ONDE AS SOMBRAS ACABAM - CAPÍTULO 13: NOS BRAÇOS DELE

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2379 palavras
Data: 31/08/2023 01:35:40
Última revisão: 06/05/2025 05:50:31

NARRAÇÃO JIMMY:

Trevor está sentado ao nosso lado. Já faz uns vinte minutos que ele não solta nenhuma piada ou faz algum comentário ofensivo. Menti para o meu melhor amigo. Menti justamente para evitar este momento. Não consigo lembrar de um tempo em que não fôssemos nós dois. E se eu perder a amizade dele?

O pôr do sol desce lentamente por trás das montanhas geladas do parque. O frio começa a apertar, mas ninguém tem coragem de se levantar. O coitado do Ethan está verde — não sei se é pelo flagra ou pelo frio. Estou completamente perdido, sem saber o que fazer ou dizer. Meu coração dispara, minha garganta seca. É uma situação horrível.

— Tá, vamos lá. — Diz Betty, se levantando e limpando o casaco com firmeza. — Brian, o James é teu melhor amigo. Vocês se conhecem desde sempre. Então, por favor, não vai ser um babaca homofóbico. Os dois se gostam, e não há nada que a gente possa fazer. A vida é deles. Ou seja, não é um problema teu. — Ela fala de forma direta, quase ríspida, mas com uma sinceridade que corta o ar. Trevor não tem nada a ver com isso.

— Eu? Homofóbico? Não sou homofóbico! — Trevor explode, se levantando num pulo e começando a andar de um lado para o outro. — Só tô puto porque o meu melhor amigo escondeu isso de mim! A gente sabe quase tudo um do outro! — Ele faz aspas no ar com os dedos ao dizer "quase". — Tipo... lembra daquela vez que eu quebrei o vaso da mamãe? Quem foi a primeira pessoa que eu procurei?

— Eu. — Respondo, com a voz baixa.

— E quando eu caguei nas calças na aula do Sr. Diaz? Quem foi até minha casa buscar uma bermuda?

— Eu. — Repito, engolindo seco.

— E quando meus pais se divorciaram? Quem dormiu uma semana comigo, me ajudando a não pirar?

— Eu, Trevor. Ok. — Digo, me levantando e indo na direção dele. — Desculpa. Eu não te contei porque... eu fiquei com medo. Muito medo. Medo de perder o único amigo que eu tenho. Você não faz ideia do quanto isso me apavora. — De repente, as lágrimas começam a escorrer. — Tem tanta coisa que você não sabe... E eu não te conto porque eu te conheço. Sei que, se soubesse, faria de tudo pra me ajudar. E é exatamente isso que me assusta.

— Coisas que eu não sei? — Ele me encara. — Do que você tem medo, Jimmy?

Respiro fundo, mas as palavras saem rasgadas.

— Sabe por que eu passei duas semanas de cama? Não foi por causa de uma maldita cirurgia de apêndice. O meu pai... ele me bateu. Ele me espancou porque eu esqueci as ferramentas fora do lugar. Me deu dez chutes nas costelas, que romperam meu baço. Eu quase morri. — Minhas pernas falham, e eu caio de joelhos. — Eu tenho medo, Trevor. Tenho medo de que ele machuque você também...

— Jimmy... Desde quando isso acontece? — Ele pergunta, horrorizado, mas eu não consigo responder. Começo a chorar descontroladamente.

— Desde sempre, Brian. — Responde Ethan, com um nó na garganta. — O Sr. Robinson tortura o Jimmy desde que ele era pequeno. O corpo dele está cheio de hematomas e cicatrizes...

— É por isso que você nunca tira a camisa em público... — Trevor me olha com os olhos arregalados. — Como eu nunca percebi isso antes? Irmão... — Ele se ajoelha na minha frente e me abraça forte. — Me perdoa, Jimmy. Eu sou o pior amigo do mundo. Eu sinto muito. Muito mesmo.

— Que fofo. — Solta Betty num tom debochado. — Se eu ainda tivesse meu coração original, eu estaria chorando agora.

