JIMMY
O quarterback é o jogador mais importante da partida. Somos considerados a peça central do ataque, os responsáveis por distribuir a bola e pensar estratégias em tempo real. Durante os jogos oficiais, uso um sistema de comunicação no capacete — o treinador me passa as coordenadas, e eu preciso ser rápido, certeiro, decisivo.
Esse é o meu momento. E eu tento aproveitá-lo com sabedoria. Às vezes, fico no campo até tarde, ajustando lançamentos, testando formações. Meu pai trabalha num frigorífico durante a madrugada, então, nessas horas, tenho o silêncio só pra mim. Quando o jogo termina, me ofereço para guardar os equipamentos. Prefiro isso ao barulho.
O treinador, satisfeito com a vitória, leva a equipe para comemorar na pizzaria. Mas eu preciso de outra coisa. Preciso de silêncio, de espaço, de um momento em que eu possa respirar sem ninguém olhando. A escola à noite tem essa calma. Ninguém gritando comigo. Ninguém me ameaçando.
Termino de organizar tudo e caminho até as arquibancadas. No meio das grades, encontro uma faixa caída: "Orgulho do Papai", está escrito, com tinta vermelha e letras tortas.
Deve ser da família do Richard, um dos recebedores do time. Ele sempre tem alguém nas arquibancadas por ele. Como deve ser... ser amado assim? Ter um pai que vibra com você, que vai aos jogos, que levanta uma faixa no meio da torcida? O meu nunca fez isso. Nem uma vez sequer. Antes de virar titular, ninguém gritava meu nome. Agora gritam. Mas ainda assim... ainda me sinto vazio.
Seguro a faixa por um tempo. Olho pra ela. Depois a levo até a lixeira mais próxima.
Para chegar na Avenida Labron, preciso atravessar o bosque atrás do ginásio. Sempre ouvi histórias sobre esse lugar — dizem que é amaldiçoado, que coisas ruins acontecem ali. Nunca acreditei. Mas, à noite, cercado por árvores retorcidas e galhos estalando ao vento, começo a entender o medo.
O caminho é engolido pela natureza, e um cheiro doce se espalha no ar. Florido, quase enjoativo. O frio aumenta e me obrigo a andar mais rápido. Estou com o moletom do time, mas o tecido já não ajuda. Meu corpo está gelado. Meu coração, mais ainda.
Droga. Acho que estou perdido. As árvores parecem iguais, os passos também. Dou meia-volta. O coração dispara.
Foi aí que a vi. A sombra.
— Droga — Murmuro, tapando a boca com a mão imediatamente.
Congelo. Não sei o que fazer. Só sei que estou sozinho, perdido. A única opção é... seguir a sombra. Parece insano, mas não tenho alternativa. O bosque à noite é um labirinto, e ela parece saber para onde vai.
Sigo-a com cautela. Os galhos rangem sob meus pés, e tudo ao meu redor parece me observar. A sombra para ao lado de uma árvore grossa. Me abaixo, tentando não fazer barulho, o coração batendo alto demais.
Meus olhos começam a se acostumar com a escuridão. A silhueta ganha forma. Eu reconheço. É o Ethan Ward. O aluno novo. O que ele está fazendo aqui, no meio do bosque? É um feiticeiro? Um cultista? Um maluco?
Não quero descobrir. Me viro para ir embora, mas então escuto um som estranho — grunhidos, sufocados.
Dou dois passos pra frente, hesitante. E então vejo.
Ethan. Ele está pendurado na árvore. Seus pés se debatem no ar, tentando desesperadamente encontrar o chão.
Meus olhos se arregalam. Congelo.
Eu não sei o que fazer.
Não sei mesmo.
*****
ETHAN
É isso.
Eu não vou ser mais uma decepção para os meus pais. Não posso continuar vivendo assim. A única saída... é a morte. Pessoas como eu — pecadoras, afundadas na luxúria — merecem pagar o preço.
A corda aperta meu pescoço. O ar foge dos meus pulmões. A dor é imediata, mas o alívio vem logo depois. Meus sentidos começam a se apagar. Ainda há uma luta dentro de mim — parte quer viver, se agarrar a qualquer migalha de esperança. A outra parte já se entregou. Já aceitou o fim.
— Ei, cara... Ei! — Ouço uma voz distante, grave e surpreendentemente acolhedora. Uma voz masculina. Poderia escutá-la por horas. — Acorda, por favor. Droga, Ethan... por que você nunca aprendeu primeiros socorros? — Sinto braços me envolvendo com cuidado. — Vai ficar tudo bem. Eu prometo.
Depois disso, o silêncio. O mundo desaparece.
Quando abro os olhos de novo, estou em um campo florido. O vento corta o ar com suavidade, frio na medida certa. Ele carrega o perfume das lavandas — minha planta favorita. Tão belas, tão cheias de vida.
Como eu vim parar aqui?
Estou morto.
Meu plano funcionou.
Finalmente, encontrei a paz...
Mas por que não estou feliz?
Aqui, ninguém me julga. Ninguém sente vergonha por quem eu sou. Posso existir sem medo, sem me esconder. Eu deveria me sentir livre. Deveria estar em paz.
Mas algo dentro de mim ainda dói.
Sem saber para onde ir, começo a caminhar. O pasto é verde, pontilhado de flores roxas. O cenário é lindo, mas há uma tristeza silenciosa em tudo isso. É estranho — familiar e inquietante ao mesmo tempo.
