Esta obra é um texto de ficção. Apenas um conto. Nada do que está escrito aqui aconteceu na vida real. Qualquer semelhança com nomes, situações ou desdobramentos terá sido mera coincidência
Para Lit "Himmelske Danser"
A rotina seguia a mesma, mas com o tempero da minha enteada. Sandra ia pra faculdade; diminuiu suas saídas pra farras, o que me deixava feliz, mas continuava a fazer suas caminhadas no começo da noite. Jurou pra mim que nessas caminhadas não aprontava nada, mas que já tinha ficado com um rapaz depois que já estávamos ficando juntos.
- Então eu sou corno da minha amante, que por acaso é minha enteada? - falei pra ela.
- Não! Não vejo assim…
- Como não?!
- Não somos namorados; não somos casados… Eu não te prometi exclusividade e nem cobrei isso de você! E você tem sorte: se eu estivesse apaixonada por você… não sei que tipo de encrenca eu ia arrumar pra sua vida…
- Não está apaixonada por mim? - perguntei triste e visivelmente desapontado.
Ela não respondeu, mas olhou bem nos meus olhos, estudando-os. Depois falou:
- Por que? Você se apaixonou por mim?
Fiquei em silêncio. Entendi que não deveria dizer que sim, mas não tive forças pra dizer que não. Ela entendeu.
- Ah, meu Deus! Osmar!... Por que é que você deixou isso acontecer? - disse visivelmente contrariada.
- Ô, Sandra! Desde quando se controla eficientemente se a gente se apaixona ou não? E eu não disse que tô apaixonado!...
- Tá! Tá, sim! Acha que eu não percebo as coisas? Acha que não tô percebendo que você tá me dando beijos mais demorados? Acha que não percebo que mudou a intensidade desses beijos? Eu sabia…
Eu olhava pra ela e sorria achando graça do desespero dela. Mas no fundo eu temia que ela fosse fazer qualquer coisa pra acabar com nosso caso. Tentei minimizar as coisas:
- Você não tem que se preocupar com isso. Você não se apaixonou por mim, o que torna fácil pra você dizer que quer acabar com tudo entre a gente. Eu me viro… Posso sofrer por um tempo… Eu me viro… - mas se fosse acabar naquela hora eu ia desabar no choro, pensei.
- Não é simples assim… Acha que eu não ia sofrer sabendo que você tá sofrendo? - Agora era ela que enchia os olhos d’água. Desde pequena Sandra não gostava de saber que eu estava triste por alguma coisa. Ela não me consolava diretamente, mas falava com a mãe que eu estava triste e ela ficava triste por isso, querendo que passasse logo.
- Você achou que te vendo todos os dias assim, de perto, desde que você se tornou essa mulher linda, depois fazendo amor intensamente com você… você se entregando pra mim… era impossível se apaixonar?
- Era sexo, Osmar! É sexo! Eu não me apaixonei!...
- Sandra! Sandra! Já te falei… Você tá fazendo tempestade em copo d'água! Eu não vou lutar por você nem abandonar sua mãe pra ficar com você! Eu sei lidar com isso, se acabar! Quer seguir em frente só transando? Pra mim tá ótimo! Quer terminar, arrumar um namorado e tocar sua vida sem mim? Pra mim tá ótimo também! As lembranças serão inesquecíveis, mas paciência! Eu sei que não sou dono da sua vida!
O silêncio que veio deixava claro que Sandra estava sofrendo. Ela olhava fixamente para um ponto qualquer, perdida em pensamentos. Eu, mais experiente, entendia que as coisas um dia chegam ao fim. Que na vida, nem tudo é como a gente quer. Que existem as derrotas também. Que nós não somos donos de ninguém.
- Eu também levaria muitas lembranças… - disse baixinho enquanto uma lágrima caía de seu olho. - Todas inesquecíveis… - longa pausa chorando. - Você é o melhor pra quem entreguei o meu corpo… - a voz já era irreconhecível por causa do choro e os soluços. - Com você, eu me entrego sem medo, confiante, relaxada, feliz… com você, fazer amor é feliz… - não se conteve mais. Chorou compulsivamente.
Eu a abracei sem desejo algum, a não ser o de consolá-la. Deixei que ela chorasse o quanto quisesse, com o rosto escondido no meu ombro, sentido suas lágrimas quentes molhar minha camisa.
- Oh, minha menina… Eu que me apaixono e é você que sofre? Pára de chorar… Vai dar tudo certo, você vai ver. Se você quiser seguir sua vida sem mim, vai tranquila; eu vou ficar bem. - mentira, pensei. - E você sabe que eu estarei sempre aqui toda vez que você precisar de mim! Pra qualquer coisa!... Até se você se enjoar dos seus namorados! - rimos os dois juntos. Ela ainda soluçando, secando as lágrimas dos olhos.
- Não sei se eu vou dar conta de desmamar assim de uma vez… - falou passando as costas da mão nos olhos molhados e já querendo sorrir.
- Não transforme em uma despedida aquilo que não é. Não se aborreça por coisas que ainda não são pra se aborrecer. - falei.
Ela me abraçou olhando nos meus olhos.
- Não vá ficar convencido com o que te falei…
- Não…
- Então… pára de ser frouxo e me come gostoso como só você sabe!
Sandra me empurrou pra cama e veio pra cima de mim, como um uma onça atacando sua presa, me cobrindo de beijos e esfregando sua bucetinha no meu pau. Sem ser de outra forma, nos amamos loucamente, mais uma vez.
FIM
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