Oi, gente. Tive que dar uma editada no texto. Por favor, me perdoem pela falha.
JIMMY
O Ethan não responde às minhas mensagens nem às dez ligações que fiz. Será que foram descobertos? Olho uma foto nossa e penso nos bons momentos que vivo ao lado dele. Já estamos juntos há três meses. Nunca forçamos nada. As coisas simplesmente aconteceram. A pegação virou sexo. O sexo virou rotina nas nossas vidas.
Todo esse lance com a Betty desperta um lado ciumento em mim. Por mim, o Ethan não deveria passar por tudo isso, mas quem sou eu para julgar, né? Afinal, se meu pai descobre que sou gay, eu morro na hora. Graças a Deus, os Wards não são violentos. Mas o que pesa mais: ser homofóbico ou ser agressivo? Os dois são formas de violência.
Aos poucos, vou pegando no sono na cama. Só que acordo com batidas fortes na porta do meu quarto. A voz áspera do meu pai me chama, mas finjo que não escuto. Ainda bem que coloquei uma cômoda para ajudar caso ele tente arrombar a porta.
As palavras dele são desconexas, mas a maioria serve para me amaldiçoar. Ele joga todas as frustrações dele em cima de mim. Já estou tão acostumado que acabo dormindo de novo e só acordo quando o despertador toca. A primeira coisa que faço é pegar o celular: nenhuma mensagem do Ethan.
Faço uma ligação, mas cai na caixa postal. Sem paciência, me levanto e vou para o banheiro tomar uma ducha. Não quero começar o dia estressado. Escolho roupas confortáveis, porque o clima está perfeito para fazer amor com o Ethan. Qual é, Jimmy? Para de pensar nele. Se ele não respondeu, é porque tem um motivo. O encontro deve ter sido ótimo.
— Droga. — Murmuro para mim mesmo, enquanto puxo a cômoda pesada da frente da porta. — Ele podia ter consideração e me dar um sinal de vida.
Na escola, o primeiro rosto que vejo é o do Trevor. Somos amigos há tempo suficiente para ele saber que não estou num bom dia. A primeira aula é literatura. A professora nos fez ler "A Megera Domada", de William Shakespeare. Nas últimas semanas, o Ethan me ajudou com o meu argumento, porque ele é o cara dos livros.
Apesar de tudo, ele nunca me dá o exercício de mão beijada. Meu namorado propõe uma leitura conjunta e aproveito para tirar dúvidas sobre o roteiro. Ainda bem que fiquei de molho por causa da cirurgia, então me dediquei bastante para impressioná-lo.
— James Robinson, sua vez. — Pede a professora, depois que a Kate, a aluna CDF, apresenta o trabalho.
— Se lascou, Robinson! — Exclama o Trevor, porque apresento logo depois da Kate.
Eu sei que consigo! Estudei e me dediquei demais para fazer feio. E preciso de uma nota boa se quiser uma faculdade longe daqui. Respiro fundo e leio o roteiro que escrevi para a apresentação. Começo com um resumo da obra, apresentando os personagens e suas motivações. A professora parece interessada no meu argumento, inclusive tira os óculos de grau. Acho que isso é bom.
— Inicialmente, a peça foi vendida como uma comédia romântica. Mas, com o passar dos anos, as pessoas começaram a perceber questões de gênero que incomodam bastante, mesmo a obra sendo do século XVI. — Explico e recebo aplausos dos colegas, porque chego ao final sem gaguejar. Faço uma reverência teatral para a turma, que continua rindo.
— E por que você acha isso, James? — Pergunta a professora, fazendo a sala inteira ficar em silêncio. — A questão de gênero incomoda?
— Sim, professora. A "Megera Domada" mostra a transformação da Catarina, que passa de uma mulher independente para uma esposa submissa. Mas todos sabemos que isso reflete a época em que foi escrita, quando as mulheres eram vistas como submissas nos relacionamentos. — Digo, lembrando de uma conversa que tive com o Ethan.
