ONDE AS SOMBRAS ACABAM - CAPÍTULO 1: VALE A PENA?

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 1872 palavras
Data: 11/07/2023 02:25:34
Última revisão: 06/05/2025 04:58:55

"Onde as Sombras Acabam" é um romance comovente sobre amor, coragem e identidade — e sobre o poder de encontrar luz mesmo nos lugares mais escuros.

Jimmy é o astro do time de futebol da escola: popular, carismático, sempre cercado por amigos. Mas por trás do sorriso seguro, esconde um segredo que o consome em silêncio — a violência dentro de casa e o peso sufocante das expectativas.

Ethan é o novo aluno: introspectivo, criativo, invisível aos olhos dos outros. Cresceu em uma família rígida e homofóbica, e aprendeu a sobreviver escapando para os livros, onde amar é possível.

Quando seus mundos colidem, a desconfiança dá lugar a uma conexão inesperada. E juntos, Jimmy e Ethan vão descobrir que fugir do que machuca é fácil — mas encarar a própria verdade exige coragem.

"Onde as Sombras Acabam" é uma história de descobertas e cicatrizes, de luz nas frestas e da força que nasce quando se escolhe viver com verdade. Um tributo à juventude LGBTQIAP+ e ao amor que resiste, mesmo nas sombras.

OBS: ALGUNS CAPÍTULOS VÃO TRATAR DE TEMAS DELICADOS COMO DEPRESSÃO E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. ENTÃO, SE VOCÊ FOR SENSÍVEL A QUALQUER UM DESSES TÓPICOS EU PEÇO QUE CONFIRA OUTRAS HISTÓRIAS MINHAS.

CAPÍTULO 1: VALE A PENA?

JIMMY

— Jimmy, porra! — Grita meu pai da sala, enquanto estou no quarto. Levanto assustado e vou ver o que está acontecendo.

— O que foi...?

Nem tenho tempo de entender. Um soco no estômago me faz perder o ar e cair de joelhos no chão. Tento me manter consciente, mas a dor é absurda. A voz dele ecoa enquanto luto para respirar. Ele me puxa do chão e esfrega um papel na minha cara.

— Estão me cobrando 13 dólares porque você quer jogar futebol!

Joga o papel em cima de mim e vai até a pia, bufando de raiva.

— É a taxa padrão, pai... — Murmuro, ainda curvado de dor, tentando recuperar o fôlego.

— Cala essa boca e sai daqui! — Grita, desviando a atenção para a vizinha gostosa, que rega as plantas no jardim com seu típico show diário.

Aproveito a distração e corro.

Não lembro exatamente quando as agressões começaram. Mas sempre estiveram ali, como um veneno silencioso que se infiltrou na minha vida. A violência do meu pai não tem lógica, não tem freio. Ele destruiu minha família inteira. Até minha tia Aileen, a única que parecia se importar comigo, ele afastou. Um por um, todos foram sumindo. Me deixaram sozinho com ele — o monstro da minha vida.

Qualquer coisa serve de gatilho. Uma vez, ele me deu um soco por ter derramado um pouco de leite no chão. Nunca entendi o que há de errado com ele. E, sinceramente? Nem quero mais entender. Só tenho um objetivo: me formar e desaparecer desse lugar.

Na escola, sou Jimmy Robinson — o astro do time de futebol americano. O garoto de ouro. Cumprimento colegas no corredor com um sorriso ensaiado e recebo abraços calorosos. Um deles me faz estremecer de dor.

— E aí, Jimmy! Como foram as férias? — Pergunta Trevor, meu melhor amigo, me puxando para um abraço entusiasmado.

— Ótimas. Só malhei e trabalhei um pouco. — Respondo, forçando uma naturalidade que não sinto. Claro que não conto sobre o "soco de bom dia" que ganhei do meu pai.

Nas últimas semanas, tenho usado camisas de manga longa para esconder os hematomas.

Às vezes, penso que poderia matá-lo. Força eu tenho. Mas... pra quê? Isso só me prenderia aqui por mais tempo. A única saída é ir embora. Fugir. Nunca mais olhar pra trás.

— James Robinson. — A voz do professor de Geografia me chama, mas estou distante. — Jimmy. — Ele repete, usando meu apelido. Os alunos riem da minha distração.

