1. O trauma
Uma noite quente de verão e de lua cheia. Eu caminhava pela praia bastante desorientado, com meu coração batendo alucinadamente, a cabeça cheia de pensamentos, o peito apertado com ideias angustiantes e uma sensação de frustração e de revolta que me faziam até perder a vontade de viver.
Aos 27 anos, naquela noite, a minha paixão virava trauma. Eu acabara de ouvir uma confissão que me fez perder o chão. Minha esposa, após cinco anos de namoro e nem dois anos completos de casados, acabara de confessar que havia me traído com outro. E o pior é que foi com um amigo. Um falso amigo, na verdade. A confissão dela me pegou tão de surpresa que eu fiquei sem saber o que fazer. Saí da casa muito desorientado e fui caminhar na praia. E era o que eu fazia ali perdido caminhando na areia, e sem rumo. A dor da paixão despedaçada ardendo muito.
Sidney, é o meu nome. Tenho uma irmã mais nova que se chama Sidnéia. Esta minha história começa num ponto que considero um momento limite e determinante da minha trajetória. O instante da mudança da paixão da minha vida em trauma. E que foi responsável por uma transformação brutal no meu modo de ser e encarar tudo na vida, por muito tempo.
Estávamos numa casa de praia no litoral do Estado do Rio de Janeiro, alugada por quatro casais de amigos, onde fomos passar as férias de final de ano. Naquele dia, por ser domingo, havíamos feito uma festinha, outros amigos vieram do Rio de Janeiro passar também o final de semana com a gente e a casa estava cheia. Eram quatro quartos, um quarto para cada casal que alugava a casa. Eu e a Salva, minha esposa, éramos um desses quatro casais. Na verdade, Salvadora é o nome dela, um capricho da mãe, mas não gostava de ser chamada pelo nome. Assim, ficou abreviado como Salva para sempre. Os amigos solteiros dormiam em colchonetes na garagem e as amigas solteiras em colchonetes na sala. Eram mais quatro mulheres solteiras e mais três amigos homens que ficavam na garagem. Com mais alguns conhecidos que viviam naquela cidade e apareciam para a festa, a turma que reuníamos ali passava das vinte pessoas e era de gente muito divertida. A casa ficava numa esquina, no centro de um terreno gramado e com jardim, distando uma quadra antes de chegar na praia. A cidade era bem pequena. Tinha uma varanda grande nos fundos da casa com mesa de pingue-pongue, e outra de sinuca. O entra e sai de jovens era grande. E como a folia se estendia até bem tarde da noite, o pessoal da sala só poderia dormir depois que a bagunça sossegava. Alguns ficavam na varanda da frente da casa jogando cartas. Outros reunidos no jardim, tocando violão e cantando, sob a copa de uma figueira, uma grande árvore onde colocávamos bancos e redes estendidas.
Assim, era meio difícil fazer a turma sossegar cedo e aqueles eram dias e noites bastante animadas. Naquela tarde, depois de voltar da praia, onde eu pegara algumas ondas surfando, eu havia tomado umas caipirinhas a mais e fiquei com muito sono. A combinação de surfar, sol, bebida, deu uma moleza danada. Deixei a turma se divertindo e fui para o quarto que eu ocupava com a Salva. Me deitei por volta das dezessete horas e apaguei. Dormi bem pesado, despertando por volta das vinte e duas horas. Me levantei me sentindo melhor, passei no banheiro, me lavei e depois fui para a cozinha beber água e tomar um café quente. Depois, já bem desperto, andei pela casa, procurando a Salva, mas disseram que ela havia saído para dar uma volta na praia com outros colegas, aproveitando a noite de lua cheia. Fiquei por ali, vendo o jogo de sinuca, depois fui para a roda de violão, e por volta das vinte e três horas vi chegarem umas três pessoas vindas da praia. Mas a Salva não veio com eles. Perguntei e disseram que ela ficara na praia. Passou mais meia hora até que a Salva chegou sozinha. Perguntei pelos outros e ela disse que alguns ainda ficaram lá na praia, mas que outro grupo tinha regressado antes. Isso eu havia visto. Como estávamos entre amigos, e ela fora sempre muito fiel e discreta, eu me sentia muito tranquilo e não desconfiava dela em nada.