— Betty, para com isso. — Ethan a repreende, e ela murmura um pedido de desculpas.

— Então... isso quer dizer que eu não preciso mais ficar vigiando o Trevor? — Pergunta Betty, me olhando com seus olhos castanhos.

— Pera aí. — Trevor me solta. — Você estava me vigiando?

— Sim. O casal arco-íris queria um tempo a sós. E eu estava ajudando nessa missão. E antes que reclame, eu descobri sem querer. Fui puxada pra esse vórtice amoroso. Sou tão vítima quanto você. — Ela afirma, arrancando uma risada de todos, até de mim.

Trevor limpa as minhas lágrimas, mas eu ainda não consigo encarar ele. Então, ele segura meu rosto e me obriga a olhar em seus olhos.

— Eu te amo, cara. Você é um irmão pra mim. Me perdoa... não só pelo que o teu pai te fez, mas por você sentir que não podia ser totalmente verdadeiro comigo. — Ele sorri, tentando aliviar o clima. — Mas, me diz uma coisa... você estava doido pra dar uns beijos no Trevor, né? Sabia que você tinha ciúmes de mim! Eu sou irresistível. Um verdadeiro ímã para garotas e garotos.

— Idiota. — Dou um tapa leve na cabeça dele e o abraço de novo.

— Podemos levantar agora? Meu joelho tá congelando. — Ele reclama, se erguendo e me ajudando a levantar também.

O vento fica ainda mais gelado, e ouvimos sons estranhos vindo da mata. Decidimos voltar para nossas barracas. Apesar de tudo, sinto que tirei um peso enorme dos ombros. O medo que me consumia... foi em vão. Trevor se mostrou mais que um amigo. Um irmão. Claro, ele xingou meu pai de todos os nomes possíveis, mas isso... isso é o de menos.

Todos começam a se reunir ao redor da fogueira, mas eu só quero dormir. Ethan ficou em silêncio o caminho inteiro. Será que está bravo comigo? Mais uma pessoa descobriu sobre nós, e foi por minha causa. Entramos na barraca, e o silêncio continua. Ele troca de roupa e se deita.

— Ethan... me desculpa. O Trevor descobriu sobre nós por minha culpa.

— Ei... — Ele acaricia meu rosto com delicadeza. — Eu não estou bravo. Só fiquei preocupado com você. Achei que o Brian ia ser um idiota, mas ele mostrou que é um ótimo amigo. Agora temos mais um aliado.

— Você se importa de ficar comigo? Eu não quero socializar agora...

— Tudo que o meu príncipe quiser. Hoje você pode tudo. — Afirma Ethan, acariciando meu cabelo.

— Assim eu vou acabar ficando mal acostumado... — Brinco, antes de adormecer nos braços dele.

***

NARRAÇÃO DO ETHAN:

Acordo no meio da madrugada com vontade de fazer xixi. Coloco o casaco às pressas e sigo para o banheiro, que fica numa área afastada das barracas. Senhor... que frio horrível. Olho o celular: sete graus. No caminho, ouço cochichos vindos das barracas. Meus colegas falam sobre sexo e garotas bonitas. Nem imaginam que eu já transei numa barraca, antes mesmo deles. Héteros escrotos.

De repente, encontro o Trevor numa parte mais isolada do acampamento. Ele tenta acender um cigarro, mas não consegue. Me aproximo devagar. O rosto dele está molhado de lágrimas. Ele andou chorando. Pego o isqueiro da mão dele e o ajudo a acender o cigarro. Entrego de volta, e ele guarda no bolso.

— Como eu não percebo uma coisa dessas, cara? — Ele pergunta, com a voz embargada. — Como é que o próprio pai tem coragem de espancar o filho?

— Eu não sei — Respondo, ficando ao lado dele. — Minha relação com meu pai também não é boa, mas... ele nunca me bateu. Isso não quer dizer que ele não tenha feito outras coisas ruins.

