No dia seguinte, logo cedo, bem cedinho mesmo, levantei-me e me produzi da melhor forma possível, como uma verdadeira executiva. Saí da minha quitinete diretamente para o escritório do Mark. Ninguém havia chegado ainda, mas minutos depois sua secretária chegava, abrindo a porta e entrando. Entrei pouco depois e, naturalmente, ela estranhou minha presença. Perguntei se o Mark demoraria muito e ela estranhou mais ainda, sinal de que nossa separação ainda não estava na “boca do povo”. Ela disse que ele chegaria em breve e me ofereceu sua sala para esperá-lo, o que aceitei, entrando, fechando a porta e me sentando numa das poltronas de atendimento Cerca de dez minutos depois, a porta se abria e fechava atrás de mim e pouco depois um Mark surpreso e curioso me olhava enquanto ele dava a volta na mesa para se sentar em sua poltrona:
- Oi, mor… Ô, caramba! Um dia eu ainda me acostumo... Oi, Mark.
PARTE 11 - DECISÕES E DÚVIDAS
- Oi… Oi!? O que você está fazendo aqui, Fernanda? São, aliás, nem são oito horas ainda!
- Precisamos conversar e eu sou só um pouquinho ansiosa, então, né, cá estou.
- Ah… Bem, quer conversar sobre o quê?
- Você podia ser mais gentil e me oferecer um café, né? Pelos bons tempos…
Ele, naturalmente, me olhou desconfiado, mas foi até sua secretária e pediu dois cafés que nos foram servidos pouco depois. Com a porta novamente fechada, um silêncio se instalou em sua sala, onde só ouvíamos os sons de nossos sopros tentando esfriar um pouco aquele cafezinho que estava pelando. Não durou muito, pois minha ansiedade me empurrou para cima dele:
- Eu queria, antes de qualquer coisa, perguntar se existe alguma chance de você me perdoar?
Ele pareceu ficar surpreso e perdido com a pergunta. Acredito que ele não estivesse pronto para ter uma conversa daquelas, ainda mais comigo que há pouco tempo havia feito uma das maiores burradas da minha vida, atingindo nossas filhas e família:
- Olha só, Fernanda… Estou puto com você sim, chateado, decepcionado, magoado, frustrado, sei lá mais o quê… - Disse e suspirou fundo para não vomitar mais um pouco de seu ressentimento sobre mim: - Mas eu não vou ficar assim para sempre, nem quero. Sentir raiva ou ódio de alguém faz muito mais mal para quem sente do que para quem é o alvo da ira. Eu não quero isso para mim, nem para você. Com o tempo vai passar.
- Ah… Ótimo! Obrigada. - Suspirei fundo também, feliz com o que eu já sabia, porque eu já sentia no meu coração, mas precisava ouvir pessoalmente: - Posso te perguntar outra coisa?
- Claro!
- Você… Você… - A pergunta mais dolorida precisava ser feita e o medo me fez gaguejar: - Você me aceitaria de volta? Você acha que conseguiria encontrar no seu coração uma forma de me ajudar a consertar tudo o que eu fiz de errado?
Ele se surpreendeu ainda mais com a minha objetividade, logo ele, o senhor “na lata” se surpreendeu com minha objetividade. Ele arregalou seus olhos e parecia não saber o que falar ou talvez não quisesse, com medo de me machucar. Ele pôs a mão esquerda sobre a boca e apoiou o cotovelo esquerdo no braço de sua poltrona, olhando para a parede atrás de mim, à minha direita. Seus olhos estavam tristes, embaçados pela névoa da decepção dos acontecimentos. Ele não precisava dizer nada para eu entender tudo, mas ainda assim insisti:
- Você ainda me ama, né?
Embora apático e perdido, temente com ele mesmo, balançou suave e positivamente sua cabeça, sem, entretanto, me encarar. Insisti uma vez mais:
- Mas não me quer, né?
Ele novamente balançou a cabeça, suave e positivamente, sem se dar conta de como contraditórias poderiam ser essas duas respostas. Tentei parecer divertida essa dualidade:
- Como pode ser isso, né? A gente se ama, mas não se quer… - Falei, enxugando uma lágrima: - Coisa louca, né?
