Assim que Mila se virou, deu de cara com aquele homem lindo, que lhe estendia a mão. Seu sorriso de dentes perfeitos, a barba de dois dias, perfeitamente cuidada, os cabelos negros, perfeitamente penteados e moldados com gel … E os olhos? Aqueles olhos grandes e negros, que enxergavam no fundo da sua alma … perturbada, ela perguntou em inglês:
– Essa música que você estava cantando, de onde a conhece?
A encarando sem entender, Vincenzo disse:
– Música? Que música?
Mila se virou para Lícia:
– Você ouviu, não ouviu? Ele estava cantando no corredor …
Estranhado, e pensando rápido, sendo encarada por Vincenzo, a secretária respondeu:
– Não, senhora! Não ouvi nada.
Mila o encarava, vidrada em seus olhos. Ele se apresentou, estendendo a mão para ela:
– Prazer! Vincenzo Mancini.
Mila estava paralisada, sem conseguir desviar seu olhar dos olhos dele. Ele insistiu:
– Algum problema? A senhorita está bem?
Mila, envergonhada pela péssima primeira impressão que deu, se aprumou:
– Me desculpe! Eu sou a Ludmila, representante do Sr. Hélio. Venha comigo. – Ela indicou a porta do escritório, perguntando – O senhor aceita um café ou um chá?
Vincenzo foi cortês:
– Pode ser água. Obrigado!
Enquanto os dois entravam para o escritório, Lícia foi rapidamente providenciar o pedido. Vincenzo, no seu inglês impecável, disfarçando sua voz real, foi direto:
– Nossos advogados já tinham deixado toda a papelada preparada. Só precisamos fechar o negócio, assinar os contratos.
Mila continuava encarando, aqueles olhos eram muito familiares. Vincenzo, passando a mão no rosto, brincou com ela:
– Meu rosto está sujo ou meus olhos? Está com receio de me dizer alguma coisa?
Mila se rendeu, precisava falar:
– Não! De forma alguma, me desculpe! É que seus olhos me lembram muito os de alguém especial para mim. – Ela não conseguiu segurar uma lágrima que escorreu por sua bochecha. – Sinto muito, não estou sendo profissional.
Vincenzo a surpreendeu:
– Eu fiz o meu dever de casa, sinto muito por seu namorado, pela perda de vocês. Saiba que minha intenção é cuidar com carinho do legado dele. Eu mesmo irei administrar essa empresa.
Mila não resistiu mais, sendo incapaz de segurar mais uma lágrima que teimou em cair. Vincenzo rapidamente lhe entregou um lenço, segurando carinhosamente em seus braços e a conduzindo até o sofá lateral da sala, fazendo-a se sentar:
– Respire, leve o tempo que precisar para se recompor. Deve estar sendo difícil para você. Eu entendo.
Lícia entrou no escritório, trazendo a água solicitada e também café. Vendo Mila chorando, de cabeça baixa, ela piscou para Vincenzo, tentando segurar o riso e ele disse:
– Acho que ela está precisando dessa água mais do que eu.
Lícia se ofereceu para ajudar:
– Senhorita Mila, se estiver indisposta, eu posso mostrar os documentos ao Senhor Mancini e explicar as duas opções.
Vincenzo seguiu o roteiro:
– Duas opções? Não entendi.
Mila tentou se recompor, se levantando e caminhando até a mesa do escritório. Ela aceitou a garrafa de água que Vincenzo lhe entregou, tomou um bom gole, pegou os dois envelopes e explicou:
– Senhor Mancini, consideramos e até aceitamos sua proposta inicial, os quinhentos mil reais pela sociedade, mas também, o senhor Hélio admite a possibilidade de lhe entregar o controle total da empresa, cem por cento, pelo valor de um milhão e meio de reais. Você consideraria essa proposta também, tem interesse?
Vincenzo não esperava aquela mudança, mas ele balançou com a proposta. Com as economias que transferiu para a Bá, junto ao dinheiro do seguro, incrementado pelo volumoso aumento do capital quando do IPO da empresa do pai, tinha recursos mais do que o necessário para o investimento, e a proposta era muito boa. Disfarçando seu nervosismo, tentando se mostrar calmo, caminhou um pouco pela sala, pensando. Após uma reflexão mais séria, pediu:
– Você me daria algumas horas para pensar? Preciso conversar com meus advogados, com meu sócio e voltamos a nos falar, pode ser assim? Mas eu gostei da proposta, estou considerando seriamente a nova opção, mas um preço mais realista seria algo em torno de um milhão e duzentos.
