A investigação de um crime que colocou uma pica no meu cu

Um conto erótico de kherr
Categoria: Gay
Contém 22765 palavras
Data: 30/09/2023 13:36:52

A investigação de um crime que colocou uma pica no meu cu

In memoriam R.J.B.M

À medida que o elevador ascendia no edifício moderno de uma rua curta e pacata de um bairro próximo ao centro da cidade eu ainda me questionava se estava fazendo a coisa certa. Era tempo de desistir, e teria que ser agora, fazendo o trajeto de volta assim que a porta do elevador se abrisse no décimo primeiro andar. Simplesmente esquecer tudo, fazer de conta que não me importava, ignorar que R. foi um amigo muito especial e que sempre esteve comigo em momentos alegres e tristes da minha vida, deixar que aquela suspeita que se implantou em mim logo após a sua morte continuasse sendo apenas uma suspeita, e que provavelmente me atormentaria pelo resto da minha vida. Não, eu não era esse tipo de pessoa capaz de conviver com uma suspeita tão grave. Não era o tipo de pessoa que abandona os amigos, mesmo depois que eles se foram. Eu havia chegado até ali, não me acovardaria agora, seguiria adiante.

Bem de frente dos elevadores, na parede oposta de um painel de madeira, apenas o nome Senadeghi&Partners* em letras fundidas em latão polido. Confesso que não era o que esperava quando um amigo, que conseguira o nome do detetive com um primo cujo amigo deste tinha se valido dos serviços dele num caso de adultério. Como pude me deixar influenciar por um parecer de alguém tão distante dos meus relacionamentos e a quem eu nem conhecia, na escolha de um detetive particular? Eu não sabia a resposta, mas sabia que minha procura na Internet me pareceu mais estúpida e descabida do que a de alguém que realmente usou os serviços de um investigador particular, uma vez que eu nem fazia ideia de onde encontrar algum. Na verdade, a minha concepção a respeito de investigadores particulares era aquela que eu tinha visto em filmes, um sujeito caricato de meia idade, um pouco obeso, que usa óculos de grau com uma armação totalmente obsoleta, que se traja de modo descoordenado com nenhuma peça harmonizando com a outra, e que ocupa uma sala com móveis velhos e onde reina o caos dentro de uma espelunca qualquer. Ao atravessar a porta de vidro que dava acesso ao escritório, e através da qual eu já podia ver a recepcionista sentada atrás de uma mesa falando ao celular, minha percepção mudou completamente. Aquilo não tinha cara de ser um muquifo, parecia mais ser uma empresa, o que os dizeres com as mesmas letras em latão polido na parede – Senadeghi&Partners Assessoria Investigativa* – atrás da recepcionista davam a entender. Tirei mais uma vez o papelzinho onde meu amigo havia anotado o telefone junto com o nome Sr. P. Senadeghi, para me certificar de que não havia agendado um horário no lugar errado. Estava me sentindo ridículo ali adiante da mesa da recepcionista, com dois homens de terno e uma mulher bem vestida na casa dos cinquenta anos me encarando desde que adentrei ao recinto.

A recepcionista não passava de uma garota que, embora tivesse um rosto bonito, tinha um ar arrogante e continuou falando ao celular me ignorando por completo diante de sua mesa. Esperei pacientemente por alguns minutos, não sei precisar quantos, pois estava nervoso com tudo aquilo, antes de me manifestar com certo enfado no tom de voz.

- Boa tarde! Tenho um horário agendado com o Sr. Senadeghi para as 14:00 horas! – exclamei, ao mesmo tempo que consultava meu relógio de pulso e constatava que faltavam cinco minutos para as catorze horas. A garota apenas ergueu o olhar na minha direção, fez sinal com a mão para que eu aguardasse e continuou falando ao celular; ao que me pareceu, estava tendo uma desavença com um sujeito do outro lado, talvez um namorado ou algo do gênero. Encarei-a com uma expressão belicosa, mas esperei mais alguns minutos. – Por gentileza! Qual é sua função aqui? Atender as pessoas ou ficar brigando pelo telefone com seu namorado? – irrompi elevando a voz quando minha paciência se esgotou. Ela avisou ao interlocutor que precisava desligar e finalmente me atendeu. Os demais que aguardavam na sala de espera me lançaram um sorriso de aprovação.

- Pois não, o que você deseja? – questionou ela.

- O pronome – você – reserve para seu namorado ou amigos íntimos, e como não sou nenhuma dessas duas coisas para você, me trate por – senhor – de agora em diante! – eu estava tão puto que podia mandá-la à merda, não fosse minha necessidade de ser atendido.

- Desculpe, senhor! O que foi mesmo que o senhor falou?

- Falei que tenho um horário agendado com o Sr. Senadeghi. Será que alguém por aqui se deu ao trabalho de anotar na agenda dele? – respondi exasperado.

- Ah sim, está aqui! Às 14:00 horas, não é? – retrucou ela.

- Exatamente! Nesse instante, se ele for pontual! São exatamente 14:00 horas agora. – devolvi.

- Pode se sentar, já vou avisá-lo de que o senhor está aqui. – respondeu ela, tomando o telefone que estava sobre a mesa e teclando um número do PABX. Após uns segundos – o Sr. A. está aguardando – disse ela para quem atendeu.

Ao tomar acento numa das poltronas da sala de espera pude observar com mais apuro que tanto os dois homens quanto a mulher tinham a mesma expressão de enfado e impaciência nos semblantes que procuravam manter sob controle. Lancei um olhar para cada um deles e um tímido esboço de sorriso, daqueles que se dá quando nos vemos diante de estranhos nas salas de espera de médicos, advogados, dentistas como se fossemos todos solidários uns com os outros pelo mesmo problema. Os dois homens estavam juntos, um mais velho, também na faixa dos cinquenta anos e outro pelo menos vinte anos mais jovem; usavam ternos bem alinhados e tinham um ar compenetrado. O mais velho me encarou com cobiça, eu já tinha reparado de soslaio assim que entrei na recepção que seu olhar escrutinou meu corpo de cima abaixo e, para disfarçar, fingia consultar seguidamente as horas no relógio caro que tinha no pulso. O mais novo mal desviava os olhos da tela do celular, teclava de quando em quando e ora fazia caretas ora abria um sorriso à medida que ia lendo o que aparecia na tela, ele foi indiferente a minha presença. Não que isso me afetasse, não era um sujeito atraente, nem valia a pena observá-lo com mais apuro para procurar por algum detalhe mais sensual. A mulher tinha uma expressão triste que o sorriso tímido não escondeu quando trocamos olhares. Fiquei a imaginar o que a levou até ali, a procurar um investigador particular; um marido adúltero talvez, mandar seguir a amante do marido, pela insegurança dela devia se tratar de algo passional. Ela estava ali tão contra sua vontade quanto eu, isso era evidente. E, os dois homens com estilo de executivos, o que faziam ali à procura de um detetive particular, algum funcionário que os estivesse roubando, desfalques que o contador da empresa deles devia estar fazendo? Eu já havia me conscientizado que o tal Sr. Senadeghi não cuidava apenas de casos passionais, de investigar esposas e maridos adúlteros, de casos como o meu que se enquadravam sabe-se lá em que categoria.

Uma hora depois de ter sido anunciado eu ainda continuava sentado na sala de espera, agora apenas com a mulher como acompanhante. Os dois homens haviam saído a questão de um quarto de hora, depois de uma breve e acalorada discussão com a recepcionista, a quem proferiram toda sorte de humilhações em desabafo ao que teriam lançado na cara de quem haviam ido procurar. Pontualidade e compromisso pareciam não fazer parte dos atributos da Senadeghi&Partners. Eu mesmo me questionava o que continuava fazendo ali, pois minha tolerância há muito havia se extinguido.

- Senhorita, o Sr. Senadeghi vai me atender ou não? Não sei porque agendar um horário se ele não está disposto a cumpri-lo! São 15:05 horas e nem sinal de que ele esteja vivo. Faça o favor de ligar novamente para ele e exigir que nos atenda! – desabafei, elevando mais uma vez o tom da voz para que qualquer pessoa por trás daquelas portas fechadas pudesse me ouvir. A recepcionista me dirigiu um sorriso amarelo que só aumentou a minha raiva, uma vez que a vagabundinha estava novamente ao celular com o sujeito que devia estar aprontando poucas e boas com ela e com quem estava tentando se reconciliar. A mulher continuava num canto da sala, resignada com seu destino, e por duas vezes já tinha enxugado disfarçadamente algumas lágrimas.

- Ele está numa reunião! Às vezes demora um pouco! – respondeu a recepcionista, como numa resposta ensaiada.

- Todos que não sabem conduzir seu trabalho sempre estão em reunião para justificar sua incompetência, essa desculpa eu não aceito! – exclamei, quase berrando. Faça o que lhe pedi, e agora! Antes que eu mande você e esse infeliz com quem está ao celular e seu patrão, todos à merda! Paciência tem limite! A mão espalmada que desferi sobre o tampo da mesa dela a fez dar um pulo na cadeira, achando que seria ela a atingida.

- Sim, sim, senhor! – gaguejou o estrupício, tornando a ligar para o Sr. Senadeghi; eu suponho. – Ele já vai atendê-lo! – continuou ela após recolocar o fone no gancho e me encarar com preocupação.

- E esta senhora que está na minha frente, ele também vai deixá-la esperando por toda a eternidade?

- Ela não está agendada com o Sr. Senadeghi e sim com o F., às 16:00 horas! – respondeu a garota.

- Onde é a sala do Sr. Senadeghi? Ande garota, onde fica a sala dele? – mais uma desculpa esfarrapada ou mais um daqueles sorrisinhos desdenhosos dela e eu ia dar uma bofetada na cara dela, e disso ela se deu conta e apontou com a mão tremula para uma porta do lado direito do corredor. Parti feito um rojão na direção da porta e sem bater a escancarei até me deparar com um sujeito que se assustou com minha entrada intempestiva.

- O senhor não pode .... – ela desistiu quando parei por uma fração de segundos e a encarei como se a fosse devorar.

- Sr. Senadeghi! É o Sr. Senadeghi? – perguntei, quando os olhos arregalados do sujeito sentado atrás da mesa me encararam estupefatos.

- Sim, sou eu! O senhor quem é? – devolveu ele numa calmaria de fazer ferver os nervos.

- Sou o A., que agendou inutilmente um horário para as 14:00 horas e ficou plantado na sala de espera até a desmiolada da sua recepcionista me atender. – respondi belicoso.

- Ah sim, A.! Estive numa reunião que demorou mais do que o esperado, espero que me desculpe! – mentiu o desgraçado, na cara dura.

- Em reunião? Com quem, um fantasma, ou alguém que saiu saltando pela janela do décimo andar? – ironizei, uma vez que não havia outra saída que a porta pela qual adentrei.

- Era uma reunião virtual, por vídeo conferência! – continuou mentindo, uma vez que o notebook sobre sua mesa estava desligado.

- Devem ter aprimorado muito o sistema de vídeo conferências, pois da última vez que o utilizei há questão de um ou dois dias ainda era necessário ligar o computador para isso! – continuei, desmascarando-o. O cretino nem se abalou, manteve a expressão blasé com a qual me encarava.

- Sente-se, em que posso ajudá-lo? – perguntou, quando se deu conta de que não adiantaria continuar mentindo descaradamente.

- Nem sei se ainda preciso da sua ajuda! Tenho a sensação de ter vindo ao lugar errado! – exclamei sincero e, pela primeira vez, observando mais detalhadamente aquele homão que estava na minha frente.

Arriscaria dizer que tinha um metro e noventa, senão mais, uns 120 quilos, não de sobrepeso, mas de músculos enormes que mal cabiam na camisa que trazia com as mangas enroladas até próximo aos cotovelos e com o botão do colarinho desabotoado ao lado do nó da gravata afrouxado. Antes de ele se sentar pude notar que o mesmo padrão volumoso de músculos se repetia em suas coxas enormes, igualmente ajustadas dentro da calça. A cadeira rangeu sob o peso dele e, de repente, me senti um pouco acovardado. Ele devia estar próximo dos quarenta anos, se já não os tinha. Mas a fisionomia atlética atrapalhava um pouco essa avaliação, parecia mais jovem. Me acautelei antes de encarar seu rosto másculo e viril, aquela barba por fazer e aquele par de olhos castanhos claros faziam o cuzinho de qualquer gay entrar em convulsão.

Ele também me examinou pormenorizadamente depois que lhe dei a descompostura. Voltei a sentir a mesma sensação de estar nu que o homem mais velho na recepção havia deixado em mim. Ele me olhava com olhos de águia, tentando enxergar mais do que sua visão permitia, ou talvez tentando enxergar através das minhas roupas para o corpo que notadamente o estava desconcertando.

- Bem! Já que chegou até aqui e enfrentou mais de uma hora de espera, talvez queira me dizer porque veio me procurar. – indagou. Foi mais uma estratégia para me manter ali, pois parecia que ainda não tinha se dado por satisfeito na análise que estava fazendo sobre mim.

- Suspeito que um velho e querido amigo, que era homossexual, tenha sido vítima de um golpista que muito provavelmente colaborou com sua morte para se apoderar de todos seus bens. É isso que me trouxe até aqui. – revelei.

- Isso é um caso de polícia! Vá a uma delegacia e dê queixa! – devolveu ele, como se não tivesse entendido bem o que lhe expus.

- Polícia? Delegacia? Você ouviu o que eu lhe disse? Como posso entrar numa delegacia e formalizar uma queixa se nem sei o que aconteceu e, se realmente aconteceu como eu imagino? Definitivamente, vejo que você não tem preparo algum para lidar com questões intrincadas e que exigem discrição e sigilo! Perdi meu tempo! – soltei revoltado.

- Quem sabe se você se acalmar um pouco, possa ser mais explícito e esclarecedor! Até o momento só está tentando brigar comigo, e talvez não seja eu a pessoa com quem deva brigar. Ao menos, não é essa a minha intenção para com você. – retrucou, mantendo uma calma de desafiar os nervos de qualquer um.

- Não quero brigar com ninguém, mas parece que não me ouve ou finge não entender o que estou dizendo.

- Eu ouvi muito bem, você acha que mataram seu amigo para ficar com os bens dele. E, como eu disse, isso é a polícia que resolve. – devolveu

- Pois é, isso só confirma que não me ouviu! Eu disse que suspeitava que alguém pudesse ter colaborado para a morte desse amigo para ficar com seus bens. Eu não disse que sabia, ou que tenho certeza que isso de fato aconteceu.

- E o que quer que eu faça?

- Que investigue, ora! Você não é detetive ou investigador particular? Não é esse o seu trabalho, investigar? – respondi, sentindo como se estivesse conversando com as paredes. – Eu só posso denunciar um suposto crime na delegacia apresentando alguma prova do que estou denunciando, não é assim que a coisa funciona?

- Então quer que nós coletemos essa prova? Não sei se é de seu conhecimento, mas investigações são demoradas, podem levar meses, às vezes anos, e são caras, pois demandam muitas horas de espreita de um agente para coletar evidências. – não sei se ele estava tentando me fazer desistir, ou se estava debochando da minha capacidade intelectual. Só sei que estava começando a odiar esse sujeito, por mais sedutor e machão que me parecesse.

- Você está tirando uma com a minha cara? Qual é a sua? Faz isso com todos os potenciais clientes que o procuram? – eu estava novamente no meu limite, prestes a explodir.

- Eu só estava sendo esclarecedor! Antes de contratar uma empreitada dessas é preciso ... – não o deixei concluir a frase.

- Estou ciente de tudo, esteja certo! Só me responda, pode cuidar desse caso ou devo procurar alguém mais competente, e principalmente, mais simpático. – retruquei, na lata.

Ele se levantou, foi até um aparador sobre o qual havia uma dessas máquinas de café expresso e fez duas xícaras, movendo-se meticulosamente, o que era de deixar qualquer um espumando de raiva, não fosse a maneira máscula como fazia cada um dos movimentos.

- Tome A., vai te ajudar a se acalmar! É sempre tão exaltado? Isso faz mal ao coração, sabia? Pode levá-lo a um enfarto! E isso seria um desperdício! – essa última frase ele quase sussurrou, e embora tenha me feito querer voar no pescoço dele, fingi não ter ouvido.

Os goles do café quente e aromático desceram com dificuldade pela minha garganta, enquanto eu fixava meu olhar no céu iluminado pelo sol da tarde que estava emoldurado nos janelões atrás da cadeira dele.

- Tarde bonita, não é? Gosto de admirar a paisagem da cidade dessas janelas em tardes como esta. Estamos no alto de uma colina, é o que facilita observar tão longe. – ele parecia estar conversando consigo mesmo, pois tinha parado de me olhar com aqueles olhos de predador. Eu apenas meneei a cabeça em concordância, ainda estava muito puto para uma conversa sobre amenidades.

- Estou esperando a sua resposta! – exclamei, ao recolocar a xícara vazia sobre a mesa dele.

- Sim, podemos te ajudar! Naquelas condições que já frisei! – insistiu ele. Talvez estivesse pensando que eu não tinha cacife suficiente para bancar os honorários dele.

- Isso eu já entendi! E, de quanto estamos falando? – indaguei, para que se convencesse de uma vez.

Ele me deu o valor de uma diária, ressaltando que nela estavam contempladas apenas as horas dispendidas pelo investigador, custo com sua alimentação, ficando de fora os gastos com combustível e outras despesas que precisassem ser atreladas a depender da demanda para seguir suspeitos ou levantar dados que tivessem algum custo extra. O pagamento seria semanal e antecipado, ficando os extras a serem acertados na semana seguinte, se não fossem de grande monta, quanto então seriam comunicados instantaneamente e devendo ser pagos no mesmo momento.

