Vincenzo pensou por um momento, não podia mentir para si mesmo:
– Ele vai com tudo pra cima dela, tentar seduzi-la.
Mirian insistiu:
– E você está bem com tudo isso? Não vamos tapar o sol com a peneira aqui, seu pai é um homem muito atraente e domina, como ninguém, a arte de seduzir uma mulher. Você confia tanto assim em Yelena? Tem certeza de que ela é incapaz de perdoá-los?
Ele, sinceramente, não tinha a resposta para aquela pergunta. Resolveu ser honesto novamente:
– Se essa for a escolha dela, não há nada que eu possa fazer …
Nenhuma das duas tinha mais o que acrescentar e com muita dificuldade, conseguiram convencê-lo a dormir um pouco. Mirian prometeu que ficaria de olho na mansão e Bá apenas se manteve próxima, carinhosa, cuidando de seu menino.
Mas se as coisas, apesar de tensas, estavam calmas para o lado dos três, na mansão, com o começo da madrugada, enquanto Mila trabalhava em seu notebook e Hélio já tinha se recolhido para dormir, Anastasia se levantou, precisava ir ao banheiro. Ela sorriu um sorriso tímido para Mila, mas sem dizer nada, apenas indo fazer o que precisava e assim que voltou ao quarto, percebeu que a morena estava com os olhos vidrados, olhando com pavor para a tela do notebook. Anastasia deu a volta na cama e olhou para o dispositivo. A tela preta, mostrava algumas palavras piscando no canto superior esquerdo:
– Por que Mila? Vai matar a minha irmã também?
Anastasia sabia o que acontecia e fingiu que não conseguia entender as palavras escritas em português na tela, tirando Mila do seu transe, falando em inglês:
– O que aconteceu? Deu problema no seu aparelho?
Assustada, achando que aquilo não aconteceria mais, Mila rapidamente fechou o notebook e desconversou:
– Acho que sim. Não se preocupe, volte a dormir. – Ela estava apavorada, disfarçando o terror que sentia.
Quando Anastasia se virou, a televisão ligou sozinha, mostrando a imagem de Toni e Yelena em meio ao fogo, com a pele do rosto derretendo, gritando num som gutural:
– Por que Mila? (Por que Mila, por que Mila, por que Mila …).
Anastasia deu um grito agudo, de pavor, se jogando sobre a cama, se agarrando em Mila, que sem alternativas, arremessou o notebook contra o televisor, estilhaçando sua tela, sumindo com a imagem. Mas o som permanecia audível:
– Por que Mila? Por que Mila? – De repente, mais um grito gutural, no último volume. – POR QUE MILA?
As duas saíram apavoradas do quarto, buscando refúgio na sala. Mila, com o coração disparado, sem conseguir se desgrudar de Anastasia, com um semblante de pavor, de quem tinha visto o demônio em pessoa. Anastasia copiava a mesma expressão de pavor de Mila. Hélio, surpreso e preocupado pelos gritos das duas, veio em socorro delas:
– O que aconteceu?
Anastasia quase respondeu, mas se lembrou rapidamente de que ele falou em português e, por um milésimo de segundo, conseguiu engolir as palavras que estavam na ponta da sua língua.
Hélio pegou uma de suas pistolas escondidas e começou a investigar a casa, à procura de algum invasor. Mila, se tremendo inteira, agarrada a Anastasia, apenas repetia:
– Isso não é real, eu estou alucinando … Isso não é real, eu estou alucinando …
Anastasia continuou na dela, parecendo tão assustada quanto Mila.
Do outro lado da cidade, aproveitando que o filho finalmente dormira, Mirian se divertia atormentando os residentes da mansão. Não tinha mais todo o aparato usado no começo, mas ainda podia usar a conexão wifi e os aparelhos ligados a ela para aprontar um pouco. Percebeu que Hélio acabara de entrar no quarto em que Mila e Anastasia foram "atacadas" e resolveu se divertir mais um pouco. Como tinha diversas gravações feitas por Toni e Yelena, era só enviar o pacote e aguardar o resultado. O áudio da televisão ainda estava perfeito, apenas a tela estava quebrada.
