Doce vingança 8.

Um conto erótico de Bárbara
Categoria: Heterossexual
Contém 4452 palavras
Data: 01/06/2023 20:00:17
Última revisão: 01/06/2023 20:02:35

Consultoria, revisão e co-autoria: Id@

Olá, eu sou a Bárbara. Para o Toni, e por algum tempo, para o Hélio também, apenas Bá. Talvez vocês estejam se perguntando o motivo de eu estar aqui, narrando essa parte da história para vocês, mas na verdade, é bem simples, pois sem o que eu sei, sem o que somente eu conheço, vocês teriam apenas um recorte da realidade, uma vaga curiosidade de tudo o que aconteceu. Antes de contar ao Toni, vou dividir esse segredo com todos vocês.

Pelo que a minha família me disse, nós servimos a família Kouris desde a Grécia. Meus avós acompanharam a família na mudança para o Brasil. Assim como eu, minha avó, e minha mãe depois dela, e antes de mim, serviram como governantas. Meu avô e meu pai também, servindo como uma espécie de faz tudo. Eram motoristas, jardineiros, garçons, mordomos … e o que precisassem que fosse.

A família Kouris chegou ao Brasil na virada do século, no ano de 1900. O primeiro Kouris, Andreas, era o avô de Hélio. Este por sua vez, veio a se casar com uma jovem filha de um senhor do café do Vale do Paraíba, da família Torres. A família Torres Kouris, por um erro do cartório no nascimento do pai de Hélio, Hermes, passou a ser Kouris Torres.

É com o Sr. Hermes, o pai de Hélio, que os acontecimentos importantes para essa série começam a se desenrolar. No sexto ano de casamento, quando Hélio tinha apenas quatro anos, sua mãe veio a falecer de uma doença que hoje seria de fácil tratamento. Aquele acontecimento foi determinante para transformar um homem até então alegre, numa pessoa fria, deprimida e muito rigorosa com o filho. O sofrimento transforma as pessoas.

Assim como Toni, Hélio também teve uma criação solitária, com foco nos negócios da família, sem tempo para diversão ou coisas comuns aos jovens daquela época. Como governanta em treinamento, me coube ajudar minha mãe a cuidar do jovem patrão. Fizemos o nosso melhor, e até a maioridade, Hélio era um garoto doce e sonhador, apesar do rigor com que era tratado pelo pai.

Como parecia ser o mal daquela família, o senhor Hermes também desenvolveu uma doença de difícil tratamento, tendo que apressar a instrução de seu filho sobre os negócios que lhe deixaria como herança. Nessa mesma época, uma das empregadas da antiga mansão se casou, engravidou e pediu demissão, deixando em seu lugar, sua irmã mais nova. Aquela morena de apenas dezenove anos, mexeu profundamente com Hélio. Me arrisco a dizer que foi amor à primeira vista.

Era uma jovem belíssima. Seu cabelo negro, num corte Chanel de franja curtinha, típico da época, era uma graça, emoldurando o rosto de traços finos e dando destaque aos olhos grandes e negros. Seu corpo já havia se desenvolvido por completo, fazendo com que sua bunda redonda e volumosa e as coxas grossas, chamassem a atenção por onde passasse. Ela era minha companhia na hora das compras, e os homens chegavam quase a quebrar o pescoço, tentando acompanhá-la com o olhar. Os seios eram pequenos, mas bem formados, delicados. Ninguém resistia ao seu charme. Até o meu próprio pai, um senhor já de idade avançada, eu pegava olhando de vez em quando.

Hélio estava com vinte anos nessa época, e por meses, eu o assistia admirando a jovem empregada de longe, com medo de ser flagrado pelo pai. O Sr. Hermes dizia: "empregados são seus maiores aliados, mas quando descontentes, têm o poder de uma bomba atômica. Pague o que é devido, trate-os com respeito, mas jamais se envolva com um deles".

A primeira conversa dos jovens, no jardim, enquanto Hélio estudava, foi por iniciativa dela:

– Olá, jovem patrão! A tarde está muito quente, quer que eu lhe traga um refresco?