— Muito bem, James. Uma das melhores defesas que vi hoje. Pode voltar ao seu lugar. — Ela pede, olhando a lista de chamada. — Brian Trevor.
— Se lascou. — Dou um tapa nas costas do meu amigo, que levanta desanimado da carteira.
Eu consegui! Superei minhas expectativas! O Ethan me ajudou, mas ainda estou chateado com ele. Aproveito o desastre da apresentação do Trevor e dou uma checada no celular. Ainda nada. Acho que o plano deu errado. Isso. O plano falhou e Ethan está sendo levado para uma clínica de conversão.
Ok. Preciso pensar num plano de ação. Será que posso ser preso se invadir uma clínica? Talvez eu consiga resgatar o Ethan e dar abrigo a ele por um tempo. Meu pai não usa o porão — é o lugar ideal para esconder meu namorado. Já vi uma história de uma senhora que escondia o amante no porão. Tudo bem, eles acabaram assassinando o marido dela, mas ficaram anos nesse esquema.
Estou tão distraído que nem percebo o Trevor imitando a morte de Romeu e Julieta. Esse cara precisa de tratamento, sério. No fim da aula, estou saindo quando a Kate Wells se aproxima e me parabeniza pelo trabalho. Ela escolheu o mesmo livro e não contava que eu realmente tivesse estudado para a lição.
Já o Trevor chega se lamentando. Pego no ombro dele e tento confortá-lo. Assim como eu, o Trevor busca oportunidades em universidades fora do Estado. A gente sabe que não vai conseguir vaga na mesma, mas queremos ficar perto um do outro. Na infância, a gente imaginava a vida universitária com bebidas, festas e pegação.
— Fica assim não. Sua atuação vai te render uns pontos. — Digo, tentando consolar o Trevor, que senta na carteira, desanimado. — Kate, consola o Trevor pra mim? Preciso encontrar um colega. — Peço, antes de sair da sala correndo.
— É isso, Kate. Todo mundo me abandona. — Escuto o Trevor dizer de longe. Dramático.
***
ETHAN
Noite perfeita! Pago os lanches da Betty com prazer. Tudo bem que fico sem tempo para escrever, mas meus pais estão felizes com o meu "relacionamento". Sério, a Betty já pode ir direto para Hollywood. Se cuida, Scarlett Johansson — Bettany Bailey vai abalar as estruturas do cinema mundial.
Quero fazer uma surpresa para o Jimmy, mas, na empolgação da manhã, esqueço o celular em casa. Fico tanto tempo sem eletrônicos nos últimos meses que acabo me acostumando com a vida offline. Enfim, tenho uma vitória e preciso comemorar com a única pessoa que importa: meu namorado.
Depois da interminável aula de geografia, vou até a sala 21, onde o Jimmy tem literatura (minha aula favorita — e amo a Sra. Jones de coração). Esbarro em alguém e quase caio, mas a pessoa consegue me segurar. É o Jimmy. Meu Deus. Que homem perfeito. Ficamos numa posição engraçada, mas disfarçamos, porque os outros alunos comentam sobre o "encontrão".
— Jimmy! — Exclamo, abrindo um sorriso, mas ele pega na minha mão e me leva até as escadarias, que é um lugar seguro para um casal de namorados LGBTQPIA+.
— Qual é o teu problema, Ethan? — Pergunta, andando de um lado para o outro, esperando uma resposta. — Tentei te ligar e enviei centenas de mensagens.
— Desculpa. Fiquei tão animado que o plano deu certo e acabei esquecendo de olhar o celular. Mas está tudo certo, Jimmy. A Betty deu um show de atuação, e meus pais caíram direitinho. — Falo, enquanto o abraço. — Desculpa se te deixo preocupado.
— Eu, preocupado? Nunca. — Ele faz uma expressão engraçada e não resisto beijá-lo na bochecha.
— Ah, e trouxe um pouco da caçarola de frango da minha mãe. Vamos comer? — Convido.
— Por favor, estou faminto. Não como nada desde de manhã. — Jimmy confessa, segurando a barriga, e ouço um barulho estranho vindo do estômago dele.
