Numa manhã excessivamente ensolarada, Cáspio Rochata acordava cedo numa taciturna segunda-feira de folga. Tentou dormir mais, mas não voltou a pegar no sono. Estava moroso, pois havia trabalhado direto durante a semana passada inteira. Sem saída, forçou o ânimo e se levantou.
Cáspio tinha o hábito de dormir nu. Dirigiu o seu corpo maciço com um andar desajeitado até o banheiro na sua compacta casa alugada de três cômodos, localizada no bairro do Cachorro Manco, zona leste de Terra Quente. Se olhou no espelho e, como de costume, fez a barba para que seu protuberante queixo quadrado ficasse aveludado e raspou o peito em que os pelos curiosamente cresciam tomando forma de um coração. Depois disso, resolveu que era a hora de arriar o barrão matinal, mas antes retornou ao seu quarto para pegar o seu smartphone.
Enquanto esperava a natureza do seu corpo realizar o seu trabalho, entrou num site pornográfico e escolheu um vídeo intitulado "Torando um cu amigo". O pornozão inciava apresentando Sabrinudes, uma morena alta, cabelos pretos longos, bunduda, pernas fortes e seios médios — Tchibum! caiu o primeiro tolete de merda. Depois foi apresentado Gabingola, um negro musculoso, cara de mau, de pauzão duraço e que fazia poses para mostrar seus músculos. O pau de Cáspio começou a ficar duro. Em seguida, a cena cortou para mostrar corpo inteiro de Gabingola de perfil, fazendo pose para mostrar os muques; fora da cena, se ouvia o Poc! Poc! Poc! do salto alto de Sabrinudes; ao ser enquadrada, ela estava usando uma cinta peniana descomunal, agarrou as ancas de Gabingola e atolou o cassetão nele numa única estocada.
— Eita, preula! — exclamou Cáspio que já batia uma punhetinha enquanto via aquele mulherão arrepiando o cu do negão. Quando o punhetão tava nervoso, ele teve que parar um pouquinho para soltar o segundo tolete de merda. Ao voltar a descabelar o palhaço, não demorou muito para gozar, e gozar gostoso. Foi parando aos poucos, ofegante.
Então, plácido, continuou a contemplar o vídeo que não faltava muito para acabar. De repente, ouviu um barulho dentro da privada, mas não tinha obrado nada. Nhac! Uma dor! Aguda! Gritou! Deu um pulo! Caiu no chão! Cáspio olhou para suas partes e berrou:
— Carai! Meu ovo! — uma cobra d'água estava pregada no seu graúdo bago direito. Ele tentou lutar, mas a dor era tão forte que lhe tirava todas as forças. Cáspio se contorcia no chão. Desmaiou.
Ao recobrar a consciência, pensou que tudo não passava de um sonho. Mas, ao se mexer a alfinetada no bago veio inflamada. Ele não acreditava no que acontecia. A cobra era marrom, devia ter meio metro de comprimento e mordia cada vez mais forte a cada mexida de Cáspio. Provavelmente foi pelo esgoto que chegou até a sua privada.
Com lágrimas escorrendo pelo rosto, Cáspio tentou ficar imóvel. Respirou fundo lentamente. Precisava de ajuda. Procurou seu smartphone. Quando o avistou estava a um braço de distância, e, na maciota, se esticou para pegá-lo. A cobra não chegou a apertar o seu ovo, mas ele conseguia escutar a respiração pesada dela.
Quem poderia acudi-lo? Afinal, não podia pedir para qualquer um, pois era um constrangimento o que passava. Seus pais e toda sua família moravam num interior distante, não podendo contar com eles. Resolveu ligar para sua ex-esposa, Sacha Costacanha. Contudo, no primeiro bip da ligação, a cobra pressionou o testículo de Cáspio, que já estava avermelhadamente inchado. Ele gritou e finalizou às pressas a ligação. Finda a tormenta, resolveu mandar mensagem pelo Zap com o celular no silencioso.
— Sacha, taí? Preciso de ajuda urgente!!!
— O que é? Tô trabalhando — respondeu Sacha depois de longos 10 minutos.
— Tem uma cobra no meu saco!!! Me ajuda!!! — suplicou Cáspio.
— Cê acha que eu sô troxa depois de tudo que cê fez pra acabar com o nosso casamento? Vai cagar, paquita do capeta — digitou Sacha.
Os dois haviam se conhecido por conta de amizades em comum entre suas famílias e passaram cinco anos casados. Sacha é uma mulher branca de cabelos cacheados, com lábios carnudos que beijavam e mamavam gostoso, seios fartos, com uma buceta carnuda e molhada, e um bundão apetitoso. No entanto, o casamento deles foi ao ralo porque Cáspio era fissurado em sexo anal e ela não gostava de fazê-lo. Foram inúmeras as tentativas frustradas. Apesar disso, Sacha ainda se dedicou até demais para manter o casório.
— Não tô tirando! Olha só — digitou Cáspio, mandando uma foto tirada com toda cautela das suas partes com a cobra fisgada no seu bago.
— Vai chupar prego! Tô cansada das tuas trollagens! — respondeu Sacha.
— Por favor!!! É sério!!! Me ajuda!!! — suplicou Cáspio.
— Pensa que eu não sei o que cê gosta de verdade? Eu sei de tudo, Cáspio. Chega! Cabou tudo! Tô farta dessa palhaçada toda! Vai rasgar o cu com a unha! — esbravejou Sacha e bloqueou-o no Zap.