De repente, o céu começa a escurecer. As nuvens pesadas se acumulam e a chuva cai sem aviso. O vento, antes suave, agora uiva como um lamento. As lavandas são arrancadas do chão. O frio me atravessa como navalha. Corro em direção a uma árvore próxima, mas um raio a atinge antes que eu consiga alcançá-la.
— Acorda, cara! — Alguém grita. E então, tudo muda.
Acordo com um sobressalto.
— Não! — Grito, instintivamente chutando alguém.
— Porra! — Um garoto loiro cai no chão, levando as mãos ao nariz. — Você tá maluco?!
— Me desculpa! — Digo, ofegante e confuso. — Eu... eu não sabia...
Ele se levanta, com o rosto contorcido de dor, mas me estende a mão.
— Caramba... — Diz.
Demoro um instante, mas aceito a ajuda.
— Por que eu tô molhado? — Pergunto, finalmente notando as roupas encharcadas.
— Eu te achei no bosque do colégio... Você... — Ele hesita. — Você tentou se enforcar.
Não consigo responder. Apenas abaixo o olhar.
— Aquilo foi uma besteira. Eu tô bem, tá? Obrigado por me ajudar. — Digo, tentando encerrar a conversa. Viro de costas, mas ele segura meu braço com firmeza.
— Besteira é o caralho. — Ele responde, firme, sem soltar. — Você precisa de ajuda, Ethan. Eu não vou fingir que nada aconteceu. Não depois de te encontrar daquele jeito.
Sua voz está embargada. Ele respira fundo.
— Tá bem... vamos com calma. Eu me chamo Jimmy...
— Jimmy Robinson. — O corto. — A estrela do time. Eu sei quem você é. — Murmuro, puxando meu braço. — Ethan Ward.
— O novato. — Ele força um sorriso e passa a mão pelos cabelos molhados. — Você quase me matou do coração. Achei que estava vendo um fantasma.
— Fantasma? — Repito, mas uma dor aguda na garganta me interrompe. Levo a mão ao pescoço.
— Tem uma marca feia, Ethan... — Ele diz com o olhar preocupado. — Melhor não forçar a voz por agora.
******
JIMMY
Que loucura. Eu ainda mal consigo acreditar no que aconteceu. Eu acabei de salvar uma vida. Mas, mesmo em meio ao alívio, não consigo parar de pensar no Ethan. Ele é, sem dúvida, o garoto mais bonito que já vi. Seu pescoço está vermelho, machucado, e essa marca me atrai o olhar de um jeito estranho, desconfortável — talvez até íntimo demais.
Vou até o carro e pego uma garrafa de água. Aprendi ao longo dos anos — depois de tantas brigas, de tantas feridas — que água quente ajuda na circulação. A temperatura elevada estimula os vasos sanguíneos, ajuda os hematomas a sumirem mais rápido. A gente aprende essas coisas quando passa a vida escondendo machucados.
Jogo um pouco da água nas mãos e me aproximo dele. Passo com cuidado ao redor do pescoço. Ele se assusta, se encolhe no primeiro toque, mas não me afasta. Nossos olhos se cruzam. Respiramos ofegantes, como se algo invisível e intenso estivesse pairando entre nós.
— A... água quente ajuda na circulação. Eu uso isso depois dos treinos de futebol. — Minha voz falha, mas continuo. — Vai por mim... você não vai querer chegar em casa com essa marca.
Mas minha atenção escapa. Vai direto para a boca dele — carnuda, vermelha, úmida. Ele geme baixinho com o meu toque.
— Ah... entendi — Responde, quase sussurrando, como se meu toque provocasse mais do que só alívio.
O que está acontecendo comigo? Ele quase tirou a própria vida, e eu... eu estou com tesão? Isso é errado. Eu não posso pensar nisso agora. Não devo. Não posso...
Então ele me beija.
Não é um selinho tímido. É um beijo quente, intenso, cheio de urgência. E eu me deixo levar.
Estamos no quintal da minha casa. Meu pai provavelmente está bêbado em algum canto. Por agora, tenho tempo. E Ethan... Ethan parece faminto por esse momento.
— A cabana de ferramentas — Digo, apontando para a pequena estrutura que meu pai construiu anos atrás.
— Você tem camisinha? — Ele pergunta, sem rodeios.
— Tenho. — Respondo, quase sem pensar, pegando uma da minha carteira.
Entramos na cabana como se o mundo lá fora não existisse. Ele tira a roupa com uma velocidade impressionante. Meu corpo ainda carrega marcas — roxos no peito e na barriga — então mantenho a camisa branca. Não faz diferença agora. O que importa é que o "grande" Jimmy já está rijo, pulsando, e preciso me aliviar.
Apesar do sexo casual, eu sou gentil. O calor entre nós cresce como um incêndio. Os gemidos dele me enlouquecem. Eu poderia ficar ali para sempre com o Ethan. Mas meu corpo tem seus limites, e, como um adolescente inexperiente, não aguento muito tempo.
— Caralho... — Solto, ofegante. Me afasto, tiro a camisinha e a descarto de lado.
— Meu Deus... — Diz Ethan, se vestindo apressadamente. — Isso foi um erro.
— Eu... te machuquei? — Pergunto, alarmado.
— Não. Não foi isso. Eu só... eu preciso ir. — Ele sai da cabana como se o ar lá dentro tivesse se tornado insuportável.
Fico parado, nu, encostado na mesa.
— Nossa... — Sussurro para mim mesmo. — O que foi que acabou de acontecer aqui?