— Presente, professor. — respondo, tentando parecer desperto.

A escola é meu refúgio. Aqui, sou alguém. O capitão do time. O líder. Faço de tudo para conseguir mais atividades extracurriculares e evitar ao máximo estar em casa.

Alguns professores suspeitam. Eles veem. Sentem. Mas se calam. Talvez tenham medo do meu pai também. Como pode um homem colocar tanto medo em tantas pessoas?

Só preciso sobreviver tempo suficiente para fugir. Tenho uma pequena reserva de dinheiro. Trevor está comigo. Ele é uma das poucas luzes na minha escuridão.

— Ei, moleque. — Trevor cutuca meu ombro com uma caneta. — Acorda, parceiro.

— Vai se foder. — Murmuro, arrancando uma risada dele.

— Adivinha quem vai sair com a Samantha? — Questiona, batucando a caneta no meu ombro.

— O Papa?

— Não, palhaço. Eu! Euzinho. A gata da Samantha vai provar um pouco do Trevor. — Ele sorri orgulhoso. Revolto os olhos.

— Com licença, Sr. Allen. — Diz a secretária Lucy ao entrar na sala. Ela entrega um papel ao professor.

— Ah, claro. Pode entrar. — O professor acena em direção à porta, sorrindo.

E então o tempo para. Juro. Nunca vi um garoto tão bonito. Lábios carnudos e rosados, pele morena, olhos cor de mel por trás de óculos de grau. Usa um moletom da escola e uma calça cargo preta. Não dá pra ver muito do corpo... mas já é o suficiente para me deixar sem ar de novo — dessa vez por um motivo melhor.

— Ethan Ward? — Pergunta o professor, lendo o papel.

— Sim.

— Se apresenta para os colegas, querido. — Incentiva Lucy, com a mão em seu ombro.

— Oi. Eu sou Ethan Ward, tenho 17 anos e fui transferido da Escola Sagrado Coração de Cristo. — Responde ele, visivelmente tímido. Suas bochechas ficam vermelhas. Sorrio sem perceber.

— Sagrado Coração? Um internato... Olha só. — Comenta o professor, pedindo que ele se sente na carteira ao meu lado.

A aula segue com cochichos das meninas e uma explicação infinita sobre pontos cardeais. Na segunda aula, tenho um teste físico no campo. Uma das vantagens de ser atleta é escapar dessas aulas maçantes.

Todo início de semestre, o treinador Stuart monta um circuito para avaliar nossa condição física.

Não me considero super forte ou resistente. Mas sou bom em fingir. E é isso que faço nos últimos anos.

Finjo que está tudo bem em casa.

Finjo que não sinto nada por garotos.

Finjo que amo o futebol americano.

Eu só... finjo.

***

ETHAN

Tá tudo bem, Ethan.

A voz da minha mãe ecoa dentro de mim, como um mantra que não consigo ignorar. "Só precisa terminar o ensino médio sem mais problemas." Mas como? Eu sou o catalisador de todos os conflitos da minha família. E esse impulso que arde no meu peito — essa vontade de gritar, de fugir, de ser quem eu realmente sou — não desaparece. Preciso controlá-lo antes que ele me destrua.

— E então, Ethan. — O psicólogo da escola folheia meu prontuário com dedos lentos, como se cada página contivesse um segredo indecifrável. — Seus pais pediram que eu cuidasse do seu caso. — Ele pausa, erguendo os olhos. — Escola Sagrado Coração de Jesus. Eles têm um dos melhores programas de missões. Já pensou em participar?

Aperto os cordões do moletom até os nós dos dedos doerem.

— Não, senhor. Eu... não sei o que quero.

— Isso é comum na sua idade, filho. — O Sr. Griffin sorri, mas seus olhos não acompanham a expressão. — Esses impulsos são normais. O importante é não deixá-los te controlar. — Ele fecha a pasta com um estalo. — Conheço seu pai há anos. Ele só quer o melhor para você. E eu vou ajudá-lo.

Ótimo. Além de ser expulso da minha antiga escola, agora ganhei um vigia particular. Sem celular, sem computador, sem contato com os amigos do internato. Nem o Drake se despediu de mim. Burro. Eu sou tão burro.

