Ele me olhou triste e saiu cabisbaixo em direção à sala. Meu pai já estava sentado no sofá e o olhou e depois a mim que vinha logo atrás. Ele abriu a porta e o portão de acesso, e colocou suas malas para fora. Daí eu o chamei e ele se virou esperançoso num milagre. Então, falei, quase chorando uma dor que eu sabia tê-lo atingido também:
- Kaká, deixa as chaves de casa comigo. Você não mora mais aqui.
PARTE 6 - O FIM
A surpresa foi grande, mas acho que ele já esperava por aquilo. Vi ele separar o molho com as chaves de casa das do carro e me passou, mas não sem antes insistir:
- Pensa com carinho em nós dois. Se for necessário, a gente faz terapia, conversa com um pastor, padre, com quem você quiser. Eu estou disposto a tudo para tentarmos outra vez.
Despedi-me dele sem beijos ou abraços, apenas à distância e sem sequer lhe dar minha mão, mas principalmente, sem assumir qualquer compromisso, afinal, naquele angu onde antes havia três agora tínhamos quatro caroços dificultando a degustação dos sabores da vida em sua plenitude.
Conversei mais um tempo com meu pai e depois ele se foi para sua casa. Como eu já imaginava, minha mãe ligou para mim, brava, irada e me intimando para arrumar minhas coisas imediatamente, pois meu pai estaria indo me buscar novamente. Como uma boa filha que sou, ignorei completamente sua ordem, mas agradeci sua preocupação. Ela ainda bufou um bom tempo como uma boa vaca recém parida, mas acabou aceitando meus argumentos depois que eu expliquei que estava em minha casa, bem, segura e decidida a descansar minha cabeça para os desafios que ainda viriam. Dispensei sua companhia, mas ela só aceitou depois que confirmei que iria almoçar com ela no dia seguinte.
À noite, trouxe o meu cão de guarda para dormir na sala. Tozinho, nosso “poodle toy” da cor preta podia não assustar ninguém, mas fazia um baita barulho e era difícil de se ver no escuro. Era o alarme mais que perfeito para vigiar minha casa. Antes de dormir e depois de me certificar que a casa estava toda trancada, me deitei e apaguei. Acho que ainda estava sob o efeito do remedinho da minha mãe.
No dia seguinte, logo ao pegar meu celular, várias mensagens do Kaká inundavam meu WhatsApp. Havia áudios, textos, mensagens, tudo tentando me convencer de que ele havia errado feio, como se eu precisasse dele para me convencer disso, mas que estava disposto a recomeçar. Até me sensibilizei, mas depois me lembrei que, apesar do troco que eu dera nele e que justificaria tentarmos do zero novamente, agora havia também uma criança no caminho e essa eu não queria prejudicar de forma alguma.
Aliás, pensar que ele havia engravidado outra justamente no ano em que eu começara a fazer tratamento para podermos ter um filho, me doía sempre que eu lembrava. Não fossem esses malditos ovários policísticos e uma questão genética que diminuía um certo hormônio, dificultando a gravidez, nossa vida poderia ser outra, com certeza. Decidi responder duas únicas mensagens para ele:
Eu - “Kaká, quero um tempo para pensar.”
Eu - “Por favor, pare de me mandar mensagens ou vou te bloquear.”
Imediatamente ele me respondeu:
Ele - “Tá bem.”
Ele - “Pense com carinho.”
Ele - “Eu te amo!”
“Filho da puta! Agora você me ama, né!?”, pensei em silêncio, para depois guardar meu celular. Fui me distrair com as obrigações de casa, mas agora elas haviam diminuído, pois não tinha mais que cozinhar para dois, lavar para dois, limpar para dois, viver para dois. Distraída que estava, nem ouvi a campainha tocar, só notei que alguém queria falar comigo quando me ligaram. Era minha mãe, naturalmente preocupada comigo na porta da minha casa. Aliás, ela só não, meu pai também estava junto e me arrastaram para almoçar com eles. Como eu havia cozinhado no dia anterior para mim e para o Kaká, eu é que os convidei a ficarem e aceitaram de bom grado, desde que eu me comprometesse a jantar em sua casa:
- Carlinhos te ligou? - Perguntou minha mãe.
- Não, mas mandou um punhado de mensagens.