- Então é uma caixinha de surpresas? Isso significa que posso receber uma fatura astronômica sem prazo para quitar de uma hora para outra, e que nem ao menos vou saber se tudo que está sendo cobrado foi realmente necessário? – questionei. Foi a vez de ele ficar irritado, e eu me senti recompensado quando vi a expressão indignada na cara dele.

- Está pondo em dúvida a nossa integridade? Não é do nosso feitio roubar de nossos clientes, ou não estaríamos aqui com toda essa estrutura e anos de bons serviços prestados. – retrucou ele, ofendido.

- Você há de convir comigo que seu cartão de visitas e, principalmente, a primeira impressão que dá aos seus clientes não são as melhores possíveis, daí meu questionamento. Bastante apropriado, diga-se de passagem! – eu queria ver esse sujeitinho perdendo a compostura, queria fazê-lo passar pela mesma raiva que ele me fez passar. Revanche, vingança? Pode até ser, mas eu queria saber até onde aquele macho conseguia manter o equilíbrio.

- Mas, estou te atendendo solicitamente, não estou? Talvez isso amenize a primeira impressão que teve sobre nós e nosso trabalho. – retrucou. – Aliás, como chegou até nós?

- Não conheço a pessoa que se utilizou dos seus serviços. Foi um amigo que conseguiu com um primo o nome da pessoa para quem vocês fizeram uma investigação. Se não me engano o nome da pessoa é Marcelo, só sei o primeiro nome, e não sei para que ele os requisitou. – revelei

- Foi recente?

- Também não sei, creio que não, pois parece que o caso já foi solucionado. – respondi

- Já sei de quem se trata! Caso fácil, fraude contábil! – exclamou ele.

- E o meu caso, se enquadra nos fáceis ou nos insolúveis? – perguntei, mais uma vez para provocar aquele homem com quem certamente nem estaria mais falando, não fosse ele um tremendo de um garanhão exalando testosterona por todos os poros, algo que um gay como eu fareja a quilômetros de distância.

- Nunca tive um caso insolúvel! – respondeu ele, sentindo-se ultrajado. – Tivemos casos com desfechos desfavoráveis, alheios aos nossos esforços! – emendou ligeiro. Eu o tinha desestabilizado, estava me sentindo bem melhor com isso.

- Não dá no mesmo? – ele me encarou como se quisesse me fuzilar. Eu abri um sutil sorriso de satisfação, só para ele saber que eu era um competidor tão ou mais ferrenho do que ele.

- Espere por uns instantes, vou contatar um membro da minha equipe que ficará responsável pelo seu caso, e a quem você deverá passar todos os dados que possui para que a investigação comece. Volto num instante! – disse ele, ao me deixar em sua sala.

- Espero que dessa vez sejam mesmo apenas uns instantes, e não a tarde toda! – já que o tinha tirado do sério, era hora de tripudiar com as armas que eu tinha.

- Serão só uns instantes, eu garanto! – exclamou ele, exibindo sua insatisfação com meu comentário.

Fazia algum tempo que eu precisava urinar e assim que me vi livre por uns momentos resolvi aproveitar para ir ao banheiro.

- Pode me indicar onde fica o banheiro? – perguntei à recepcionista, que ainda estava ao celular, uma vez que a sala de espera estava vazia.

- É a última porta à esquerda no final do mesmo corredor. – respondeu ela, mais prestativa depois da carraspana que lhe passei.

A caminho do banheiro passei por uma sala cuja porta não estava completamente fechada e logo identifiquei a voz do Sr. Senadeghi conversando com outro homem, e fiquei intrigado, para dizer o mínimo, com o que ouvi.

- Não deve ser nada complicado, mais um daqueles casos em que a bicha preterida e enciumada pelo amante não ter lhe passado a posse de todos bens, achar que o amante teve um caso para quem deixou toda a herança, e que este possa estar envolvido numa suposta morte não natural. – verbalizava a voz do Senadeghi.

- É o sujeito boa pinta que vi na sala de espera pelo circuito das câmeras de segurança? – perguntou a voz desconhecida.

- O próprio! Enfezadinho porque precisou esperar além do horário agendado. – respondeu o Senadeghi, ironizando.

- Ele sabe quem é o amante do ex? O que o levou a suspeitar de uma morte não natural?

- Parece que sabe, tem o nome do sujeito, ao menos! Sei lá porque suspeita da morte! Sabe como são esses veados, sempre cheios de problemas existenciais, sempre vítimas incompreendidas da sociedade, sempre achando que são os únicos certos e que todo o mundo conspira contra eles. Detesto esses gays! Detesto esses homens que não deram certo e acabaram virando essas bichas tresloucadas! – sentenciou a voz do Senadeghi, o que quase me fez entrar na sala e afrontá-lo, foi por um tris que me contive.

- Mas o cara não parece ter pinta de veado! Pelas imagens da câmera só dá para ver que é muito bonito, mais parece um modelo. Ele desmunhecou quando conversaram? Por que acha que ele também é gay? – perguntou a voz desconhecida

- Não, nada disso! É até bastante discreto, talvez nem seja gay; eu é que achei quando o vi tão interessado em investigar o caso do amigo veado. Sabe como é, são todos gatos do mesmo balaio. Quem é que se dispõem a gastar uma boa grana para saber como o amigo bicha morreu, se não for também um gay enciumado por ter sido passado para trás? – questionou o Senadeghi. Enquanto isso eu ruminava um – seu babaca, filho da puta – com meus botões, atrás da porta e cruzando as pernas para segurar a urina que suplicava para sair.

- O que você quer dizer com uma boa grana, quanto cobrou dele? Qual investigador vai colocar no caso? – perguntou a voz desconhecida

- Cobrei o dobro do que costumamos cobrar, queria ver se ele desistia. É um caso simples, pensei em designar a G., ela não vive pedindo para sair a campo, que quer fazer mais do que só as investigações cibernéticas, que quer ir às ruas como uma verdadeira investigadora? Talvez ela e o gay acabem se entendendo. Afinal, tanto as mulheres quanto os gays têm personalidades complicadas, assim quando uma estiver na TPM e o outro tendo uma de suas crises existenciais, ou vão se matar ou vão se tornar amiguinhos. – disse o Senadeghi

- Chefe, você é foda cara! Não sei como sua mulher te aguentou por tanto tempo, se você a tratava como trata todas as outras mulheres até consigo compreender as razões dela para se divorciar. E ao que parece, vai estender essa sua implicância para o coitado do gay que, aliás, você nem sabe se é mesmo gay. – retrucou o outro.

- F., aprenda uma coisa, mulher boa é aquela que não questiona, não te explora, não impõem sua vontade sobre a do macho dela. O mesmo deve valer para os bichas, tem que saber que aquele que enfia a pica é o macho e deve ser obedecido só por isso. A minha mulher estava se tornando um saco, não fazia porra nenhuma e torrava minha grana como se eu a colhesse em árvores. Eu tinha que mandar ela à merda, não aguentava mais. – ouvindo esse cretino falar me deu vontade de esmagar aquela cara arrogante.

- Se eu for seguir seus conselhos, chefe, estou fodido! – exclamou a voz desconhecida enquanto ria. – Vai mesmo dar o caso para a G.? Ela vai gostar, mas tem o lance do suposto assassinato, o caso pode não ser tão simples assim, e pode até ser perigoso, ela nunca esteve num caso assim sozinha.

- Precisa ver se foi mesmo um assassinato, pelo que o gay me contou o tal do amigo tinha uma porrada de doenças, era diabético, tinha colesterol para lá dos céus, era HIV positivo e vai saber quantas outras merdas somadas. Pode muito bem ter sido uma morte natural, até porque o sujeito morreu num hospital onde teve que ser internado algumas vezes nos últimos meses de vida. – esclareceu o Senadeghi – É como eu te digo F., o cara pirou depois que o amigo morreu e não lhe deixou nada, enquanto o amante ficou com tudo. Bota a G. no caso!

- Falou, chefe! Ela está na sala dos rastreadores de Internet, mando ela para sua sala agora mesmo.

- Ok! Só me dá uns cinco minutos que preciso tirar uma água do joelho! – exclamou o Senadeghi, no mesmo instante em que eu corria desesperado para o banheiro.

Eu mal havia começado a urinar quando ele entrou no banheiro e se posicionou no mictório exatamente ao meu lado, tirando para fora da braguilha uma anaconda cabeçuda de fazer qualquer um estremecer. Discretamente ele esgueirou o olhar para o meu lado para ver o que eu segurava na mão enquanto mijava, e deu um sorriso indisfarçável quando constatou que meu pinto não podia ser mais normal. O risinho dele era de triunfo por estar segurando aquela coisa gigantesca, e fez questão de chacoalha-la bastante quando terminou de urinar, só para se exibir.

- Idiota! – exclamei à meia voz enquanto lavava as mãos

- Disse alguma coisa? – perguntou ele

- Sim! Perguntei se vai aceitar o caso? – inventei

- Vamos! A investigadora que ficará responsável pelo seu caso já deve estar nos esperando em minha sala.

A empatia com a G. foi imediata, antes mesmo de ela abrir a boca e pronunciar a primeira palavra, seus olhos vivos e atentos, o sorriso espontâneo e a confiança que havia em seu olhar me cativaram. Creio que a recíproca também foi verdadeira. Depois de me examinar de cima abaixo, não com um olhar cheio de segundas intenções, mas como alguém que precisava da ajuda dela, ela veio ao meu encontro e me abraçou.

- A. esta é a nossa investigadora G., a única mulher do time, e que esbanja talentos. Seu caso está em muito boas mãos, eu assino embaixo. – afirmou o hipócrita, que há pouco a estava denegrindo diante do outro parceiro. Eu o encarei com desprezo, era só o que ele merecia.

- Muito prazer A., vou dar o melhor de mim para cuidar do seu caso! – afirmou ela

- Não tenho dúvidas disso G.! Também é um prazer te conhecer. Estou em suas mãos, me diga por onde começamos. – devolvi.

Me despedi do Senadeghi com um adeus frio, dado a certa distância, pois não queria mais tocar naquela mão, enquanto a G. me conduzia para outra sala onde trocamos telefones e contatos e combinamos uma data e horário para ela passar em casa para que eu lhe expusesse tudo o que sabia. Antes de cruzar a porta da sala dele, dei uma olhada de soslaio para trás e vi que havia outro risinho sarcástico na expressão dele e que seu olhar estava focado na minha bunda.

No dia seguinte, contei para minha melhor amiga o que tinha feito. Ela sabia que eu estava inconformado com tudo que fiquei sabendo após o falecimento do R., e que queria respostas para aquela súbita mudança de planos dele, deixando seus bens para aquele sujeito que ele nunca me apresentou ou muito menos fez comentários. Parecia um cara caído do céu que, de repente, se transforma em seu marido sem ele nunca ter mencionado nada comigo. Era esquisito demais. E eu não sou do tipo que aceita esquisitices ou coincidências sem questioná-las a fundo.

- Vai mesmo tocar isso adiante? Você já sofreu tanto com a morte do R., quer continuar se torturando? Pode ser que ele mudou de ideia nos últimos dois anos, foi o tempo em que vocês não se viram mais, foram os anos da pandemia, ele pode ter decidido deixar tudo para esse cara que ficou ao lado dele durante a doença que o levou, já pensou nisso A.? – indagou ela

- Não fiz outra coisa que não pensar sobre tudo isso nos últimos meses e, quanto mais penso, mais chego à conclusão que tem algo de errado nisso tudo. O R. não eram assim, ele me contava tudo, por mais insignificante que fosse. Partilhamos cada momento de nossas vidas nesses últimos 20 anos desde que nos conhecemos, ele não ia deixar de mencionar algo tão importante quanto se casar e, muito menos, sem me apresentar o cara. Ele sempre me disse que os bens dele seriam de uma tia que tinha poucos anos mais do que ele, já que a família era grande e uma das irmãs da mãe tinha nascido poucos anos antes dele. Eu cheguei a conhecer essa tia, eram muito ligados, embora eu só tenha tido oportunidade de conversar com ela umas duas ou três vezes. Só vou ter sossego quando tirar essa história a limpo, o R. merece isso, por tudo que significou na minha vida. – respondi.

Minha primeira reunião com a G. foi na minha casa a meu pedido, não queria voltar a me encontrar com o Senadeghi, a menos que fosse estritamente necessário. Ela pareceu compartilhar uma opinião muito semelhante à minha a respeito dele, apesar de ter argumentado um pouco a favor dele quando lhe confessei minhas reservas quanto ao caráter dele.

- Seu chefe não é a pessoa mais fácil de se lidar, fiquei com uma péssima impressão dele num único encontro. Machista, homofóbico, arrogante, insensível, mal-educado e tantos outros adjetivos que poderia mencionar ainda seriam poucos para descrever aquele sujeito. Me perdoe a indiscrição, sei que não é da minha conta, mas não sei como aguenta trabalhar com o homem desses. – afirmei quando nos pusemos à vontade na sala de casa.

- Não lhe tiro a razão, às vezes ele se mostra bastante irascível e, também confesso, já tive vontade de esganá-lo em algumas situações. Contudo, não é má pessoa. Ele piorou de uns tempos para cá, uns cinco anos acredito eu, desde que a mulher se divorciou dele, num processo litigioso e desgastante pelo que ficamos sabendo. – revelou ela

- Bem, um divórcio não é motivo para passar a tratar os outros da maneira vil como ele trata as pessoas. Talvez eu esteja sendo duro ao avaliá-lo, mas não gosto dele. Sinto repulsa só de me lembrar de certas frases que ouvi saindo da boca dele e da postura dele para comigo. – confessei.

- Também acho que um divórcio não seja motivo para tratar mal todas as pessoas, mas tenho a impressão que ele ficou com raiva do mundo depois dessa experiência traumática. Pelo que sabemos, a esposa, uma médica argentina que ele conheceu durante o período de residência que ela veio fazer no Brasil, também não era uma pessoa muito fácil e compreensiva e o casamento logo se deteriorou. Quando se separaram o filho deles estava com nove anos e ela voltou para a Argentina onde vive com o garoto e o novo marido. O P. visita o garoto raramente, depois que as coisas entre ele e a ex-esposa se tornaram mais leves. O menino também vem escassamente passar uns tempos durante as férias escolares com o pai, o que deixa o P. com um humor totalmente diferente de quando está longe do filho. – revelou ela

- De qualquer forma e, apesar de entender que a situação dele não é das melhores, não fui com a cara dele, e meu sexto sentido nunca me enganou. – afirmei, pois ainda estava traumatizado com nosso encontro inicial.

Contei a G. resumidamente como foi a minha amizade com o R. desde que nos conhecemos, ela me pediu para gravar essa espécie de depoimento, pois isso a ajudaria caso precisasse de alguma informação posteriormente, bem como me pediu que eu lhe comunicasse tão logo me recordasse de algum detalhe que deixei de mencionar nesse primeiro relato. Foi o que fiz.