Mila sabia que ele tinha razão e pediu que ele desse a ela um minuto. Do próprio telefone do escritório, ligou para o Hélio. Ao ser atendida, informou a ele sobre a contraproposta:
– Sim … é uma oferta séria, realista … eu entendo … se é assim que você prefere, vou perguntar … ok!
Ela colocou a chamada em espera e se virou para Vincenzo:
– O senhor Hélio gostaria de discutir os detalhes da sua proposta e o convida para almoçar, você aceita?
Vincenzo estava conseguindo chegar aonde queria, se encontrar com o pai. O convite para almoçar era sua chance de criar a armadilha perfeita. Ele sabia que era uma chance de ouro para suas pretensões:
– Eu aceito, mas levarei minha acompanhante, não vim sozinho ao Brasil.
Mila voltou à ligação e combinou os últimos detalhes com Hélio. Assim que desligou, ela escreveu o nome e o endereço do restaurante e também o nome na reserva no bloco de anotações da mesa, arrancou a folha e a entregou para Vincenzo:
– Nos encontramos novamente meio-dia e meia.
Vincenzo se despediu com um sorriso amigável no rosto, deu uma última olhada para Lícia e deixou o escritório. Em poucos minutos estava dentro do carro, ligando para Anastasia:
– Foi melhor do que eu esperava.
Ela estava ansiosa:
– Me dizer … vai encontrar sua pai? Conseguir?
Ele a surpreendeu:
– Vai não, nós vamos.
Anastasia não entendeu:
– Par que nós? O que eu ter a ver?
Ele sorria sozinho:
– Já tínhamos a intenção de fazer isso, a sorte só adiantou o nosso lado. Já imaginou a cara dele quando você chegar comigo? Essa "coincidência" vai fazê-lo desconfiar, ele vai começar a agir, vai vir com tudo pra cima da gente.
Anastasia concordou:
– Ter razão, você pensar muita a frente. Eu estar preparada desse vez, não vai decepcionar você. Vai me arrumar entau, esperar você aqui.
Vincenzo se despediu e desligou, fazendo uma segunda ligação em seguida:
– E então, está monitorando-o?
Do outro lado da linha, Mirian o repreendeu:
– Bom dia, mãe! Como a senhora está? Eu estou bem filho, e você?
Vincenzo entendeu o recado:
– Me desculpe! Eu estou um pouco ansioso, acabei sendo mal-educado. Bom dia, mãe! A senhora está bem? E a Bá?
Mirian brincou:
– Estou bem, obrigada! Vamos ao que interessa: ele tem a placa do seu carro alugado, e já pediu para descobrirem a sua identidade. Ele está tentando descobrir em qual hotel Anastasia e você estão hospedados. Ele tem a intenção de convidá-los para um jantar na casa dele, para saber mais sobre você. Ele não dá ponto sem nó, se prepare.
Aquilo tudo já tinha sido previsto por Vincenzo. Ele informou a Mirian:
– Ele está há duas horas de descobrir quem eu sou. Vai ser divertido.
Vincenzo explicou para Mirian aquela parte dos seus planos, e como toda mãe, ela pediu para ele não se descuidar, não perder o foco, o lembrou de quem era Hélio, do quanto ele era um perito naquele jogo perigoso que estava sendo jogado.
Eles se despediram e desligaram. Vincenzo voltou para o hotel, precisava conversar com Anastasia e revisar o plano de ação dos dois. Aquele almoço deveria ser perfeito, sem falhas.
{…}
Mila também voltou para casa, não entendendo o motivo de Hélio, antes tão desinteressado, convidar o comprador da fábrica para almoçar. Aquele homem tinha mexido profundamente com ela, aqueles olhos a deixaram saudosa, curiosa, triste e excitada. Ao entrar, ela foi direto ao escritório:
– Por que essa mudança? Você me mandou no seu lugar e agora quer encontrá-lo? Não entendi.