- E?...
- E nada, mãe. Eu só pedi para ele me dar um tempo porque eu precisava pensar. Só isso.
- Então tá… Melhor assim!
- Não se mete, Lili, deixa eles se resolverem. - Falou meu pai.
- Não vai me dizer que você está do lado daquele, daquele, daquele…
- Para, mãe! - Eu a interrompi: - Não foi somente ele que errou.
Eles me olharam curiosos e, apesar de não terem perguntado, como eu já havia começado, achei justo explicar. Contei tudo, desde o início, da descoberta da amante dele e de como eu reagi:
- Você traiu ele!? - Perguntou minha mãe assim que eu contei, olhando surpresa para meu pai: - Barnabé, fala alguma coisa!
Meu pai me encarava e sua expressão não passava nada mais que decepção que ele deixou bem clara quando começou a falar:
- Não foi isso que nós te ensinamos. Ele errou, é fato, mas você também errou. Não sei se teve um que tenha errado mais, mas… - Disse e deu uma garfada em seu prato, continuando depois: - Apenas erraram.
- Eu sei, mas ele começou.
- E daí se ele começou? Tivesse se separado e vivido sua vida. - Retrucou minha mãe: - Como vai ser vista na cidade agora? Vai ser a puta, a galinha da vizinhança. Não acredito nisso!
- Para de drama, Lili, ela vai continuar sendo quem sempre foi. Ninguém está sabendo de nada, tanto que se ela não tivesse nos contado, nós nunca saberíamos. - Rebateu meu pai, acalmando-a: - Mas você errou. Não é o tipo de atitude que eu, que a gente esperava de você.
- Eu sei, pai, eu sei. Desculpa, gente, mas na hora eu só queria saber de me vingar dele. Daí um dia surgiu a oportunidade e fiz, e as oportunidades continuaram surgindo e continuei fazendo…
- Quantas vezes você fez isso? - Perguntou minha mãeAté que não foram tantas…
- Não fiz mais porque eu não quis, porque se quisesse…
- Tá! Tá bom, tá bom, nem precisa explicar mais nada. Já entendi!
- E o que você pensa em fazer agora? - Perguntou meu pai.
- Não sei. Vou pensar, mas acho difícil a gente voltar. Não vou disputar lugar com um bebê.
- Tá… Pense com calma e saiba que a gente está do seu lado para o que der e vier. - Ele insistiu.
Despedimo-nos e eles se foram. Ainda os observava se afastando em seu fusquinha de estimação quando tive um “estalo”: eu precisava cuidar da minha vida e começaria voltando a trabalhar. Entrei decidida e fui até meu computador fazer um “Curriculum Vitae” para começar minha jornada atrás de uma ocupação. Eu era formada em pedagogia e trabalhar numa escola seria espetacular, mas aceitaria qualquer coisa que me ocupasse o dia. Depois de ficar satisfeito com minha apresentação, coloquei uma roupa básica, mas que passava imponência sem ser desrespeitosa e fui à luta.
Passei distribuindo pelas três escolas particulares e depois pelo comércio todo. Enquanto andava topei com uma ex-colega de faculdade que dava aula numa das escolas e lhe pedi uma forcinha. Ela adorou a novidade disse que faria o possível. Fez mesmo. Nem era o final da tarde e recebi um telefonema, perguntando se eu poderia participar de uma entrevista no dia seguinte de manhã. Vibrei como há muito não fazia.
No jantar, contei a novidade para meus pais que ficaram muito felizes por mim, mesmo eu ainda não tendo sido contratada. O jantar estava delicioso, não sei se era o tempero ou minha ansiedade, mas estava ótimo mesmo! Além do papo, que agora fugia dos assuntos traição e Kaká. Fui para casa e custei pegar no sono, mas eu precisava estar descansada para a entrevista e me obriguei a dormir. Consegui sei lá a que horas.
