*Pessoal, a postagem desse capítulo já era para ter acontecido, não sei o que houve tive que excluir o rascunho para postar de novo*
A escuridão os recebeu. Nem mesmo a luz da lua penetrava no escritório, Delvin nunca vira janelas no local. Só não se esbarraram para entrar pois no corredor havia uma tocha mágica que nunca se apaga. Assim que Lanna fechou a porta e todos estavam dentro, Delvin pegou em uma bolsinha, que sempre carregava, repleta de ingredientes para magias, uma espécie de musgo fosforescente, esfregou-o na sua adaga, enquanto murmurava um encantamento, e, de repente, a adaga se iluminou, e iluminou o ambiente por completo, como se fosse uma tocha acesa. Fazendo sinal de silêncio, ele começou outra magia, desta vez apenas fazendo sinais com as mãos e murmurando outras palavras mágicas. Um pequeno ponto de luz prateada surgiu no centro do escritório, então ele se expandiu e envolveu todo o ambiente num lampejo e desapareceu, e junto com ele todo o som existente ali também sumiu. Delvin, para demonstrar que estavam num ambiente de silêncio absoluto, soltou a adaga luminosa no chão, e nenhum som foi gerado. O meio-elfo então pegou um papel que tinha consigo e escreveu: “10 minutos, sem bagunça” e mostrou aos outros dois. Lanna até fez uma cara de: “por que não avisou antes?”, mas ficou agradecida por ter aquilo, ajudaria muito.
Os três então começaram a procurar em locais diferentes, qualquer coisa que pudesse ligar o Feiticeiro ao tal conde, ou qualquer coisa que pudesse chamar atenção. Lanna foi para uma das estantes, mexeu em todos os objetos nela, e procurou por passagens secretas. Olhou os títulos dos livros, mas todos pareciam ser sobre magia, magos e feiticeiros antigos e outras coisas chatas pra ela. Delvin foi direto na escrivaninha, imaginando que qualquer coisa de importância deveria estar guardada ali, olhou tudo em cima dela, mas não tinha nada que lhe chamava a atenção, procurou pelas gavetas, mas algumas tinham matérias de estudos e avaliações dos alunos, outra tinha documentos e notas de compras, mas nada muito relevante. Apenas uma gaveta chamou sua atenção, pois estava trancada.
Bran foi atraído para os aparatos bizarros que o feiticeiro possuía. Muitos deles feitos de metais retorcidos, alguns tinham umas peças de vidro circulares, que ele nunca tinha visto, um outro possuía globos de cores diversas, presos a hastes metálicas, todas presas a um globo maior e dourado, parecia ser possível girar os globos menores ao redor do maior, mas ele preferiu não o fazer. Continuou olhando para essas coisas estranhas até que viu uma almofada num dos cantos do lugar, parecia uma cama para um animal de estimação. Antes de ir para lá averiguar, sentiu um toque em seu ombro e virou para ver Delvin o chamando.
Lanna trabalhava na gaveta trancada, mas pelo jeito, esta tranca estava além de suas habilidades, pois sentiu as gazuas quebrando em suas mãos, e a gaveta permanecia trancada. Os três se olharam e Bran se aproximou. Apesar de ser ajudante de ferreiro, o rapaz conhecia sobre móveis e notou que não seria difícil desmontar a gaveta. Levaria tempo, mas começou o trabalho. Lanna logo percebeu o que o rapaz planejava e o ajudou como podia. Levaram uns poucos minutos, mas conseguiram desmontá-la sem quebrar nada. Dentro dela havia um livro com capa de couro escuro e estranho, sem nenhum título por fora. Havia também uma pequena caixinha de madeira, sem tampa com 6 frascos pequenos, contendo um líquido vermelho em cada um, e uma bolsinha de tecido, aparentemente vazia e com umas decorações no lado externo. Lanna botou a mão dentro da tal bolsa e percebeu que ela não tinha fundo, pois seu braço entrou inteiro nela, mesmo a bolsa sendo muito menor. Bran estava tentando entender que tipo de líquido era aquele nos frascos. Delvin começou a folhear o livro, e um calafrio percorreu sua espinha. Ele não conseguia entender o que estava escrito, mas pode notar a caligrafia de seu mestre nas laterais das páginas, na mesma linguagem estranha. Ele mostrou o conteúdo do livro para os parceiros, Bran fez que não com a cabeça, pois o rapaz não conhecia a escrita. Lanna fez cara de confusão e escreveu no mesmo papel que Delvin havia escrito antes: “não sei ler, mas sei a língua”
Delvin continuou folheando, enquanto seus amigos observavam os outros pertences da gaveta. Acabou notando alguns desenhos e um em particular lhe chamou muito a atenção. Era o esquema de construção da peça que ele levou para Bran construir, com a diferença de que haviam algumas placas encaixadas em partes específicas e um cristal no centro. A ilustração tinha uns traços atingindo as placas laterais e depois se curvando e indo em direção ao cristal, o que fez Delvin imaginar que seriam espelhos ou lentes, enviando algum tipo de luz para o centro. O Jovem mostrou o desenho para Bran, que fez uma cara intrigada. Apesar de arriscado, Delvin decidiu que era melhor analisar o livro com mais tempo. Lanna decidiu que merecia uma recompensa por estar se arriscando, e resolveu ficar com a bolsa sem fundo. Vendo que cada um pegou alguma coisa, Bran então ficou com os frascos de líquido vermelho.