Hélio foi direto:
– Eu pesquisei o rapaz. Ele tem associados muito interessantes. Preciso estender esse vínculo. Acho que vou convidá-lo para uma festinha …
Mila adoraria se entregar aquele homem, mas nos seus termos. Sabendo o que esperar de Hélio, ela se adiantou:
– Eu não quero mais fazer isso. Por favor …
Hélio, foi rápido, voltando aos velhos costumes, pegando Mila pelos cabelos e fazendo ela se ajoelhar à sua frente. Conhecer Anastasia trouxe de volta o sadismo a sua vida. Estava novamente excitado, com vontade de subjugar Mila. Anastasia o fez sentir desejo outra vez, ele precisava recuperar o tempo perdido. Abriu o zíper da calça e colocou o pau pra fora esfregando o membro meia bomba na cara da Mila:
– Toma aí o que você gosta, puta safada. Mama seu macho, chupa esse pau. Deixe-o bem babado para eu foder esse seu rabo gostoso.
Mila tentou protestar, se livrar da pegada dele, mas recebeu um forte tapa na cara e um puxão ainda mais firme no cabelo:
– Você é minha, eu sou seu dono. Quando eu mando você chupar, você chupa, sua puta. Faz o seu trabalho ou eu substituo você.
Sem opções, se sentindo humilhada, ela apenas obedeceu, começando a engolir a cabeça, deixando que ele fodesse sua boca da forma que bem entendesse.
Hélio enfiava o pau o mais fundo que conseguia, fazendo Mila se engasgar e tossir, quase vomitando. O pau saia da boca dela com um fio de saliva mais grosso, espesso, que ia escorrendo pela blusa. Hélio voltava a enfiar o pau em sua boca, repetindo o processo, mostrando a ela quem estava no controle.
Vendo a má vontade de Mila, ele tirou o pau completamente de sua boca, fazendo ela se levantar e para provocá-la, a agarrou pelo pescoço:
– Você não quer mais ser minha putinha? Está insatisfeita com o nosso arranjo? Se quiser, eu libero você, a despeço e deixo que siga sua vida. A sarjeta lhe espera.
Mila mesmo se ajoelhou, entendendo o seu lugar, voltando a segurar no pau duro, e começando um boquete mais bem feito, arrancando gemidos verdadeiros de Hélio:
– Isso, puta … assim mesmo … agora eu senti firmeza … mama safada, mama … Que saudade disso, que putinha boqueteira.
Mila chupou a pica com mais vontade, fazendo Hélio gozar em minutos, com ele a obrigando a engolir, segurando sua cabeça e forçando o pau na sua boca. A porra escorria pelos cantos, melando seu queixo e pingando no chão, na blusa … Hélio só soltou quando percebeu que ela estava sem ar.
Ele deu alguns minutos de descanso para ela, mas logo voltou à ativa, mandando que ela o acompanhasse até o chuveiro. Mila apenas obedecia, derrotada, um objeto de satisfação para aquele homem que ela sempre soubera ser repugnante. Se despiu e entrou embaixo da ducha, esperando por ele.
"Como pôde destruir sua vida dessa forma? Como se sujeitou a tudo isto? Tinha o homem perfeito, maravilhoso, carinhoso e o matou. Sim! Suas atitudes e de Hélio foram as responsáveis por aquele acidente". Ela pensou, disfarçando a tristeza e a dor.
Hélio a colocou apoiada no box, apalpando seus seios e esfregando a cabeça da rola no cuzinho apertado dela. Espalhou um pouco de lubrificante no pau e começou a forçar a penetração, sem se preocupar com mais nada. Aos poucos, o membro ia sendo engolido, aceito. Ele deu um tapa mais forte na bunda dela e pediu:
– Rebola pro seu macho, mexe gostoso, tá quase tudo dentro.
Mesmo se sentindo humilhada pela situação de sua vida, Mila não podia negar o quanto gostava de sexo, o quanto estava carente e precisando ser bem comida. Hélio era um filho da puta, mas sabia meter gostoso. Ela levou os dedos ao grelo e começou a se masturbar, rebolando a bunda como Hélio pedira e começando a ser dominada pelo tesão. Adorava sexo anal, sentia muito prazer no ânus.
