Capítulo Anterior ...
-(Bruna) Já voltou? Como foi lá? Resolveu o problema do seu cliente?
-(Elisa) Sim. Tudo resolvido. E você? Resolveu o seu problema aqui?
Não era preciso nenhuma explicação sobre o que Elisa estava falando e Bruna apenas assentiu acenando a cabeça. Depois deu uns tapinhas na cama ao seu lado em um pedido silencioso para que a garota se sentasse ao lado dela. Elisa aceitou o convite, sentou-se, virou o dorso para encarar Bruna de frente e aguardou. Bruna então perguntou:
-(Bruna) Por que você fez isso, Elisa? Você por acaso ficou maluca?
-(Elisa) Não Bruna. O que tive mesmo foi um surto de lucidez. É impossível não perceber o clima que surge quando você e Renato ficam próximos. – Ao ver que Bruna ia dizer alguma coisa, Elisa estendeu a mão com a palma voltando para ela pedindo para que ela não interrompesse e continuou: - Eu seria a última pessoa do mundo a ficar entre duas pessoas que se amam e não resta mais nenhuma dúvida do amor que existe entre vocês dois.
-(Bruna) Acho que você está enganada. – Disse Bruna e depois contou para Elisa a reação de Renato depois que eles transaram.
Ao contrário do que Bruna imaginava, Elisa não ficou surpresa e apenas disse:
-(Elisa) Eu sei. Mas ele ama a você também. Não sei se ama mais a você ou a mim. Mas ama.
-(Bruna) Deixa de ser boba. Não dá para amar duas pessoas ao mesmo tempo?
-(Elisa) Claro que sim. – Afirmou Elisa categórica e continuou: - Eu também pensava assim, só que nos últimos tempos descobri algo a mais. Que às vezes acontece da forma errada.
-(Bruna) Errada como?
-(Elisa) Errada no sentido de que a pessoa que ama duas outras, não pode se entregar a nenhum desses dois amores.
Bruna desconfiou que Elisa estivesse se referindo a ela mesma. Mas preferiu não prolongar o assunto, muito embora sua cabeça fervilhasse tentando imaginar quem seria a outra pessoa que Elisa estaria amando. Nessa hora, Elisa se levantou e saiu andando em direção à porta do quarto enquanto falava:
-(Elisa) Mas tem uma coisa. Eu posso até abrir mão desse amor, mas você está enganada se pensa que não vou aproveitar de um deles até o último momento.
Bruna sabia que ela se referia ao Renato e ficou surpresa ao descobrir que não sentiu nenhum ciúme ao saber que Elisa estava se dirigindo à cama do quarto deles, onde tudo poderia acontecer. Não sentiu ciúmes de Renato e nem de Elisa. Enquanto ela tentava entender a dualidade desse sentimento, Elisa entrou no quarto, se aproximou da cama e falou com voz normal:
-(Elisa) Tudo bem, Renato?
-(Renato) Sim, Elisa. Mas, precisamos conversar.
-(Elisa) Conversar nada ... temos muito o que fazer!!!
Renato estranhou Elisa usar o verbo “fazer”. Então se virou para ela que já estava se livrando de suas roupas e, quando ficou totalmente nua, se atirou sobre ele, oferecendo sua boca para um beijo apaixonado.
Em seguida as roupas de Renato também foram arrancadas e ambos rolavam em cima da cama.
Continua ...
Capítulo 12 – Uma Terrível Fatalidade
Assim que conseguiu fazer com que Renato ficasse totalmente nu, Elisa não vacilou e atacou seu cacete com sua boquinha ávida, deixando-o impressionado com a fome com que ela se dedicava a sugar e beijar seu pau. Não que Elisa não estivesse, a cada dia que se passava, muito melhor no ato de lhe dar prazer. Mas aquele dia parecia ser especial para ela, diante da volúpia que ela sugava, beijava e lambia o pau dele, chegando até mesmo a descer com sua língua elétrica até o períneo e tocar levemente seu ânus.
Diante de tanta volúpia, mesmo estando exausto em virtude de sua transa com Bruna, não era possível se sentir exaurido diante daquele tesão desvairado que sua noivinha demonstrava ao atacar o seu cacete que nessa altura já estava totalmente duro.
Sem conseguir fazer com que Renato gozasse em sua boca, Elisa montou sobre ele e direcionou seu pau para sua buceta, abaixando-se a seguir em um único movimento. A violência do gesto dela surpreendeu ao homem que, agarrando seus dois seios e os apertou levemente em um carinho que ele sabia ser do agrado dela.
Elisa gozou quase que imediatamente. Seu tesão contido durante todo o tempo em que estivera longe da casa enquanto sua imaginação se concentrava no que estaria acontecendo ali foi liberado e ela gemeu forte ao sentir seu corpo queimar com o gozo intenso que lhe dominou.
Em seu quarto, Bruna ouviu aquele gemido e desejou ardentemente estar junto com os dois naquela cama. Sabendo que essa atitude poderia assustar a ambos e também por não ter certeza de que teria coragem para invadir a privacidade do casal de noivos, ela sentia seu tesão voltar e resolveu essa situação pegando seu celular, colocando uma seleção de músicas de sua playlist e se munindo de seu fone de ouvido, deixou de ouvir os ruídos do sexo praticado ali. Essa providência da parte dela deu certo e não demorou a dormir.
Enquanto isso, notando que Renato, apesar de manter seu pau ereto, não gozara ainda nenhuma vez com ela, Elisa começou a provocá-lo:
-(Elisa) Goza dentro de mim, amor! Despeja essa porra gostosa que você tem na minha buceta e me deixa toda melada.
Renato sorriu e depois se concentrou naquela atividade, percebendo que seu prazer era imenso, mas não conseguia gozar. Elisa então mudou de atitude. Não que estivesse zangada com a demora do seu noivo em gozar, mas sim por achar que se agisse de forma mais radical, o tesão dele aumentaria ainda mais. Então, provocou:
-(Elisa) Vai Renato. Deixa de ser frouxo. Goza dentro da minha buceta.
Falava e quicava em cima do pau dele ao mesmo tempo em que apoiava suas duas mãos no tórax do seu noivo e, do nada, agiu de uma forma que jamais agira em sua vida. Sem nenhum aviso prévio, levantou uma de suas mãos e, sem dosar suas forças, desfechou uma bofetada no rosto dele, fazendo com que o estalo provocado por esse tapa soasse no ambiente. Depois provocou:
-(Elisa) Deixa de ser frouxo, porra! Me fode como um homem de verdade.
Não se sabe qual era a real intenção de Elisa, mas se era a de fazer com que Renato superasse o seu cansaço pelas fodas anteriores e passasse a ser mais ativo, deu certo. Sentindo o rosto queimar, ele agiu de forma que talvez nem a Elisa esperasse.
