CAPÍTULO 07
*** MARCOS VALENTE ***
A caixa de veludo em minha mão parece pesar uma tonelada inteira.
É necessário, Marcos, é necessário.
Abro-a, pela milésima vez, analisando o diamante arredondado bem no meio do anel de ouro branco. A joia é simples, porém, elegante, e não me diz absolutamente nada sobre a personalidade do homem que a usará.
Ela não foi a primeira que o representante da joalheria me ofereceu esta manhã quando me encontrou em meu escritório para que eu escolhesse um anel de noivado para Anthony. Na verdade, também não foi a segunda ou a última, mas nenhuma delas parecia combinar com o homem que eu aguardo descer as escadas neste momento.
No entanto, a escolhi ainda assim, depois de repreender a mim mesmo pela besteira, afinal, o que importa se a joia combina ou não com Anthony? Importa apenas que as pessoas que irão nos ver juntos hoje acreditem na veracidade do nosso relacionamento.
E eu espero de verdade que sua escolha de roupas me ajude, a última coisa que preciso esta noite é que ao olharem para ele, vejam o que els é, um garoto de vinte e um anos. Imagens de Anthony na última semana tomam minha mente de assalto. Bem... também não é como se eu precisasse que ele se pareça com o cara que tem me atormentado nos últimos dias, é?
Porra, não! Ou seja, ou ele me fode, ou eu estou fodido. Grandessíssima merda! Respiro fundo, fecho a caixa e guardo-a no bolso. Precisando fazer algo comigo mesmo, caminho até o bar na outra extremidade da sala e alcanço uma garrafinha de água.
O líquido gelado desce pela minha garganta e eu me dou conta de que estava com sede. As luzes acesas da cidade abaixo de mim chamam minha atenção, mas não a prendem. Olho para o céu de São Paulo, como sempre, apagado, e não consigo evitar a sensação de me sentir um pouco como ele. Balanço a cabeça, rejeitando o pensamento de que hoje, oficialmente me tornarei um homem comprometido.
Não que eu já não o seja, afinal, tem um homem e uma criança morando debaixo do mesmo teto que eu, isso deve significar alguma coisa. Mas, assumir isso publicamente, mesmo que apenas pelas aparências, é foda.
O som de sapatos batendo no chão anuncia a aproximação daquele que é, ao mesmo tempo, a solução para os meus problemas com os outros e a causa dos meus problemas comigo mesmo, e eu me viro, quase sendo derrubado pelo impacto da visão que ele é.
A realidade ao redor dele se torna tão irrelevante, que é quase como se o mundo tivesse ficado embaçado. Pisco os olhos, atordoado, querendo ter certeza de que não estou alucinando, minha boca, ignorando completamente o fato de que acabei de beber água, subitamente seca, o que não ajuda na sensação de irrealidade.
Sem a minha permissão, meu queixo cai enquanto observo Anthony descer os degraus da escada, acabando com o espaço que nos separa e com a minha sanidade.
Esposo bebê, porra! Esposo bebê, caralho! ESPOSO BEBÊ, MARCOS!
Me obrigo a pensar, ainda que meu cérebro esteja decidido a desistir de qualquer capacidade de raciocínio além daquela que controla minhas vontades, porque, esta noite, Anthony, mais do que nunca, parece tudo, exceto um bebê.
A cada passo dado, o movimento de seus quadris intima meus olhos a acompanhá-lo e as coxas grossas, gostosas, me provocam pela porra de uma calça justa.
Como se tudo isso não fosse o suficiente, há os cabelos, Anthony os cortou, agora eles estão mais claros, loiros, contrastando com a cor dos seus olhos escandalosos. E, para que não houvesse qualquer chance de que alguma parte minha saísse ilesa da tortura que será lidar com sua presença estonteante esta noite, sabendo que ele não poderá ser meu quando a noite acabar, há a boca.
A porra da boca um gloss que ressalta seus lábios rosas que faz a secura em minha garganta sumir. No segundo em que meus olhos se fixam em seus lábios, minha boca se enche de água, ansiosa, quase desesperada, eu diria, de vontade de provar sua. É a definição de tortura.
— Estou pronto... — diz, parando diante de mim, e ouvir sua voz não faz nada para me tirar do transe que sua imagem me colocou.
Fecho os olhos, respirando fundo, precisando recuperar o controle sobre mim mesmo. O latejar em minhas calças beira o insuportável, porra! É absurdo que apenas ver um homem me deixe tão duro, eu não sou um caralho de um adolescente! Já o homem que te deixou assim...
Ah, vai se foder, subconsciente!
— Você está bem? — Anthony pergunta, interpretando erroneamente minha reação, e o fato de ele tocar meu braço, não ajuda. O toque, mesmo sobre a roupa, reverbera por todo o meu corpo, acendendo meus últimos nervos que continuavam imunes à sua presença. O que é fodido, já que eu estou prestes a passar uma noite inteira com ele pendurado em mim! Puta que pariu!
— Estou, Anthony... Só... Eu só preciso de um minuto... — Abro os olhos, finalmente encontrando os seus e, tão perto, noto o quanto estão escuros neste momento, quase como se ele estivesse tão enlouquecido de tesão quanto eu. Só percebo que nos aproximamos mais quando o sopro morno de sua respiração toca meus lábios. Seu toque continua queimando minha pele, ainda que algumas camadas de roupas me impeçam de senti-lo por inteiro. Meus dedos formigam para tocá-lo de volta. Involuntariamente, minha mão se ergue, pronta para alcançar sua cintura.
