter a maioria dos membros, mas você tem o dinheiro. Compre apoio, suborne pessoas, seduza, diminua a influência dele …
Ela começava a entender o grande aliado que tinha. Djalma era um profundo conhecedor daquele mundo. Ela pediu:
-(Bruna) Quer ser o meu braço direito? Quer comandar meu pessoal caso seja haja realmente uma guerra?
Djalma respondeu apenas com um sorriso cúmplices. Bruna deu um último beijo nele e se levantou, se encaminhando novamente para o banheiro. Precisava voltar ao escritório e mostrar a Renato que ela não iria abrir mão do que achava ser seu. Ela deu sua primeira ordem a Djalma:
-(Bruna) Reestruture nossa equipe. Dispense qualquer um que você tenha dúvida sobre a lealdade e contrate outros. Escolha entre os melhores. Você tem carta branca para agir. Hoje mesmo eu farei uma transferência para você começar a nos fortalecer. Por enquanto, eu tenho uma amiga para visitar.
Continua …
Capítulo 2: Rancores do Passado
A verdade fora revelada e o Gray Eminence já tinha uma identidade: Renato. Com isso, as cartas estavam na mesa e os adversários conscientes de que o jogo começara. Cada movimento, cada gesto a partir de então tinha um objetivo ou um significado que seria depois acrescentado na contenda. O mais importante e que era do conhecimento dos jogadores é que eles se conheciam muito além do que se pode imaginar.
Foram anos e mais anos convivendo juntos. Dormiram e acordaram, transaram, fuderam, traíram ou foram traídos e o mais simples gesto de um podia ter um significado que só o outro sabia qual seria. Afinal, ninguém tem um convívio de tantos anos e permanece impune, pois o preço que se paga para isso é se desnudar de corpo e alma para o outro.
Isso poderia tornar o combate mais duro? Ou talvez mais interessante? Isso sempre vai depender da forma como o lutador vê o jogo. Se ele o faz por diversão, pode ser divertido, porém, ali, o significado ia muito além. Nem Renato, tampouco Bruna, entrariam nesse combate se dependesse apenas da vontade deles. Entretanto, a sombra de Antônio, o grande idealizador daquela organização criminosa pairava sobre os dois e nenhum deles tinha como perguntar a ele qual seria sua vontade e assim, se enfrentariam por aquilo que acreditavam e usariam as armas que estivessem ao alcance de suas mãos.
Havia uma coisa, porém, que ambos ainda não tinham se dado conta. Em meio àquela luta sempre haveria pessoas inocentes que, mesmo sem ter sequer conhecimento do que se passava, seriam atingidas de uma forma ou de outra e pagariam o preço por algo que não deviam.
E a principal pessoa, a que qualquer um dos dois contendores faria de tudo para proteger, se pudesse antever essa situação, era a doce e meiga Elisa. Dona do amor de Renato e de uma admiração cada vez mais crescente por parte de Bruna, naquele exato momento, a jovem advogada lutava por um desagradável sentimento que lhe corroía a alma. Para ela, a saída, quase de madrugada do Renato de casa dizendo que tinha um encontro com um cliente e depois a coincidência de ter se deparado com uma estranha reunião de Bruna, a deixara desconfiada.
Elisa estava em pé ao lado da porta que dava acesso à sua sala com as costas apoiada na parede e olhando com atenção para o movimento das pessoas que entravam e saíam dos elevadores quando viu um movimento na porta que dava acesso às escadas e se virou a tempo de ver Renato saindo da porta e ganhando o corredor.
A dor provocada pela desconfiança que a incomodava se intensificou ao ter a certeza. Renato mentira para ela e não estava com nenhum cliente. Na verdade, ele estava fechado na sala de Bruna, provavelmente na companhia dela e apenas os dois, com o segurança de Bruna que raramente tinha permissão de entrar naquele prédio sentado na sala para impedir que os dois fossem incomodados. Com uma pontada no coração, ela pensou: "Renato mentiu! Ele estava com Bruna! Será que eles estão me enganando?".
Edna, que observava a aflição de Elisa percebeu o semblante preocupado da mesma e aguardou para ver qual seria a reação de Renato, ficando muito decepcionada ao ver que ele agiu como se Elisa fosse transparente, andando rapidamente em direção à sua própria sala. Com um aceno de reprovação da cabeça, Edna se virou e entrou em sua sala, prometendo para ela mesma, ter uma conversa séria com Bruna e Renato.
Elisa a princípio ficou estática. Para ela, a reação de Renato era uma confissão de culpa. Porém, logo tomou uma decisão e andou atrás dele até chegar à sala onde entrou sem ser anunciada e foi dizendo quando percebeu que sua presença fora notada:
-(Elisa) Reunião com um cliente, não é? E então, foi rápida e produtiva a reunião?
Renato a encarou enquanto sua mente trabalhava febrilmente tentando escolher o que dizer. Ele sabia que sua próxima frase seria decisiva no seu relacionamento com Elisa que nunca tivera uma chance de se sentir enciumada. Entretanto, a expressão triste de sua noiva e o sentimento de culpa por ter mentido para ela tomou posse dele que resolveu não apresentar uma justificativa. Em vez disso, apenas perguntou:
-(Renato) Como foi que você descobriu onde eu estava?