Para início de conversa, vou revelar que não só o R. que era gay, eu também sou. Foi isso que me levou a procurar por outros gays em sites de relacionamento. Não que eu quisesse um relacionamento naquela época, pois era jovem demais e estava focado na faculdade. Mas, como sempre fui muito tímido e não tinha e nem conhecia nenhum amigo ou colega gay, queria ter alguém com quem pudesse me abrir e conversar sobre esse mundo que estava guardado secretamente dentro de mim. Ela me interrompeu brevemente depois de seus olhos terem se arregalado um pouco diante da minha confissão, dizendo que jamais suspeitaria da minha condição se eu não o tivesse dito. Pois é, sempre fui muito discreto. Nem sei se a palavra é mesmo discreto, eu sou um cagão medroso na verdade, isso explica bem melhor o fato de eu ser tão enrustido. Bem, mas como eu iadizendo, foi assim que o conheci. Conversamos diversas vezes pelo chat antes de ele me passar o número de telefone dele, e a partir daí foram tantas outras inúmeras semanas apenas conversando longamente ao telefone, geralmente madrugada adentro. Aquilo me fez muito bem, aliás, o R. sempre me fez muito bem, me fez perder um pouco daquele medo que eu tinha de que descobrissem que eu era gay, que minha família, meus amigos me desprezassem quando soubessem. Vi que não era o único gay sobre a face da terra e queria aprender a lidar com isso. Ainda me lembro claramente do nosso primeiro encontro, foi num shopping, eu tremia da cabeça aos pés, minhas mãos suavam e meu coração queria sair pela boca, por pouco não desisti. Me enchi de uma coragem que não tinha quando me dirigi ao lugar combinado, uma cafeteria. O R. não me impressionou como homem naquele primeiro encontro, era um cara bastante normal, também extremamente discreto. O que me cativou nele foi a simpatia e aquela segurança e autoconfiança apesar de ser homossexual. Foi ali que eu percebi que os gays não trazem escrito na testa a sua condição, que somos nós mesmos quem imaginamos que todo mundo nos vê como gays. Caminhamos pelo shopping após um café e fomos a um canto menos movimentado. Ele tinha ido ao encontro a fim de conhecer alguém para um relacionamento, pois já teve outros, enquanto eu estava contente por poder dizer pela primeira vez a outra pessoa que era gay. Mesmo assim, quando ele pousou a mão sobre o meu braço eu fiquei petrificado, olhei ao redor para ver se alguém nos observava e retraí rapidamente o braço achando que todos estavam olhando para nós e sabendo que éramos gays. Ele riu e procurou me acalmar, mas durante toda a nossa amizade sempre gozava de mim por causa desse episódio. O R. trabalhava numa multinacional, era uns quatro anos mais velho do que eu e morava num apartamento depois que o parceiro dele faleceu. Por uns meses ficamos nos ligando, íamos ao cinema ou teatro, saíamos para jantar num restaurante, nada mais banal, coisa que qualquer amigo faz com outro. Nem frequentamos lugares gays nessa fase, mas já percebemos que seríamos bons amigos, independente do que fosse rolar depois. Veio então a nossa primeira viagem internacional, num feriadão de novembro, quando fomos passar quatro dias em Buenos Aires. No segundo dia da viagem, compartilhando o mesmo quarto de hotel, ele veio se alojar na minha cama, foi mais um momento em que fiquei petrificado, achando que ia perder a minha virgindade naquele instante. Mais uma vez ele, com sua experiência percebeu minha aflição e também que tínhamos o mesmo gosto por um eventual parceiro, se é que você está me entendendo, indaguei a ela. Você se refere a essa coisa de ativo e passivo, eu suponho, verbalizou ela, o que confirmei, pois ainda estava me sentindo um pouco tímido ao expor tão claramente a minha vida. Mas, com ar profissional, ela disse apenas – prossiga, estou te entendendo – e eu continuei. Ali ficou claro que seríamos mesmo tão somente amigos, não houve mágoas ou decepções, e brotou esse sentimento que nos uniu e se fortaleceu até a morte dele. Alguns dias após nossa volta dessa viagem, ele me revelou que tinha perdido seu último parceiro, um médico HIV positivo, havia pouco mais de um ano e que também fora diagnosticado como soro positivo. Essa revelação se deu no apartamento dele, onde eu tinha ido pela primeira vez e constatado com certa incredulidade, as condições deploráveis em que ele vivia ali com dois cachorros. Pude perceber que ele estava no fundo do poço e que as esperanças que depositou ao me conhecer eram para tentar se reerguer. Ele chorava copiosamente quando me revelou sua vida pregressa e chegou a me perguntar se eu voltaria e vê-lo depois do que me contou, pois pensou que um cara inexperiente e virgem como eu fugiria dali tão logo fosse possível. Eu lhe garanti que isso não interferiria em nossa amizade, se é que ele ainda me queria como amigo. Nos abraçamos demoradamente e choramos juntos, eu pela condição dele, ele por ter encontrado alguém que não se recusava a seguir adiante com um soropositivo. A partir dali nossa amizade só cresceu, fizemos muitos outros programas juntos, conheci dois amigos também gays dele, passei a frequentar a casa dele regularmente, bem como o apartamento que ele tinha no Guarujá. Ele recuperou o ânimo e reformou o apartamento dando-lhe um aspecto mais condicente com a minha ajuda, que virei uma espécie de conselheiro e decorador, uma vez que ele me achava um cara de muito bom gosto. Uns dois anos depois, ele adquiriu uma casa que também passou por uma ampla reforma, da qual eu participei ativamente. Fizemos a nossa segunda viagem internacional, dessa vez para um resort no Panamá durante duas semanas, pois a multinacional na qual ele trabalhava facilitava o acesso dos funcionários a essas viagens que eram oferecidas em pacotes bastante vantajosos. Também nessa época, perdi meu pai que lutava havia dois anos contra um câncer. O apoio e a presença do R. me ajudaram muito, ele foi meu esteio e me ajudou a passar por aquela dor com menos sofrimento. Depois disso, já conhecendo a minha mãe, ele passou a frequentar a minha casa se tornando também muito querido por minha mãe. Logo ele apresentou a dele para a minha e ambas também se tornaram muito amigas. Veio então a mudança dele tanto de empresa, a mesma multinacional automotiva, mas no setor de caminhões, quanto de cidade. Ele se mudou para uma casa custeada pela empresa em Resende no Rio de Janeiro. Como não podia vir todos os finais de semana para São Paulo, eu ia com frequência ao encontro dele. Percorríamos as ruazinhas tranquilas de Visconde de Mauá, Penedo, Maringá-RJ, as trilhas de Itatiaia durante o dia e íamos comer fondue e trutas nos restaurantes e barzinhos à noite, sem hora para voltar para casa. Nos finais de semana que ele vinha para São Paulo ele começou a me levar para as baladas gays da cidade, um universo totalmente desconhecido para mim. Não raro ele conhecia alguém nessas baladas e levava o sujeito para a casa dele para uma transa descompromissada, era raro ele encontrar o mesmo cara por duas ou mais vezes, o que eu achava um absurdo, na minha inocência ainda virginal. Eu o questionava desde aquela época sobre o receio de um desses caras um dia tentar assaltá-lo, ou fazer coisa pior, uma vez que sua condição social era bem superior aos dos caras que ele conhecia nesses lugares. Ele sempre me respondia que se eu continuasse tão medroso e cagão diante da vida, ia morrer com o cu encruado, tirando uma com a minha cara. Ele sempre foi mais corajoso e atirado do que eu, embora nesses lugares os carinhas costumavam me abordar acintosamente querendo sexo. Eu fugia deles como o diabo foge da cruz, apesar de ter perdido um pouco daquele medo inicial, eu ainda não me achava pronto para ter relações sexuais com outro cara. Isso só veio a acontecer quando conheci outro cara pelos sites de relacionamento. Foi meio que por acaso, quem tinha acessado o site e o chat foi o R. quando um cara abordou o nickname dele enquanto ele teclava com outro carinha. Dispensando-o, ele disse que estava com um amigo ao lado e que esse amigo era virgem, enrustido, tímido e muito gostoso, propondo que ele continuasse a teclar comigo. Foi assim que conheci o CE. e, por insistência do R. marcamos um encontro a três para aquela mesma noite. O R. foi para me dar apoio, e tirava o sarro da minha cara o tempo todo. Eu, como naquele primeiro encontro com o R. no shopping, estava tentando convencê-lo a desistir, pois sentia um frio incontrolável na barriga. O CE. era um tesão de macho, aquele tipão de homem com quem sempre sonhei e, quando me viu, senti que ele ficou satisfeito com o que viu. O R. nos deixou a sós depois de fazer a introdução na qual me expos como se eu fosse um objeto a ser comercializado. Ambos chegaram a caçoar da minha ingenuidade virginal, mas também foi ela que despertou todos os instintos másculos do CE., o que nos levou a começar um relacionamento. Namoramos por cerca de dois anos, entreguei minha virgindade a ele, fomos morar juntos e achei que tinha encontrado minha alma gêmea pelo resto da vida. A amizade com o R. continuou firme e forte, o CE. não sentia ciúmes dela por saber que a fruta da qual o R. gostava era a mesma que eu devorava nele debaixo dos lençóis da nossa cama. O R. adquiriu uma casa velha, caindo aos pedaços, da qual só se aproveitava o terreno extenso e que ficava mais próximo da casa da tia dele, num bairro mais distante de onde eu morava. Novamente, durante toda a construção da nova casa, apesar de assessorado por uma arquiteta, ele pedia minha opinião sobre tudo. Eu acompanhei tijolo por tijolo aquela casa sendo erguida, onde ele pretendia morar com a mãe que já não podia mais morar sozinha no seu antigo apartamento. Em nossas conversas, e foram muitas, ele sempre me disse que as propriedades dele ficariam para essa tia que tinha mais ou menos a mesma idade dele, ou dos dois filhos dela, caso ela viesse a falecer antes dele, uma vez que o relacionamento dele com os dois irmãos sempre foi tumultuado e quase inexistente, quando souberam, ainda na juventude, que ele era gay. Quando a mãe dele faleceu, voltamos a nos aproximar ainda mais, embora nossos encontros tivessem rareado, estávamos sempre em contato via Whatsapp. Minha mãe também faleceu e veio a pandemia da Covid-19, o que também nos impediu de nos encontrarmos na frequência de antes. O estado de saúde do R. que era diabético insulinodependente e com outras comorbidades se deteriorou e ele precisou ser internado algumas vezes, mas como eu estava cuidando da minha mãe não tinha como acompanhar todo esse processo. Foi aí que, pela primeira vez, ele mencionou estar com alguém que estava morando com ele naquela casa que construiu, não me disse muita coisa a respeito dele, nem seu nome eu sabia. Duas semanas antes do R. falecer, ainda nos falamos pelo celular, ele estava no hospital prestes a ter alta quando me propus a ir visitá-lo. Ele tinha uma mania de sumir, de não contar quando estava passando por algum problema, como se quisesse poupar a todos. Nesse período, mandei diversas mensagens propondo a tal visita que estava lhe devendo, ele não respondia a mensagens e não atendia o celular, o que só me deixou ainda mais preocupado. Até que um dia, quatro na verdade, após ele falecer, um tal de C. atendeu a ligação me avisando do falecimento. Eu entrei em choque, não pude acreditar que meu grande amigo tinha morrido e que eu não havia sido comunicado, chorei desesperadamente enquanto o sujeito do outro lado falava com uma tranquilidade desconcertante para alguém que dizia que tinha perdido um parceiro incrível. Foi aí que descobri que ele se chamava C., e como tinham sido essas semanas finais do R., enquanto eu só conseguia chorar à medida que ele me relatava os fatos. Contudo, foi ali, depois de mais calmo, que me dei conta da primeira mentira que o tal C. contou, que conhecia o R. havia cerca de oito anos. Eu soube que era mentira, pois o R. sempre contava quando conhecia alguém novo, e esse C. ele nunca mencionou antes daquelas poucas semanas antes de falecer. Propus ao C. de nos conhecermos pessoalmente, já que ele tinha cuidado do meu amigo durante esse período crítico e final. Marcamos um encontro, mas ele desmarcou, com uma desculpa esfarrapada poucas horas antes do horário combinado, não apresentando nenhuma outra data. Também me enviou pelo Whatsapp algumas fotos dele e do R., uma delas completamente nus na praia de Tambaba na Paraíba, outras dele em companhia do R. em diversos lugares e particularmente uma que chamou muito a minha atenção, tirada dezessete dias antes de o R. falecer ao redor de uma mesa de restaurante com mais duas pessoas a qual ele alegou ser a do dia em que se casaram. A expressão perdida, como se não estivesse em pleno domínio de suas faculdades mentais do R. foi o que me deixou abismado. Era como se ele estivesse drogado, ou algo parecido, aquele olhar fixo no nada, aquela expressão indecifrável no rosto, quase como a de um lunático. Quem é que comemora uma data que seria tão especial com uma feição daquelas? Aquele não era o R. que eu conhecia há vinte anos. Eu já começava a suspeitar desse C. e dessa morte em condições tão estranhas. Comecei a pesquisar, embora não soubesse o nome completo do sujeito, mas procurava por alguma ligação dele com o R., o que encontrei foram informações no Tribunal de Justiça do Estado, descobrindo assim o nome completo dele, que era motorista de van escolar ou trabalhava nesse ramo. Não havia nenhuma referência a um endereço que não fosse a da casa do R. onde esse sujeito pudesse ter morado ou trabalhado. Era um Zé Ninguém, daquele tipo que o R. caçava nas baladas gays quando saíamos juntos, pensei comigo mesmo. Eu ficava cada vez mais intrigado, havia algo de errado naquilo tudo, e eu precisava descobrir. Embora não me comunicasse mais com o C. depois daquela tentativa de encontro frustrado, eu ainda o tinha na minha agenda do celular e recebia constantes atualizações do status dele no Whatsapp. Três meses depois do R. falecer, ele comemorava com uma galera ruidosa na casa do R. ao som de pagode e uma mesa cheia de garrafas e latas de cerveja, sabe-se lá o quê. Depois, mostrava ele seguindo rumo ao litoral e desfrutando do apartamento do R. no Guarujá. Vieram então viagens para a Paraíba, também numa praia onde ele aparecia com pessoas simplórias. Que fique bem claro G. que não tenho preconceito contra nordestinos, ou pessoas simples, mas que esse tal C. era um daqueles caras xucros vindos da quase miséria, pode-se dizer, estava ficando cada vez mais evidente. Quem comemora e se diverte viajando para todo lado como ficou provado em outras postagens dele nos meses que se seguiram depois de ter perdido um parceiro tão próximo, em tão curto espaço de tempo? Como esse sujeito ficou com os bens do R. quando eu sempre o ouvi dizendo que já estavam destinados a tia dele ou sobrinhos dele? Mais inconsistências, mais fatos que não condiziam com o que eu sabia do R., as suspeitas só cresciam. De repente, C. e outro sujeito estão numa viagem para os Estados Unidos, primeiro Nova Iorque, depois Flórida, por três semanas em hotéis quatro estrelas, passeios diversos, aluguel de carro conversível na Flórida onde se deslocavam entre as cidades com tudo devidamente filmado, registrado e postado. C. sempre aparecendo nas imagens com seu estilo brega pobre que estava adquirindo coisas de gosto duvidoso e bem ao estilo daqueles migrantes nordestinos que chegaram a São Paulo e saiam comprando nos camelôs aquelas quinquilharias que seus salários permitiam. Volto a reforçar G. não é nenhum preconceito meu contra os nordestinos, apenas a constatação de como esses migrantes se parecem. Sei que é a simplicidade e a falta de oportunidades que tiveram em seus locais de origem que os fizeram assim, nada contra, só que esse C. é a personificação desse tipo de pessoas. A única coisa que coloco em dúvida aqui, é a integridade desse C., pois me parece que ele se apossou dos bens do R., de forma ilícita, e é isso que eu quero provar com essa investigação. Foi por isso que os procurei, me ajude G., é muito importante para mim saber até onde minhas suspeitas são reais. Como eu já disse ao Senadeghi, não estou de olho nos bens do R., eles pertencem aos familiares dele ou, se não encontrarmos essa tia ou sobrinhos dele, eu gostaria de doá-los, pois sei que o R. faria a mesma coisa.

- Você não podia ser mais claro na sua exposição A., acho nobre de sua parte estar tão preocupado com o destino final do seu amigo. E, te garanto, vou dar o máximo de mim para esclarecermos tudo. – afirmou a G. quando terminei meu relato, que precisei interromper algumas vezes pois me vieram as lágrimas ao recordar de certas passagens com o R. nas quais fomos muito felizes.

- Devo isso a memória dele! – retruquei

- Perdoe a minha indiscrição. Você mencionou que conheceu o CE. e vocês passaram a viver juntos, ele está de acordo com as suas suspeitas, ele sabe de algo que possa nos ajudar nas investigações? – perguntou ela. Eu precisei respirar fundo, aquilo ainda era bastante doloroso para mim. – O que foi, fui muito invasiva? Me desculpe!

- Não, não foi, fique tranquila! É que o CE. e eu não estamos mais juntos. Ele me deixou há poucos meses, depois de quase dez anos. Eu ainda não me recuperei completamente. Não sei se foi o que chamam da crise dos sete anos no casamento, embora tenha sido um pouco além disso; ou, se foi a crise dos quarenta que o abalou a tal ponto que começou a procurar alternativas para a vida atual dele, com a qual pareceu estar insatisfeito. Vim observando ele mudar o comportamento, deu para se preocupar mais com a aparência, dizia que estava ficando sem músculos, algo de que sempre teve orgulho; comprou uma motocicleta potente; me perguntava que legado ia deixar nesse mundo indicando que passou por ele e coisas assim, que a princípio achei meio descabidas, mas que com o tempo percebi que o estavam preocupando com seu futuro. Ele queria ter filhos, queria que fossem dele, dos espermatozoides dele, não de outro, por isso não concordou com uma adoção que eu propus para deixá-lo feliz. Também não queria que fosse por outros métodos, mesmo que o sêmen fosse dele. Até que chegamos a um impasse, e ele acabou me revelando que queria um casamento normal, com uma mulher que ele pudesse engravidar e que pudesse lhe dar o filho que tanto queria. Eu não podia ser essa pessoa, não sou mulher, não tenho como engravidar, teria que abrir mão dele para que fosse feliz à maneira que escolheu. Sofri e ainda sofro bastante quando chego em casa e não o encontro, ou quando acordo no meio da noite e o lado cama dele está vazio e frio. Ainda o amo, apesar de tudo. Ele me fez muito feliz enquanto esteve ao meu lado, não posso reclamar, e voltaria para ele sem pestanejar se ele me pedisse para voltarmos, não tenho vergonha de admitir.

- Sei bem como os homens são! A masculinidade deles os impele a querem uma prole, acham que ao terem filhos sua virilidade e masculinidade está comprovada. Estou num relacionamento com um típico desses machões. – revelou ela

- Mas você pode lhe dar o que ele quer! Se o ama de verdade, faça a vontade dele, tenho certeza que ficarão mais unidos. – argumentei.

- Essa é a questão, não sei se o que sinto por ele é mesmo amor, esse amor que te faz querer formar uma família, entende? – devolveu ela, pensativa.

Esses pequenos detalhes sobre nossas vidas criaram um elo ainda mais forte entre mim e a G., sentimos que dali poderia surgir uma amizade, já não era mais apenas uma questão de negócios, de prestação de serviço. Talvez tenha sido isso que ajudou a fazer com que os primeiros resultados da investigação surgissem.

Conforme a G. apurou, a tia do R. havia falecido, mas o filho dela forneceu algumas informações que não só corroboraram as minhas suspeitas, como ajudou a esclarecer aquela falta de notícias que o R. sempre havia me dado à medida que os fatos de sua vida aconteciam. Eles também sentiram a ausência dele, que sempre fora constante, coincidindo mais ou menos com o mesmo período em que eu fiquei sem aquele contato regular que mantínhamos. Segundo o sobrinho, ele deixara de frequentar a casa deles como sempre fazia, pelo menos uma vez por semana, até pela proximidade em que residiam. De início, eles atribuíram a escassez de contato pelo falecimento da mãe, com a qual o R. era bastante ligado; depois, acharam que foi pela pandemia que obrigava as pessoas a se isolarem, embora os contatos por telefone também não estivessem acontecendo.