Hélio começou a estocar mais forte, os dedos dela já se movimentavam mais rápido no grelo. Socadas rápidas, profundas, arrancando gemidos desesperados:
– Puto gostoso … fode esse cu … mete forte, vai … seu desgraçado … eu te odeio …
Hélio socava mais fundo, tentando castigá-la, respondendo as provocações:
– Odeia nada! Adora dar esse cu pra mim. Fica doida quando eu te pego de jeito. Se for uma boa menina, eu fodo essa buceta a noite, te dou um tratamento completo. Sei que está precisando.
Sem forças para confrontá-lo ou negar a verdade das palavras dele, Mila se entregou ao orgasmo, massageando o grelo em desespero, sentindo as estocadas fortes e deliciosas em seu cu:
– Mete, desgraçado ... Tô gozando, seu puto … que piroca gostosa … me segura.
Hélio a abraçou apertado, metendo forte e sem dó no cu dela, fazendo suas pernas tremerem ainda mais. Por quase cinco minutos, ele estocou com virilidade, com rapidez e após quase dois meses de seca, gozou uma quantidade absurda de porra novamente, enchendo aquele cu apertado, vendo, ao tirar o pau de dentro dela, tudo aquilo voltando, escorrendo pelas pernas dela. Era muita coisa acumulada. Ele até se sentia mais leve.
Se lavou, sem se importar com Mila sentada no chão do box, recuperando as forças. Ao sair, ainda a avisou:
– Não demore, nosso almoço será em uma hora, vá se arrumar, pois você irá comigo. Se ele for dos nossos, você será o presente dele. Como nos velhos tempos.
Mila se lembrou de um fato importante:
– Ele não irá sozinho, disse que veio para o Brasil com uma acompanhante.
Hélio debochou:
– Esses caras adoram trazer uma putinha para impressionar. Deve ser alguma acompanhante de luxo. Vamos sondá-lo, se houver a oportunidade, eu faço o convite. De qualquer forma, fique preparada.
Enquanto se arrumavam, Hélio fez diversas perguntas à Mila sobre Vincenzo. Inteligente, Hélio queria se preparar, mas era arrogante e tinha a certeza de que um moleque de vinte e poucos anos jamais seria páreo para ele em uma negociação. Estava confiante e disposto a estabelecer as bases para futuros negócios. Estava de olho em seus associados.
{…}
No hotel, enquanto esperava Anastasia terminar de se arrumar, Vincenzo e ela conversavam. Ele disse:
– Ele mordeu a isca direitinho. Ele nem imagina que suas pesquisas estão todas viciadas, que nós direcionamos todos os seus esforços. Quando ele descobrir que é apenas uma empresa de fachada, uma organização criada para dar credibilidade a nossa vingança, já estaremos longe, com novos nomes e vivendo nossas vidas. Agora falta pouco, só temos que manter o foco.
Anastasia acreditava piamente em Vincenzo, mas assim como Bá e Mirian, sempre o alertava:
– Nau esquecer quem é sua pai. Às vezes, você até lembrar ela um pouca. Nau tire as pés do chau, enganar a enganador nau ser fácil. Manter sempre esse em mente.
Ele admirava o corpo lindo e esbelto dela, naquele lindo conjunto rendado de calcinha e sutiã. Ele a abraçou e deu um beijo demorado em sua boca:
– Eu não sou como ele, eu jamais menosprezaria uma mente tão sórdida como aquela. Nunca mais me compare com ele outra vez.
Anastasia percebeu seu erro e tentou consertar:
– Me expressar mal. Pedir perdau, você ser bem diferente de sua pai. Desculpa eu, falar sem pensar.
Vincenzo a abraçou forte, sabendo que ela não tinha a intenção de ofendê-lo. Deu mais um beijo em sua boca e deixou que ela terminasse de se arrumar. Como estava muito bem-vestido com seu terno italiano, manteve a roupa, dando a Anastasia o tempo que ela precisava para terminar sua produção.
O resultado estava perfeito: uma calça estilo pantacourt, mais solta, de tecido leve, verde oliva, combinada com uma sandália de tiras. A blusa estilo cropped, de cor mais alegre, um rosa vibrante, completavam o visual perfeito para um almoço. O cabelo amarrado num coque alto e a maquiagem leve, faziam seu rosto se destacar ainda mais. Anastasia estava chique, elegante, sem perder a jovialidade, contrastando com o visual clássico de Vincenzo. Os dois formavam um lindo casal, preparados para mexer profundamente com Hélio. Sabiam o efeito que queriam causar, tudo era calculado.