Elisa fazia um esforço tremendo para não deixar que sua amargura lhe dominasse, pois sabia que, se acontecesse isso, a única coisa que conseguiria fazer era chorar. Quer dizer, talvez entre as lágrimas ela ainda encontrasse forças para atirar algum objeto em Renato, mas com certeza se desmancharia em pranto. Então, com a voz embargada, explicou:
-(Elisa) Eu fiquei desconfiada no momento em que você disse que teria uma reunião com um cliente, logo cedo. É muito raro você marcar reunião quase de madrugada, não importa o cliente. Na verdade, eu nunca vi isto acontecer. Quando cheguei, desci até a sala de Bruna e lá o leão de chácara dela não me deixou entrar na sala. Tudo isso para mim era suspeito. Mas, certeza mesmo, só tive quando você saiu pela porta de acesso às escadas com uma cara de culpado. É isso aí querido. Eu tive certeza de onde você estava porque você praticamente me revelou isso e, pior ainda, revelou de uma forma que deixa claro, estava fazendo algo errado. Se você se olhasse no espelho agora, veria que está com uma cara de quem foi pego com o pau na mão batendo punheta no banheiro feminino.
Era muito raro Elisa usar termos como aquele ou fazer uma acusação tão direta e isso, por si só, já era um aviso de que era melhor não forçar a barra. Então, deu a volta na mesa e tentou se aproximar de sua noiva que o impediu, dizendo apenas:
-(Elisa) No horário do almoço, encontre-me naquele restaurante italiano próximo daqui, estarei te esperando.
Mesmo antes de acabar de dizer essa frase, Elisa já havia dado as costas ao seu noivo e se retirou do escritório dele.
-(Renato) Está bem. Estarei lá.
Depois que Elisa deixou se escritório, Renato ficou sentado imóvel, com o olhar fixo na parede. Mas, naquele momento, ele tinha uma preocupação maior para tratar. Ele precisava urgente de alguém para comandar seus homens na batalha que se aproximava e tinha que ser alguém acostumado com situações daquele tipo. Sabia o quanto Djalma era eficiente e também que a pessoa que ele escolhesse seria o seu general daquela batalha, e que teria que vencê-lo. Passou uma grande parte da manhã procurando por um nome até que lhe ocorreu um que poderia servir. Pegou o telefone, discou um número e aguardou. Quando foi atendido, falou:
-(Renato) Gostaria de falar com o Policial Ademir.
Ouviu um resmungo e uma voz quase gritando: “Doutor Ademir. Telefone na linha dois”. Aguardou por um curto espaço de tempo e ouviu o clique de outro telefone sendo tirado do gancho e uma voz que há algum tempo não ouvia:
-(Ademir) Pois não?
-(Renato) Ademir? – Ouve um silêncio e ele se corrigiu ele logo se corrigiu: - “Doutor” Ademir?
-(Ademir) Sim, sou eu. Quem está falando? – A voz no outro lado da linha era ríspida e demonstrava a irritação normal nas pessoas que foram interrompidas durante alguma atividade importante.
-(Renato) “Doutor” Ademir, aqui quem fala é Renato.
A relação entre Renato e Ademir já vinha desde o episódio do sequestro de Bruna. Sendo um policial experiente, Ademir foi muito importante para que o desenlace daquele episódio tivesse um final feliz, afinal, Bruna foi salva e o tio de Renato acabou morto. Infelizmente, também ocorreu a morte de Aline, mas isso foi considerado como um efeito colateral pela maioria.
Depois daquele incidente, surgiu um laço de amizade entre os dois e, em muitas ocasiões, Renato recorreu ao Ademir quando precisou se livrar de algumas consequências indesejadas em virtude das atividades que lhe foram impostas pela organização de Antônio. Também, não foram raras as vezes em que Renato foi avisado sobre alguma vigilância que estava sendo feita pela polícia e, com esse aviso, livrar-se de um flagrante.
Renato era conhecedor da competência de Ademir e confiava que podia contar com a lealdade dele, mesmo porque, essa lealdade era regiamente paga por ele. Por esses motivos, estava convencido de que, se conseguisse convencer Ademir a trabalhar para ele, teria ao seu lado um aliado muito importante.
-(Ademir) Ah sim! Como vai Renato? Algum problema?
Aquela conversa de reconhecimento durou pouco. Renato não tinha tempo e Ademir era uma pessoa direta. Logo Renato informou que precisava de uma pessoa, dando detalhes superficiais. O interesse do policial foi às alturas quando foi informado da possibilidade de ganhos muito além do que um policial ganha na profissão e logo marcaram um encontro para aquele final de tarde.
Por iniciativa de Ademir, eles marcaram de se encontrar em uma via movimentada onde permaneceriam dentro do carro dele. Renato na hora se deu conta que aquele homem jamais falaria algo comprometedor dentro de outro veículo que não o dele, temendo ser gravado. Da mesma forma, era certeza de que a conversa que tivessem seria gravada, porém, não havia tempo para evitar esses detalhes e aceitou.