Percebendo que o tempo da magia de silêncio já havia passado mais da metade, Delvin sinalizou para que remontassem a gaveta. Mais que rapidamente os 3 começaram o processo, porém como estava sobrando, Delvin resolveu dar mais uma olhada geral no ambiente. Primeiro guardou o bilhete onde fizeram anotações, para não dar essa mancada. Analisou as estantes, procurando o mesmo tipo de escrita, olhou ao redor, buscando qualquer coisa que lhe chamasse a atenção. Sua intuição lhe dizia que o livro continha as respostas, mas não custava nada aproveitar o restante do tempo procurando mais alguma pista.
Olhando ao redor, os olhos do meio-elfo recaíram sobre a almofada no canto da sala. Intrigado, ele se aproximou para ver melhor. Parecia uma cama para algum animal de estimação, porém, Delvin jamais vira algum na torre. Quando estava a uns dois passos de distância do objeto, o jovem estacou. Havia não apenas a caminha do bicho, mas o bicho estava lá. Por dentro o meio elfo agradecia aos deuses por ser capaz de deixar tudo no maior silêncio, porém a preocupação começou a tomar conta de si mesmo, pois se lembrou de uma das aulas do seu mestre. Naquela aula em específico o mestre ensinou a conjurar um familiar. Um familiar é um tipo de espírito, que toma a forma de um animal, geralmente escolhida pelo próprio conjurador, podendo ser de um gato, sapo, coruja, tarântula, cavalo marinho, etc... Tal criatura magicamente possui um laço com seu criador, e o criador pode ver e ouvir através dela, mas apenas se estiver numa distância próxima. Haviam outras aplicações que Delvin não prestou muita atenção, mas na mente do jovem, ele começou a entender como seu mestre sempre sabia do que acontecia pela torre. Decidiu aproximar-se mais, para ter uma visão melhor da criatura.
Olhando bem de perto, começou a duvidar que era um familiar, pois a criatura não era nenhum animalzinho, era bem diferente. A começar pela cor, de um tom vermelho sangue, que ficava mais escuro perto das pernas, ou patas, pois terminavam com 3 “dedos” com garras nas pontas. As mãos continham 5 dedos, também com garras afiadas. Tinha um grosso rabo, saindo da base de suas costas que terminava em um ferrão, como o de um escorpião, e também um par de asas, semelhantes às de um morcego. Sua cabeça possuía duas enormes orelhas pontudas, e a ausência de cabelos deixava a mostra os pequenos chifres na testa. Tudo isso num corpo de apenas 30cm e usando uns trapos na região da virilha.
