Obrigado a todos que nos acompanharam durante essa jornada. Foi um imenso prazer escrever essa história junto com a Id@ e dividi-la com vocês. De coração, muito obrigado a todos pela leitura. Um beijo no coração de cada um.
Apenas uma coisa ainda matinha Mathias curioso e ele não conseguiu deixar de perguntar:
– Como diabos você inventou e planejou essa vingança? Eu sei um pouco do que vocês precisaram fazer, mas eu gostaria de entender essa história. Você me contaria? Confesso que isso me deixou muito curioso.
Toni pensou por alguns segundos. Como tudo tinha saído muito diferente do que fora planejado, e após o acordo fechado com Mathias, não tinha motivo para não contar. Mathias serviu um whisky a ele e os dois voltaram a se sentar no sofá.
Olhando para trás, e após tantas complicações, Toni percebeu que todo plano só é brilhante na cabeça de quem acha que não tem nada a perder. Naquele momento, vendo o quanto Hélio ainda poderia ter tirado dele, Toni se deu conta do quanto havia sido ingênuo.
Ele deu um gole em seu whisky e se preparou mentalmente para falar. Talvez, Mathias não gostasse muito do que ele tinha a dizer. Mesmo assim ele criou coragem e revelou a verdade:
– A ideia veio sem muita pretensão, pois eu queria, inicialmente, apenas machucar meu pai e minha ex. Eu li no Reddit, uma espécie de rede social, uma vingança em que o traído forjou a própria morte e depois preparou a casa em que morava para simular fenômenos sobrenaturais, aterrorizando o irmão e a namorada, que tiveram um caso enquanto ela era casada com ele. Esse cara trabalhava com efeitos especiais e não teve dificuldades para colocar seu plano em prática, destruindo o psicológico da ex-esposa.
Toni organizou os pensamentos, tentando ser fiel à ordem cronológica. Ele deu mais um gole na bebida e continuou:
– Eu sabia que aterrorizar o meu pai seria difícil. Ele sempre foi muito cético. Mas a Mila era diferente. Ela seria mais fácil de ser convencida de que algo sobrenatural a estava atormentando. Entretanto, eu também tinha a intenção de recuperar minha empresa, por isso tive a ideia de criar uma espécie de “alter-ego”.
Toni continuou a relatar:
– Por mais mirabolante que o plano possa parecer, o que pretendíamos fazer era algo simples. Queríamos desestabilizá-los, retomar a minha empresa, e vingar a traição. Para isto, seria necessário que eu e a Yelena nos tornássemos pessoas diferentes. Todo o dinheiro que eu deixei para a Bá, o seguro, minhas economias, e possibilidade de ganhos no IPO da empresa do meu pai, foram usados para as cirurgias e para fazer a proposta pela empresa. Mas, ainda faltava a terceira parte da vingança. Como fazer para que a traição causasse o mal que desejávamos causar? Para isto, seria necessário que meu pai se apaixonasse pela Yelena. Esta parte não foi tão complicada, tendo em vista que ela tinha uma irmã gêmea. Foi só "incluí-la” no plano. Ou seja, transformar a Yelena na Anastásia. Mas foi aí que as coisas começaram a se transformar.
Mathias ouvia com atenção e disse:
– Eu achei isso genial.
Toni o encarou:
– Mas infelizmente, quando já tínhamos colocado o plano em prática, pelo menos a parte que dizia respeito à nossa “suposta morte”, ao aprofundar a investigação da traição, meu detetive se deparou com um impedimento legal e foi nesse momento que tudo mudou.
Sem que Mathias esperasse, dois agentes federais adentraram o escritório e se postaram ao lado dele. Toni fez a revelação:
– Meu detetive se deparou com uma investigação federal em curso contra o meu pai e seus "sócios".
Mathias tentou se levantar, mas um dos agentes o segurou na cadeira, enquanto o outro recolhia o HD de Hélio em sua mesa:
– Relaxa! De você, só queremos cooperação. Sabemos que você também é uma vítima nessa história.