Empurrando violentamente o pequeno corpo de Elisa que, ao escapar do pau que estava atolado em sua buceta pareceu voar para a outra extremidade da cama onde caiu deitada de costas e não teve tempo para nenhuma reação, pois imediatamente Renato já estava sobre ela, socando o pau na sua buceta enquanto lhe desferia alguns tapas fortes no rosto.
Com as faces vermelhas e a sensação de que elas estavam queimando, Elisa não se deu por vencida e continuou a provocar:
-(Elisa) Você chama isso de bater, seu frouxo? Vamos, seja um verdadeiro macho e me fode com força, bate em minha cara e faça de mim uma vadia.
Agora quem estava desvairado era Renato e, em seu desejo de gozar ao mesmo tempo em que maltratava o frágil corpo de Elisa, passou dos limites acertando um tapa com o dorso da mão no lado direito da boca dela. O efeito foi quase imediato, pois de sua boca escorria um pequeno filete de sangue. Mas, o orgasmo de Elisa foi instantâneo. Depois de gozar, não houve tempo para Renato notar o estrago que fizera naquele rostinho lindo com traços infantis, pois ela virou-se de quatro e ordenou:
-(Elisa) Agora você fode meu cuzinho. E fode com força. Igual você está fazendo. Continue sendo esse macho delicioso.
Ao ver a bundinha de Elisa arrebitada para cima, pois ela apoiou a cabeça no travesseiro, deixando as duas mãos livres para puxar suas nádegas e deixar seu cuzinho rosado exposto para ele, Renato não resistiu e, com a mesma violência de antes, enfiou em um só movimento todo seu pau naquele cuzinho provocando um grito dela que, apesar da dor, alternava palavras de incentivo para que ele a fodesse, dizendo que ele era um frouxo que batia nela como se fosse um menino e não um homem de verdade.
Renato, literalmente, deu uma surra em Elisa. Melhor dizendo, foram duas surras, pois ao mesmo tempo em que socava seu pau com energia no cuzinho dela, usava uma mão para segurar sua cintura enquanto, com a outra, desferia tapas e mais tapas, alternando sempre entre suas nádegas e deixando ambas manchadas de um tom vermelho escuro.
Elisa anunciou seu gozo e Renato ainda continuou o castigo que infligia a ela. Apenas quando Elisa gozou pela segunda vez, ele gozou despejando uma pequena quantidade de porra no interior do cuzinho que parecia querer esmagar o seu cacete de tanta força que fazia para prendê-lo dentro de si.
Elisa deixou-se cair sobre a cama e abraçou o travesseiro, dormindo logo a seguir do jeito que estava, enquanto Renato, deitado ao seu lado, tentava vencer o cansaço e assimilar tudo o que havia acontecido naquela noite, porém, logo foi vencido pelo cansaço e também dormiu sem tomar banho, só se dando conta do estrago que fizera em Elisa na manhã seguinte, quando se levantou e foi encontrá-la diante do espelho, no banheiro da suíte que ambos usavam.
Renato ficou assustado com o que viu. O olho esquerdo de Elisa estava um pouco inchado, com um hematoma roxo que lhe dava a aparência de uma ursa panda e ela mal conseguia abri-lo enquanto o canto direito de sua boca, também inchado e roxo, fez com que o sorriso que ela dirigiu ao seu noivo mais parece uma careta de dor. Apavorado, tentou se desculpar enquanto ela lhe dizia que estava tudo bem. Mas não estava tão bem assim.
Depois de tentar disfarçar as marcas que o tórrido sexo da noite anterior deixara em seu rosto, Elisa vestiu uma roupa leve e, juntamente com o Renato, dirigiu-se à copa. Lá chegando, encontraram Bruna ocupada em sua primeira refeição do dia. Bruna olhou primeiro para o Renato com uma expressão que demonstrava toda a sua felicidade, porém, quando seu olhar se desviou para Elisa, essa expressão se modificou, começando com uma demonstração de susto, depois de indignação e terminou em uma raiva que assustou ao casal, cujo sorriso foi morrendo em seus lábios.
Bruna então se levantou com tanta rapidez que seu gesto fez com que a xícara cheia de café que estava em sua frente tombasse e a toalha de renda branca ficou com uma enorme mancha. Porém, ninguém pode se dar conta disso, pois imediatamente ela partiu para cima do Renato, com os punhos fechados e falando. Sua voz era contida, porém, o ódio que continha tornou o ambiente pesado:
-(Bruna) Seu bastardo filho de uma puta. O que você fez com a Elisa, seu pervertido. Renato, que jamais esperaria por aquela reação por parte de Bruna não esboçou nenhuma reação quando ela, usando todo seu repertório de ofensas, algumas até que Elisa nem conhecia, começou a esmurrar o peito dele, continuando a falar, agora praticamente gritando: - Seu imbecil, filho de uma que ronca e fuça. Bastardo do caralho. Você não tem limite mesmo. Não é? Seu veado de uma figa. Eu vou matar você.
Por mais que tentasse imobilizar a mulher que lhe agredia, sem querer revidar, Renato não conseguiu, tal a velocidade com que ela agredia seu peito. Quando ela tentou, e conseguiu lhe desferir um direto no nariz, o sangue jorrou e Renato deu vários passos para trás na tentativa de se livrar da fúria de Bruna.
A mulher, furiosa, foi ao seu encalço. Mas não conseguiu se aproximar dele, pois, de repente, Elisa estava diante dela e com a voz prejudicada em virtude do inchaço de seus lábios, conseguiu falar enquanto segurava as duas mãos de Bruna:
-(Elisa) Pare com isso agora, Bruna! Para que toda a culpa do que aconteceu é minha.
A surpresa pela intervenção de Elisa desarmou momentaneamente à Bruna, dando tempo para que Elisa a abraçasse em uma tentativa de desarmá-la e, ao sentir a maciez daquele pequeno corpo e aquele perfume que tanto a excitava ali tão próximo, ela finalmente se deixou vencer.
Afastou-se um passo e examinou o rosto machucado de Elisa e, em seguida, soltou uma de suas mãos deixando a outra presa à mão da garota e saiu andando em direção ao seu quarto levando-a a reboque, ao mesmo tempo em que ameaçava:
-(Bruna) Não pense que isso acabou, seu Renato. Ainda vamos acertar as contas. Onde já se viu machucar a Elisa assim.
Com dificuldade de entender a reação daquelas mulheres que ele julgava tanto conhecer, Renato ficou plantado no meio do recinto, enquanto as duas desapareciam pelo corredor em direção ao quarto que Bruna ocupava. Ele não entendia como Bruna podia ficar tão raivosa com o estado de Elisa quando, no passado, ela não tivera nenhuma reação negativa quando o mesmo acontecera com ela e também não entendia Elisa que, sendo tão meiga, com uma aparência tão frágil, o provocara a ponto de ele ter tido a coragem de fazer isso com ela e, depois de tudo, ainda defendê-lo da fúria de Bruna.