— Papai... — a voz infantil de Isabella soa e, partindo o fio invisível que prendia meu olhar ao seu como se ele não fosse nada, Anthony se vira imediatamente e de novo, me dá as costas sem a decência de uma despedida. Acompanho com o olhar ele fazer todo o caminho que havia feito para me alcançar, dessa vez, ao contrário, até encontrar a filha no topo das escadas.
Sem se importar em amassar a roupa impecável, ou que Isabella faça algum movimento que estrague sua produção, Anthony pega a menina no colo e une sua testa à dela, sussurrando algo que não posso ouvir. Eu observo, pela segunda vez, em menos de dez minutos, hipnotizado por uma cena protagonizada pelo mesmo homem.
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Por onde passamos, olhares nos alcançam e eu não posso culpá-los. Não quando, se não precisasse me manter atento sobre onde estou pisando, eu mesmo não desviaria os olhos de Anthony esta noite, principalmente, porque, a cada vez que olho para ele, sou atingido em cheio, como se fosse a porra da primeira vez.
Durante todo o caminho até o baile, tentei inutilmente lutar contra esse impulso, mas todas as vezes que desviei meus olhos dele, foi, apenas, para segundos depois, voltar a admirá-lo como se um imã atraísse meu olhar e o impelisse a continuar li, total e completamente focado nele. Se ele percebeu ou se incomodou, não me deu nenhum indício. Distraído em sua própria mente, nem mesmo se deu conta quando o carro estacionou em frente ao hotel onde o evento beneficente está acontecendo.
Outra coisa com a qual Anthony não se importou? O anel de noivado, ele sequer lhe deu um segundo olhar quando o deslizei em seu dedo antes de sairmos de casa e que caralhos! Isso me incomoda! Quer dizer, por que ele não se importa? Pessoas gostam de ganhar joias, não gostam? Será que eu deveria ter escolhido um com uma pedra maior?
— Pronto pra conhecer seus sogros? — pergunto em tom de brincadeira, mas, na verdade, espero que isso, ao contrário dos demais acontecimentos da noite, lhe arranque alguma reação. Seus olhos escuros e, como sempre, escandalosos, encontram os meus, puxando-me para eles e eu os ouço em alto e bom som: “Você vai ter que fazer melhor do que isso se quiser me intimidar, Marcos...” — Você está diferente... — me pego falando em voz alta.
— O cabelo? — pergunta, afinando os olhos.
— Não. Sua aparência também, mas isso não é tudo...
— Isso é ruim? — apesar do teor da pergunta, seu tom não é de desafio, mas de genuína curiosidade.
— Não consigo decidir... — respondo honestamente e ele sorri de um jeito que seria capaz de colocar homens de joelhos.
— Então é uma coisa boa que nós tenhamos a noite toda... — sussurra para mim, ainda com um sorriso nos lábios, enquanto caminha imponente, de cabeça erguida, entre homens e mulheres que jamais saberão suas origens, porque ninguém irá lhes contar e porque, olhando para ele, eles jamais serão capazes de adivinhar.
As duas últimas palavras ditas por Anthony invocam em minha mente imagens muito diferentes da realidade. Pensar em nós dois tendo a noite inteira juntos me leva para um lugar perigoso, e quando me pergunto, “perigoso por quê?”, meu subconsciente é rápido em soprar as palavras “esposo” e “bebê” em minha mente, estalo a língua, vai ser uma noite longa, muito longa.
— E pros lobos, Thony? Você está pronto? Porque tem um deles vindo até nós nesse momento... — Me coloco em sua frente, interrompendo seus passos e falando ao seu ouvido. É um movimento estúpido chegar ainda mais perto dele quando a pouca proximidade que tínhamos já estava me afetando muito mais do que deveria, mas não consigo me conter.
Como se tivesse vontade própria, minha mão sobe, arrastando-se por seu braço e provocando choques elétricos que ecoam por cada parte de mim. O que faço mal pode ser chamado de toque, mas acende todo o meu corpo à medida que meus dedos deslizam levemente pelo pescoço fino, tocando a pele nua.
Anthony fecha os olhos, sua respiração se torna esparsa por apenas um segundo, antes que ele volte a abri-los, engolindo em seco e fingindo não estar afetado. Mas é tarde, ainda que eu não fosse capaz de ver seus pelos arrepiados, ainda que eu não tivesse sentido seu corpo se retesar, seus olhos escandalosos não deixariam que sua afetação passasse despercebida por mim.
— Thony? — mantém os olhos presos aos meus...
— Achei que daria mais verdade às coisas... — justifico o uso em voz alta do apelido pelo qual a chamo em minha mente o tempo todo, mas que nunca deveria ter passado pelos meus lábios, e que eu nem mesmo tinha notado até ele chamar minha atenção para isso.
— Os toques também, eu imagino... — sussurra e eu sorrio, gostando de afetá-lo, pelo menos um pouquinho, quando, desde o momento em que pus meus olhos nele pela primeira vez esta noite, meus hormônios decidiram voltar à puberdade.
— Só pelas aparências... — minto. Qualquer preocupação que eu tivesse sobre aparências sumiu junto com a maturidade dos meus hormônios ainda em minha casa. Anthony preencheu minha mente de tal maneira que simplesmente não há mais espaço para qualquer coisa que não seja admirá-la ou lembrar a mim mesmo que ele é um esposo bebê a quem, não importa o quanto eu deseje, nunca poderei ter. E a quem eu nem mesmo deveria desejar, porra.