Ainda temos um tempo antes da próxima aula. Sirvo um pouco da caçarola num prato de plástico para o Jimmy. Meu namorado saboreia como se não houvesse amanhã. Nosso momento é interrompido pela Betty, que aparece com seu visual Emo de volta. Os fios estão coloridos e as roupas parecem ter saído diretamente de "Jovens Bruxas" — o clássico, porque ela odeia a continuação.
— Thelma, Louise. — Ela nos cumprimenta, sentando. — A caçarola da Judy! Eu quero.
— Espera aí. — Pego um prato de plástico e sirvo para a Betty. — Inclusive, obrigado por ontem.
— Qual é! Está rolando uma festinha? — Trevor pergunta, sentando-se e se servindo.
Lanço um olhar desesperado para o Jimmy e para a Betty, que apenas dão de ombros. Tudo bem. Não posso surtar. O Trevor é o melhor amigo do Jimmy. Preciso me conectar com ele. Mudamos de assunto por motivos óbvios, mas queria contar ao Jimmy o que rolou na noite passada. E sobre o lado "Coração de Ouro" da Betty.
— Caralho, Ethan. — Solta Trevor, enchendo a boca de frango. — A comida da tua mãe é 10! Lembra do dia em que você tentou fazer frango frito? Teu pai ficou puto e me expulsou da tua casa. Nunca mais tive coragem de pisar lá.
A expressão do Jimmy muda na hora. Ele até deixa comida no prato. Tenho certeza de que o Sr. Robinson bate nele por causa dessas coisas. Percebo alguns reflexos e gatilhos nele. Uma vez levanto a mão sem querer, e ele se defende instintivamente. Viver em alerta deve ser exaustivo, ainda mais sendo adolescente.
— Ah, Ward, obrigado pela ajuda na aula de literatura. Tirei um A. — Ele diz, talvez querendo mudar de assunto.
— Sério? Parabéns. — Um sorriso escapa de mim.
— Ele arrasou mesmo. — concorda Trevor, já todo lambuzado.
— Meu Deus. Essa escola está criando lobos. — Comenta Betty, terminando de comer e se levantando. — Até depois, Jimmy. — ela coloca os fones, e consigo ouvir a música à distância.
— Ei, Jimmy. Já acertou com o técnico a nossa viagem pra Yellow Groove? É na próxima semana. — Avisa Trevor, se servindo de mais frango.
— Você vai, né? — Pergunta Jimmy, se voltando para mim.
— Acho que sim. Só espero que tudo dê certo. — Respondo, embora saiba que nem sempre as coisas acontecem como o planejado.
Depois de guardar tudo, Jimmy me acompanha até a aula de matemática. Faço um resumo rápido das loucuras da Betty em casa. Ele ri muito, principalmente da personalidade que ela inventa. Dou um beijo de felicitação pela nota dele em literatura — afinal, ensinei bastante coisa, mas ele fez a maior parte.
— Um dia quero ler um livro seu. — Ele afirma, me beijando.
— Tudo bem. Você vai ser meu primeiro leitor, afinal, já lê os meus esboços. — Respondo, embora não tenha tanta certeza disso. — Ei, você vai mesmo para Yellow Groove, né? Eu só vou por sua causa.
— Vou sim. Consigo falsificar a assinatura do meu pai desde os 12 anos. Além disso, tenho o dinheiro. A Sra. Watanabe me deu o que faltava. — Garante Jimmy, sorrindo e me beijando. — Vamos, preciso entregar essa belezinha para o Sr. Wolf e suas intermináveis aulas de matemática.
— Nem me fala. Queria poder ficar. — Protesto, mas seguimos para fora da sala vazia.
Será que essa viagem vai dar certo? Meu medo às vezes fala mais alto, e essas sombras de mentiras fazem meu peito doer. Amo o Jimmy. É tão injusto que a gente não possa demonstrar nossos sentimentos. Agora caminhamos pelo corredor, um casal de namorados que precisa fingir ser apenas bons amigos. Até quando consigo manter essa mentira?