De arma em punho, Hélio entrou no cômodo e percebeu o que tinha acontecido. Ao se aproximar, ouviu a voz do filho vindo do aparelho:
– Traidores, desonestos, assassinos … vão matar a Anastasia agora? Já não foi suficiente uma esposa e um filho?
Muito assustado, sem pensar direito, Hélio atirou três vezes contra o aparelho, finalmente o inutilizando. Com as pernas trêmulas, muito assustado, se sentou na beirada da cama e não conseguia encontrar uma resposta para aquele fenômeno. Era a segunda vez que ele acontecia.
Achou que era hora de tomar uma atitude, tinha o vídeo do primeiro acontecimento salvo em um pen drive, precisava mandar para um técnico analisar e descobrir se aquilo era um brincadeira macabra de algum inimigo tentando desestabilizá-lo. Se lembrou também, da velha senhora que o abordou na saída do restaurante e sentiu um calafrio percorrendo sua coluna.
Não era homem de se intimidar com qualquer coisa, então, voltou até Mila e a sacudindo, exigiu saber o que tinha acontecido. Não obtendo resposta, vendo que sua atitude assustou Anastasia, que se afastou dos dois, assustada também com o barulho dos tiros, e ainda com a arma em mãos, ele não tinha desculpa para a forma com que tratou Mila, mas tentou, em inglês, se explicar para ela:
– Ela quase teve um colapso na primeira vez que isso aconteceu. – E pensou rápido. – Isso é uma brincadeira macabra de alguém, não leve a sério.
Ele aproveitou o momento para perguntar e ouviu com atenção a explicação de Anastasia sobre o acontecido, mas ela, sem conseguir pensar em algo melhor, disse que a televisão ligou em algum filme de terror, assustando as duas.
Hélio se levantou e, disfarçando para que Anastasia não notasse, tirou todos os aparelhos eletrônicos da tomada. Com a ajuda dela, conseguiu levar Mila para sua casa, nos fundos, pedindo que Anastasia ficasse com ela e se oferecendo para se manter ali, vigilante, cuidando das duas.
Anastasia não queria ficar muito próxima dele, principalmente com aquela arma na mão. Ela, apesar de demonstrar preocupação com o ocorrido, foi direta com Hélio:
– Eu ainda sou noiva, não decidi minha vida e não acho que devo passar a noite no mesmo quarto com outro homem. Foi só um filme de terror, nada demais. E, se algo diferente acontecer, eu o chamo, não tenho medo do sobrenatural, não acredito que queiram nos fazer mal.
Hélio, para manter sua farsa, sua tentativa de aproximação, não poderia errar. Preferiu não tentar se impor, não a assustar, aceitando sair dali e aproveitando a chegada dos vigilantes do condomínio, que só concordaram em não chamar a polícia depois de ver que as mulheres estavam bem e constatar que os tiros tinham sido dados no aparelho do quarto. Foi preciso também um pequeno suborno para que os três vigilantes dessem o assunto por encerrado.
Anastasia sabia que Mila tomava medicação para lidar com tudo o que acontecera desde o acidente e lhe deu um de seus calmantes mais fortes, remédio que a fez dormir em menos de meia hora. Pegou seu celular, foi até o banheiro e, falando baixinho, mandou uma mensagem de áudio para Vincenzo:
"Confiar em mim, saber o que fazer. Sei que estar confusa, sem entender, mas eu promete que logo, logo, você também entender meu intençau".
Anastasia sentiu uma pontinha de remorso ao ver que Vincenzo não leu e muito menos respondeu sua mensagem. Estava preocupada com o fato dele talvez não concordar com seus métodos. Mesmo assim, sentia que precisava ser mais ativa, parar de ser sempre protegida e também se tornar um pouco mais protagonista de sua própria vingança. A briga mais real daria a ela liberdade para navegar entre os dois traidores, a falta de contato mais próximo, protegeria a todos que ela ama. Era sua hora de se doar, de fazer a sua parte, mas estava cansada de seguir um roteiro pré-determinado, vivia se esquecendo e se perdendo. Daquela forma, ia acabar enfiando os pés pelas mãos e colocando tudo a perder. Sabia que Toni era inteligente o suficiente para seguir sua deixa e entender os seus propósitos. Era só questão de esperar e deixar que Hélio continuasse com seus planos. Toni a preparou para os diversos cenários possíveis. Era hora dele confiar nela.