Sem perceber, ela jogava seu charme. Não era proposital, era apenas o jeito dela. Inexperiente, inocente, ela não tinha a mínima noção do quanto era sedutora. E seu olhar de admiração para Hélio, um jovem muito bonito, deixava claro a sua curiosidade e atração por ele.

Hélio era alto, cabelo e barba loiros, quase chegando ao ruivo, sempre perfeitamente aparados e penteados. Seus olhos azuis pareciam refletir o céu sem nuvens. O corpo formoso, de postura estoica, era uma tentação para uma jovem moça. Até as mais velhas pareciam sonhar acordadas com aquele jovem galante, que mais parecia um príncipe dos contos de fadas. Por mais educado e letrado que fosse, aquela jovem e bela morena, tinha o dom de deixá-lo abobado:

– Ah … sim … po, po, por favor! Aceceito …

Era engraçado, um prazer culposo, confesso, assistir o nascimento daquela paixão. Nessa época eu já tinha perdido os meus pais há algum tempo, casado e me divorciado, já era a governanta principal e me ocupava de educar o jovem Hélio e cuidar da medicação do Sr. Hermes.

A piora no estado de saúde do velho me obrigou a desligar por algumas semanas dos cuidados ao Hélio. Eu ouvi alguns rumores sobre ele e a jovem empregada, mas não tinha como dar a devida atenção.

Foi numa tarde comum, em que eu precisava descer ao porão, que presenciei a cena que mudaria aquela família para sempre: Hélio, entre as pernas de Mirian, fodendo sua bucetinha. Minha intenção era gritar, parar com aquilo, mas uma conversa entre os dois, me fez desistir. Mirian disse:

– Por favor, seja carinhoso, é a minha primeira vez.

Hélio, acariciando o rosto dela, e beijando carinhosamente sua boca, respondeu:

– Eu amo você, jamais a machucaria.

Aquelas palavras me fizeram parar a aproximação, me virar e sair dali sem fazer barulho, respeitando a privacidade dos dois. Apesar de jovens, eram dois adultos. Por semanas, aqueles encontros se repetiram, sempre escondidos, com Hélio morrendo de medo do pai descobrir.

Mirian sabia o seu lugar e nunca pressionou ou exigiu que ele assumisse aquela relação. Com o pai sofrendo de uma doença terminal, era apenas uma questão de tempo e os dois estariam livres para viver aquele amor.

Mas como a inveja é a mãe da maldade e a alegria dos outros ofende aqueles que se sentem rejeitados, não tardou para que um dos empregados, constantemente rejeitado por Miriam, chegando até a assediá-la algumas vezes, fizesse com que o caso escondido dos dois chegasse ao conhecimento do Sr. Hermes. Furioso, determinado a dar um fim naquela loucura, ele exigiu que Hélio desse fim aquela insanidade.

Pela primeira vez, Hélio criou coragem e enfrentou o pai. Mas o velho era astuto, e tendo a certeza de que o filho estava decidido a ir em frente, ameaçando até a sair de casa se o pai se colocasse contra a relação, Hermes apenas aceitou, deixando Hélio se achar vitorioso e assumir para todos o namoro com Mirian. Os dois estavam radiantes, vivendo felizes o sonho, sentindo-se realizados.

Hermes não era do tipo de homem que se deve enfrentar, sendo vingativo, calculista e inescrupuloso na defesa de seu patrimônio. Para ele, Mirian não era uma garota inocente, mas uma golpista fria, brincando com os sentimentos do seu filho idiota. Ele, com a ajuda do ressentido funcionário, armou o plano perfeito, com a intenção de destruir a reputação da garota e transformar em ódio o amor que o filho sentia.

Poucas semanas depois, ouvi gritos enfurecidos no porão, Hélio desesperado, chorando, subindo as escadas. Tentei alcançá-lo, mas ele entrou no carro apressadamente e acelerou. Só me restava descer ao porão.