Salva usava uma saída de praia. Era muito comum estar assim todo o tempo, usando biquíni ou calcinha por baixo. Todos ali passavam a maior parte do tempo em trajes de banho, ou apenas com shorts e camisetas. Às vezes os homens ficavam só de sunga e até de cueca, e era comum mulheres apenas usando calcinha e camisetas compridas. Nossa turma era bem liberal, alguns amigos se conheciam há vários anos. Tínhamos muita intimidade.
Salva veio me dar um beijinho e se abaixou, pois, eu estava na roda de samba sentado num tamborete tocando um repinico. Quando ela se curvou para frente e chegou perto para me beijar eu notei que estava bastante suada e vi pelo decote largo da saída de praia que ela não usava o biquíni por baixo. Deu para ver através do decote os seios desnudos. Perguntei o motivo dela estar tão suada e ela disse que a caminhada tinha sido longa e voltara apressada. Pela demora tudo indicava que sim. A noite estava mesmo quente. Mesmo entendendo que ela saíra apenas vestida com a saída de praia sobre o corpo, naquele momento eu reagi naturalmente, sem nenhuma desconfiança. Nós éramos jovens bem liberais, estávamos acostumados a ficar à vontade entre nossa turma de amigos. Muitas vezes as moças faziam topless na praia. Portanto nada ali era motivo de espanto. Salva disse que estava muito cheia de areia nas pernas e muito suada, em seguida foi para uma ducha no pequeno banheiro dos fundos, fora da casa, bem ao lado da garagem. Esse banheiro nós sempre usávamos na volta da praia para tomar uma ducha e retirar a areia do corpo. Aquele era um cuidado que sempre tínhamos para não levar areia para dentro da casa, já que circulavam muitas pessoas. Tudo isso eram ocorrências e fatos normais do nosso cotidiano e tudo parecia muito normal.
Salva com 25 anos, era uma mulher muito atraente. Morena, de pele cor de café com leite, cabelos castanhos lisos até no meio das costas, e grandes olhos também castanhos, baixinha elegante, uma gracinha. Corpo muito bonito e proporcional, bunda volumosa e seios médios. Pés e mãos pequeninos e muito delicados. Por ter feito muitos anos de dança, ela se movimentava com uma graça especial, o que fazia com que ficasse muito sensual. Mas nenhum de nós ali era ciumento e estávamos bem acostumados àquela intimidade entre amigos.
Eu continuei ali no jardim com a turma, ouvindo o violão e cantando as canções, até na hora em que a Salva voltou do banho enrolada na toalha e de passagem disse que ia para o quarto. Pensei que ela fosse vestir alguma roupa e depois viria se juntar a nós. Então continuei ali no jardim.
Passada uma hora, vendo que ela não voltava, fui ao quarto e a encontrei no escuro, deitada de bruços, despida e parecia adormecida. Sem acender a luz, perguntei em voz baixa se ainda estava desperta, e se estava bem. Ela disse sem levantar a cabeça do travesseiro, que estava bem, só um pouco cansada. Me deitei ao lado dela, fiz um cafuné em seu cabelo, e passei a mão carinhosamente sobre seu corpo. Alisei de leve a pele das costas até na bunda. Normalmente, a Salva sempre reagia bem às minhas carícias, era uma mulher quente e sensual, e gostava de sexo. Sempre que eu a provocava ela aceitava e gostava. Naquela noite ela permaneceu deitada e ficou quieta. Fiz mais uma carícia um pouco mais insinuante, passando a mão sobre as coxas, e trazendo até nas nádegas. Ela gosta de carícias em sua bunda. Salva suspirou de leve e disse:
— Estou bem cansada Sid. Hoje eu não quero nada. Desculpe.
Naquele momento, fiquei preocupado, achando que ela estava com algum mal-estar, ou chateada comigo por alguma coisa.
— O que foi? Não está bem?
— Só cansada.
Como eu estava no lado da cama tendo perto o interruptor da luz, num ato automático eu acendi, para reparar melhor nela, mas ainda não tinha desconfiança de nada. Ela se virou rápido, de frente sobre a cama com a mão sobre os olhos tapando a luz e com isso eu pude ver uma mancha escura em seu pescoço. E outra marca avermelhada em seu seio. Dava para ver outras menores. Eram marcas de chupões. Fiquei olhando admirado enquanto ela pedia:
— Apaga a luz querido, está me incomodando.