- Foi há mais ou menos três anos atrás que notamos que o R. se afastou gradualmente, que demorava a responder as ligações e mensagens, e que não aparecia. – disse o sobrinho a mim e a G. quando fomos a casa dele. Eu não o conhecia pessoalmente, mas o achei simpático e prestativo, e estava tão intrigado quanto eu em relação ao que tinha acontecido com o R. – Foi estranho ele falecer e nós só termos sido avisados no dia do sepultamento. – continuou ele. – Sim, pelas informações que minha mãe tinha, o R. havia deixado os bens em nome dela, caso ele falecesse antes dela. Não, nenhum de nós chegou a ver esse tal de C., o R. não comentou muita coisa a respeito dele. – finalizou.

- Vocês não foram questionar esse C. por conta dos bens? – perguntei

- Não! Segundo consta, não havia um testamento formal, portanto, o R. podia ter mudado de ideia e ter deixado os bens para outra pessoa. – disse o sobrinho. – Você acha que esse cara matou o R.? Isso é tão escabroso que mal dá para acreditar!

- Não sei, sinceramente, não sei! Pode não ter executado o crime, mas colaborado para que as doenças preexistentes do seu tio o levassem a morte mais rapidamente. – afirmei.

- Espantoso! O R. assassinado, custo a acreditar! – exclamou estarrecido

No avanço das investigações da G. ela acabou encontrando num cartório o cancelamento de um registro de testamento, feito dois meses antes de o R. falecer.

- Não é mais do que suspeito? – perguntei, quando ela me deu a notícia

- Bastante! Tenho que admitir! Não é algo comum de acontecer.

- Por que ele anularia o testamento assim, sem mais nem menos e, tão próximo de sua morte? Foi esse cara! Cada vez tenho mais certeza disso! – afirmei.

- Vou me concentrar no C. a partir de agora. Vou tentar levantar sua vida pregressa, sua profissão, seus bens, seus parentes e familiares para ver se ele já tinha como bancar essa ostentação atual. Vamos ver no que dá! Também vamos montar campana na casa e segui-lo à medida do possível, para ver o que vem fazendo para se sustentar. – disse ela

- Para mim, ele vem fazendo toda essa ostentação com a grana do R., ele tem cara de ser um pé rapado, um Zé Ninguém como eu já afirmei. – eu sentia uma revolta aumentado dentro de mim, uma raiva crescente, só de imaginar todo o esforço e trabalho do meu amigo sendo dilapidado por um sujeito como aquele.

O hospital onde o R. faleceu e foi internado algumas vezes antes de falecer não deu nenhuma informação, só mediante a requisição de um juiz seria possível obter o prontuário médico dele. Contudo, a G. foi muito hábil e conseguiu algumas informações de uma enfermeira que participou ativamente do tratamento dele nas vezes em que foi internado na UTI, ela também chegou a suspeitar daquelas internações repetidas, bem como os médicos, embora a diabetes e os altos níveis de colesterol aliados a uma cirrose hepática medicamentosa também pudessem justificar todas aquelas internações. Ela também conseguiu, por debaixo dos panos e arriscando seu emprego, obter uma cópia do atestado de óbito que o plantonista da UTI assinou no dia do falecimento. Ali dizia que a causa mortis foi uma falência múltipla de órgãos causada por uma cirrose hepática.

A G. chegou a viajar para a Paraíba, para a tal praia onde o C. passou cerca de duas semanas na companhia de parentes, conforme ele havia postado no status do Whatsapp. Eram familiares dele, pai e irmãos que apareciam nas imagens, todos vivendo em condições precárias, o velho de uma aposentadoria miserável e os irmãos fazendo bicos pela região para sobreviver e sustentar as famílias.

- E o que fazemos agora? - perguntei, quando ela regressou da viagem. – Acha que o que já temos é suficiente para irmos a uma delegacia e expor nossas suspeitas aliadas a essas informações?

- Creio que sim! Estive conversando com o P., ele é da mesma opinião. – respondeu ela

- Você colocou o P. nessa história? Sabe o que penso a respeito dele! – devolvi

- Eu tinha que conversar com ele, é o dono da empresa, é meu chefe! Tenho que prestar contas dos casos que acompanho. – retrucou ela. – Sabe que ele está até mais simpático em relação ao seu caso?

- Dispenso a simpatia dele! Basta que faça valer as diárias absurdas que está cobrando de mim! – exclamei

- Fiquei sabendo das diárias, o dobro do que geralmente cobra. Mas, te garanto que fui o mais econômica possível durante as investigações.

- Não se preocupe, não é com você que estou revoltado! Aliás, estou achando seu trabalho excelente, não poderia estar mais satisfeito com os resultados. – afirmei. – Isso é para aquele sujeitinho petulante ver e engolir cada palavra que disse a seu respeito, pondo em dúvida a sua capacidade investigativa só por ser mulher. Babaca machista e preconceituoso! – emendei exasperado.

- Você não gosta mesmo dele, não é?

- Nossos santos definitivamente não se cruzaram! Abomino homens como seu chefe! Quero distância deles! – exclamei. Ela apenas esboçou um sorriso, não sei o que quis transmitir com ele.

Acompanhado do JC, o namorado de uma amiga do trabalho, e advogado, da G. e do P., fui a uma delegacia para registrar um Boletim de Ocorrência sobre uma morte suspeita, relatando e apresentando todas as informações que dispúnhamos. O delegado conhecia o P. da época em que estava no departamento de polícia também como delegado e, ao que tudo indicou, também conhecia bem a maneira pela qual o P. conduzia as coisas na delegacia onde era o titular. Eles se cumprimentaram de forma amistosa, parecia haver um respeito mútuo entre eles, onde o P. parecia levar certa vantagem sobre o colega. As condições nas quais se deu a morte do R. iam finalmente ser investigadas oficialmente pela polícia, e isso me trouxe um pouco de alívio.

- O senhor sabe que pode estar equivocado, não é, Sr. A.? Tudo pode ter sido apenas uma coincidência, e esse C. não ter nada a ver com o falecimento de seu amigo. Mas, vamos nos dedicar às investigações e ver o que descobrimos. – me disse o delegado, ao colocar uma cópia do BO nas minhas mãos.

- Que implicância isso terá para mim se minhas suspeitas forem infundadas? Estou cometendo algum delito? – perguntei

- Se esse tal de C. for inocente, ou não se puder comprovar nada contra ele, você pode ficar sujeito a um processo por calunia e difamação, e terá que arcar com as consequências. – respondeu ele, me deixando novamente inquieto.

- Fique calmo! Vou acompanhar tudo e, se o sujeito for realmente inocente, e resolver te processar, não será um processo complicado. – alegou o JC, quando deixamos a delegacia.

- Terá sido apenas mais uma fantasia estridente! – exclamou o P., numa nítida atitude de deboche.

- O que você quer dizer com isso? Desde quando sou dado a fantasias, e quanto mais estridentes? Acha que sou um desses gays espalhafatosos? É isso que está insinuando? – indaguei furioso, encarando-o com determinação.

- Não se zangue! Foi só uma observação! – respondeu ele.

- Você deveria se restringir ao seu trabalho ao invés de fazer julgamentos errados sobre o A.! – interveio o JC me defendendo, o que deixou o P. irritado.

- Não vale a pena se aborrecer com o que esse sujeitinho arrogante fala! Misógino, machista, homofóbico e petulante, o que se pode esperar de uma criatura dessas? – questionei. O P. chegou a bufar de raiva, mas se manteve calado. Ali, dentro do carro, não era lugar para comprar uma briga.

Algumas semanas depois, durante outro encontro com a G. num café num início de noite, pois as investigações dela ainda continuavam para obter mais informações, ao me dirigir ao meu carro estacionado nas proximidades para lhe dar uma carona até a casa dela, dois sujeitos numa motocicleta passaram por nós e atiraram; o alvo era eu. Entrei em pânico quando o vidro do carro se estilhaçou com o primeiro tiro, e um segundo perfurou a porta que eu tentava abrir, a centímetros de mim. A G. imediatamente sacou a pistola e disparou em direção a motocicleta em fuga, que ziguezagueou pela pista quase derrubando os dois ocupantes antes de contornar a esquina e desaparecer.

- Acho que acertei o que estava pilotando! Viu como quase o fiz perder o equilíbrio? Devo ter alvejado ele no tórax, foi onde mirei. – disse ela, enquanto eu escorregava para dentro do carro com o corpo todo a tremer.

- Santo Deus, o que foi isso? – balbuciei, quando ela se sentou no banco do passageiro.

- Um atentado! Estão tentando te intimidar! – respondeu ela com a voz firme e resoluta

- Me matar, você quer dizer! Querem calar a minha boca! A denúncia na delegacia, foi isso, já devem estar sabendo e estão querendo me calar. – afirmei, constatando que minha vida corria perigo.

- É provável! Isso não foi uma tentativa de assalto! Poderiam ter levado minha bolsa, estava muito mais acessível, mas atiraram contra você. – disse ela. – Precisamos voltar a delegacia e reportar essa tentativa de homicídio agora mesmo.

Na delegacia registrei outro BO, o segundo em tão curto espaço de tempo quando nunca precisei fazer isso antes. Enquanto a queixa era registrada o P. apareceu, tinha sido avisado pela G., o que eu não gostei nem um pouco.

- Devia tê-lo deixado fora disso! Você sabe que não o suporto! – reclamei com ela, quando ele já estava ao nosso lado, querendo saber de todos os detalhes. – Pode não ter passado de uma tentativa de assalto comum.

- Acha mesmo que foi só isso? Dá para ver que nem faz ideia do perigo que passou a correr depois de fazer a denúncia! Acorda, estão querendo te apagar! – exclamou o P., irritado comigo.

- Também penso assim, A.! Foi por isso que o avisei. As coisas podem piorar daqui para frente, não estamos mais lidando com uma suspeita, esse atentado praticamente confirma o que você desconfiava. – disse a G., me deixando com medo.

- Precisamos garantir a sua segurança! Você vai precisar mudar suas rotinas. Como é o seu local de trabalho, acha que está seguro lá? E sua casa, quem mais mora com você? Existe um esquema de segurança na casa? – perguntou o P.

- Como assim mudar minhas rotinas? Claro que meu local de trabalho é seguro, trabalho lá há anos! E minha casa é segura, nunca ninguém tentou roubá-la! Claro que moro sozinho! – devolvi exaltado, mais pelo fato de ele estar me tratando como se eu fosse um alienado. - Que esquema de segurança, não vivo numa prisão, é apenas uma casa comum. – respondi

- Mudar horários, trajetos, essas coisas! E na sua casa você também não pode mais ficar, é arriscado demais! – retrucou o P.

- O que você está dizendo, que eu vou viver como um foragido? Que absurdo! Não vou mudar nada! Serei apenas mais cauteloso e observador, isso deve bastar. – devolvi

- Você vem para a minha casa, lá tenho como te vigiar, e estará seguro! – revidou ele. Eu caí na gargalhada.

- Está maluco? Ir para debaixo do mesmo teto que você? Isso é uma piada! Sabe quando? Nunca, jamais! – exclamei enfático. A G. começou a rir, mas disfarçou.

- O que foi, por que está rindo? Falei algo engraçado? – questionou o P. encarando-a.

- Não, claro que não chefe! Talvez o A. esteja certo, alguns cuidados extras devem bastar. – respondeu ela, contendo o riso ao olhar na minha direção. Ela bem sabia que eu queria distância de seu chefe, enquanto ele talvez estivesse começando a simpatizar comigo, pois o conhecia o suficiente para saber que ele não teria feito essa proposta para outro cliente.

- Bem, eu não vou, e está decidido! – afirmei impositivo.

- Depois não venha choramingar no meu ombro! – revidou o P.

- O que te faz pensar que eu faria isso? Nunca choraria no seu ombro, pode ter certeza! – exclamei. A G. continuava segurando o riso e, por pouco, não fui eu quem lhe perguntei o que tinha de tão engraçado na minha discussão com seu chefe.

A polícia investigou a tentativa de assalto, a motocicleta usada tinha sido roubada dias antes, a identificação da placa resultou na identificação do proprietário que forneceu uma descrição confusa do assaltante. Porém, câmeras de segurança de estabelecimentos da rua onde ocorreu o atentado permitiram identificar um dos sujeitos ao se cruzar a imagem de seu rosto com os dos passageiros de um voo que tinha pousado em Guarulhos três dias antes, vindo de João Pessoa na Paraíba. O delegado estava sorrindo quando me deu a notícia.

- Estamos checando todos os passageiros do voo, o outro sujeito que estava na motocicleta também deve ter vindo no mesmo voo, são comparsas, seguramente. E, digo mais, não duvido que conhecidos do nosso suspeito. Vamos esclarecer a morte do seu amigo A., eu te asseguro! – disse ele, quando nos despedimos com um aperto de mão. Eu estava depositando todas as minhas fichas na competência desse homem.

Depois que me separei do CE. quase não saia mais. Tinha perdido a vontade de estar nas baladas, onde me sentia ainda mais solitário. Contudo, a galera do trabalho me convenceu a comparecer à festa de aniversário de um colega, que seria comemorado numa casa noturna badalada da cidade. Me distraí, e acabei chegando em casa no meio da madrugada, a festa, as companhias e os drinques que tomei me fizeram rememorar tempos mais felizes quando eu estava livre e solto disposto a conhecer caras para uma vida em comum. Entrei pelo acesso da garagem, fui a cozinha, pois estava com a garganta seca, havia dançado muito e aqueles drinques acabaram me desidratando. Fui para o quarto e, com tristeza, encarei aquela cama vazia, ela continuaria vazia, a saudade do CE. entrou no meu peito como uma punhalada. Me despi e me enfiei sob a ducha, foi quando ouvi um barulho estranho vindo do corredor dos quartos. Desliguei apressadamente a ducha e fiquei ouvindo, alguém caminhava pelo corredor, não era um delírio, não era uma fantasia, era alguém estranho dentro da minha casa. Agarrado a toalha fiquei sem saber o que fazer, o celular havia ficado na mesa de cabeceira da cama, eu não o alcançaria antes do sujeito me alcançar. Medo, uma tremedeira que deixou minhas pernas mais moles do que gelatina, uma respiração falhando, o coração querendo sair pela boca. Meu grito de socorro ecoou alto, saindo pela janela do banheiro e quebrando o silêncio noturno da vizinhança. O intruso ainda correu em direção ao quarto, mas o encontrou vazio e, mesmo assim, fez três disparos contra as paredes antes de sair correndo pela porta da sala. Nunca me senti mais feliz com as reclamações constantes do meu vizinho insone, que alardeava suas noites mal dormidas por toda vizinhança. Ele acendeu as luzes da casa e chegou a ver dois sujeitos saindo correndo em direção a calçada onde um carro preto os aguardava com os faróis deslizados e o motor funcionando. Saíram cantando pneus, e deixando um rastro de fumaça azul acinzentada para trás.

- Sr. Julio, invadiram a minha casa! Socorro! Socorro! – continuei gritando, completamente abalado. Minutos depois ele, a esposa e mais alguns vizinhos estavam de pijama diante da minha porta.

Num primeiro momento, pensei em ligar para a G., ela precisava saber da invasão. Mas, era madrugada, não quis acordá-la. Ia conversar com ela ao amanhecer. Dormir não foi uma opção, estava agitado demais para fechar os olhos, apesar de me sentir moído.

- Você devia ter me ligado! Não foi o que combinamos, qualquer dia, qualquer horário? Foi a delegacia registrar esse novo atentado? Não? O que está esperando A.? – ela fazia as perguntas tão seguidas que nem me dava chance de responder.

Quando chegou a minha casa para seguirmos para a delegacia, o P. estava com ela; carrancudo, mal me cumprimentou, apenas rosnou na minha direção. O delegado de plantão informou o titular que estava cuidando do meu caso dessa nova tentativa de homicídio, assim ele classificou a invasão e fez o registro.

- É melhor você deixar a sua casa por uns tempos, até que possamos prender esses sujeitos. Tem onde ficar, a casa de algum amigo, parente ou familiar? – perguntou-me o delegado titular quando pediu ao colega que me colocasse na linha.

- Não, não tenho! Não tenho parentes na cidade, e não quero incomodar os amigos. Vou para um hotel se for o caso, acha que é mesmo necessário? – questionei, enquanto o P. me encarava com aquele ar de sabichão e superioridade.

- Ele te mandou sair de casa, não foi? Exatamente o mesmo conselho que eu te dei algumas semanas atrás. Acredita agora que está correndo perigo, ou ainda acha que tudo não passa de coincidência? – perguntou triunfante.

- Não me aborreça! A última coisa que preciso agora é ouvir seus sermões! – retruquei.

- Vamos passar na sua casa, você pega tudo o que precisa e vai para a minha casa, sem discussão, sem contestações! Cacete, que sujeitinho mais teimoso! – rosnou ele furioso.

- Sob hipótese alguma! Vou para um hotel, está decidido! – afirmei

- Vai coisa nenhuma! Você vai me obedecer, está me entendendo? Não me faça perder a paciência com você, que já anda por um fio! Preciso ter a certeza de que está seguro, e isso só vai acontecer quando estiver sob as minhas vistas o tempo todo e, dentro da minha casa. – revidou ele

- Qual é seu súbito interesse na minha segurança? Tem receio de não receber seus honorários, caso me aconteça alguma coisa? – indaguei

- Olha aqui, seu ... seu ... seu veadinho arredio, sou responsável não só pelas investigações, mas por sua vida enquanto estiver contratando nossos serviços. E você vai me obedecer, por bem ou por mal, está me entendendo? – ele quase grudou a cara na minha e seus punhos cerrados estavam se controlando para tão me acertarem a cara que o encarava. Não sei se era raiva o que estava sentindo naquele momento, ou se me senti intimidado por aquele homem pela primeira vez.