No quarto de Bruna, ela caprichou na maquiagem de Elisa e foi diversas vezes até o quarto dela, voltando sempre com uma roupa que lhe cobrisse a maior parte do corpo, só se dando por satisfeita em sua terceira opção. Depois, ainda sacou de sua bolsa um conjunto de óculos escuros que colocou carinhosamente no rosto da outra, fazendo todo o esforço para não deixar que isso a fizesse sentir dor.
Finalmente satisfeita, voltou para junto de Renato que permanecia ainda no mesmo lugar que elas o deixaram e ambas ocuparam um lugar na mesa e começaram a degustar as delícias que ali estavam servidas. Renato só foi se juntar a elas quando Elisa, com uma voz suave, lhe disse:
-(Elisa) Querido, vem tomar o seu café da manhã.
Depois de se alimentarem, saíram em direção à garagem. Chegando lá, Elisa não entrou em seu carro, indo diretamente ocupar o assento do carona no carro de Renato enquanto chamava Bruna:
-(Elisa) Vem pra cá Bruna. A gente não vai para o escritório agora de manhã. Eu já os avisei. Temos que tratar de um assunto importante e tem que ser lá na sua mansão.
Sem discutir, Bruna a seguiu e Renato colocou o carro em movimento, tomando a direção da mansão, sem perguntar nada à Elisa, muito embora sua cabeça fervilhasse com as dúvidas do que ela poderia estar tramando agora.
Chegando na mansão, Bruna os conduziu diretamente para o escritório que passou a usar depois da morte de seu pai e, quando foi ocupar a cadeira atrás da mesa, deixando as duas poltronas na frente para o casal, se surpreendeu ao ver que Elisa, mais rápida que ela, já estava sentada ali. Sem querer discutir, ocupou a poltrona ao lado de Renato e ficou ruminando sobre aquela situação insólita. Ela e seu ex-marido, com quem ela transara na noite anterior, sentados, lado a lado, podendo até mesmo sentir os perfumes um do outro e, diante deles, com a expressão mais profissional desse mundo, Elisa, a atual noiva do seu ex, começou a explicar o motivo de estarem ali, dispensando qualquer rodeio e indo direto à questão principal:
-(Elisa) Muito bem. Agora que vocês dois se acertaram, vamos resolver a parte mais importante para dar um final a toda essa situação. - Ao ver que Renato ia dizer alguma coisa, abanou a mão em direção a ele e pediu: - Espere Renato. Deixe-me concluir o que tenho a dizer e depois você fala.
Renato acatou e aguardou. Então ela continuou:
-(Elisa) Estou cansada de tantas mortes, tanta violência e toda essa intriga que de repente passou a fazer parte do nosso dia a dia. Vocês não? - Renato consentiu com um balançar de cabeça enquanto Bruna não esboçou nenhuma reação e ficou apenas encarando Elisa com um brilho estranho no olhar. E Elisa prosseguiu: - Nós não somos assim. Eu conheço vocês dois e também sei das circunstâncias que levaram vocês a se envolverem com tudo isso. Mas eu lhes pergunto: Vale a pena tudo isso? Todas essas mortes de pessoas que vocês conheceram, conviveram e até gostaram é um preço justo para vocês? - Não esperou resposta e continuou: - Eu conheço muito bem os dois para saber que não é. É apenas mais sofrimento. Olha, se não fosse o fato de saber que toda essa guerra que estamos travando contra aquele cara, como é mesmo o nome dele? ...
-(Bruna/Renato) Jurgen. Disseram Bruna e Renato em uma só voz.
-(Elisa) Esse mesmo. Então. Essa guerra que estamos travando contra ele, para mim, é apenas no intuito de impedir que ele assuma o poder. Ele sim é mal e se conseguir seu intento as pessoas voltarão a sofrer o que sofreram nas mãos do seu pai Bruna. Desculpe falar assim de seu pai, mas ele, apesar do verniz e a pose de homem honesto, era portador de uma crueldade que nenhum de vocês tem. Vocês não vão conseguir levar adiante essa organização se não forem cruéis como ele. E isso eu sei que nenhum dos dois é. Aliás, isso me assusta muito mais porque, sem poder usar dessa crueldade e menosprezando o direito à vida dos outros, vocês não vão muito longe e, a única coisa que conseguirão é serem assassinados. E isso é uma coisa que eu não quero de jeito nenhum. Aliás, é essa possibilidade que me deixa apavorada, pois jamais vou admitir perder nenhum de vocês.
Ao dizer isso, Elisa pensava em seu íntimo: “Quer dizer. Eu já perdi os dois, mas só saber que estarão vivos e em segurança já é um consolo”. Bruna, por outro lado pensava: “Diz que não quer perder, mas faz de tudo para nos jogar um nos braços do outro”. E Renato, que ainda não admitia que sua transa na noite anterior com Bruna acontecera por armação de Elisa, falou:
-(Renato) Você nunca vai me perder, querida.
Sem dar atenção ao que Renato acabou de dizer, Elisa perguntou:
-(Elisa) E aí? Como vai ser? O que vocês dois farão com relação a isso.
Bruna respirou fundo e começou a falar:
-(Bruna) Olha Elisa. Quando meu pai me revelou a existência da Organização eu confesso que fiquei deslumbrada e hoje sei que fui levada a isso pelo poder que uma coisa como essa confere a quem comanda. Meu interesse foi tão grande que fiz coisas das quais hoje me arrependo e uma delas foi o fato de eu ficar abertamente contra o Renato, pois eu o via como o maior empecilho para que eu atingisse esse objetivo. – Bruna interrompeu a fala e ficou pensando se deveria falar também que chegou a promover uma suruba onde ela se entregou para quatro homens apenas no intuito de conquistar aliados, mas achou melhor não tocar nesse assunto. Então continuou a falar para Elisa que aguardava pacientemente pela conclusão: - Porém, o dia em que você e o Renato sofreram um atentado e, ainda por cima, chegaram a acreditar que a mandante desse atentado fui eu, tudo começou a mudar. Aquele episódio me mostrou a monstruosidade que é uma organização como essa e não demorou em que eu desejasse a destruição dela. Com essa nova consciência veio o arrependimento por ser a responsável pelo Renato ter sido envolvido nisso tudo.
-(Elisa) Para com isso Bruna. Ninguém pode se tornar responsável pelas escolhas dos outros. Se o Renato está nessa é por escolha dele. Sempre há uma forma de se negar a ser o que os outros desejam que sejamos. - Disse Elisa antes que Renato interviesse.
Finalmente, respirando fundo, Renato se pronunciou:
-(Renato) O mais incrível nessa história é a coincidência de que Bruna e eu termos a mesma ideia. Eu não queria que ela se transformasse em uma pessoa horrível como o pai dela e resolvi assumir tudo para poder dar um fim nessa Organização. O problema foi a entrada desse alemão em cena. Mas pelo menos isso serviu para que nos tornássemos aliados. Agora, tem outra coisa. Estou muito surpreso por você acreditar que eu fui e sou o verdadeiro chefe. Não sou e nunca fui. O mais longe que fui foi me tornar o braço direito de seu pai, mas para mim, ele que sempre foi o chefão.