Toni voltou a falar:
– Por intermédio do Fagundes, o detetive que eu contratei, eles me ofereceram suporte e modificaram o meu plano original. Fui orientado pelo programa de proteção a testemunhas e, Yelena e eu, acabamos ganhando essas novas identidades. Tive que brigar muito, ameaçar desistir, para que eles levassem a sério minhas intenções. Na visão deles, minha ideia era ridícula, mal elaborada e não atendia às necessidades da investigação que estava em curso.
Mathias observava, sem interromper. Toni voltou a falar:
– Eu não fazia ideia de que o meu pai havia prejudicado tantas pessoas e após tomar conhecimento de tantas falcatruas, decidi unir forças com as autoridades. O plano passou de uma vingança pessoal para fazer o que era certo. Era necessário acabar com esse ciclo de chantagens e coações do meu pai contra qualquer pessoa que discordasse dele.
Toni reabasteceu o seu copo e o de Mathias, ofereceu também, por educação, aos agentes, que recusaram prontamente, deu mais um gole e continuou:
– Enquanto estava distraído comigo e focado em Anastasia, meu pai nem percebeu o que acontecia nos bastidores. E vocês, preocupados com ele, acabaram abrindo a guarda também.
Um dos agentes se virou para Mathias:
– Podemos contar com a sua cooperação? Enquanto estamos aqui, outras equipes estão, neste momento, deflagrando uma operação definitiva contra essa organização criminosa. Os verdadeiros donos do poder, os que estão no ápice da cadeia alimentar, não gostaram muito dessa tentativa amadora de ganho de influência liderada por Hélio. Não se brinca com o sistema, ele sempre responde à altura.
Mathias se resignou, pensando: "sempre tem um peixe maior no oceano". Com a promessa de se ver livre de vez de seus algozes, aceitou a tarefa proposta, entregando aos agentes todos os documentos que achou importantes para o caso.
Mathias ainda tinha curiosidade:
– E por que esse casamento sem noção? Se Hélio já estava na beira do abismo, era só empurrar.
Toni não tinha motivos para mentir:
– Aí veio a segunda complicação. Como a operação lava jato nos ensinou, não adianta arrasar com uma terra achando que ela vai se recuperar sozinha. Ao desestabilizar uma empresa tão grande, com dezenas de milhares de funcionários, é preciso ter um plano de ação. Sabendo que eu não concordaria em colocar Yelena em perigo, eles foram direto até ela, que aceitou se colocar nessa posição para que meu pai sofresse as consequências de suas ações. Como moeda de troca, foi prometido que se tudo fosse feito segundo um script muito bem elaborado, Yelena iria retomar a sua clínica. Assim como o meu, aquele estabelecimento cresceu sob o suor do trabalho dela. Era mais do que justo ela recuperá-lo.
Mathias não acompanhou o raciocínio:
– Como assim? Não entendi. O que isto tem a ver com o casamento?
Toni explicou:
– Eles sabiam que toda a holding tinha sido pensada para que eu pudesse administrá-la. Tendo Yelena do lado deles, eles tinham a certeza de que eu iria querer protegê-la e aceitar participar. Eu não poderia simplesmente passar por cima das escolhas dela. Ao ser preso, meu pai provavelmente se apoiaria em Anastasia e o plano seria ela se passando por submissa a ele, aceitando ser apenas uma testa de ferro, cumprindo as ordens dele direto da prisão. Mas Yelena e eu tínhamos, também, nosso plano secreto.
Mathias continuava não entendendo. Toni simplificou:
– Nossa intenção era pegar somente nossas empresas e depois dar no pé. O casamento era necessário, era a forma do meu pai "comprar o amor" de Anastasia. Entretanto, sabíamos que, da mesma forma que o casamento com Yelena havia sido falso, o mesmo poderia acontecer com o casamento com Anastásia. Aceitamos os planos deles, mas secretamente, colocamos o nosso em ação. – Toni deu mais um gole na bebida, aproveitando para molhar a garganta. – Anastásia iria fazer uma série de exigências para aceitar o casamento, como, por exemplo: fechar os negócios relacionados com sexo e transferir a clínica para o nome dela.
