Ítalo e Janaína: diálogos, sexo, e filosofia

Um conto erótico de Astrogilldo Kabeça
Categoria: Lésbicas
Contém 2500 palavras
Data: 21/04/2023 18:11:15
Última revisão: 01/05/2023 18:35:52

Ítalo e Janaina estão casados a 5 anos, juntos há 12, entre namoro e casamento, ele com 35, e ela 32 anos. Se conheceram em um evento literário, ele acompanhando o lançamento de um livro de um professor e ela trabalhava na livraria onde o evento ocorria. Conversaram, amizade, intimidade cresceu, e aí veio o namoro. Entretanto eles descobriram serem bem diferentes com o passar do tempo. Ele fazia o tipo magro, com óculos de graus elevados, lembrava muito o ator e humorista Bruno Mazzeo. Ela, baixa, corpo esguio, bonita, face bem afilada, cabelos longos, era o tipo que muitos chamam de “mignon”, embora tivesse o rosto com aspecto enfezado, provavelmente após anos de batalha e labuta.

Há um ano e meio estavam tentando ter filhos, mas pesava a situação financeira. Ítalo fez filosofia e depois de graduado, passou no concurso do Estado e desde então é professor da rede pública. Não fez pós-graduação, o que lhe assegurava pouco mais que o piso da categoria. Janaína nunca fez faculdade, sempre como comerciária, até abrir uma lojinha de confecções com a prima no centro da cidade. Ora o negócio vai bem, ora nem tanto, dependendo sempre da sensibilidade da economia do país. Em períodos de liquidação e próximo a festas, trabalhava de domingo a domingo.

Por isso mesmo, os dois estavam em um período bem estressante. Ítalo encarava algumas turmas bem problemáticas, muitos alunos levando seus diversos problemas para a sala de aula e ele tendo que encarar e distensionar tanto drama coletivo. Por isso mesmo, fumava um cigarro atrás do outro. Janaína, muitas vezes saia sete da manhã e chegava às oito da noite, uma pilha de nervos, também encarando clientes chatos e mal-educados.

Ítalo estava preocupado, um casal relativamente jovem, sem filhos e todo ranzinza. Casou sem quase nada de experiencia, era um jovem que lia muito desde novinho e basicamente punheteiro, filho de mãe solteira, criado com vó. Janaína tinha passado por mais experiencias, jovem aprendiz desde os 15, teve sexualidade ativa antes de ítalo, mas se mostrava cansada e frustrada. Alguma coisa tinha que acontecer, senão os dois se matariam antes dos 40.

Foi numa noite bebendo um vinhozinho – coisa que faziam às vezes pra relaxar um pouco – que Ítalo resolveu arriscar. Estava de saco cheio daquela vida assim, assim e testou a esposa.

- Jana... tava pensando aqui que a gente só trabalha e não curte nada, dinheiro tá escasso, mas com despesa bem calculada... bem que podíamos dar uma saída, ver algumas possibilidades de retomarmos aquele brilho de outrora...

- Bem que gostaria, mas minha cabeça não tá boa pra pensar em curtição...

- Aí que está... desde que a pandemia arrefeceu, não programamos nada novo, só em casa, com os mesmos programas. Acho que isso deixa a gente muito estagnado.

- Sim, concordo, mas falar isso não demonstra que arquitetar uma saída só conversando aqui vai bastar e estou tão esgotada ultimamente...

- Bom... é só um começo aqui, quem sabe a gente não vá elaborando isso mais vezes daqui pra frente?

- Como eu disse, acho isso bem difícil, fim de semana você pelo menos relaxa. Amanhã vou estar na porra daquela loja novamente.

- É que... tenho receio da gente se tornar um casal irritante, só brigando, porque é só trabalho! O que estou querendo dizer é pra gente espraiar um pouco, uma diversão, um sexo em um local diferente, rirmos de uma noite renovadora!

- Olha, muito bom você querer um programa diferente, ótima iniciativa, mas não é o momento ideal, tá duro entrar um dinheirinho, é uma situação em que uma noite de curtição não será suficiente, pois estou sem tesão de fazer nada, é uma fase que prefiro ficar assistindo TV o dia inteiro, uma noite louca não resolve porque não estou em clima de festejo. Espero não durar o ano todo, peço um pouco de paciência.