A nova escola até que é decente, mas não era assim que eu imaginava meu último ano. Queria estar lá, com eles, rindo das mesmas piadas idiotas. Em vez disso, estou aqui — um exílio forçado, uma fuga para evitar mais vergonha.

Pelo menos deixaram-me ter os livros. A biblioteca é meu refúgio nos intervalos, mesmo que eu não possa levá-los para casa. "George Orwell não combina com o filho do pastor", imagino minha mãe dizendo, especialmente depois de tudo o que aconteceu.

Por que a religião tem que ser tão... sufocante? Deus é amor, não é? Então por que eu preciso mudar quem sou para ser amado? Nada disso faz sentido. O jeito é abaixar a cabeça, sorrir e fingir. A vida perfeita do Ethan Ward, o filho exemplar.

Minha fé sempre foi verdadeira, mas a mesma religião que deveria me acolher é a que me asfixia. Não posso mudar o que sinto, então aprendi a enterrar. É simples assim. E tá tudo bem. (Ou pelo menos é o que repito para mim mesmo.)

Caminho pelo corredor, invisível. Os alunos passam por mim como se eu fosse um fantasma— e talvez seja mesmo. Ninguém olha, ninguém sussurra. Puxo o capuz do moletom verde (presente "cortês" do diretor) e sigo para a aula de matemática.

— Ei, garoto.

A voz é áspera, feminina. Quando me viro, vejo uma garota alta, cabelos negros com pontas roxas, uma tatuagem tribal serpenteando seu ombro. Seu moletom preto e as meias-calças desfiadas combinam com as botas militares.

— Oi.

— Tem um isqueiro? — A garota tira um cigarro atrás da orelha, esperando.

— Não.

— Porra. — A moça ri, seca. — Me enganei, né? Te expulsaram por ser bonzinho demais?

— Não.

— Tédio. Ela guarda o cigarro e passa por mim, sumindo pela porta.

Bettany. O nome surge nos murmúrios dos alunos. "Ela nem sempre foi assim", alguém comenta. "Coisa de fase."

Enquanto a turma debate ansiosamente o SAT, eu me pergunto se algum teste vai decidir meu futuro. Meus pais nunca me deixarão sair deste estado. Vou acabar em uma faculdade comunitária de Wisconsin, estudando teologia, pregando em algum porão de igreja.

Casa. Escola. Igreja. O ciclo se repete. Meu pai arrumou emprego no primeiro templo que encontrou — e a culpa é minha. Ao chegar em casa, minha mãe está na cozinha, cantando hinos no rádio.

— Boa tarde, filho. — Ela me cumprimenta, forçando um sorriso. — Vou fazer um lanche para você.

— Boa tarde, mãe. — Minha voz soa mecânica.

— A irmã Mary ligou hoje. A sobrinha dela...

— Mãe, por favor. — Interrompo, e seu olhar corta como uma lâmina. "Decepcionante."

— Este ano você vai arrumar uma namorada, Ethan. — A minha mãe coloca um sanduíche de queijo na minha frente, junto com um suco de laranja "natural". — Vai alegrar seu pai.

Alegrar o pastor Ward. Como se minha existência fosse um espetáculo para ele. Ele nem sequer tenta me entender. Já pensei em sumir — um acidente, talvez. Todo mundo ficaria aliviado.

Minha mãe fala sem parar. Eu aceno, murmuro respostas, mas minha mente está longe. Morto. Talvez seja a única solução.

A porta se abre. Meu pai entra, deixando sua pasta em cima da mesa como um veredito.

— Boa tarde. — Ele mal olha para mim. — Falou com o Sr. Griffin?

— Falei.

— Bom. — Seus lábios se apertam. — Ele mencionou um centro... para jovens como você. Pode ser nossa última opção.

— Que tipo de centro? — Minha mãe pergunta, mas sua voz já está fraca, como se já soubesse.

Meu pai não hesita:

— De conversão.

Procuro desesperadamente o olhar da minha mãe, mas ela apenas mexe no sanduíche, silenciosa.

— Depois do escândalo em Boston... — Meu pai suspira. — O Senhor vai libertar você, Ethan. Tenho fé.

— Tudo bem. Minha voz some no ar.

É isso. Vou pagar pelo meu "pecado" de existir. Não há saída. Não há esperança.

Preciso acabar com isso.

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