A cena que encontrei, o rapaz se vestindo e Mirian nua, deitada depois de uma provável relação sexual. Entendi o desespero de Hélio. O rapaz passou por mim correndo, com medo da minha reação. Antes de sair, ele pegou alguma coisa que eu não consegui ver em uma das prateleiras mais baixas.

Mirian parecia dormir pesado, sem reagir. Tentei acordá-la, pedir que se vestisse e me contasse o motivo de ter traído de forma tão cruel quem brigou pelo amor dela, desafiando o próprio pai. Ela estava toda gozada, suja e descabelada. Ela parecia entorpecida, mal reagindo às minhas tentativas de acordá-la. Eu não conseguia acreditar que Hermes armou uma situação tão grave para separar o filho dela. Só podia ser ele, era sua forma comum de agir. Aquilo era inaceitável.

Realmente brava, sem conseguir fazer Mirian reagir, disposta a arriscar o meu emprego, subi até o quarto daquele velho asqueroso, doente tanto física, quanto mentalmente. Só um ser desprovido de caráter poderia fazer aquilo com o próprio filho. Nem bati, apenas fui entrando:

– Como você pôde armar isso? Seu filho saiu daqui aos prantos. Nem morrendo você consegue deixar de ser tão mau?

O velho estava num dia bom:

– Vem aqui! Vou te mostrar uma coisinha antes de você me acusar. Eu estava defendendo o meu filho daquela golpista.

Com uma câmera JVC de gravação em VHS ligada a televisão, ele assistia o infortúnio do próprio filho:

"Na despensa do porão, estranhamente bêbada, Mirian esperava alguém. Há semanas que ela e Hélio deixaram de se encontrar naquele local. Após o expediente de serviço, Hélio saía com Mirian, fazendo o que queriam fazer bem longe da mansão.

Um dos jardineiros, que Mirian vivia rejeitando, mas que nunca contou para Hélio sobre aquilo, com medo do que pudesse acontecer, entra na despensa. Ela estava muito diferente, parecendo ter dificuldades para enxergar com clareza ou até mesmo ter ciência do que estava realmente fazendo. Ela diz:

– É você, meu amor?

O rapaz dá uma risada cínica:

– Sim, minha linda! Sou eu mesmo.

Ela pergunta:

– O que estamos fazendo aqui?

Ele responde:

– Eu estava com saudade, tem tempo que a gente não vem aqui embaixo.

Ela sorri, com o rosto meio torto, falando arrastado, meio grogue:

– Então tá. Se é aqui que você quer …

O rapaz começa a tirar sua blusa, chupando seus peitinhos pequenos, dando tapas na bunda. Ela reclama:

– Você está diferente, mais agressivo …

Ele vai virando Mirian de costas para ele:

– É saudade, amor … arrebita esse bundão para mim, vai.

Ela só obedecia, fazendo tudo o que ele pedia. Mas seus movimentos não eram naturais, ela estava com dificuldades de se manter em pé. Ela pediu:

– Podemos nos deitar? Estou cansada, minhas pernas estão pesadas …

Mirian vai se abaixando, se deitando no chão mesmo, o rapaz a pega por trás, encaixando o pau na sua xoxota e forçando a penetração. Ela não parece reagir, aceitando tudo sem protestar. Não dá pra saber se ela está gostando, ou aceitando, ou mesmo se está acordada.

O rapaz mete por quatro ou cinco minutos, tira o pau de dentro dela e goza em sua costas e bunda, virando Mirian para ele, se deitando sobre ela em seguida e beijando sua boca, no mesmo instante em que Hélio entra na despensa do porão, paralisando pela cena que encontra. O rapaz, fingindo que não o vê, diz:

– Vamos, meu amor! O corno cego e idiota pode chegar em casa e acabar nos pegando …

Hélio explode:

– Sua vagabunda, o meu pai tinha razão. Você não presta, é apenas uma golpista.

Ele sai correndo do foco da câmera.".

O velho, sorrindo em triunfo, me encara:

– Eu disse, não foi? Vocês acreditam agora?