Eu não apaguei, fiquei observando melhor e notei os mamilos bem intumescidos, como ficavam depois de eu chupar. Salva adorava que eu chupasse os seios e gozava só com isso. Ela também tinha a região em volta da boca bem avermelhada como se tivesse beijado por muito tempo. Era evidente que praticara sexo, e fazia pouco tempo.
Na mesma hora meu corpo todo se arrepiou, e senti uma sensação muito estranha. Ela não notou que eu reparara nos indícios evidentes de sexo em seu corpo e pediu:
— Apaga a luz, está me ofuscando a vista. Por favor.
Sem dar importância ao pedido dela, eu disparei:
— Você esteve trepando! Na praia? Com quem?
Salva teve um sobressalto, sentou de súbito assustada sobre a cama.
Cruzando as pernas, ela colocou uma mão tapando a xoxota e com o antebraço tentava tapar os seios. Ela me olhava assustada. Percebeu que eu estava lívido, e devia ter cara de alucinado porque ela colocou uma das mãos para a frente como se defendesse de algum possível golpe.
— Por favor, fale baixo, eu explico, mas apague a luz.
Eu ignorei o pedido, mas abaixei o volume da voz:
— Pode me explicar?
Salva me olhava com medo. Ela engoliu em seco e disse bem baixinho:
— Eu fiz cagada. Por favor, me desculpe. Não tenho condições de explicar agora. Podemos falar amanhã. Eu prometo...
Falando bem baixo eu disparei com raiva. Minha voz soava rouca de ódio:
— É a puta-que-o-pariu amanhã. Vamos esclarecer agora. Senão vai ter bronca feia aqui.
Salva sabia que eu normalmente era de temperamento calmo, mas também era explosivo se perdesse o controle. Não era de apalpar nada nem ninguém, sempre fui visceral, e quando ficava puto, se explodisse, podia ser muito violento. Ela deixou os braços inertes ao longo do corpo. Já não se ocultava mais. Não precisava. Pude ver melhor as marcas das chupadas no corpo dela. Eu mesmo nunca tinha feito aquilo. Sua xoxotinha, uma coisinha perfeita e deliciosa, pequena e apertadinha parecia vermelha e inchada. Eu tremia de raiva. Salva fez uma expressão de resignação:
— Tá bom. Eu conto, querido. Mas por favor, calma, sem violência. Fale baixo. Vamos poupar nós dois de escândalo.
Olhei melhor e vi que a xoxota dela estava melada, escorrendo ainda alguma secreção. Aquilo mexia comigo, porque ao mesmo tempo em que eu estava muito revoltado, a visão dela, linda, nua, sensual e trêmula, com a xoxota escorrendo, me provocava também uma grande excitação. E aquilo mais me deixou com raiva. Não compreendia muito bem os meus impulsos. Eu apertava os punhos com tanta força que minhas mãos chegavam a doer, e me controlava para não agredir. No meu peito uma ferida interna ardia como se tivessem enfiado um ferro em brasa. Eu respirava ofegante e fiquei olhando, esperando minha mulher reunir forças para falar. E ela contou em voz abafada:
— Por favor. A culpa é toda minha. Não é de mais ninguém. Eu que provoquei e quis.