- Troglodita! – exclamei a meia voz, embora a G. tenha escutado e começado a rir.

No carro, enquanto o P. dirigia rumo a minha casa, ela se inclinou na direção do meu ouvido e sussurrou.

- Isso ainda vai acabar numa paixão! O P. está realmente preocupado com você, para dizer o mínimo.

- Estou pouco me importando com as preocupações dele, sei muito bem que o que lhe interessa é a grana que estou pagando. – respondi sem meias palavras.

- Do que esse ... esse ... essa mula empacada está reclamando agora? – perguntou o P., já que não tinha ouvido a afirmação da G.

- Mula empacada é você! Sujeitinho grosso! – exclamei.

Era a minha terceira semana hospedado no apartamento do P., digo hospedado para não dizer prisioneiro, uma vez que era assim que me sentia. Eu procurava adiar a volta do trabalho o quanto podia para ficar o menor tempo possível na presença dele. Porém, ele começava a ligar para o meu celular a cada dez minutos assim que passava um pouco do meu horário habitual. Segundo ele, era para saber se estava tudo bem, mas para mim era como se ele estivesse controlando a minha vida, e isso me deixava irritado, demorando propositalmente a responder a atender as ligações quando a tela mostrava que era ele quem estava ligando ou simplesmente não respondendo as inúmeras e seguidas mensagens que ele enviava; aí era ele quem se irritava e ficava furioso.

Numa dessas ocasiões, ele perdeu a paciência, acionou a G. para que ela entrasse comigo para verificar se estava tudo bem comigo, pois eu estava muito atrasado segundo o controle rígido dele.

- Ele disse que está tudo certo, que você não precisa se preocupar e ficar controlando os passos dele, que está com alguns amigos num barzinho numa happy hour. – respondeu a G. para ele, depois de me ligar.

- Esse ... esse ... esse veadinho do caralho ainda vai acabar me deixando maluco! – afirmou ele para a G. quase aos berros de tão bravo. – Manda ele ligar para mim agora mesmo, diz que é uma ordem! Em que porra de barzinho ele está, você sabe? – disse a G., que ele pediu, quando tornou a me ligar.

- Manda esse seu chefe à merda! Quem ele pensa que é para me dar ordens? – questionei com ela.

- É melhor você responder as ligações dele. Ele costuma perder a cabeça com facilidade, e eu não queria estar na sua pele quando isso acontecer, vai por mim. – devolveu ela. – E, Ah, me desculpe, mas ele me pressionou muito e eu tive que dizer onde você está. Me desculpe mesmo, A., não teve jeito, ele insistiu muito! – emendou consternada.

- Não esquenta! Não vou me demorar muito mais por aqui. – respondi, confiante de que estaria em casa antes do P. ter outro de seus ataques de fúria.

Não deu tempo. Nem haviam se passado vinte minutos depois que falei com a G. e ele apareceu no barzinho onde, na verdade, eu estava apenas com o JC e não com a galera do trabalho como havia dito a ele, pois sabia da implicância dele com o JC. Para ser bem sincero, até eu estranhei o convite do JC para nos encontrarmos depois do expediente sem a presença da minha colega. Pensei que talvez ele quisesse falar sobre o meu caso e o eventual processo que podia sofrer se minha acusação não pudesse ser comprovada, ou que talvez quisesse me contar alguma coisa sobre o relacionamento dele com a minha colega, uma vez que ela havia comentado há poucos dias com outra pessoa da empresa que as coisas entre eles não andavam nada bem. Mas, o que eu tenho a ver com isso, se os dois estão tendo problemas no relacionamento, me questionei quando estava a caminho do barzinho para o encontro.

Para minha surpresa, o assunto era mesmo o relacionamento deles, tão logo começamos a conversar, após o garçom ter deixado as bebidas na mesa. Até então, e não sei explicar o porquê, eu nunca tinha reparado direito no JC, o que não costumava acontecer ao se tratar de um homem atraente e sensual como ele. Fiquei reparando detalhadamente nele enquanto ele falava, no rosto anguloso e viril, nos olhos que pareciam estar me devorando, na boca de contorno sensual que parecia estar pedindo para ser beijada, naquelas mãos enormes e vigorosas, naqueles ombros largos onde certamente a gente podia se sentir amparado ao deitar a cabeça ali; enfim, naquele macho tesudo cheiroso que agora estava na minha frente me contando seus problemas pessoais como que me pedindo atenção e carinho; justamente meu ponto fraco com os homens. De tão envolvido admirando o macho sedutor que estava diante de mim e ouvindo atentamente suas palavras que fluíam calmamente daqueles lábios cuja textura eu estava tentado a experimentar, não percebi a chegada abrupta do P.

- Eu preocupado com a sua segurança, fazendo de tudo para assegurá-la e você aqui, exposto e sujeito a sofrer outro atentado num lugar público sem nenhuma segurança, onde qualquer um pode chegar em você e te meter uma bala no meio da cabeça! Você é maluco, ou o quê? Esqueceu que estão querendo de apagar? Preciso te lembrar que sua vida vale tanto quanto uma titica para o cara que você acusou de estar envolvido na morte do seu amigo? Diga para mim, preciso? – indagou ele, num tom de voz tão alto e exasperado que chamou a atenção das pessoas nas mesas ao redor. – E você, o que faz aqui? – perguntou ao JC. – Está dando em cima dele, ao invés de estar preocupado com a integridade física dele, é isso? – emendou, dando um soco na mesa.

- Qual é a sua cara? O que estamos fazendo aqui não é da sua conta! Ele está mais do seguro comigo, se é essa a sua preocupação! – respondeu o JC, levando-se para peitar o P.

- É da minha conta enquanto eu for responsável pela segurança dele! Se tiver alguma dúvida podemos esclarecer isso lá fora! – revidou o P. cerrando os punhos pronto para a briga.

- Parem já com isso! Estão todos olhando para cá! Se queriam me expor conseguiram! – exclamei, sentindo os olhares voltados para nossa mesa.

- Venha, vamos para casa! Você não pode ficar solto por aí a essas horas! – sentenciou o P., enquanto esmagava meu braço com sua mão de urso.

- Ele não vai a lugar algum se não quiser! Eu o deixo em casa são e salvo, ninguém aqui está precisando de você! – vociferou o JC, querendo garantir o domínio da situação.

- Você vai é parar de se intrometer na vida dele! Sua namorada sabe que você está aqui dando em cima dele? Seria interessante saber a opinião dela a respeito disso, não acha? – indagou provocativo o P.

- Quem está se intrometendo na vida dele é você! E na minha também, eu não tenho que te dar explicações sobre o que estou fazendo, seu cretino! – revidou o JC, dando um empurrão no P. que quase o fez perder o equilíbrio que, porém, não ficou sem resposta, uma vez que o P. partiu para cima dele feito um leão raivoso.

Os garçons vieram atender aos meus chamados tentando apartar os dois. O gerente do barzinho também se aproximou, mas para avisar que chamaria a polícia caso não saíssemos do estabelecimento naquele instante.

- Viu o que você fez? Está contente agora que deu seu showzinho? – perguntei ao P. quando havíamos sido conduzidos para a calçada. – Eu não sei onde estava com a minha cabeça no dia em que contratei os seus serviços, foi o maior erro da minha vida! – exclamei furioso

- Nada disso teria acontecido se você simplesmente me obedecesse! Eu que não deveria ter aceitado esse trabalho. Se soubesse naquele dia que você é o sujeito mais intragável desse mundo não teria caído nessa cilada. – retrucou ele, voltando a esmagar meu braço enquanto me levava até o carro.

- Solta ele! Solta, ou quebro essa sua cara de merda! – ameaçou o JC, disposto a continuar aquela briga insana, que eu me perguntava da razão de ser, pois não estava entendendo mais nada.

- Me desculpe por isso, JC! Eu te ligo e marcamos outro dia. Vou com ele agora, mas nos falamos em breve. Chega dessa discussão, ou vamos mesmo todos parar numa delegacia daqui a pouco. – argumentei

- Você é quem sabe! Se não quiser ir com ele pode vir para a minha casa, também ficará seguro lá! – afirmou o JC

Decidi seguir com o P., ia terminar com tudo aquilo e procurar me esquecer do dia em que conheci esse sujeito. Fomos discutindo durante todo o trajeto e, por mais um tanto quando chegamos ao apartamento dele. Não me lembro de ter brigado tanto assim com alguém antes, o P. me tirava do sério de um jeito como ninguém tinha feito.

No início da noite do dia seguinte, sem ter comentado nada antes para evitar que o P. voltasse a interferir na minha decisão, eu estava de malas prontas para deixar o apartamento dele e me transferir para a casa do JC.

- Pode deixar ele subir! – disse ao porteiro que interfonou avisando da chegada do JC que veio me buscar.

- Quem é? – perguntou o P., pouco antes de ouvirmos as batidas na porta.

- É o JC, vou me mudar para a casa dele! Não aguento mais você me controlando como se eu fosse um prisioneiro. Aqui está o seu pagamento dessa semana, também estou encerrando nosso acordo. Não precisa mais investigar o C., vou procurar outra agencia para fazer esse serviço. – comuniquei, diante o semblante estarrecido dele.

- Você não vai a merda de lugar algum, muito menos com esse sujeito cujo único objetivo é enrabar o seu cu! – devolveu ele. – Nosso contrato só termina quando você assinar o término dele e quitar todos os pagamentos, não leu as cláusulas? – emendou, meio que perdido pela notícia inesperada.

- O cheque que está nesse envelope quita todo e qualquer pagamento, e quanto a assinatura, eu passo no seu escritório amanhã e assino o que for preciso para me livrar de você de uma vez por todas. – retruquei decidido, enquanto abria a porta para o JC.

- Foi você, não foi, seu filho da puta, que enfiou essa ideia na cabeça dele? Pois saiba que ele não vai para lugar algum com você! Você não vai foder o cu dele, não vai, seu desgraçado! – berrou o P. agarrando o JC pelo colarinho.

- Ele é quem decide com quem quer ficar, e para quem quer dar o cu, não você, seu filho da puta controlador! – revidou o JC socando o P. contra a parede.

- Chega! Chega! Vocês ficaram loucos! Que conversa é essa de ficar com quem e dar o cu para quem? O que vocês pensam que estão fazendo, me disputando? Mas que merda é essa? Não acredito que isso esteja acontecendo comigo! – despejei perplexo. De repente, dois caras estavam disputando meu cu como se ele fosse um troféu.

- Venha, você não precisa mais se sujeitar as vontades desse cara! Estará seguro comigo, eu te garanto. – afirmou o JC que, subitamente não me parecia mais tão confiável.

- Eu já disse que ele não vai a lugar algum! Você é burro, que parte do, ele não vai, você não entendeu? – revidou o P.

- Calem essas bocas! Chega! Chega dessa merda toda! – exclamei, me sentindo um perfeito idiota. Eu só queria esclarecer as circunstâncias em que o R. faleceu, e não virar toda a minha vida do avesso. Para não sucumbir, sentindo que havia perdido a determinação e as forças, me encostei na parede derrotado.

- Não fique assim! Vem, vamos para a minha casa! Vai se sentir melhor lá! – devolveu o JC, me envolvendo em seus braços que eram realmente tão fortes e quentes como eu havia imaginado.

- É aqui que você estará seguro, em nenhum outro lugar! – exclamou o P., vindo me resgatar daquele abraço, ao empurrar o JC para o lado.

Confuso, não fui para a casa do JC naquela noite, eu precisava de tempo para pensar, precisava ficar sozinho e tomar uma decisão sem toda aquela pressão sobre mim. Contudo, a calmaria da qual eu tanto precisava estava longe de acontecer. Tão logo o JC partiu, voltei a discutir com o P., pois ele me cobrou explicações sobre aquela atitude que ele classificou de infantil e perigosa.

- Qual é a sua dificuldade de simplesmente obedecer uma ordem? A sua vontade de dar o cu para esse cara superou o medo de sofrer outro atentado? – questionou o P. com uma cara tão arrogante que eu, pela primeira vez na vida, ergui minha mão para dar um bofetão na cara de alguém.

- Seu ... seu ... veado do caralho! O que pensa que está fazendo? Se acha que eu vou aceitar isso numa boa está enganado, veadinho! – revidou ele, me prensando contra a parede enquanto apertava minha garganta.

- Me solta, desgraçado! – grunhi com o restante da voz que me sobrara, enquanto erguia meu joelho e acertava seus genitais.

Ele me largou e levou ambas as mãos às bolas que latejavam, enquanto eu levava as minhas para o pescoço massageando-o para que conseguisse voltar a respirar direito. Os olhos dele me encararam, estavam vermelhos de raiva, tinham a expressão de – vou te foder – fulgurando como faíscas quando ele veio para cima de mim novamente, determinado a me subjugar. Ele me puxou pelo braço me fazendo rodopiar até que seu braço me prendesse numa gravata, e eu fosse lançado contra a parede com o rosto esmagado contra ela. Eu me debatia em vão, ele era muito mais forte do que eu, meus chutes para trás não faziam mais do que acertar de quando em quando uma de suas canelas, fazendo-o soltar palavrões e apertar ainda mais a minha garganta, pela qual o ar já quase não passava mais.

- Me solta! Não consigo respirar!

- Por que você é assim, seu veadinho? Só quero te proteger, seu merdinha! – rosnava ele junto ao meu ouvido.

Eu continuava a me debater, ele lançou todo o corpo dele contra o meu, estava excitado, eu sentia a ereção dele roçando minhas nádegas e ficava cada vez mais furioso por não ter forças para me livrar daquele crápula. O contato com o meu corpo trêmulo só aumentava o tesão dele, aquela sensação de domínio fazia o resto. Minhas mãos estavam ocupadas tentando tirar aquele braço musculoso do meu pescoço, pois respirar era mais vital do que impedir que ele tirasse a minha calça que estava sendo arrancada na brutalidade deixando minha bunda nua e minhas nádegas roliças preenchendo a mão potente dele. Eu procurava fugir das encoxadas que estavam ficando cada vez mais obstinadas depois que ele sentiu a quentura da minha pele em sua mão.

- Putinho, por que você tinha que ser tão gostoso? Caralho, eu nunca senti nada parecido por outro homem! – rosnava ele, enquanto se apossava das minhas nádegas e enfiava aquela mão impudica no meu reguinho estreito e quente.

A ereção descomunal já não cabia mais na calça dele, e ele a liberou abaixando a calça e a pincelando na minha bunda nua. Eu continuava me debatendo, mas estava tão colado na parede que meus movimentos eram cerceados pela pressão do tronco dele me esmagando. Soltei um gemido quando senti ele pincelando a pica melada dentro do meu reguinho, agora sim eu corria perigo, não de ver minha vida findando, mas de ser arrombado por aquele macho que há muito perdera a cabeça e o autocontrole, sendo regido apenas pelos seus instintos mais primitivos.

- Me solta, por favor, P.! – balbuciei, sentindo uma estranha sensação se apoderando do meu corpo

- Ah, agora já é por favor P.! Onde ficaram aquelas palavras de ameaça e rebeldia? – questionou ele, procurando afoitamente penetrar aquela rosquinha pregueada que se fazia sentir na glande de sua pica.

- Você é louco, sabia! Eu te odeio! – retruquei, quando o roçar daquela pica já estava me deixando cheio de tesão.

A penetração veio em seguida, bruta, determinada, dolorida, abrindo meu ânus apertado até as pregas se rasgarem para deixarem aquela rola tremendamente grossa atravessar meus esfíncteres anais impunemente. Gritei ao sentir a dor da penetração e da minha carne se dilacerando, nunca tinha sentido algo tão grosso entrando no meu cuzinho.

- Cacete de rabo apertado! Puta tesão de veadinho! Quem é que tem um rabo tão apertado? – grunhia ele, lambendo e chupando meu pescoço. – Essa pele, esse seu cheiro, essa quentura, tesão do caralho, como isso é gostoso! – continuou, enquanto se empurrava todo para dentro de mim.

À medida em que ia me sentindo preenchido por aquela verga latejante, algo que eu não sentia há meses desde que o CE. me deixou, eu ia empinando o rabo contra a virilha pentelhuda do P., onde minha bunda se encaixava como se tivesse sido talhada para isso. As estocadas dele me atingiam cada vez mais fundo, me arrobando, abrindo caminho entre as vísceras que iam sendo deslocadas em meio a dor da fúria com que ele me possuía. Nunca ninguém tinha me fodido daquela maneira, selvagem, obstinada. O que estava acontecendo comigo? Por que aquele homem desprezível estava me deixando com tanto tesão e me fazendo sentir coisas que eu jamais tinha sentido antes? Por que meu cuzinho estava sendo tão generoso com aquela pica, agasalhando-a, mastigando-a com meus esfíncteres que pareciam ter vontade própria, e só queriam senti-la pulsando dentro deles? Eu estava literalmente me entregando àquele macho, acarinhando-o nas minhas entranhas, sentindo sua potência viril pulsar indômita no meu cuzinho e achando tudo aquilo maravilhoso.

- Você me deixa louco! Isso nunca me aconteceu antes, eu nunca senti nada parecido, que cuzinho delicioso! – era só o que o P. sussurrava numa espécie de transe, enquanto me fodia com um vaivém cadenciado que fazia seu cacetão deslizar num entra e sai no meu cuzinho.