Mathias começava a entender, então, Toni continuou:
– Se bem que demos sorte, pois nesta segunda parte nem precisamos pedir. Acredito que como meu pai descobriu nosso plano, acabou sugerindo a transferência como uma “cortina de fumaça”. Após o casamento, iríamos deixar meu pai nos flagrar na lua de mel e depois sumir no mundo, deixando pessoas confiáveis administrando nossos negócios, até que pudéssemos voltar, quando nossos crimes prescrevessem.
Um dos agentes, muito mal-encarado, olhando para Toni, completou:
– Para sua sorte, aconteceu o pior. A situação do seu pai salvou a liberdade de vocês. Se tivessem seguido por esse caminho, hoje seriam vocês os processados pelo estado.
Mathias começou a rir, constatando o óbvio:
– Sem querer, eu fui um peão em todo esse jogo. Acabei legitimando tanto o casamento, quanto a clínica, ao seguir as ordens da organização. Por minha causa, tudo agora é legal, independente da vontade de Hélio.
Mathias ria ainda mais animado:
– Vocês tiveram muita sorte. Tudo poderia ter dado tão errado …
Toni sabia que a sorte os ajudou muito, era grato ao destino, parecia uma mensagem do universo, apoiando a derrocada do pai.
– Além de ajudar as autoridades, mostrar ao meu pai que ele não era o dono do mundo, Yelena queria o que era dela também e eu achei justo, já que eu recuperei o que era meu por direito. Aquela clínica não significava nada para o meu pai, mas ali estava o suor e o trabalho de Yelena. Eu devia isso a ela, por isso, lá no fundo, eu aceitei as mudanças no plano e ajudei de bom grado.
Mathias começava a entender a simplicidade e a ingenuidade de Toni. Se não fosse o suporte profissional e as modificações feitas em seu delírio de vingança, Hélio teria triturado os dois em pouco tempo.
Toni voltou a falar:
– Na lua de mel, Yelena e eu seguiríamos nossos próprios planos, sendo flagrados pelo meu pai, devolvendo a traição, revelando quem éramos realmente, e como ele seria preso em poucas horas, estaríamos livres dele. Já estava tudo certo para que a gente saísse do país. Só que … aconteceu aquilo tudo … eu acabei causando …
Mathias se aproximou dele, colocando a mão em seu ombro:
– Não foi sua culpa. Seu pai colheu o que plantou. Imagina o que teria acontecido com Yelena se você não tivesse chegado a tempo. Você apenas defendeu o que é precioso para você.
Toni se lamentou:
– De qualquer forma, nem todos se salvaram. Meu pai agora é um vegetal e a Mila, por mais raiva que eu sentisse, não merecia o que aconteceu. São culpas que eu carregarei comigo, foram as minhas escolhas.
Enquanto se acertava com os agentes da polícia federal, Mathias acabou deixando Toni de lado, pensativo e calado no canto dele. Assim que os agentes saíram e quando Toni se preparava para ir embora também, Mathias fez sua última pergunta:
– E essa mudança no rosto? Se não fossem os olhos, sua principal característica, eu diria que você é realmente outra pessoa.
Toni sorriu para ele:
– Como já disse, no começo, a intenção era outra. Antes da chegada da polícia e da mudança nos nossos planos, minha intenção era atormentar a Mila. Eu queria criar encontros aleatórios após os eventos paranormais na casa. Sei lá, trabalhar de jardineiro no quintal, fazer entrega de comida, me aproximar dela na academia … qualquer coisa que desse a ela a chance de me olhar nos olhos. Eu falaria algumas coisas que só ela saberia e assim, iria brincando com a sanidade dela. Mas com a criação do Vincenzo Mancini, acabou não acontecendo. Mas são só próteses faciais, coisas fáceis de retirar.
{…}
Mirian e seu novo amigo não esperaram nem entrar no carro, se atracando ali mesmo no estacionamento do pagode. Um pouco bêbada, mas ainda consciente de suas ações, muito excitada, ela se entregou aos beijos que recebia, se esfregando naquele belo homem:
– Não acredito nisso, parece um sonho. Já faz tempo que eu queria conhecê-la, sempre a via pelo bairro com sua irmã.