Na mesma hora passou em minha mente um flashback dos momentos críticos daqueles dois dias. Um dos amigos solteiros, um branco alto de olhos azuis, cabelos loiros parafinados, nosso parceiro de surf, tinha de fato se insinuado bastante desde a véspera, mas eu não havia levado a sério. Como estávamos acostumados com a intimidade entre todos, e fazíamos muitas brincadeiras entre amigos eu não me atentara aos detalhes. Agora relembrando que a Salva tinha se mostrado sempre muito atenta a ele, várias vezes se insinuara de modo provocante. Eu disparei seco:
— Porra, conta logo. Que ódio…
Ela falava meio desafogada, despejando a história:
— Eu não sei o que me deu, desde ontem eu estava muito excitada e senti uma atração forte por ele. Correspondi a um interesse dele. Foi só físico. Mas com tanta gente junta eu tentei ser discreta, e nada ocorreu até na hora em que fui tomar banho no final da tarde, na volta da praia. O banheiro dos fundos é do lado da garagem e ele estava lá saindo do banho só de cueca. Eu passei por ele de biquíni, entrei no banheiro e ele ficou na entrada da garagem. Eu fiquei conversando com ele com a porta aberta. Ia só tirar a areia do corpo no chuveiro. Mas na hora me deu uma vontade de provocar, de me fazer mais desejada, me despi completamente e comecei a tomar banho sem fechar a porta. Queria que ele me admirasse e ficasse com tesão. Ele na mesma hora entrou no banheiro e fechou a porta. Estávamos muito excitados. Eu reconheço que tinha provocado ele o dia todo, olhando, sorrindo, ele tinha sentido meu desejo. Eu fui a culpada. Não podia mais evitar nada. Ali ele me deu banho, eu me ofereci, ele me chupou muito, gozei assim com ele me chupando, e a seguir a gente transou de pé dentro do box do chuveiro. Mas de pé era complicado e eu não gozava mais. Ele sentou sobre o vaso sanitário e eu montei a cavalo. Foi assim que começou. Eu então gozei mais duas vezes ali com ele metendo dentro. Mas a gente não podia demorar muito no banheiro e paramos logo que ele gozou. Ele espreitou pela fresta da porta e quando viu que não tinha ninguém por perto saiu de fininho para a garagem. Eu terminei de tomar banho, me limpei e saí para o quarto. Mas não vou esconder, estava muito tarada e ainda fiquei na vontade de mais.
Salva parou me observando. Eu a ouvia e imaginava a cena. Ao mesmo tempo em que sentia muita raiva, misturada com tristeza e frustação, sentia também uma certa excitação pelos fatos que ela contava. Imaginar minha mulher se entregando ao amigo, sem que eu tivesse controle me excitava e isso me deixava muito enfurecido. Eu estava nu e a Salva viu o meu pau duro. Apenas exclamei:
— Ah… que sacanagem! Trairagem sem tamanho!
Ela não respondeu. Prosseguiu, talvez com vontade de despejar tudo e se livrar do peso do que havia feito:
— Depois disso, ontem de noite, teve a roda de samba no jardim e eu dava umas saídas de vez em quando, e ele também.
A gente se encontrava rápido, escondidos atrás da garagem. Adrenalina pura, mas era perigoso de sermos apanhados e ficamos só de provocação. Teve uma hora só que demoramos mais, ele me chupou de novo, eu de pé, e a seguir me agachei e chupei ele até gozar. Mas isso só servia para nos deixar com mais vontade.
Eu sentia um nó na garganta, vontade de chorar, mas a raiva impedia. Eu estava abalado ouvindo a confissão e fiquei sem reação:
— Você em nenhum momento pensou que estava me traindo, me sacaneando?
— Eu pensei sim, amor, não queria fazer isso com você. Juro. Mas eu estava fora de controle. Nunca pensei em magoar. Mas eu perdi minha razão.
Salva passou a mão sobre o rosto como se tentasse encontrar palavras para continuar. Ela falou em tom mais baixo:
— A vontade de experimentar aquilo, de tirar aquele desejo de dentro foi maior que tudo. Perdi totalmente o juízo. Fiquei tarada e nem pensava.
Ouvir aquilo me dilacerou por dentro. Ela contava sem timidez nem vergonha. Não conseguia entender como ela era capaz de me chamar de querido, e fazer aquilo, e ainda confessar de forma tão fria o que sentia. Acho que minha pressão arterial foi a uns 18 ou 20 de tão irado que fiquei. Meu coração acelerado me tirava até o ar. Eu me lembrava que naquela noite da véspera, como tínhamos bebido bastante e ficado na roda de samba até bem de madrugada, eu e ela depois fomos dormir sem fazer sexo. Mal podia imaginar que naquela noite, dormindo juntos e abraçados na cama ela já tinha sido fodida pelo amigo. Na minha cabeça veio a frase: “Você já era um corno traído”. E o pior é que ela me tratava bem, sem demonstrar nenhum tipo de remorso. Eu falei:
— Como pode ser tão cruel? Fria e dissimulada. Dormiu comigo me abraçando como se não tivesse feito nada!
— Sidney, eu amo você, não foi por amor que eu fiz isso. Estava muito tarada por fazer o que eu fiz, mas em nenhum momento eu deixei de amar você. Você não entende. Foi físico, tive um desejo de momento. Não pude resistir. Achei que você fosse entender. Você é sempre muito liberal.