Delvin podia não ser do tipo estudioso, mas algumas coisas ele se lembrava e aquilo, definitivamente, era uma delas. A criatura era um diabo, mais precisamente, um diabrete. Um ser que vinha dos 9 infernos, e podia corromper a alma de um ser mortal para enviá-la ao inferno. Apesar de diminuto, tal ser poderia ser muito perigoso, pois possuía um veneno terrível que injetava com a sua cauda, além de outras habilidades. O meio-elfo decidiu afastar-se, pois a criatura parecia dormir, e como já estavam terminando, seria melhor deixá-la ali, porém, na hora em que afastou seu pé esquerdo, sem querer, o jovem deu um puxão numa alça, que estava jogada no chão e presa na cama da criatura. No mesmo instante a cama foi movida e a criatura se acordou, um tanto alarmada, por ser acordada abruptamente e olhou diretamente nos olhos de Delvin, com olhos amarelos ferozes.
O diabrete nem pensou duas vezes e voou para cima de Delvin, tentando ferroá-lo com sua cauda. Delvin foi mais ágil e conseguiu se esquivar. Usando do seu movimento de esquiva, Delvin tentou contra-atacar com a sua adaga, mas a criatura era muito mais ágil e desviou facilmente. Sem poder usar nenhuma de suas magias, pois o total silêncio impedia que o meio-elfo conjurasse qualquer outra coisa, ele tentou balançar a adaga, pois esta ainda emitia a única luz do ambiente, para chamar a atenção de seus companheiros. Nesta dança frenética de esquivas, Delvin levou a pior e não conseguiu se esquivar a tempo, tomando uma ferroada no ombro esquerdo. A dor da picada até que não foi tão forte, mas então o veneno pulsou pra dentro da corrente sanguínea do jovem, fazendo com que um grito silencioso de desespero e dor saísse de seus pulmões. O meio-elfo quase perdeu a concentração da magia do silêncio, o que ele não queria ainda, pois o barulho da luta seria ouvido por seus colegas de aula, que dormiam nos quartos ao lado. Ele preferia estar em desvantagem sem poder usar suas magias, que ter Geldwin e os outros aparecendo pela porta.
Com toda a movimentação de Delvin, e por consequência, da luz, Lanna notou algo errado. Entregando a última peça da gaveta para Bran e sabendo que o jovem humano daria conta do restante, a gnoma se virou para ver a ferroada que o meio-elfo tomava. Mais que depressa, Lanna se posicionou atrás de uma das várias peças estranhas do feiticeiro, engatilhou um virote em sua besta de mão, que mantinha escondida pelas vestes, e atirou contra o agressor de Delvin. O tiro foi certeiro e o Diabrete nem viu de onde veio. A criatura diminuta apenas sentiu a dor na barriga e percebeu o virote atravessado no seu ventre. Sendo um ser vindo dos infernos, e sabendo que voltaria para lá assim que “morresse” no mundo mortal, o diabrete resolveu, ao menos, matar o meio-elfo, pois sabia que seu golpe anterior lhe ferira grandemente.
Bran também notou a movimentação estranha da luz, mas preferiu se concentrar em terminar de montar a gaveta para manter as aparências do ambiente. Assim que finalizou a montagem, olhou para trás e viu Lanna preparando um virote em uma besta de mão, que ele não sabia que ela tinha. Entretanto, o que verdadeiramente lhe chamou a atenção, foi a criatura vermelha, tentando ferroar Delvin. Atravessando a sala com menos passos do que deveria ser possível, Bran se colocou na frente do golpe que seria dado em Delvin, que não estava parecendo muito bem. O Golpe lhe atingiu em cheio no braço direito, que usou para se defender, enquanto o esquerdo, brandindo a adaga que recebera de presente, girou numa velocidade que nem Bran sabia possuir e atingiu o ser infernal bem no peito. A criatura abriu a boca, como se soltasse um guincho horrendo, caiu no chão, sorriu para os seus algozes e começou a se desfazer em cinzas.
A adrenalina percorrendo o corpo de Bran, o fez sentir muito menos o golpe do diabrete do que Delvin, porém ambos estavam feridos, embora o veneno não parecia ter afetado o jovem humano. Segundos depois da criatura virar cinzas, Delvin, apressadamente, puxou seus companheiros em direção a porta, com uma pressa avassaladora. Se a tal criatura fosse mesmo o familiar de seu mestre, mesmo os dois não estando próximos, Salazar sentiria a morte da criatura. A dor no ombro esquerdo ainda o incomodava muito, mas precisava ignorar isso por enquanto. Assim que estavam à frente da porta, Delvin cancelou a magia de silêncio, e murmurou.