Com a casa calma novamente, também resolveu se deitar e dormir um pouco. Precisava descansar, sabia que o dia seguinte seria intenso.
Ao acordar, percebeu que Mila não estava mais ao seu lado e que a camisola era um pouco mais sensual do que ela gostaria que fosse. Com certeza, Hélio teve uma excelente visão de seu corpo na confusão da noite anterior. Sem opções, se lembrando que o seu vestido deveria estar no quarto, dentro da casa maior, revirou as gavetas de Mila e encontrou uma roupa mais comportada, um pouco mais larga, é verdade, mas era o que tinha para o momento. Fez sua higiene matinal e saiu do quarto, em direção a casa maior.
Hélio, até então pensativo, sorriu ao notar sua presença:
– Bom dia! Espero que, apesar de tudo, tenha conseguido descansar.
Ela foi cortês:
– Sim! Onde está Mila?
Hélio não sabia a resposta, mas arriscou:
– Com tudo o que aconteceu ontem, acredito que ela deva estar no terapeuta. Desde o acidente, ela tem passado por maus bocados. Meu filho era o mundo dela. – Hélio se levantou e puxou uma cadeira. – Venha tomar o café da manhã.
Anastasia sentou e se serviu de uma metade de mamão papaia. Hélio começou seu jogo:
– Esse era o preferido da sua irmã também. Até nisso vocês são parecidas.
Anastasia era rápida nas respostas:
– Você deve saber que na Rússia não temos essa grande variedade de frutas. Desde que provei no hotel, me apaixonei. A variedade e a doçura das frutas daqui são surreais.
Hélio estava determinado a ser paciente e calmo, jogar o jogo da forma correta:
– Eu queria me desculpar por ontem. Imagino que você deva estar sofrendo por descobrir sobre o seu noivo …
Ela o interrompeu:
– Quem perde é ele. Eu só quero voltar para minha casa e seguir minha vida …
Hélio acabou se atropelando:
– Mas já? Por que não aproveita mais um pouco do país? Não se resolve nada de cabeça quente.
Anastasia resolveu ser mais ousada:
– E o que tem para resolver? Ele me traiu, ponto. Todos vocês sabem disso, pois pelo que eu me lembro, foi dentro de um de seus estabelecimentos, não foi? Você também deixou acontecer, foi cúmplice …
Hélio não esperava aquela virada, mas era especialista em manipulação:
– Sim, você tem razão. Mas de que outra forma eu conseguiria mostrar a você quem realmente era o seu noivo? Fiz isso para a sua proteção. Minha esposa, onde quer que esteja, aprovaria a minha atitude.
Visivelmente irritada, mas tentando se controlar, Anastasia sabia que era hora de dar um passo atrás:
– Pode ser, mas de qualquer forma, preciso encontrar meu noivo, ter uma última conversa …
Hélio não se segurou, interrompendo:
– Uma última conversa? Você vai mesmo terminar com ele?
Ela respondeu rápido:
– Claro! Traição não tem perdão. Esse papo de segunda chance não serve para mim.
Hélio não tinha argumentos para tentar impedi-la. Resolveu ser protetor:
– Entendi, mas gostaria que você levasse um segurança com você, caso precise.
Anastasia não entendeu:
– E por que eu precisaria de segurança? Vincenzo me traiu, é verdade, mas ele jamais levantaria a mão contra mim.
Hélio, com uma expressão séria, se levantou e buscou no escritório um dossiê sobre Vincenzo Mancini, cheio de acusações falsas de mulheres italianas, supostamente agredidas por ele. Ex-namoradas traídas, garotas de programa, até uma colega de faculdade.
Anastasia lia com atenção, tentando parecer genuinamente preocupada. Hélio se vangloriou:
– Você acha que eu cheguei aonde estou acreditando na boa fé de qualquer um? Antes de fazer negócio, eu mandei investigá-lo.
Ela o encarou:
– Eu também fui investigada?
Ele sorriu, mentindo para quebrar a tensão:
– Claro que não! Não era preciso. Yelena sempre falava sobre a família, eu sei tudo sobre vocês, mesmo que tenha demorado a conhecê-la.