Depois disso, para maior aflição de Cáspio, a cobra apertou o seu ovo e ele berrou de dor.
Cáspio estava entrando em parafuso. Pensou em quem poderia socorrê-lo agora. Resolveu, então, mandar mensagem para Valentina Sinauta, uma magrinha loira e peituda que só gozava dando a bunda, e que foi sua amante.
— Tina, me socorre, por favor!!! Só cê pode me ajudar!!! — digitou Cáspio.
— Cê acha que eu nasci pelo cu? Vai se lascar, filhote de lombriga! — respondeu Valentina depois de quase uma hora extenuante.
— Eu juro que não te peço mais nada depois disso!!! — digitou o ansioso Cáspio e encaminhou a foto mandada para Sacha, pois não tinha forças para explicar muita coisa.
— Que isso! Seu mentiroso do caraio! Eu não caio mais nas suas ladainhas! — superpôs Valentina.
Cáspio e Valentina se conheceram por meio de um amigo em comum. Passaram a se encontrar durante o último ano do casamento dele. Em todo encontro ele retirava a aliança e dizia ser solteiro. Toda sua ânsia de comer um cuzinho era satisfeita com Valentina. Inclusive, por vezes, faziam sexo a três com o amigo que os apresentou. Até o dia em que Sacha pegou uma conversa dos três num grupo de Zap. Então, ela ligou para Valentina e ambas ficaram sabendo de tudo.
— Pelo amor de Deus!!! Tô num sofrimento danado aqui!!! — clamou Cáspio.
— Seu chop de chorume de merda! Eu contei tudo para sua esposa! Inclusive do que tu gostas de verdade! Pensa que eu não percebi nem vi nada? Me esquece, seu bafo de bunda podre! — respondeu Valentina, bloqueando-o em seguida também.
Cáspio se desesperou. A cobra botou mais uma pressão no seu ovo. A dor o fazia ver estrelinhas.
Após um bom tempo delirante, resolveu mandar mensagem ao seu parça do trabalho Enzo Ado, aquele que apresentou Valentina.
— Irmão, pelo amor de Deus!!! Me ajuda!!! — digitou Cáspio, mandando logo a foto da cobra no seu ovo.
— Mas que delícia, hein. Brinquedinho novo? — respondeu Enzo sem muita demora.
— Não, cara!!! Isso é um acidente sério!!! — angustiou Cáspio.
Cáspio e Enzo se conhecem desde o Ensino Médio, quando moravam em Pico Grande, interior há 4 horas de distância de Terra Quente. Se tornaram íntimos por conta de futebol. A vida sexual de ambos iniciou quando Enzo ia visitar Cáspio quando seus pais não estavam em casa, em que um comia o cu do outro na brotheragem. Viviam tão juntos que arrumaram trabalho na Capital mesma concessionária de compra e venda de carros. Mesmo quando Cáspio era casado, todo final de semana ele ia até a casa de Enzo sob o pretexto de ir assistir jogos de futebol. Após o fim do casamento de Cáspio, a relação dos dois ficou morna.
— Mano, não me atiça assim... Como a gente já falou: não sei se a gente deve se encontrar mais... Nosso lance ficou estranho depois da última vez... Cê pegou nas minhas bolas... Eu não sô gay, mano — digitou Enzo.
— Esquece isso!!! Tô com um problemão de verdade aqui!!! Vem aqui em casa, por favor!!! — rogou Cáspio.
— Sei não... Tenho que ir atender um cliente. Depois a gente fala — finalizou Enzo.
Cáspio arremessou o celular e a cobra mordeu fino o seu bago, que já estava do tamanho de um limão galego. Ele chorou de tanto desalento. Num último ato desesperado, resolveu enfrentar a cobra com suas últimas forças: com as mãos tentou tirá-la com força bruta; a cobra, em contrapartida, pressionou mais forte do que qualquer outra vez anterior. Cáspio gritava e soluçava. A cobra não desgrudava. Cólera... Ódio... Desgosto... Pugna... Dor... Choro... E, finalmente, Cáspio desmaiou uma vez mais sem conseguir tirar a cobra do seu saco.
Ao acordar, Cáspio estava num leito do Hospital Municipal Piranucu. Não demora muito e aparece Enzo. Ele explica ao seu amigo que foi até sua casa na hora do almoço e viu a enrascada em que estava metido. Sem saber muito o que fazer, chamou os bombeiros; que disseram que era para chamar uma ambulância; aglomerou-se uma multidão na frente da sua casa; e até polícia e a impressa apareceram também; enfim: a notícia do homem cagado com uma cobra no saco percorreu toda Terra Quente.
Para completar a desgraça, Cáspio passou por um processo cirúrgico para remoção dos dois testículos devido às lesões causadas pela mordida da cobra. Ele ficou atônito com tudo isso.
Depois que teve alta, Cáspio teve mais infortúnios sem dó na sua vida: recebeu uma intimação com o pedido de divórcio de Sacha, em que pedia metade de todos os bens acumulados pelo casal durante o tempo que durou o casamento; viu na internet que Valentina contou tudo o que sabia da vida dele num podcast, incluindo o caso que ele teve com ela e com Enzo; por fim, o seu parça, após a repercussão do que foi exposto nas redes sociais, pediu demissão e sumiu de Terra Quente. Cáspio nunca mais teve notícias dele. Ele também pediu as contas e voltou ao seu interior para morar com os pais.
Cáspio viveu envergonhado, pobre, solitário... E nunca mais transou na vida.