- A gente precisa sair daqui agora!
- O que dia... – Antes que Lanna pudesse terminar sua frase, um som de algo mágico soou um pouco acima de onde os três estavam. O olhar de pavor que Delvin fez, foi o suficiente para os três saírem imediatamente do escritório. Delvin os guiou até seu quarto, pois sabia que não daria tempo de saírem da torre. Tentou fechar a porta o mais silenciosamente possível, e fazendo sinal de silêncio, mas sem lançar a magia desta vez, ele apenas apontou para os dois e para a cama. Lanna se enfiou embaixo dela facilmente, mas Bran era um cara muito grande. Por sorte, muitas almofadas e cobertas cobriam a cama de Delvin e o humano se aproveitou disso para se esconder entre elas. Delvin se tapou com uma das cobertas também e se despiu, ficando apenas com a roupa debaixo, ele já estava imaginando o que poderia acontecer. Enquanto isso, os três ouviram passos apressados se dirigirem para a porta do escritório, que não fora trancada. Ouviram outros sons, de gavetas sendo abertas e fechadas, um xingamento alto, mais sons de passos. Uma porta se abriu e uma voz suave, porém forte falou algo. Depois de um tempo, a porta do quarto de Delvin também se abriu.
- Delvin, acorde. - A voz do feiticeiro soou para dentro do quarto escuro. Delvin esperou, pois a voz não foi tão forte, resolveu fingir que não acordara de primeira, afinal era madrugada.
- Delvin! – desta vez a voz foi mais veemente e alta.
- O... que? O que foi? – Fingindo sono, o meio-elfo respondeu.
- Preciso de você aqui fora agora, nem se importe em se vestir, apenas se cubra com algo.
- Uahhh, sim mestre, desculpe. – Delvin se levantou vagaroso, e gemendo de dor, mas que facilmente podia ser interpretado como sono, pegou um roupão que tinha jogado por aí e não estava malcheiroso, olhou para trás, e mesmo não vendo seus companheiros, fez um sinal de silêncio. Saiu do quarto devagar e deixou a porta entreaberta, assim seus colegas poderiam ouvir melhor o que aconteceria ali.
Do lado de fora, Salazar estava na porta do quarto de Geldwin chamando-o, e já esperando, estava Felícia. A garota era uma tiferina, uma raça de humanóides mista com seres infernais, mas que não tinha nada a ver com eles. Ela era baixa, até mais que Delvin, possuía dois chifres pequenos na testa, que os longos cabelos negros e lisos não escondiam, a pele tinha um tom de cor de rosa bem leve. Possuía um par de seios volumosos e empinados, com os bicos quase aparecendo, por conta da camisola fina, que também era muito curta e se ela estivesse de costas, Delvin tinha certeza que seria capaz de ver as nádegas de sua colega. “Que puta” Delvin pensou.
Geldwin apareceu logo depois, também vestindo um roupão, e com o cabelo desgrenhado. Ele deu uma avaliada na sua colega e, a cara que fez depois quase fez Delvin rir. Pouco tempo depois apareceu Peter, com uma cara de preocupado, de quem foi pego fazendo algo errado. “Merda, esse idiota vai abrir a boca” Delvin pensou, e percebeu que Geldwin devia estar pensando a mesma coisa. Com os 4 ali presentes, Salazar inquiriu:
- Voltei agora de madrugada pois alguém invadiu o meu escritório e roubou alguns pertences. Não estou acusando nenhum de vocês, mas quero saber se alguém ouviu alguma coisa. – Salazar olhou de um para outro e então fixou o olhar em Felícia. – Por acaso a senhorita viu ou ouviu algo fora do comum?
- Não senhor, estava dormindo tranquilamente mestre. Não percebi nada de estranho. – respondeu a garota com sua voz melodiosa e sedutora. Delvin tinha certeza que mesmo se ela fosse culpada de algo, da forma como ela estava, qualquer heterossexual deixaria passar batido. Salazar acenou com a cabeça confirmando e olhou para Delvin que nem esperou o mestre pedir.
-Também não ouvi nada mestre, cheguei tarde e capotei na cama.