Mesmo que o toque insistente de meus dedos em sua pele diga exatamente o contrário. Mesmo que meu olhar tenha declarado que, esta noite, não importa quais ou quantos caminhos ele fará, seu destino sempre será a boca de Anthony. Mesmo que o cheiro dele, cítrico e doce, insista em se infiltrar pelo meu nariz e fazer com que eu me questione o que é esse algo doce? E, por que, em nome de Deus, eu me sinto tão absurdamente atraído pela parte que não deveria, a ácida?
— Marcos! — a voz grave e áspera me chama, me obrigando a me afastar de Anthony. Não sei se agradeço ou maldigo o responsável por isso. Afinal, graças a ele, fiz o que deveria, ainda que não quisesse. Me viro, encontrando Carlos, o integrante do conselho que vinha em minha direção quando parei de andar. A primeira interação do filho da puta é medir Anthony com os olhos e porra! Sinto uma vontade súbita de deixá-lo cego! — Eu não esperava te ver por aqui! — Apesar das palavras inocentes, o tom é de acusação.
Carlos Magri é um homem alto, de corpo esbelto e cabelos brancos e lisos, que estão sempre penteados para trás. Sua aparência é esnobe, assim como sua alma, e embora desfrute da imponência que só todo o dinheiro que ele tem poderia dar a alguém, não é difícil perceber o quão mesquinho o homem é, basta cinco minutos em sua companhia. Se eu tivesse que escolher um dos integrantes do conselho da Valente para nomear como o mais hipócrita, certamente seria ele.
E o fato de ele ter sido o primeiro a me cumprimentar esta noite, diz muito sobre isso. Ao seu lado, está a melhor ilustração de sua hipocrisia que eu poderia usar. Sua esposa, o quê? Quarenta? Quarenta e cinco anos mais jovem? A mulher tem um sorriso plastificado no rosto e eu me pergunto se ela seria capaz de deixar os lábios retos, se tentasse.
— Onde mais eu estaria? Esse evento é importante pra Valente, então é importante pra mim... — uso um tom igualmente diplomático e sugestivo, ao que uma de suas sobrancelhas se ergue.
— Isso, certamente, é novidade... — ironiza, disfarçando o tom venenoso por trás de um de brincadeira — Você não vai me apresentar seu acompanhante? — Seus olhos são de cobiça e minha vontade é de dizer, não, não irei! Mas esse é todo o motivo de estarmos aqui, não é? Exibir Anthony? Então por que caralhos o resultado dessa exposição faz bile subir pela minha garganta? Aceno com a cabeça, em concordância.
— Mas é claro! Não só a você, eu quero que o mundo inteiro saiba que esse homem maravilhoso — levanto uma das mãos de Anthony, e levo-o de encontro aos meus lábios. A pele, tão perto do meu nariz, faz coisas indizíveis passarem por minha cabeça, —, em um momento de completa insanidade, me disse sim! — escondo meu desgosto atrás de palavras divertidas e Anthony, perfeito em seu papel, sorri, gracioso. Me perco por alguns segundos em seus lábios, sendo trazido de volta pela exclamação de Carlos, que já não tem sequer um pingo de sarcasmo em sua voz.
— Noivo? — seu tom é alto e chama a atenção de algumas pessoas que passam por nós. Franzo o cenho, fingindo não compreender sua reação, antes de olhar para Anthony e voltar a sorrir. Não preciso fingir. É fácil. Fodidamente fácil
— Sim! Eu não sou o homem mais sortudo do mundo?
— Desde quando? — dispara e eu inclino a cabeça, como se não entendesse o motivo de tanto alarde. Mas eu entendo. E, puta que pariu! Nos últimos meses, poucas coisas me deram tanta satisfação quanto ver o descontrole de Carlos nesse momento.
— É uma longa história, Carlos... E a noite está só começando! Então, se você nos der licença, eu gostaria de exibir meu noivo pra mais algumas pessoas... -E, sem esperar por sua resposta, Anthony e eu seguimos, deixando um conselheiro vermelho e muito contrariado para trás.
— Isso foi bom, não foi? — Thony pergunta e eu sorrio imenso.
— Isso foi perfeito!
Carlos faz um excelente trabalho espalhando para os outros cinco conselheiros a notícia de meu noivado e, ao final de uma hora, Thony já foi devidamente apresentado a todos eles. Que, a exemplo de Carlos, são deixados para trás atônitos, provavelmente, já tentando buscar uma forma diferente de me foder.
Mas, não sei se é a certeza de que eles não a encontrarão, ou o fato de que minha cabeça parece determinada a não fazer nada além de se concentrar em Anthony, em seus gestos, sorrisos, em sua fala segura, e desenvoltura em qualquer que seja o círculo em que paremos, eu realmente não me importo com o que quer que se passe na cabeça do maldito conselho, não essa noite. Caminhamos na direção de um dos bares posicionados nas laterais do salão, quando Anthony para de andar subitamente, e eu quase lhe dou um puxão sem querer.
— Acho que seus pais estão vindo pra cá... — avisa e fazendo jus à provocação de mais cedo, ele não parece nenhum pouco assustado com a perspectiva de encontrá-los. Eu o encaro com olhos afinados, tentando decifrá-lo.