Enquanto Renato usava seu escritório para programar e coordenar suas ações futuras, Edna que presenciara todo o acontecido e já sabendo que Bruna e Renato haviam tido uma reunião privada, chamou sua sócia para uma conversa, fazendo questão de chamar também Elisa. Logo depois de Bruna lhe garantir que não estava tendo nenhum envolvimento com seu ex-marido e depois de explicar para a noiva de Renato que era uma reunião para tratar de assuntos referentes a herança, ouviram a garota reclamar:
-(Elisa) O problema nessas coisas é que você pode falar o que quiser e eu posso acreditar ou não. Então fica difícil. – As duas ficaram caladas fazendo com que Elisa, depois de uma breve pausa, continuasse: - Sei que não tenho nada a ver com os problemas envolvendo sua herança, Bruna, mas também não acho que esse assunto seja tão sigiloso assim que ele não possa ter me avisado antes do que se tratava.
-(Bruna) Calma, Elisa! Meu pai faleceu pouco tempo após o divórcio e em algumas situações ainda consta que eu e Renato somos casados. Estou tendo muitos problemas com a burocracia e nessas horas preciso que ele esteja presente. – Falou sob o olhar desconfiado de Elisa, continuou: - Se eu ainda quisesse o Renato, não daria a ele um divórcio amigável. Nosso tempo já passou, eu não tenho motivos para mentir.
Edna, aliviada com a postura de Bruna, a apoiou dizendo:
-(Edna) Bruna tem razão, Elisa! Procure conversar com o Renato. Tenho certeza de que ele terá uma explicação razoável.
Elisa se acalmou e buscou refúgio em sua sala. Edna e Bruna também foram cuidar de seus afazeres. O dia estava agitado e cheio de clientes a serem atendidos, processos a serem analisados, mas Elisa não estava a fim de esperar. Já era quase meio-dia quando ela pegou o celular e ligou para Renato impaciente. Logo foi atendida:
-(Renato) Oi, meu amor! Já estou a me livrando da papelada aqui. Quer ir almoçar agora?
-(Elisa) Estou descendo já. Te espero lá no restaurante.
Renato concordou com a noiva, mas quando desceu até a rua não se dirigiu diretamente ao restaurante. Antes disso, foi até um veículo parado na rua, do lado oposto ao do prédio onde funcionava seu escritório. Ao se aproximar, a porta traseira foi aberta e ele entrou encarando os dois homens e logo deu ordem para o que estava sentado atrás do volante para não colocar o carro em funcionamento, informando que não iria sair. Trocaram meia dúzia de palavras, com Renato informando aos seus seguranças que iria ao encontro de um conhecido naquela tarde e que queria os dois com ele. Depois de interrogar aos dois sob algumas informações que havia pedido se preparou para abandonar o veículo. Antes, porém, ordenou:
-(Renato) Vocês têm as suas ordens. Eu quero todas as células leais à Bruna destruídas nas próximas vinte e quatro horas. Não podemos permitir que ela continue o legado do pai.
Renato não falou diretamente para eles, mas pensou: “Meus homens infiltrados na mansão destruirão todas as provas que ele mantinha guardadas. O momento da nossa liberdade está próximo”.
Depois disso, saiu do carro e caminhou em direção ao restaurante. Renato não sabia o que pensar. O tratamento seco de Elisa telefone o deixou apreensivo. Entrou no restaurante tentando parecer calmo e avistou Elisa sentada de cabeça baixa em uma mesa na lateral esquerda da casa. Aproximou-se e ela o encarou. Ele sorriu, mas Elisa pareceu realmente triste com alguma coisa. Assim que ele se sentou e pegou em suas mãos, sorrindo para ela em uma tentativa de parecer calmo. A reação dela foi de aceitação o que o deixou mais tranquilo. Então, perguntou:
-(Renato) O que aconteceu? Você parecia triste ao telefone.
Elisa, sabendo que precisava parecer tranquila, respondeu:
-(Elisa) Nada! Alguns problemas no escritório. Erros em processos … O de sempre. – Em seguida, resolveu fazer uma sondagem. – E então? Resolveu o problema de herança?
Bingo. Além de Renato não estar ciente da conversa entre Elisa, Edna e Bruna, Bruna e Renato não se preocuparam em montarem uma história para justificar a reunião isolada que tiveram. Então ele disse sem esconder sua surpresa:
-(Renato) Herança? Herança de quem?
Elisa olhou para o noivo sem ocultar sua decepção. Afinal, ela deu uma oportunidade para seu noivo confirmar uma história e o que conseguiu mesmo foi confirmar que Bruna lhe mentira, assim como Renato também não estava sendo verdadeiro com ela, pois qualquer que seja o assunto que trataram quando estiveram juntos pela manhã, era evidente que ela não fazia parte daquilo e isso a deixou muito magoada.
Ainda tentando controlar a situação Renato disse:
(Renato) Deve ser simples, mas eu terei que encontrá-lo sempre, pois ele não poderá vir ao escritório.