-(Bruna) Para Renato. Eu li as informações que meu pai deixou no seu cofre secreto. Tudo leva a crer que você é e sempre era o GE.
-(Renato) GE? Que porra é isso?
A surpresa que Renato demonstrou era genuína. Bruna então passou a explicar para os dois que GE nada mais são as iniciais do termo Gray Eminence e depois o significado do termo Eminência Parda. Ao acabar de ouvir, Elisa comentou:
-(Elisa) Nossa Bruna! Para uma pessoa estudada e inteligente você está sendo muito ingênua. Como é que o Renato poderia desempenhar esse papel de Eminência Parda se ele aparecia em várias operações da Organização e praticamente todos os membros dela que ocupam uma posição de destaque o conheciam e sabiam ser ele o executor das ordens de seu pai? Você nunca leu Alexandre Dumas? Ou talvez o livro “O Papa Negro?”. Acho que não, pois se tivesse se dado ao trabalho de ler, saberia que quem age como Eminência Parda nunca aparece.
-(Renato) O que a Elisa quer dizer, Bruna, é que, se fosse eu esse tal de GE, seria eu o chefe de seu pai e isso nunca aconteceu. Sempre fui subordinado a ele. Agora, o que me surpreende mesmo é saber que tem alguém que, sem levantar nenhuma suspeita e agindo por trás dele, é e sempre foi o verdadeiro comandante disso tudo.
-(Bruna) Eu sei o que a Elisa quis dizer, Renato. O que me preocupa agora é saber: Quem realmente é a pessoa que está por trás disso tudo e que, sem aparecer, é o verdadeiro responsável por tudo de mal que essa Organização representa.
De repente!!!
-(Sylvia) Aleluia! Aleluia! Parece que finalmente surgiu alguém capaz de desvendar todo esse mistério. E isso quer dizer que estou fodida.
Os três viraram suas cabeças para o lado do escritório onde havia alguns armários e um deles estava se deslocando de sua posição causando uma abertura, por onde Sylvia, com todo o seu esplendor, ganhava a sala enquanto falava isso com sua voz um pouco mais aguda do que o habitual. Três passos atrás dela, caminhava Cassandra com seu porte altivo.
-(Bruna) Mamãe!
-(Sylvia) Sim filha. Minha querida e “quase” honesta filha Bruna. Até que enfim a cortina se abriu e vou poder deixar você a par de toda a verdade.
Arrastando uma cadeira para o lado da mesa e recusando aceitar à que Elisa lhe ofereça obrigando-a a se sentar novamente e permanecer onde estava, Sylvia passou às três horas seguintes deixando aos três presentes a par de tudo, pois Cassandra se dirigiu a um sofá onde pegou uma revista e ficou folheando, demonstrando que nada daquilo lhe dizia respeito.
A história em sua origem era praticamente algo que estava programado para se repetir com Bruna e Renato. O pai de Sylvia foi o idealizador daquela organização e sempre agiu nas sombras, deixando que todos pensassem que o chefe fosse outro. Quando a morte do homem que todos pensavam ser o chefe deixou uma lacuna na Organização, Antônio e Sylvia já estavam de casamento marcado e não foi difícil para o pai dela, diante da ambição desmedida de Antônio, fazer dele o homem que passou a aparecer como o chefe. Depois, durante o resto de sua vida, dedicou-se a treinar sua filha, sempre fazendo questão de frisar que ela não deveria aparecer nunca, devendo sempre agir através de seu marido.
Sylvia entendeu tudo por ser muito inteligente. Tão inteligente, que adotou uma postura diante das pessoas que tornava impossível alguém sequer imaginar quem era ela na verdade. Foi ela que orientou Antônio a arregimentar Renato para ser treinado, para que quando Antônio se afastasse da Organização, ele tomasse o seu lugar. Também foi ela que mandou que Antônio orientasse sua filha e esse foi a seu grande erro, pois, conforme ficou claro, deveria ter sido ela a oferecer esse treinamento para Bruna e hoje sabia que, se fizesse isso, teria descoberto logo no início que sua filha não tinha o perfil para cumprir esse papel.
Pior ainda, hoje ela sabia que o Renato também não era a pessoa indicada e que foi um erro ter usado de chantagem para obrigá-lo a ficar na organização. No final, comentou em tom de interrogação:
-(Sylvia) Quer dizer então que os três pombinhos estão aqui reunidos para decidirem o que fazer com a Organização?
-(Bruna) Mamãe! Você estava nos espionando? - Perguntou Bruna em tom de indignação.
-(Sylvia) Sim filha. Aqui nessa casa não acontece nada que eu não saiba. Se uma folha cair de uma árvore, de alguma forma sou informada a respeito disso. Você deve estar lembrada do que seu pai lhe disse sobre o poder da informação.
Ninguém comentou nada sobre a última observação de Sylvia. Na verdade, todos procuravam em seus pensamentos algum ato que tivessem cometido dentro da mansão que pudesse deixá-los constrangidos diante de Sylvia. Ao perceber isso, ela deixou soar uma gargalhada e no final disse:
-(Sylvia) Ora queridos! Não façam essa carinha de cachorro surpreendido com o gato de estimação da família na boca. Não tenho nada a censurar no que vocês fizeram. - E olhando para Bruna continuou: - E você Elisa, aquelas cintadas que você deu na Bruna dentro do quarto dela nada mais foi do que aquilo que ela estava precisando muito. Aliás, eu nem pude agradecer por isso. Por motivos óbvios.
-(Bruna) Mamãe! Reclamou Bruna ao ver que Renato arregalava os olhos ao receber essa informação, mas Sylvia continuava a falar, agora se referindo a ele:
-(Sylvia) E você Renato, você foi a coisa mais difícil que tive que aturar. Muito certinho, muito honesto, nunca fez nada que pudesse usar contra você. Nem mesmo uma dose de uísque você tomou sem autorização.
-(Elisa) Esse é o nosso Renato de sempre. - Brincou Elisa já se divertindo com aquela situação. - Depois de um breve silêncio onde todos pareciam perdidos em seus próprios pensamentos Elisa quebrou esse silêncio falando: - Muito bem Dona Sylvia. Agora que a senhora se juntou a nós e revelou seu grande segredo, que tal nos dizer como fazer para acabar com a organização?
-(Sylvia) E quem disse que eu pretendo acabar com a organização? - Perguntou Sylvia sem deixar de demonstrar seu bom humor.