Saíram do hotel e chegaram ao restaurante rapidamente, cinco minutos após o horário marcado. Sabiam que Hélio era um homem pontual e já estaria esperando por eles. Se identificaram para a recepcionista e foram acompanhados por ela até o local da reserva. Assim que adentraram ao salão, já perceberam que Hélio os encarava com os olhos arregalados, sem acreditar que era Anastasia a acompanhante dele.
Quando chegaram à mesa, Hélio não conseguia disfarçar sua cara de espanto. A coincidência armada estava superando as expectativas de Vincenzo. Ele se manteve no personagem, enquanto Anastasia também fazia o seu papel, se mostrando surpresa ao reencontrar Hélio. No seu inglês perfeito, ela disse:
– Você aqui? É você o dono da empresa que meu noivo está comprando? Que mundo pequeno …
Mila estava ainda mais surpresa com tudo aquilo. Ela olhava para Anastasia e depois para Hélio, sem acreditar. Se não fossem os olhos verdes e a tatuagem no pescoço, ela juraria que era Yelena quem estava diante dela. Sem conseguir se conter, querendo entender o que acontecia, ela tentou tirar Hélio de seu transe:
– Quem é essa mulher? Você a conhece?
Pela primeira vez na vida, Hélio teve dificuldades para encontrar as palavras, mas conseguiu, a muito custo, se recompor:
– Essa é Anastasia, a irmã de Yelena. Eu te explicarei depois.
Se segurando para não rir, Vincenzo tentou controlar o ambiente ao redor, aproveitando a reação perfeita de Hélio à sua armação:
– O que está acontecendo, alguém pode me explicar?
Anastasia também se manteve no personagem:
– Esse era o marido da minha falecida irmã, seu nome é Hélio. A mulher eu não sei quem é. Foi com ele que eu me encontrei, isso é mesmo possível? É muita coincidência.
Era a vez de Vincenzo explicar:
– Essa é a moça que negociou comigo de manhã, namorada do falecido filho dele, sua nora. Você perdeu sua irmã no mesmo acidente, assim como ele perdeu um filho e ela o seu amor.
Anastasia foi gentil com Mila, se aproximando dela, colocando a mão em seu ombro:
– Eu sinto muito mesmo por vocês. Compartilhamos a mesma dor. Até agora não acredito que minha irmã se foi. Chorei muito de ontem para hoje no hotel, quase não tive forças para acompanhar meu noivo até aqui.
Mila se levantou:
– Meus sentimentos também. Não foi só você que perdeu a Lena, ela era incrível, minha melhor amiga. Nós também a perdemos, os dois fazem muita falta. Eu até hoje não consigo acreditar.
Hélio não se conteve com a situação, eram muitas coincidências. Ele perguntou para Anastácia:
– Anastácia, como vocês se conheceram? O Vincenzo também conhecia a Yelena?
– Não, Hélio, quando eu conheci o Vincenzo a Yelena já morava no Brasil. E como eu o conheci, bem, foi um negócio mal sucedido.
Hélio continuava de olhos arregalados com tamanha coincidência:
– Não entendi.
Anastasia, sempre se mantendo no personagem, e com seu discurso exaustivamente treinado, explicou:
– Não sei se você sabe, mas o Vincenzo é o principal negociador do grupo de investidores que ele representa. Ele foi para a Rússia negociar a compra da empresa de gás que eu trabalhava como secretária da diretoria. O negócio não deu certo pois os donos, russos idiotas, foram gananciosos. Entretanto, se não deu certo para eles, deu certo para mim. Logo após a primeira reunião ele me convidou para jantar. Obviamente eu não aceitei. Eu sou um pouco arisca quando se trata de estrangeiros. Sei muito bem o que eles pensam das mulheres russas. Mas, com seu jeito elegante, tranquilo e confiante, eu não resisti e aceitei o segundo convite. Daí em diante, foi difícil resistir ao seu charme.