— Eu sinto muito, Ethan. Só de imaginar o que o Jimmy passou... as surras que levou, as vezes que foi parar no hospital. E eu ali. Eu ali... e não percebi nada. — Ele começa a chorar de novo, e a voz falha.

— Ei — O abraço com força. — O que importa é que agora a gente pode ajudar o Jimmy. Eu, você, e até a Betty... mesmo com aquele jeito louco dela.

— Verdade. Vou falar com meu pai e...

— Não! — Interrompo, sério. — A gente não pode agir por impulso. Sério, já pensei em matar aquele homem... mas isso só vai prejudicar o Jimmy.

Ele me olha, surpreso com minha intensidade. Continuo:

— Vamos tentar curtir o fim de semana, tá bom? Depois a gente pensa no que fazer.

— Quer um trago?

— Não, obrigado. Eu gosto demais dos meus pulmões.

— E o que você tá fazendo aqui fora nesse gelo? — Ele pergunta, soltando a fumaça do cigarro como se fosse vapor de dragão.

— Vim fazer xixi. Esse frio tá me matando. E você?

— O Noah ronca e fala enquanto dorme. Consegue imaginar?

— Boa sorte, Trevor — Digo, dando um tapinha no ombro dele. — E obrigado por cuidar do Jimmy.

— Obrigado por cuidar... e amar o meu irmão — Ele responde.

Sorrio sem conseguir evitar. Nunca pensei que teria uma conversa dessas com o Trevor. Depois de trocar mais algumas palavras, sigo até o banheiro. O aquecedor quase não funciona, e a maçaneta da porta parece estar congelada. Faço o que preciso, e volto correndo para a barraca.

Encontro o Jimmy dormindo, quietinho, como uma pedra. Me deito ao lado dele. É a primeira vez que durmo com alguém assim. Quer dizer, tirando a época do colégio interno, quando eu era obrigado a dividir o quarto com o Galvin Wiltson, um babaca de primeira. Agora é diferente. Me agarro ao Jimmy, querendo aproveitar cada segundo. Passo minha perna direita por cima dele, até achar uma posição confortável.

— Diz que eu tô sonhando, por favor... — Escuto a voz dele e abro os olhos. — Bom dia, dorminhoco. Você é a coisa mais linda do mundo dormindo, sabia?

— Jimmy... — Murmuro, ainda limpando o rosto com a mão. — Eu devo estar horrível.

— Para com isso, Ethan. Você é o cara mais lindo do universo — Solta, sorrindo. — Desculpa... eu durmo tão pesado. Quando durmo, não ouço nada mesmo.

— Eu percebi. Fui até o banheiro e você nem se mexeu.

Ele arregala os olhos.

— Você foi sozinho? Amor, toma cuidado. Eles avisaram que tem coiotes na região. É pra ir em grupo até o banheiro!

A voz dele treme um pouco. Ele toca o meu rosto com carinho, mas consigo sentir o medo por trás do gesto.

— Tá tudo bem, amor. Eu fui rapidinho... mas prometo não sair sozinho de novo, tá?

Ele me encara por alguns segundos, preocupado, e depois me abraça mais forte.

***

NARRAÇÃO DE JIMMY

Minto para o Ethan. Não tenho sono pesado. Na verdade, não durmo. Mas ao lado dele, passo a primeira noite de sono da minha vida. Em casa, estou sempre alerta por causa do meu pai — dormir é impossível. Quando me deito na noite anterior, meu corpo relaxa e eu apago. Acordo no dia seguinte com o ronco leve do Ethan.

Vamos ao banheiro, e está um frio do cacete. O céu anuncia uma forte chuva ou, quem sabe, uma nevasca? O clima aqui é completamente instável. Tomamos banho e seguimos para o refeitório do Parque. O Sr. Adams orienta um grupo de alunos sobre a programação do dia.

Trevor corre até mim e conta sobre a noite horrível que teve. Segundo meu melhor amigo, o Noah ronca demais.