-(Elisa) Duas coisas, - Respondeu Elisa e completou antes que Sylvia pedisse por isso - A primeira é o fato da senhora, pela primeira vez na vida, revelar o seu segredo para outras pessoas e a segunda ... bem, a segunda está sentada bem ali naquela poltrona e tem nome, RG e CPF.
-(Sylvia) Nossa! Onde foi que vocês foram achar essa criança prematura e tão inteligente.
Elisa fez vista grossa da forma jocosa com o qual a Sylvia se referiu a ela e a encarou, aguardando ainda a resposta para a sua primeira pergunta que não fora respondida.
-(Sylvia) Me diga você, oh “gênia”! O que tem guardado nessa cabecinha aí com relação ao destino da Organização?
-(Elisa) Acabar com ela. Podemos começar destruindo todas as informações e provas que tem nesse tão estimado cofre secreto e depois comunicar a todos os envolvidos que não temos nada contra eles e que eles podem seguir suas vidas sem se preocuparem mais com isso.
-(Sylvia) E você acha que é simples assim?
-(Elisa) Bom. Simples, sei que não é. Mas é só dar o primeiro passo e depois o segundo e assim por diante, até atingirmos os nossos objetivos.
-(Sylvia) Nossos objetivos! Quem vê essa menina falar pode até acreditar que ela faz parte da Organização desde os cinco anos de idade. Quantos anos ela tem agora? Doze? Então garota. Infelizmente não é assim que funciona.
Elisa não disse nada e Sylvia começou a explicar as coisas que a impediam de dar um fim na Organização. E sua primeira explicação foi algo que deu motivos para que os três pensassem muito bem no assunto. Ela começou explicando:
-(Sylvia) Talvez vocês não se lembrem disso e nunca é demais dizer. A cidade do Rio de Janeiro, até mais ou menos a metade da década de noventa do século passado, era uma cidade violenta, porém, tão violenta quanto qualquer outra grande cidade deste mundo. Naquela época, o crime organizado por lá era controlado por homens que circulavam entre as pessoas respeitadas, embora todos soubessem que suas atividades não eram dignas de nenhuma Irmã Dulce. Eles eram conhecidos como “bicheiros”, pois eram eles que controlavam o jogo do bicho na cidade. Além disso, eram presidentes de Escolas de Samba e também de alguns clubes de futebol que disputavam as principais divisões desse esporte no Brasil. Eles controlavam o crime com mão de ferro e eles mesmos se encarregavam de dar fim naqueles que, entendendo estarem em posição de destaque, exageravam em suas ações e ostentações e eram punidos, quase sempre com a morte, por esse motivo, a criminalidade envolvendo o crime organizado ficava dentro do crime organizado e pessoas que não pertenciam a esse meio dificilmente pagavam algum preço por isso. Lógico que não estou falando aqui de bandidos se verem livres da cadeia, da exploração do jogo do bicho que é proibido por lei e, logicamente, de muita sonegação de impostos.
Sylvia fez uma longa pausa como se estivesse procurando a forma correta de continuar e ninguém falou nada até que ela continuasse:
-(Sylvia) Então, finalmente apareceu alguém do judiciário que teve a coragem de cumprir o seu dever. Uma Juíza de Direito agiu, logicamente que, antes dela, houve policiais e Promotores Públicos que também tiveram a coragem de agir e o resultado disso é que vários desses bicheiros foram enviados para a prisão. Com a cabeça cortada, o monstro do crime perdeu o controle e passou a ser crime desorganizado. Pessoas que não estavam preparadas para assumirem o comando ascenderam à essa posição e não demorou em que a disputa pelo controle do crime se transformasse em uma guerra. Isso sem falar em grupos que se acharam no direito de controlar uma região da cidade onde a lei foi banida de vez e isso é uma coisa que antes não aconteceria, pois os chefes do crime organizado se encarregaram de dar um fim a isso.
“Não quero dizer com isso que essas pessoas do judiciário que agiram estivessem erradas. Elas não estavam. Aliás, elas foram honestas e cumpriram o seu dever. O que está errado nisso tudo é que ficou provado que o Estado não tem competência para proteger seus governados, pois é inoperante e corrupto e perdeu de longe essa batalha contra o tal do crime desorganizado. E esse é o meu maior receio. Tenho medo de que, ao encerrar as atividades da Organização, comecem a surgir disputas pelo poder e pessoas sem nenhum preparo para isso sejam elevados ao comando. Isso faria com que um monstro fosse abatido apenas para dar oportunidade para surgir um monstro ainda pior, ou ainda, um bando de monstros que, mesmo agindo isoladamente, causem um mal muito pior às pessoas que nada têm a ver com isso.
Aquilo era algo para se pensar e foi o que os três fizeram. Renato, Elisa e Bruna permaneceram em silêncio durante vários minutos, até que Elisa perguntou:
-(Elisa) E então, dona Gray Eminence? O que a senhora tem em mente para acabar com essa organização sem criar esse estrago todo?
Um silêncio pesado dominou o ambiente, com todos aguardando a reação de Sylvia ao ser identificada dessa forma por Elisa. Porém, ela parece nem ter notado a ironia que Elisa colocou em sua pergunta e apenas falou:
-(Sylvia) Sinceramente não sei. Diga você que parece ser a cabeça pensante desse trio.
Bastou isso para que todos começassem a emitir sua opinião de como deveriam agir. As ideias diferiam em poucas coisas e sempre acabava sugerindo uma reunião geral onde todos seriam informados de que a Organização encerraria suas atividades e de que todos ficariam por conta própria.
Em seu íntimo, Sylvia pensava: “Esse moço jamais poderia assumir o controle da Organização. Além de muito honesto, ele é muito decidido e quer ir sempre direto ao ponto. Para comandar uma organização dessa é necessário ser inteligente e ele é. Também precisa ser determinado e isso também ele é. Porém, é preciso ser furtivo e saber agir com falsidade e isso ele nunca será”.
Ao final daquela reunião não programada, nada ficou decidido. O que ficou claro é que ninguém, nem mesmo Sylvia, sabia o que fazer para dar um final à Organização. O que ficou de positivo foi o fato de agora eles sabiam quem realmente estava por trás de tudo e, mais importante que isso, ter ficado bem claro que Sylvia também desejava o fim da Organização. Isso era muito pouco, mas não deixava de ser um começo.
A mais agitada com a falta de solução era Elisa que, puxando Bruna para perto dela depois que Sylvia e Cassandra deixaram a sala de reuniões, lhe disse:
-(Elisa) Tudo bem. Até que posso aceitar algumas coisas que sua mãe falou. Mas tem algo que eu acho que não devemos abrir mão. Aqueles documentos existentes no cofre secreto devem ser todos destruídos.