Hélio ouviu atentamente e, disfarçando sua desconfiança, pediu licença e saiu da mesa, indo ao toalete, se certificando de que não era seguido. Preocupado, andando de um lado para o outro, pensava: "tem coisa errada aí, isso não é possível. São muitas coincidências …" nervoso, ele pegou o celular e ligou para um de seus homens de confiança:
– Me encontre em casa em meia hora, tenho trabalho para você.
Hélio lavou o rosto, respirou fundo e disfarçando suas suspeitas, voltou à mesa:
– Me desculpem, mas aconteceu um imprevisto e eu vou precisar deixá-los com a Mila. Ela está autorizada a negociar por mim.
Ele pediu que Mila o acompanhasse até a entrada do restaurante, informou a atendente que aquele almoço era por sua conta e como era um cliente famoso, conhecido, amigo dos proprietários e um dos financiadores do negócio, ela não criou problemas, estava acostumada ao jeito dele. Enquanto entregava o ticket ao valet, instruiu Mila:
– Ganhe tempo para mim, ouça o que eles têm a dizer e tente gravar com o celular. Não feche o negócio, os deixe na espera, mas dando a entender que será feito. Diga que vamos nos reunir novamente para fechar o acordo. Eu preciso saber mais sobre eles, meu sexto sentido está apitando.
Mila entendeu e não fez mais perguntas. Enquanto Hélio partia, ela voltou à mesa:
– Nos desculpem! Um problema sério que requer a atenção do Senhor Hélio ocorreu e ele precisou sair às pressas. Como empresário, eu imagino que você entenda. Eu tenho autoridade para negociar, podemos seguir em frente.
Vincenzo previra aqueles acontecimentos, mas não o resultado. Confiava que Mirian estava mantendo a vigilância e torcendo para que Hélio fosse para casa planejar seu próximo passo. Agora precisava esperar, manter Mila e Hélio achando que dominavam o tabuleiro naquele jogo de xadrez. O que poderia fazer naquele momento, era continuar tentando readquirir sua empresa, o suor do seu trabalho. Simpático, sorrindo, ele respondeu:
– Sem problemas, eu entendo perfeitamente. Sobre a minha contraproposta, o senhor Hélio achou razoável?
As negociações continuaram, mesmo com Mila não conseguindo parar de olhar para os olhos dele e sentindo sua buceta ensopar, com Anastasia disfarçando a imensa vontade de pular no pescoço dela e todos se mantendo em seus personagens.
{…}
Hélio não demorou a chegar em casa, já sendo esperado por seu homem de confiança. Os dois foram para o escritório, sendo acompanhados a distância pelos olhos e ouvidos atentos de Mirian, do outro lado da cidade, pelo sistema de monitoramento da mansão. A maior arma de controle de Hélio, era, naquele momento, sua maior desvantagem na guerra.
Muito nervoso, praguejando baixinho, ele ordenou a seu homem:
– Eu quero a ficha completa desse tal Vicenzo. Aqueles olhos são muito familiares, me lembram pessoas que eu quero esquecer. E da Anastasia, a irmã da minha falecida esposa, também.
Hélio se serviu de uma dose dupla de whisky, antes de voltar a dar suas ordens:
– Mas quero pra ontem. Mande alguém a Itália se for preciso, quero saber tudo. Do nascimento até hoje. Essa irmã também, mande alguém até a Rússia, entre em contato com a família, descubra tudo. Pode usar os dados que já temos na nossa pesquisa sobre a empresa dele, seus dados pessoais estão lá, foram enviados para ser feito o contrato.
Hélio pensou um pouco, se lembrando rapidamente:
– Para ela, pode usar o computador da minha esposa para pesquisa. Os contatos da família devem estar nele, já que era integrado com o celular. Não importam os custos, apenas faça. E rápido.
Seu homem de confiança se foi, pronto para começar imediatamente a cumprir as ordens do patrão.
Hélio passou o resto do dia trancado no escritório, pensando, tentando entender o que acontecia. Mesmo quando Mila chegou e após uma explicação detalhada de toda a negociação no restaurante, ele se manteve apreensivo, continuando a beber no escritório.
No meio da noite, foi surpreendido por uma ligação de um número desconhecido. Ele atendeu e a pessoa rapidamente se identificou, falando em inglês naquela voz que ele conhecia:
– Senhor Hélio, é a Anastasia. Boa noite, o senhor pode falar?