Ítalo ouvia a esposa, até compreendia, mas ele tava afim mesmo de sair daquele marasmo, esse pensamento lhe consumia, queria aventurar. Aquele papo poderia parar por aí, mas aí a diferença entre os dois resolve aparecer.

- Ok, mas veja só... Sei que não tive a adolescência que gostaria, me arrependo de não ter saído mais e na faculdade curti menos do que gostaria, conheci você, me apaixonei, o nosso namoro foi meu melhor momento na vida, por isso, queria dar uma dose maior de vivacidade, e assim encarar as coisas à frente com maior vibração, entende?

- Olha, Ítalo, sinceramente, se você não curtiu sua juventude como deveria, sinto muito, isso não tem a ver com nosso estado de inércia matrimonial de agora! Se você tá querendo dizer que fui mais namoradeira e que já trabalhava pra caralho naqueles tempos e achar que posso ser mais caliente hoje e continuar trabalhando como burro, como sempre foi minha vida, pode sossegar, porque não sou mais aquela garotinha! Tenho negócio próprio, muito mais responsabilidades, e quero prosperar!

- Calma, Janaína! Só quis dizer que estar com você foi meu melhor momento, meus grandes dias foram com você, só quero revitalizar isso! Não precisa jogar as coisas na minha cara.

- Não joguei, querido, deduzi que você queria comparar nossos passados, mas me responda... essa vontade toda de sair comigo e curtir a vida adoidado tem a ver com aquelas fantasias reveladas por você meses depois do nosso casório?

Logo no início do namoro dos dois, Janaina percebeu que Ítalo era pouco rodado sexualmente, isso não era nenhum demérito, mas o novo namorado era bem curioso sobre o passado dela. Ele, de família pequena, filho único, pouquíssimos primos e vizinhos que se mudavam constantemente. Ela, neta de uma mulher que teve treze filhos, tinha dezenas de primos. Conviveu bastante com duas tias sindicalistas, uma foi até candidata a vereadora; a outra, se apaixonou por um sem-terra e até invadiu propriedade, sendo presa por uns dias. Tinha parente sapatão, viado, puta, golpista, charlatão... teve uma vida agitada até conhecer Ítalo. A família dela de inicio não gostou dele, pois ela passou a ficar junto ao futuro marido mais tempo e perdia feijoadas, churrascos, farofas na praia, e batucadas de fundo de quintal. Com o passar dos anos, foi ficando bem tranquila e até caseira – coisa que nunca fora antes do noivado. Quando bebiam vinho, conversavam sobre muita coisa, até que durante as transas Ítalo, com sua mente fértil de ex-punheteiro convicto, passou a fantasiar nomes diferentes, alguns conhecidos, só pra ver a reação da sua vivida noiva, que entrava na onda e sempre sussurrava alguma sacanagem com os nomes propostos por ele, geralmente, coisas que ela experimentou de fato ou ouviu de amigas naquelas brincadeiras lascivas que inventamos durante a puberdade.

- Porra, Janaína, nada a ver! Pra que lembrar disso!? Eram coisas que ficaram lá atrás, não cabe isso hoje em dia. Porra, eu querendo melhorar nossa relação e você me vem com essa!

- Ora, Ítalo, fala sério! Tá na cara que você quer tirar seu atraso de anos. Sair pra curtir a noite, transar por aí, que papinho! Veja bem... estamos aqui na segunda garrafa e você nem tentou uma gracinha pra quebrar meu mau humor, não tentou me beijar e nem me despir pra me comer em cima da mesa!

Ítalo ficou calado. Janaína continuou.

- Você tem vontade de experimentar algo além de mim, querido, eu sinto. Esse papo me fez vir à tona as vezes que você me pedia pra me imaginar com um ficante antigo ou outros conhecidos de minha família, só pra aproveitar minhas sensações de putinha.. você ficava bem tesudo nessas horas, seu passado na punheta devia ser bem criativo, hein?! Não estou com cabeça pra essas coisas, eu avisei. Olha as coisas que estou jogando na sua cara...