— Marcos, meu filho! — Meus pais já estão diante de mim quando me dou conta de sua presença, prova incontestável do quão atordoado a presença de Anthony está me deixando esta noite. É quase como se eu tivesse me teletransportado do ponto em que ele me avisou de sua aproximação até aqui, porque não vi mais nada.
— Oi, mãe! — Solto o braço de Anthony para abraçar meus pais, primeiro minha mãe e, depois, meu pai. Meu viro para Anthony para apresentá-lo, e quase esqueço o que ia dizer ao me deparar com seu sorriso lindo, sou atingido por ele exatamente como vem acontecendo a noite inteira. Porra, Marcos! Foco aqui! Foco!
— Mãe, pai... esse é Anthony... — começo e minha mãe leva a taça de champagne que tem em uma das mãos à boca, sem medir as consequências, eu continuo — meu noivo... — e, se não fosse pelos reflexos muito rápidos do homem ao meu lado, a roupa que vem me enlouquecendo teria sido arruinada antes que o relógio desse sua décima segunda badalada, porque minha mãe cospe a bebida que levava à boca, sem elegância alguma, chamando a atenção de vários olhares para a nossa conversa.
Me surpreendo, porque, afinal, se todo o conselho foi rapidamente notificado, por que meu pai não?
Minha mãe se engasga, Anthony tira de sua mão a taça de champagne antes que mais um acidente aconteça e meu pai se divide entre a ajudar a se concentrar em respirar corretamente, e me olhar atônito, como se, de repente, eu tivesse criado chifres. Talvez, eu devesse ter lhes preparado para isso, mas não é como se eles não soubessem o que eu pretendia fazer, eles, apenas, escolheram não acreditar.
Por alguns minutos, a confusão em nosso pequeno círculo é evidente a qualquer curioso que olhe. E, quando minha mãe finalmente se torna capaz de interagir socialmente outra vez, seus olhos estão vermelhos e brilhantes por lágrimas de agonia não derramadas.
— Me desculpe, meu filho! Meu Deus! Que vergonha! Eu sinto muito, muitíssimo! — Se dirige a Anthony quase com desespero e é respondida com um sorriso gentil, — É que eu achei ter ouvido uma coisa absurda e... e... não pude me controlar, me desculpe! Meu Deus, que vergonha! Que vergonha!
— Está tudo bem, dona Giovanna! Não houve nada! Está tudo bem! — responde, pegando uma das mãos de minha mãe entre as suas, soando honesto, gentil e, porra... Que caralhos está acontecendo comigo hoje?
— Mãe..., o que de tão absurdo a senhora me entendeu dizer? —imediatamente, a pele castanha de minha mãe ganha um tom avermelhado, dando força às minhas dúvidas sobre essa reação não ter sido causada por ela ter entendido errado o que eu disse, mas, justamente, por ter entendido certo.
Ela pisca os olhos e, em seu silêncio, fica claro que está procurando o que dizer e o espaço entre nós é preenchido por constrangimento.
— É um prazer conhecê-los! O Marcos fala tanto de vocês há tanto tempo... — Outra vez, Anthony vem em socorro da minha mãe, dirigindo-se a ambos os meus pais, então, faz uma pausa, e, ainda com a mão de minha mãe entre as suas, diz as próximas palavras especificamente para ele. — E, eu sei que é inesperado, e que nós estamos atropelando tudo com a nossa pressa, mas eu não sou muito próximo da minha mãe, então seria uma honra se pudesse contar com a sua ajuda na organização do casamento... — pede e os olhos da minha mãe podem, oficialmente, ser comparados à pratos.
Eu riria, se não estivesse muito ocupado me sentindo absolutamente surpreso com a situação que se desenrolou diante dos meus olhos sem que eu pudesse esperar, ou ter controle.
Dessa vez, é meu pai quem quebra o silêncio que se instala entre nós.
— É um prazer conhecer você também, Anthony. Um grande prazer... — muito rapidamente, seu olhar alterna entre nós dois, como se estivesse tentando desvendar um enigma. — Na verdade, eu acabo de ter uma ideia. O que vocês acham de almoçar conosco amanhã?
Anthony me olha, em busca de uma resposta, e eu aceno, concordando. Até porque, tenho a impressão de que negar nunca foi uma opção.
— Ótimo! Assim nós podemos conversar melhor, noites como essa são sempre muito corridas, há muitas pessoas com quem conversar, há negócios sendo fechados amigavelmente. E nós queremos muito conhecer você melhor! — justifica, provavelmente, percebendo que minha mãe não terá condições de ter qualquer conversa coerente pela próxima hora, prevendo ou planejando que nossa interação não dure muito mais.
Como se divinamente providenciado, um dos clientes da Valente se aproxima, solicitando a presença do meu pai em outra roda de conversa e ele, prontamente atende, levando minha mãe, ainda em estado de choque, junto.
— Bem, essa foi uma apresentação adorável... — Anthony comenta assim que estamos sozinhos e, imediatamente, nós dois começamos a rir, e mesmo em meio ao imenso número de pessoas ao nosso redor, à música ambiente soando baixa e agradável e ao burburinho das conversas que nos rodeiam, eu percebo que essa é a primeira vez que o ouço rir de verdade, e, como tudo o que vem dele parece determinado a fazer esta noite, sua risada me nocauteia exatamente no mesmo lugar em que vê-lo se despedir da filha antes de sairmos de casa fez.