Outra vez ele balançou a cabeça da mesma forma que antes, mas agora os olhos dele estavam marejados porque minhas ações não tinham feito mal apenas a ele: nossas filhas também haviam sentido o peso de minhas más decisões e isso certamente era o diferencial que fazia ser tão difícil me aceitar de volta ou talvez ele simplesmente tivesse se fartado de mim, não sei...
Um silêncio incômodo voltou a dominar o ambiente que, mais que incomodar, machucava e eu não podia mais permitir que machucasse quem eu amava tanto:
- Mark, eu… - Suspirei, reunindo novamente forças: - Ontem, eu tomei uma decisão e liguei para o seu Paulo: decidi que vou fazer aquele treinamento na matriz dos Estados Unidos. Talvez até um intercâmbio…
A surpresa se estampou em seu semblante e ele me encarou novamente. Nesse momento, enxugou uma lágrima com as costas da mão direita:
- Mas como? Assim? Agora? E as meninas?
- Eu acho que será melhor para todos que eu me afaste. Vou fazer esse treinamento lá e depois eu volto. E as meninas têm um pai maravilhoso! De qualquer forma, farei vídeo chamadas sempre que possível. - Tomei o restante do meu café que desceu como fel: - Será que em menos quinze dias você consegue resolver o nosso divórcio?
A palavra “divórcio” o assustou, mas não o suficiente para calá-lo:
- De onde você tirou tudo isso? Foi o doutor Galeano que te convenceu a fazer isso?
Sorri, divertindo-me com o fato de que ele parecia realmente não imaginar que eu fosse capaz de tomar alguma decisão sozinha e expliquei:
- Não, claro que não. Eu liguei para ele e sei que ele ligou para você, mas não tem nada a ver com ele. Olha que eu perguntei para ele o que deveria fazer, mas ele só escorregava igual um lambari ensaboado. Acredita que não me deu uma única resposta? Mas me encheu de perguntas e possibilidades. Acho que saí com mais dúvidas de lá do que quando entrei.
- Mas então…
- Uai, eu só preciso dar tempo a todos nós: as meninas e você precisam de paz e eu preciso colocar a cabeça e o coração no lugar. Acho que esse tempo será bom para baixar a poeira e recomeçar “direitin” depois.
Ele estava surpreso, mas passou a analisar tudo sob a ótica do direito, certamente pensando em todos os trâmites que precisariam ser feitos e explicou:
- A Justiça é lenta, Nanda… Fernanda, desculpe! Não dá para resolver tudo em menos de quinze dias…
- Tá, mas se eu deixar uma procuração, você consegue resolver tudo?
- Não posso ser seu advogado nisso.
- Ah, Mark, por favor, só confio em você. É só você fazer tudo e eu assino.
- Não dá, simplesmente não dá! Eu sou a outra parte do processo, naturalmente, eu advogo para mim. Como vou defender os meus interesses contra você ou defender os seus interesses contra mim? Não é assim que funciona.
- Saco! E como a gente faz, então?
- Você terá que contratar um advogado. Mesmo que seja um divórcio consensual, ele representará seus interesses. Posso até indicar alguém da minha confiança, se você quiser.
- Mark, eu não quero nada! Eu só comecei a trabalhar há pouco tempo, tudo o que a gente tem é fruto do seu trabalho. Se você concordar, eu fico só com o carrinho que eu já uso e você com todo o resto. A única coisa que eu queria era as nossas filhas…
- Sem chance! - Interrompeu-me, falando, pela primeira vez, enfaticamente, dando conta de quem seria sua prioridade inegociável: - Não abro mão da guarda das meninas! Além disso, a Maryeva nunca aceitaria isso, nem vou impor isso para ela.
- Não, não, não… Não é isso! Eu não quero a guarda delas, só quero poder visitá-las, conviver com elas quando eu retornar. A guarda pode ficar com você.
Ele se encostou na cadeira, olhando-me mais desconfiado ainda, pensando em algo e eu acabei tendo uma ideia, pegando meu celular, discando para uma certa pessoa e colocando o aparelho em cima da mesa, com o viva voz ativado, tudo sob o olhar atento dele:
- Fernanda!? Por que está me ligando? - Perguntou uma certa voz doce e já bem conhecida da gente.