Ítalo estava bem constrangido. Sua ideia pra sair com Janaína era pra ver se aquela Janaína que ele não conheceu, juntamente com a noiva fogosa que desapareceu com o tempo, reavivasse, aflorasse pra ele, e assim, extrapolasse seu desejo junto a ele. Ele queria essa experiencia, pois faltava a ele estímulo para um passo adiante, e só uma mulher sagaz como sua esposa poderia ajudá-lo a levá-lo onde quer que fosse e assim ter realizações sexuais mais proveitosas também com outras mulheres. Mas o que travava era que ele era leitor e fã de Platão desde moleque, o filósofo que dizia que os desejos do corpo devem estar subordinados à razão e isso impregnou no seu modo de ser. Por isso, ele sempre respeitou os limites que uma relação monogâmica impunha. No entanto, não valia mais a pena.

Em nenhum momento Janaína queria vomitar aquilo, mas vivia mesmo uma fase difícil. Não conseguia crédito bancário pro negócio melhorar, batia boca com a prima-sócia direto, não conseguiu engravidar, havia perdido a avó e um querido tio pra COVID, seu marido tinha estabilidade profissional, e ela só vivia exaurida, sem forças pra nada e por vezes querendo sumir pra não ver ninguém. Não era hora do esposo propor nada daquilo.

O dia seguinte ela foi trabalhar, voltou no fim da tarde sem ter vendido quase nada. Ítalo só pediu desculpas, ela também, e vida que segue.

Acontece que ela passou os dias seguintes só lembrando de como seu passado sexual era ativo. Transou com dois garotos de vez, com homem mais velho, com o marido da vizinha, até mesmo uma aventura com uma turista argentina que conheceu durante um passeio de verão. Depois de muito refletir, ligou pra uma antiga cliente. Num domingo a tarde, ela estava na loja, mas não pra vender. Juliana, a cliente misteriosa, foi visitá-la. Mas não pra comprar lingerie: mas sim pra fuder.

As duas se atracaram no provedor de roupas. Beijos obscenos, muita língua esvoaçante e mãos ousadas em bundas e peitos. Juliana era uma tatuadora que tinha um estúdio próximo, cabelos azuis com a lateral raspada, piercing no nariz, fã de música eletrônica, lésbica assumida, 27 anos. Branca, corpo pesado, seios grandes, pernas grossas. Também era DJ e conheceu Janaina numa rave, quando ela estava começando a sair com Ítalo, mas não tinha oficializado nada. Virou amiga, confidente, cliente do estabelecimento e amante por uma noite – a noite anterior ao casamento de Janaína, conhecido também como despedida de solteira.

Nuas, estavam deitadas num 69, uma chupando a buça da outra. Se deliciavam, até que os gemidos ficaram mais abafados e chegaram juntos ao gozo, corpos fervendo e muita gemedeira. Mais beijos pornográficos e Janaína abriu as pernas e “tesourou” a amiga e começou o roça-roça. As duas se agarravam, se esfregavam, olhos fechados e sussurros emitidos em estímulo.

- Vai, delícia, mexe assim, gostosa,

- Aí, Jana, sua puta! Me agarra, piranha

E as duas rebolavam juntas, chupavam pescoço, as línguas passeavam por orelhas, seios e o movimento pélvico se acelerando, acelerando...

- Vou gozar, Juli, ahhhhhhhhhhh

- Vem, Jana, gostosa, ahhhhhhhh

Recompostas após aquela foda vespertina, se beijaram, acenderam um cigarro e papearam

- Porra, Jana, jamais iria imaginar que iriamos nos encontrar de novo assim! Fiquei surpresa com sua ligação, senti que queria aprontar.

- Nem mesma eu esperava. Foi uma conversa com o Ítalo. Ele mexeu em vespeiro...

- Hum, qual foi?