Ele já não me prensava mais contra a parede, tinha abraçado meu tronco, estava acariciando meus peitinhos debaixo da camiseta, me segurava pelas ancas e metia, metia seu caralhão na maciez úmida do meu cuzinho apertado, e suspirava alucinado perdido naquele desejo incontrolável que o consumia. Eu o queria cada vez mais, queria aninhar sua pica, queria afagar aquele macho que me possuía com tanto ardor que, sem mesmo tocar no meu pinto, comecei a gozar liberando a porra em jatos contínuos que caíam sobre a calça embolada aos meus pés. Nunca me entreguei tão plenamente a outro homem como estava fazendo com o P. e, confesso que estava gostando, por mais que aquele macho não o merecesse. Ele devia estar sentindo isso, pois seus chupões no meu pescoço estavam ficando cada vez mais selvagens, deixando marcas dos seus dentes cravadas na minha pele. Ao mesmo tempo em que suas mãos puxavam minhas ancas para trás, ele impelia sua virilha para a frente contra a minha bunda fazendo o caralhão sumir nas profundezas do meu cuzinho. Eu gania toda vez que minha próstata era socada contra o púbis, desencadeando uma dor lancinante que se misturava ao prazer de sentir aquele homem me possuindo. O P. estava chegando ao clímax, seus impulsos enterravam o cacetão bem fundo no meu cu, ele todo estremecia agarrado ao meu tronco, o sacão dele batia cadenciadamente no meu reguinho arregaçado, e o urro gutural e selvagem ecoou por todo o apartamento no instante em que o gozo começou despejando um jato de porra atrás do outro no meu cuzinho esfolado. Fui sentindo o ânus se encharcando, a porra morna e pegajosa aderindo à minha mucosa anal, a virilidade dele me preenchendo num prazer indescritível. Até nossas respirações haviam entrado em cadência, arfávamos embevecidos pelo tesão e pelo prazer que agitava nossos corpos. Ele não queria sair dali de dentro, eu não queria me desgrudar daquele homem. Os minutos se passaram, lentos, sem pressa, só o prazer importava, o mundo todo havia se convertido em nós dois ali, atados, procurando entender o que foi que acabou de acontecer.

Ele puxou o caralhão para fora do meu cuzinho devagar, como se não o quisesse fazer. Eu soltei um gemido pungente quando a cabeçorra passou pelos esfíncteres distendendo-os mais uma vez. O cacetão pendeu pesado e ainda gotejando porra quando saiu do meu cuzinho. Por uns segundos o P., imóvel, parecia não saber o que dizer e o que fazer, eu me encontrava na mesma situação; mas logo puxei a calça para cima e saí correndo em direção ao quarto, onde me atirei sobre a cama mal tendo me livrado das roupas. Encolhi ambas as pernas, meu ventre ainda convulsionava numa espécie de cólica e o esperma do P. formigava dentro dele. Meu corpo todo tremia e minha pele parecia estar eletrizada e sensível. Na minha cabeça havia um turbilhão de pensamentos desconexos, prazer, raiva, tesão, satisfação, uma sensação de plenitude, outra se ressentindo da falta daquele corpão engatado no meu, revolta, paixão inadmissível, dúvidas e questões que não faziam nenhum sentido, tudo fervilhava como num caldeirão sobre o lume. Eu tinha gostado daquilo, não da maneira bruta e possessiva como aconteceu, mas tinha gostado de sentir aquele homem vigoroso dentro de mim, tinha gostado do prazer que ele me fez sentir, tinha gostado de perceber que o satisfiz levando-o ao gozo. Eu precisava me livrar dele, aquele não era um homem para mim, aquele não era um homem que se envolveria com um gay, aquele era um homem que só me faria sofrer quando descobrisse meus sentimentos por ele.

Demorou cerca de uma hora para o P. bater à porta do quarto, eu não respondi. A porta foi aberta lentamente, eu estava praticamente nu sobre a cama, só de cueca, encolhido em posição fetal, de costas para a entrada.

- A. posso entrar? Me desculpe pelo que aconteceu há pouco, perdi a cabeça! – disse ele, numa voz ligeiramente insegura. Eu não respondi, fingi que havia adormecido. – Está me ouvindo? Sei que te machuquei, não foi intencional, acredite. Me perdoe A.! – continuou ele, caminhando em direção a cama.

Ele parou rente a beirada da cama, se ajoelhou quando viu meus olhos fechados, ficando um tempo a me observar. Dava para ouvir a respiração dele, de tão próximo que estava, mas mantive os olhos cerrados, precisando me esforçar para isso. Ele roçou levemente as pontas dos dedos na minha testa quando afastou uma mecha dos meus cabelos que havia escorregado sobre ela. Quase dava para sentir como o olhar dele estava pousado em mim de tão intenso. Ele puxou uma manta sobre meu corpo até a altura dos ombros, não sem antes admirá-lo detalhadamente, talvez até sentindo falta dele em seus braços como o teve há pouco.

- Perdão por ter te machucado! Estou confuso, não sei o que se passa comigo quando você está perto de mim, nunca senti nada parecido antes. Você me atordoa, não sei explicar como nem porque, mas atordoa de um jeito que embaralha toda a minha mente. – ele falava com a voz baixa, quase como se estivesse sussurrando para si mesmo, e nela havia uma doçura como eu jamais pude imaginar. – Naquele dia em que você invadiu intempestivamente meu escritório e, no momento em que meu olhar se encontrou com o seu, eu senti uma quentura crescendo em meu peito. Nunca acreditei em amor à primeira vista, sempre achei isso uma balela piegas de filmes melosos. No entanto, creio que aquela quentura que crescia em meu peito era exatamente isso, amor à primeira vista, por um cara, imagine só, por um cara. Quem acreditaria numa coisa dessas? Você gesticulava furioso, falava sem parar, mas eu não conseguia prestar atenção nem ouvir uma palavra sequer do que dizia, só conseguia olhar para aquele corpo, para aquele cara lindo que, não sei porque estava muito, muito zangado comigo, mesmo eu nunca o tendo visto antes. Lembro-me de ter sorrido diante da sua beleza, pois ela estava me dando um tesão danado. Até precisei ajeitar a pica endurecida dentro da calça, enquanto meus olhos continuavam enfeitiçados pelo cara bravo que não parava de me insultar. – eu ouvia tudo em silêncio, como se estivéssemos num confessionário no qual ele estava se abrindo e se expondo pela primeira vez. – No meio de todas aquelas frases que você soltava, de repente, consegui entender o motivo de estar tão zangado, a minha demora em atendê-lo. Você não sabe, mas eu tinha acabado de falar com a minha ex-mulher e meu filho. Para variar, tive uma discussão com ela por estar fazendo de tudo para afastar meu garoto de mim. Ele conversou comigo com frieza, como seu eu fosse um estranho e não o pai dele, o pai que o ama acima de qualquer outra criatura nesse mundo. Me disse que não queria passar umas semanas comigo durante as férias, que preferia viajar com a mãe e o novo parceiro dela do que vir ao Brasil. Ele não me quer mais como pai, e eu sei que é a minha ex-esposa e a família dela que estão fazendo a cabeça dele contra mim. Posso ter agido sem pensar com ela, como acabei de fazer com você, mas eu sou assim, perco a cabeça, faço o que não devo, viro um bicho e depois tenho que arcar com as consequências. Eu estava arrasado depois daquela conversa com o meu filho, e por isso demorei para te atender; na verdade, não queria atender mais ninguém naquele dia, estava sem cabeça para pensar em outras coisas. E aí você irrompeu pela porta feito um furacão, e tudo que estava fervilhando na minha cabeça desapareceu, minha atenção toda se voltou para você, o cara lindo e bravo que não parava de gesticular e soltar o verbo em cima de mim. – continuou ele, rememorando aquele dia fatídico no qual nos conhecemos. – Ao mesmo tempo em que fiquei furioso por você ter me interrompido, eu me senti fortemente atraído por você. Eu, atraído por um homem, você consegue imaginar uma coisa dessas? Nem em mil anos eu podia imaginar isso acontecendo comigo e, lá estava você, para me provocar, para me provar o contrário. Desde então você não me sai do pensamento, 24 horas por dia, sete dias por semana, você aqui dentro tumultuando toda a minha vida, me fazendo sentir coisas estranhas, despertando em mim uma necessidade insana de te proteger, de cuidar de você, de impedir que algo de ruim possa te acontecer. Foi por isso eu que eu te trouxe para a minha casa, eu precisava ter você o tempo todo ao meu lado, para poder te ver, sem ter que admitir o que sinto por você. É, ainda me falta coragem para dizer o que sinto por você. Me diga você, como se diz a um gay que ele está preenchendo um enorme vazio que havia aqui dentro de mim, que ele me faz sorrir toda vez que está perto de mim? Quando você veio para o meu apartamento e eu ficava te observando parecia que você estava preenchendo cada canto dele, que você faz parte desse ambiente, que você faz parte de mim. – ele parou abruptamente de falar quando senti uma necessidade urgente de coçar o meu nariz e movi minha cabeça contra o travesseiro para fazê-lo, achando que eu estava acordando. Mas quando voltei a ficar imóvel, ele continuou após se certificar que eu continuava dormindo, sem nem desconfiar que eu estava fingindo. – Faz semanas que estou tentando juntar coragem para me declarar para você, e aí o que acontece? Vem esse sujeito e tenta te roubar de mim antes mesmo de você ser meu. Eu não podia deixar ele te levar assim, não podia! Ele não está ou estava namorando a sua colega de trabalho? Pois que volte com ela e te deixe para mim. Eu quero você, eu preciso de você! Pode se acostumar, eu sou ciumento sim, não nego! Luto pelo que é meu. Não podia deixar ele te levar, e vou quebrar a cara dele se ele continuar insistindo. Ainda mais depois do que aconteceu há pouco, sei que você é meu. Te tomei a força, eu sei, mas como eu disse, perdi a cabeça e acabei te machucando. Eu posso estar enganado, estava tão afoito para me apossar de você, porém eu quase posso jurar que a certa altura, quando eu estava todo dentro de você, senti você se entregando para mim, não porque eu estava forçando, mas por que você queria se entregar para mim. Como eu queria te ouvir confessando isso, confessando que também me quer. – por pouco aquele sêmen que ainda formigava no meu cuzinho não me faz abrir os olhos e admitir que também o desejava, que sentia falta de um homem como ele. – Estou parecendo um idiota aqui falando sem parar quando você nem consegue me ouvir, mas eu precisava te dizer que se você for embora dessa casa eu vou sentir como se estivessem arrancando um pedaço de mim. Por isso, A., não me deixe, não me deixe nunca, não me deixe antes de eu criar coragem para te dizer que estou apaixonado por você. – concluiu ele, tocando mais uma vez suavemente as pontas dos dedos pelo contorno do meu rosto e deixando o quarto. Duas grossas lágrimas afloraram dos meus olhos quando ele se foi. Peguei realmente no sono pensando no que deveria fazer, depois desse discurso dele tudo havia ganhado uma nova perspectiva.

- Falei com o P. hoje pela manhã quando lhe entreguei o relatório dessa semana, ele estava muito esquisito. Aconteceu alguma coisa entre vocês, vocês brigaram outra vez? – perguntou a G. quando fui me encontrar com ela para saber se tinha descoberto mais alguma coisa do meu caso.

- Seu chefe sempre foi esquisito! – respondi de pronto

- E depois que ele te conheceu ficou ainda mais esquisito! – revidou ela

- O que você está insinuando?

- Nada! Mas eu podia jurar que ele está gostando de você!

- Não diga besteiras! Aquele sujeito só gosta de si mesmo!

- E de você! Para ir mais longe, talvez você dele também! – exclamou a atrevida, esboçando um sorrisinho sarcástico. Me calei, não queria fornecer mais munição para aquilo que ela já tinha como certo, enquanto eu ainda não sabia o que fazer com esse sentimento.

Estava sendo uma manhã corrida na empresa, uma reunião logo pela manhã havia deixado um clima tenso quando voltei à minha mesa de trabalho.

- Sr. A., aqui é o delegado MS do YXº Distrito Policial, como vai? Tenho novidades do seu caso. A polícia da Paraíba identificou um dos sujeitos que participou daquele atentado que você e a investigadora sofreram, e o dono da motocicleta que eles usaram também o identificou como um dos sujeitos que roubaram a moto dele dois dias antes. Suas suspeitas se confirmaram, ele é primo desse tal de C. que você denunciou como envolvido na morte suspeita de seu amigo. Ele já se encontra preso numa delegacia em João Pessoa e vai ser transferido para São Paulo entre hoje e amanhã. Quando eu o interrogar vamos descobrir quem foi seu cúmplice no atentado e, tudo me leva a crer que a invasão à sua casa também teve a participação deles. Estamos a um passo de esclarecer a morte de seu amigo. – revelou o delegado.

- Nem sei como lhe agradecer! Muito, mas muito obrigado! Obrigado por acreditar em mim, delegado! – respondi, eufórico com a notícia.

- Estamos apenas fazendo o nosso trabalho! Eu o manterei informado! Tenha um bom dia! – exclamou ele, sem esconder a modéstia.

- O senhor também delegado, tenha um bom dia! E, obrigado!

Não sei o que me levou a ligar imediatamente para o P., quando ainda estava sob o impacto efusivo da notícia, mas queria que ele fosse o primeiro a saber.

- Sim, estou sabendo, o MS me ligou antes de conversar com você. Sabia que isso ia te deixar feliz. – devolveu o P. – Logo tudo isso fica esclarecido, e você pode ter paz em sua vida novamente. – emendou ele, com a voz um pouco triste.

- Assim espero! Não vejo a hora de voltar para a minha casa! – retruquei. Ele não disse nada, ficou em silêncio, mas eu podia ouvir a sua respiração. Subitamente eu também não quis desligar, como se isso fosse apressar uma ruptura que eu já não desejava mais. – Você ainda está aí? – perguntei, só para ter o que falar.

- Estou! – confirmou ele, talvez pensando a mesma coisa que eu.

- Bem! Então era isso que eu tinha para falar! – afirmei

- Fico feliz que tenha me ligado! – devolveu ele

- Queria que você fosse o primeiro a saber, embora tenha chegado atrasado. Graças a você o caso está se resolvendo. – disse, querendo prolongar a ligação.

- Valeu a intenção! Ligue para a G. ela merece os créditos. – retrucou ele.

- P.!

- Sim.

- Obrigado!

- Pelo quê?

- Por ser esse cara legal!

- Não sei se sou esse cara legal. Mas, por você, gostaria de ser. – respondeu ele. Talvez se ele estivesse ao meu alcance eu teria me atirado em seus braços naquele momento. Houve mais um longo silêncio de ambas as partes.

- Você é! Nunca duvide disso! – exclamei. Nenhum dos dois conseguia mais esconder aquele sentimento, ele só ganhava força, à revelia de nossas intenções.

Semanas depois o segundo envolvido no atentado e na invasão da minha casa foi detido na mesma casa de praia que aparecia nas imagens que o C. postava em seu status no Whatsapp, tratava-se de outro aparentado dele, e que tinha algumas passagens pela polícia em seu Estado por assalto com arma que lhe renderam alguns meses de prisão. Eu o reconheci como o cara que pilotava a motocicleta, uma vez que estava sem o capacete, e também como aquele que ela conseguiu alvejar, embora só de raspão no tórax.

Ambos confessaram que haviam sido contratados pelo C. para me calar, para que seu envolvimento com a morte do R. não viesse à tona. O delegado MS tinha agora subsídios suficientes para chamá-lo a depor, e tinha despachado policiais para capturá-lo nos endereços que forneci.

- O senhor acha que já posso voltar para a minha casa, agora que os dois estão presos? – perguntei ao delegado, o que deixou o P., que me acompanhava, visivelmente incomodado.

- Eu esperaria mais alguns dias! Deixe o MS apurar bem os fatos antes com esse tal de C., pois foi ele quem arregimentou esses capangas para te calar, enquanto ele estiver livre você não estará a salvo. – argumentou o P.

- Eu concordo com o meu colega aqui! Espere eu interrogar esse cara, vamos ver até onde vai a culpa dele, e por que quis te calar, embora essas tentativas sejam praticamente uma assunção de culpa. – aconselhou o delegado, no que me pareceu ser um conluio com o P. para adiar a minha saída do apartamento dele.

- Que seja, então! Não tenho muitas escolhas, não é? – retruquei desolado.

- Viver sob o mesmo teto que eu, está sendo um castigo para você, eu suponho. Está com tanta pressa de se livrar de mim. – comentou o P. enquanto dirigia para me deixar na empresa.

- Não é isso! Só quero poder voltar para a minha casa, é lá que estão as minhas coisas, é lá que eu vivo, é natural que eu queira voltar. – respondi

- Vou sentir sua falta! Esses foram os últimos melhores quatro meses da minha vida! Vou demorar a me acostumar com a sua ausência, o apartamento vai voltar a ficar com aquele ar vazio e desolado. – afirmou ele

- Você vai voltar a se sentir livre outra vez, sem responsabilidades para comigo, sem eu ocupando seu espaço. – devolvi

- Abro mão de tudo isso, com facilidade, por você! – exclamou

- Tenho que te parabenizar por ter aguentado um gay morando na sua casa por tanto tempo! – respondi, com um sorriso em falsete.

- Por que não aceita que estou gostando de você? É tão difícil assim acreditar que me apaixonei por você ao longo desses meses? – ele nunca tinha sido tão direto, e eu fiquei sem saber o que responder, por isso me mantive calado. Por sorte pude fugir da resposta, pois três quarteirões depois, ele estava estacionando em frente à minha empresa para eu continuar o expediente.