- Bom dia para você também, Denise! - Falei num tom jocoso: - Tudo bem com você?
- Ah, eu estava ótima até agora… - Respondeu, deixando bem claro do lado de quem ela estava.
- Denise, estamos conversando no viva voz, de frente para o Mark que está me olhando com uma cara de surpresa que só vendo para você entender.
- Aham… Tá bom! Me engana que eu gosto.
- Fala algo para ela, Mark!
- Oi, Denise, eu estou aqui sim.
- Mark!? Mas que porra da puta que pariu está acontecendo aí, caralho!?
Eu e ele nos olhamos surpresos com o xingamento da princesinha norueguesa e não conseguimos conter as risadas:
- Denise, que boca suja é essa!? - Perguntei, ainda rindo, mas controlando-me pouco depois, continuei: - Estamos tratando do nosso divórcio e eu te liguei para saber se não pode assinar como minha advogada?
- Oi!? Mas que… que… Puta que pariu de história mais… mais… - De repente, ela começou a falar umas palavras em outra língua, mas eu não entendia nada e pela cara dele, acho que nem o Mark.
- Denise, você está xingando em… Que merda de língua é essa? - Perguntei.
- Acho que é alemão… - Mark retrucou, olhando para o meu celular com os olhos arregalados.
- Vai tomar no cu você também! - Ela respondeu, agora aparentemente chorando.
Eu e ele ficamos sem saber o que dizer, porque ela começou a chorar do outro lado da ligação. Aquilo me doeu ainda mais, afinal, minhas ações estavam machucando até mesmo ela, que longe de ser parte da minha família, era talvez a mais próxima e íntima que tínhamos em nosso convívio extrafamiliar. O Mark assumiu:
- Denise, acalme-se! Respira fundo, doutora.
Depois de chorar mais um pouco, ela falou:
- Ah, Nanda, eu não posso ser sua advogada. Você sabe que não dá.
- Denise, é só para assinar! Já resolvi tudo com o Mark, ele vai ficar com tudo, menos o meu carrinho e também ficará com a guarda das filhas. Eu só vou ficar com o direito de visita, só isso!
- Eu não disse que aceitava… - Ele retrucou.
- Você não aceita ficar com tudo e as meninas!? O que mais você quer? Um cuzinho, uma chupetinha? Porque não vai me sobrar mais nada! - Brinquei e ainda emendei: - Se for esse o caso, eu posso até pedir para a minha advogada assumir as visitas noturnas e mesmo as diurnas daqui por diante.
- Ah, gente, poxa… - Denise começou a chorar novamente.
- Para, Denise! Que saco, mulher. - Reclamei: - E aí, assina pra mim?
Ela choramingou mais alguma coisa que não dava para entender e falou no final que assinaria. Passou-me então seu e-mail e eu já mandei meus dados pessoais para que ela providenciasse o que fosse necessário. Na realidade, o Mark já tinha tudo e certamente faria todo o trabalho, mas ainda assim fiz questão de enviar para ela. Desligamos e ficamos, eu e ele, olhando para nossas caras, sem saber mais o que dizer, mas eu ainda tinha uma última questão em que precisava de ajuda:
- Mor… - Suspirei fundo: - Caralho, não vou me acostumar nunca! Mark! Mark, Mark, Mark, Mark, gravou Nanda!? É Mark, porra!
Ele sorriu timidamente e balançou negativamente a cabeça:
- Naquele dia em que a Mary me flagrou, eu juro por tudo que é mais sagrado, não que isso faça diferença, mas eu juro que não beijei o Rick, ele é que foi me envolvendo e me beijou, mas, como eu disse, isso não faz diferença, né?
- Você é uma adulta, Fernanda. Ninguém beija um adulto sem que o adulto queira ou permita. Se aconteceu, foi porque você quis ou permitiu. - Respondeu, fazendo um meneio de cabeça e um movimento de ombro: - E realmente nisso você está certa, não faz diferença alguma: a merda já está feita!
- Então… - Respirei fundo com a invertida e continuei: - Depois que saímos de lá, ele me levou para o apartamento dele, dizendo que queria cuidar de mim “coisa e tal” e a gente acabou transando…
- E por que está me contando isso? Não tenho interesse algum mais em saber das suas intimidades…
- Poxa, para! Escuta! - Pedi, olhando para ele que se acalmou: - Eu estava muito nervosa, muito mesmo, quase surtando e ele me deu um calmante. Só que, ao invés de acalmar, eu pirei na batatinha e ataquei ele! Acho até que eu comi ele e não o contrário.