Elisa se sentia totalmente arrasada. Nova mentira! E não tinha como entender que ambos estavam mentindo. Mesmo assim, ainda tentou mais uma vez e comentou:
-(Elisa) Estranho porque Bruna disse que vocês estavam juntos nessa manhã e, segundo ela, estavam tratando de assuntos referentes à herança dela.
Pela reação dele e a forma como a olhou, demonstrando não saber o que dizer, ela sentiu que não seria ele a lhe contar a verdade. Elisa se levantou e abandonou o restaurante deixando Renato sozinho. Ele foi atrás dela, a alcançado já quando estavam fora do recinto:
-(Renato) Elisa, espera! Eu posso explicar.
Ela apenas o encarou, esperando uma resposta honesta. Ele tentou:
-(Renato) Eu preciso que você confie em mim. Existe uma parte da minha vida que eu ainda estou resolvendo e eu não quero que você tenha contato com esse lado. Por favor! Confie em mim. Eu prometo que no momento adequado, você será a primeira a saber.
Por mais que ela quisesse acreditar, a mentira a tinha machucado profundamente. Como poderia se casar com uma pessoa que mentia para ela. Na sua cabeça, após os traumas do passado, era difícil confiar. Ela disse:
-(Elisa) Eu preciso pensar. Você não deveria ter mentido. Eu estou muito decepcionada com você. Por favor, não venha atrás de mim.
Renato entendia a decepção e a frustração de Elisa. Neste mesmo instante veio a lembrança do que tinha acontecido entre ele e Bruna quanto do envolvimento dela com Ester, mãe de Aline. Bruna havia mentido e isto o decepcionara. Juntando esta decepção com a pressão que era exercida pelo pai dela para executar atividades que ele considerava ilícitas, acabou extrapolando e acusando-a de traição, e sabia que não tinha provas dessa traição e agira injustamente. Inclusive, cometeu o erro de mencionar a traição dela com seu tio, algo que nunca tinha acontecido em todos os anos que estavam casados.
Mas entendeu que, tudo o que estava fazendo, era para o bem dela e das pessoas que amava. Deixou que Elisa se fosse, mas precisava agora correr contra o tempo. Não conseguiria ficar tanto tempo afastado da amada. Voltou ao escritório e encontrou Edna e Bruna conversando animadas na copa. O olhar de reprovação que a ex lhe lançava o deixou irritado:
-(Renato) O que foi?
Bruna já tinha problemas demais e não queria que aquela situação ruim entre os dois se instalasse também no escritório, mas não resistiu a provocá-lo:
-(Bruna) Tudo isso podia ser evitado. Você não precisava se transformar no que mais repudia.
Edna não estava entendendo nada. Mas Renato não se importou com a presença dela e devolveu a provocação:
-(Renato) E a culpa de tudo isso é de quem?
Bruna sentiu todo o rancor na fala dele.
Achando que era hora de interferir, Edna tentou mudar o assunto. Não entendia o que estava acontecendo. Bruna e Renato vinham se dando bem nas últimas semanas. Ela disse:
-(Edna) Cadê a Elisa? Ela não foi almoçar com você?
Renato não queria falar sobre o que havia acontecido entre os dois:
-(Renato) Não acho que ela volte hoje. Nós acabamos nos desentendendo. Até achei que ela estava aqui.
Edna foi direta:
-(Edna) Renato, o que você aprontou?
Bruna respondeu por ele:
-(Bruna) Ele mentiu! Disse à Elisa que saiu para encontrar um cliente, mas estava comigo resolvendo algumas situações da herança do meu pai.
Aquela desculpa não foi bem aceita por Edna. Ela encarava os dois:
-(Edna) Se eu souber que vocês estão aprontando para cima da Elisa, eu nem sei o que eu sou capaz de fazer.
Bruna e Renato se olharam preocupados. Edna era mais importante para eles do que qualquer desentendimento que pudessem criar em sua luta por poder. Renato preferiu encerrar a conversa e buscou refúgio em sua sala. Sobrou para Bruna ouvir o sermão da amiga e conselheira:
-(Edna) Você não me engana. Sei que ainda existe sentimento em você. Estamos nessa há quase dez anos. Por favor, reavaliem as atitudes de vocês, Elisa já sofreu demais e não merece ser enganada.
Bruna a abraçou e foi honesta, mas apenas em parte, pois continuou mantendo a mentira de estarem resolvendo problemas relativos à herança dela:
-(Bruna) Eu prometo a você que não aconteceu nada entre nós dois. Eu disse a verdade à Elisa. Estávamos resolvendo burocracias sobre a herança. Só isso!
Edna não tinha motivos para duvidar e decidiu encerrar aquela conversa.
O resto do dia foi corrido e passou rápido. Bruna foi para casa e resolveu descansar. Precisava criar estratégias e se preparar para as investidas de Renato. Ele também foi para casa, mas ficou muito abalado por não encontrar Elisa. Pelo menos, suas roupas ainda estavam no closet.
Depois de confirmar que Elisa não o abandonara, Renato foi ao encontro de Ademir e, apesar do risco envolvido, foi direto com ele, revelando a existência da organização e seu papel dentro dela e depois lhe ofereceu a oportunidade de comandar seus homens na luta que se aproximava. Ademir era conhecido como policial corrupto e já atuara muitas vezes em defesa dos interesses do pai de Bruna, portanto, a parte da existência da organização não foi, para ele, nenhuma surpresa.