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*** ANTHONY RODRIGUES ***
O som do riso de Marcos acende as luzes de lugares em mim que, até esse momento, eu poderia jurar estarem permanentemente apagados. O primeiro impacto de vê-lo, assim que cheguei ao topo das escadas ainda em seu apartamento, quase me jogou no chão. Marcos babaca é lindo, gostoso, tem um porte impossível de ignorar e um sorriso capaz de derreter qualquer cueca que se coloque em seu caminho.
Mas tudo isso dentro de um smoking, definitivamente, deveria ser uma visão proibida. É demais para os olhos e corações. Quer dizer, ele é um babaca?! É! Mas você já viu aquele peitoral dentro de um paletó ajustado?
Ele é o maior ordinário eu já conheci? É! Mas você já viu aquelas coxas envoltas em tecido caro e sofisticado?
Ele é, definitivamente, sinônimo de problemas e eu deveria arrancar meus olhos sem pensar duas vezes se essa fosse a única forma de me manter imune ao seu canto de tritão? Sim, mil vezes sim! Mas, porra! Você já viu esse homem parecer hipnotizado enquanto olha para ninguém, além de você?
O que eu deveria pensar quando aqueles olhos parecem ignorar a existência do mundo e se fixam em cada gesto, movimento, ou respiração minha, como se nada além de mim importasse? Eu sou inteligente, mas não sou insensível às reações do meu próprio corpo, ou desprovido de hormônios. Deus, eu nunca tive tanto medo de rolar escada abaixo como esta noite. Minhas pernas pareciam gelatina sob seu olhar e eu tinha certeza absoluta de que se ele colocasse apenas um dedo em mim, eu derreteria, se eles tivessem apenas um milésimo do calor que seus olhos derramavam.
Foi um momento estranho em que eu caminhei em sua direção como se houvesse um imã me puxando para ele e, quando, apesar da minha certeza da necessidade de que ele não me tocasse, me vi desejando, desesperadamente, que ele o fizesse, e, para minha frustração, ele não o fez, o toquei eu. Por cima de camadas de roupa, mas ainda assim, o chamado que eu ouvia pareceu se ampliar. Era como se o simples contato tivesse potencializado à vontade, transformando-a quase em necessidade.
Cheguei tão perto do precipício chamado me deixar ser tocado por Marcos Valente, que fui capaz de sentir o beijo do vento no meu rosto. Mas, como a salvadora que sempre foi para mim, Bella me chamou. A voz da minha filha soou o badalar de um sino em minha mente, lembrando-me de que, não importa quão alto o que quer que seja me chame, ou, o quão forte qualquer sensação ou desejo me atinja, jamais poderá ser alçado ao nível de necessidade. A única necessidade que tenho é a de manter Isabella bem, feliz e saudável. E me manter longe de Marcos Babaca é um pré-requisito para tal.
Não importa o quanto a vontade de terminar esta noite em sua cama tenha me consumido inteiro em apenas uma troca de olhares. Me afastei. Me despedi outra vez de Bella, prometendo deixá-la dormir comigo no dia seguinte e assumi as reações mais mecânicas de que era capaz. Aceitei o anel de noivado exatamente pelo que ele é, nada.
A peça é bonita, sofisticada e grita dinheiro, mas não diz nada sobre mim, não diz nada sobre Marcos, e não deveria dizer mesmo. Ao longo de todo o caminho da cobertura até a festa, mantive-me preso em meus próprios pensamentos, acalmando as batidas aceleradas do meu coração e concentrando-me em ser exatamente aquilo que deveria. Um enfeite. Enfeites não pensam, desejam ou fraquejam. Enfeites são, apenas, enfeites.
Funcionou. Até sua mão tocar a minha para me ajudar a sair do carro e todo o meu corpo responder. Até seu toque pousar em minhas costas para me ajudar a caminhar, e toda a minha coluna arrepiar. Até sua voz rouca e baixa soar em meu ouvido, seus dedos trilharem um caminho ao longo de todo o meu braço nu, alcançarem meu pescoço, minha nuca, e bem entre minhas pernas, mesmo que ele não tenha chegado nem remotamente perto deste último.
E, agora, seu sorriso chicoteia exatamente lá, de novo. Excitado. Eu estou terrivelmente excitado pelo meu noivo de mentira/verdade, e não tenho ideia do que fazer com isso. Eu sempre estive ciente do quão atraente Marcos é, e, mais de uma vez, gozei fantasiando estar sendo fodido, chupado e lambido por ele, mesmo antes de ele ter consciência da minha existência. Mas existe um abismo de diferença entre aquilo que acontece na minha imaginação e aquilo que estou disposto a deixar que aconteça na vida real.
E, nunca antes, imaginei que chegaria o dia em que algo me levaria a me perguntar se eu estaria disposto a cruzar a linha do imaginário com Marcos. Até hoje.
— Que tal aquela bebida agora? — pergunta e eu concordo, ainda com o sorriso no rosto.
Chegamos ao bar e Marcos acena para o homem do outro lado do balcão, chamando-o, antes de se virar para mim.
— O que você vai querer? Champagne? — o sorriso em meus lábios se torna maior, antes de eu morder o inferior e desviar meus olhos para o lado. Eu sei o que eu deveria pedir, mas também sei o que eu quero pedir...
Volto a encarar o homem à minha frente e decido.
— Uísque, Marcos. Dezoito anos, sem gelo, por favor... — procuro em seus olhos qualquer indício de desconfiança que minha resposta possa instalar. Mas não encontro nada além de uma sobrancelha arqueada.