Mirian foi honesta:
– Minhas prioridades eram outras, mas agora estou aqui. Aproveite!
Cláudio, amigo e colega de trabalho de Meire, voltou a beijá-la e levou a mão a sua bunda:
– Você é linda, uma delícia.
Com a mão ao pau dele, sentindo a potente ereção, Mirian não perdeu tempo e abriu o zíper, tirando aquele belo mastro lustroso, de veias saltadas e cabeça roxa para fora:
– Você também é um pedaço de mau caminho. Posso acabar me viciando …
Mirian se ajoelhou e protegida entre os carros, deu um beijo na cabeça da pica, engolindo aos poucos, tentando não parecer tão inexperiente:
– Está bom assim?
De olhos fechados, curtindo o momento, ele não tinha objeções:
– Que boca é essa? Está maravilhoso, não para.
Mirian foi se entregando e pegando o jeito. Acariciando as bolas, tentando enfiar o máximo que conseguia na boca, tirando de vez em quando para não se engasgar. Cláudio gemia satisfeito, sempre a incentivando:
– Isso, gostosa! Mama o seu negão … estou quase … não para.
Mirian começou a punhetar enquanto chupava e lambia. Poucos minutos depois, sem coragem de receber o esperma na boca, ela afastou o rosto, recebendo os jatos no cabelo, na blusa e no pescoço. Não sentia nojo, longe disso, só achou que não estava preparada para tamanha intimidade.
Ao se recuperar e ver o estado dela, Cláudio, tentando ser cavalheiro, tirou a blusa e deu para ela vestir. A noite estava quente e ele morava perto. Mirian aceitou o gesto com gratidão, retirando a própria blusa, dando a ele visão completa dos seus seios, que ele encarava embasbacado.
Cláudio abriu a porta do carro, a elogiou durante o caminho até a casa dele e confessou:
– Eu pedi à sua irmã para nos apresentar, queria que soubesse. Ela disse que temos histórias parecidas …
Mirian preferiu ficar quieta. Duvidava que alguém pudesse ter passado pelo mesmo que ela. Cláudio confessou:
– Eu também fui falsamente acusado por um crime que não cometi. Fui julgado, difamado, excluído, perdi a vida do meu filho … mas no final, acabei conseguindo provar minha inocência, isso é o que importa.
Mirian não queria falar sobre nada daquilo e já começava a achar um erro ter ficado com aquele homem. Pensava seriamente em pedir um carro de aplicativo e voltar para casa, mas assim que chegaram à casa dele, ao estacionar na garagem, o homem se transformou, partindo para cima dela com um desejo incrível de agradá-la.
Ele nem pediu permissão, já foi pegando Mirian no colo e a levando direto para o banheiro, despindo sua roupa e beijando cada parte do corpo dela que se revelava. Lavou seu cabelo enquanto a encoxava por trás, deixando o pau se esfregar entre as bandas da bunda, a deixando alucinada.
Cláudio, ainda no box, começou a dedilhar o grelo, beijar seu pescoço, desmontando completamente qualquer resistência dela que ainda teimava em aparecer. Ele chupava a buceta com extrema habilidade, arrancando gemidos e súplicas de Mirian:
– Ai, meu Deus! Como isso é bom … quem é você … assim é covardia.
Ele sugava o grelo, brincava com a língua por toda a extensão da xoxota, segurava forte em sua bunda e endurecendo a língua, tentava penetrá-la.
Mirian redescobria os prazeres do sexo, de ser possuída, de sentir prazer com um macho gostoso e dedicado:
– Não pare, eu vou gozar … que loucura … ai, meu Deus … assim mesmo …
Cláudio a chupava com ainda mais ardor, mais entrega, queria conquistá-la definitivamente. Desde que a viu com Meire, no mercado, meses atrás, se apaixonou à primeira vista. Quando a amiga contou a ele a história da irmã, ele queria mostrar que tudo não passou de azar, de uma escolha errada e que ela merecia ser feliz, ser amada, que ela merecia o mundo.