Quanto ao Renato ser uma figura importante dentro da organização e agora estar lutando pelo controle da mesma não lhe dizia respeito. Então, sob algumas condições que ele apresentou e foram aceitas, concordou em deixar a polícia e passar definitivamente para o lado do crime.
Entre as exigências feitas por Ademir à Renato, uma lhe incomodava muito. Ele deixou claro que não aceitaria veto de nenhum tipo quando precisasse agir, independente de quem poderia ser atingido por sua ação. Renato sabia que isso colocava em risco até mesmo Bruna, porém, ele estava em uma posição difícil e não houve outro caminho senão o de aceitar.
Com o acordo fechado, Renato deu alguns telefonemas passando instruções e em seguida convocou os principais membros de seu grupo e os apresentou ao Ademir, informando a eles que seria ele o responsável pelas operações daquele momento em diante e que deveria ser obedecido. Depois dessas providências, arrasado emocionalmente pelo dia que tivera, pois não lhe agradava confrontar Bruna e muito menos magoar Elisa, ele voltou para seu apartamento e Elisa ainda não havia aparecido. Controlou o impulso de sair atrás dela e permaneceu em casa sozinho.
Durante a noite, sozinho, lhe vieram lembranças de seu passado.
...
Quando houve a traição de Bruna com seu tio o assunto ficou restrito apenas a eles dois. Tanto ele quanto Bruna não contaram nada para ninguém. Apenas a Aline, algum tempo depois, ficou a par do que havia acontecido na casa da praia. Por outro lado, quando ocorreu o sequestro, todos ficaram cientes e ele foi chamado para ir falar com os pais dela.
A lembrança era nítida. Ele acabara de estacionar o carro próximo à delegacia encarregada da investigação, pois desejava falar com o investigador e saber se havia novidades, quando um homem alto e musculoso se aproximou dele e, sem se identificar, apenas confirmou ser ele o Renato e depois ordenou que ele o acompanhasse. O homem foi tão incisivo que ele soube na hora que, caso não obedecesse, seria dominado e obrigado a ir mesmo assim, ou talvez acontecesse algo pior. Então o seguiu e foi enfiado em uma caminhonete cabine dupla prata, não demorando a perceber que seu destino era a casa de Bruna e isso o acalmou.
Na época, um fato não lhe chamou a atenção, mas agora o enchia de certezas de que o pai de Bruna, ao recebê-lo, não demonstrou a menor preocupação quanto ao destino de Bruna, parecendo até que sabia que, em momento algum, sua filha corria perigo de morte. Depois veio um pedido para que ele acompanhasse os trabalhos dos policiais e mantivesse a família informada sobre todos os aspectos da investigação e, acompanhava esse pedido a oferta de proteção total com Renato podendo dispor de quantos homens quisesse para sua própria segurança. Ele aceitou a companhia de dois guardas costas, mas recusou a arma que lhe foi oferecida. E agora lhe assaltava mais uma dúvida: “Por que, não receando pela vida da filha, aquele homem lhe oferecera segurança e depois uma arma”.
A resposta que lhe ocorria, tanto tempo depois, é que o pai de Bruna já havia decidido que seu tio seria executado no decorrer daquele episódio. Para o poderoso senhor Antônio, a afronta feita contra sua família não podia ficar sem uma resposta que mostrasse a todos que aquela era uma família que não deveria ser ameaçada. Mas, pensando melhor ainda, podia ser muito mais que isso. O seu tio vivia envolvido em atividades ilícitas e concluir que o mesmo havia, em algum momento, cruzado o caminho do pai de sua namorada e aquele episódio servira para um acerto de contas.
Ao chegar a essa conclusão, pois só agora ocorreu a Renato essa possibilidade, percebeu que aquele era um aspecto da questão que tinha que ser levado em conta em um reexame de toda aquela situação e ele decidiu que se aprofundaria nesse assunto.
Ainda na conversa com Antônio, Renato, que com a ajuda do avô, havia começado a trabalhar em um pequeno escritório de advocacia, lhe contou que, depois da morte do seu tio, ele começou a ter problemas na família que não lhe dava sossego com suas acusações e a insistência de seus pais era tanta em lhe importunar que isso estava afetando seu desempenho no emprego.
Para complicar, o dono do escritório que trabalhava havia tido contatos profissionais com seu tio. Sua mãe se aproveitou disso para se aproximar dele para fazer campanha contra o filho. Cansado de ficar dando explicações e detalhes de um assunto que queria esquecer, decidiu que o melhor mesmo seria sair da empresa e procurar por outro emprego. O dinheiro estava curto e ele não queria usar o que o avô lhe destinara.
Mais uma vez ele foi surpreendido por Antônio que, demonstrando ser conhecedor de seus problemas, se ofereceu para ajudá-lo. Foi nessa ocasião que ele percebeu que estava no radar de seu futuro sogro e que havia alguma coisa a mais nas atividades daquele senhor. Resolveu então se aprofundar naquele assunto e manifestou o interesse de trabalhar para ele que prontamente o acolheu, enviando-o para um escritório que cuidava de seus interesses jurídicos.