Na manhã do dia seguinte, eu pisava em nuvens. Tomei um café reforçado, vesti-me da mesma forma que no dia anterior, apenas trocando a camiseta por uma blusa de mangas compridas e botão, e sai para meu compromisso. Na escola, depois de esperar dez minutos, o diretor, professor Arnaldo, me atendeu. Fez várias perguntas que respondi de imediato e parecia ter gostado de meu perfil, principalmente porque minha colega Aline havia feito uma bela propaganda de mim. O que atrapalhava era minha falta de experiência porque eu, desde que me casei, parei de trabalhar e isso agora pesava contra. Já dava por perdida a chance quando uma inesperada surpresa aconteceu: uma das professoras do primário passou mal e teve que sair mais cedo, deixando sua sala aos cuidados de uma ajudante:
- Tá disposta a fazer uma experiência, Verônica? - Ele me perguntou.
Naturalmente eu aceitei. Fomos até a sala, onde ele me apresentou e me deixou a cargo das crianças. Como eu não havia planejado nenhuma aula e conhecia nada da apostila, nem teria tempo de conhecê-la a fundo, resolvi ousar e bolei uma atividade lúdica com as crianças e abafei, afinal que criança não gosta de aprender brincando? Notei que enquanto desenvolvia a atividade, o diretor Arnaldo passava vez ou outra pela janela, olhando de soslaio, aliás, ele e outra que depois vim a saber que era a Coordenadora Pedagógica da escola. Até mesmo a psicóloga foi me analisar e não resistindo as risadas das crianças, entrou para participar também. Seu nome eu decorei de imediato de tão esquisito, Rosangelinova, mas que todos chamavam de “Geva”:
- Por que “Geva”? - Perguntei, curiosa.
- Não sei. Podiam ter chamado de Rosa, Rose, Angelina, Angel, Lina, Lili, qualquer coisa, mas foram me chamar de “Geva”.
Ela interagiu um pouco com as crianças, mas logo retornou as suas atividades, mas não tive como não notar um sorriso de aprovação pela forma como as crianças estavam sendo dirigidas. No intervalo, na sala dos professores, foi a vez da Coordenadora, dona Jandira, se aproximar e só aí eu a reconheci como uma antiga professora minha da época do colegial. Conversei com ela, Aline, Geva e outros, inclusive por Leonardo, professor de matemática do ensino médio que pareceu mais gentil que o normal para o meu gosto. Não posso reclamar, fui muitíssimo bem acolhida.
Depois do intervalo, continuei minhas atividades dando um enfoque à preservação da natureza, levando os alunos para passear no pátio e fazermos uma atividade de observação da vida animal nas árvores e voltando após para a sala, onde os ensinei a fazer um simples origami de papel de um pássaro que também voava como um aviãozinho. Eles adoraram e pediram para levar seus trabalhos para casa no final do dia. Despedimo-nos e pela forma como me abraçaram, eu tinha agradado. Após entregá-los a seus pais, o professor Arnaldo me chamou novamente para uma conversa:
- Verônica, acho que nem preciso dizer que você tem jeito com crianças e isso é ótimo, porque a Solange terá que ficar de repouso por uma semana. Não gostaria de assumir a sala dela até lá?
- Claro que sim! - Respondi quase saltitando de alegria, mas me contive: - O que aconteceu com ela? Espero que não seja sério?
- Então, ainda não sabemos. Ela mandou um atestado e vai tirar uma semana para descansar e fazer exames. - Ele explicou e insistiu: - Posso contar com você, então?
- Pode sim, é claro! Eu só preciso do material didático e saber onde ela parou para elaborar as aulas.
- Vou providenciar tudo com ela e te entrego ainda hoje, pode ser? Mando na sua casa.
- Pode sim.
Passei meu endereço, contato e dados pessoais, e só após isso me lembrei que ele já os tinha no “Curriculum”. Despedi-me e voltei flutuando para casa. Nem cheguei lá e já liguei para minha mãe, pois queria contar a novidade. Só quando o Kaká atendeu, surpreso, mas alegre, eu diria até radiante, é que me toquei que havia discado involuntariamente seu número. Aí já era tarde:
- Ah, oi… Desculpa, Kaká, liguei errado.
- Não, não, ligou certo. Está tudo bem, posso falar agora. - Ele insistiu e acabei não desligando: - Como você está, Vê? E o seu dia?
Eu ainda estava eufórica e acabei contando para ele de minha experiência e contratação, mesmo que temporária. Ele ficou exultante, tão alegre senão mais ainda que eu própria e aquilo me deixou feliz. Conversamos mais alguns minutos e expliquei que eu pretendia ligar para minha mãe, mas acabei errando de número. Ele entendeu e depois de trocarmos mais algumas palavras ele tocou no assunto:
- Sei que ainda é cedo, mas você já pensou sobre nós?