Bruna, porém, estava embevecida com sua mãe. Não pelo motivo de ficar sabendo o papel que sua mãe ocupava na organização, pois ela era nada mais nada menos, do que a chefe suprema, mas sim por um fato que ela não compreendia. Afinal de contas, era a primeira vez na sua vida que Sylvia se abrira na frente dela e ela via isso como um começo de um relacionamento entre mãe e filha melhor do que havia sido até então. Com sua mente em turbilhão diante desses fatos, ela não entendeu exatamente a importância do que Elisa acabara de lhe dizer e se limitou a lhe dar um sorriso. Isso fez que Elisa entendesse aquilo como sendo um sinal de concordância.
O que ninguém notou foi que a Cassandra entrou no recinto quieta e saiu calada. Em nenhum momento sua voz foi ouvida. Mais tarde Elisa chegou a pensar sobre o assunto, porém, sabendo do envolvimento entre as duas, achou que a Cassandra estava ali apenas para acompanhar Sylvia.
Durante a semana seguinte, por mais que Bruna insistisse que já estava bem, Elisa sempre dava um jeito de levá-la para sua casa e lá, também dava um jeito de sair de cena para deixar Bruna e Renato a vontade, porém, as coisas não estavam acontecendo como ela previa. Eles poucas vezes ficaram muito próximos e raras vezes trocaram algum carinho ou beijo e, apenas uma vez, por iniciativa de Bruna que acuou Renato, eles transaram de novo.
Essa transa aconteceu no dia em que, sem que ambos percebessem, Elisa saiu de casa furtivamente, pegou seu carro e foi até o apartamento que, antes do atentado, ela ocupava juntamente com Renato. Lá chegando, ela acendeu um incenso para disfarçar o ar pesado em virtude de o apartamento estar fechado há muito tempo, despiu sua calça jeans e blusa e se atirou na cama, depois de trocar os lençóis, onde ficou rolando ao imaginar Bruna se contorcendo nos braços de Renato e um proporcionando prazer ao outro. Só conseguiu dormir por volta das quatro horas da manhã e, assim mesmo, depois de mandar o que lhe restava de pudor às favas e se masturbar. Não estranhou quando, ao atingir o orgasmo, a única imagem que lhe veio à mente foi a de Bruna também gozando junto com ela. Ao acordar, decidiu que também se libertaria de qualquer vergonha e se dedicaria, ainda naquela noite, a praticar sexo com seu noivo.
Ainda naquele dia, no período da tarde, Bruna chamou Elisa para ir até a mansão, sob a alegação de que havia um documento importante que levara para sua casa quando ainda dormia lá todas as noites e que iria precisar no dia seguinte. Como ela iria dormir na fortaleza de Renato, aquele era o tempo que ela tinha para isso em virtude de não ter mais nenhum compromisso. Elisa, por estar aguardando o resumo de um processo que seu subordinando prometera entregar somente no final da tarde, resolveu acompanhá-la e as duas foram. Só que, quando estavam no estacionamento, Elisa pediu para que fossem no seu carro, o que Bruna foi obrigada a aceitar diante da insistência da mesma.
O que Bruna não sabia era que, desde a reunião que tiveram com Sylvia na mansão, Elisa adquirira uma fragmentadora de papel que manteve escondida de todos no porta-malas de seu carro. Assim, em um momento em que Bruna saíra de sua visão e fora até seu quarto buscar pelos documentos, ela correu até onde estacionara seu carro, pegou o equipamento e o levou até a adega, retornando para a sala onde se encontrava antes no exato momento em que Bruna descia a escada e, vendo que ela estava esbaforida, comentou:
-(Bruna) Nossa Elisa! Parece até que você acabou de participar de uma maratona.
Elisa apenas sorriu, mas quando Bruna chegou perto dela, segurou em seu braço e a arrastou em direção à adega, sob os protestos da outra. Lá chegando, tiveram uma breve discussão e Bruna só aceitou abrir o cofre quando percebeu que Elisa estava ficando realmente magoada com ela, pois entendia que ela concordara antes e agora estava se negando a cumprir o que haviam combinado, mesmo essa combinação tendo sido realizada em uma simples troca de olhar e ela nem imaginava que, naquele momento, o cérebro de Bruna estava focado em outro assunto.
Aberto o cofre, Elisa pegou o fragmentador e entrou, levando quase um minuto para se recuperar do que via. Era uma sala ampla, com arquivos de quatro gavetas por todos os lados e ao centro uma mesa enorme onde havia apenas uma poltrona, indicando que aquele local era para ser frequentado apenas por uma pessoa por vez. Recuperada de seu deslumbramento, plugou o aparelho em uma tomada e começou a abrir os arquivos, jogando o conteúdo de cada gaveta sobre a enorme mesa, enquanto Bruna apenas a observava com uma expressão que ia do susto à indecisão. Até que ela reclamou:
-(Elisa) Anda logo Bruna. Você vai ficar aí parada igual a um dois de paus?
Bruna, como se acordando de um sonho, foi ajudar a esvaziar as gavetas, em uma demonstração clara de que ela estava indecisa quanto a destruir os documentos. Percebendo isso, Elisa deixou a tarefa de retirar os documentos aos cuidados dela e começou a destruir os mesmos, enquanto olhava desanimada a sua volta e chegava à conclusão de que, naquele ritmo, levariam semanas para realizar aquela tarefa.
Bruna e Elisa não tinham noção de quanto tempo estavam ali dentro e tinham esvaziado apenas quatro arquivos. Como o interior do cofre era equipado com aparelhos de ar-condicionado cuja finalidade, além de manter a temperatura amena, era a de retirar toda a umidade do recinto para proteger os incontáveis documentos ali existentes, não demorou em que ambas sentissem sede. Bruna se prontificou a ir buscar água enquanto Elisa continuou em sua tarefa de destruir documentos.
Não demorou cinco minutos e a porta de entrada do cofre se moveu novamente e Elisa, absorta em sua tarefa, não percebeu que havia algo de anormal. Quando ela finalmente olhou para Bruna, quase caiu sentada, pois suas pernas começaram a tremer e ela tinha dificuldade em se manter em pé. Bruna estava acompanhada de dois homens. Um deles era o Jürgen e o outro devia ser um de seus pistoleiros que, com uma chave de braço envolvendo o pescoço da jovem, tinha um revólver encostado em sua cabeça. O alemão ordenou:
-(Jürgen) Não faça mais nada. Afaste-se dessa máquina e não faça nenhum movimento ou sua amiga morre.
Percebendo que Bruna, a mulher por quem ela nutria um sentimento que sequer sabia explicar, estava correndo risco de ser assassinada friamente, Elisa perdeu todo o seu senso. Seu cérebro parecia ter parado de funcionar e a única coisa que conseguiu pensar foi que deveria obedecer e assim o fez.
Jurgen começou a praguejar quando viu a enorme quantidade de papel picado sobre o piso, porém, bastou um rápido exame nos arquivos a sua volta para se tranquilizar. A quantidade inutilizada não representava nem cinco por cento do que ele ainda poderia se apropriar e ele sabia que ali havia informações suficientes para fazer dele um verdadeiro chefão do crime organizado. O próximo passo era decidir o que fazer com aquelas duas mulheres que, segundo ele sabia, eram as principais responsáveis pelas amargas derrotas que sofrera nos últimos meses.