Não demorou para que Renato percebesse que suas novas funções eram a de pesquisar o mercado para encontrar empresas em dificuldades financeiras. Identificada uma empresa nessas condições, ela era analisada por um grupo de peritos para verificar se havia condições de levantar a empresa recolocando-a no mercado de negócios.
Muito inteligente, Renato descobriu uma forma de identificar essas empresas sem nenhum esforço. Meio que por acaso, ele percebeu que a maioria das empresas com dificuldades financeiras operavam com companhias de Factoring em vez de Bancos regulares, pagando um juro maior. Isso ocorria por terem problemas de protestos o que as impediam de ter acesso a créditos através dos bancos regulares. Essa ideia deu tão certo que o número de pessoas necessárias a trabalhar nessas pesquisas foi reduzido pela metade.
Entretanto, Antônio viu nessa situação um novo filão de ouro e resolveu explorar ele mesmo uma empresa de Factoring. Assim, identificaram uma que havia sido prejudicada pelo desaparecimento de um empresário lhe causando um prejuízo enorme e resolveu investir nela. O acordo foi fácil, principalmente porque ficou acertado que o antigo dono da Factoring continuaria aparecendo como seu único proprietário enquanto Renato, agora promovido à nova função, agiria nos bastidores, sendo o verdadeiro responsável pelos empréstimos a novos clientes.
Desses clientes, os que eram considerados promissores, logo eram assediados por pessoas enviadas por Antônio que, primeiro faziam uma oferta e, caso essa fosse recusada, passavam a recorrer a métodos nada ortodoxos para obrigar o proprietário a ceder.
A ideia funcionava tão bem que, mesmo depois de ter aberto o próprio escritório, Renato continuava a trabalhar para o sogro. Quando ele soube que muitas vezes as conquistas de novas empresas eram feitas através de ameaças, havendo alguns casos em que o proprietário simplesmente desaparecera e o negócio foi concretizado com os herdeiros do mesmo, Renato percebeu o que realmente acontecia e tentou se retirar dessas atividades, porém, já estava atolado até o pescoço e foi convencido que não seria uma boa ideia abandonar o barco. Inclusive com o uso das imagens do assassinato do tio no episódio de sequestro da Bruna.
Essa era a forma de Antônio agir. Considerado um cavalheiro na sociedade e uma pessoa que prestava apoio financeiro a várias entidades de caridade, nos bastidores era implacável e não dava nenhuma margem de manobra aos seus oponentes e, quando seus argumentos não eram suficientes para convencer àqueles que se negavam a atendê-lo, soltava seus cães de caça que, na calada da noite, tinham sua benção para ameaçar e até mesmo assassinar caso as ameaças não fossem suficientes.
Antônio era impressionante em seu modo de conduzir a vida. Ele jamais pronunciava uma ameaça e foram raras as vezes em que alguém o viu irritado. Sempre calmo, com fala mansa, ele ia convencendo as pessoas a darem a ele o que queria. Ele era tão seguro de seu poder que, na maioria das vezes, essas pessoas cediam a ele e ainda se sentiam felizes por isso.
Sua única fraqueza era o sexo. Quando ele se interessava por uma mulher, agia da mesma forma. Ele adorava quando via uma mulher a quem desejava se entregar com volúpia aos seus desejos safados e ainda sair dizendo que havia adorado. E elas não mentiam, pois normalmente voltavam querendo mais. Porém, quando havia resistência a isso, ele jogava pesado até conseguir seu objetivo. Um dos exemplos dessa sua atitude foi Clara. Para conseguir tirar a virgindade dela quando era novinha, não relutou em usar sua esposa Sylvia e até mesmo a mãe dela que, ameaçada de ficar na completa miséria, acabou por ajudar a convencer à filha de que se entregar àquele senhor era a coisa certa a fazer.
Houve também um episódio, esse presenciado por Renato que demorou a entender o motivo de ter sido obrigado a assistir àquele espetáculo.
Tudo aconteceu em um dia que Renato chegou na mansão e foi introduzido no escritório onde estava Antônio. Entretanto, ele não estava sozinho. Na sala se encontravam também um homem de idade um pouco inferior a de Antônio, uma mulher ainda mais nova que o homem, mas demonstrando estar na casa dos quarenta anos e uma garota que não devia ter vinte anos. Pela semelhança entre as duas mulheres, dava para concluir que eram mãe e filha.
Logo que Renato entrou, o homem se despediu do Antônio e, para surpresa de Renato, deu um rápido beijo na boca da mulher, afagou os cabelos loiros, cacheados e longo da garota e se retirou. Isso indicava que se tratava de uma família: pai, mãe e filha. Então era de se estranhar que o homem se retirasse e deixasse as duas ali. Entretanto, não demorou muito para ele entender, pois assim que o homem saiu, Antônio foi até a mulher, colocou a mão sobre o ombro dela enquanto se encostava nela por trás e perguntou:
-(Antônio) Você tem certeza de que quer fazer isso?