Ela precisava se manter calma:
– Primeiro eu vou ao hotel, lá tem segurança, fique tranquilo. Preciso das minhas coisas e se ele estiver lá, conversamos, se não …
Hélio resolveu não insistir, precisava ser inteligente. Ela continuou:
– Depois, vou tentar comprar uma passagem para casa, devo estourar meu cartão de crédito, mas fazer o que, é o que me resta.
Hélio pensou rápido novamente, inventando uma viagem:
– Eu tenho um compromisso na Europa semana que vem, posso dar uma esticada até seu país, não precisa estourar o seu cartão. Aproveito e presto minhas condolências à sua mãe, e entregamos pessoalmente as cinzas a ela. É o correto a se fazer.
Anastasia não estava convencida. Ele tentou de novo:
– Por que você não aproveita para conhecer um pouco mais do Brasil? Posso dar uma folga a Mila durante essa semana e você terá companhia, o que me diz? Vai ser bom para ela também, ela está muito abalada psicologicamente, muito sozinha. Você me faria esse favor?
Anastasia ainda não se rendeu:
– Vou pensar, prometo. Por enquanto, preciso ir ao hotel buscar minhas coisas.
Hélio deu sua última cartada, tentando impressioná-la:
– Você dirige? Pode usar o carro que era de Yelena.
Hélio se levantou novamente e buscou as chaves no aparador da entrada. No chaveiro, o logo da Mercedes-Benz deixou Anastasia curiosa, pois seu carro, antes de "falecer" era uma Evoque, modelo Range Rover, de alto luxo, da Land Rover, azul marinho.
Hélio pediu que ela o acompanhasse e ao entrarem na garagem, no lugar do carro antigo, estava uma Mercedes GLE 400, ano 2023. Anastasia não escondeu sua admiração com o carro, mas aquele era um carro zero, intocado, e ela precisou provocar um pouco:
– Mas esse carro é muito novo para ser o de Yelena. Lembro que nas fotos que ela enviou, o carro dela era escuro, e de outro modelo. Esse é branco, novo.
Hélio tinha resposta para tudo:
– Esse foi um presente que ela usou apenas uma vez. Três dias depois de ganhar, aconteceu o acidente. Ela estava de carona no carro do meu filho, voltando para casa, quando alguém passou mal na rodovia e invadiu a faixa contrária, causando a tragédia.
Hélio chegou a ficar com os olhos marejados, contando sobre o acidente, um manipulador e mentiroso profissional.
Anastasia não podia entregar os pontos tão facilmente. Ela deu a volta no carro, o admirando, mas fingindo tristeza, disse:
– Infelizmente, meu passaporte está no hotel, não posso dirigir sem ele. Mas agradeço a gentileza. Quem sabe uma outra hora.
Hélio insistiu:
– Eu levo você então, tenho que ir para a cidade mesmo.
Anastasia resolveu jogar mais duro:
– Me desculpe, mas eu não sei o tempo que vai demorar, se meu noivo estiver lá, eu aparecer com você não seria uma boa ideia. Eu vou pensar com carinho na sua oferta de viagem e volto para cá depois, ok? A gente conversa com calma quando eu voltar.
Hélio resolveu não insistir mais. Só o fato dela dizer que iria voltar, já era uma pequena vitória. Se resignou, pois tinha outras coisas importantes a fazer.
Aproveitando que Anastasia voltou para a casa com a intenção de se arrumar para encontrar o, quem sabe, agora ex noivo, ele se trancou no escritório e ligou para o diretor de segurança digital da Holding e pediu:
– Preciso analisar a veracidade de um vídeo. É coisa minha, sem conexão com a empresa e eu gostaria de manter em sigilo. Eu preciso que você me indique o melhor profissional para esta tarefa? Nada menos do que o melhor.
Do outro lado da linha, o homem pediu alguns minutos para pesquisar e entender a demanda do patrão. Antes de desligar, Hélio, grosseiramente, disse:
– Além disto, eu prefiro alguém que trabalhe extraoficialmente, evitando os canais legais. Como eu disse, é sigiloso e pessoal.