Ele estava curioso com aquela ligação:
– Que bom que ligou. Eu queria mesmo falar com você …
O interrompendo, Anastasia foi direta:
– Eu gostaria de lhe fazer um pedido, posso?
Hélio ficou ainda mais curioso:
– Claro que sim. Se estiver ao meu alcance.
Anastasia continuou:
– Meu noivo pretende comprar sua empresa e continuar no Brasil, mas mesmo assim, eu preciso voltar para casa, dar pessoalmente a notícia a minha mãe e irmãs. Eu soube pela Mila que os corpos de Yelena e de seu filho foram cremados, o senhor se importaria de me entregar as cinzas de Yelena, para que ela volte pra casa comigo? Minha mãe poderia se despedir da filha, seria uma atitude muito altruísta do senhor.
Hélio pensou um pouco e criou coragem para perguntar:
– Se o negócio for fechado, acredito que você pretenda morar no Brasil com seu noivo?
Com a chamada no viva-voz, Vincenzo fez sinal para que ela concordasse. Anastasia respondeu:
– Ah, sim! Essa é a intenção. Devemos nos casar na Europa, perto de nossas famílias, mas depois, se tudo der certo, pretendemos sim morar aqui.
Hélio concordou com o pedido, mas tentou enrolar:
– Eu não vejo problema em lhe entregar as cinzas, acho que seria a vontade da minha Yelena. Assim que terminarmos essa negociação, podemos fazer uma última cerimônia para ela e meu filho e eu entrego as cinzas a você. Pode ser assim?
Vincenzo sorriu para Anastasia e ela concordou:
– Tudo bem. Por mim, sem problemas. Obrigada por ceder a esse meu capricho.
Os dois se despediram e desligaram. Hélio estava ainda mais confuso, parecendo acreditar que Anastasia era uma pessoa genuína. O pedido era muito razoável para ser falso. Mais do que nunca, ele estava ansioso pelo resultado da investigação que pediu. Precisava aguardar, enrolando Vincenzo até ter as informações que solicitou. Sabia que sua equipe era competente e não achava que os resultados iriam demorar.
{…}
No hotel, assim que receberam de Mirian o relatório sobre Hélio, Vincenzo e Anastasia ficaram preocupados. Era uma situação que havia sido prevista, mas por outro lado, poderia colocar tudo a perder. Uma investigação sobre Vincenzo seria tranquila, ele usava uma identidade real, de uma pessoa que realmente existiu. O Vincenzo verdadeiro, o dono daquele nome, já havia falecido, mas seus dados foram vendidos e sua morte encoberta. O verdadeiro Vicenzo, criado em um orfanato, formado em engenharia de produção pela universidade de Torino, tinha uma linha do tempo bastante solitária. Ele morreu logo após se formar, o resto foi criado para que Toni se transformasse nele, criando um passado totalmente verdadeiro.
Mas a família de Yelena, e a verdadeira Anastasia, deveriam estar vivendo suas vidas tranquilamente na Rússia. Yelena se transformou para parecer com sua irmã. A única diferença entre as duas, gêmeas univitelinas, era a cor dos olhos e a tatuagem. Vincenzo sabia que uma investigação destas, promovida por seu pai poderia acontecer. Ele previu este movimento, mas achou que não valeria a pena alertá-los e contar sobre o plano sem que houvesse uma ameaça. Seriam mais pessoas a saber o que eles planejavam e isto poderia ser perigoso. Principalmente por não os conhecer e saber se poderia confiar.
Ele conversou sobre estas dúvidas com Anastácia e a única opção, conhecendo bem sua mãe e suas irmãs, era contar a verdade e comprar a lealdade de todas elas. Para uma família empobrecida por conta da situação do pais, mas que amava, sabia que poderia contar com a ajuda das irmãs e da mãe pela quantia certa. Precisava também que a verdadeira Anastasia saísse de cena por um tempo.
Com a Rússia seis horas à frente do Brasil, sua melhor opção era ligar de madrugada, pegando todos em casa bem cedo, antes de saírem para o trabalho. Por volta de uma da manhã, fez a chamada de vídeo pelo Skype, aplicativo que sempre usava para falar com a família, aproveitando para matar a saudade.