Na cama, após enxugá-la como se estivesse a massagear seu corpo, Cláudio finalmente a penetrou, estocando carinhosamente, muito além de sexo, já fazia amor com ela. Encantada pelas sensações que sentia, Mirian encontrava a conexão que tanto desejara, que tanto havia esperado. Vingada, disposta a recomeçar, sentia-se encantada, entendendo que a possibilidade de se apaixonar por aquele homem era real.
Cláudio socava fundo, beijando sua boca, seu pescoço, elogiando seu cheiro …
– Você é linda! Incrivelmente sexy e especial.
Retribuindo seus beijos, Mirian se entregava profundamente, descobrindo novas sensações e sentimentos que ela jamais imaginou que voltaria a sentir. Estava deslumbrada e intimamente, se ligava cada vez mais aquele homem gentil, mais de pegada forte, que a deixava louca.
Fizeram amor durante todo o final de semana, sem sair da casa, apenas descansando, se lavando, pedindo comida e voltando a se amar. Começava ali, naquele final de semana, uma relação duradoura de parceria e entrega, de desejo, de admiração e, acima de tudo, de amor. Um amor maduro, calmo, baseado primeiramente, na amizade e no respeito. Não demoraria para que eles oficializassem a relação e Mirian o apresentasse ao filho e a nora.
{…}
Demorou cerca de dois meses para que Hélio saísse do coma. As sequelas, como os médicos haviam previsto, vieram para ficar. Hélio perdera toda a capacidade motora e de se comunicar e até mesmo atividades simples, como respirar, eram feitas com o auxílio de aparelhos.
A antiga casa, no condomínio de alto padrão, local de lembranças ruins, foi desocupada e colocada à venda. Era impossível para Toni e Yelena entrar nela e não se lembrar de Mila e de seu destino trágico.
Toni deixou que Yelena escolhesse um novo local, que por coincidência, tinha as mesmas funcionalidades da antiga residência, mas a casa principal era gigantesca, e a dos fundos, bem em frente a área da piscina, foi completamente reformada para receber Hélio e suas novas necessidades. Uma equipe de enfermeiros cuidadores também foi contratada para cuidar dele, mas Bá, com seu sentimento inabalável de mãe, assumiu a função de dar a Hélio um pouco de carinho e compreensão naquela situação tão terminal em que ele se encontrava.
Com a ajuda de Mathias e os laudos médicos sobre Hélio, em poucos meses a justiça o declarou incapaz e Anastasia, sua única herdeira, já que não existia nenhum outro familiar ou dependente, foi declarada tutora legal do marido.
O que ninguém sabia era que, apesar de sua incapacidade física, Hélio continuava consciente do que acontecia ao seu redor. Mirian, sempre que visitava o filho e quando Bá não estava por perto, não perdia a oportunidade de ir até seu quarto e fazer longos desabafos. Implicava com ele, debochava, despejava toda sua insatisfação. Ela sempre tinha uma forma nova de tentar torturá-lo.
Hélio não se importava com aquilo, pois por dentro, lá no fundo do seu coração, todos eram insetos insignificantes. A única coisa que o tirava do sério, era ver, aos finais de semana, o amor e a cumplicidade entre Toni e Yelena. A piscina era sua única paisagem e ali, com toda a família materna do filho reunida, os churrascos eram animados. Mirian desfilava com Cláudio, Toni e Yelena não se desgrudavam e todos se divertiam até altas horas.
Os negócios sujos da época de Hélio não foram absorvidos pela organização. Com todos os cabeças presos, os negócios que não foram liquidados, foram fechados pela receita e pelo ministério da justiça ou faliram após pesadas multas. Os bons funcionários, os honestos, os que colaboraram com a justiça, acabaram sendo realocados na Kouris Holding. Vincenzo Mancini, o novo CEO, reestruturou todo o conglomerado de empresas, deixando Anastasia Kouris, a acionista majoritária, livre para se dedicar exclusivamente a sua nova franquia de clínicas de estética.