Eu sabia que ao retornar para casa naquela noite não teria como me safar do questionamento dele. Havia ensaiado uma porção de respostas, mas quando ele, cara a cara comigo, voltou a perguntar por que não acreditava no amor dele, não consegui responder nada mais do que – eu também me apaixonei por você, seu sujeitinho desprezível, dominador, machista, e ... e ... – antes que eu encontrasse os outros adjetivos, a boca dele estava colada na minha, sua língua a penetrava lentamente, suas mãos iam se fechando ao redor da minha cintura e foram descendo em direção aos quadris à medida que eu retribuía seus beijos lascivos e carregados de tesão.

- E aquele sujeito? – perguntou-me, após uma série de beijos que tinham deixado meus lábios adormecidos.

- Que sujeito?

- O JC, o fulaninho que te quer e ao seu cu tanto quanto eu!

- O que tem ele?

- Não faça esse joguinho comigo! Você sabe muito bem ao que estou me referindo. Ele está dando em cima de você e me parece que você está gostando.

- Eu nunca pensei nele nesses termos, tenho outro homem embaralhando meus pensamentos. – afirmei, e vi surgir um discreto e tímido sorriso nos lábios dele.

- Ao que parece não faltam homens te desejando! Vai ser uma concorrência dura! Em que posição eu estou nessa corrida?

- Desde que te conheci, sempre esteve na Pole Position, foi tão difícil se dar conta disso?

- Está falando sério? Eu ... eu ... você tem certeza que quer um machista, dominador, desprezível e sei lá mais o que do seu lado? – perguntou, sem mais conseguir esconder a felicidade que brilhava naquele sorriso bobo com o qual me encarava.

- Tontão! – balbuciei, ao levar minhas mãos ao rosto viril dele e acariciar suas bochechas, antes de voltar a tocar seus lábios com os meus.

O beijo intenso e prolongado perdurou durante todo o trajeto até o quarto dele, onde minhas vestes foram sendo tiradas do meu corpo, uma por uma, numa lentidão excitante, que só me fazia desejá-lo mais à medida que, debaixo de sua calça, crescia uma ereção descomunal. Eu estava completamente nu, ele me tinha em seus braços comprimido contra o tronco maciço e peludo, sua boca não se desprendia da minha e o sabor dele já me impregnava aumentando meu tesão. Eu afagava seus ombros largos, descia por sobre os bíceps enormes e deslizava minhas mãos para o cós da calça dele, pois aquele volume gigantesco entre suas pernas só me fazia querê-lo entrando em mim. Ele me observava calado, seu olhar não escondia o tesão que estava sentindo ao me ver procurando por sua rola. Quando terminei de abrir a braguilha, o cacetão praticamente saltou para a minha mão. Eu o envolvi com delicadeza e carinho, ergui meu olhar para o rosto dele e sorri.

- Quero você! – exclamei, com a pica grossa pulsando entre os meus dedos

Fui me abaixando devagar, ao mesmo tempo em que puxava para baixo a calça e a cueca dele, ficando diante da pica inquieta e daquele sacão imenso que pendia debaixo dela. Quando vi o primeiro fio translúcido do pré-gozo minar da uretra larga, levei minha boca até a glande insuflada e a coloquei toda na boca começando a chupar e sorver aquele fluido cheiroso. O gemido longo do P. encheu o quarto de luxúria, num prenúncio do que estava para acontecer ali dentro. Saboreei cada milímetro daquela rola, da cabeçorra até as bolas peludas, nunca tive nada tão imenso nas mãos e com certa preocupação voltei a me recordar daquela noite em que ele me pegou à força. Ele pareceu notar meu receio, enfiou os dedos nos meus cabelos, puxou minha cabeça para trás para que o encarasse, e afagou o contorno do meu rosto.

- Vou ser bastante cuidadoso, prometo! A última coisa que quero fazer é te machucar, não suporto a ideia de te ver sofrer. – afirmou.

- E se eu te disser que não me importo se me machucar, contanto que entre todo em mim e me faça sentir o mesmo prazer que senti naquele dia? – indaguei ousado.

- Vou achar que endoidou! Vou achar que me ama mais do que eu posso imaginar! – exclamou

- Nem eu mesmo sei o quanto te amo, só sei que é maior do que esta pica assustadora. – devolvi, ele riu, me puxou novamente para junto dele e foi me inclinando sobre a cama.

Afaguei-o enquanto ele mordiscava, lambia e chupava meus mamilos, meu corpo parecia estar pegando fogo, minhas entranhas excitadas clamavam pelo caralhão dele, meu cuzinho convulsionava de tanto desejo. Fui abrindo as pernas com ele encaixado entre elas para mostrar o quanto o queria. Uma de suas mãos vasculhava minhas nádegas e começou a entrar lenta e progressivamente no meu reguinho estreito. Minha respiração acelerada e descompassada mais parecia um gemido que ele sufocava com seus beijos libidinosos e úmidos. Um dedo entrou no meu cu que, instintivamente, se travou aprisionando o intruso devasso. O P. voltou a me sorrir, dessa vez só havia cobiça e libertinagem nesse sorriso.

- Gosto desse rabo guloso me engolindo! – disse ele. Eu agarrei o rosto dele e o beijei intensamente.

Ele me virou de bruços, deitou-se sobre mim, esfregou o cacetão melado nas minhas nádegas numa voracidade descontrolada, enquanto eu empinava a bunda na esperança de ele me penetrar.

- Adoro seu cheiro, adoro a sua pele, adoro quando seu corpo incendiado pelo tesão estremece debaixo do meu. – balbuciou ele, enquanto lambia sôfrego a minha orelha.

- Eu te quero P.! – gemi excitado

- Também te quero! Todo, cada pedacinho, cada curva desse corpo! – devolveu ele.

Seus beijos e lambidas foram descendo pelas minhas costas numa lentidão torturante, até chegarem à bunda. Uma mordida cravou os dentes dele numa das minhas nádegas, eu gemi, ele a soltou, mas a marca já estava lá, visível e denunciando a devassidão dele. Suas mãos afastaram as nádegas, abrindo e expondo meu reguinho liso que ele ficou admirando por mais tempo do que eu tive paciência de esperar. Minha vontade era a de mandar ele enfiar de uma vez o cacetão do meu cu, pois eu já não aguentava mais aquela tortura. Mas o que enfiou entre as bandas da minha bunda foi seu rosto hirsuto que pinicava a pele sensível daquele lugar, e a língua que começou a lamber as preguinhas rosadas do meu cuzinho. Achei que desfalecer, faltou-me o ar por mais que eu me esforçasse para captá-lo. O polegar dele começou a roçar a entrada sensível da minha fenda anal, e eu gani perdido em meio aquele tesão todo. O P. enfiou o polegar no meu cuzinho, até o fazer desaparecer ali dentro.

- Ai P.! – foi tudo que consegui ganir

Por um reflexo involuntário o cu travou e prendeu o polegar dele ali dentro, era tudo que ele queria ver, meu cuzinho querendo devorá-lo de tanta insaciedade reprimida. Ele montou em mim, fez a cabeçorra da pica percorrer meu reguinho até encontrar o orifício que piscava ávido e, num impulso, meteu o caralhão dentro dele. Sufoquei meu grito enfiando a cara no travesseiro. Ele me agarrou pela cintura, me puxou contra a virilha e empurrou mais um tanto do cacetão para dentro do meu cuzinho. Eu me abria o máximo que podia, mas não consegui evitar a dor de cada estocada firme que ele dava. Meus gemidos o excitavam, ele se lançava sobre mim e, agarrado ao meu tronco, sussurrava todo seu tesão.

- Cacete, como você consegue ser tão gostoso? Esse rabão está mastigando minha pica! Você me mata, A.! Você me mata, cacete! – grunhia ele, socando aquela jeba enorme para dentro de mim com cuidado para não me machucar tanto.

- Mete tudo, mete até o talo, eu quero te aninhar, eu quero você todo dentro de mim! – clamava eu, rebolando a bunda enquanto o caralhão deslizava para as profundezas das minhas entranhas.

- É disso que você gosta, não é meu veadinho tesudo? Você quer o seu macho dentro de você, não é? Fala para mim, fala! Fala que me quer dentro de você! – rosnava ele, explicitando o tesão que o movia.

Ouvi-lo sussurrando meu desejo e, sentindo aquelas estocadas firmes no fundo do cu me fizeram gozar. Meu consentimento participativo o fez se apossar do meu cuzinho como nunca se apossou de algo antes, meu cu pertencia a ele, eu pertencia a ele. À mercê de sua tara, eu me entregava sem reservas chupando os dois dedos que ele enfiara na minha boca. Ele tornou a me virar sobre a cama, encaixou-se entre as minhas pernas que fletiu até meus joelhos tocarem meus ombros, o cuzinho vermelho e esfolado continuava piscando, provocando-o, seduzindo-o, e ele tornou a enfiar o caralhão no buraquinho quente e úmido que o encapava com firmeza a cada nova estocada. Puxei-o sobre mim até ter acesso a sua boca e beijei-o sofregamente, enquanto minhas mãos percorriam suas costas molhadas de suor. Eu erguia minha pelve o que fazia o caralhão deslizar até o talo, deixando apenas aquele sacão com as bolas abarrotadas de porra batendo contra meu reguinho. Por uns segundos eu o encarei, segurando seu rosto entre as mãos, ele pronunciou meu nome, soltou um urro, o corpo inteiro dele estremeceu e os jatos abundantes de esperma começaram a inundar meu cuzinho lanhado e dolorido. Se havia prazer maior do que esse, eu desconhecia. Sentir um macho galando seu rabo com sua virilidade era algo sublime, quase divino. Eu o trouxe novamente para junto de mim, beijei sua boca ofegante, acariciei sua nuca e o fiz sentir o mais satisfeito dos machos.

Ele permaneceu em cima de mim, entregue aos meus afagos, até o cacetão amolecer por completo. Atirou-se ao meu lado na cama, com os braços e pernas bem abertos, usufruindo aquele prazer que percorria todo seu corpo. Rolei para cima dele, beijei-o por todo o rosto e deitei minha cabeça em seu peito. Ele me abraçou, desceu uma das mãos até a minha nádega, a apertou e ficou a alisando, ciente de que era o dono inconteste dela.

- Amo você, seu putinho tesudo! – ronronou ele, enquanto sua respiração ia lentamente voltando ao normal.

- Amo você, seu troglodita machista! – devolvi, massageando delicadamente as bolas dentro do sacão dele.

O C. negou até o fim que tenha de alguma forma colaborado para a morte do R., continuou alegando que foram as doenças preexistentes dele que agravaram seu quadro. Uma ordem judicial que determinou ao hospital onde o R. faleceu a fornecer seu prontuário médico, bem como o testemunho dos plantonistas da UTI que o atenderam nos últimos dias de vida, também não puderam confirmar uma participação ativa na morte dele. Se muito, houve negligência em lhe dar as medicações conforme prescritas, ou em atitudes que prejudicavam ainda mais o seu quadro clínico. Mas isso seria muito difícil de comprovar, embora as suspeitas fossem bastante consistentes, dado o que o C. lucrou com a morte do R. No entanto, ele foi levado a julgamento por formação de quadrilha, por dupla tentativa de homicídio por motivo torpe, por induzir um doente que já não contava mais com toda sua compreensão cognitiva a oficializar um casamento dezessete dias de falecer beneficiando esse parceiro em detrimento de um testamento que já havia sido registrado em cartório e de conhecimento dos beneficiários e amigos, o que ficou configurado como lesão patrimonial induzida. No final, o C. foi condenado a oito de reclusão em regime fechado, sem direito a apelação. Os dois comparsas foram sentenciados a seis anos e nove meses cada um, também em regime fechado, enquanto o Judiciário do Estado da Paraíba revia as penas anteriores deles, o que podia acrescentar mais alguns anos de prisão.

- E quando eles forem soltos? A justiça brasileira não prima pela eficiência, todos sabemos. Em menos tempo do que foram sentenciados estarão livres, com todos os benefícios que a justiça presenteia os criminosos nesse país. O que será de mim então? Minha vida não valerá mais um centavo sequer! – argumentei, quando a sentença foi promulgada e o delegado MS, juntamente com a G. e o P. deixavam o fórum comigo.

- Não se preocupe com isso agora! Você conseguiu provar que o C., indiretamente, teve alguma participação na morte do seu amigo, isso já é uma vitória! – ponderou o P.

- Que vitória é essa, se dentro de poucos anos posso me transformar novamente no alvo deles? Que sossego vou ter de agora em diante, achando que a cada esquina posso estar sujeito a levar um tiro? – não sei por que, mas eu estava com mais medo agora do que antes da sentença.

- Se te serve de consolo, nenhum deles vai deixar a prisão vivo, é tudo que posso te dizer. – afirmou o delegado MS, depois que trocou olhares com o P.

- Eu estarei o tempo todo ao seu lado, você confia em mim, não confia? – perguntou o P., que ainda não se sentia confortável em me abraçar em público, especialmente na frente de outro colega que parecia ser tão machista quanto ele, embora não lhe faltasse vontade naquele instante de me tomar em seus braços.

- Confio, claro! Mas você não tem como ficar ao meu lado o tempo todo. – respondi.

- Só confie em nós, ok? – repetiu o delegado MS.

No carro, a caminho de casa, fiquei refletindo naquelas afirmações, na certeza com a qual ele as expôs, e então, me veio a ideia de que ele também podia ser um daqueles delegados que contornavam a burocracia e não seguia as regras frouxas que privilegiavam os bandidos ao invés do cidadão de bem; e acabava fazendo os criminosos pagarem por seus crimes com mais rigor do que a própria justiça. Fora esse o motivo que levou ao afastamento do P. de seu cargo, e o delegado MS parecia rezar pela mesma cartilha que o P. rezava.

Um ano após a morte do R. eu estava ao lado da sepultura dele. Haviam me privado da despedida no dia em que faleceu, mas eu vim lhe dizer, e sabia que ele estaria me ouvindo de onde estivesse, que fiz de tudo para que sua vontade fosse cumprida, que seus bens não fossem desfrutados por um usurpador. A nossa amizade não morreu com ele, continuava viva, e assim seria até meu último suspiro.

As notícias vieram aos poucos, em dois anos nenhum dos três condenados cumpria mais a pena a que foram sentenciados, morreram antes de cumprir a metade dela, quando começariam os benefícios concedidos pela justiça. O C. supostamente se suicidou, induzido por uma depressão que o acometeu logo após a condenação. Teriam sido os dias intermináveis encarcerado que o levaram a perder o interesse pela vida, uma vez que, ao sair, não teria mais nada dos bens do R. dos quais havia se apossado. Os dois cúmplices teriam se envolvido em brigas com outros presos e, o primeiro deles foi assassinado durante uma rebelião no centro de detenção provisória onde aguardava a transferência para a prisão definitiva. O segundo, foi executado enquanto dormia, por um dos companheiros de cela na prisão onde cumpria pena.

- Como isso aconteceu? Jura para mim, por tudo que te é mais sagrado que você não tem nada a ver com essas mortes, P.! – questionei ao P. quando essas coincidências começaram a se repetir.

- Isso é mais comum do que você imagina, presos são assassinados ou se suicidam todos os dias nas prisões! Não se aflija com isso, meu amor, você não está indo para cama todas as noites com um mandante de assassinatos. Não sei como pode pensar isso de mim! Já deu tempo suficiente para saber quem eu sou e, um criminoso certamente não sou! – retrucou ele, até um pouco ofendido.

- Desculpe, não sei o que pensar a respeito disso tudo. É claro que eu sei quem você é. É o homem que eu amo, o homem que a cada dia que passa se torna mais encantador e por quem me apaixono a cada manhã. – afirmei. Não fora ele, disso eu tinha certeza, mas quanto a influência do delegado MS nesses meandros nebulosos da justiça, eu já não podia ter certeza alguma.

- Então não pense mais nisso! Eu já te disse que você está seguro comigo? – perguntou, ao me tomar em seus braços e amassar minha nádega.

- Todos os dias! – respondi, retribuindo seu beijo carinhoso.

- Vou sempre cuidar de você, por que é o maior tesouro que eu tenho! Você devia me recompensar por isso, lá no quarto, agora, não acha? Sente como estou carente! – ronronou faceiro, enquanto roçava a ereção na minha coxa.

- Carente? Sei! E o que foi aquilo essa manhã debaixo da ducha? Toda sua umidade ainda está aqui no meio das minhas pernas, não me deixando esquecer do tarado que me pegou assim que acordou. – devolvi, deslizando a mão sobre o peito dele debaixo da camiseta.

- Foi uma prévia, um trailer, um prólogo do que estou a fim de fazer com você agora! – exclamou, cheio de cobiça, e com um sorriso tão cativante que não me recusei em atender seu pedido.

Pouco depois do julgamento do C. e seus capangas, o P. e eu assumimos nosso relacionamento, não fomos logo de cara morar juntos, mas essa possibilidade foi se transformando em algo inevitável, à medida que todo aquele amor que sentíamos um pelo outro se tornava mais forte. O fato de estarmos sempre juntos, me fazia ver como ele ficava arrasado cada vez que conversava com o filho, ficando amuado e extremamente carente, só querendo meu colo, meus beijos, meu ânus acolhedor. Eu sofria junto e por ele, tão ligados estávamos. Eu precisava fazer alguma coisa, precisava aproximar pai e filho, mesmo com uma ex-esposa trabalhando contra isso.