Yelena abriu seu coração para a família, contando toda a história, o motivo de ter feito tudo o que fez, contou o quanto a traição a machucou, mas também, como reencontrou o amor logo em seguida, sendo honesta, dizendo somente a verdade, e encontrando suas irmãs dispostas a cooperar, sem precisar prometer mundos e fundos.
A mãe não pediu nada, apenas perguntou se após tudo acabar, Yelena poderia mandar um pouco de dinheiro mensalmente, para ajudá-las a passar pela crise na Rússia e cobrou uma visita, dizendo que estava preocupada e com muita saudade da filha. Duas irmãs pediram novos celulares, uma outra pediu um notebook para ajudar com as aulas na faculdade.
A negociação que Yelena pensava ser a mais difícil, com a verdadeira Anastasia, acabou se transformando numa sessão de risos da irmã gêmea, que não acreditava na loucura de Yelena e seu agora namorado. Como estava desempregada, a verdadeira Anastasia acabou aproveitando a situação para realizar um de seus sonhos, conhecer a África. Com o financiamento da viagem, que não era tão caro, custeado por Toni e Yelena, agora Vincenzo e Anastasia, a irmã gêmea só tinha uma dúvida:
– Como você conseguiu documentos com o meu nome?
Yelena precisou ser honesta?
– Uma empresa especializada conseguiu uma segunda via dos seus documentos verdadeiros. Somos idênticas e agora com seus olhos, foi muito fácil. Eu estou lhe enviando uma identidade alternativa, uma segunda opção feita para mim. Gostaria que você a usasse por enquanto, para que a gente não precise correr nenhum risco de sermos expostas.
Anastasia estranhou, perguntando:
– Você me garante que não vou ter problemas? Eu confio em você, mas você conhece o nosso país.
Yelena a acalmou:
– Você só vai usá-la na África. Fica tranquila. Esses documentos são verdadeiros.
Com o problema mais grave resolvido, Yelena se despediu de todas, prometendo que Vincenzo enviaria o dinheiro naquele mesmo dia. A verdadeira Anastasia precisava partir o mais rápido possível. Foi difícil para Yelena se despedir das irmãs e da mãe, pois agora, ficariam um bom tempo sem se falar, uma atitude necessária para que tudo corresse bem e para ela se manter protegida.
Assim que o dinheiro entrou em sua conta, a verdadeira Anastasia, junto com sua melhor amiga, pegou o trem de Narvskaya, na Rússia, até o aeroporto de Lentoasema, em Helsinki, na Finlândia. O voo até Oslo, na Noruega, dava início à viagem dos sonhos da verdadeira Anastásia, agora Ekaterina, seu novo nome temporário. Os documentos chegariam em dois dias na Noruega e ela poderia seguir sua viagem.
{…}
Por onze dias, Mila manteve as negociações, sempre solicitando uma nova informação, enrolando todo o processo. De vez em quando, para passar credibilidade, Vincenzo fingia se estressar e dava a entender que ia desistir da compra, fazendo com que Hélio interferisse, brincando com os dois, mas sempre sabendo a hora de dar um passo atrás e parar de pressionar.
No décimo segundo dia, o homem de confiança de Hélio trouxe as informações que ele aguardava ansiosamente. Aquele dossiê estava bem completo, com muita informação, mostrando uma Anastasia e um Vincenzo normais, pessoas verdadeiras, que eram tudo o que aparentavam ser. Depoimentos de freiras que cuidaram de Vincenzo no orfanato em Torino, áudios de conversas gravadas com a mãe e com as irmãs de Anastasia, com filmagens feitas na casa, mostrando fotos dela e das irmãs pela casa.
Hélio não precisava mais se segurar, era hora de colocar seus planos em ação. Vender a empresa traria Vincenzo para seu lado, fazendo com que Anastásia continuasse no Brasil. Era hora de Mila trabalhar, e se ela não conseguisse seduzir o italiano, Hélio iria usar suas armas de sempre: a intimidação, a enganação e o poder do dinheiro. Era hora de fechar o negócio, fazer o convite para a sua festinha e cercar Vincenzo por todos os lados.
Quando Hélio queria uma coisa, ele não media esforços ou custos para conseguir. Era hora de voltar a ser o Hélio implacável de sempre, o vitorioso, o conquistador.
Continua …
Consultoria, revisão e co-autoria: Id@