— Tem certeza disso?
— Duplo! — desafio e ele ri, dobra o lábio inferior para fora, e balança a cabeça. Somos servidos rapidamente, dois copos de Uísque sobre guardanapos de tecido são pousados no balcão, ambos em dose dupla. Apenas a cor da bebida enche minha boca d’água. Deus, quanto tempo faz que eu não bebo um bom Uísque? Um de verdade? Anos... Muitos!
Acontece que bons uísques são caros, muito caros. E, mesmo que no apartamento do pai de Grazi houvesse algumas boas garrafas, eu nunca colocaria uma gota de álcool na boca tendo Isabella sob minha única responsabilidade.
— Eu estou autorizado a rir se você ficar bêbado no primeiro copo?
— Eu nunca imaginei que você fosse o tipo de homem que pedisse permissão pra alguma coisa, Marcos... - ergo uma sobrancelha e sua expressão se transforma em algo que eu não consigo explicar.
— Eu não sou... — pausa, olhando para mim, deixando o silêncio se instalar, — Mas eu também não sou o tipo de homem que se casa, e, aqui estamos... — Pega minha mão direita e, levando meu dedo anelar até os lábios, beija o anel que me deu antes de abandoná-la suavemente ao lado do meu corpo. Puxo uma inspiração profunda tão discretamente quanto sou capaz e, precisando agora, mais do que nunca, daquela bebida, estendo a mão e pego um dos copos dispostos lado a lado.
Marcos me segue, ergo meu copo no ar e ele brinda. Salivando de vontade, aproximo o copo do rosto. Primeiro, sinto o cheiro: apimentado, adocicado, algo de fumaça, frutas... frutas vermelhas... fecho os olhos, me concentrando naquele que costumava ser um dos meus jogos favoritos, identificar os ingredientes de um uísque só pelo cheiro. Aos dezessete anos, eu poderia identificar pelo menos trinta e dois tipos diferentes sem provar uma gota sequer.
Essa era uma das poucas coisas que eu conseguia dividir com meu pai e a lembrança aperta meu peito... Finalmente, provo a bebida. Em minha língua, o sabor é suave: amadeirado, amargo, frutado, tudo ao mesmo tempo e há até mesmo um toque de chocolate. É um sabor simples, e eu tenho quase certeza de que se trata de um Blue label.
— Puta que pariu! - o quase rosnado de Marcos chama minha atenção e eu abro os olhos. Encontro meu noivo com o olhar vidrado em mim e engolindo em seco, não deixando dúvida alguma de que qualquer que seja a razão, sua explosão tem a ver única e exclusivamente comigo.
— Está tudo bem? — Franzo o cenho.
— É só... S-
— Marcos! — Atrás de mim, uma terceira voz masculina soa. O foco do olhar de Marcos muda para seu dono e eu faço o mesmo. Ao me virar, me deparo com um homem belíssimo de cabelos castanhos e olhos verdes que mede o homem ao meu lado dos pés à cabeça sem se importar com minha presença.
Ele dormiu com ele. É um fato e, na verdade, me espanto ao me dar conta de que não havia pensado nisso antes.
Fiquei tão focado em representar o homem ideal para os conselheiros do escritório de Marcos e para os seus pais, que me esqueci completamente daquilo que não era nem mesmo uma possibilidade, mas uma certeza, esta noite, eu encontraria pesskas com quem ele já saiu e transou. Não apenas isso, como há uma imensa possibilidade de algumas delas quererem saber o que é que ele viu em mim para, subitamente, abandonar a vida que as envolvia e se casar.
Exceto que ele não abandonou. Nem abandonará, eles só não sabem disso, ainda. Saberão quando ele, discretamente, conforme acorda nosso contrato, procurar pela companhia deles. Onde é que você estava com a cabeça Anthony? Todos esses olhares, sorrisos e toques? Rio de mim mesmo. E é por isso, senhoras e senhores, que hormônios não são confiáveis, eles não apenas não raciocinam de maneira autônoma, como impedem que nossos neurônios o façam.
Respiro fundo e abro meu sorriso mais cordial na direção do Homem.
— Jackson! — Marcos saúda, soando desconcertado, e eu gostaria de saber o porquê, será que ele, assim como eu, começava a se esquecer quem somos? Não, Anthony, ele, provavelmente, só não quer lidar com um caso de uma noite que aconteceu há muito tempo. O que você esperava de um homem que se esconde em outro quarto na própria casa para não ter que lidar com a despedida de um encontro casual na manhã seguinte? — Eu não esperava te ver aqui! -diz, soando amigável, porém, ainda não faz movimento algum na direção do cara.
Ele, por outro lado, se aproxima muito mais do que seria adequado e, surpreendendo-me, o abraça, como se fossem velhos amigos. Marcos leva alguns segundos para retribuir e eu continuo exatamente no mesmo lugar, com o mesmo sorriso colado em meu rosto. Um perfeito enfeite.
Quando os dois se soltam, Marcos enlaça minha cintura com um dos braços.
— Jackson, esse é Anthony, meu noivo. — apresenta-me. Para seu crédito, não gagueja ou vacila. O rosto do cara imediatamente se transforma em uma expressão surpresa antes de sua boca se abrir em um O. Mas dura apenas alguns segundos. Para crédito dele, sua recuperação da notícia acontece muito rapidamente e ele não me estende a mão, mas se aproxima, deixando claro que pretende me abraçar também.