Eu sei o que vi, mas as provas estão a favor dele. Eu digo:

– Você armou isso, não foi? Ela está visivelmente bêbada, possivelmente drogada …

Ele me interrompe:

– Não! Isso já acontecia antes do Hélio saber. Mais de um empregado disse a mesma coisa. Tenho testemunhas.

É lógico que ele pagou aos empregados para falarem isso. Todos morriam de medo do velho. Ele não liga para quem vai coagir ou prejudicar, contanto que seus objetivos sejam cumpridos.

Eu desisto de discutir, volto ao porão e tento ajudar Mirian. Com muita dificuldade consigo acordá-la e com a ajuda de umas das cozinheiras, damos um banho nela e a mandamos para casa.

É claro que eu sou obrigada a despedi-la, por ordem do velho, mas conto a ela tudo o que aconteceu, o que ele tem gravado e a aconselho a tocar sua vida, esquecendo daquela família e seguindo em frente. Em um estranho momento de lucidez, ela diz:

– Melhor assim, era um amor impossível.

O rapaz também sumiu, com os bolsos cheios, tenho certeza.

Por dois meses, Hélio teve que lidar com a tristeza da traição. Desolado, sozinho, ele sente o baque, se entregando a bebida e a tristeza por esse período.

Com os negócios parados, e a constante visita dos advogados, ele redescobre o prazer de viver ao se dar conta que nasceu para ganhar dinheiro, que é bom naquilo, que tem visão estratégica e uma sensibilidade única para descobrir boas oportunidades de negócio. Cercado pelos funcionários do pai, incentivado pelo velho, sentindo-se bem outra vez, ela assume a mesma postura arrogante e ameaçadora de Hermes, parecendo trilhar o caminho escolhido por ele. Se sentindo poderoso, aprendendo a mandar e exigir.

Quando se achava curado, pronto para seguir em frente, no quarto mês após a fatídica traição, Mirian, triste e de olhar cabisbaixo, o esperava no portão da Mansão. Ao vê-la, sentimentos confusos tomaram conta de Hélio. Raiva, confusão, tristeza, perda … mas também, um coração acelerado, um suor frio. Ele parou o carro e saiu, disposto a enfrentá-la:

– O que você quer? Não temos nada para conversar. Suma daqui, tenho certeza de que a sua rescisão foi justa.

Mais magoada do que ofendida, ela soltou a bomba:

– Eu estou grávida.

Hélio olha para ela, dá uma sonora risada e diz:

– Eu sabia, meu pai me avisou. – Com ódio no olhar, ele a encarou. – Cadê o seu amante? Só pode ser dele essa criança. Do corno aqui, você não tira um centavo sequer.

Mirian resolveu sair da defensiva e o enfrentar:

– É seu. Eu fui uma vítima, foi o seu pai que mandou ele fazer aquilo comigo. Fui drogada na cozinha da sua casa e violentada no porão. É isso que você quer que eu diga na delegacia? Querendo ou não, acreditando ou não, esse filho é seu. – Ela se afasta, indo embora, mas se vira e ainda diz: – Quando nosso filho nascer, o exame de DNA irá mostrar quem tem razão.

Mirian saiu dali arrasada, caminhou chorando até o ponto de ônibus, dois quilômetros à frente. Hélio não sabia como reagir, entrando em casa destruído, revivendo sentimentos que achava ter superado.

Sem conseguir disfarçar a tristeza, encontrou o pai na sala, conversando com seus funcionários. Naquela época, já muito debilitado, o velho continuava cruel como sempre fora. Sabia o que aconteceu no portão, jamais deixaria de ter olhos sobre Hélio. Mesmo com a dificuldade na fala, foi direto:

– O que aquela pilantra estava fazendo aqui? – Ele testou o filho.

Hélio não queria preocupá-lo:

– Eu já resolvi, não precisa pensar nisso.

O velho deixou que ele fosse para o quarto e assim que ele saiu, chamou um de seus colaboradores mais leais:

– Então ela está grávida … vamos ter que ser mais radicais. Você fez o que eu mandei?