- Fernanda, eu não estou entendendo o que você quer chegar... - Falou sem tirar os olhos de mim e concluiu: - Você está desconfiando dele, acha que ele pode ter te drogado, é isso!?
- Eu não pensava assim, mas o doutor Galeano levantou essa possibilidade…
- Mas que belo filho da puta que você arrumou para se apaixonar, hein!? - Interrompeu-me, mas se corrigiu: - Tá! O que você quer fazer? Denunciá-lo?
- Você deve estar louquinho para fazer isso, né!? - Brinquei, mas sua seriedade, me fez engolir o sorriso: - Não sei se quero denunciá-lo, eu nem sei se estava drogada! Mas se isso for verdade, eu… eu… Pior é que ele fez um filme para me mostrar que eu o ataquei e não o contrário.
- Celular?
- É!
- Você pediu para ele apagar, não pediu?
- Não!
- Puta que pariu! Mas como você é burra, hein, Fernanda! Caralho…
- Ôôô! Não sou mais tua mulher para você falar assim. - Brinquei, sorrindo e, enfim, consegui fazê-lo sorrir também, depois continuei: - Juro pra você: eu quero terminar com ele de vez, mas agora ele tem esse filme. O que eu faço?
Ele se encostou na cadeira, claramente preocupado e pensativo a respeito, mas eu conhecia o meu Mark e aquele ali era o estrategista: ele estava colocando as peças no tabuleiro e antecipando os movimentos do adversário para buscar a vitória. No final, o que ele disse não me agradou:
- Boletim de ocorrência.
- Polícia!? Eu não quero isso, ainda mais aqui! Se essa história vazar, eu foderia a vida de todo mundo.
- Pois é! O problema é que não tem outra saída que seja cem por cento garantida. Pensa: se ele tiver esse vídeo só no celular e apagar da galeria e da lixeira, ótimo, acabou; mas, e se ele tiver passado esse vídeo para um “notebook”, ou para um “pendrive”, ou mesmo para a nuvem. Se ele for tão canalha como o doutor Galeano imagina e eu sei que ele é, porque só um canalha destrói uma família, só a Justiça poderia te garantir.
A palavra “canalha” dita pelo Mark, naquele contexto poderia ser aplicada tanto para o Rick como para mim mesma. Senti o baque, mas acho que ele nem se tocou do “toco” que me deu. Preferi ignorar:
- Eu não acredito que eu possa ter me enganado tanto…
- Não sei, Fernanda, o homem é seu! Foi você que se envolveu com ele. Você é que deve dizer se ele é confiável ou não.
- Não tem algum outro jeito? Um que não envolva a polícia ou a Justiça?
- Cem por cento garantido!? Não! Para te falar a verdade, nem com a Justiça há cem por cento de garantia, porque ele pode dizer que não fez, mas fez, e postar na internet um dia, no futuro. Ele seria condenado? Sim, seria, porque é crime, artigo 218… - Ficou pensativo novamente, olhou em seu computador e completou: - Artigo 218-C do Código Penal, com pena de um a cinco anos, mais aumento de um terço da pena, por ter mantido relação íntima com você.
Aquilo já me preocupava, porque se o doutor Galeano estivesse certo, o Rick era capaz de qualquer coisa, até mesmo me prejudicar numa vingança besta. O Mark, vendo minha tensão, deu uma sugestão:
- Nada é cem por cento garantido, certo!? Então, vamos partir para o “Plano B”, sem Justiça e polícia, por enquanto… Liga para ele e marca um encontro num local neutro. Finja que está tudo bem entre vocês e toque no assunto daquela noite. Quando tiver uma chance, peça para ele te mostrar o vídeo novamente, que deve estar no celular dele, não é? - Perguntou e confirmei com a cabeça: - Daí, você apaga o vídeo da galeria de fotos do celular dele, dizendo que isso estava te incomodando. Não esquece de apagar na lixeira também, ouviu? Então, pergunte se ele tem alguma cópia: se ele disser que tem na nuvem, exija que ele apague na sua frente; se ele disser que tem no “notebook”, “pendrive” ou noutro equipamento, exija o mesmo, mas somente vá se estiver acompanhada. Se ele é tão mal caráter assim, ficar a sós não é uma boa ideia. Ah, e o mais importante de tudo: você vai gravar toda a conversa que tiver com ele nesse encontro, porque se o vídeo aparecer amanhã na internet, você já terá uma prova pré constituída e que facilitará a condenação desse filho da puta, entendeu?