O homem sabia exatamente a quem recorrer. Ele era o melhor neste assunto, a única pessoa na cidade com a competência necessária para um trabalho neste nível de exigência, ou seja, um expert, e disposta a trabalhos clandestinos daquele tipo. O funcionário informou a ele o nome e o telefone da pessoa indicada. Contudo, para a sorte de Vincenzo e Anastasia, era a mesma pessoa, cujos serviços, eles usaram.
Ansioso, querendo resolver de vez aquela situação, Hélio ligou, marcando uma visita do "perito" para a hora seguinte, aproveitando a saída de Anastasia.
Do outro lado da cidade, Mirian, acompanhando tudo pelo sistema de monitoramento, acordou o filho e o informou que Anastasia estaria no hotel em pouco tempo. Bá lhe serviu um rápido café da manhã, e ele partiu para o hotel, angustiado e querendo entender as pretensões de Anastasia. Confiava na amada, mas se não soubesse suas intenções, como poderia se preparar? Como poderia ajudá-la?
Mila chegava à mansão na mesma hora em que Anastasia se preparava para entrar no carro de aplicativo. Curiosa, ainda com o semblante assustado pela noite anterior, ela perguntou:
– Vai sair? Conhece a cidade pelo menos? Se precisar de ajuda, estou aqui por você.
Apressada, Anastasia apenas desconversou:
– Falamos quando eu voltar, estou indo resolver minha vida. – Ela entrou no carro, mostrou o endereço ao motorista e se foi.
Mila entrou em casa temerosa, sem saber o que esperar. Pelo horário, Hélio deveria estar no escritório. Ela foi ao encontro dele, bateu na porta e depois entrou:
– Desculpe por ter saído sem avisar, mas eu precisava …
Hélio a interrompeu imediatamente:
– Tá bom, o importante é que você chegou na hora certa.
Ela já esperava por aquele tratamento e resolveu ser direta:
– Precisa de mim para alguma coisa?
Ele também não fez rodeios:
– Desocupe a casa dos fundos, vou oferecê-la a Anastasia. Preciso que ela tenha motivos para ficar. Com a falsa sensação de privacidade, acho que será mais fácil …
Mila, pela primeira vez na vida, o interrompendo, protestou:
– Mas aquela é a minha casa, não é justo …
Falando mansamente, usando suas táticas de manipulação, Hélio se aproximou dela, sendo carinhoso:
– Faço isso para o seu bem também. Você irá ficar no quarto ao lado do meu, bem perto para que eu possa cuidar de você. Ficar sozinha lá não está lhe fazendo bem.
Mila, para ganhar alguns pontos, também uma manipuladora esperta, sugeriu:
– Você disse que Anastasia é formada em administração, porque não oferece a ela a clínica de Yelena? Aquilo lá está largado, a atual administradora é péssima e você, com certeza, irá ganhar muitos pontos com ela. Seria um trunfo a mais para os seus planos de ganhar tempo.
Hélio achou a ideia genial, se perguntando como não havia pensado naquilo antes. Ele abraçou Mila e disse:
– São esses os momentos em que me lembro o motivo de ter mantido você ao meu lado. Sua ideia é perfeita.
Para fazer com que ela se sentisse importante, para mantê-la fiel, Hélio a beijou, já aproveitando para apalpar sua bunda e fazer elogios:
– Eu sei que às vezes sou grosso, intragável, mas saiba que eu confio em você. – E para não deixar dúvidas, mentiu. – Você é a única família que me restou.
No fundo, a intenção de Hélio era sumir com Mila, mas sem ela na casa, seria praticamente impossível convencer Anastasia a ficar. Precisava ser paciente e continuar movendo suas peças com a maestria que ele achava dominar.
Ao ouvir aquilo, mesmo que não acreditasse, Mila derreteu, se entregando as carícias e as mãos e boca habilidosa dele. Como de costume, ele a segurou forte pelos cabelos e a colocou apoiada sobre a mesa do escritório, arrancando sua calça e tirando rapidamente o pau para fora, buscando a penetração.
Ele se lembrava do lindo corpo de Anastasia na noite anterior, sexy na camisola da falecida esposa. As duas eram fisicamente idênticas, o que fazia o pau de Hélio latejar enquanto invadia as carnes de Mila. Foi uma estocada única, preenchendo e laceando a buceta, que começava a se encharcar.