Diante da gravidade de seu ato, logo se deu conta que não tinha outra saída. Ambas tinham que morrer. Restava agora encontrar uma forma de retirar dali todos aqueles documentos ou, talvez nem fosse necessário, afinal, Sylvia era apaixonada por ele e, se ele decidisse morar naquela mansão, bastaria se mudar para lá que ela o receberia com os braços abertos. Então resolveu que tiraria Bruna e Elisa dali ainda vivas, achando que, com a técnica de interrogatório certa, elas poderiam lhe dar mais informações úteis.
Estava absorto em estabelecer um plano para isso quando um leve estalido se fez ouvir. Todos olharam para o local de onde viera o barulho e viram a única parte da parede onde não havia armário se deslocar como uma porta corrediça e, do outro lado dessa porta, estavam Sylvia e sua inseparável companhia dos últimos tempos, Cassandra. Sylvia, com alguns passos, chegou até o centro da sala com Cassandra bem ao seu lado. Examinou a situação e, com uma calma surpreendente, falou se dirigindo ao homem que apontava a arma para Bruna:
-(Sylvia) Você quer fazer o favor de soltar a minha filha.
O homem olhou para Jürgen que nada disse para ele. Em vez disso, abriu seu melhor sorriso e caminhou em direção à Sylvia. Porém, antes que ele pudesse ficar a uma distância onde poderia tocá-la, Cassandra se interpôs entre os dois, falando pela primeira vez:
-(Cassandra) Não se aproxime. Fique longe da Sylvia.
O tom de voz de Cas era tão impositivo que ele vacilou por um momento. Depois, com o melhor sorriso que pode fazer e olhando para a Sylvia, deu mais um passo em direção a ela. O que aconteceu a seguir foi algo que não dá para perceber com os olhos. Em um momento Jürgen caminhava em direção à Sylvia e, no momento seguinte, estava deitado no frio piso do cofre com a Cassandra segurando um de seus braços que torcia enquanto dizia:
-(Cassandra) Você foi avisado. Fique longe da Sylvia.
Mas a reação de Cassandra, apesar de proteger Sylvia, desencadeou uma situação ainda pior. O homem que segurava Bruna pelo pescoço começou a andar para trás arrastando a mulher com ele, enquanto dizia para a Cas não se aproximar e ameaçando atirar.
Elisa, ao ver que a vida de Bruna corria perigo, saiu do seu estupor e, percebendo que a atenção do homem se concentrava na Cassandra, moveu-se rapidamente e se chocou com o homem de lado enquanto, com suas pequenas mãos, tentava alcançar o revólver que ainda apontava para a cabeça de Bruna. Sem esperar por isso, o homem perdeu o equilíbrio e, no esforço para não cair, deixou que sua presa se soltasse e Bruna, mesmo sem experiência, ao se ver livre deixou-se cair no chão onde permaneceu deitada, enquanto Cassandra, com uma agilidade fora do comum, movia-se em direção a ele.
Um único disparo foi ouvido antes que o homem fosse alcançado e, com um único golpe em sua nuca, caiu sem vida.
Mas ainda havia Jürgen que, apesar de seu enorme tamanho, era um homem treinado a enfrentar situações de risco. Rolando sobre si mesmo, ele se aproximou do local onde a arma do homem morto havia caído e se apossou dela. Então levantou dando ordens a todos e com o revólver apontado para o peito de Cassandra que o fitava com uma expressão feroz, porém, permaneceu totalmente imóvel.
Enquanto tudo isso acontecia, Sylvia correu para trás da mesa que ela conhecia muito bem, abriu a gaveta e quando levantou a mão, trazia consigo uma pistola automática. Jurgen ainda conseguiu sentir o perigo e se virou para ela. Ainda achando que Sylvia era totalmente dominada por ele, sorriu e, sem desviar o revólver de Cassandra, deu um passo em direção a Bruna, estendendo a mão para puxá-la para si.
Nesse momento, ouviu-se uma sequência de três tiros. O primeiro acertou Jurgen exatamente sobre o seu pau. O segundo afundou-se em sua barriga e o terceiro foi atingir o centro do seu peito. Sem resistir à dor que sentiu ao ser atingido, ele deixou a arma que portava cair e levou as duas mãos à sua virilha, como se desejasse nesse gesto, estancar o sangue que dali esguichava. Abriu a boca para dizer algo para Sylvia e o que se viu foi uma golfada de sangue sair por sua boca. Em seguida, quase que em câmara lenta, suas pernas começaram a se dobrar e ele foi se curvando até cair de vez no chão, onde permaneceu imóvel. Jurgen já estava morto antes mesmo de chegar ao chão.
Imediatamente todos olharam à sua volta procurando por Elisa. A garota estava sentada no chão com as costas apoiada em um arquivo. Com a cabeça caída sobre o peito e as mãos juntas sobre sua barriga de onde escorria muito sangue.
Cassandra não vacilou. Tirando uma blusa que usava sobre uma camiseta a embolou, colocou sobre o ferimento de Elisa e pressionou. Em seguida a levantou como se fosse uma pena e saiu correndo em direção à saída. Sylvia a acompanhou até fora do cofre e, segurando a mão de Bruna com uma de suas mãos para impedir que ela fosse atrás de Cassandra e com a outra acionando o celular, falou rapidamente com alguém que atendeu dando ordens rápidas e precisas para que conduzissem Cassandra ao hospital mais próximo. Em seguida, puxou Bruna de volta para o interior do cofre enquanto ela, chorando, dizia:
-(Bruna) Me solte, por favor. Eu vou com a Elisa.
Com a frieza que passara a demonstrar depois que se revelara, Sylvia disse:
-(Sylvia) Para que? Você não é médica e só vai atrapalhar e, além do mais, temos um assunto para terminar aqui.
Por mais que lhe doesse, Bruna entendeu que sua mãe estava certa e, com muito esforço, conseguiu se controlar depois de algum tempo. Quando conseguiu falar novamente, olhou sua mãe nos olhos e disse:
-(Bruna) Como você sabia que estávamos aqui?
Com um simples desvio de olhos para o teto, Bruna entendeu que, em meio às inúmeras lâmpadas, havia câmeras que filmavam tudo o que se passava ali. Enquanto isso, Sylvia olhava com desânimo para a enorme moita de papel picado que se avolumava no chão do cofre.
Depois de um longo tempo olhando os papéis, Sylvia estalou os lábios como se estivesse desistindo de qualquer confronto com sua filha naquele momento e depois, com uma voz conciliadora, falou:
-(Sylvia) Vocês duas devem estar loucas se acham que, com essa máquina, vão conseguir cumprir essa tarefa em menos de um mês. Vocês vão precisar de mais umas dez iguais a essa.
