Mari chegou mais tarde do trabalho o que já era rotina nos últimos meses, "muitos clientes solicitando atenção", dizia ela.
Eu já andava muito intranquilo com aquela situação, mas ontem piorou.
Depois de seu banho, pedimos pizza e, enquanto esperávamos, fui à suíte em busca de algo que comprovasse minhas suspeitas. Vasculhei armário, bolsa, carteira e, sem saber o que fazer, entrei no banheiro e me sentei no vaso, encarando o cesto de roupas.
Não precisei procurar muito para encontrar a calcinha que ela havia vestido naquela manhã, mas para minha desilusão, ou alívio, estava limpa. Não havia resquícios de esperma.
Pensei que eram apenas fantasias minhas. Talvez ela estivesse mesmo trabalhando muito.
Mas logo lembrei do modo como o seu patrão a encarou na confraternização de Natal seis meses atrás. Nunca esquecerei aquele olhar de cobrança.
Já ia devolvendo as roupas ao cesto, quando reparei numa calcinha nova, minúscula. Ela era vinho com bordados pérola. Ela nunca a havia usado para mim.
Apanhei a calcinha sentindo o toque sutil da seda, mas, no fundo, nada que eu esperava ver.
Talvez usem preservativo, pensei.
Ainda cheio de suspeitas, voltei para a cozinha. Mari não estava lá, nem na sala. Vi o celular esquecido no sofá. Mari nunca o deixava longe de alcance.
Olhei para a biblioteca e vi que ela ensinava algo ao Jorginho. Peguei o aparelho e fui direto na conversa com o patrão. O último assunto tinha mais de um mês; eram só relatórios e metas. Já ia saindo quando cheguei numa conversa de seis meses atrás. A última frase dizia:
"Não há nada que você possa fazer." Curioso, comecei a subir para o início da conversaEle: "O que vocês fizeram é um absurdo. Eu nem pude acreditar no que vi. Estou muito desapontado com os dois."
Ela: "Não há nada que você possa fazer. Somos dois adultos e o fato de ele ser seu filho não te dá permissão de se intrometer".
Ele: "Vocês estão cometendo um grave erro?"
Ela: "Se há alguém errado aqui é você"
Ele: "Lucas só está te usando como faz com prostitutas, mas fique à vontade para fazer papel de boba."Ele: "Lucas me garantiu que você é só mais uma."
Ela: "Sabe o que sua insistência parece? Ciúmes por eu ter terminado tudo entre mim e você."Ele: "Depois daquela tarde, achei que você ia mudar de ideia."
Ela: "Aquilo foi um erro e não irá se repetir".
Ele: "Mas você estava tão empolgada, dizendo que eu ainda sabia como te foder gostoso."
Ela: "Foi um erro enorme".
Ele: "Então só sossego quando acabar o seu romance com Lucas."
Ela: "Não há nada que você possa fazer".