Alucinado, pensando na russa, e em sua segunda chance, ele estocava loucamente, arfando e metendo, sem parar, sem dar tempo para Mila se ajeitar, apenas socando fundo, a provocando e dando tapas em sua bunda:
– Que saudade da minha putinha preferida … mesmo tendo compromissos, não podia deixar de dar uma rapidinha …
Mila não era boba, sabia o que acontecia:
– Enquanto espera uma, se diverte com a outra, né? Que delícia … assim mesmo …
Hélio metia forte, já estava quase lá:
– Puta boa é assim, sabe o seu papel … não se preocupe safada, eu vou continuar cuidando de você, viciei nesse cu gostoso que você tem …
Mila rebolava, o provocando ainda mais:
– E não vai meter no meu cuzinho agora? Quer só minha bucetinha?
Hélio, não se segurando mais, gozou forte na buceta dela, sem se preocupar com mais nada, dizendo:
– Depois … puta gostosa … tenho um compromisso que já deve estar chegando … aí, caralho … que buceta apertada …
Mila ainda ganhou mais um beijo na boca, coisa que os dois não faziam com frequência. Também precisava que ele se mantivesse focado em Anastasia. Hélio era esperto:
– Me desculpe o egoísmo, mas eu estava precisando. Prometo recompensá-la depois. – Hélio saiu ajeitando as calças, em direção ao banheiro.
Mila não se importou:
– Eu acredito em você, relaxa. Tive uma boa sessão com o terapeuta.
Hélio achou que era hora para informá-la. Contou sobre os vídeos gravados e mostrou a ela o que as câmeras captaram, deixando-a ainda mais assustada. Ele a acalmou:
– Deixa de ser boba, isso é coisa dos meus inimigos, um ataque macabro aproveitando a morte do Toni e da Yelena. Eu não tenho provas ainda, mas é por isso que contratarei um perito. Ele já deve estar chegando e saberemos a verdade.
Mila pediu:
– Você se importaria se eu contratasse alguém para fazer uma limpeza espiritual na casa? Acho que isso me deixaria mais calma.
Hélio não via motivos para não concordar e apenas autorizou, arrancando um sorriso lindo e verdadeiro do rosto de Mila, que até tomou a atitude de beijá-lo mais um vez, sendo acolhida e tendo seu beijo correspondido por ele.
No meio daquele momento estranho de união entre os dois, um dos empregados bateu na porta do escritório e informou que o compromisso de Hélio, o técnico e perito, havia chegado. Mila o deixou a sós, apenas arrumando a roupa e indo se limpar em seu quarto. Hélio foi até a porta receber o profissional e sem muita delonga, o chamou para o escritório, entrando e trancando a porta. Como sempre, ele foi direto:
– Eu imagino que você saiba quem eu sou e para a gente continuar, preciso que você assine isso.
Hélio entregou a ele um contrato de confidencialidade sobre o material a ser analisado. Era um contrato simples, mas com cláusulas bastantes duras. Após uma leitura bem atenciosa, o técnico o assinou:
– Eu entendo. Fique tranquilo, se fui recomendado, é porque meus clientes sempre confiam em mim.
Hélio entregou a ele o pen drive com as imagens a serem analisadas e disse:
– Eu preciso saber se o que tem nesse vídeo é real ou se foi uma edição, um efeito criado para tentar me assustar. Pode trabalhar aqui mesmo no meu computador, eu até prefiro que seja assim.
Sem opções, o técnico precisou ser realista:
– Não é assim que funciona, senhor. Eu preciso levar o vídeo para ser analisado com calma. Essas coisas não são feitas em minutos. Eu preciso de, pelo menos, dez a quinze dias para entregar um relatório completo, um laudo profissional.
Hélio pensou um pouco e mesmo contrariado, não entendia como o processo funcionava e achou melhor concordar:
– Tudo bem! Você leu o contrato e o assinou, não tenho motivos para me preocupar.