— Sério, ele espanta todos os coiotes e lobos da região. Eu não durmo, Jimmy. — Dramatiza ele. — Eu não durmo.

— Se quiser cochilar na nossa barraca...

— Negativo. — Corto o Ethan, que tenta ser bonzinho com o Trevor. — Ele que lute.

— Tive uma ideia! — Exclama Ethan. — Já volto. — Sai correndo em direção à área das barracas.

— E aí, Don Juan. Alguém teve uma noite melhor do que a minha, né? — Provoca Trevor, levantando a sobrancelha.

— Que nada. Eu durmo. Apago. Estou tão cansado. Em casa, Trevor, não posso me dar ao luxo de dormir. Às vezes, meu pai chega bêbado. Nos últimos dias, coloco a cômoda para segurar a porta do quarto. — Explico, e vejo a surpresa no olhar do meu melhor amigo.

— Jimmy, se quiser ficar lá em casa, eu falo com a mamãe. Posso usar a carta do divórcio e...

— Relaxa, irmão. Dou conta. — Seguro no ombro dele e mudo de assunto. — E já temos a programação?

— Sim. Vamos fazer rapel usando fantasias e mergulhar no lago McDonald. Tinha outras coisas, mas agora alguém está namorando...

— Quem está namorando? — Pergunta Katy, uma de nossas colegas. Ela espera a resposta com ansiedade.

— Me metem! — Exclama Betty, sentando perto da gente. — Não quero fazer trilha!

— A Betty e eu! — Grita Trevor, desesperado. — A Betty e eu estamos namorando!

— O quê?! — Betty se levanta na hora e nos encara.

— Que legal — Solta Katy, sorrindo. — Vocês combinam mesmo.

— Trevor! — Ethan grita e corre na nossa direção. — Trouxe protetores auriculares. — Chega ofegante e entrega uma caixinha para Trevor.

— Ethan, meu amigão... você me deve muito mais do que isso — Murmura Trevor, sorrindo sem graça.

— Ethan, a Betty e o Trevor estão namorando — Anuncia Katy.

— Katy, querida, acho que o Sr. Adams está te chamando. — Solta Betty, indo na direção da nossa colega.

— Acho que não.

— Tá sim. Vai lá, vai! — Betty pega a caneta de Katy e joga para longe. A nossa colega sem entender vai embora. — Que porra é essa, Trevor?

— Desculpa. A gente estava falando sobre o relacionamento deles — Explica Trevor, apontando para mim e para o Ethan. — Do nada, essa fofoqueira aparece e eu entro em curto-circuito. Desculpa.

— Ela é a garota mais fofoqueira de Montana. Tenho que manter a minha fama de fácil. — Afirma Betty, chateada, mas agindo como uma atriz.

— Desculpa. Desculpa. — Implora Trevor, ajoelhando-se e sendo mais "diva" do que a própria Betty.

— Gente, parece que estou assistindo a uma novela. — Ethan olha para mim, segurando o riso.

— Verdade. — Respondo, sorrindo, porque estou adorando o desespero do Trevor.

***

NARRAÇÃO ETHAN

Entre aulas e aventuras, o final de semana passa muito rápido. A Betty me transforma em seu súdito — afinal, sempre dou um jeito de metê-la em confusão e fofoca. O Jimmy aproveita bastante também. Ele chega até a nadar pelado em um dos lagos do parque. Nem preciso dizer que levamos bronca dos professores.

O Jimmy me leva para uma última caminhada pelas trilhas do parque. Graças a Deus, as nuvens dão uma trégua e o pôr do sol mostra toda a sua glória. Dou vários beijos no meu namorado. É tão bom. De repente, um raio brilha no céu, mas não faz barulho. Olho para trás e vejo alguém escondido nas moitas.

— Isso não foi um raio, né? — Pergunto para o Jimmy.

— Acho... acho que não. — Ele se levanta e vai na direção da moita, mas não encontra ninguém.

— E agora, isso foi o flash de um celular. Quem fez isso? — Penso, tentando não passar meu nervosismo para o Jimmy.

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