Eu não tinha nem o que falar. Eu sempre dissera que era da opinião de que se desse a vontade a gente nunca devia se tolher, e não fazer. Mas não deveríamos fazer nada escondido. Ela podia ter avisado, não esconder. Foi fazer sem contar. E ocultou por dois dias. Fiquei travado. Minha garganta tinha um nó.
Ela continuou contando como se precisasse revelar tudo:
— Então, não tenho nada a esconder. Nós dormimos juntos, e eu estava muito excitada, mas não quis nada com você ontem de noite pois estava na sensação daquela aventura da novidade. Não queria quebrar aquela onda de loucura. Queria ficar na vontade. Se falasse teria que encarar tudo isso. Acho que estava tarada.
Salva parou de falar e ficou uns segundos me olhando. Acho que pensou se falava tudo ou se esperava. Mas decidiu continuar.
— De manhã todos fomos à praia e vocês foram surfar. Eu fiquei quase o dia todo na esteira tomando sol e me excitando, imaginando, desejando mais daquela adrenalina. Não foi melhor do que fazer sexo com você, nem chega perto, mas tinha um sabor de loucura, aventura, sei lá. Ele me desejando me deixou com vontade. Quando a gente voltou da praia e almoçamos eu não sabia ainda o que ia fazer. Mas quando vi que você bebeu bastante e foi dormir no final da tarde, bem mamado na cachaça, eu achei que era a minha oportunidade. Ele ia embora agora de noite. Então, logo que escureceu nós aproveitamos que um grupo saiu de noitinha para caminhar na praia, e fomos com eles. Ninguém desconfiou de nada. Eu fui só com a saída de praia, sem biquíni, para ficar mais fácil. Eu estava decidida a dar para ele na praia. Mas pouco depois o grupo se dispersou, em três partes, alguns foram dar uma volta na cidade, outros voltaram pra casa, e eu e ele continuamos andando pela areia até ficarmos bem longe. Lá no final da praia estava deserto. E tem umas pedras. Só havia a luz do luar. Foi lá que a gente então ficou à vontade.
As palavras dela soavam como se fosse uma narrativa normal, dela contando o que fizera, mas eu sentia como se fossem gotas de ácido no meu peito. Ela prosseguiu:
— A lua cheia estava bombando e a gente transando nas pedras com muita intensidade, ele se empolgou e não imaginei que iria ficar marcada pelas chupadas. Foi uma loucura, eu sei. Ele exagerou. E eu nem me toquei que ele me chupava com força deixando marcas.
Salva fez uma pausa e com um gesto vago disse:
— Eu precisava tirar essa fantasia da minha cabeça, querido. Era hoje, eu tinha que fazer.
Na hora eu estava tão desolado que minha fala soou triste:
— Você conta como se estivesse feliz de ter feito isso! E nem ligasse para mim nem para o que eu sinto.
— Sidney, querido, eu sou sincera, estou muito dividida. Por um lado, fico com remorso por ter feito isso com você, não fiz por mal, nem queria magoar o meu amor. Mas, por outro lado, tenho que assumir, fico feliz de ter experimentado. Eu precisava saber como é... Talvez nunca mais eu faça nada disso.
Aquelas palavras me arrebentaram, me faziam sofrer, ter raiva e ciúme. O que me doía era ter sido enganado. Sempre fui liberal, não era aquele o problema. Se fosse combinado eu até aceitaria. Mas lá no meu íntimo, uma parte de mim entendia perfeitamente o que era o desejo sexual quando ele fala mais alto. Eu sabia o que era aquilo. Já havia traído uma outra namorada no passado. Sucumbira ao desejo exatamente como a Salva.
Só que o resultado fora desastroso. Então entendi que aquilo podia ocorrer. Mas era duro aceitar quando aconteceu comigo.
Ao ouvir a Salva revelar o desejo e o prazer que havia sentido na traição, mesmo revoltado, também me excitava imaginar sua entrega. E aquilo doía. Doía muito.
Eu lamentei revoltado:
— Você deu para ele, chupou, foi chupada, gozou, tudo escondido, sem eu saber.... Como acha que eu me sinto?