Falando isso, olhou para Bruna e com uma voz carinhosa que Bruna não se lembrava de ter ouvido, lhe disse:
-(Sylvia) Minha filha, você acha mesmo que sua mãe ia deixar de se preparar para uma ocasião em que fosse necessário destruir isso tudo? Se pensou, se enganou redondamente. Existe um dispositivo que, se acionado, soterra essa sala com uma areia especialmente preparada com uma mistura de ácido que vai destruir tudo, porém, depois de acionado, as trancas das portas ficarão totalmente travadas, o que quer dizer que, fazendo isso, nunca mais ninguém vai poder entrar nessa sala. Melhor dizendo. Essa sala vai simplesmente deixar de existir.
-(Bruna) Então aciona logo esse dispositivo - Disse Bruna com um fio de esperança de que sua mãe atenderia a esse seu desejo.
Depois de muito pensar, Sylvia disse:
-(Sylvia) Olha aqui Bruna. Se eu fizer isso, vou ter que acabar também com a organização. Sem esses documentos aqui, cedo ou tarde eu vou ser desafiada e o resultado não será bom para ninguém.
-(Bruna) Acabe logo com isso, mãe! Você não queria tanto fazer uma viagem com a Cas? Aproveite a oportunidade. Acabe com isso e vá viver com ela bem longe daqui. - Disse quase implorando Bruna.
-(Sylvia) Ok! Vou pensar. Mas tem outra coisa. Vai ter um dia, no futuro, que você, o Renato e a Elisa, vão se arrepender de ter me pedido isso. No dia em que isso acontecer, e vai acontecer, não me venham com cobranças. - Depois de falar isso, ela olhou em volta e depois voltou a encarar a Bruna e falou: - Vamos seguir em frente com esse plano absurdo de vocês. Tem alguma coisa nessa sala que você queira salvar? Se tiver, pegue e saia daqui.
-(Bruna) Não mãe. Não quero nada daqui.
-(Sylvia) Olha lá hein! Tem umas informações sobre o Renato que um dia pode ser útil para você ou talvez para a Elisa. Pensando bem e do jeito que as coisas caminham, acho que para as duas.
-(Bruna) Não mãe. Por nada desse mundo eu usaria algo desse tipo para prejudicar o Renato. Enquanto falava, Bruna pensava: “Bem que eu deveria pegar alguns documentos e dizer a ele que, se um dia ele machucar a Elisa de novo, eu vou foder com a vida dele”.
Ao pensar isso, lembrou-se de Elisa agonizando nos braços de Cassandra e apressou sua mãe dizendo:
-(Bruna) E então? Quando você vai acionar esse tal dispositivo.
-(Sylvia) Não vai demorar. Melhor fazer logo antes que eu me arrependa e mude de ideia.
Bruna ainda perguntou:
-(Bruna) E esses corpos? Como vamos nos livrar deles?
-(Sylvia) Deixo-os aí. O ácido vai providenciar para que eles não fiquem fedendo e assim não teremos mais aborrecimentos.
Bruna ficou impressionada com a rigidez demonstrada por sua mãe. Aquela, definitivamente, não era a Sylvia com quem ela convivera tantos anos. Imaginou o sucesso que sua mãe não faria se, em vez de ter se dedicado ao crime, tivesse seguido a carreira de atriz, uma vez que ela representou um papel por toda a sua vida, pois aquela sim era a verdadeira Sylvia. A favor dela, o fato de que, sempre que se dirigia à Bruna, Sylvia mostrava um carinho que nunca havia deixado transparecer e isso agradava à sua filha que, pela primeira vez na vida, sentia-se amada por sua mãe.
Ao chegarem ao exterior da mansão já era noite. Bruna correu para seu carro e se surpreendeu quando, ao colocar o carro em movimento, sua mãe corria em direção a ela fazendo sinais para que ela aguardasse. Ela obedeceu e ficou ainda mais surpresa quando, sem falar nada, Sylvia entrou pelo lado do passageiro, sentou-se no banco e lhe entregou uma blusa para que ela se protegesse do frio dizendo em seguida:
-(Sylvia) Vamos. Vamos cuidar da Elisa agora.
Ao chegarem ao hospital, tiveram que aguardar por algum tempo até que um médico, com uma expressão de cansaço, veio até elas e disse depois de se informar quem eram elas:
-(Médico) Sua amiga está viva, mas perdeu muito sangue. Já cuidamos disso, mas temos que aguardar até que ela se recupere para que possamos operá-la.
-(Bruna) Mas ela está bem, não está, doutor?
O médico ficou calado, como se pensasse no que responder e depois informou:
-(Médico) Não vou mentir para vocês. O estado dela é gravíssimo e só um milagre para ela resistir por essa noite.
Com um grito agoniado Bruna se desmanchou em pranto, sendo levada até um sofá que havia na sala onde sua mãe a colocou sentada e depois, sentando-se ao seu lado, puxou sua cabeça para que ficasse encostada em seus seios e ficou lhe fazendo carinhos, enquanto lhe dizia palavras de conforto e esperança, dizendo que a Elisa era uma garota forte e que se sairia bem daquela situação.
Sylvia já estava quase conseguindo acalmar a sua filha quando o ambiente no hospital se transformou. Em um simples piscar de olhos, as enfermeiras que transitavam pelo corredor e cumprimentavam a todos sorrindo, de repente, começaram a correr de um lado para outro, falando alto. As vozes altas e nervosas chamaram a atenção de Bruna no exato momento em que uma das enfermeiras veio correndo pelo corredor e, ao ver o médico que havia conversado com Bruna vindo em sua direção, falou sem esconder seu nervosismo:
-(Enfermeira) Doutor, a moça na emergência sofreu uma parada cardíaca.
Sem responder, o médico saiu correndo e Bruna escapou do abraço que sua mão lhe dava e correu atrás, só não entrando na emergência porque foi impedida por um enfermeiro quando já ia entrar. Ficou sem saber o que fazer até que sua mãe veio até ela e colocou a mão em seu ombro enquanto pedia em voz baixa para que ela se acalmasse. Sylvia, ainda tentou levar Bruna para a sala de espera, porém, no exato momento em que parecia que ia conseguir, uma enfermeira já avançada na idade sai chorando pela porta da enfermeira e Bruna conseguiu entender o que ela falava entre seus soluços:
-(Enfermeira) Pobre moça. Tão novinha e morrer desse jeito!
Para alívio de Sylvia, Renato que havia sido avisado do ocorrido por Cassandra, apareceu no final de corredor, veio apressado até elas e abraçou Bruna que com voz embargada por um pranto realmente sentido, disse sem se importar que todos ouvissem:
-(Bruna) Renato, nós perdemos a Elisa!!!
Sem resistir ao impacto emocional ao proferir essa frase, Bruna desmaiou, sendo amparada por Renato.
Continua ...