Após uma difícil negociação com a irmã gêmea, que recebeu uma porcentagem da nova franquia de estética como pagamento, ela aceitou abrir mão do nome de nascença e, tendo como se manter, preferiu continuar e viver a sua vida viajando pelo mundo . Yelena, que já era oficialmente Anastasia, agora tinha apenas uma última decisão a tomar e após vender as duas casas de prostituição que eram as meninas dos olhos de Hélio, e como forma de gratidão, de agradecimento por sua ajuda, Natasha foi presenteada com a titularidade da casa de swing. Presente que ela prontamente aceitou e prometeu cuidar com todo o carinho. As duas se tornaram boas amigas e Natasha, junto com seu ficante, um rapaz muito bonito chamado João, era presença constante nos churrascos aos finais de semana.
Anastasia trouxe a mãe e as irmãs para o Brasil, exceto a verdadeira Anastasia, presenteando a família com uma casa no mesmo condomínio em que morava. Já Toni, agora definitivamente Vincenzo, sabendo que os familiares jamais se acostumariam a viver confinados em um condomínio, comprou um enorme terreno no bairro que eles sempre viveram e lá construiu uma pequena vila, presenteando a mãe e os três tios com uma casa para cada um. Como homenagem, a vila recebeu o nome da avó: Vila Marinalva Nascimento Silva.
O tio, Márcio, já era encarregado na fábrica e, aproveitando o momento, Toni trouxe outros familiares para trabalhar com ele: a mãe, as tias e os primos maiores de idade. Em pouco tempo, todos prosperaram, alguns voltaram a estudar, outros preferiram apenas continuar trabalhando e, por quase dois anos, a vida seguiu normal.
Durante esses dois anos, incapaz de assumir que apenas pagava pelas escolhas que fez, culpando a tudo e a todos pela sua situação, menos a si próprio, Hélio foi definhando psicologicamente, se entregando ao desespero e perdendo a vontade de viver. A incapacidade de se comunicar, a solidão extrema, a inveja da felicidade do filho e da ex-mulher, a raiva por Mirian, a dificuldade de aceitar o amor da Bá, o único que restou, era um veneno que o consumia lentamente.
Hélio, após aqueles dois anos, morreu da mesma forma que viveu, sozinho, sem ninguém por perto, numa madrugada fria e chuvosa. Mesmo após tudo o que ele fez, Toni, Yelena e Bá deram a ele uma bonita cerimônia de despedida. Bá por amor, Toni por culpa, e Yelena, estava ali apenas por Toni, para apoiá-lo e não deixar que ele se sentisse mais culpado do que já se sentia.
{…}
Um ano e meio depois:
O dia estava lindo. Um pôr do sol belíssimo enfeitava o céu naquele fim de tarde. A acanhada igrejinha, na verdade, uma capela, estava devidamente adornada com lindos pequenos buquês de astromélias. De um lado, a família do noivo, os Nascimento Silva, numerosos e barulhentos. Do outro, a família russa, mãe e irmãs da noiva, adorando aquela bagunça tão diferente e divertida, o completo oposto do que conheciam.
No altar, o noivo de sorriso radiante, incapaz de ser contido, aguardava ansiosamente. As próteses tinham sido retiradas do rosto e Toni, mesmo que agora se chamasse Vincenzo, voltava a parecer ele mesmo. Tudo o que acontecera já era notícia velha, ninguém se importava mais. Viviam suas vidas de forma discreta, sem alarde, longe dos olhos do grande público. Nem redes sociais mantinham.
A porta da Igrejinha se abriu e a marcha nupcial começou a tocar. Yelena, agora Anastasia, estava linda em seu vestido de noiva. Um modelo mais confortável, sem muita frescura, pois a barriguinha protuberante, de sete meses de gravidez, era mais importante do que qualquer outra coisa.
O casamento foi simples e perfeito, os votos foram trocados, promessas feitas … a noiva recebeu dois beijos, um na boca e outro na barriga.
Começava, naquele momento, o capítulo mais importante na vida daquele ainda jovem casal. Um capítulo de puro amor, de lealdade, de união total. Duas famílias se tornaram uma e após quase quatro anos daqueles momentos dramáticos e destrutivos, as feridas já estavam cicatrizando. O amor verdadeiro, cúmplice, e o tempo, curam qualquer coisa.
Fim!