O homem, obediente, se aproximou:

– Sim, senhor! Já está tudo pronto.

O velho, com um sorriso debochado, sentindo prazer no que fazia, ordenou:

– Faça a ligação, vamos dar um fim nisso.

Eu assistia a tudo sem poder fazer nada, não tendo como proteger aquela menina tão inocente da crueldade daquele velho sádico. Suas ações definiriam todo o futuro de Hélio, da sua ex amada e de seu futuro filho.

No lado pobre da cidade, como era muito comum, duas viaturas policiais chegaram à casa da família de Mirian, entrando com brutalidade, rendendo e aterrorizando os moradores. Uma breve procura, autorizada por mandado foi feita e num compartimento escondido do piso de tacos quase apodrecidos do quarto, que nenhuma daquelas pessoas sabiam existir, as joias da falecida esposa da família Kouris Torres foram encontradas. Aquelas joias, avaliadas em milhares de reais, talvez milhões, eram a prova que faltava para Hélio se convencer das intenções maldosas da sua jovem ex-namorada.

De alguma forma, que nem eu consegui descobrir, o velho conseguiu subornar alguém, provavelmente o dono da casa, que também morava naquela comunidade, para “plantar” as joias na casa em que Miriam e sua família moravam.

Aquele foi o momento da virada definitiva, onde todo o sentimento, ainda queimando como dúvida, se transformou em um ódio mortal no coração de Hélio. A jovem Mirian foi presa, espancada na cadeia a mando de Hermes, mas por um milagre, o feto resistiu, mesmo contra todas as possibilidades. Aquela jovem e inocente garota aprendia, da pior forma, que o mundo era um lugar cruel e que o dinheiro era o rei, corrompendo a todos, principalmente aqueles que não o tinham.

Enganado, manipulado, o jovem Hélio comemorava com o pai aquela prisão. Feliz por ter se livrado daquele golpe, achando que nunca mais ouviria falar outra vez daquela garota que o traiu e o enganou de forma tão premeditada e planejada.

Poucos dias depois, fechando com chave de ouro aquela fase de sua vida, Hermes e Hélio receberam na mansão, da boca do próprio delegado, a notícia de que um jovem rapaz, amante e cúmplice de Mirian no roubo das joias, fora baleado e morto pela polícia num confronto. Ele reagiu a voz de prisão, tentou escapar e atirou contra os policiais, que revidaram, dando a fim a vida daquele "marginal".

Nos três meses seguintes, Hélio se tornou a cópia do pai. Aprendendo seu jeito de lidar com as coisas, tomando o controle dos negócios da família. Aqueles foram os três meses restantes de vida do velho, pois a doença piorou drasticamente e sua morte acabou sendo um descanso do sofrimento.

Hélio sentiu o golpe, mas instruído pelo pai, trocou o sofrimento pelo trabalho, começando uma revolução em tudo o que a família construiu. Mudou radicalmente os investimentos, parou de produzir e começou a especular, ganhando ainda mais dinheiro com participações em empresas e no mercado de ações. Diversificou e espalhou sua fortuna, aprendendo a aproveitar mercados em crise para ganhar cada vez mais.

Apesar de tudo, Hélio se tornara um homem triste e vazio, assim como o seu pai. Seu tratamento mudou até comigo, não existindo mais a Bá, apenas a senhora Bárbara, a governanta que o criou.

Meses se passaram, e a inexperiência para o mal fez Hélio se esquecer de Mirian. Sentindo-se vingado com a sua prisão, sabendo que no Brasil julgamentos costumam demorar e Mirian ficaria um bom tempo atrás das grades, o detalhe mais importante de toda aquela história acabou ficando em segundo plano: a gravidez.

Foi numa manhã comum de segunda-feira, meses depois, sem que ninguém esperasse, que nós recebemos na mansão a visita de um oficial de justiça com uma intimação em mãos. Hélio o recebeu na sala. Eu acompanhei a conversa enquanto servia o café. Parecendo estar no começo da carreira e diante de uma figura já importante da sociedade, o jovem rapaz era cuidadoso com as palavras:

– Sr. Hélio, o senhor está sendo citado em uma investigação de paternidade. É um direito do senhor se recusar a fazer o teste de DNA, mas o juiz pode interpretar isso como uma declaração de responsabilidade. A escolha é sua.