Salazar fixou o olhar por alguns instantes e Delvin o manteve. Mesmo tendo visto coisas estranhas nesta noite, o jovem manteve o olhar firme e isso pareceu ser o suficiente, pois o feiticeiro olhou então para Geldwin, que também já foi falando.
- Logo que me deitei dormi direto, não notei nada de estranho.
O ritual se manteve e por fim chegou a vez de Peter. Delvin e Geldwin estavam tensos, por motivos diferentes, mas ambos não queriam que Peter desse com a língua nos dentes. Salazar se virou para o garoto, e como ele não respondeu direto, o Feiticeiro perguntou:
- E então, você ouviu algo Peter?
Dentre os quatro, Peter era o pior dos mentirosos, mas mesmo assim respondeu:
- N... não senhor, não ou...vi nada.
Salazar se alongou mais na olhada para Peter, porém não pareceu se importar com a hesitação do garoto. Dando um longo suspiro, o Feiticeiro continuou:
- Bem, eu ainda tenho que terminar o que estava fazendo fora da torre, e preciso que vocês fiquem de guarda. Me perdoem por isso, mas não tenho outra opção, decidam-se como farão isto. Só darei mais uma olhada no escritório e já estou de saída.
O feiticeiro nem se despediu direito de seus alunos e já entrou na sala, fechando a porta em seguida. Os quatro jovens ficaram se olhando, os três rapazes visivelmente aliviados.
- Pelo jeito todos vocês estão “cansados”. – Felícia falou com ironia, na voz. – Deixem que eu fico acordada de madrugada. Fui dormir cedo e agora que estou acordada custarei a dormir novamente. Um de vocês toma meu lugar quando o sol raiar, tudo bem?
A garota entrou em seu quarto e os outros 3 se olharam, e Delvin foi tratando de falar logo em seguida:
- Eu assumo o posto da Felícia ao raiar do dia.
- Tem certeza? Você parece bem cansado. – Falou Geldwin, genuinamente preocupado, pois Delvin estava um pouco pálido.
- Sim, pode deixar que dou conta.
- Está bem, mas me chame se precisar de algo e eu assumo o posto logo depois de você. - Respondeu Geldwin, e logo continuou para Peter. – Vá dormir querido, depois de minha vigília será a sua vez.
Os três jovens assentiram de um para o outro e se dirigiram aos seus aposentos, enquanto Felícia saía de seu quarto com alguns livros e cadernos de anotações e se dirigia para a escada.
Com a porta devidamente fechada, Delvin arriou no chão. Morto de cansado, machucado e envenenado, o garoto estava em um estado deplorável. Ele se lembrou de uma canção que sua cuidadora costumava cantar quando ele era criança e se machucava, para acalmá-lo. Em tons suaves ele sussurrou o cântico e, enquanto o fazia, instintivamente, pôs a mão sobre a ferida que o diabrete fizera. No mesmo instante, sentiu sua magia fluir pelo seu braço e penetrar na carne machucada, expelindo o restante do veneno. Sentiu-se muito melhor depois disso, e confuso também, pois nunca aprendera a fazer isto.
Bran, notando a silhueta de Delvin no chão frio e vendo a fraca luz esverdeada de magia sendo usada, decidiu se juntar a ele. Levantou do meio das almofadas e cobertas, pegando uma delas e foi até o meio elfo, que só levantou a cabeça para olhá-lo. Bran sentou-se ao lado de Delvin e estendeu a coberta sobre os dois. Ele não sabia o porquê, mas sentiu que o meio-elfo precisava de um ombro amigo e nada mais. Por isso ficou calado, e apenas passou um dos braços pelas costas de Delvin, aconchegando-o mais perto de seu corpo. Delvin olhou para o grandão e se sentiu seguro nos braços dele. Uma segurança que não sentia a muito tempo, na verdade, ele nem se lembrava de ter sentido isto alguma vez. Vendo o semblante calmo de Bran, a fina penugem que compunha sua barba, o queixo forte e a boca de lábios grossos, Delvin desejou beijá-lo longamente, mas, assim que estava aproximando o seu rosto, uma outra voz soou.
- Desculpe interromper os pombinhos aí, mas e agora? Como que a gente se livra disso? – Lanna perguntou