Ela aproveitou que eu falei e revelou:
— Querido, você me conhece. Amo você mais do que tudo. Eu sempre soube que iria contar tudo a você. Nunca pensei em esconder nada. Sei que é liberal e entende tudo isso mais do que todos. Sempre disse isso, que entendia e separava amor de sexo. Na hora eu não pensei. Acho que eu precisava resolver essa fantasia. Mas, você sabe, eu gosto de sexo, gosto de tudo. Estava muito tarada. O pinto dele não é grande como o seu, nem é tão grosso, não dói, isso ajudou, foi muito bom, gozei muito. E pude fazer tudo.
Quando ela disse aquilo, “fazer tudo”, eu quase caí no chão de tão abalado. Balbuciei:
— Tudo? Tudo? Deu tudo, até o cuzinho? Não fode...
Salva colocou as mãos sobre as faces tampando a boca e o nariz, como se realizasse naquele momento a loucura que cometeu:
- Dei sim querido. Não vou negar. Não quero mentir para você.
Naquele instante era como se eu tivesse lâminas de aço me penetrando o peito. Me senti até zonzo. Ela continuou a contar:
— Você que me ensinou a dar o cuzinho, hoje eu gosto, estava com tesão demais quando ele pediu e ficou lambendo, fiquei tarada. Foi bom, não doeu. Gozei muito, só tive prazer. Não vou mentir.
Eu estremecia. Sabia o quando ela gozava com aquilo. Foi a porrada definitiva. Parecia até que ela queria me ferir. Doeu muito. Eu não entendia como ela tinha coragem de falar com tanta sinceridade. Parecia que queria mesmo me magoar. Cheguei a falar:
— Como pode ser tão cruel e insensível? Achou que eu não ia ligar?
Salva fez que sim com a cabeça, me olhou e disse em voz muito baixa;
— Teve uma hora no começo de tudo que ele me disse: “Seu marido é cabeça aberta, experiente, e gosta muito de você, ele vai entender e perdoar. Ele sabe. É somente sexo”. E eu, na vontade de provar do diferente, me convenci disso.
Naquele instante eu só queria sumir, desaparecer. Peguei uma raiva tão grande que minha excitação caiu a zero. Imaginava ela sendo enrabada pelo falso amigo, por trás, e depois do orgasmo se virando para beijar, e gemendo como eu sabia que fazia. Me deixava louco pensar naquilo. Mas ao saber que o ânus dela tinha sido invadido e usado por um sujeito qualquer, aquilo desmoronou no meu afetivo, me tornando meio gelado. Eu só consegui exclamar:
— Traído, corneado, por um falso amigo, e pela mulher que eu amava. Pior que eu não ia ficar sabendo se não descobrisse.
— Não amor! Não é verdade. Quando fui tomar banho, eu vi as marcas. Não daria nunca para esconder. Por isso deitei no escuro. Estava apavorada. Achava que amanhã poderia ter a chance, pela manhã, de revelar tudo a você. Só esperei, para dar tempo de ele ir embora. Não teria escândalo nem uma possível violência. Nunca pensei em ocultar nada de você. Tanto que estou contando tudo.
Naquele momento perdi toda a vontade de continuar, de me deixar ferir mais. A sinceridade de Salva contando o que fizera e o que sentira me perfurava como uma lança em brasa. Para evitar mais trauma, não perder a cabeça, e fugir do meu sofrimento, eu me levantei em silêncio, vesti uma bermuda e camiseta, apaguei a luz e saí sem dizer nada. Ouvi ela pedindo com voz se súplica: “ espera… por favor”
Aproveitei as pessoas estarem distraídas com jogos ou com a música e saí pelos fundos, dissimulando, passei a andar em direção à praia que parecia toda prateada na luz do luar. Eu não sabia para onde ia, só queria me afastar o máximo que pudesse daquela casa. Foi naquela caminhada pela praia na noite de lua cheia, meio sem rumo, que o filme da minha vida passava em flashes pela minha mente.
Continua
Meu e-mail: leonmedrado@gmail.com
NOTA DO AUTOR: Esta história é parte integrante de meu próximo romance a ser publicado em breve. Trata-se de uma história de pessoas reais cujos nomes foram alterados propositalmente. Portanto, direitos reservados e história exclusiva. Não é permita sua reprodução. Eu publico aqui algumas partes, até onde acho que é conveniente. Faz parte da divulgação de minha próxima obra.
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