- Não, Kaká. Hoje, realmente eu não tive tempo, mas vou pensar. Prometo.
- Pensa com carinho.
- Tá… E você? Onde passou a noite?
- Na casa do Tonhão, do futebol. Hoje, ele ia mandar um amigo dar uma geral numa edícula que tem no quintal da casa dele e vou ficar por lá, por enquanto. O cara é muito gente boa e não queria sequer cobrar a luz e água, mas não achei justo. Bem, fizemos um bem bolado e vou ficar lá.
- Que bom que já se acertou.
- Quero me acertar com você. Ali é temporário…
- Sem pressão, Kaká. A gente errou sim, mas você cagou feio.
- Eu sei, eu sei…
Despedimo-nos e liguei para minha mãe. Agora ela atendeu, preocupada que me tivesse acontecido alguma coisa:
- Calma, mãe, tá tudo bem. Arrumei um emprego na Escola Futuro e Além. Fiz uma experiência hoje e vou ficar mais uma semana substituindo uma professora que teve um problema de saúde.
- Maravilha, filha! Essa sim é uma notícia boa.
- E não é? Depois a senhora conta pro pai.
- Claro que sim. Ele vai vibrar.
Perdemos a noção do tempo, logo meu pai chegou lá e começamos a conversar os três. Naturalmente, ele ficou radiante com a novidade e me desejou a melhor sorte do mundo nessa nova empreitada. O papo se estendeu e logo ouvi a campainha da minha casa:
- Gente, vou ter que desligar. Acho que é o professor Arnaldo, o diretor, que ficou de me trazer o material para eu elaborar a aula de amanhã. Depois a gente conversa mais, ok?
- Claro, filha, vai lá. Beijos.
Desliguei e fui até a porta. Quando a abri, realmente era o meu material didático, mas não era Arnaldo quem o trazia e sim Leonardo. Naturalmente, estranhei, mas o convidei para entrar:
- Ah, desculpe se estou sendo intrometido, mas Arnaldo teve um compromisso e me pediu para te trazer. - Disse entregando-me o material, todo formal: - Pediu também para te explicar a grade curricular e onde a professora Solange parou.
- Entra, Leonardo, que coisa mais feia ficar parado na porta. Vou fazer um café pra gente e você me explica.
Fomos até a cozinha e coloquei um café para fazer na minha Mocha. Sentamo-nos à mesa e ele começou a me explicar a grade e onde Solange parou. Ela estava um pouco atrasada, mas nada que prejudicasse os trabalhos no decorrer do ano. Apesar de não ser a faixa etária em que ele ensinava, dispôs-se a me ajudar no que eu precisasse e eu não recusei, pois toda ajuda seria útil. O café ficou pronto e nos servi e passamos a conversar, na verdade, eu mais falava pois estava elétrica e ele se mostrou um ávido ouvinte.
Perdemos a noção do tempo e quando me dei conta já passava das oito horas da noite e perguntei se ele gostaria de jantar. Naturalmente, ele não aceitou, mas se mostrou disposto:
- Não é uma questão de machismo, mas acho que o primeiro convite deve ser do homem. Então, eu aceito jantar com você sim, mas eu quero te levar. - Falou.
- Não, Leonardo, hoje não, né. Um outro dia, quem sabe… Eu te convidei porque já estamos aqui.
- Ah, então não foi porque queria jantar comigo. - Ele brincou e notei minha gafe.
- Não foi isso que eu quis dizer. Só achei oportuno.
Ele riu, brincando com a situação e continuou:
- Fica tranquila, eu entendi. Deixamos para uma outra hora, quem sabe no final de semana?
Eu até não recusaria um jantar e principalmente com a companhia de um cara tão gentil e agradável, mas, realmente entendi que não seria oportuna uma aparição pública logo agora:
- Leonardo…
- Leo. Pode me chamar de Leo. - Ele me interrompeu.
- Então… Leo. Olha só, eu estou num momento meio complicado, separada e ainda casada. Eu não queria sair, ser vista com um homem, e virar motivo de boatos na cidade. Você conhece a boca do povo, cê me entende, né?