Após fecharem o valor do serviço e Hélio pagar a metade como adiantamento, o técnico se foi. Ele se lembrou da casa e de Toni, um serviço inusitado como o feito ali, jamais seria esquecido por ele. Percebeu naquele momento, que tinha nas mãos o futuro da vingança do antigo cliente. Percebeu também, que poderia faturar ainda mais, vendendo a informação a ele e o ajudando. Estava em conflito, um serviço era diretamente ligado ao outro, pois fora ele quem havia criado aquele vídeo que agora voltava às suas mãos.
Uma hora antes, a caminho do hotel, Anastasia pensava no que queria falar para Vincenzo. Aquela conversa iria ser tensa, mas ela precisava seguir com o que planejou. Sua intenção ia de encontro à vontade dele, os dois tinham o mesmo objetivo. Inteligente, detalhista, ela sabia que precisava manter firme sua posição, brigar por ela se necessário, fazer Vincenzo entender que ela era plenamente capaz de seguir com as mudanças que planejou. Ela não iria pedir permissão, ia apenas informar e mostrar a ele as vantagens que sua ideia tinha sobre o acordo anterior.
Mas, antes de qualquer coisa, antes que os dois pudessem seguir em frente, eles tinham um assunto muito sério a resolver, pois a interação dele com Natasha estava muito além do que fora previamente combinado. Daria a ele a chance de se explicar, mas o sentimento de traição em seu peito, doía tanto quanto o anterior, o mesmo sentimento que a levou a aceitar os planos de Toni e embarcar naquele processo de vingança.
Estava tão imersa em seus pensamentos, que só saiu do transe ao ouvir o motorista informar que eles haviam chegado ao hotel.
Alheia ao mundo ao seu redor, preocupada, nem se importou de passar pela recepção descalça, carregando os saltos na mão. Pediu ao atendente a chave do quarto e como foi atendida, entendeu que Vincenzo não estava ali. Subiu e tomou um banho, deixando a água lavar a sensação agonizante de estar de volta aquela mansão, um lugar que ela achava maldito por um lado, mas também, o local onde conheceu o grande amor da sua vida, mesmo que ele tenha aparecido num momento de grande dor. A mesma dor que uniu os dois, que fez com que eles se apaixonassem.
Se enxugou e vestiu o roupão, sem nada por baixo, se deitou na cama, novamente se perdendo em seus pensamentos e aguardou pacientemente por Vincenzo.
Não precisou esperar muito, pois logo ouviu duas batidas na porta:
– Sou eu, meu amor! Abre aqui.
Com o coração pulando uma batida, ela se levantou apressada. Não sabia o que esperar, mas precisava se impor, defender sua posição, tentando ao máximo, evitar uma ruptura maior. Ao abrir a porta, jamais esperava a reação de Vincenzo. Visivelmente contrariado, mas tentando falar de forma calma, ele disse:
– O que aconteceu ontem? Eu entendo que você tenha ficado chateada comigo, mas se colocar naquela posição, sozinha com os dois … Eu não vou permitir isso.
Ela também não queria dar o braço a torcer. Estava magoada e se sentindo vulnerável:
– Nau permitir? Achar que ser parceiros, iguais, nau seu propriedade. E quem precisar se explicar nau ser eu. Você e Natasha aproveitar situaçau, trair meu confiança.
Vincenzo, se tocando para a realidade de suas ações, entendeu e achou melhor dar um passo atrás. Anastasia estava visivelmente furiosa, o encarando com raiva. Ele, novamente, tentou se explicar:
– Eu já disse que não me lembro bem do que aconteceu. Tanto eu, quanto Natasha, fomos drogados. Para mim, era com você que eu estava. Eu a via nitidamente na minha frente.
Ela não estava convencida:
– Se colocar na minha lugar. Inverter história. O que você pensar ao receber vídeo tão explícita? Nós acabar de ser traídas e você fazer isso? Conhecer sua pai, seu mãe e eu avisar, essa descuido nau ser tolerável, parecer desculpa.
Vincenzo entendeu o ponto de vista dela, sabia que Anastasia tinha total razão em suas reclamações. Se ele achava que aquela era uma situação ruim, ainda não tinha a mínima ideia do que vinha pela frente. Duas novas situações viriam para abalar de vez aquela vingança, duas situações com potencial destrutivo.
Continua.