A mulher respondeu com um aceno de cabeça. Em seguida ele repetiu a mesma cena com a garota, mas dessa vez sem encostar nela e a garota foi mais incisiva, respondendo com uma voz clara e melodiosa:
-(Garota) Quero muito seu Antônio. Meu pai já me perguntou isso e foi difícil convencer a ele que eu aceitava sua sugestão.
Ato seguinte, ele puxou a mulher para si e começou a beijá-la enquanto a despia. O que veio a seguir foi uma verdadeira aula de sexo, com Antônio fodendo, primeiro a mulher e depois a garota. O que mais marcou Renato foi que a mulher agia mecanicamente, como se tivesse ali fazendo parte de um acordo, enquanto a garota se mostrava ansiosa para se entregar a Antônio e, mal ele penetrou sua xoxota recém depilada, ela já teve seu primeiro orgasmo aos gritos.
Foi uma verdadeira suruba. Antônio devia estar sobre o efeito de algum medicamento, pois seu pau nunca amolecia. Também era de se chamar a atenção a forma como aquelas duas mulheres obedeciam a todos os desejos dele que agia como se fosse o dono de ambas. O clímax daquela transa foi quando ele pediu que mãe e filha se beijassem e se tocassem e, o único momento em que ele não conseguiu impor sua vontade foi quando se preparou para foder o cuzinho da garota e foi impedido pela mulher. Se bem que, para isso, ela teve que sacrificar o seu próprio rabinho para satisfazer o desejo insano daquele homem.
Tirando o momento em que foi impedido de fazer sexo anal com a menina, no resto do tempo elas agiam como se estivessem ali porque queriam. A mulher não demonstrava muito entusiasmo, porém, atendia sem reclamar a todos os desejos daquele macho. Já, a filha, essa demonstrava que estava a aguardar àquele momento e se atirou àquela aventura com uma sede de sexo impressionante e, para sua felicidade, foi plenamente atendida em seus desejos.
Somente alguns meses depois foi que Renato descobriu que aquele homem havia falhado em uma missão e sua falha causara um grande prejuízo à organização. Marcado para morrer, ele tentou de tudo para salvar a própria vida e foi ele mesmo que ofereceu a esposa e a filha para o chefe da organização em troca.
Esse era Antônio. Ele conduzia as coisas de forma que, aquilo que ele desejava, lhe fosse oferecido sem que ele precisasse fazer nenhuma pressão. Aquele homem só tinha tomado conhecimento da tara do chefe da organização quando já estava na berlinda e Renato desconfiou de que essa informação não chegou a ele por acaso.
Nesse cenário de espionagem, chantagens e diferentes tipos de crimes, Renato ia se afundando naquele atoleiro. Cada vez mais ele era obrigado a fazer coisas que eram contra o seu comportamento e seu caráter. Renato se sentia pressionado a fazer o trabalho sujo da organização. Na maioria das vezes não de forma direta, mas sabia que o cumprimento das ordens por ele dadas aos operadores da organização, quando finalizadas, causavam muitos danos aos que se opunham. Foi quando começou a pensar em formas de se livrar das amarras que lhe foram impostas.
Contudo, isto estava acontecendo sem que ele tivesse controle. Não só sobre as atividades como em relação aos efeitos colaterais que estavam provocando estragos no seu casamento. Cada vez mais seu estado emocional estava causando brigas e desavenças com Bruna. Ela não tinha conhecimento das atividades de Renato, por imposição de Antônio. Ou seja, ele nem podia desabafar com ela sobre a pressão à que estava sendo submetido.
Enquanto isto, Bruna ia vivendo sua vida alheia a tudo. Alheia só não. Ela estava se sentindo frustrada com a vida que levava e foi essa frustração que fez com que ela se envolvesse com a mãe de Aline e mentisse para Renato.
Além disto, foi a mentira de Bruna, aliada a pressão pelo trabalho da organização que fez com que ele, por diversas vezes, acabasse por ser grosso e injusto com Bruna. E como consequência destes rompantes de falta de educação, acabaram fazendo com que acabassem por se separar e posteriormente se divorciar.
...
Na manhã do dia seguinte, Renato acordou e estranhou o fato de estar sozinho na cama. Então ele se levantou e saiu procurando por Elisa que não foi encontrada em nenhum cômodo da casa. Quando ele chegou à cozinha, se deparou com um bilhete dela informando que estava na casa de sua mãe e com um pedido para que ele não fosse procurar por ela. A forma como o bilhete estava escrito deixava bem claro a tristeza que dominava sua autora.
Com tanta coisa para resolver Renato não conseguiu permanecer deitado e se levantou indo fazer sua higiene matinal. Depois se vestiu e, como de costume, dirigiu-se a cozinha apenas para se lembrar de que estava sozinho em casa. Praguejando baixinho, saiu do apartamento planejando se alimentar em uma panificadora próxima ao escritório.
Quando finalmente entrou em sua sala e iniciou o exame de um processo, foi interrompido por Edna que vinha até ele buscando por informações de Elisa que não ainda não chegara, causando preocupação em todos. Ao saber que sua noiva não comparecera para o trabalho, Renato tentou se comunicar com ela, mas não obteve resposta, a exemplo do que já havia acontecido com Edna.