— É um prazer te conhecer, Anthony.
— Igualmente... — noto algumas pessoas cochichando ao nosso redor e não sei bem o que é esperado de mim em uma situação como essas. Claramente, ele não apenas dormiu com ele, como muitos dos convidados da festa parecem ter algo a dizer sobre isso, — Se vocês me derem licença, eu preciso ir ao toalete — peço aos dois, optando pela saída mais fácil, não ter que descobrir como me comportar. Deixo um beijo suave na bochecha de Marcos e me desvencilho de seu toque.
Com passos seguros, ignoro os olhares que recebo enquanto caminho na direção do banheiro e agradeço aos céus por encontrá-lo vazio, mas não me dou ao luxo de me apoiar na bancada e abaixar a cabeça. Não. Olho-me do espelho, confrontando a mesmíssima imagem que me chamou de impostor no início da noite.
Eu já fui esse homem, mas, sinceramente, não me sinto mais como ele. Para ser honesto, quando Marcos me olhou como se eu fosse o único homem existente no mundo, eu me senti um pouco mais dele, e gostei da sensação que não era minha há anos. Decidi ali que, esta noite, eu faria mais do que usar uma roupa que descrevesse silenciosamente a minha personalidade, eu seria essa personalidade.
Mas é mais fácil planejar do que fazer quando me lembro do que está em jogo. Não posso correr o risco de ser descartado como, não tenho dúvida alguma, aquele homem que deixei conversando com Marcos foi. Ele não é uma noite de sexo que eu mesmo descartaria na manhã seguinte sem lhe dar tempo de ter um segundo pensamento a meu respeito. Ele é a porra do meu passaporte, do passaporte de Bella, e eu preciso, desesperadamente, manter minha cabeça no lugar, caralho!
Puxo uma inspiração profunda pelo nariz e solto-a pela boca. Uma, duas, três vezes. A porta do banheiro se abre. Levanto meus olhos, procurando ver quem interrompeu o meu momento e encontro Graziella parada bem à frente da porta com um dos braços apoiados na cintura. Viro-me em sua direção, já tinha passado da hora de ela aparecer.
— Você fugiu? — questiona, sem se preocupar em me dar boa noite.
— O que você queria que eu fizesse, Grazi? Claramente, ele dormiu com aquele homem, e o que o pobre, indefeso, doce e inocente noivo deveria fazer? Eu não sabia como deveria agir, achei melhor simplesmente sair de lá... Até porque, está bem claro que o quer que tenha acontecido... É de conhecimento geral... Menos do meu...
— Ah, sim! Ouvi algumas coisas enquanto vinha pra cá... — Afasta-se da porta e começa a caminhar na direção das pias. Seu vestido é preto e tem a parte superior completamente transparente, sobrepondo-se a nada mais do que uma lingerie de renda, antes de na cintura, unir-se à uma faixa de cetim que se abrem em uma saia esvoaçante de tecido leve e volumoso. A tradução perfeita de sexo e elegância, — Parece que ele foi secretário dele até o pai o encontrar com o pau atolado na bunda dele há alguns meses.
Rio, desgostoso.
— Quando eu acho que Marcos babaca não pode me surpreender mais...
— Exatamente, mas você estava bem convincente lá fora, viu? Até a fuga foi incrível! A gente fez aulas de teatro na época da escola? Eu realmente não me lembro... -resmunga.
— Você estava me espionando, Grazi?
— Eu estava procurando o melhor momento pra te conhecer, ué!
— E por que raios você não me ligou? Poderíamos ter forjado um encontro exatamente como esse, eu diria que viria ao banheiro e pronto, voltaria com você a tira colo...
— Tudo bem... Talvez eu estivesse me divertindo vendo o Marcos babaca babar em cima de você...
— Ele não estava..., — pauso, me lembrando dos olhares, dos toques desnecessários... — babando em cima de mim, Grazi...
— Thon, não se faça de idiota, porque você não é! Ele estava sim, estava muito! E eu tenho certeza que te ver degustar o uísque deu a ele uma bela ereção! O homem ficou louco, até, é claro... O ex-secretário chegar... Ele estragou minha novela...
— Você sabe que está falando da minha vida, certo? E que eu estou bem aqui?
— Ah, eu sei! E é isso o que torna tudo ainda mais divertido! É o máximo!
— Louca! Completamente louca! — acuso e me viro outra vez na direção do espelho.
Novamente, a porta se abre, mas não procuro descobrir de quem se trata. Um erro, constato, ao ouvir meu nome.
— Anthony... — Levanto a cabeça, encontrando o rosto de Jackson pelo espelho. Ah, não! Não, não, não! Que essa não seja uma daquelas cenas de novelas em que homens se digladiam toscamente por outro. Eu não faria isso por um homem com quem me importasse, quem dirá por Marcos babaca! Não, não, não! Imploro mentalmente e alguém lá em cima ouve minhas preces, porque as próximas palavras do cara são, definitivamente, inesperadas, — Eu sinto muito, realmente não sabia que Marcos estava acompanhado, não imaginei que poderia causar qualquer desconforto, eu... Me desculpe! — Soa tão sincero que minhas sobrancelhas se erguem.
Volto o corpo em sua direção e sorrio, deixando claro que estou bem.