Hélio pegou a intimidação e leu, demonstrando uma calma que eu não entendi. Ele disse:

– Obrigado! Vou conversar com meus advogados e decidir o que fazer.

Eu acompanhei o oficial até a saída e ao voltar, Hélio estava em fúria:

– Desgraçada! Ela acha que pode tirar dinheiro de mim com essa falsa gravidez? Vou destruir aquela filha da puta …

Tentei usar minha influência sobre ele para fazer com que pensasse melhor:

– E se o filho for mesmo seu? Essa criança não tem culpa.

Só consegui deixá-lo mais nervoso:

– Esse filho é do amante dela. Ela me traía aqui dentro … só pode ser dele.

Tentei fazer com que pensasse por si próprio:

– Eu não acredito nisso. Vocês se amavam, por que ela ficaria com outro? Mesmo se fosse interesseira, por que arriscar a galinha dos ovos de ouro?

A influência negativa do pai, o amor pelo dinheiro, já estava enraizado profundamente:

– São todas pilantras, golpistas, só querem boa vida. Meu pai abriu os meus olhos, me fazendo enxergar a verdade. Se não fosse por ele, eu poderia estar casado com essa mulher …

Vi que os meus esforços seriam em vão, mas ainda tentei uma última vez:

– E se esse filho for mesmo seu?

Ele não aceitava aquela possibilidade:

– Não é! Simples assim.

Não adiantava discutir. Era melhor esperar e tentar defender a criança, que eu tinha a mais absoluta certeza de ser filho de Hélio. Não foi nenhuma surpresa que quando os resultados vieram, e mesmo sendo positivos, ele tentou negar o filho. Um de seus advogados, um dos poucos que pareciam pensar além do lado financeiro, o advertiu:

– Você está pensando com emoção. Emoção e dinheiro são como água e óleo, não se misturam. Pense bem, pois esse tipo de atitude pode ter grandes repercussões no futuro.

Um dos antigos homens de Hermes, agora segurança de Hélio, deu a ideia cruel:

– Já que o filho é seu, use isso para destruir aquela traidora de vez. Diga que só o aceita se ela lhe passar a guarda completa. A criança não tem culpa e você pode criá-la da forma que bem entender. Dê o tiro de misericórdia.

A ideia parece ter tido um efeito positivo sobre Hélio. Sorrindo maliciosamente, avaliando, ele andava de um lado para o outro da sala, pensando alto:

– Eu posso fazer isso. Seria o golpe final perfeito naquela vaca. Eu a deixaria sem um tostão, apodrecendo na prisão … posso apagá-la de vez do mapa. Seria a vingança definitiva, perfeita para o que ela fez comigo.

Criei coragem, saí de trás da porta e caminhei decidida até o Hélio:

– Posso falar com você?

Ele estava perdido em seus pensamentos:

– Agora não, estou no meio de uma …

Falei alto, brava, para todos os homens ali:

– Me deixem sozinha com o meu menino. – Eles me encaravam. Eu gritei: – Agora!

Hélio se assustou, respeitando meu desejo e fazendo sinal para eles saírem:

– Nossa! Desde pequeno, da época dos estudos, quando eu não me concentrava, que não a vejo agindo assim. – Ele estava sorrindo.

O encarei, demonstrado toda a minha determinação:

– Eu cuido dessa criança. Se ela é um Kouris, é a minha obrigação.

Hélio me testou:

– Não sei se eu a quero.

Eu falei ainda mais forte, reafirmando minha vocação:

– Mas eu sim. – Repeti. – Ele é um Kouris, é a minha obrigação.

Ele me avaliava, sem saber o que dizer, apenas querendo atingir Mirian:

– Você está certa. Não podemos deixar um Kouris ser criado em uma família de ladrões. Você está disposta a qualquer sacrifício por essa criança?