Aleguei uma viagem a trabalho para me ausentar por alguns dias, sem informá-lo das minhas intenções ao embarcar num voo para Buenos Aires. Não queria que ele se opusesse, nem que criasse expectativas que talvez não se realizassem. Fui ao endereço que consegui ao vasculhar uma gaveta do P., e procurei pelo garoto. Abordei-o apenas no segundo dia, pois tinha o seguido quando a mãe o deixou na porta do colégio. Esperei pela saída dos estudantes e fui ter com ele. Sua primeira reação foi de susto, depois espanto, e mais algumas frases e já estava me ouvindo com mais interesse.

- Seu pai sente muito a sua falta. Você não gosta dele? – perguntei

- Gosto! Quer dizer, acho que gosto, não sei!

- Como assim?

- É que meus avós e minha mãe não falam muito bem dele, e eu me lembro de poucas coisas de nós dois juntos. – abriu-se o garoto.

- Do que se lembra com seu pai?

- De ele brincar comigo, de me contar histórias para dormir, de discutir com a minha mãe, de gritar com ela até ela chorar. – enumerou

- Então você tem lembranças boas dele para com você. As com a sua mãe podem não ter sido boas, mas os adultos se desentendem e brigam, e gritam uns com os outros quando perdem a cabeça. Você já se perguntou o quanto do que a sua mãe e seus avós te contam é realmente verdade sobre seu pai? Eu tenho certeza que o seu coração tem uma opinião totalmente contrária a muito do que eles te dizem. – afirmei, o garoto me olhava com um olhar reflexivo.

- Por que eles fariam uma coisa dessas? Eles me amam! – respondeu, depois de pensar uns instantes

- Porque eles têm seus próprios interesses nessa história, e eles podem ser conflitantes com os de seu pai.

- Por que você veio me procurar, foi meu pai quem te mandou aqui? E quem é você, quais são os seus interesses nessa história, já que todos parecem ter algum? – o moleque era esperto, e parecia querer descobrir a verdadeira razão da separação dos pais.

- Não, não foi seu pai quem me mandou aqui. Aliás, acho que ele vai ficar muito bravo comigo quando descobrir que eu te procurei. – respondi

- Falta uma resposta! – exclamou

- Bem, essa é mais difícil de responder e eu não sei se você está reparado para ouvi-la.

- Acha que sou burro, ou infantil demais?

- Não, muito pelo contrário! Estou vendo que não é burro, mas talvez pense coisas a respeito de seu pai que eu não gostaria que pensasse.

- Tipo o quê?

- Tipo ele ser um homem, digamos assim, sem caráter, algo como um pervertido, por que é assim que muita gente pensa diante de situações como essa. – percebi que ele não estava me acompanhando.

- O que ele fez de errado para ser considerado um pervertido?

- Nada, ele não fez nada, e não podem classificá-lo como um pervertido.

- Estou confuso! – alegou ele

- Eu sei! Bem, vou torcer para que você tenha uma mente aberta! Eu sou gay, e estou apaixonado pelo seu pai, e ele por mim. Porém, não é isso que vem ao caso agora, eu estou aqui para te pedir que se aproxime de seu pai, ele te ama muito, e eu percebo o quanto ele sofre por não conviver mais com você. – despejei de uma vez.

- Quer dizer que meu pai também é gay? Como vocês se conheceram? Vocês moram juntos? - de repente, as dúvidas dele surgiram

- Não, seu pai não é gay! Eu diria que ele é bissexual, mas só ele pode te dar essa resposta. Eu procurei o escritório de investigação dele para resolver um caso para mim, que já terminou, foi assim que nos conhecemos. E, não moramos juntos, embora eu acho que isso vá acontecer um dia. – esclareci

- Você o ama, é isso?

- Muito! Eu amo muito o seu pai, pela pessoa incrível e maravilhosa que ele é, muito embora ele seja um pouco difícil às vezes. Mas, como eu já disse, não é disso que se trata e sim de vocês dois, do relacionamento de vocês dois que eu gostaria ver resolvido.

- Você deve gostar muito dele, ou não se sujeitaria a vir me procurar. – disse ele

- Por que, você não gostou de eu vir te procurar? – era hora de inverter um pouco a direção das perguntas

- Não, não é isso! Eu achei corajoso de sua parte, só isso!

- E o que me diz quanto a entrar em contato com seu pai por conta própria, passar umas semanas com ele no Brasil quando as férias chegarem, elas estão próximas, não estão? Tenho certeza que você mesmo vai constatar que seu pai não é nenhum monstro como querem te fazer acreditar. – questionei

- Isso pode gerar ainda mais confusão! Minha mãe não vai concordar com a minha ida até o Brasil. – argumentou ele

- Torno a te perguntar, qual seria o interesse dela em não querer essa aproximação de vocês dois? Medo de que você descubra que seu pai é um cara legal, e não o homem ruim que se separou dela, seja lá por que motivo. Até agora parece que ela só tem te usado para castigar seu pai pela separação, e pensado pouco nos teus sentimentos, na falta que um pai faz na vida de um jovem como você.

- É talvez! Eu fiquei de passar no shopping para comprar um tênis, você se importa de vir comigo para continuarmos essa conversa? Até agora você não me disse seu nome.

- É não disse, me chamo A. e, não, não me importo de continuarmos essa conversa no shopping, assim aproveito para ver se encontro alguma coisa que me agrade. – respondi. O garoto tinha simpatizado comigo, e eu com ele.

Almoçamos juntos depois das compras, trocamos telefones, ele confessou que sentia saudades do pai e que queria passar mais tempo com ele, queria que eu o ajudasse a se reaproximar dele e, ao nos despedirmos, me perguntou se eu queria ser amigo dele também. Abracei-o para não chorar e mostrar uma vulnerabilidade que não cabia naquele contexto.

- Acho que vou comprar uma briga feia com a minha mãe e meus avós quando lhes comunicar que quero ver o meu pai. – disse ele, ainda antes de nos despedirmos.

- Também penso assim! Mas seu pai tem tanto direito de conviver com você quanto eles. E mais, você tem o direito de saber que homem incrível é seu pai, e se espelhar nele para se tornar um homem de bem. – ele voltou a me abraçar, demoradamente.

- Você é legal! Se meu pai se apaixonou por você é por que também deve ser um cara legal! – afirmou. – Quando você volta para o Brasil?

- Depois de amanhã!

- Podemos nos encontrar depois do colégio, como hoje? Acho que vou ter mais um milhão de perguntas para te fazer.

- Podemos sim! Será um prazer te responder o que eu souber.

Naquela mesma noite ele ligou para o P., sem dizer que eu estava em Buenos Aires e que o tinha procurado. No dia seguinte ele me contou que eles ficaram conversando até tarde, que nunca tinham demorado tanto numa ligação. Também disse que achou que eu estava certo ao afirmar que o pai era um sujeito legal, que ele sentiu isso.

Quando regressei da viagem, foi a primeira coisa que o P. me contou, depois de se saciar no meu cuzinho e tirar todo o atraso daqueles dias longe.

- Ele deve ser um bom garoto, só estava sob a influência da mãe que devia estar enchendo a cabeça dele com mentiras a seu respeito. Vocês vão se dar muito bem, tenho certeza, ele é um garoto esperto! – deixei escapar

- Como pode ter tanta certeza? Quem te disse que ele é esperto? – questionou o P. tão logo as palavras escaparam da minha boca.

- Instinto! – disfarcei. Ele riu.

- E o que o teu instinto te diz sobre isso aqui? – perguntou, quando já estávamos na cama e ele tirava o caralhão da cueca para pincelá-lo na minha bunda nua.

- Que eu mal vou conseguir andar e sentar amanhã! – respondi. O chupão no meu cangote se fez sentir simultâneo ao cacetão deslizando para dentro do meu cu, enquanto meu gemido ecoava pelo quarto.

O Pablo desembarcou pouco mais que três semanas depois, o P. e eu o aguardávamos ansiosos no aeroporto. O P. não cabia em si de contentamento, reservou uma semana inteira de sua agenda no escritório para ficar à disposição do filho. Como previ, o reencontro reavivou aquele amor adormecido entre eles. Em poucos dias, pareciam nunca ter ficado distantes um do outro. A minha ida às escondidas para Buenos Aires acabou vindo à tona, e o P. estava tão feliz que não brigou comigo dessa vez.

- Esse veadinho já te contou como foi que ele me conheceu? – perguntou o P., durante um dos nossos jantares.

- Ele me disse que você foi o pior sujeito que ele já conheceu na vida! – respondeu o Pablo, caçoando do pai.

- Ah é! Então pergunta para ele como foi que eu o convenci de que era o macho dele, pergunta! Vamos ver se ele tem coragem de te responder. – instigou o P.

- Isso é censurado para menores de idade! – respondi. Ambos se entreolharam e riram.

- Foi com isso aqui! – exclamou o P. pegando na pica, o que me fez corar no mesmo instante.

- Olha para ele agora, veja como está vermelho feito um pimentão! – exclamou o P. em triunfo, fazendo o garoto rir mais ainda.

- Seu pai é um depravado, um machista sem-vergonha! – declarei, para me vingar.

- Mas eu acho que funcionou, você se apaixonou por ele, segundo me confessou lá em Buenos Aires! – retorquiu o garoto, me deixando ainda mais constrangido.

- O pior não foi só isso, eu no mesmo dia em que entrei com tudo isso aqui dentro dele, também me perdi de amores por esse safado! – sentenciou o P.

- Eu vou adorar vir mais vezes aqui, acho que encontrei a família que estava me fazendo falta! – disse o Pablo.

Eu olhei para o P., ele para mim, nos demos as mãos sobre a mesa e ambos deixaram as lágrimas descer pelo rosto.

PS: Ah, em tempo! Todos os valores das diárias e custos da investigação que transferi ao escritório Senadeghi&Partners* a título de pagamento pelos serviços contratados surgiram inesperadamente na minha conta bancária poucos dias após o fim do julgamento do C. e seus capangas. Questionado quanto a essa devolução, o P. me disse que era um presente, uma compensação pelo tempo que me fez esperar para ser atendido quando o contratei. Depois, me perguntou como poderia me cobrar alguma coisa quando tudo que lhe importava daquele nosso primeiro encontro foi descobrir que o amor à primeira vista existe.

(*) Nome fictício

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Comentários

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Confesso que não foi fácil e rápido ler todo o conto, mas amei, adoro essa relação entre os protagonistas q vc desenvolve, me seduz...

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Ficou longo, não é Porti? Mas, precisava por tudo no papel, e fico feliz que tenha gostado. Abraço carinhoso!

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Sensacional. Cada vez melhor. Ler seus contos me transporta para o mundo que você cria. Nem me importa que seja um pouco mais longo dos outros que aqui lemos até porque ao final fica sempre aquele gostinho de quero mais. Suas cenas de sexo tão bem detalhadas quase sempre me levam a gozar e quando não acontece espontaneamente a cueca ou o short que esteja usando vai direto para o tanque. Ahahahahahahahahaha. Seus contos despertam sempre o melhor dos sentimentos e prazeres e na maioria das vezes sempre com aquele final feliz que nos leva a crer que foram felizes para sempre. Obrigado e forte abraço.

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Obrigado Roberto pelo comentário elogioso e por ter gostado do conto. Quanto as tuas cuecas e shorts, nada posso fazer, só rir ....Eheheheheheh!! Beijão carinhoso! (na bochecha!!!!)

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Kherr, demorei mais pra ler esse conto mas, pqp valeu a pena viu. Como sempre demais!!

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Oi Jota_, é, às vezes eu me empolgo, sinto as coisas fervilhando na mente e vou teclando até me dar por satisfeito, o resultado são contos longos para os quais espero a compreensão e paciência do leitor. Obrigado e super abração!

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Contos longos e tão bem escritos que eu arranjo sempre tempo para ler! Muito bom mesmo!

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Oi Kheer conto maravilhoso, li nos comentários q e baseado na história de um amigo. Imagino a dor q sente por conta da dúvida. Não controlamos tudo, e nossa sociedade ainda tem muitis pontos a serem aperfeiçoados. Sobre o texto algumas ressalvas acho q o uso do termo condição homossexual um tanto quanto depressiativo, pois o mesmo não é usado para heteros. E outro ponto q me incomoda e o uso da violência sexual, Ativos sexuais devem ter controle sobre seus impulsos, pois passivos tem. Novamente obrigado e sigo ansioso por seus contos.

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"Como isso aconteceu? Jura para mim, por tudo que te é mais sagrado que você não tem nada a ver com essas mortes, P.!" - Perguntou Soninha, a Toda Pura, acreditando na resposta do macho dono da "ereção descomunal". Kherr, impecável o teu conto (como sempre). Te digo uma coisa, mano, se esse P falasse pra mim tudo o que falou para o A, quando o supôs dopado com doses cavalares de dormonid (só assim pra falar tanto tempo perto de uma pessoa e ela não acordar) acho que a inviolabilidade de minhas pregas chegaria ao fim. Tesão da porra. Parabéns!!!!!!

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KKKKKK, e você acha que o A. precisou de um Dormonid ou um Clonazepan para continuar fingindo que estava dormindo, enquanto o P. lhe confessava toda sua paixão? Ele devia estar se contorcendo de tanto tesão com o cuzinho piscando mais que luz estroboscópica kkkkkkk!!!

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Hahahaha Soninha...

Ahg, Leitor24, só o kherr com a maestria das palavras pra te fazer deixar assim hein...quem te viu quem te vê

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Kherr, não há nada como mergulhar nos seus contos. A escrita é excelente; o desenvolvimento da narrativa, perfeito. Estou muito apertado de tempo, por isso ainda não terminei de ler o conto. Parei nessa frase: "Nossos santos definitivamente não se cruzaram! Abomino homens como seu chefe! Quero distância deles!" (quando a G volta da viagem da PB). Como a maioria dos seus personagens passivos (pelo menos dos seus contos que li até agora), sei que bastará o P chacoalhar a rola descomunal na frente do A para ele esquecer de todas as grosserias e enxergar vários atenuantes para o comportamento do escroto e abrir as pernas para a rola monstra. Entre uma aula e outra vou lendo aqui e já emendarei com o conto que você publicou hoje. Acho mesmo que vou dar um teste surpresa para meus alunos ficarem com as caras enfiadas na carteira e eu continuar a leitura kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Tenho que fazer um mea-culpa. No seu conto "O Estrangeiro e Seu Caralhão", o leitor Indo_por_ai fez um comentário muito interessante. Ele leu com o namorado dele (pelo que entendi) e cada um teve uma visão diferente da história e do personagem. Pena que fiz um comentário escroto (por isso a mea-culpa) e ele apagou. Nem sei se você chegou a ler, kherr. Caso o Indo_por_ai leia isso, peço que reconsidere e republique o comentário dele.

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Olá Leitor24, quer dizer que enquanto você judia dos seus alunos fica se distraindo com a leitura dos meus contos? Não sei se dou risada ou uma bronca em você, não seja tão maldoso! KKKKKKKKKKK. Agora me responda uma coisa .... qual é o passivo que não perdoa, até certos limites é claro, quando um ativo marrento chacoalha um cacetão na frente dele? Somos mais sensíveis, mais compreensivos, temos menos necessidade de nos impor quando somos afrontados, o que nos torna, felizmente, criaturas mais dóceis que não precisam sair por aí comprando brigas inúteis. Isso, no entanto, não significa que temos que aceitar e engolir tudo, há um limite para o que deve ser relegado ao esquecimento e aquilo que exige uma resposta à altura. Abraço!

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Sei lá, mano. Pode até ser que tenha passivo assim. Gosto de uma disputa. Tipo o peixe se debatendo na rede, sabe? Mas qd vejo passivos tão... "passivos", quase sem amor próprio, meio que perco o tesão. Só ficar como uma franga gritando que o cara é escroto, cretino, homofóbico e por aí vai e, vendo o bagulhão na frente e se jogar de bunda, é complicado.

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Meu querido Kherr, que história maravilhosa! Personagens intensos e com personalidades fortes e marcantes, amei todos, aliás quase todos, por que o JC empatando o romance dos protagonistas me tirou do sério hahaha. Mas como tenho uma predileção para casais que vão dos tapas para cama, não demorou nada para estar torcendo para o A. e o P.

Aliás, como você já deve ter notado em outros comentários meus, sou curioso, e gosto de saber nem que seja um pouquinho do seu processo criativo, e fiquei muito intrigado com o fato de você não ter usado nomes, e sim letras para nomear quase todos os personagens, com apenas duas exceções, teve algum motivo em particular, ou foi apenas uma decisão narrativa?

No mais, sigo sempre no aguardo de suas novas histórias, um grande abraço.

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Oi Gilberto! Te agradeço mais uma vez pelo comentário elogioso e por ler os meus contos. Vali-me de letras para identificar os envolvidos na história, com a exceção dos dois que você citou por terem sido alterados propositalmente, por que esse conto relata uma história real, infelizmente triste para mim. Afora a parte do romance com o P., desenvolvido só para deixar a história menos pesada e sombria, o restante aconteceu como descrevi. Esse amigo deixou um grande vazio em mim e, por isso, dediquei-lhe o conto. Até hoje não estou convencido de que a morte dele tenha se dado de forma completamente natural. Vou morrer com essa dúvida. Um forte abraço!

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Caramba que tristeza! Eu achei que poderia ser inspirado em uma história real devido ao "in memorian" do comecinho, mas não imaginava que era inspirada em uma uma passagem da sua vida. Muito triste saber que seu amigo partiu de uma forma tão triste e que infelizmente você permanecerá com essa dúvida tão cruel para sempre. Mas por favor, me diga que o atentado a vida do A. foi uma passagem ficcional e não um relato real que você passou, pois agora fiquei bastante chocado com a possibilidade de você ter passado por isso.

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Vc se supera a cada novo conto!

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Obrigado glookxxx! Procuro dar o melhor de mim, pois vocês leitores merecem! Abração!

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