— Você não fez nada de errado, Jackson, só cumprimentou seu ex-chefe, e não tinha obrigação alguma de saber da minha existência antes que fôssemos apresentados... Está tudo bem, a maldade das pessoas não é culpa sua! -É a vez dele de parecer surpreso e ele solta uma respiração tão aliviada, que me faz rir.
— Nossa, eu estava com muito medo de ter sido escroto sem querer! E você saiu de repente, puta que pariu! -A exclamação do palavrão no fim da frase me faz gargalhar e o riso escandaloso de Grazi também soa no banheiro luxuoso, anunciando sua presença para Jackson que, até então, parecia não ter se dado conta dela.
— Oh, Deus! E, agora, eu fiz uma pequena cena na frente de uma completa desconhecida... — Se lamenta e tampa o rosto com as mãos, nos fazendo rir ainda mais.
— Está tudo bem! — É a vez de Grazi dizer e eu apenas concordo com a cabeça, — Na verdade, eu achei muito legal você ter vindo aqui desfazer qualquer mal-entendido que pudesse ter acontecido... Eu não faço ideia do que aconteceu — mente. — Mas já quero ser sua amiga!
— Aaaah... — Jackson deixa mãos e ombros caírem, outra vez, demonstrando alívio. — Que bom, porque eu achei que você estivesse me achando um louco!
— Não! Eu te achei o máximo! — Grazi assegura e eu rio baixinho, porque não tenho a menor dúvida de que ela achou mesmo, honestamente, eu também achei.
— Na verdade... — sugiro, ganhando a atenção das duas —, por que não trocamos telefones e marcamos alguma coisa qualquer dia desses?
— Jura? — Jackson questiona, mas Grazi não lhe dá tempo para isso, batendo palmas.
— Eu acho uma ótima ideia! Não sou de São Paulo, mas pelo menos uma vez por mês estou aqui!
— Ótimo! Então a gente só precisa combinar! — Decido.
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Retorno sozinho ao salão. Grazi e eu nos separamos no banheiro, ela dispensa conhecer Marcos por enquanto. Mesmo que ainda precisemos de uma justificativa para eu torná-la minha madrinha de casamento.
Procuro-o com os olhos e o encontro o mesmo lugar de antes, próximo ao bar, novamente, rodeado por seus pais. Dessa vez, sua mãe não está branca feito um papel, ou engasgada. Está sorridente e tem as bochechas levemente coradas, não sei se pelo riso, ou pela champagne. Preciso me controlar para não rir ao me lembrar de sua reação chocada ao descobrir seu filho noivo.
Caminho até a roda e, como se não pudesse mais esperar por isso, no instante em que paro ao seu lado, o braço de Marcos rodeia minha cintura, e ele encaixa o nariz em meu pescoço em uma carícia sutil e, Deus! Gostosa, admito! É dura a noite de um noivo contratado, viu? Não tenho a menor dúvida de que esta noite não conseguirei pregar os olhos antes de dar algum trabalho ao meu vibrador.
— Dona Giovanna, Seu Joaquim! — cumprimento.
— Anthony! — a mãe de Marcos diz meu nome de maneira efusiva e acho que tenho minha resposta. Definitivamente, champagne. — Eu estava dizendo ao Marcos que estou muito animada pro nosso almoço amanhã! Me diga Anthono, você gosta de frutos do mar? Eu estava pensando em um risoto, o que você acha?
— Eu adoro! Mas Isabella é alérgica, então faz muito tempo que não sei o que é isso...
— Isabella? — dona Giovanna me questiona com o cenho franzido e eu olho para Marcos em busca de ajuda. Eu não deveria ter mencionado Bella? Ele sorri um sorriso tão terno que, ao mesmo tempo em que me alivia, me assusta, e beija minha bochecha.
— O filho de Anthony, mãe. Ela tem três... Ou, como ela gosta de dizer, quase quatro. — Esclarece e lá se vai a expressão relaxada de sua mãe, outra vez. A última declaração de Marcos exige de mim um esforço para não transparecer confusão. Como ele sabe que Isabella adora dizer que tem quase quatro anos? Ele quase nunca interage com ela...
— Você tem uma filha? — É seu pai quem pergunta.
— Sim! Uma menininha... — respondo e, como sempre acontece, apenas falar de Isabella coloca um sorriso imenso em meu rosto. — Ela não veio porque a essa altura, já está no décimo oitavo sono, ou, pelo menos, deveria...
— Você vai adorá-la, mãe! Não tenho dúvidas! Isabella é muito esperta, observadora e curiosa! Tenho certeza de que vocês vão se dar muito bem! — Marcos comenta, e, dessa vez, é mais forte que eu. Meu olhar é atraído para os seus olhos. Ele finge tão bem... Eu nunca duvidaria de que ele realmente acha tudo isso a respeito da minha filha, nunca.
— Oh, meu Deus! Uma criança! Uma menina! — Giovanna soa entusiasmada, a surpresa já foi apagada de seu rosto e, agora, é ela quem toma uma de minhas mãos entre as suas. — Obrigada! Muito obrigada! — apenas move os lábios em suas últimas palavras, para que ninguém além de mim saiba o que ela está dizendo.
Marcos, já envolvido em algum novo assunto com o pai, nem mesmo se dá conta. Estou tentando formular uma resposta, também silenciosa, ou não, ainda não fui capaz de decidir, quando meu fluxo de pensamentos é interrompido por uma pergunta que não deveria ser tão inesperada, mas é.
— Vamos dançar, Thony?