Eu reafirmei minha intenção, tentando apelar aos sentimentos dele:

– Sim! Não é o primeiro Kouris que eu irei criar.

Ele sorriu para mim outra vez, parecendo aquele menino doce de antigamente:

– Você vai fazer isso sozinha e longe de mim.

Eu retruquei:

– Não me importo. Essa criança é inocente.

Ele me olhou uma última vez, antes de sair:

– Tudo bem, Bá.

Um sentimento saudoso tomou conta de mim. Há muito tempo ele não me chamava de Bá, mas minha doce ilusão, meu engano ao achar que ele voltava a ser o bom menino de antes, durou pouco.

Alguns dias depois, ele me pediu para acompanhá-lo até a prisão, estávamos indo visitar Mirian, resolver a situação da criança. Seu nome era Antônio e era um bebê saudável. Aos seis meses, ele era a cara da mãe: cabelo liso e olhos negros, grandes. A mesma marca de nascença do pai, uma mancha vermelha na coxa e as mesmas covinhas na bochecha ao sorrir, fatores genéricos inegáveis de sua paternidade. Fomos juntos com os advogados, os vários dele contra a defensora pública dela. Foi uma reunião rápida, pois ao entrar, Hélio só queria humilhar Mirian:

– Minha proposta é simples. Abra mão de todos os seus direitos como mãe que eu cuidarei do seu filho. Ele terá apenas o melhor que a vida pode oferecer, o que vale mais para você?

Os advogados dele apresentaram o documento para ela assinar. Mirian chorava, mas sabia o que era melhor para seu filho. Ela me encarou e nem precisou falar nada. Para acalmá-la, contrariando as ordens de Hélio, eu disse:

– Eu vou cuidar dele, confie em mim.

Mesmo triste por aquela mãe, eu sabia que era a única forma de proteger e dar um lar adequado para aquela criança. Ela pegou a caneta e assinou, mesmo contra os protestos de sua advogada. Antes de sair, Hélio olhou nos fundos de seus olhos e disse:

– Pronto! Você não tem mais nada. Satisfeita por ver como o seu golpe terminou?

Aquela garota não tinha mais nada de inocente. Ela devolveu o seu olhar de forma ainda mais dura:

– Aqui se faz, aqui se paga. Sua hora vai chegar, mesmo que não seja pelas minhas mãos. Alguém, um dia, vai tirar de você, tudo o que você tirou de mim.

Hélio riu, debochado:

– Se alguém tiver essa capacidade, será um ótimo adversário. Mas esse alguém, não é você.

Mirian tinha feito o sacrifício derradeiro, o mais difícil para uma mãe, abrir mão do filho para que ele tivesse uma vida melhor do que a que ela poderia oferecer. No fundo, ela sabia que o destino daquela criança poderia ser um orfanato, ou as ruas. Hélio tinha dinheiro para subornar e comprar a lei e ela estava agradecida por aquele final, mesmo ele não sendo feliz para ela, foi o melhor caminho para quem mais importava.

O tempo passou um pouco mais, e aos quatro anos, Antônio era uma miniatura da mãe, mas o gestual e os trejeitos eram todos de Hélio. Olhar para ele, torturava o pai, era uma lembrança constante de Mirian, aquele ódio jamais se foi, e parecia mais como um amor mal resolvido e destruído pelas ações de terceiros.

Não suportando as lembranças, tendo um documento que lhe garantia que poderia apagar Mirian da vida do filho, ele me proibiu de falar dela ou contar qualquer coisa para o Toni. Se eu desrespeitasse esse acordo, ele tiraria Toni de mim e o mandaria para um internato nos confins do mundo.