Bruna, ao ficar sabendo desse fato e já ter passado por aquilo, sabia exatamente o que fazer. Pegou as chaves do carro, sua bolsa e saiu sem ninguém perceber, no momento em que os todos estavam ocupados. Em menos de vinte minutos, chegou à antiga casa de Elisa, onde sua mãe ainda morava. Bateu na porta e a senhora simpática a recebeu com um sorriso:
-(Senhora) Ela está na cama, chegou ontem no começo da tarde e não saiu mais do quarto. Você sabe o caminho.
Bruna agradeceu, atravessou a sala, passou pelo corredor e entrou no quarto de Elisa direto, sem bater na porta. Elisa protestou:
-(Elisa) Me deixe em paz! Não sou eu que você quer, é o Renato. Fique com ele, aquele mentiroso.
Bruna não queria confronto, sabia que Elisa precisava de apoio. Sem pensar muito e tentando ser amiga, se deitou na cama com ela, de conchinha, tentando lhe dar um pouco de afeto e a abraçou carinhosamente. Elisa puxou o seu braço, segurando forte e se deixando consolar. Bruna não resistiu:
-(Bruna) Seu cheiro é mesmo incrível. - Bruna a abraçou mais forte.
Elisa, confusa, se virou para ela. A proximidade de seus rostos, fez com que uma onda de choque percorresse a coluna de Bruna. Elisa disse:
-(Elisa) Por que ele mentiu? Você o conhece melhor do que ninguém. Ele não confia em mim?
Bruna pensou por alguns instantes, mas não sabia o que dizer. Ela também se sentia responsável por manter a inocência de Elisa. Aquele mundo podre não merecia tocar uma alma tão pura. Bruna acariciou o seu rosto e respondeu:
-(Bruna) Sei que talvez seja difícil de entender, mas há momentos em que precisamos proteger as pessoas que amamos. Eu não posso falar pelo Renato, mas sei que ele não estava fazendo nada para te magoar.
Elisa ficou ainda mais confusa. Bruna não conseguia parar de olhar para a boca dela. Em uma atitude impensada e que pegou Elisa completamente desprevenida, ela a beijou. Um beijo simples, mas carregado de significado. Ao perceber o tamanho de sua mancada, Bruna, se sentindo culpada, tentou se justificar:
-(Bruna) Me desculpe! Não sei o que deu em mim, quando …
Bruna interrompeu sua frase com os olhos grudados no rosto de Elisa que a encarava de uma forma diferente. Com sua experiência, ela sabia muito bem o que aquilo queria dizer e ficou sem entender nada. Seu corpo reagiu instantaneamente àquele olhar e ela sentiu aquele gostoso frio na barriga que sempre se antecipava ao prazer e, sem conseguir medir as consequências de seu ato, se rendeu àquele sentimento poderoso que a invadia, e se aproximou de Elisa dando-lhe um beijo intenso e avassalador.
-(Elisa) O que ... vo ... vo ... cê ... tá ... es ... tá faaaa ... zen ... dooo?
Alguém já tinha contado a Bruna de como era o comportamento de Elisa todas as vezes que se aproximava de Renato na época em que os dois se conheceram e sabia também que, longe de Elisa, alguns dos funcionários até brincavam com isso e, quando queriam se declarar a alguém, por brincadeira ou até mesmo usando a brincadeira para tentar algo sério, começavam a gaguejar na presença do outro. Lógico que com o tempo essa brincadeira foi perdendo a graça, porém, naquele momento, serviu para dar a Bruna a certeza de que, se seu beijo estaria incomodando alguém, esse alguém com certeza não seria Elisa.
Por outro lado, Bruna achou tão meigo e ao mesmo tempo tão excitante aquele jeitinho de Elisa expressar sua timidez que resolveu prolongar o momento e provocou:
-(Bruna) Fala direito garota. Desse jeito eu não consigo entender nada.
O sorriso radiante de Bruna ao dizer isso completou o efeito sobre Elisa. Mas a garota sabia que ceder naquele momento seria a coisa mais errada a se fazer. Então fechou os olhos e respirou fundo. A luta dela para se controlar era tão forte que Bruna teve que cobrir a boca com a mão para não rir, desfazendo esse movimento quando finalmente Elisa abriu os olhos. Então se ouviu:
-(Elisa) Vocêestáloucasepensaqueeugostodisso. – Depois respirou profundamente e continuou: - Saidaquisuamauluca.
Aquilo foi demais para Bruna suportar e ela começou a rir. Como ela estava deitada de lado, com o rosto virado para Elisa que estava deitada de costas, também ficou de costas e emitiu uma sonora gargalhada. Bruna podia esperar por tudo, menos pela reação que Elisa teve. Sentiu pelo movimento do colchão que a loirinha se erguia do colchão e até se preparou para se defender de uma possível agressão, porém, não estava preparada para o que aconteceu.
Elisa se sentou na cama e, sem dar tempo de reação à Bruna, curvou-se sobre ela e colou sua boca à dela em um beijo prolongado e apaixonado.
Continua ...