- Quem eu vou arrumar para ir comigo!? Olha a minha situação, não posso contar nada para ninguém!
- Eu só disse para você não ir sozinha e, pior, ainda terá que confiar na palavra dele. Ele pode muito bem apagar o do “notebook” e esconder o do “pendrive” ou outro meio. Nunca será cem por cento garantido, infelizmente…
- Entendi. Que merda, viu!... - Lamentei, escondendo o rosto nas mãos e logo completei, dizendo o óbvio: - Ah, se você soubesse como eu me arrependo de não ter te ouvido naquele maldito jantar…
- Já foi. Você fez sua escolha e isso agora é um problema seu. Só estou te ajudando a pensar e socorrer nossas filhas, mas as decisões e ações agora serão todas por sua conta.
- Poxa! Você está mesmo sentido comigo, né?
- Engano seu! Não tenho tempo para ficar com raiva de você. Como eu disse, só quero saber do bem estar das minhas filhas…
- Nossas filhas! - O interrompi e ele me olhou bravo, claramente incomodado.
- Pois é, isso eu não posso mudar, infelizmente…
- Poxa, Mark, que é isso!? Eu sei que te decepcionei, mas espero que, pelo menos, possamos ser amigos. Pelo bem das meninas…
Ele suspirou fundo, duas vezes, olhando para mim com o semblante carregado e depois fez um “mea culpa”:
- Você está certa. Desculpa. Você está procurando uma orientação profissional, não posso me deixar influenciar pelas questões pessoais. - Falou, olhando para o computador: - Se for só isso, acho que acabamos.
- Você faz a papelada do divórcio?
- Faço, Fernanda, faço. Depois envio para a Denise e ela liga para você.
- Ah, Mark, eu… eu também queria ver as meninas. Tô morrendo de saudades…
Ele me olhou, pensando alguma coisa e falou, por fim:
- Olha, é cedo para um encontro, não quero e não vou forçá-las, mas nada impede que a gente se encontre, assim, sem querer, hoje, por volta das seis e meia naquela lanchonete entre os lagos da cidade, se é que me entende?
- Hã!? Ah tá! Obrigada, mor. - Falei e novamente me lembrei: - Mark, desculpa, é Mark.
- Mas escuta, não force nada. Se você notar que o clima vai azedar, dá uma desculpa e sai, ok? Já está sendo uma barra equilibrar os nervos da Mary.
- Tá. Não, mas vai dar tudo certo. Vai sim.
Despedimo-nos e ele, como sempre educado e cavalheiro, deu a volta em sua mesa para abrir a porta para mim. Antes que ele fizesse, segurei sua mão sobre a maçaneta e perguntei:
- Posso te dar um beijo?
- No rosto, né!?
- Aham.
Aproximei-me dele, colocando as mãos em seus ombros e me encostando para alcançá-lo. Pode ter sido impressão minha, mas a respiração dele também mudou, também porque a minha disparou que cheguei a ter uma vertigem. Ele notou e me amparou, olhando preocupado. Quando nossos olhos se cruzaram a centímetros de distância, parecia que eu estava de volta ao meu lugar seguro e estava realmente: era ele, ali, o meu homem, o meu Mark. Claro que me aproximei um pouco mais, intencionada em me entregar de corpo e alma, mas ele desviou o olhar e abriu a porta:
- Tentarei mandar ainda hoje a documentação para a Denise, Fernanda. Tenha um bom dia.
- Ah! É. É… - Suspirei e lhe desejei o mesmo, porém sem olhar em seus olhos para não começar a chorar um arrependimento que parecia não parar de crescer dentro de mim.
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO, EM PARTE, FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL NÃO É MERA COINCIDÊNCIA, PELO MENOS PARA NÓS.
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