- Claro que sim! Fica tranquila. - Disse e depois de um caprichado gole de café, continuou: - Mas se você concordar, a gente podia comer uma pizza na Don Corleone, ali em Cruzado.
- Fora daqui?
- É por que não? Prometo que não vou abusar de você.
- Eu… Eu… Posso te responder amanhã? É que ainda é tudo muito recente…
- Claro que sim. A gente se vê na escola então, ok?
- Claro!
No dia seguinte, consegui driblar o Leonardo e assim foi nos próximos dois. Enquanto isso, Kaká não me saía da cabeça e pensei que talvez devêssemos conversar para tentar avaliar a possibilidade de uma reconciliação. Expliquei tudo a meus pais, minha mãe foi contra e me xingou um monte, meu pai foi neutro, dizendo que eu era maior e o problema era eu quem deveria resolver. No quarto dia, Leonardo conseguiu me encurralar a sós na sala dos professores e me cobrou uma resposta. Ele usava uma colônia deliciosa que me deixava tonta só de estar próxima. Além disso, o fato dele ser um cara alto, forte, malhado e com um olhar naturalmente malicioso não ajudava em minha intenção de ser forte:
- Leonardo, eu não posso ficar com ninguém agora. Ainda estou casada. Até vou conversar com meu marido, ou ex, sei lá, amanhã.
- Vão voltar?
- Não sei, mas eu também quero definir isso de uma vez. Preciso resolver a minha vida.
- Entendi. Ah, e eu não falei que quero ficar com você. Só queria comer uma pizza, nada mais.
Eu o olhei de uma forma zombeteira, deixando bem claro que não havia acreditado nessa última parte da conversa e ele aproveitou a deixa:
- Mas se você me olhar outra vez desse jeito, eu posso não me garantir.
- Tá bom… Tá vendo? Eu não quero que saiam dizendo que estou traindo o Kaká. Preciso resolver isso.
- Então tá. Vou te esperar, mas já vou avisando que vou torcer para vocês não se acertarem, ok? - Disse e sorriu malicioso: - Daí a gente sai para comemorar. Só uma pizza, tá? Nada mais.
Realmente, eu precisava tomar uma decisão com o Kaká antes de querer qualquer tipo de envolvimento com quem fosse, ainda mais porque ele não queria apenas amizade, estava na cara! Eu não queria e não iria errar novamente, o olhar de decepção do meu pai já fora suficiente para me mostrar o tamanho do meu erro e eu não iria repetir outro.
No dia seguinte, fui até o escritório em que o Kaká trabalha e estranhei de cara o olhar de assombro de sua secretária quando eu cheguei:
- O que foi, Amanda? Parece que viu um fantasma!
- Ah, nã-na-não, não, Verônica. Não, imagina. Em que posso te ajudar?
- Queria falar com o Kaká?
- Ah, ele saiu…
- O carro dele tá aí fora, acabei de cruzar com ele.
- Pois é, mas ele saiu com um clien…
Bem nessa hora, a porta da sala dele se abriu e a Sandrinha saía toda sorridente, com ele logo atrás, sério. Quando me viram, os dois arregalaram os olhos e o constrangimento foi imediato. Ele veio até mim e fez menção de me beijar a boca, mas desviei e ele acertou em cheio a bochecha:
- Oi, Vê, como você está?
- Bem! Você também tá bem, né? Tô vendo que sim. - Disse e fuzilei a Sandrinha com o olhar, não perdendo a oportunidade: - E o Jaime, Sandrinha, como está?
Ela não fez pouco de mim, mas também não baixou a crista, falando em seguida:
- Ele tá bem. Viajou para a cidade dos pais. Parece que vai tentar uma transferência para lá. - Respondeu-me e se virou para o Kaká: - Então, eu vou confirmar o dia e hora do ultrassom e te aviso, tá bom, Kaká?
Olhei para ele que engoliu em seco e a encarou com semblante que poderia ser traduzido literalmente como “não precisava disso agora, né!”. Depois, ela saiu e ele me convidou para entrar em sua sala. Meu pé fincou no chão, não me movi, mas meus lábios sim:
- Desculpa atrapalhar, Carlos Henrique, meu assunto é rápido. Queria saber quando podemos nos sentar com o advogado para discutir os detalhes do divórcio?
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.