Hélio vendeu a mansão, e tudo que o fazia lembrar do passado. Toni, eu e uma funcionária contratada, fomos morar em um apartamento de alto padrão enquanto Hélio virou um cidadão do mundo, voltando a cada três ou quatro anos, mal passando uma hora com o filho. E foi assim que nossa vida seguiu, até a chegada de Mila e depois de Yelena, a mulher que parecia ter tocado o coração de Hélio, fazendo com que ele mudasse, mas que rapidamente se mostrou apenas uma ilusão, um sonho falso, que rapidamente se transformou em uma tempestade, abalando de uma vez por todas as nossas vidas e trazendo mudanças profundas para todos nós.

Continua.

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Comentários

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Por ser um conto fictício, mais infelizmente existe pessoas iguais Hermes é Hélio, dois lixos humanos um enganado pelo próprio pai, e um cego que não viu as verdades na frente dele, bom que agora Antônio sabe quem é o pai de verdade, um ser que não merece respeito, é que vai ter o que merece.

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Simplesmente fantástico! Estou gostando e muito desse suspense!

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Que complicação: O garoto envolvido nas tramóias do pai e perdendo seu grande amor. Isso não se faz. Emocionante

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Parabéns Lukinha e Ida!! Excelente estória! Nos prende pelo suspense e pelas reviravoltas. No aguardo de uma vingança única!!⭐️⭐️⭐️

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Pqp que virada na historia, excelente, a justiça sendo feita muito bom aguardando o próximo

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Muitoooooo bom .... estou acompanhando todos já postados e aguardando os próximos.... parabéns e obrigado por compartilhar com a gente... abraço.

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Oba. Um novo leitor para nos acompanhar. Seja bem vindo.

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Eita porra!!!!

Não sei nem o que comentar

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Ah, sei lá, você poderia dizer como está o clima onde você reside !!! Rsrsrs

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o clima ta bom.

Meio frio, mas comparado com isso dai, ta bem quente até kkkkkkkk

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...como diriam alguns ; o que se faz aqui , se reverbera através da eternidade...rs...até que venha alguém ( ou algo ), e põe fim à este carma ( justiça)...👁

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Uhuhu, grande pensamento filosófico !!! Adorei.

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Como e a vida o mal caráter do pai,mofou o caratê do filho na vida atual,e hélio não esqueceu Miriam e Toni por ter as feições da mãe,Helio que se vingar fazendo Toni sofre,para isso está usando Mila,um passado nunca e esquecido.parabens muito bem narrado

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Bainca12@, muito grata pelo seu comentário.

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Vixi!

Antes eu ficava angustiava, agora fiquei confusa com grandes possibilidades de ficar perdida.

Mas que família, hein!? Porra!...

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Nanda, minha querida, quem bom vê-la por aqui !!!!

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Caraca Lukinha que doideira...

infelizmente esse tipo de coisa aconteceu muito e ainda acontece nesse brasilzão.

O cara com muito dinheiro se aproveitando de pessoas sem grana e também não menos piores são aqueles que se vendem para prejudicar alguém, fazem isso por ganancia e também somente para ver o outro se ferrar.

Ele teve muita sorte de ter a Bá ao seu lado.

só tenho uma coisa para reclamar, é vc dizer que só vai postar na segunda, você tinha dito que hoje sairia mais um...kkkkk

grande abraço

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Neto, eu também acho sacanagem o próximo capítulo ser só na segunda feira !!! Eu acharia melhor se fosse na terça feira !!! Rsrsrs

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Meu que louco nota mil parabéns adorei

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Querido Almafer, você sempre prestigiando !!!

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E como chega !!! Aguarde !!!

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adorei mais uma aliada

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Acredito que o Toni vai precisar de todos(as) aliados(as) possíveis !!!

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Ellen, calma que as revelações só começaram !!!

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Tudo bem que é necessário para o entendimento do conto, mas precisava ser tão pesado?

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Caro Amigo Militar, acho que o Luquinha ainda vai por o Monteiro, as Renatas e a Amanda, no chinelo !!!

Aguarde !!!

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Estou percebendo! E com suas dicas, correções e com certeza seu toque sei que as coisas vão ser chocantes!

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Militar, muito grata pelo comentário.

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BOMBA !!! BOMBA !!! BOMBA !!!

Mas só vou ler amanhã !!! Rsrsrsr

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