- Você sabe, o Ítalo sempre foi meio travado, ele sempre sentiu meio inferiorizado por eu ter mais quilometragem em termos de sexo... Isso pra mim nunca importou, na verdade, ele foi meu porto seguro. Se não fosse ele, estaria até hoje perdida por aí, fodendo feito uma louca... ou mantendo relações mambembes com um alcoólatra violento, feminicida, ou algo assim... Aí ele veio com um papinho furado de inovar relação, sair pra se divertir, algo do tipo. Você sabe, tô me sentindo péssima ultimamente, azeda, uma companhia desagradável. Nada dá certo. E Ítalo querendo reviver chama de casamento, essas babaquices

- Puta merda, entendo... Você bem disse que ele tem aquele jeitão de quem tocou muita bronha... Entendo pouco das vontades sexuais do homem, mas sei que quando eles querem alguma coisa, é difícil demovê-los. Sai com uma advogada tempos atrás que se queixava do marido exatamente como você. O cara tava enchendo o saco dela. Eles querem as coisas do jeito deles e querem que as mulheres sejam vetores do prazer que eles irão obter.

- Pois é. Porra, Ítalo podia tá bem melhor, nem mestrado ele fez, pô. Muito descansado. O cara fez faculdade de filosofia, conheceu um monte de militante, nem de política ele saca, velho! Nem estudei, fui uma péssima aluna, e sou mais politizada do que ele! Gente finíssima, ótimo companheiro, mas sem iniciativa. Tenho certeza que essa coisa de sair comigo era ver se resgatava alguma coisa do meu passado. Porra, pra ele ter algo maior que ele nunca teve, precisaria me usar como meio? Eu preferia que ele tivesse agora mesmo comendo uma dançarina de pagode, trepasse ela pra valer, e retornasse com a cara mais lavada do mundo pra casa. Estaríamos bem melhor, ele iria estar satisfeito e não me encheria o saco.

- Agora que tu deu essa baixa nele, tão cedo ele não vai se arvorar pra esse lado. Acho que você matou de vez o intrépido homem que ele seria se você aceitasse uma noite de prazer por aí...

- Eu realmente não tô legal, eu podia estar com ele onde estivesse, mas sem essa de “voltar às raízes”. Me senti como se eu fosse um veículo pra ele dirigir as vontades dele, sabe? E é por isso que estou aqui: tudo isso me bateu a vontade de me ligar na vida. Não me sinto a Janaína do passado, sinto que minha personalidade tem dessas, aproveitar umas escapadas, é da minha formação, do meu caráter mesmo. Isso estaria adormecido por um tempo, até me sentir mais disposta pra ai sim a gente juntos discutir uma melhora a dois. E reitero: seria melhor que ele próprio procurasse se satisfazer, mostrar vontade de sair do marasmo, tentar salvar a pouca experiencia que tem pulando a cerca por aí... se desse merda, depois a gente veria, mas ele teria aproveitado a falta que uma atividade sexual mais irresponsável faltou pra vida dele.

- Faltou ele filosofar sobre isso. Casa de ferreiro, espeto de pau.

As duas riram, se beijaram, e partiram pra mais uma rodada de beijaços, chupadas, e roçadas.

Cinco anos se passaram. O mau humor de Janaína piorou, eles quebraram o pau várias vezes, e o casamento chegou a seu fim. Ítalo resolveu fazer mestrado e recentemente foi aprovado no doutorado. Resolveu tocar sua carreira a frente e isso foi combustível para uma vida mais vadia, digamos assim.

Janaína ficou se encontrando com Juliana mais vezes, o negócio não foi pra frente e ela agora é balconista de uma farmácia. No entanto, vem ganhando dinheiro tirando fotos para o OnylFans, na categoria “balzaquianas”. Ativou o Tinder e tem encontros fortuitos e muito satisfatórios. Em breve, com o dinheiro do site entrando, deve sair por aí com Juliana, viajando e tirando fotos de paisagens que encontrar pelo caminho. Depois de romper o casamento após uma noite de diálogos, nada melhor que os dois ex curtirem a vida que lhes cabia desde sempre: sexo e filosofia.

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Comentários

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Porra, a identificação com o Ítalo foi instantânea. Vou a luta antes que o marasmo me mate haha.

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